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Assédio sexual na Universidade: Roda de conversa com alunas sobre boa prática do
autocuidado e enfrentamento social.
Redenção
2018
INTRODUÇÃO
A partir dos anos 2000, a problemática da violência contra a mulher tem sido
reconhecida por entidades ligadas aos direitos humanos e organizações internacionais
como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização Pan-Americana da Saúde
(OPAS) como problema de saúde pública. A OMS correfere essa violência a diversos
danos à saúde física, como dores de cabeça, abusos de drogas e álcool, depressão, asma,
ansiedade, distúrbios psíquicos, como tentativa de suicídio, além do trauma físico
propriamente dito. (OLIVEIRA, 2005)
A violência sexual expressa o intrincado contexto de poder que firma as relações
sociais entre os gêneros sexuais. Por violência sexual entende-se o estupro, tentativa de
estupro, atentado violento ao pudor, sedução, atos obscenos e assédio, que podem
ocorrer de forma conjugada, inclusive, com outros tipos de violência física (lesão
corporal, tentativa de homicídio maus tratos e ameaças). (OLIVEIRA, 2005)
A violência nas relações de gênero e, especificamente, a violência sexual pode
implicar na maior ocorrência de diversos agravos de saúde física, mental e reprodutiva
como também acarreta maior uso dos serviços de saúde por parte das mulheres. Os
serviços de saúde, sobretudo os prontos-socorros, são os mais procurados pelas
mulheres vítimas de violência sexual e doméstica, tendendo a responder dois dilemas:
compreender/identificar a violência sofrida pela mulher, dando segurança a uma queixa
e, romper com uma recorrente prática de medicalizar os eventos observados.
(OLIVEIRA, 2005)
Na maioria das vezes, as mulheres vítimas de violência apresentam problemas
que não se reduzem às consequências imediatas dos atos violentos vivenciados, mas
apresentam interfaces que precisam contar com o aporte interdisciplinar, como as
cicatrizes deixadas na vida sexual, afetiva, social, profissional. (OLIVEIRA, 2005)
O estupro é definido pelo Código Penal Brasileiro como crime de ação privada
contra os costumes (art. 213 Lei 8.069/90; 8.072/90 e 8.930/94) e não contra a pessoa.
Ou seja, ele está restrito a relação sexual entre o homem e a mulher que ocorra com
penetração vaginal, realizado contra a vontade dela e com o recurso da violência. Outras
situações de violência sexual diferente da conjunção carnal são enquadradas na
categoria “atentado violento ao pudor”, como crime de ação pública (art. 214, art. 263
(8.072/90) e art. 6 (8.930/94)). O que se considera crime é a agressão à sociedade por
intermédio do corpo feminino, é como se o homem (pai ou marido) fosse tocado em sua
integridade moral pela violência sexual vivenciada pela mulher. (OLIVEIRA, 2005)
Os dados sobre violência sexual mostram que não há distinção entre classes,
segmentos sociais e cor/ etnia. Os crimes sexuais, em particular os de estupro, são
socialmente tratados numa perspectiva que oscila entre considerá-los crimes hediondos,
principalmente quando praticado contra crianças, ou como fatos banais, comuns. Pode-
se afirmar que a visão sobre esses crimes ainda está intimamente vinculada à imagem
que se faz da vítima, de seu comportamento e moralidade. (OLIVEIRA, 2005)
Nos últimos anos o atendimento às mulheres vítimas de violência sexual tem
merecido atenção de diversos setores sociais, particularmente, das organizações de
mulheres e de associações médicas. Essas mobilizações em torno do tema resultaram na
criação de serviços que atendem mulheres vítimas de violência sexual e doméstica, bem
como de instrumentos jurídicos e legais, permitindo melhor atendimento.
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Muitas mulheres relutam em buscar atendimento ou não o procuram logo após a
violência por acreditarem ser necessário fazer primeiro o boletim de ocorrência ou
exame pericial no Instituto Médico Legal (IML). Por temerem os constrangimentos
associados a esses serviços, acabam por não buscar o serviço de saúde ou o fazem
tardiamente, comprometendo, assim, as ações profiláticas que devem ser realizadas nas
primeiras 72 horas após o evento. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Então, a partir disso, notou-se a importância de utilizar como método de
aproximação a roda de conversa, pois a conversa, na pesquisa que desenvolvemos, é um
espaço de formação, de troca de experiências, de confraternização, de desabafo. Ela
muda caminhos, forja opiniões, razão por que, no processo de escolha dos instrumentos
de produção de dados da nossa pesquisa de doutoramento, a roda de conversa surgiu
como uma possibilidade de reviver o prazer da troca e de produzir dados ricos em
conteúdo e significado. Este texto objetiva, entre outras finalidades, contar como tudo
aconteceu. (MOURA, 2014)
A roda de conversa como instrumento de trabalho não foi escolhida sem antes nos
depararmos com a necessidade de propiciar à nossa pesquisa um caráter de
cientificidade, o que implica caracterizá-la como de natureza qualitativa e determinar
sua posição como abordagem legítima da busca do conhecimento científico. Essa
escolha foi realizada quando nos propusemos a compreender nosso objeto de estudo,
posto que esse tipo de pesquisa “[...] é um meio para explorar e para entender o
significado que os indivíduos ou os grupos atribuem a um problema social ou humano”.
(MOURA 2014)
De fato, irá ser a partir da roda de conversa que começaremos a sensibilizar as alunas a
respeito da temática do assédio sexual, envolvendo o enfrentamento e apoio social na prática do
autocuidado e prevenir danos psicossociais. Entendendo que o autocuidado é indispensável, pois
quando se utiliza da educação popular como metodologia de cuidado, esta proporciona
condições para que o indivíduo produza e exerça sua autonomia, sendo corresponsável pelo seu
cuidado, pois mobiliza a autonomia, individualidade entre os indivíduos, os quais estão
diretamente ligados na ampliação da sistemática de empoderamento para garantir sua saúde.
(DO CARMO JAHN, 2012)
OBJETIVO
Nossa ação foi realizada duas vezes para abranger os dois campus (Liberdade e
Palmares) e os dois municípios em que encontram-se os alunos (Redenção e Acarape).
A primeira ação foi realizada no campus do Palmares, no térreo do bloco 2. Foi
realizado com um grupo de 7 meninas, todas estudantes de enfermagem de semestres
variados. Na primeira parte do encontro, as alunas teriam que responder um pequeno
questionário a respeito do tema abordado pela equipe, sem fins quantitativos, apenas
com caráter informativo. Após isso, realizou-se uma roda de conversa, em que foi
retirado as dúvidas mais frequentes, sendo elas: O que fazer após ser assediada, como
procurar ajuda e qual ajuda procurar. Em todo momento deixamos bem claro para elas
que estávamos lá para tirar dúvidas e ajudá-las, em nenhum momento para julgar o que
cada uma sofreu. Como foi dito, conversamos sobre o assédio sexual na universidade,
nem todas sofreram, mas outras já tinham sofrido até no Ensino médio antes de entrar
na universidade, e isso atrapalhou ela a confiar novamente em um professor,
atrapalhando assim o seu aprendizado.
Na segunda ação, contamos com mais pessoas e com diferentes cursos, foi
realizada no campus do Liberdade, e repetiu-se o mesmo esquema de entrega dos
questionários (Anexo 1), em seguida, começamos com a roda de conversa, abrangendo
todo o assunto de assédio sexual, ficamos surpresos por todas as alunas terem sofrido
algum tipo de assédio, até mesmo sexual e que isso nunca foi abordado nos lugares que
iam, principalmente na Universidade, que já chegaram retraídas, não confiando em
outros alunos, professores, atrapalhando assim, seu rendimento acadêmico, sua
interação com a turma e aumentando a evasão da universidade. Com isso, percebemos a
importância da conversa sobre esse assunto que é tão pouco debatido e que faz falta,
pois não podemos deixar que o receio, o medo tome conta das nossas vidas e cause
danos psicossociais.
ANEXO 1- QUESTIONÁRIO