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PODER JUDICIÁRIO

Tribunal de Justiça do Estado do Paraná


Foro Regional de São José dos Pinhais da Comarca da
Região Metropolitana de Curitiba
Vara da Fazenda Publica

Autos nº: 1447-51.2018.8.16.0202


Impetrante: Silvia Pissaia Zen
Autoridade coatora: Diretor Presidente da PREV São José
Município de São José dos Pinhais

SENTENÇA

Vistos e examinados os epigrafados autos de


Mandado de Segurança impetrado por Silvia
Pissaia Zen em face de ato do Diretor Presidente da
PREV São José e Município de São José dos Pinhais
verificou-se, sopesou-se e concluiu-se, pelo que
tudo deles consta, o seguinte:

I - RELATÓRIO

Silvia Pissaia Zen impetrou mandado de segurança


em face de ato do Diretor Presidente da PREV São José consistente em negar a
concessão de aposentadoria especial integral.
Asseverou, em síntese, que preenche os requisitos
legais para a concessão do benefício, uma vez que já atingiu mais de 29 (vinte e nove)
anos de contribuição, sendo que desde 22/02/1988 trabalha como professora da
educação básica, bem como já completou 48 (quarenta e oito) anos de idade.
Defendeu a ilegalidade do ato coator, pois
desconsiderada o redutor constitucional de idade (artigo 40, § 5º, da CF).
Requereu a concessão da ordem, compelindo-se
a autoridade coatora a lhe conceder o benefício.
O pedido de liminar foi deferido (ref. 17.1).
Notificada, a autoridade coatora prestou
informações.

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Suscitou, em preliminar, ilegitimidade passiva, a


inexistência de direito líquido e certo e a falta de interesse de agir, pleiteando, assim, a
extinção do feito por carência de ação.
No mérito, defendeu a legalidade do ato coator,
afirmando que o posicionamento do Tribunal de Contas do Estado também é no sentido
de não ser possível a aplicação do artigo 3º, da EC 47/2005, com o artigo 40, § 5º, da
CF.
Aduziu que a concessão da aposentadoria no
caso concreto ofende os princípios da legalidade e do equilíbrio financeiro e atuarial.
Sustentou a necessidade de prévia fonte de
custeio e argumentou que a procedência da demanda implicará em ofensa ao
princípio da isonomia.
Requereu a denegação da ordem.
O Município de São José dos Pinhais, por sua vez,
assentou a sua ilegitimidade de parte, por não compor o polo passivo do feito qualquer
autoridade a ele vinculada.
No mérito, a exemplo da autoridade coatora,
defendeu a legalidade do ato impugnado e requereu a denegação da ordem.
A PREV São José noticiou a interposição de agravo
de instrumento contra a decisão concessiva da liminar.
A impetrante se manifestou quanto às informações
prestadas.
O Ministério Público não verificou a presença de
interesse que justificasse a sua participação da lide.
Os autos vieram conclusos.
É, em síntese, o relatório.

II – FUNDAMENTAÇÃO.

As preliminares suscitadas pela autoridade coatora


não prosperam.

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Isto porque, a existência ou não de direito líquido e


certo é matéria que demanda a análise do mérito e, portanto, com ele será enfrentado.
Ademais, o interesse de agir da impetrante está
presente, na medida em que o mandado de segurança é o mecanismo adequado
para a reforma do ato apontado como coator, sendo certo que a matéria em debate
nos autos não exige a produção de provas, por ser eminentemente de direito.
Finalmente, da leitura do Decreto nº 1.685/2006
(artigo 70), percebe-se que a concessão de benefício previdenciário é da competência
do Diretor da PREV São José, de modo que é ele parte legítima para figurar no polo
passivo da lide.
Rejeito, assim, as preliminares deduzidas em
informações.
Outrossim, ainda em preliminar, é de rigor o
reconhecimento da ilegitimidade passiva do Município de São José dos Pinhais.
Com efeito, o ato coator corresponde à negativa
de concessão de benefício pela PREV São José, autarquia municipal a quem compete
a concessão de benefícios previdenciários.
Logo, não há razão para a inclusão do Município
na lide, de modo que julgo extinto o mandado de segurança, sem resolução do mérito,
em relação ao Município de São José dos Pinhais.
Superadas as preliminares, passo ao exame do
mérito.
O artigo 3º, da EC nº 47/2005, diz:

Art. 3º. Ressalvado o direito de opção à aposentadoria


pelas normas estabelecidas pelo art. 40 da Constituição
Federal ou pelas regras estabelecidas pelos arts. 2º e 6º da
Emenda Constitucional nº 41, de 2003, o servidor da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas
suas autarquias e fundações, que tenha ingressado no
serviço público até 16 de dezembro de 1998 poderá

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aposentar-se com proventos integrais, desde que


preencha, cumulativamente, as seguintes condições:
I trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta
anos de contribuição, se mulher;
II vinte e cinco anos de efetivo exercício no serviço
público, quinze anos de carreira e cinco anos no cargo em
que se der a aposentadoria;
III idade mínima resultante da redução, relativamente aos
limites do art. 40, § 1º, inciso III, alínea "a", da Constituição
Federal, de um ano de idade para cada ano de
contribuição que exceder a condição prevista no inciso I
do caput deste artigo.
Parágrafo único. Aplica-se ao valor dos proventos de
aposentadorias concedidas com base neste artigo o
disposto no art. 7º da Emenda Constitucional nº 41, de
2003, observando-se igual critério de revisão às pensões
derivadas dos proventos de servidores falecidos que
tenham se aposentado em conformidade com este
artigo.

Segundo o artigo 40, § 5º, da Constituição Federal,


os requisitos de idade mínima e tempo de contribuição para os professores são
reduzidos em cinco anos para aqueles que comprovadamente tenham exercido o
magistério na educação infantil e nos ensinos fundamentais e médio.
Consoante se observa dos autos, a impetrante
ingressou no serviço público em data anterior a 16/12/1998, mais especificamente em
01/02/1990, conta com 28 (vinte e oito) anos, 2 (dois) meses e 1 (um) dia de tempo de
contribuição no exercício das funções de magistério na educação básica, e já
completou 48 (quarenta e oito) anos de idade.
Em que pese o artigo 3º, da EC n 47/2005 não fazer
qualquer ressalva quanto aos professores, o fato é que o artigo 40, § 5º, da CF, como
dito acima, assegura a eles a redução do tempo de contribuição e da idade em 5

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(cinco) anos, de modo que observo que a impetrante implementou os requisitos legais
para a percepção da aposentadoria por tempo de contribuição com proventos
integrais, já que reúne mais de 25 (vinte e cinco) anos de contribuição no exercício da
atividade de magistério e completou 48 (quarenta e oito) anos de idade.
Quanto ao requisito etário, como a limite mínimo
de idade definido no artigo 40, § 1º, III, “a”, da CF, deve ser reduzido em 5 (cinco) anos
(artigo 40, § 5º, da CF) e em mais 3 (três) anos (artigo 3º, III, da EC nº 47/2005), a idade
mínima a ser considerada no caso concreto é de 47 (quarenta e sete) anos.
O E. TJPR já teve a oportunidade de fixar o
entendimento de que o requisito etário previsto no artigo 3º, da EC nº 47/2005, para
professores, deve ser reduzido nos moldes do artigo 40, § 5º, da CF. Vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL - SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL - AÇÃO


ANULATÓRIA DE ATO ADMINISTRATIVO- APOSENTADORIA
CONCEDIDA ADMINISTRATIVAMENTE COM FUNDAMENTO
NO ART. 3º DA EMENDA CONSTITUCIONAL 47/2005
COMBINADO COM ART. 40, § 5º DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL - ATO DO TRIBUNAL DE CONTAS ESTADUAL QUE
NEGOU A APOSENTADORIA - VEDAÇÃO DE APLICAÇÃO
CONJUNTA DOS REDUTORES À CATEGORIA DE
PROFESSORES - SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. SENTENÇA
ILÍQUIDA - REEXAME NECESSÁRIO CONHECIDO DE OFÍCIO -
ART. 496 DO CPC/2015.1. RECURSO DE APELAÇÃO. OFENSA
AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE ALEGADA EM
CONTRARRAZÕES - PEÇA RECURSAL QUE CONFIGURA
CÓPIA DA CONTESTAÇÃO - NÃO OBSERVÂNCIA À
DIALETICIDADE. - ART. 1010 DO CPC/2015. PRELIMINAR DE
NULIDADE DA SENTENÇA POR amam2AUSÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO - ART. 489 DO CPC/2015 - SENTENÇA
SUCINTA, MAS FUNDAMENTADA NO ENTENDIMENTO
JURISPRUDENCIAL - NULIDADE NÃO ACOLHIDA.RECURSO
PARCIALMENTE CONHECIDO E DESPROVIDO.2. REEXAME

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NECESSÁRIO. CONHECIMENTO DE OFÍCIO - ART. 496 DO


CPC/2015. APOSENTADORIA - PROFESSOR DA REDE
PÚBLICA - REDUTOR - APLICAÇÃO CUMULADA DO ART. 40,
§5º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E ART. 3º DA EMENDA
CONSTITUCIONAL 47/2005 - POSSIBILIDADE - PRINCÍPIO DA
ISONOMIA - PRECEDENTES DESTA CORTE - VALIDADE DA
APOSENTADORIA DEFERIDA PELO MUNICÍPIO. SENTENÇA
MANTIDA.APELAÇÃO PARCIALMENTE CONHECIDA E
DESPROVIDA.REEXAME NECESSÁRIO CONHECIDO DE
OFÍCIO.
(TJPR - 7ª C.Cível - AC - 1659232-6 - Cerro Azul - Rel.: Joeci
Machado Camargo - Unânime - J. 31.10.2017)

E nem se diga que a presente sentença


representaria ofensa aos princípios da legalidade e do equilíbrio atuarial e financeiro do
sistema previdenciário, ou ainda, de que para a concessão do benefício na forma
postulada seria necessária prévia fonte de custeio.
Isto porque, como visto acima, o benefício de
aposentadoria está previsto na Constituição Federal e, consequentemente, quando de
sua criação houve a consideração quanto à existência de fonte de custeio necessária
à manutenção do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema previdenciário.
Havendo previsão constitucional dos requisitos
para o deferimento do benefício de aposentadoria pleiteado pela impetrante,
evidentemente não há violação à legalidade.
Por fim, também não constato ofensa à isonomia,
uma vez que a Constituição Federal assegura a todos os professores que lecionem na
educação básica a concessão do benefício de aposentadoria com a redução do
requisito etário. A resistência da parte ré em conceder o benefício na via administrativa
não pode conduzir à improcedência do pleito amparado constitucionalmente sob a
alegação de que os demais servidores não obteriam igual tratamento.
Neste quadrante, percebe-se que o ato coator é
efetivamente ilegal, razão pela qual a concessão da ordem é de rigor.

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III – DISPOSITIVO.

Por todo o exposto:


a) JULGO EXTINTO o processo, sem resolução
do mérito, com fundamento no artigo 485, VI, do CPC, quanto ao Município de São José
dos Pinhais; e
b) JULGO PROCEDENTE o pedido formulado
por Silvia Pissaia Zen em face de ato do Diretor Presidente da PREV São José,
CONCEDENDO A SEGURANÇA e extinguindo o processo com resolução do mérito, com
fundamento no artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, para compelir a
autoridade coatora a conceder à impetrante o benefício de aposentadoria por tempo
de contribuição previsto no artigo 3º, da EC nº 47/2005, no prazo de 30 (trinta) dias.
Confirmo a decisão liminar.

Custas pela PREV São José.


Comunique-se a presente sentença ao I. Relator do
agravo de instrumento.
Decorrido o prazo sem a interposição de recurso
voluntário, subam os autos ao E. TJPR para o reexame necessário.
Cumpram-se as disposições pertinentes do Código
de Normas da Corregedoria-Geral da Justiça do Estado do Paraná.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.
São José dos Pinhais, data no sistema.

CAROLINA DELDUQUE SENNES BASSO


Juíza de Direito

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