A razão não existe, contudo é ilógico e contraditório explicar a própria
inexistência da razão através da razão. O problema geral é que: é impossível
ditar que algo exista sem sequer ter uma noção excelente sobre o real suposto significado de existência, isto é, não se sabe o que existência seja. Acredita- se em argumentos como a do pensador, nos quais a própria existência do pensador corrobora o fato dele existir. Em outras palavras: é necessário existir para cogitar (cogito, ergo sum). Percebe-se que esse argumento, de forma geral, possui uma quantidade enorme de lacunas que o tornam duvidável. Como por exemplo: a incerteza da substância pensante, que no caso seria, a incapacidade do ser de gozar do mundo em sua excelência. O indivíduo (substância pensante) percebe um construto, que é apenas um modelo interpretativo do mundo. Modelo criado a partir de estímulos sensoriais daquilo que somos capazes de perceber. No caso, não é o indivíduo que vê o mundo, mas seus sentidos que filtram limitadamente enquanto o ser pensante interpreta-o baseado em suas experiências empíricas posteriores àquela situação. Levando-nos ao ponto chave que é: “se não há certezas, significa que não há existência. Pois a própria certeza da existência seria uma certeza” percebe-se que este argumento se auto contradiz, pois ele mesmo seria uma certeza, a certeza de que não há certezas. Porém, não necessariamente se auto exclui, pois ele só reforça a tese da inexistência dos dogmas. Sendo assim: “Não há certezas, nem mesmo a certeza de que não há certezas” Guiando o indivíduo à aceitação de sua condição, cujo único dever é esperar a morte, por estar limitado a um mundo no qual ele não goza da verdade, mas apenas de meras silhuetas interpretadas pela percepção. Em outras palavras: um mundo ilusório. Ergo nilum: Se há um pensamento, é necessário que haja um pensador. Sendo assim, conclui-se superficialmente que o pensador existe. Então a existência seria algo tão incerto a ponto de a substância pensante necessitar dar significado às coisas mesmo que, aparentemente, elas não tenham. Esse argumento epistemológico não explica a existência em si, apenas usa-se de algo superficial e inteligível para explicar algo que, intrinsecamente, teria um significado agudo: a existência. O ponto principal é que a existência inexiste, pois não há um mundo, há apenas incertezas, incluindo a própria incerteza de sua existência (agnosticismo). Nisso, conclui-se que a existência da existência é tão factual quanto qualquer teoria absurda que se possa criar sobre determinado objeto. Visto que a teoria é incerta, a existência também. Aqui então entra o apego ao empirismo, no qual o indivíduo usa-se de argumentos a posteriori que visam explicar através de experiências que a existência é sim algo factual, um exemplo breve disso é o próprio cogito. Esse tenta explicar a existência através de experiências, no caso a experiência de cogitar os objetos, os eventos e a própria existência através da percepção. Outro seria: “Se a existência inexiste, isso significa que a inexistência existe, logo a existência existe”. Por mais confuso e irrefutável que pareça, essa falácia também é empírica e, quaisquer pensamentos baseados na a posteriori ou a priori, não podem ser tidos como verídicos ou factuais. Isto é, devido ao fato de que há condições que enganam o indivíduo, fazendo com que a percepção não seja um meio confiável de comprovar coletivamente os fenômenos ocorrentes sobre determinado objeto. Subjetividade: Não se pode provar que a existência é factual através das experiências, porque as experiências do indivíduo são falsas e, há vários fatores tangíveis e inteligíveis que denunciam isso. O mundo é incerto porque o indivíduo se auto desconhece e desconhece os objetos que o cercam. Tendendo assim a estudar a si mesmo e ao objeto de forma superficial através da razão. Que não visa o objeto de forma realista, mas de forma idealista. Embora haja concordância coletiva sobre a razão, isso não a torna objetiva justamente por não estudar o objeto em si, mas apenas estímulos do espectro mais superficial enviados à percepção do ser pensante. Por assim entende-se que: a razão é subjetiva. Na ideia de que existimos porque pensamentos, acredita-se que o ser existe a partir do momento que consegue se diferir da coisa, ou seja: no momento em que o sujeito recebe a noção da própria existência e passa a cogitar o objeto, ele existe. Uma das maiores lacunas encontradas nessa ideia é que: não se pode ter certeza da morte e, arrisca-se a dizer que nem mesmo do nascimento. O argumento que embasaria essa ideia seria: “Se os sujeitos extrínsecos à sustância pensante que supostamente também seriam pensantes morressem, significa que o destino da substância pensante também é o mesmo” Fazendo com que a ciência baseie-se em estudos empíricos e observações para explicar o que aconteceria com o outro sujeito que supostamente seria uma substância pensante como aquela que observa o sujeito e, empiricamente contesta sua morte. Em contrapartida, a fé baseia- se em suposições que teoricamente não são empíricas, por isso são tidas como fé. Existência: Na prática a fé e a ciência têm a mesma base: as experiências e o conhecimento empírico, ambas são falácias finalistas, onde a crença da existência de determinado objeto é explicado através de experiências que supostamente explicam os fenômenos ocorrentes no objeto. A ciência por sua vez, explica isso através do método científico, enquanto a fé precisa duma experiência posterior para que exista. O indivíduo não pode ter fé sobre algo com o qual nunca teve qualquer tipo de contato antes. A fé também nasce da necessidade de dar explicação e existência às coisas, aqui percebe- se que o ceticismo sobre a existência é tão grande que se passa a ter necessidade de dar explicação à suposta existência dela. A ciência não é muito diferente, o mesmo ceticismo existe na ciência, porém essencialmente divergente, onde o indivíduo encontra-se até num estado ainda mais alienante, no qual ele é incapaz de entender por que tais crenças são falaciosas e não passam de preconceitos. Isto ocorre porque o indivíduo está inteiramente apegado à crença empírica de que de fato existe e, de que todos os sujeitos pensantes extrínsecos a ele também existem, mesmo que estes últimos sejam impossíveis de serem comprovados através do tão amado método científico que ele cegamente acredita. As lacunas na tese da morte são: Como a substância pensante pode contestar a possibilidade da morte baseado na morte dos outros sujeitos que supostamente seriam pensantes também? Preso à percepção, o indivíduo é incapaz de saber o que ocorrerá no amanhã, embora o amanhã já exista, pois, o futuro é inerentemente predeterminado, mas utilizando-se de ideias tragadas por experiências posteriores, ele é capaz de conjecturar o amanhã, tal como ele é capaz de conjecturar o passado. Ele também é capaz de conjecturar tanto a fé quanto a ciência, concluindo que todos os estudos científicos e todas as crenças teológicas sejam apenas conjecturas. Isto é baseado naquilo que ele experienciou, ele também é capaz de imaginar como será o amanhã, como foi o passado e, é capaz também de “criar” religiões, crenças, histórias e ademais. Tornando assim toda a existência uma enorme conjectura, onde todas as figuras históricas e cronológicas não passam de apenas invenções do presente, onde sua suposta existência no passado não passa duma experiência empírica que suscitou a própria conjectura. Em breves palavras: nem o passado, nem o presente ou o futuro existem, mas há a falsa ideia das experiências que acaba por si gerando aquilo que se acredita existir. Não só as figuras históricas, mas também tudo aquilo que cerca a substância pensante, tal como a própria noção ilusória de existência. Platonismo: A alegoria da caverna de Platão, possui muitas interpretações, embora o que ele queria dizer com ela torne-se explicito após o estudo de seus conceitos de mundo das ideias e mundo inteligível. Para Nietzsche, Platão era um niilista negativo, junto com os cristãos, porque assim como os cristãos, Platão não acreditava na realidade à qual estava inserido, mas sim num mundo exterior àquele o qual ele podia sentir com seus sentidos. Isto era o que ele queria expressar com sua alegoria, que o mundo que a substância pensante ou “a verdade” experiencia, é falso, mas através dele é capaz de ter uma noção do mundo real. Pois este mundo, seria uma sombra do mundo real, sombras que são possíveis de serem interpretadas, mas jamais se teria a verdade absoluta sobre elas, pois as conclusões seriam tiradas apenas da sombra do objeto e não do objeto em si. A alegoria de Platão está parcialmente correta. Em si, o mundo no qual a substância pensante de fato não é real, não porque há um mundo superior, mas porque de fato o que se vê não é o objeto em si, nem sombras, algo até mesmo inferior à sombra do objeto. Contudo, isso não acontece porque há uma verdade superior aos seres humanos, mas simplesmente porque a forma como a substância pensante estuda e observa o mundo, é inerentemente relativo a ela. Isto é, o observador é capaz de observar limitadamente apenas as coisas que seus sentidos lhe permitem. Ou seja, o mundo verdadeiro seria aquele no qual o ser pensante está inserido, mas ele não pode observá-lo de verdade pois está limitado... Apenas um ser onisciente seria capaz de observar o mundo em sua verdadeira forma, esse ser é capaz de saber toda a composição do objeto, desde o surgimento de cada átomo tanto em ato quanto em potência. Ele simplesmente sabe de tudo sobre a matéria e os eventos que o cercam. Pra substância pensante, é impossível ter tal noção, porque ele tem limites que o ser onisciente não tem. Aqui, não se afirma que esse ser existe, contudo, entende-se que esse ser pode existir tanto quanto a substância pensante, porque pela sua limitação de conhecimento, ela não pode ter certeza da existência do ser onisciente... Pois, por culpa de sua limitação, há fatores que simplesmente fogem da capacidade cognitiva do observador. Aqui, enquadra-se também a possível existência de um ser onisciente. Da mesma maneira, não se pode ter certeza da própria existência, mesmo que muitos acreditem que o fato de cogitar, corrobore a existência, afinal precisa-se existir para cogitar. É preciso pensar para existir... Porém, é impossível saber se de fato está pensando, ou o que seria pensamento. O erro de Platão, então, foi acreditar que o mundo no qual existia, era falso por não o poder observar por excelência. Racionalismo: A religião é uma doença, demonstrou-se ser uma característica inerente às sociedades humanas, visto que na maioria das civilizações sempre existiu religiões. Com isso, exclui-se a possibilidade de a religião ser uma doença, pois ela não altera um estado natural, mas é intrínseca ao estado natural de racionalidade do ser humano, o qual busca explicar a própria existência e o significado da existência e dos fenômenos abrangentes no mundo inteligível através de coisas supraterrestres e seres divinos. O próprio desconhecimento do ser sobre a natureza real das coisas, leva-o a procurar respostas que expliquem tais fenômenos, utilizando-se daquilo que já conhece e experienciou para formular um aclaramento sobre esses fenômenos. Melhor dizendo: a necessidade de dar significado às coisas suscita as religiões. É importante enfatizar que a formação das religiões se utiliza de experiências empíricas e, elas são compostas por esses... Isto é: as religiões, assim como a ciência, originam-se daquilo que se experiencia no mundo externo à percepção da substância pensante. São tentativas de explicar os fenômenos extrínsecos à percepção; a ciência baseando-se nas causalidades e observações empíricas, a religião utilizando as experiências empíricas para afirmar que há algo superior àquilo que a substância pensante está limitada. Portanto, tanto a religião quanto a ciência são doenças, na concepção daqueles que veem a religião como uma. Afinal, ambas têm as experiências empíricas através da percepção como alicerces. A religião acreditando em deuses e simbologias inspiradas nos objetos observados no mundo inteligível, a ciência estudando os padrões dos eventos para explicar a existência. Mais profundamente, não há diferença entre religião e ciência, as duas são igualmente duvidáveis e, não respondem com excelência as questões acerca da existência da substância pensante. Contudo, as duas levam à mesma resposta: a substância pensante é incapaz de conhecer o mundo por excelência, mas apenas interpretar conforme sua noção eventos experienciados através da aisthetike. A fé e a razão são, mormente, a mesma coisa... Ambas oriundas da racionalidade humana; manifestações da necessidade racional do indivíduo de explicar a própria existência e os eventos que o cercam. De acordo com o materialismo, é impossível surgir uma ideia sem antes preceder a experiência... Nisso, conclui-se que é impossível que uma religião seja criada sem que o indivíduo que a criará primeiro experiencie eventos no mundo inteligível que o levem a criar tal religião. Historicamente falando, é impossível que uma pessoa que jamais ouvira falar sobre a existência dos oceanos, crie o deus dos oceanos, tal como é impossível imaginar uma cor a qual nunca se enxergara, é impossível criar deuses ou seres sobrenaturais que simbolizem objetos ou eventos os quais nunca foram observados. Assim como ele jamais poderia criar um deus sem antes ter a necessidade de explicar a própria existência baseado naquilo que experienciou no mundo externo. Percebe-se aqui que, essencialmente, é a mesma coisa que a razão faz. A razão utiliza-se dos mesmos eventos a priori para explicar os possíveis padrões ocorrentes no mundo inteligível. Assim como a fé, falha ao tentar explicar pois, continuase sem ter respostas definitivas e excelentes sobre os eventos extrínsecos à substância pensante. Aqui, sai-se do materialismo e entra-se no idealismo, no qual se acredita que é impossível conhecer o objeto por excelência, mas apenas estudá-lo infinitamente através de ideias, contradições e conclusões (dialética hegeliana). Essa concepção condiz com os meios usados pela própria ciência, que se baseia no método científico para corroborar as teses e teorias existentes na ciência. Ou seja, tanto a ciência quanto a razão, desistiram do objeto em si, pois elas têm a noção de que não o podem conhecer por excelência, mas apenas estudar sua superfície, por estarmos limitados à percepção (argumento da ilusão) e, portanto, não podermos enxergar o mundo de forma realista, mas sim idealista. Tanto a fé quanto a razão, de forma agnóstica, desistiram de estudar a real natureza do objeto. A ciência limitando-se a estudar os objetos observáveis, a fé criando entidades e eventos sobrenaturais a partir daquilo que observamos. Natureza religiosa: A linguagem gera a cultura, pois é através da linguagem que a cultura nasce. A linguagem existe entre os seres humanos há milhares de anos, através dela vem gerando culturas e civilizações... A linguagem também abriu portas para a religião que existe e existiu em várias culturas e sociedades. Tal como a matemática, vem se formando em diversas sociedades de forma quase que proporcional, com bases similares, o que denuncia o fato de que a religião é uma característica intrínseca ao estágio racional do ser humano, tal como a linguagem e a cultura se produzem, a racionalidade gera a religião. Obviamente como criaturas que atingiram a capacidade de questionar a própria existência, é natural que procurem as respostas em entidades sobrenaturais que fogem daquilo que é tangível e perceptível, embora essas entidades sejam baseadas naquilo que fora experienciado empiricamente em momentos diversos da vida dos indivíduos que as criaram. Isso ocorre porque a substância pensante é limitada e, não pode enxergar os eventos e objetos do mundo inteligível de forma realista, mas apenas idealista. Ele absorve a linha mais tênue daquilo que o objeto realmente é, portanto é comum que procure respostas mais simples para a existência e essência básica dos objetos e eventos ocorrentes. As primeiras religiões visavam responder as dúvidas acerca da morte, algumas os objetos abrangentes aos indivíduos, sempre calcadas de acordo com as épocas nas quais surgiram. Acreditavam que a morte em si, não representava o fim de tudo, no caso, o fim do indivíduo..., mas uma transição para uma vida supraterrestre. Grande parte das religiões abrangem esta mesma questão, um fator que demonstra que, como criaturas racionais fadadas à morte, os seres humanos tendem a explicar a morte que simboliza a ausência de animação dos indivíduos externos à substância pensante como: uma passagem para uma realidade melhor, na qual provavelmente ter-se-ia um conhecimento mais pleno e satisfatório sobre os objetos que cercam o indivíduo. Como criaturas sociais, os humanos tendem a viver em grupos e nesses há hierarquia. Baseado nessa observação sobre a hegemonia de grupos em sociedades humanas, chegou-se à conclusão de que há um ser supremo a todos os humanos..., em algumas religiões, um ser supremo em todas as instâncias: de suprema beleza, inteligência, bondade, etc... Nisso, percebese que tal como a hierarquia é algo extremamente comum nas sociedades humanas, pôr entidades excelentes acima dos seres humanos, é algo natural e inerente às civilizações, visto que isso ocorreu na maioria delas. Vale ressaltar que a religião é também usada como forma de filtrar uma sociedade, reprimindo indivíduos de atos que são julgados como imorais de acordo com as doutrinas da religião. As entidades sobrenaturais das religiões (deuses) são na verdade representações humanas... Uma forma de projetar características inerentes aos seres humanos, àquilo que os cercam. Ceticismo ateísta: O ateísmo em si, não é uma crença ignóbil, embora de alguma forma a crença em seres sobrenaturais seja algo intrínseco à raça humana, e por isso, manifeste-se de forma genuína independentemente do indivíduo “acreditar” não crer em deuses. Portanto a negação nessa crença, é a negação de algo natural. Seria como negar que se pensa, imagina, conjectura, pondera... Bem, negar isso não fará com que o indivíduo pare de ponderar. Ele continuará ponderando independente de negar tal naturalidade. Contudo, não é a negação dessa crença natural que torna o ateu ignorante, mas sim o fato de que parte dos ateus são céticos diante de sua crença, ao mesmo tempo dizem que a ciência e a razão são irrefutáveis. Claramente desconhece a real natureza desses dois, visto que, essencialmente, razão e fé são a mesma coisa. Tanto a ciência quanto a religião limitam-se àquilo que podemos observar e experienciar, portanto as duas são falhas e inconfiáveis. Colocando assim o ateu no mesmo patamar do religioso, de uma pessoa que confia nas silhuetas que observa através da percepção; desconhecendo a coisa-em-si por excelência. O que na verdade torna uma parte dos ateus ignóbeis, é o fato de acreditarem que, por suas crenças basearem-se em objetos observáveis e comprovados através da percepção (ciência), significa que suas crenças são mais verídicas que as crenças teológicas de se baseiam em fé. Porém, na prática tanto o ceticismo sobre os eventos quanto a fé são dois frutos da racionalidade humana que dependem do mundo inteligível para criar interpretações e ideias, as duas são igualmente dubitáveis. A ignorância do ateu é acreditar que apenas experienciar empiricamente causalidades, torna sua crença mais verídica..., mas não, não torna... Pois continuam sendo observações superficiais do objeto, não a coisa-em-si. Virtudes: Na vida da substância pensante, como ser pensante, no seu mundo mental e ideal... Há as tão proclamadas virtudes pelos seres externos a ele e por ele mesmo. A verdade é que não há virtudes porque não há instâncias, ou seja, não há níveis. Tais como: bem ou mal, bom ou ruim, bonito ou feio... São apenas sublimações inerentes aos seres humanos, são interpretações relativas à substância pensante e aos outros seres externos. Portanto não há virtudes nem vícios, apenas PREconceitos prepostos pelas sociedades humanas para humanizar o mundo inteligível. Torná-lo entendível de acordo com a perspectiva da substância pensante. Contudo, se há algo próximo a virtudes, dir-se-ia que são o sono e a morte... Embora seja impossível para a substância pensante saber o que ocorre na morte e, depois transcrevê-la, assume-se que a morte é algo como o sono, porém, no qual a substância pensante simplesmente não pense, portanto não exista, pois para que ela exista é necessário que ela “pense”. E se há algo próximo ao inferno, dir-se- ia que é a “vida”. Tem-se em mente que o conceito aqui discutido sobre vida é que: a vida é o estágio no qual a substância pensante é capaz de cogitar os objetos e eventos que o cercam. Inferno: vida é um inferno porque o indivíduo que pensa é obrigado a lidar com o próprio ego, com falsos conceitos objetivos que na verdade são catóptricos e narcísicos. Está constantemente tentando provar àqueles externos a ele o quão ele é especial e, tendo que lidar também com os egos alheios a ele. Apenas o pensar e a ignorância da substância sobre tudo aquilo que a cerca já torna com que a experiência do pensar seja sobremaneira, angustiante. Nisso, conclui-se que os únicos momentos virtuosos na vida são aqueles nos quais o ser pensante não está pensando. São eles: o sono e a morte. Porque enquanto pensando, tudo o que ele tem são felicidades efêmeras, vontade de poder e um amor inexistente, pois é impossível para o ser pensante amar as coisas externas a ele. Como dito, não se deseja o objeto, deseja-se o desejo. Apenas o tolo iria querer viver numa realidade infernal e limitada para sempre... Na qual ele desconhece suas reais vontades e vive de veleidades, constantemente mente para si mesmo, mente sobre amar pessoas as quais não ama, mente sobre rir, forçando risadas não genuínas. A substância pensante finge para si mesma, tudo para velar sua inconformidade geral, pois tal inconformidade é inerente à capacidade de questionar o mundo. Tornando assim, incapaz de sentir-se “contente” de verdade, embora possa ter contentamentos momentâneos, ela jamais se sentiria plenamente contente e satisfeita, pois é impossível se sentir satisfeito num mundo de incertezas. Num mundo onde aquele que pensa e raciocina é ignorante e, não pode enxergar o mundo de verdade, mas apenas ideias que lhe são passadas através da percepção. O pensante está sempre buscando a felicidade, o amor, acreditando que ele mesmo existe porque é capaz de cogitar, de contemplar o mundo e a própria “existência” ... Porém, ele não pode ter onisciência e certeza absoluta de sua existência genuína, ela escorrega de seus dedos como água, afinal a capacidade limitada de conhecimento do pensante, jamais o deixaria ter uma noção excelente sobre o real significado do mundo, se é que ele tem. Amor catóptrico: Uma mãe não ama seu filho, mas sim o sentimento de força que o filho lhe dá. Isto é, um sentimento de utilidade que o ego está buscando desde o surgimento da substância pensante. Ele está sempre procurando a aprovação alheia e, quando se sente forte, útil e necessário, ele ama aquilo que o faz ter tal sensação. Aqui suscitam todos os tipos de amores... Românticos, maternos, amor ao próximo, aos entes... Todos os amores são narcísicos, pois a substância pensante não pode amar coisas externas a ela, justamente porque o amor não existe.... O masoquismo por exemplo, é um amor pelo poder... Tanto aquele que surra quanto aquele que é surrado, o que surra por sua capacidade de fazer com que um ser externo a ele sinta dor, o surrado por dar esse prazer a alguém. A capacidade de dar prazer aos outros também é uma vontade de poder e, a pessoa que se sente poderosa ama o alvo que reconhece seu poder. Portanto seria o amor algo inerente ao ego, visto que o amor é simplesmente o sentimento de força, de poder que o só é necessário para o ego. O ódio, por sua vez, demonstra-se essencialmente ainda mais repulsivo que o amor, pois o amor é o apego às coisas que dão prazer ao ego, que o fazem sentir-se vivo... Enquanto o ódio, é a incapacidade de conformidade do ego, que está constantemente atrás de algo para nutrir o vazio que a ignorância causa ao ser. Buscando a felicidade e outros prazeres efêmeros, sem saber que jamais sentir-se-á completo, porque a substância pensante é por natureza incompleta. Afinal, cogita um mundo ilusório limitada a uma realidade dolorosa e falsa, na qual ele só pode se contentar com as mentiras existentes nesse mundo inteligível, tornandoo incapaz de se conformar com a própria ignorância. O ódio em si não existe, ele é apenas a corporificação da inconformidade e infelicidade latente da alma humana. Uma alma fadada a justiças injustas, contentamentos descontentes e, à morte. Sem mencionar a própria ignorância da substância pensante diante da morte, a qual ela não sabe o que é, que ela desconhece e precisa de estudos empíricos e crenças religiosas para explicar algo ao qual ela acredita estar de fato fadada. O amor e o ódio não são sentimentos opostos, mas sim dois conceitos tragados pelo ego... Dum lado o amor, que é o apego às coisas que dão ao ser o sentimento de poder, de sentir-se forte, útil e necessário... Do outro o ódio, que é a manifestação da inconformidade da alma humana com o mundo externo. Contudo, tem-se em mente que, de alguma forma, o sentimento amor, segundo sua definição técnica, é de fato um dos sentimentos mais belos da humanidade. Moral da bondade: A religião é uma faca de dois gumes, isto é, seu resultado sobre o religioso é extremamente relativo a vários fatores, alguns: a forma como a religião é apresentada ao indivíduo, a forma como o indivíduo estuda a religião, aquilo que ele faz com a religião. O cristianismo por exemplo, pode levar o indivíduo à bondade ou à hipocrisia e, até mesmo ao radicalismo. Isso depende de muitos fatores como: a introdução dele à religião. Também, a vontade real do indivíduo de entender a mensagem de Deus, em vez de limitar-se àquilo que os pastores, padres ou terceiros pregam e interpretam da bíblia. Em outras palavras: estudar a bíblia e ter sua própria interpretação das escrituras sagradas, coisa a qual é pregada na bíblia. Há cristãos que usam sua crença como mérito... Como se o fato de serem religiosos tornasse-os superiores àqueles que não são, até mesmo de alguns que são. Como se a fé deles fosse superior à fé dos outros. Chama-se estes de falsos cristãos, ou: cristãos hipócritas. Em contrapartida, o cristão de verdade é aquele que estuda a bíblia e tem suas próprias interpretações de Deus. No caso, a busca pela perfeição (virtude) pregada na bíblia e, a negação da imperfeição (pecado). E, realmente, é algo com consenso e que de fato faz sentido. Faz sentido negar um mundo de ignorância, onde a substância pensante desconhece tudo, pode sim haver um mundo superior no qual o ser humano pode vir a conhecer os objetos e eventos que o cercam com plenitude. Tal como é pregado no cristianismo, por outro lado, o ateísmo é impossível, pois ele diz que divindades não existem e pronto, contudo, foge da compreensão humana tal afirmação. Ou seja: o cristianismo condiz com a ignorância humana, enquanto o ateísmo não. Logo, o ateísmo tem menos fundamento e coerência que a religião, embora a maioria dos ateístas estejam céticos de que seja o oposto. O que é esperado, pois a própria adoção do ateísmo já é um ato de arrogância, visto que o ateísta está dizendo: “divindades não existam”, mesmo que seja impossível para ele comprovar com excelência tal afirmação. Em outras palavras, a religião prega algo que é possível, a existência duma divindade, enquanto o ateísmo afirma algo que desconhece e, que não pode ter conhecimento sobre, tampouco comprovar. Contanto que a religião permita à pessoa ter noção de escolha sobre a existência de sua divindade, ela se torna suportável. Pois obrigar outras pessoas a ter plena certeza dessa existência, tornaria assim a confirmação de um fato o qual não se pode comprovar, tal como o ateísmo faz. Ou seja, se a religião não obriga as pessoas a terem fé na existência de seu deus, ela não estará fazendo uma afirmação incoerente, pois ela está apenas cogitando a possibilidade para si mesma.