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com/2009/07/03/afinal-o-que-e-performance/
Acesso: 31/12/2010
muita gente me faz essa pergunta, esperando ouvir algum tipo de definição ou, pelo
menos, procurando uma idéia mais precisa do termo. quando explico os conceitos com
os quais tenho trabalhado, a reação geralmente é uma frase como “mas então você quer
dizer que TUDO é performance?”
comecemos pelo começo: a etimologia da palavra, que se refere a um ato pelo qual se
dá forma a alguma coisa ou se revela a forma de alguma coisa. esta idéia de dar/revelar
uma forma é essencial para os estudos estéticos, afinal, analisamos obras de arte, que
são manifestações formais (entre muitas outras coisas).
o termo performance é muito utilizado na arte contemporânea para designar vários tipos
de intervenções artísticas nas quais o artista assume um papel ativo frente ao público,
atuando muitas vezes como o próprio veículo de expressão de sua obra. expressões
como o happening ou a arte-performance podem servir como exemplos, embora não
sejam os únicos.
outro pensador importante nos estudos de performance é Paul Zumthor que, vindo dos
estudos literários, desenvolveu uma importante linha de pensamento sobre a
performance a partir de suas investigações sobre a “literatura” medieval – ele utilizava a
expressão entre aspas para diferenciar as manifestações poéticas da idade média
(essencialmete orais e ligadas à música) da idéia contemporânea de literatura. em vez de
definir performance, Zumthor nos fala de “graus de performaticidade”, correspondendo
a performance presencial (artistas e público presentes no mesmo espaço) ao mais alto
grau de performaticidade. para Zumthor, até mesmo a leitura de um texto impresso (um
livro, por exemplo) é considerada performance, correspondendo à situação com grau
mais baixo de performaticidade. o importante aqui é o momento da interação entre obra
e público, no que as idéias de Zumthor se aproximam do pensamento de críticos ligados
à chamada estética da recepção (reader-response criticism or reception theory).
esta noção de performance que tem como núcleo a interação obra x público e leva em
consideração as diferentes gradações desta interação é extremamente útil aos estudos da
palavra performatizada em suas várias modalidades (palavra falada, cantada, declamada,
visualizada etc.)
voltando à pergunta inicial, podemos dizer que não há uma resposta absoluta, apenas
idéias e conceitos abertos demais para permitir uma definição bem delimitada. a reação
de achar que “tudo é performance” é bastante natural e está relacionada a uma condição
profundamente humana: a mudança. tudo que diz respeito à nossa percepção de mundo
pode ser considerado performance na medida em que nos relacionamos com um
universo em constante transformação, e nós mesmos somos seres mutantes por
excelência. as formas do mundo são formas em movimento. o mundo performa (revela
suas formas) para nós, seres performadores (criamos novas formas e as revelamos de
volta ao mundo).