Você está na página 1de 8

Capítulo I

O mistério essênio
Para compreender e apreciar plenamente a história e as
circunstâncias reais do nascimento e da missão do Mestre
Jesus, importa em primeiro lugar conhecer o papel das
organizações e das escolas antigas que contribuíram na pre-
paração de sua vinda. Há um século, foram descobertas nos
textos sagrados inúmeras citações aludindo à Fraternidade
Essênia e às suas atividades na Palestina, antes e durante a
vida de Jesus. Grande número dessas citações confirma as
referências feitas aos essênios por eminentes historiadores,
como Filo e Josefo, e projeta nova luz sobre algumas passa-
gens obscuras dos escritos hebraicos que foram transcritos
para a Bíblia*.

As relações entre a Fraternidade Essênia e as primeiras


atividades cristãs não só suscitaram o interesse de eminentes
eclesiásticos e autoridades bíblicas, como também levaram
milhares de leitores de literatura mística a se perguntarem:
“Por que a história dos essênios e os documentos relativos a
eles foram excluídos do conhecimento do grande público?” A
resposta é que os que conheciam a história da Fraternidade
Essênia procuraram ocultar sua existência para resguardar
sua atividade e seus ensinamentos de discussões públicas que
teriam suscitado a crítica e o escárnio dos que professavam o
cristianismo oficial e se empenhavam em encobrir a verdade
__________
* N.E.: As descobertas arqueológicas feitas em 1946 – ou seja, dezessete anos
depois da redação deste capítulo – vieram enriquecer nossos conheci-
mentos sobre os essênios e confirmaram as declarações aqui contidas.
Recomendamos aos leitores deste livro a se inteirarem da descoberta dos
Manuscritos do Mar Morto.

– 16 –
do Cristo e sua doutrina. Os arquivos rosacruzes contêm
numerosas informações sobre as atividades da Fraternidade
Essênia; nunca um iniciado da Ordem Rosacruz, AMORC,
ou um buscador desejoso de conhecer os mistérios antigos,
desde que considerado digno de consultar esses arquivos,
foi deixado na ignorância com relação aos essênios. O véu
pode ser retirado agora. Alguns fatos acerca dos essênios
podem ser revelados, graças aos progressos feitos no estudo
da literatura oculta e à abertura mental do indivíduo comum
em relação às questões de ordem espiritual e mística. Assim
sendo, julgo oportuno apresentar esses fatos.

Os essênios eram um ramo da Iluminada Fraternidade,


ou Grande Loja Branca, que nasceu no Egito alguns anos
antes do reinado do faraó Akhenaton, fundador da primeira
religião monoteísta. Esse faraó incentivou e deu todo seu
apoio a uma Fraternidade secreta encarregada de ensinar
as grandes verdades espirituais. As diversas escolas místicas
do Egito, reunidas numa única Organização que constituía
a Grande Fraternidade Branca, adotaram nomes diversos
em diferentes partes do mundo, em função da língua
da região e das particularidades religiosas ou espirituais
dos habitantes. Assim, na Alexandria, os membros da
Fraternidade chamavam-se essênios.

Os pesquisadores têm especulado muito sobre a origem


desse termo e seu verdadeiro significado. Tantas hipóteses
pouco satisfatórias sobre sua etimologia foram feitas no pas-
sado que até hoje subsistem dúvidas entre a maioria dos estu-
diosos. Na verdade, o termo “essênio” tem origem na palavra
egípcia “kashai”, que significa “secreto”. Há também uma pala-
vra hebraica com um som semelhante, “chsahi”, que significa

– 17 –
Gruta dos pergaminhos do Mar Morto

Na gruta nº 4 de Qumran, na Jordânia, um oficial do governo real jordaniano


mostra ao cinegrafista da AMORC a fenda onde foi encontrado o maior número
de Manuscritos.
Foto AMORC
“secreto” ou “silencioso” e que pode bem ser traduzida como
“essaios” ou “essênio”, isto é, “secreto” ou “místico”. Josefo
descobriu que os símbolos egípcios para “luz” e “verdade”
são representados pela palavra “choshen”, que foi traduzida
literalmente para o grego como “essen”. Ademais, segundo
algumas referências históricas, os sacerdotes dos antigos
templos de Éfeso tinham o nome “essênios”. Um ramo da
Fraternidade, fundado pelos gregos, julgando que o nome
“essênio” derivasse da palavra síria “asaya”, que significa
“médico”, traduziu-o para o grego como “therapeutes”, que
tem o mesmo significado.

Segundo os arquivos rosacruzes, a palavra original desig-


nava uma fraternidade secreta. Embora a maioria de seus
membros se dedicasse à medicina e à cura, a Organização
empenhava-se também em muitas missões humanitárias e
nem todos os seus membros eram médicos. A expansão da
Organização aos países vizinhos do Egito foi lenta e natural
e acompanhou o despertar progressivo da consciência dos
povos; foi assim que a Fraternidade Essênia veio a se tor-
nar um ramo específico da Grande Fraternidade Branca. A
Fraternidade Essênia representava as atividades externas da
G. F. B., que era essencialmente um centro de pesquisas e
ensinamentos. Assim, vários séculos antes da era cristã, os
essênios, constituídos em grupos de trabalhadores ativos,
possuíam dois centros principais. O primeiro ficava no Egi-
to, às margens do lago Moeris, onde nasceu o ilustre Mestre
Moria-El, em sua primeira encarnação conhecida; ali ele
recebeu a instrução e a preparação necessárias para cumprir
sua grande missão; foi também ali que ele instituiu o princípio
e a lei do batismo como etapa espiritual no processo da ini-
ciação. O segundo centro da Fraternidade Essênia situava-se
na Palestina, em Engaddi, perto do Mar Morto.

– 19 –
Consultando os arquivos rosacruzes relativos aos essê-
nios, encontrei vários textos sobre esses centros; selecionei
os mais interessantes e característicos em relação à vida
mística de Jesus. O ramo palestino teve de enfrentar o
despotismo dos governantes da região e a inveja da classe
sacerdotal. Essas circunstâncias forçaram os essênios da
Palestina a uma solidão e um silêncio mais rigorosos que
o que praticavam no Egito. Antes de abandonarem suas
modestas habitações e seus recintos sagrados de Engaddi
para se estabeleceram no Monte Carmelo, há indícios de
que se dedicavam essencialmente à tradução de manuscritos
antigos e à preservação dos documentos e tradições funda-
mentais de seu ensinamento. Quando chegou o momento
de trocar Engaddi pelo Monte Carmelo, o maior problema
que enfrentaram foi o de transferir em segredo seus manus-
critos e arquivos. Felizmente conseguiram salvaguardar os
manuscritos mais raros, provenientes do Egito, bem como
seus arquivos e ensina­mentos tradicionais. Esses documen-
tos constituem nossa principal fonte de informação sobre os
essênios e a Grande Fraternidade Branca. O leitor de obras
sagradas e místicas certamente apreciará poder, assim, des-
cobrir seu modo de vida, suas crenças e seus ensinamentos.

Os essênios do Egito e Palestina e também os terapeutas,


como eram conhecidos em outras regiões, tinham que ser todos
de descendência ariana*. Esse dado é muito importante para
a sequência dos acontecimentos que serão revelados sobre o

__________
* O termo “Ariano” designa os povos de raça mediterrânea oriental que, na
Antiguidade, invadiram o norte da Índia. Esse termo foi empregado, sem
fundamento científico, para designar os povos brancos, principalmente
nórdicos. (N.E.)

– 20 –
nascimento e a vida do Mestre Jesus. Eles estudavam o
Zend-Avesta e observavam os princípios por ele ensinados,
os quais insistiam muito particularmente na necessidade
de desen­volver mente sã em corpo são. Antes de poder
tornar-se um adepto da Fraternidade Essênia, o ariano qua-
lificado devia ser preparado desde a infância por mestres e
instrutores, ser criado para ter um corpo sadio e tornar-se
apto a demonstrar alguns de seus poderes mentais. Todo
candidato adulto autorizado a partilhar a refeição cotidiana
numa sede da Fraternidade assumia, no momento da ini-
ciação, uma missão de vida bem específica; era seu dever
cumprir essa missão a despeito dos obstáculos e tentações,
mesmo que lhe custasse o sacrifício da própria vida. Alguns
escolhiam ser médicos ou curadores; outros, artesãos, pro-
fessores, missionários, tradutores ou escribas.

Fossem quais fossem suas riquezas na ocasião de sua


iniciação, deviam doá-las a um fundo comum, de que to-
dos podiam usufruir quando necessário. A vida simples
que levavam excluía os prazeres do mundo e retiravam do
fundo comum apenas o necessário. A partir da iniciação, os
adeptos se vestiam com uma túnica branca inteiriça e usa-
vam sandálias apenas quando o clima ou as circunstâncias
os obrigavam. Suas vestes os distinguiam a tal ponto que o
povo os chamava de “Irmãos de Branco”. O termo “essênio”
não era corrente e só os iniciados o conheciam. Isso explica
a ausência de alusões aos essênios na maioria dos escritos
e narrativas da época. Eles viviam em comunidade, em
casas asseadas, situadas em geral no interior de um recin-
to sagrado e bem protegido. Os assuntos da comunidade
eram todos tratados por um conselho composto de cem
juízes ou conselheiros que se reuniam uma vez por semana
para decidir sobre as atividades da comunidade e ouvir

– 21 –
o que os membros tinham a relatar. Os desacordos, as quei-
xas e as questões a serem julgadas eram da competência
do conselho. Um de seus regulamentos menciona que os
essênios deviam ser sempre muito prudentes ao expressar
opiniões sobre os membros de sua comunidade ou sobre
pessoas de fora da organização. Não criticavam o modo de
vida nem os atos daqueles que eles procuravam instruir ou
ajudar. Seguiam estritamente um de seus preceitos: “Não
julgar, para não ser julgado”.

Apresentamos aqui seus artigos de fé, com exatidão, tal


como foram registrados em seus arquivos secretos. Embora
os mesmos artigos de fé apareçam nos diversos ramos da
Organização, com pequenas variações, é inegável que todos
foram inspirados nos adotados pela Grande Fraternidade
Branca, por ocasião da fundação da Organização essênia.

– 22 –

Você também pode gostar