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de Garanhuns
Bacharelado em Ciência da Computação
o seriado
Análise do episódio Metalhead d
Black Mirror
INTRODUÇÃO E SINOPSE
Metalhead é o quinto episódio da quarta temporada da série Black Mirror. Ele conta a
história de um grupo de pessoas que decide resgatar um objeto que permanece
desconhecido do espectador até o fim do episódio. Aparentemente, esse grupo representa
uma facção de resistência ou de sobreviventes em um ambiente hostil, e a princípio é
sugerido pelos diálogos que o objeto a ser encontrado poderia se tratar de um medicamento,
o qual seria destinado a algum integrante do grupo que estivesse enfermo. Os membros do
grupo são identificados como Bella, Tony e Clarke.
Enquanto os três estão dentro de um carro esperando o momento certo de invadir o
galpão onde está o objeto, nota-se um clima de tensão constante em relação ao perigo
iminente que cerca o local. Os invasores se comunicam por rádio com o restante do grupo,
os quais lhes passam instruções de como executar a operação. Ao invadirem o galpão, eles
buscam encontrar a prateleira onde provavelmente o objeto está e nesse ponto um robô
vigilante cuja forma lembra a de um cachorro os encontra e inicia-se um confronto armado,
sendo que o robô possui vantagem sobre o grupo devido ao fato de ser um produto de alta
tecnologia.
No embate, Tony e Clarke são mortalmente alvejados pelo robô e Bella consegue
fugir. Eles não chegam a encontrar o objeto procurado. No confronto com o robô, Bella é
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¹ emanueldiego0@gmail.com, UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO.
² giudicellielias@gmail.com, UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO.
atingida por um projétil que dispara rastreadores, os quais são inseridos em sua pele.
Graças a isso, ela o robô poderá persegui-la por onde quer que ela vá. Após sofrer um
acidente durante a fuga ao ser atacada pelo robô, o carro cai em penhasco levando o robô
consigo. Bella consegue escapar.
Para evitar ser rastreada pelo robô, Bella retira os rastreadores de sua perna
utilizando uma faca. Nesse ponto o robô já sabia sua localização e a encontra. Ela sobe em
uma árvore a fim de se proteger. Acontece então que o robô não consegue escalar a árvore
devido ao fato de ter uma das “patas” destruída durante a queda com o carro. Ainda assim
ele fica na espreita, esperando o momento em que Bella descesse da árvore. Bella então
passa a noite atirando pequenos balas no robô com o intuito de que ele gaste suas energias
até que precise carregá-las. Isso acontece e então ela aproveita o momento para fugir.
Durante sua fuga Bella entra em um casarão onde encontra dois cadáveres em
estado de decomposição na cama. Ela busca no bolso de um deles a chave de um carro
que está estacionado em frente à casa. Também pega uma arma, a fim de se proteger
durante sua fuga. Enquanto isso, o robô consegue encontrá-la novamente e a perseguição
reinicia dentro do casarão. Durante o novo confronto Bella joga tinta no visor do robô,
deixando-o incapaz de rastreá-la visualmente. Ele então passa a guiar-se de forma errante
por meio do som do ambiente. Bella corre para o carro e tenta ligá-lo. O robô persegue o
som que sai da dos alto-falantes do carro e os destrói. Nesse momento, aproveitando a
desorientação do seu perseguidor, ela atira fatalmente contra a cabeça do robô, o qual é
finalmente destruído. Como último recurso de seu sistema, ele dispara um novo projétil que
lança rastreadores contra Bella. Em seguida vemos Bella diante do espelho analisando em
quais partes do seu corpo os rastreadores estão incrustados. Então, tristemente ela nota
que um deles está alojado em sua garganta, possivelmente próximo às artérias vitais para o
corpo humano.
Desta forma ela percebe que pode não sobreviver a remoção desse rastreador e, em
virtude disso, resolve se despedir de seus companheiros através do seu rádio comunicador.
Enquanto ela aproxima uma faca da garganta a câmera mostra em visão superior o cenário
onde tudo ocorreu. Vemos então que mais robôs estão analisando o local, possivelmente
devido a algum sinal de comunicação enviado pelo primeiro robô. Então, finalmente
descobrimos qual era o objeto que Bella e seus companheiros almejavam obter: ursos de
pelúcia.
INTERPRETAÇÃO
É quase consenso entre os fãs da série que o episódio Metalhead destoa do padrão
que a série estabeleceu durante todos os outros episódios. A começar o episódio é
totalmente em preto e branco, o que deixa o clima da trama ainda mais carregado e confere
um aspecto frio e sem vida ao cenário. Outro traço distintivo em relação aos outros
episódios é que Metalhead parece não tratar-se de uma paródia pessimista de um problema
atual da nossa sociedade. O episódio não leva um aspecto cotidiano da nossa relação com
tecnologia à um extremo bizarro e doentio, como por exemplo são os episódios Arkangel
(que trata sobre controle e alienação utilizando tecnologia) e Queda Livre (que fala sobre
redes sociais e a realidade falsificada que elas podem gerar). Segundo Lemos (2018 p.
138): “Aqui (na realidade apresentada na trama) não há paródia do presente, mas uma
distopia de um futuro apocalíptico dominado por robôs que nunca desistem em suas
implacáveis caçadas”. Em outro trecho (p. 139) ele afirma: “[...] sendo que o episódio destoa
dos anteriores por não ser uma paródia do presente, por não trazer uma discussão evidente
sobre as mazelas da sociedade tecnológica contemporânea [...]”.
Entretanto, talvez o aspecto que mais cause estranheza é o fato de não haver uma
narrativa que conte uma história de forma clara, explicando os eventos que ocorrem. Tudo
fica aberto a interpretação do espectador: não sabemos o que houve com o planeta, quem
são exatamente aquelas pessoas, quais as motivações e origens dos robôs, se são
sistemas autônomos ou controlados por terceiros, etc. O episódio é focado em ação física e
ocasionalmente dramática (os momentos em que Bella está sozinha, geralmente), mas nada
é explicitado, deixando então muitas possibilidades de interpretação.
É interessante notar que o episódio parece fazer eco à diversas produções
cinematográficas das últimas décadas, como por exemplo: O Exterminador do Futuro,
Guerra dos Mundos, Blade Runner, etc. Essa semelhança pode indicar a direção pela qual
ele deve ser interpretado: a humanidade vive em um futuro dominado por máquinas que
buscam eliminá-la e o que resta aos sobreviventes é organizar grupos de resistência.
Partindo desse princípio, podemos entender que Metalhead problematiza a ascensão
da fusão de inteligência artificial com maquinário de guerra. De fato, nota-se durante toda a
história que não aparecem grandes artefatos tecnológicos: os carros possuem modelos
semelhantes aos do presente, existem rádios walk-talks como meio de comunicação. Isso
pode sugerir que um experimento pioneiro na construção de máquinas de guerra com
aplicação de inteligência artificial saiu do controle, mas não necessariamente que a
humanidade vivia um tempo de absurdo avanço tecnológico.
É ainda interessante relacionar o que se passa no episódio com o que vivemos no
nosso contexto social atual. É sabido que existem robôs semelhantes em estrutura àquela
que vemos na tela. Também sabemos do interesse de algumas nações pela uso de
tecnologia de automação como armas militares, o que inclusive gera reações daqueles que
acreditam que a união de Inteligência Artificial e máquinas mortíferas é um risco real e
urgente. A questão que se levanta é se é possível evitar que a realidade se iguale à ficção.
SIMBOLISMOS
Podemos concluir que esse nível de adaptação citado por Holmer seria exatamente o
necessário para a criação de um robô de caça e execução, que tem como função básica
identificar (reconhecer o padrão) do alvo a ser abatido. Também notamos que a autonomia
do aprendizado do sistema artificial é o ponto crítico referente à segurança do sistema.
Sob o ponto de vista da influência social na produção tecnológica, temos que
(PARANÁ; MEDEIROS, 2017) explicam como se dá esse fenômeno:
Dessa forma, conclui-se que o modo de organização da vida social a qual estamos
inseridos interfere diretamente nos rumos do desenvolvimento científico, ao
mesmo tempo que aquele é também ativado, em suas transformações, por este.
Por meio do desenvolvimento e uso de novas tecnologias – sempre configuradas
em íntima relação com tais modos de vida e horizontes civilizacionais – nos é
possibilitado reconfigurar as formas de interação com o mundo a nossa volta.
CONCLUSÃO
Lemos (2018 p.139) faz uma observação que define muito bem o “espírito” de
Metalhead: “(...) por outro lado poderíamos dizer que esse talvez seja o mais Black Mirror de
todos os episódios e de todas as temporadas. Certamente não é em termos de estilo, mas
em termos de coerência epistemológica sobre os problemas da cultura digital.”. Ou seja:
Metalhead l eva ao ponto máximo a visão pessimista que a série traz sobre a união da
tecnologia com maus hábitos sociais do ser humano. Ele trata essencialmente sobre o ápice
do mal que a tecnologia pode causar à humanidade: sua extinção.
Visto de forma superficial, Metalhead pode parecer uma narrativa visual sem
profundidade e que abusa de clichês do cinema Estadunidense. Entretanto, visto como uma
premissa do argumento que Black Mirror levanta sobre tecnologia ele é um ponto forte e
contundente sobre para onde possivelmente todas as outras narrativas da série caminham.
Fonte:
http://www.coxinhanerd.com.br/wp-content/uploads/2018/01/BLACK-MIRROR-S04E05-META
LHEAD.jpg
REFERÊNCIAS
LEMOS, André. Isso (não) é muito Black Mirror. Salvador: EDUFBA, 2018.