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til I IdJII'. 13. L.

ORLANDI

1.1 t ."",. ti para conceitos já elaborados; e!a participa de conceituações


'0
A GÊNESE DO INDIVíDUO ," I " I

(\ ,',' OJ'l. cituações em andamento; s,la se imiscui como dobra criativa


lI\) lluxo conceitual ~ue Deleuze se entreg9-; ela opera, funciona em
lin has decisivas do sistema deleuziano, do planômeno dessa filosofia da
diferença; engrena-se produtivamente com a maquinaria conceitual que
a deglute. Para se ter ligeira idéia disso, é suficiente ler esta passa_ em de
Logique du..!!}E, passagem relativa à Rrimei1~a característica doL ca!!!E0
hanscendental,Lo campo que Deleuze procura determinar para evitar a
mera õscilação entre "campos empíricos " e "profundidade indiferen-
ciada": "em primeiro lugar, ~ingularidades-acontecimentos corres]2ojl-
dem a séries heterogêneas que se organizam em um sistema nem e~
nem instável, mas «metaestável», provido de uma energia potencial Wl
qu'é se distribuem as diferenças entre séries", sendo, "a energia potencial",
diz ele, "a energia do acontecimento puro, ao passo que as formas de
atualização correspondem às efetuações do acontecimento".
Com aquele hífen imbricando singularidades-acontecimentos, ele está
reativando, por contato poroso com ~ texto de Simondon, ~ ró rio
conceito empírico-t~cendental de~contecíment~ ~endo e~e um dos
fi osofemas mais reincidentes em sua obra e que acabará exigindo UI~a
ã.!.enção especial ao cõnceito de \yirtualidade e, portanto, c0.!ll o de.
singularidã es pré-individuais Na quinta característica do campo trans-
cendental, ã complicação s; reafirma: "em quinto lugar, esse mundo do
sentido tem or estatuto o rob?!...mátíco: as singularidades se distribUem
num campo propriamente problemático e advêm neste campo corno
aC.9ntecimentos ~opo~ógico~ aos quais não está ligada q~quer direçª~'~
Por que a comphcaçao aqUI se reafirma? Porque<peleuze)!ece a rel a ao
~cimento/pmbl.emátic.o.: "o modo do acontecimento", diz ele, "é o
roblemát' 0".20 E ambos os conceitos, além de muitos outros, são
tratados de tal modo que neles se adensa essa perspectiva de exploração
de mundos ernpírico-transcendentais, perspectiva tão presente nesse
texto tão reverenciado de Simondon. Çarecemos de um estudo detalhado
~q,_alcance que esse encontro de Deleuze com
20 Deleuze, G. LS, op. cit., p. Simondon propicia na constituição de um novo
126, 125, 127,69; tr. br., p. 107,
106,57.
transcendental na história da filosofia.

............................ GILBERT SIMOND N


A GtN to: S I': 1)( I I N 1I I I1 t 111 ,

índíxí o no sistema de realidade ('11111111 11 111I1 I


200000®®@@@ se, de não coloca
duaçãQ se produz. Qye a individuação tenha um principio) i.l".I"lI ( 1/1/1/UII//l/,/
do na pesquisa do princípio de individuação. Na própria n ao d(' 1" 111 11'11'
há um certo caráter que prefigura a individualidade constitutdu 11I11 11

.p . dades ue terá quando estiver constituída; a noção cio 'n'I"I'I/llo


'ndividuafão decorre, de certo modo, de uma gênese às av .ss I. d. !

llma- ontogênese invertida: Pltra explicar a gênese do indivíduo, ('0111

-~
seus caracteres definidos, é necessário supor a existência de um prime
---
~o termo, o princípio, que traz em si 0_ que explicará gue o indivíduo
~~ja indivíduo e dará a razão de sua hecceidade. Mas faltaria mostrar d(
maneira precisa que a ontogênese pode ter, como condição primeira,
um termo primeiro: um termo já é um indivíduo ou, pelo menos, algo
individualizável e que pode ser origem de hecceidade, que é possív I
INTRODUÇÃO converter em hecceidades múltiplas; tudo o que pode ser origem d
relação já é do mesmo modo de ser que o indivíduo, quer seja o átomo,
Existem duas vias segundo as quais a realidade do ser como indiví- partícula insecável e eterna, a matéria-prima ou a forma: o átomo pode
çluo_Eode ser ahordadai.uma fia substancialistaJ Siue~onsidera o ser entrar em relação com outros átomos pelo clinâmen e constituir, assim,
çomo consistindo em sua unidade, dado por si I2ró,prio, fundado sobre um indivíduo, viável ou não, através do vazio infinito e do devir sem
si mesmo ineIlgendrado resistente ao que não é ele wór-rio; uma via fim. A matéria pode receber uma forma, e nesta relação matéria-forma
ilemórfica ue çonsidera o indivíduo como engendrado elo encon- se encontra a ontogênese. Se não houvesse certa inerência da hecceida-
~ro de uma f~ e de uma matéria -, 9 monismo, centrado em si mes- de ao átomo, à matéria ou à forma, não haveria possibilidade de encon-
~o, do pensamento substancialista opõe-se à bipolaridélde_d.o_esqu~a trar, nas realidades invocadas, um princípio de individuação . .Procurar o
~ilemórfico. No entanto, há aI o em comum nestas d as.maneíras.de prJncí io de individuação em uma realidade que precede a pró ria individuação
~abordar ambas su õern
- a ealidade do indivíduo: -----....... '-~ nue xist rincí- é considerar a individuação unicamente como ontogênese. Nesse caso o rincí-
<::>.
pio de individuaçãcç-eapaa de.explicá-Ia, de produzi-l , de conduzi- :.A. pio de individuação é origem de hecceidade. Com efeito, tanto o subs-
partir do indivíduo constituído e dado, esforçamo-nos }2ara remontar às tancialismo atomista quanto a doutrina hilemórfica evitam a descrição
condições de sua existência. Essa maneira de propor o proble~ direta da própria ontogênese; o atomismo descreve a gênese do compos-
individuação, partindo da constatação da existência de indivíduos, en- to, como o corpo vivo, que só tem uma unidade precária e perecível,
. cerra uma pressuposição que deve ser elucidada, porque conduz a um que resulta de um ncontro casual e que irá se dissolver novamente em
aspecto importante das soluções que propomos e se insinua na busca do seus elementos quando uma força, maior que a força de coesão dos
princípio de individuação: é o indivíduo enquanto indivíduo c~í- átomos, atacá-I m sua unidade de composto. As próprias forças d
~ ue é.a.realidade.interessante, a realidade_a..explicar. O princípio de coesão, que pod ríamos considerar como princípio de individuação do
individuação será investigado como um princípio capaz de explicar os indivíduo comp sto, são rejeitadas na estrutura das partículas elem n
caracteres do indivíduo, sem relação necessária com outros aspectos do tares que existem p Ia eternidade afora e são os verdadeiros índiví it:IOfl;
ser que poderiam ser correlativos da aparição de um real individuado. nojatomismo, o princípio de individua ão é a rá ria existência da lnl]
Talperspectiva de investi aç1:2.atribui '!f.m rivilég'o otuoiõ. ico ao indivíduo cons- .nidade dos átomos: já está resente no momento em ue o p nStlI1WII(O
ti uído. Logo, :.la-.:orre o risco de não operar uma ~eira o~ quer tomar consci ncia de sua natureza: para cada átomo, a Judlvidn
98
I (10 : I LI! E RT SIM O N D O N A GttNESI': I)() INIIIVIIIII 1 IUI
I, I) \ li m fato, é sua própria existência dada e, para cada composto, é o endido c n.uma.realidade relativa, uma determinada 1\ I dll 11'11

I' uo d ser o que é em virtude de um encontro casual. Segundo oífSiiiieTiia sUjJõe um~~lidade pré-individual-;;'nterior a ela, e qu 11tH> I II 111111

hilem6rfico) ao contrário, Q ser individuado ainda não é dado u o pletament§ só, mesmo depois da individuação, pois a indlv dlllll, \I,
, nsideramos a matéria e a forma que se tomarão Q covoxóv;' não não esgota de uma única vez os potenciais da realidade prê -indlv du il;
assistimos à ontogênese porque sempre nos colocamos antes dessa to- por outro lado, o ue a individuação faz a arecer é não só o indivíduo,
mada de forma que é a ontogênese; logo, o-I!rind(~io_de_indiviclu.açã.D- 2 Dessa maneira,
~o par indiYidu~ o indivíduo ]'(,11

não é apreendido na própria individuação como operação, mas na uilo tivo em dois sentidos: porque ele não é todo o ~~porque resulta d •
que esta operação necessita para poder existir, isto é, uma mat~ e ~ estado <l~s~r em que ele não existia como indivíduo, nem como
urna forma: supomos que o princípio está contido na matéria ou na -princípio de individuação.
forma, porque supomos que a ope-r,!ç~nj.ivid_u~ção não é cap.az Por conseqüência, unicamente a individuação, enquanto operação do ser com-
de conter o próprio princípio, mas unicamente de utilizâ-lo. A pesquisa pleto, é considerada como ontogenética. A individuaçã deve então ser con-
do princípio de individuação realiza-se antes ou depois da individua- siderada como resolução parcial ~ relativa, que se manifest~m .um
ção, conforme o modelo seja tecnólógico e vital (para o esquema hile- sistema contendo otenciais e encerrando uma certa incompat~~de
mórfico) ou físico (para o atomismo substancialista). Mas, em ambos os em relação a si ró rio, incompatibilidade feita tanto de forças de ten-
casos, existe uma zona obscura que recobre a operação de individuação. são quanto de impossibilidade de uma interação entre termos extremos
Esta operação é considerada como coisa a explicar e não como aquilo
..,....-----. das dimensões .
em que a explicação deve ser encontrada: daí a noção de prindpi<Lde A palav~p-n-to-ge--n-~-e"ganhatodo o seu sentido se, em vez de lhe atri-
inaividu"ação. E~ operação é considerada como coisa a explicar porque buirmos i.sentidcç.testtito e derivado, de gênese do indivíduo_ (em opo-
~ pensamento tende para o ser individuado acabado, do qual é neces- -siÇão a uma gênese mais vasta, por exemplo, a da espécie), fazemo-l~
sário dar uma explicação, passando pela etapa da individuação para desi!SD:aro caráter de devir do ser, aquilo por que o ser devém en uanto
chegar ao indivíduo após a operação. Logo, há suposição da existên- ê- como ser. A oposição do ser e do devir só pode ser válida no interior
cia de uma sucessão temporal: primeiro, existe o princípio de indivi- de certa doutrina, supondo que o modelo próprio do ser é a substância.
duação; em seguida, este princípio opera em uma operação de indi- Contudo, também é possível supor que o devir é uma dimensão do ser,
viduação; por fim, o indivíduo constituído aparece. Se _ª-o contrário, corresponde a uma capacidade que o ser tem de defasar-se em relação a
S;t uséssemos que a individuação não produz a.penas..Q indivíduo, não si próprio, de resolver-se defasando-se; o ser pré-individual é o ser em que
procuraríamos passar rapidamente pela etapa de individuação para não existe fase; o devir é o ser em cujo seio se efetua uma individuação, o
chegar a esta realidade última que é o indivíduo: tentaríamos apreen- ser em que uma resolução aparece pela sua re-
der a ontogênese em todo o desenvolvimento de suarealidade, e c'"(;nhe- partição em fases; o devir não é um quadro no 2 Aliás, ~ meio pode.nãa.ser
'cer o indivíduo pela índividuação muito mais do que a indiuiduação a pãriFr qual o ser existe; ele é dimensão do ser, modo
.símples, homogêneo, unifor-
me, mas ser originalmente
- do indivíduo. de resolução de uma incompatibilidade inicial, atravessado por uma tensão
Desejaríamos mostrar que f2!ecess~-.2.~ rica em potenciais." A individuação corresponde à e!itre uas orâens-e-Xt:remas e
grandeza que o indivíduo me-
Icruvo"-óv- termo grego que ~r ~a reversão~investigação do p~~o aparição de fases no ser, as fases do ser; ela não é díatíza quando vem a se!.
sígnífíca o total, o conjunto (cf.
de individuação, considerando como primor- uma conseqüência depositada ao lado do devir
Dictionnaire Grec-Français, de 3 E constituição de uma ordem

A. Bailly, Paris: Hachette). dial a operação de individuação a partir da qual e isolada, mas esta própria operação enquanto de grandeza mediata entre ter-
Para Aristóteles covoxóv de- o indivíduo vem a existir e da qual ele reflete o se efetua; só pod mos compreendê-Ia a partir mos extremos; o próprio de-
signa a substância, o compos- vir ontogenético, em certo
to de matéria e de forma desenrolar, o regime e, por fim, as modalidades dessa supersaturação inicial do ser homogêneo sentido, pode ser considerado
(N.T.). em seus caracteres. Então, o indivíduo seria apre- e sem devir que, em seguida, se estrutura e de- como mediação.
-----=----
I (l' ; 1 L 13I!: RT SIM O N D O N A GtNESl': IH) lNl11V111I11I 111

1'111,faz ndo aparecer indivíduo e meio, em conformidade com o de- intervir na investigação do princípio de individuaç ,pUI 11111 , I' 11 I • I.
vir, [U é uma resolução das tensões primeiras e uma conservação des- nenhum paradigma físico preciso podia esclarecer o s U '111 1''''1-111 I I 11
su ' t nsões sob forma de estrutura; em certo sentido, poderíamos dizer taremos, portanto, apresentar primeiro a individuação ftsica COU/II /11// II/ItI
q~lC o único princípio pelo qual podemos nos orientar é o da conservação de resolução de um sistema metaestável, a partir de um estado de isÜ11IUI ('011111

do ser pelo devir; essa conservação existe pelas trocas entre estrutura e o da superfusão ou da supersaturação que preside a gênese d i cr]: I, .
operação, procedendo por saltos quãnticos entre equilíbrios sucessivos. A cristalização é rica em noções muito estudadas e que podem S I' ('111
Para pensar a individuação é necessário considerar o ser, não como pregadas como paradigmas em outros domínios; ela não esgota, no (111
substância, matéria ou forma, mas como sistema tenso, supersaturado, tanto, a realidade da individuação física.
acima do nível da unidade; não consistindo unicamente em si mesmo e Ora, podemos supor também que a realidade, em si mesma, da m •
não podendo ser pensado, adequadamente, mediante o princípio do ma maneira que a solução supersaturada e ainda de modo mais comple-
terceiro excluído; o ser concreto ou ser completo, isto é, o ser pré-indi- to no regime pré-individual, mais que unidade e mais que identidade, é pri-
vidual, é um ser que é mais que uma unidade. A unidade, característica mitivamente capaz de se manifestar como onda ou corpúsculo, matéria
do ser individuado, e a identidade, que autoriza o uso do princípio do ou energia, porque toda operação, e toda relação no interior de uma
terceiro excluído, não se aplicam ao ser pré-individual, o que explica a operação, é uma individuação que desdobra, defasa o ser pré-indivi-
impossibilidade de o mundo ser recomposto, posteriormente, com mó- dual, correlacionando simultaneamente valores extremos, ordens de
nadas, mesmo acrescentando-lhes outros princípios, como o de razão grandeza primitivamente sem mediação. A complementaridade seria,
suficiente, para ordená-Ias em universo; a unidade e a identidade só se então, a repercussão epistemológica da metaestabilidade primitiva e ori-
aplicam a uma das fases do ser, posterior à operação de individuação; ginôl do real. Nem o mecanicismo, nem o energetismo, teorias da identida-
essas noções não podem ajudar a descobrir o princípio de individua- de, explicam a realidade de maneira completa. A teoria dos campos,
ção; elas não se aplicam à ontogênese, entendida no sentido pleno do acrescentada à dos corpúsculos, e a teoria da interação entre campos e
termo, isto é, ao devir do ser enquanto ser que se desdobra e se defasa corpúsculos, ainda são parcialmente dualistas, mas encaminham-se para
individuando-se. uma teoria do pré-indioidual. A teoria dos quanta, por outra via, apreende
A individuação não pôde ser pensada e descrita de maneira adequa- este regime do prê-indioidual que ultrapassa a unidade: uma troca de ener-
da porque uma única forma de equilíbrio era conhecida, o equilíbrio gia se faz por quantidades elementares, como se houvesse uma indivi-
estável; o equilíbrio metaestável não era conhecido; o ser era implicita- duação da energia na relação entre as partículas, que, em um sentido, é
mente suposto em estado de equilíbrio estável; ora, o equilíbrio estável possível considerar como indivíduos físicos. Nesse sentido é que pode-
exclui o devir, pois corresponde ao mais baixo nível possível de energia ríamos assistir à convergência de duas novas teorias que, até hoje, se
potencial; é o equilíbrio atingido em um sistema quando todas as trans- mantiveram impenetráveis, a dos quanta e a da
formações possíveis foram realizadas e não existe mais nenhuma força; mecãnica ondulatória: elas poderiam ser consi-
todos os potenciais se atualizaram, e o sistema não pode se transformar deradas como duas maneiras de exprimir o pié-in- • Havia, entre os antigos,
equivalentes intuitivos e nor-
novamente, tendo atingido o seu mais baixo nível energético. Os anti- dividual pelas diferentes manifestações em que mativos da noção de metaes-
gos só conheciam a instabilidade e a estabilidade, o movimento e o ele intervém como pré-individual. Sob o contí- tabilidade; mas, como a me-
repouso, não conheciam clara e objetivamente a metaestabilidade. Para nuo e o descontínuo há o quântico e o cornple- taestabilidade geralmente
supõe a presença simultânea
definir a metaestabilidade é necessário fazer intervir a noção de energia mentar metaestáv 1(o mais que unidade), que é de duas ordens de grandeza e
potencial de um sistema, a noção de ordem e a de aumento da entropia; o verdadeiro pré -individual. A necessidade de a ausência de comunicação
interativa entre elas, este con-
assim, é possível definir este estado metaestável do ser, muito diferente corrigir e de acoplar os conceitos de base em ceito deve muito ao desenvol-
do equilíbrio estável e do repouso, que os antigos não podiam fazer física talvez traduza o fato de os conceitos serem vimento das ciências.
I()I (l11,JI EltT SIMONDON A C1?NE!:lJo: I () INIIIVIIIIIII II
flr/I qucdos unicamente à realidade individuada, e não à realidade pré-indi- que é condição de vida. Não é esse o único carát r do v VO, c II \01 1"111.
diluI. mos assimilar o vivo a um autômato que manteria ('I'/O 11111111 111.1.
'ompreenderíamos, então, o valor paradígmátíco do estudo da gêne- equilíbrios ou buscaria compatibilidade entre várias exi 11(' I, I' 1111
N dos cristais como processo de individuação: ele permitiria apreender, do uma fórmula de equilíbrio complexa, composta de equihln lI) 111 I
m uma escala macroscópica, um fenômeno que repousa sobre estados simples; o vivo é também o ser que resulta de uma individua uo lu I "
de sistema pertencentes ao domínio microfísico, molecular e não molar; e amplifica esta individuação, o que não faz o objeto técnico, ao qll li 11
apreenderia a atividade que ocorre no limite do cristal em formação. Tal mecanicismo cibernético gostaria de assimilá-Io funcionalmente. No vi VII
individuação não é o encontro de uma forma e de uma matéria prévias, há uma individuação pelo indivíduo e não apenas um funcionamento r NIII
que existem como termos separados, anteriormente constituídos, mas uma tante de uma individuação já efetuada, comparável a uma fabricação; ()
resolução que surge no seio de um sistema metaestável rico em poten- vivo resolve problemas, não só adaptando-se, isto é, modificando su l
ciais: forma, matéria e energia preexistem no sistema. A forma e a matéria não relação com o meio (como uma máquina pode fazer), mas também
são suficientes. O verdadeiro princípio de individuação é mediação, que modificando-se a si próprio, inventando novas estruturas internas, in-
geralmente supõe dualidade original das ordens de grandeza e ausência troduzindo-se completamente na axiomática dos problemas vitais:' O
inicial de comunicação interativa entre elas, em seguida, comunicação indivíduo vivo é sistema de individuação, sistema individuante e sistema indivi-
entre ordens de grandeza e estabilização. duando-se; a ressonância interna e a tradução da relação consigo próprio
Ao mesmo tempo que uma energia potencial (condição de ordem de em informação estão neste sistema do vivo. No domínio físico, a resso-
grandeza superior) se atualiza, uma matéria se ordena e se divide (condi- nância interna caracteriza o limite do indivíduo individuando-se; no do-
ção de ordem de grandeza inferior) em indivíduos estruturados em uma mínio vivo, ela devém o critério de todo indivíduo enquanto indivíduo;
ordem de grandeza média, que se desenvolve por um processo mediato ela êxiste no sistema do indivíduo, e não apenas no que o indivíduo
de amplificação. forma com seu meio; a estrutura interna do organismo já não resulta
O regime energético do sistema metaestável é que conduz à cristali- (como a do cristal) unicamente da atividade que se efetua e da modula-
zação e a sustenta, a forma dos cristais exprime, porém, certos caracte- ção que se opera no limite entre o domínio de interioridade e o domínio
res moleculares ou atômicos da espécie química constituinte. de exterioridade; o indivíduo físico, perpetuamente descentrado, peri-
No domínio do vivo, a mesma noção de metaestabilidade pode ser férico em relação a si próprio, ativo no limite de seu domínio, não tem
utilizada para caracterizar a individuação; mas a individuação não se verdadeira interioridade; o indivíduo vivo, ao contrário, tem uma ver-
produz mais, como no domínio físico, apenas de maneira instantânea, dadeira interioridade, porque a individuação se realiza dentro; no indi-
quântica, brusca e definitiva, deixando atrás de si uma dualidade do víduo vivo o interior também é constituinte, enquanto no indivíduo físi-
meio e do indivíduo, o meio empobrecido do indivíduo que ele não é, e co só o limite é constituinte, e o que é topologicamente interior é gene-
o indivíduo não tendo mais a dimensão do meio. Sem dúvida, tal indivi- ticamente anterior. O indivíduo vivo é contem-
duação existe também para o vivo, como origem absoluta, mas é acom- porâneo de si próprio em todos os seus elemen- 5 Por esta introdução é que o
panhada de uma individuação perpétua que é a própria vida, conforme tos, o que não O é O indivíduo físico, o qual con- vivo faz obra informacional,
o modelo fundamental do devir: o vivo conserva em si uma atividade per- ele próprio tornando-se um
tém passado radicalmente passado, mesmo
núcleo de comunicação inte-
manente; ele não só é resultado de individuação, como o cristal ou a quando ainda está crescendo. O vivo, em seu rativa entre uma ordem dc
molécula, mas também teatro de individuação. A atividade do vivo, por próprio interior, , um núcleo de comunicação realidade superior à sua di-
mensão e uma ordem ínfcrlor
conseqüência, não está toda concentrada em seu limite, como a do indi- informativa; ele é sistema em um sistema, com- a esta, que ele organiza.
víduo físico; existe nele um regime mais completo de ressonância interna, Portando em si mesmo mediação entre duas or- Essa mediação interior pode
6

que exige comunicação permanente e mantém uma metaestabilidade dens de grandeza. ti intervir como retransmlssor
I ()f I (; II,IJ ERT SIMONDON
A G t N E S 11: I () IN II Iv tu 111 I 111

suma, é possível fazer uma hipótese análoga à dos quanta em


glll
cia que supõem um apelo a novas dimensões. No ntanlu, (I I I I1 "I" "1
ri, leu, também à da relatividade dos níveis de energia potencial: é não pode resolver em si mesmo sua própria probl mátic ';,11 I I II I d.
pOIl rível supor que a individuação não esgota toda a realidade pré-indi- realidade pré-individual, ao mesmo tempo que ela s indlvklu I 11111111
vidual, e que um regime de metaestabilidade não só é mantido pelo ser psíquico que ultrapassa os limites do vivo individuado \ IIH o 11"11 I 1I
indivíduo, mas também carregado por ele, de maneira que o indivíduo vivo em um sistema do mundo e do sujeito, permite a parti ip lI,' 111 tlll
onstituído transporta consigo certa carga associada de realidade pré- forma de condição de individuação do coletivo; a individua ao, oh 1111
individual, animada por todos os potenciais que a caracterizam; uma ma de coletivo faz do indivíduo um indivíduo de grupo, as !lIdo til
individuação é relativa como uma mudança de estrutura em um sistema grupo pela realidade pré-individual que traz consigo e que, reuni Ia d.
físico; um certo nível de potencial se mantém e as individuações ainda outros indivíduos, se indioidua em unidade coletiva. As duas indivl 11111
são possíveis. Essa natureza pré-individual, que permanece associada ções, psíquica e coletiva, são recíprocas uma em relação à outra; (111'
ao indivíduo, é uma fonte de estados metaestáveis futuros de onde po- permitem definir uma categoria do transindividual, que contribui ptu 1
derão sair novas individuações. Segundo esta hipótese, seria possível a explicação da unidade sistemática da individuação interior (psíquic li)
considerar toda verdadeira relação como tendo posição de ser e como desenvolven- e da individuação exterior (coletiva). O mundo psicossocial do trans
do-se no interior de uma nova indioiduação; a relação não surge entre dois individual não é o social bruto nem o interindividual; ele supõe umu
termos que já seriam indivíduos; ela é um aspecto da ressonância interna verdadeira operação de individuação a partir de uma realidade P" '
de um sistema de individuação; faz parte de um estado de sistema. Esse individual, associada aos indivíduos e capaz de constituir uma nova pro
vivo, que, simultaneamente, é mais e menos que a unidade, comporta blemática, tendo sua própria metaestabilidade; exprime uma condição
uma problemática interior e pode entrar como elemento em uma problemática quântica, correlativa de uma pluralidade de ordens de grandeza. O vivo
mais vasta que seu próprio ser. A participação, para o indivíduo, é ofato de é apresentado como ser problemático, simultaneamente superior e inf .
ele ser elemento em uma individuação mais vasta, por intermédio da carga de rior à unidade. Dizer que o vivo é problemático é considerar o devi!'
realidade pré-individual que o indivíduo contém, isto é, graças aos poten- como uma dimensão do vivo: o vivo é conforme o devir, que opera
ciais que detém.
uma mediação. O vivo é agente e teatro de individuação; seu devir
Torna-se, então, possível pensar a relação interior e exterior ao indi- uma individuação permanente, ou melhor, uma seqüência de acessos dt
víduo como participação, sem apelar para novas substâncias. O psiquis- individuação, avançando de metaestabilidade em metaestabilidade; as
mo e o coletivo são constituídos por individuações produzidas após a sim sendo, o indivíduo não é substância nem simples parte do coletivo:
individuação vital. O psiquismo é continuação da individuação vital em um o coletivo intervê m corno resolução da problemática individual, o qu '
ser que, para resolver sua própria problemática, é obrigado a intervir, por sua significa que a base da realidade coletiva já está parcialmente contida
própria ação, como elemento do problema, como sujeito; o sujeito pode em um indivíduo ob a forma da realidade pré-individual que perman .
ser concebido corno a unidade do ser, enquanto vivo individuado, e ce associada à r alidade individuada; o que geralmente consideramos
como elemento e dimensão do mundo, enquanto ser que se representa corno relação, m razão da substancialização da realidade individual ,
sua ação no mundo; os problemas vitais não são de fato, uma dir nsão da individuação por que o indivíduo devém: tt
em relação à mediação exter-
fechados em si mesmos; sua axiomática aberta relação com o mundo e com o coletivo é uma dimensão da indiaiduaçõo
na que o indivíduo vivo reali-
za, o que permite ao vivo fa- só pode ser saturada por uma seqüência indefi- da qual o indivíduo participa a partir da realidade pré-individual que s
zer comunicar uma ordem de nida de individuações sucessivas que sempre individua etapa p r etapa.
grandeza cósmica (por exem-
plo, a energia luminosa solar)
introduzem mais realidade pré-individual e in- Logo, psicolo ia e teoria do coletivo estão ligadas: a ontogênese
e uma ordem de grandeza in- corporam-na na relação com o meio; afetivida- que indica o qu a participação no coletivo e também o que é a op ra-
framolecular.
de e percepção se integram em emoção e ciên- ção psíquica, c n ebida corno resolução de uma problemática. A indt
A GtNh:~lJl: 1)(1 INIII 111111 II
IOH (il I.IJERT SIMONDON

rluu 'ao que é a vida é concebida como descoberta, em uma situação tentada por uma preexistênda dos termos extr mos, mn I di
do nflito, de uma nova axiomática incorporando e que unificando a partir de um estado médio primitivo que localiza o vivo (' 11
lod s os elementos desta situação em sistema que contém o indivíduo. gradiente que dá um sentido à unidade tropística: a s rlc ' 11111 I 111

Para compreender o que é a atividade psíquica no interior da teoria da abstrata do sentido, segundo o qual a unidade tropísü a S( ()l f 1111 I
individuação, enquanto resolução do caráter conflituoso de um estado necessário partir da individuação, do ser apreendido em s li (l(' 1II11 I I 111
metaestável, é necessário descobrir as verdadeiras vias de instituição conformidade com a espadalidade e com o devir, não de um indhndu»
dos sistemas metaestáveis na vida; neste sentido, tanto a noção de rela- suhstancializado diante de um mundo estranho a ele,"
ção adaptativa do indivíduo com o meio 7 quanto a noção crítica de relação do O mesmo método pode ser empregado para explorar a afetividtulo I
sujeito do conhecimento com o objeto conhecido devem ser modificadas; o a emotividade, que constituem a ressonância do ser em relação a 'i PI'O
conhecimento não se edifica de maneira abstrativa a partir da sensação, prio e ligam o ser individuado à realidade pré-individual que lhe é asse I
mas de maneira problemática a partir de uma primeira unidade tropística, dada, como a unidade tropística e a percepção o ligam ao mei . ()
par de sensação e de tropismo,8 orientação do ser vivo em um mundo polarizado; psiquismo é feito de sucessivas individuações que permitem ao ser r(·
ainda aqui é necessário desligar-se do esquema hilemórfico; não há uma solver os estados problemáticos correspondentes à permanente comu-
sensação que seria uma matéria constituindo um dado a posteriori para nicação do maior e do menor que ele.
as formas a priori da sensibilidade; as formas a priori são uma primeira Contudo, o psiquismo não pode resolver-se ao nível do ser indivi-
resolução por descoberta da axiomática das tensões, resultante do afron- duado isolado; ele é o fundamento da participação em uma individua-
tamento das unidades tropísticas primitivas; as formas a priori da sensibili- ção mais vasta, a do coletivo; o ser individual
dade não são a-prioris nem a-posterioris obtidos por abstração, mas as .isolado, que se coloca a si próprio em questão, 9 Com isso queremos dizer que

estruturas de uma axiomática que aparece em uma operação de indivi- não pode ultrapassar os limites da angústia, ope- o a-priori e o a-postetiori não
se encontram no conhecimen-
duação. Na unidade tropística já há o mundo e o vivo, mas o mundo ração sem ação, emoção permanente que não
to; não são forma nem maté-
figura aí unicamente como direção, como polaridade de um gradiente chega a resolver a afetividade, experimentação ria do conhecimento, pois não
pela qual o ser individuado explora suas dimen- são conhecimento, mas ter-
que situa o ser individuado em uma díade indefi-
mos extremos de uma c1íade
nida, a qual se estende a partir dele e na qual ele sões de ser, sem as poder ultrapassar. Ao coletivo, pré-individual e, conseqüen-
7 Particularmente, a relação
ocupa o ponto mediano. A percepção, poste- apreendido como axiomática que resolve a problemá- temente, pré-noética. A ilu-
com o meio não poderia ser são de formas a-prioii proce-
considerada, antes e durante riormente a ciência, continuam a resolver essa tica psíquica, corresponde a noção de transindividual. de da preexistência, no siste-
a individuação, como relação problemática, não só pela invenção dos quadros Tal conjunto de reformas das noções é sus- ma pré-índividual, de condições
com um meio único e homo- de tota-lidade, cuja dimensão é
espaço-temporais, mas também pela constitui- tentado pela hipótese de que uma informação
gêneo: o próprio meio é siste- superior à do indivíduo em
ma, grupamento sintético de ção da noção de objeto, que devém fonte dos nunca é relativa a uma realidade única e homo- processo de ontogênese. In-
duas ou várias escalas de rea-
gradientes primitivos e que os ordena entre si gênea, mas a duas ordens em estado de dispara- versamente, a ilusão do a-pos-
lidade, sem intercomunicação teriori provém da existên-
antes da individuação. em conformidade com um mundo. A distinção tion: a informação, quer ao nível da unidade tro- cia de uma realidade cuja or-
de a priori e a posteriori; repercussão do esquema pística, quer ao nível do transindividual, jamais dem de grandeza, quanto às
8 Noção introduzida por Loeb
é depositada em uma forma que pode ser dada; modificaçôes espaço-tempo-
no estudo do comportamento hilemórfico na teoria do conhecimento, enco-
rais, é inferior à do indivíduo.
animal, designando os fenô-
bre, com sua obscura zona central, a verdadeira ela é a tensão entre dois reais dispares, a signifi- Um conceito não é, a-priori
menos de crescimento, de
orientação local e de desloca- operação de individuação, que é o centro do co- cação que surgirá quando uma operação de indivi- nem a-postetiori; mas a-ptae-
senti, pois ele é uma comuni-
mento. Cf. Vocabulaire techni- nhecimento. A própria noção de série qualitati- duação descobrir a dimensão segundo a qual dois reais cação informativa e ínterativa
que et critique de ia philosophie,
André Lalande, PUF, p. 1.154. va ou intensiva merece ser pensada segundo a dispares podem tornar-se sistema; portanto, a infor- entre o que é maior e o que

(N.T.) teoria das fases do ser: ela não é relacional e sus- mação é um início de individuação, uma exigên- menor que o indivíduo.
110 (;1I.lll~RT SIMONDON A GtNE1H: 1)(1 INIIIVIIIIIII II

I (/dI individuação, nunca é uma coisa dada; não há unidade e identida- mínios aparecem como aspectos da individuaçao COI1I'OIIlIl \1 I

d(· da i~formação, pois a informação não é um termo; ela supõe tensão rentes modalidades; as noções de substância, de for a c di' 1II 1111 I
d( 1I~ s!ste~a de ser; só pode ser inerente a uma problemática; a infor- substituídas pelas noções mais fundamentais de inf rmuç 10 111 1111 I I
111 't ao e aquilo por intermédio de que a incompatibilidade do sistema não resol- de ressonância interna, de potencial energético, de ordens di' ~I IlId, I
vido deoém dimensão or~anizadora na resolução; a informação supõe uma Para que essa modificação de noções seja possível é n \,1 li, luel I
101101

m~~anç~ ~efase de um sistema; porque ela pressupõe um primeiro estado via, fazer intervir simultaneamente um método e uma noção nuvu ()
pré-indívídual que se individua conforme a organização descoberta' a método consiste em não tentar compor a essência de uma realidudo 11111
I~formaç~o ~ ~ fórmula da individuação, fórmula que não pode pree~is- meio de uma relação conceitual entre dois termos extremos, e m '011
tir a esta individuação; poderíamos dizer que a informação é sempre no derar qualquer verdadeira relação como tendo posição de ser. A 1'(·11
presente, atual, porque ela é o sentido segundo o qual um sistema se ção é uma modalidade do ser; é simultânea relativamente aos termos d(·
indivídua.v que assegura a existência. Uma relação deve ser apreendida como J' 10
A :oncepç~o do ser sobre a qual repousa este estudo é a seguinte: o ção no ser, relação do ser, maneira de ser e não como simples rela ,tto
ser nao pOSSUIuma unidade de identidade, que é a do estado estável em entre dois termos que poderíamos conhecer de modo adequado rn \
que nenhuma transformação é possível, o ser possui uma unidade trans- diante conceitos, porque teriam uma existência efetivamente separada.
du:or~ isto é, ele pode defasar-se em relação a si próprio, ultrapassar a si- Porque os termos são concebidos como substâncias é que a relação
propno .de um lado e de outro de seu centro. O que consideramos relação relação de termos, e o ser é separado em termos porque o ser é, primí-
ou dua~zdade de princípios é, de fato, escalonamento do ser, que é mais tiva e anteriormente a qualquer exame da individuação, concebido como
que unidade e mais que identidade; o devir é uma dimensão do ser não substância. Em contrapartida, se a substância deixa de ser o modelo d
o que lhe advém conforme uma sucessão que seria sofrida por um ser ser é possível conceber a relação como não-identidade do ser em rela-
primitivamente dado e substancial. A indivi- ção a si próprio, inclusão no ser de uma realidade que não é só idêntica
10 Essa afirmação não leva a duação deve ser apreendida como devir do ser a ele, de maneira que o ser enquanto ser, anteriormente a qualquer
contestar a validade das teo-
- ,
e nao como modelo do ser que esgotaria sua individuação, pode ser apreendido como mais que unidade e mais qu
rias quantitativas da informa-
ção e das medidas da comple- significação. O ser individuado não é todo o ser identidade." Tal método supõe um postulado de natureza ontológica:
xidade, mas supõe um estado nem o ser primeiro: em vez de apreender a indioi- ao nível do ser apreendido antes de qualquer individuação, o princípio
fundamental - o do ser pré-
individual - anterior a qual- duação a partir do ser individuado, é necessário apre- do terceiro excluído e o princípio de identidade não se aplicam; esses
quer dualidade do emissor e ender o ser individuado a partir da individuação e a princípios aplicam-se unicamente ao ser já individuado, e definem um
do receptor, portanto, a qual- individuação a partir do ser pré-indioidunl; reparti- ser empobr cido, separado em meio e indivíduo; não se aplicam, então,
quer mensagem transmitida.
O que subsiste deste estado do segundo as várias ordens de grandeza. ao todo do s r, isto é, ao conjunto formado ulteriormente por indivíduo
fundamental, no caso clássico Logo, a intenção desse estudo é estudar as e meio, mas som nte àquilo que, do ser pré-individual, se tornou indiví-
da informação transmitida co-
formas, modos e graus da individuação a fim de re- duo. Nesse s ntido, a lógica clássica não pode ser empregada para pen-
mo mensagem, não é a fonte
da informação, mas a condi- colocar o indivíduo no ser, consoante os três ní- sar a individua ã pois ela obriga a pensar a operação de individuação
,

ção primordial sem a qual não veis: físico, vital, psicossocial. Em lugar de su- com conceitos om relações entre conceitos, .
há efeito de informação, logo,
nada de informação: a meta- por ~ubstâncias para explicar a individuação, que só se aplicam aos resultados da operação de
11 Particularmente, a pluralldu
estabilidade do receptor, quer consIderamos os diferentes regimes de indivi- individuação nsiderados de maneira parcial. de das ordens de grandeza, LI
se trate de ser técnico ou de
duação como fundamento de domínios tais Do empreg d sse método, que considera o ausência primordial de C0n111
indivíduo vivo. Podemos no- nicação interativa ntr ()NII\~
mear esta informação de "in- co~o matéria, vida, espírito, sociedade. A sepa- princípio de id ntidade e o princípio do tercei- ordens faz parte d tal OJlI'11
formação primeira". ro excluído como excessivamente estreitos, li- ensão do ser.
raçao, o escalonamento, as relações desses do-
11' c: 1 LIl ERT SIMONDON
A G t N I~SI': I)() I N 11 I VIII" II II
1)(11' t ,y urna noção que possui uma multidão de aspectos e de domínios a verdadeira maneira de progredir da invenção, qu ti lU ( IIdlll I II 11
d( iplí ação: a de transdução. Por transdução entendemos uma opera- dedutiva, mas transdutora, isto é, que correspond l:~ 111111 d, 1111" I1
~'I o física, biológica, mental, social, por que uma atividade se propaga das dimensões segundo as quais uma problemática pod S(,' d( I 1111111, I

gradarivaments no interior de um domínio, fundando esta propagação a operação analógica no que ela tem de válida. Essa noçr () p(ld, "
, bre uma estruturação do domínio operada de região em região: cada empregada para pensar os diferentes domínios de individuac 10: ( II
r gião de estrutura constituída serve de princípio de constituição à re- aplica a todos os casos em que uma individuação se realiza, mau I 1'1 1111 I

gião seguinte, de modo que uma modificação se estende progressiva- do a gênese de um tecido de relações fundadas sobre o ser. A pos, I) I
mente ao mesmo tempo que esta operação estruturante. Um cristal que dade de empregar uma transdução analógica para pensar um dOIHlI1 «(
aumenta e cresce, a partir de um germe muito pequeno, em todas as de realidade indica que este domínio é efetivamente a sede d um I
direções em sua água-mãe, fornece a imagem mais simples da operação estruturação transdutora. A transdução corresponde a essa exístônclu
transdutora: cada camada molecular já constituída serve de base estru- de relações que nascem quando o ser pré-individual se individua; lu
turante à camada em formação; o resultado é uma estrutura reticular exprime a individuação e permite pensá-Ia, logo, é uma noção simulta
amplificante. A operação transdutora é uma individuação em progres- neamente metafísica e lógica; aplica-se à ontogênese e é a prôpria ontogênese.
so; no domínio físico, ela pode efetuar-se de maneira mais simples sob Objetivamente, ela permite compreender as condições sistemáticas da
forma de iteração progressiva; mas em domínios mais complexos, como "- individuação, a ressonância interna, Ia a problemática psíquica. Logica-
os domínios de metaestabilidade vital ou de problemática psíquica, ela mente, pode ser empregada como fundamento de uma nova espécie de
pode avançar com um passo constantemente variável e estender-se em paradigmatismo analógico, para passar da individuação física à indivi-
um domínio de heterogeneidade; há transdução quando há atividade, duação orgânica, da individuação orgânica à individuação psíquica e da
estrutural e funcional, partindo de um centro do ser e estendendo-se em individuação psíquica ao transindividual subjetivo e objetivo, o que de-
diversas direções a partir desse centro, como se múltiplas dimensões do fine o plano dessa pesquisa.
ser aparecessem em torno desse centro; a transdução é aparição corre- Poderíamos afirmar, sem dúvida alguma, que a transdução não pode-
lativa de dimensões e de estruturas em um ser em estado de 'tensão pré- ria ser apresentada como procedimento lógico possuindo valor de pro-
individual, isto é, em um ser que é mais que unidade e mais que identi- va; aliás, não queremos dizer que a transdução é um procedimento lógi-
dade, e que ainda não se defasou em relação a si próprio em múltiplas co no sentido corrente do termo; ela é um procedimento mental, e mais
dimensões. Os termos extremos, atingidos pela operação transdutora, ainda que um procedimento uma maneira de progredir do espírito que
não preexistem a essa operação; seu dinamis- descobre. Essa maneira de progredir consiste em seguir o ser em sua gêne-
mo provém da tensão primitiva do sistema do se, em efetuar a gênese do pensamento ao mesmo tempo que ocorre
12 Ele exprime, ao contrário, a

heterogeneidade primordial ser heterogêneo que se defasa e que desenvolve gênese do objeto. Nessa pesquisa, ela é chamada a representar um pa-
de duas escalas de realidade, dimensões segundo as quais ele se estrutura; ele pel que a dialética não pode representar, porque o estudo da operação
uma maior que o indivíduo -
o sistema de totalidade meta-
não procede de uma tensão entre os termos que de individuação não parece corresponder à aparição do negativo como
estável -, a outra menor que serão atingidos e depositados nos limites extre- segunda etapa, mas a uma imanência do negativo na condição primeira
ele, como uma matéria. Entre mos da transdução. 12 A transdução pode ser uma sob forma ambivalente de tensão e incompati-
estas duas ordens primordiais
de grandeza o indivíduo se de- operação vital; em particular, exprime o senti- bilidade; isso é o que há de mais positivo no
13 A ressonância interna 6 o
senvolve por um processo de do da individuação orgânica; pode ser operação estado do ser pré-individual, isto é, a existência modo mais primitivo da co
comunicação amplificante, do
qual a transdução é o modo
psíquica e procedimento lógico efetivo, ainda de potenciais, qu é também a causa da incom- municação entre realidad H do
ordens diferentes; ela cont m
mais primitivo, já existente na que não seja absolutamente limitada ao pensa- patibilidade e da não-estabilidade deste estado: um duplo processo d llml 11
individuação física.
mento lógico. No domínio do saber, ela define o negativo é primeiro como incompatibilidade ficação e de condcnsaç o.
111 ; 1I.Illo:RT SIMONDON A otNESE 11(1 INII!VIIIIIII 1I
1I111og'11 üca, mas ele é a outra face da riqueza em potenciais: logo, não dimensão da sistemática descoberta: o tempo sai do p,- lud tl1'/llrtl, ri" 11/
• um negativo substancial; jamais é etapa ou fase, e a individuação não ma maneira que as outras dimensões segundo as quais a individu (I ('(1 (I I( r /,1111' I
• síntese, retorno à unidade, mas defasagem do ser a partir de seu cen- Ora, para pensar a operação transdutora, que é l'ulldlllllC'lIlll I,
tro pré-individual de incompatibilidade potencializada. Nessa perspec- individuação em seus diversos níveis, a noção de forma' in 'ul (' ('1111 , I
tiva ontogenética, o próprio tempo é considerado como expressão da noção de forma, a de substância ou a de relação, como relaçt o pl I, I(\1 I I)
dimensionalidade do ser indioiduando-se. à existência dos termos, fazem parte do mesmo sistema de p nsanu IIto
Conseqüentemente, a transdução não só é maneira de progredir do estas noções foram elaboradas a partir dos resultados da indiviclu I~,IO,
espírito, mas também intuição, visto que ela é aquilo por que uma estru- podem apreender unicamente um real empobrecido, sem poten iuls, (',
tura aparece em um domínio de problemática, fornecendo a resolução portanto, incapaz de individuar-se.
dos problemas levantados. Mas, ao contrário da dedução, a transdução A noção de forma deve ser substituída pela de informação, a qual sup li
não vai procurar alhures um princípio para resolver o problema de um existência de um sistema em estado de equilíbrio metaestável podendo
domínio: ela extrai a estrutura resolutiva das próprias tensões deste do- individuar-se; a informação, à diferença da forma, jamais é um termo
mínio, da mesma maneira que a solução supersaturada cristaliza-se gra- único, mas a significação que surge de uma "disparation". A antiga no-
ças a seus próprios potenciais e conforme a espécie química que con- ção de forma, tal como a libera o esquema hilemórfico, é excessivamen-
tém, não pela contribuição de alguma forma estrangeira. Ela também te independente de qualquer noção de sistema e de metaestabilidade.
não é comparável à indução, pois a indução conserva realmente os ca- A que foi dada pela Teoria da Forma comporta, ao contrário, a noção de
racteres dos termos de realidade compreendidos no domínio estudado, sistema e é definida como o estado para o qual o sistema tende quando
extraindo as estruturas da análise destes próprios termos, mas só con- encontra seu equilíbrio: ela é uma resolução de tensão. Infelizmente,
serva o que há de positivo, isto é, o que há de comum a todos os termos, um paradigmatismo físico sumariíssimo levou a Teoria da Forma a
eliminando o que estes têm de singular; a transdução, ao contrário, é considerar exclusivamente o estado de equilíbrio estável, como esta-
uma descoberta de dimensões, as dimensões de cada um dos termos do de equilíbrio de um sistema que pode resolver as tensões: a Teoria
que o sistema faz comunicar, de tal maneira que a realidade completa da Forma ignorou a metaestabilidade. Desejaríamos retomar a 'Ieoria da
de cada um dos termos do domínio possa vir a ordenar-se sem perda, Forma e mostrar, mediante a introdução de uma
sem redução, nas novas estruturas descobertas; a transdução resolutiva condição quântica, que os problemas propostos
opera a inversão do negativo em positivo: aquilo por que os termos não são pela Teoria da Forma não podem ser diretamente Essa operação é paralela à
[4

idênticos uns aos outros, aquilo por que são dispares (com o sentido que da individuação vital: um ve-
resolvidos pelo emprego da noção de equilíbrio getal institui uma mediação,
este termo ganha na teoria da visão) é integrado ao sistema de resolução estável, mas unicamente 1!JiJizandoa de equilí- pelo emprego da energia lu-
e devém condição de significação; não há empobrecimento da informa- brio metaestáv I; então, a Boa Forma não é mais minosa recebida na fotossín-
tese, entre uma ordem cósmi-
ção contida nos termos; a transdução caracteriza-se pelo fato de o resul- a forma simples, a forma geométrica pregnante, ca e uma ordem infra-molecu-
tado dessa operação ser um tecido concreto que compreende todos os mas a forma significativa, isto é, a que estabelece lar, classificando e repartindo
termos iniciais; o sistema resultante é feito de concreto, e compreende as espécies químicas contidas
uma ordem transdutora no interior de um siste- no solo e na: atmosfera. Ele é
todo o concreto; a ordem transdutora conserva todo o concreto e carac- ma de realidad que comporta potenciais. Essa um núcleo interelementar,
teriza-se pela conservação da informação, enquanto a indução reclama uma boa forma é qu mantém o nível energétíco do desenvolve-se como ressonãn-
cia interna deste sistema P[' •
perda de informação; à semelhança da progressão dialética, a transdu- sistema, conserva seus potenciais, compatibili- individual feito de duas dUTIIl.·
ção conserva e integra os aspectos opostos; à diferença da progressão zando-os: ela é a strutura de compatibilidade e das de realidade prímttlvu-
sem comunicaç o.
dialética, a transdução não supõe a existência de um tempo prévio como de viabilidade, é a dimensionalidade inventada mente núcleo interelementar faz um
quadro em que a gênese se desenrola, o próprio tempo sendo solução, segundo a qual há compatibilidade sem degra- trabalho íntra-elem ntar.
1111 <:II.I\I,:R'I' SIMONDON A ctNE~H: 1)(1 INlllVllllli1 II

d I~' 11).I. A noção de Forma merece, então, ser substituída pela de infor- podemos ter da individuação, mas um conhecim uto <1"1' I 111111"1" I
maçllo. No decurso desta substituição, a noção de informação jamais deve ção paralela à operação conhecida; não podemos, no Si'lIl dI! I1 dlllll li
ser r duzida aos sinais ou suportes ou veículos de informação, como a do termo, conhecer a individuação; podemos unicamenl iurliv <111 u , 1111
teoria tecnolõgica da informação, inicialmente extraída por abstração da tecnolo- viduar-nos e individuar em nós; logo, esta apreensão à mnl'gi'lIl dll 111
gia das transmissões, tende a fazê-lo. Logo, a noção pura de forma deve ser nhecimento propriamente dito é uma analogia entre duas opor !l,' ,\ , 11
salva duas vezes de um paradigmatismo tecnológico sumariíssimo: uma que é um certo modo de comunicação. A individuação do r al, (' 11'1 111
primeira vez, relativamente à cultura antiga, por causa do uso redutor ao sujeito, é apreendida pelo sujeito graças à individuação anal >gir I dI!
que é feito desta noção no esquema hilemórfico; uma segunda vez, no esta- conhecimento no sujeito; mas a individuação dos seres não suj lto I'
do de noção de informação, para salvar a informação como significação apreendida pela individuação do conhecimento e não só pelo conhe imou
da teoria tecnológica da informação, na cultura moderna. Pois nas sucessi- to. Os seres podem ser conhecidos mediante o conhecimento do 'uj('l
vas teorias do hilemorfismo, da Boa Forma, em seguida da informação, to, mas a individuação dos seres só pode ser apreendida mediante 11
a visada é exatamente a mesma: a que procura descobrir a inerência das individuação do conhecimento do sujeito.
significações no ser; esta inerência deve ser descoberta na operação de
Tradução
individuação. IVANA MEDEIROS
Assim, um estudo da individuação pode tender para uma reforma
das noções filosóficas fundamentais, pois é possível considerar a indivi-
duação como aquilo que, do ser, deve ser conhecido em primeiro lugar.
Antes mesmo de perguntar por que é ou não legítimo fundar julgamen-
tos sobre os seres, devemos considerar que o ser se diz em dois sentidos:
em um primeiro sentido, fundamental, o ser é enquanto é; mas em um
segundo sentido, sempre sobreposto ao primeiro na teoria lógica, o ser
é o ser enquanto individuado. Se fosse verdade que a lógica só funda as
enunciações relativas ao ser após a individuação, uma teoria do ser an-
terior a toda lógica deveria ser instituída; essa teoria poderia servir de
fundamento para a lógica, porque, de antemão, nada prova que o ser
seja individuado de uma única maneira possível; se existissem diversos
tipos de individuação, deveriam existir também diversas lógicas, cada
uma correspondente a um tipo definido de individuação. A classifica-
ção das ontogêneses permitiria pluralizar a lógica com um fundamento
válido de pluralidade. Quanto à axiomatização do conhecimento do ser
pré-individual, ela não pode estar contida em uma lógica prévia, pois
nenhuma norma, nenhum sistema destacado de
seu conteúdo podem ser definidos: só a indivi-
15Por conseqüência, a forma
aparece da mesma maneira duação do pensamento pode, ao se realizar,
que a comunicação ativa - a acompanhar a individuação de seres outros que
ressonância interna que ope-
ra a individuação: ela apare- o pensamento; portanto, não é um conhecimen-
ce com o indivíduo. to imediato, nem um conhecimento mediato que

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