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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA

LIDYANNE KALINE SOUSA DO NASCIMENTO

GEOGRAFIA, TURISMO E MEIO AMBIENTE: UMA NOVA FACE DO


LITORAL DOS MUNICÍPIOS DE EXTREMOZ E CEARÁ-MIRIM/ RN

NATAL – RN
2008
LIDYANNE KALINE SOUSA DO NASCIMENTO

GEOGRAFIA,TURISMO E MEIO AMBIENTE: UMA NOVA FACE DO


LITORAL DOS MUNICÍPIOS DE EXTREMOZ E CEARÁ-MIRIM/ RN

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em
Geografia do Centro de Ciências Humanas,
Letras e Artes da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, para a obtenção do
título de Mestre em Geografia.
Orientador: Prof. Dr. Elias Nunes.

NATAL – RN
2008
LIDYANNE KALINE SOUSA DO NASCIMENTO

GEOGRAFIA,TURISMO E MEIO AMBIENTE: UMA NOVA FACE DO LITORAL


DOS MUNICÍPIOS DE EXTREMOZ E CEARÁ- MIRIM/ RN

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Pós-graduação e Pesquisa em
Geografia da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte como exigência para
obtenção do título de Mestre em Geografia.

APROVADA EM _______/______/______

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________
Prof. Dr. Elias Nunes
Programa de Pós-Graduação em Geografia, UFRN – Orientador

________________________________________________________________
Profª. Drª. Rita de Cássia Ariza da Cruz
Programa de Pós-Graduação em Geografia, USP – Membro Externo

__________________________________________________________________
Profª. Drª. Maria Edna Furtado
Programa de Pós-Graduação em Geografia, UFRN – Membro Interno
Dedico este trabalho a Deus, pelo
dom maior da vida, e a minha mãe.
AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus que, na Sua Infinita Sabedoria, inspirou-me e


ajudou-me a suplantar os desafios de realizar este trabalho.
Á minha mãe, minha principal incentivadora; ela foi a grande responsável por tudo o
que eu consegui realizar de bom em minha vida. A ela, meus eternos agradecimentos,
carinho e respeito.
Ao meu irmão que, por várias vezes, renunciou ao seu lazer, ao seu descanso, para
me proporcionar um ambiente favorável de estudo.
Aos meus avós, Manoel Maurício e Francisca Xavier (in memorian), que sempre me
incentivaram e oraram por mim. Valiosas contribuições emocionais, das quais nunca me
esquecerei.
À minha madrinha, a querida “Tica”, a qual eu considero uma segunda mãe.
Compartilhamos sonhos, dificuldades, choros, mas, principalmente, vitórias.
Ao meu Orientador, Elias Nunes, pela confiança demonstrada na minha capacidade
enquanto pesquisadora e pela boa condução nas orientações, ao longo do trabalho. Não
poderia deixar de citar a querida Edna Furtado, pela incansável atenção e respeito
demonstrados para comigo e meu projeto.
Ao professor do CEFET_RN, Pedro Valdenildo, que me “iluminou” nos momentos
iniciais da pesquisa, mesmo não tendo, na época, laços de amizade comigo.
Aos professores Francisco Ednardo e Malco que, num gesto de solidariedade
incomparável, propuseram-se a me substituir em sala de aula, para que eu pudesse me
dedicar à pesquisa. Igualmente, agradeço à Coordenação do CEFET_RN, por permitir tal
substituição.
A Flávio Teotônio que me acompanhou, durante toda a trajetória do meu trabalho,
renunciando ao seu lazer, para me fazer companhia.
Á minha querida amiga Ana Cecília; uma amiga desde sempre e para sempre! A ela
e sua família minha gratidão, simplesmente, por tudo!
À Jane Roberta (“A Bala”) que foi para mim um grande refúgio emocional nos
momentos em que pensei em desistir. Se cheguei até aqui, devo muito a ela.
A Isabel Dantas e Antônio de Pádua que me ajudaram na construção do meu
trabalho, com muito carinho e, sobretudo, paciência.
A Iron Medeiros que me ajudou na confecção dos mapas, com grande
prestatividade, competência e carinho.
Finalmente, a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para que
eu alcançasse o êxito nessa pesquisa.
RESUMO

A presente pesquisa contempla reflexões acerca da atividade turística na


organização socioespacial das áreas litorâneas, em específico, no litoral dos
municípios de Extremoz e Ceará-Mirim, Região da Grande Natal. Nosso objetivo
principal é o estudo das transformações espaciais e suas implicações sócio-
ambientais emergentes no processo de produção do espaço turístico litorâneo dos
referidos municípios, situados no Estado do Rio Grande do Norte, tendo como
recorte temporal os anos de 1997 a 2007, correspondendo ao momento de
importância pública privada, que a partir do PRODETUR, teve a base para o
incremento das potencialidades turísticas. Nesse sentido, utilizou-se de técnicas
para a compreensão das aspirações e da percepção dos atores envolvidos com a
atividade turística (população local, comerciantes, turistas e poder público local), no
sentido de descobrir quais são as suas considerações quanto às mudanças
provenientes da implantação da atividade turística na localidade, quanto à melhoria
da qualidade de vida, geração de emprego e renda, comercialização, conservação/
preservação ambiental, cumprimento da legislação, afirmação cultural, bem como as
ações implementadas nos municípios. Para tal mister buscou-se analisar os dados
estatísticos a partir da aplicação de questionários com perguntas estruturadas e
semi-abertas como instrumento de coleta de informações, correlacionando-as com a
percepção dos atores locais para que possamos formar e compreender de forma
fidedigna os elementos básicos que fazem parte dos espaços turísticos em questão.
Foram utilizadas fotografias aéreas dos municípios de Extremoz e Ceará-Mirim,
fornecidas pelo IDEMA, com o intuito de percebermos as mudanças de ordem
espacial e implicações socioambientais da área em estudo.Concluímos, em função
dos resultados, que o modelo do Turismo concebido pelo Brasil, incentivado e
financiado pelo Governo Federal, está inserido no contexto da economia global e,
por conseguinte, o Estado do Rio Grande do Norte, em específico os espaços
litorâneos dos municípios de Extremoz e Ceará-Mirim, possuem características
semelhantes a esse modelo, com suas particularidades, que se traduzem pela
exclusão social, formas de apropriação privada dos espaços públicos e áreas de
proteção ambiental como praias, dunas e lagoas, desrespeito ou não-cumprimento
da legislação ambiental, acentuação das desigualdades de renda numa região que
possui uma problemática social crônica por ser desprovida de investimentos,
implantação de infra-estrutura, ausência do poder público local, onde os interesses
econômicos são prioritários frente às questões ambientais e aos interesses e
vontades populares. Propõe-se um repensar quanto ao atual modelo de
desenvolvimento adotado, para que o seu planejamento seja pautado com base na
participação integrada dos vários agentes envolvidos com a atividade turística,
incluindo, na medida do possível, as aspirações da população local como
precursoras das suas reais necessidades, onde essa ação interativa responderá
certamente em um esforço significativo na construção de um novo paradigma,
modelo de desenvolvimento sustentável, possibilitando superar paulatinamente a
reprodução da pobreza, da exclusão e dos impactos ambientais, para que a
qualidade de vida seja fator fundamental.

Palavras-chave: Espaço. Turismo. Meio Ambiente.


RESUMEN

La presente pesquisa contempla reflexiones referentes de la actividad turística


en la organización socio-espacial en el litoral de las comarcas de Extremoz y Ceará-
Mirim, región de la Grande Natal. Nuestro objetivo principal es el estudio de las
transformaciones del espacio y de sus implicaciones socio-ambientales en curso en
el proceso de producción del espacio turístico en el litoral de las referidas comarcas
desde 1997 hasta 2007, momento de importancia publica-privada que, a partir del
PRODETUR, tuvo la base para el incremento de las potencialidades turísticas. En
este sentido, varias fueron las técnicas para una mejor compresión de las
aspiraciones y de la percepción de los actores envueltos con la actividad turística
(comerciantes, turistas, populación y poder publico local) para conocer cuales son
sus consideraciones en cuanto a los cambios que proceden de la implantación de la
actividad turística en el lugar, cuanto a la mejora de la calidad de vida, de la
generación de empleo y de renta, comercialización, conservación, preservación del
ambiente, cumplimiento de la legislación, afirmación cultural así como las acciones
puestas en ejecución en las comarcas. Para tal necesidad, se buscó analizar los
datos estadísticos a partir del uso de los cuestionarios con preguntas estructuradas y
semi-abiertas como instrumento de colecta de información que les era
correlacionada con la opinión de los actores locales de modo que podamos formar y
entender los elementos básicos que son parte de los espacios turísticos en foco.
Fueran utilizadas fotografías aéreas de las comarcas de Extremoz y Ceará-Mirim,
provistas por el IDEMA, con la intención de percibir acerca de los cambios del
espacio y las implicaciones socio-ambientales de la área en estudio. Concluimos en
función de los resultados que el modelo de Turismo concebido por lo Brasil,
estimulado y financiado por lo Gobierno Federal, está insertado en el contexto de la
economía global y, por lo tanto, el Estado del Rio Grande del Norte, en específico los
espacios litoraneos de las comarcas de Extremoz y Ceará-Mirim, que poseen
características similares a este modelo, con sus particularidades, que si traduzca por
la exclusión social, formas de apropiación privada de los espacios público y áreas de
protección ambiental como las playas, las dunas y las lagunas, el desacato o no el
cumplimiento de la legislación ambiental, aumento de las desigualdad de renta en
una región que posee una problemática social grave y sin inversión, implantación de
la infraestructura, ausencia de política pública local, donde los intereses económicos
son prioridad delante de las aclamaciones populares. Se sugiere un repensar cuanto
al modelo actual de desarrollo adoptado, que el planeamiento sea pautado en base
a la participación integrada de los varios agentes implicados con la actividad
turística, incluyendo en la medida del posible, las aspiraciones de la población local
como precusoras de sus reales necesidades, donde esta acción interactiva
contestará ciertamente en un esfuerzo significativo en la construcción de un nuevo
paradigma, modelo del desarrollo sustentable, siendo posible superar gradualmente
el incremento de la pobreza, de la exclusión y de los impactos ambientales, donde la
calidad de vida sea factor fundamental.

Palabras llaves: Espacio. Turismo. Medio Ambiente.


LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 Ponte Newton Navarro........................................................... 37


Fotografia 2 Restaurante Naff Naff............................................................. 43
Fotografia 3 Aquário Natal.......................................................................... 43
Fotografia 4 Passeio de bugre em cima das dunas................................... 43
Fotografia 5 Passeio de dromedário em cima das dunas.......................... 44
Fotografia 6 Passeio a cavalo.................................................................... 44
Fotografia 7 Lagoa de Pitangui.................................................................. 44
Fotografia 8 Lojas de artesanato na praia de Jenipabu............................. 45
Fotografia 9 Praia da Redinha Nova - presença de lixo a céu aberto,
demonstrando ausência de infra-estrutura local.................... 77
Fotografia 10 Praia da Redinha Nova - presença de lixo a céu aberto........ 78
Fotografia 11 Construções em cima das dunas destinada para fins
especulativos.......................................................................... 83
Fotografia 12 Construções em cima das dunas destinada para fins
especulativos.......................................................................... 83
Fotografia 13 Construções em cima das dunas destinada para fins
especulativos.......................................................................... 84
Fotografia 14 Construções em cima das dunas destinada para fins
especulativos.......................................................................... 84
Fotografia 15 Construções em cima das dunas destinada para fins
especulativos.......................................................................... 85
Fotografia 16 Construção destinada a moradores com perfil social de
baixa renda............................................................................. 86
Fotografia 17 Construção destinada a moradores com perfil social de
baixa renda............................................................................. 86
Fotografia 18 Segunda residência................................................................ 87
Fotografia 19 Construção sendo implantada sem licenciamento ambiental 87
Fotografia 20 Área alagadiça de recarga do aqüífero subterrâneo.............. 88
Fotografia 21 Gameleira com a raiz exposta. (tipo de vegetação
característica de área de dunas)............................................ 89
Fotografia 22 Expansão do comércio formal descaracterizando a
paisagem................................................................................ 91
Fotografia 23 Expansão do comércio informal............................................. 91
Fotografia 24 Variedade do comércio informal............................................. 92
Fotografia 25 Variedade do comércio informal............................................. 92
Fotografia 26 Lagoa de Jacumã................................................................... 93
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Sexo........................................................................................... 48
Gráfico 2 Faixa etária................................................................................ 49
Gráfico 3 Profissão................................................................................... 50
Gráfico 4 Naturalidade............................................................................... 51
Gráfico 5 Presença nesta localidade outras vezes................................... 51
Gráfico 6 O que motivou a visita............................................................... 53
Gráfico 7 Motivo que levaria a voltar......................................................... 53
Gráfico 8 Nível de satisfação em relação ao lugar.................................... 54
Gráfico 9 Sugestões para melhoria da localidade..................................... 54
Gráfico 10 Sexo.......................................................................................... 56
Gráfico 11 Faixa etária................................................................................ 56
Gráfico 12 Escolaridade.............................................................................. 57
Gráfico 13 Ramo de atividade..................................................................... 58
Gráfico 14 Conhecimento das transformações na dinâmica sócio-
espacial e cultural da localidade............................................ 59
Gráfico 15 Existência de impactos sociais, ambientais e econômicos
provocados pelo turismo na localidade..................................... 60
Gráfico 16 Criação de política de valorização cultural, valorização do
artesanato, do patrimônio histórico............................................ 60
Gráfico 17 Sexo.......................................................................................... 61
Gráfico 18 Faixa etária................................................................................ 62
Gráfico 19 Escolaridade.............................................................................. 63
LISTA DE MAPAS

Mapa 1 Localização da área em estudo................................................. 15


Mapa 2 Carta Geo-ambiental da Grande Natal...................................... 36

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Relação dos equipamentos de hospedagem e restauração da


atividade turística nos municípios.............................................. 32
Quadro 2 Sugestões para melhoria da localidade..................................... 55
LISTA DE SIGLAS

APA Área de Proteção Ambiental


CNUMAD Conferencia das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente e Meio Ambiente
CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente
EMBRATUR Instituto Brasileiro de Turismo
ETE Estação de Tratamento de Esgoto
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMS Imposto de Circulação sobre Mercadoria e Serviço
IDEMA Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente
ISS Imposto sobre Serviço
IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano
MMA Ministério do Meio Ambiente
PRODETUR Programa de Desenvolvimento do Turismo
SECTUR Secretaria Especial de Comercio, Indústria e Turismo
SEMURB Secretaria Especial de Meio Ambiente e Urbanismo
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................ 13
2 RELAÇÃO TURISMO E ESPAÇO.............................................. 20
3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A ÁREA EM
ESTUDO...................................................................................... 28
4 DO TURISMO DE PASSAGEM AO DESENVOLVIMENTO 41
4.1 DADOS GERAIS......................................................................... 47
4.1.2 Perfil do entrevistado: turista................................................... 47
4.1.2.1 Sexo............................................................................................. 48
4.1.2.2 Faixa etária.................................................................................. 48
4.1.2.3 Profissão...................................................................................... 49
4.1.2.4 Naturalidade................................................................................ 50
4.1.3 Perfil do entrevistado: comerciante......................................... 55
4.1.3.1 Sexo............................................................................................. 56
4.1.3.2 Faixa etária.................................................................................. 56
4.1.3.3 Escolaridade................................................................................ 57
4.1.3.4 Ramo da atividade....................................................................... 57
4.1.4 Perfil do entrevistado: comunidade local............................... 60
4.1.4.1 Sexo............................................................................................. 61
4.1.4.2 Faixa etária.................................................................................. 61
4.1.4.3 Escolaridade................................................................................ 62
5 TURISMO E MEIO AMBIENTE................................................... 66
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................ 97
REFERÊNCIAS........................................................................... 100
APÊNDICES................................................................................ 106
APÊNDICE A – Secretaria do Meio Ambiente............................ 107
APÊNDICE B – Secretaria de Turismo........................................ 109
APÊNDICE C– Comerciantes antigos e associações................. 111
APÊNDICE D– Comunidade Local.............................................. 113
1 INTRODUÇÃO

No final do século XX, o Turismo converteu-se em uma das atividades


econômicas mais importantes do mundo. “É o setor da economia que mais cresce
na atualidade, já tendo atingido o status de principal atividade econômica do mundo,
superando setores tradicionais, como a indústria automobilística, a eletrônica e a
petrolífera “(DIAS, 2003, p.9) Segundo Cruz (1999, p.2), as “[...] estatísticas oficiais
mostram ainda que a atividade turística revela números expressivos, também, no
que se refere a deslocamentos de fluxos, à mão-de-obra empregada na atividade, à
geração de renda etc”. Afirma ainda que:

A sedução matemática desses números tem levado a diversas


análises reveladores de certo grau de euforia, trazendo como
conseqüência certas distorções de alguns pesquisadores, que
sombreiam, empobrecem, mascaram, fatos que, supostamente,
deveriam contribuir para revelar (CRUZ, 1999, p.2).

Esse fato tem despertado, nos últimos anos, interesse da comunidade


científica quanto aos estudos relativos a esta atividade, bem como suas implicações.
De acordo com (CRUZ 2003), o interesse da Geografia pelo Turismo já não é tão
recente, assim como, não são mais escassos estudos realizados por geógrafos em
torno do fenômeno.
Partindo do princípio de que a Ciência Geográfica tem como objeto de estudo
a relação espaço e sociedade, e que a principal característica intrínseca à prática
social do Turismo está relacionada ao fato de que o espaço constitui seu principal
objeto de consumo, incluindo a sociedade local e os recursos naturais, torna-se,
compreensível entender o crescente interesse da Geografia pelos estudos relativos
ao turismo.
O Turismo se apresenta como um fenômeno inerente ao espaço geográfico.
Ele, em suas atividades, (re)cria, inventa novas formas, funções, processos e ritmos,
dinamizando os lugares, as paisagens, os territórios, as regiões; enfim, o próprio
espaço, numa simbiose entre o particular e o universal, o local e o global. Assim, ao
mesmo tempo em que ele provoca a leitura de suas marcas e impressões, ele
desafia a compreensão e o entendimento de sua dinâmica. (ALMEIDA, 2003).

13
Trata-se de uma prática social que envolve em seu escopo vários agentes
que possuem interesses distintos. Dessa forma, podemos afirmar que o Turismo é
uma atividade econômica que se distingue das demais atividades preexistentes,
dadas suas particularidades no que diz respeito ao processo de produção dos
espaços. Para refletimos acerca dessa multiplicidade de questões que o Turismo
suscita, devemos voltar nosso olhar para a Geografia do Turismo, campo da Ciência
Geográfica que lida com essa complexidade.
A presente pesquisa encontra-se inserida nos estudos relativos à
problemática socioespacial e ambiental litorânea. A temática concernente a este
estudo geográfico diz respeito à análise das transformações espaciais e suas
implicações socioambientais emergentes no processo de organização do espaço
litorâneo nos municípios de Extremoz e Ceará-Mirim, Região Metropolitana de Natal,
situados no Estado do Rio Grande do Norte1, a partir dos anos de 1990, dando uma
maior ênfase à inserção da atividade turística.
O município de Extermoz encontra-se na latitude 5º 42´04´ sul, possui uma
área de 126 Km 2 , equivalente a 0,25% da superfície estadual e uma população,
conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2007), de
21.792 habitantes, distante 25 Km da capital. Seis praias compõem o referido
município, a saber: Redinha Nova, Santa Rita, Genipabu, Barra do Rio, Graçandu e
Pitangui. Na latitude 5º 38´ 04´´sul, localiza-se o município de Ceará-Mirim,
compreendendo uma área de 740 Km 2 , representando 1,37% da superfície estadual
e uma população de 65.450 habitantes, distante 38 Km de Natal. Jacumã, Porto
Mirim e Muriú são as praias que compõem este município. A população total dos
dois municípios é de 87.242 habitantes; dessa soma, estima-se que 10% se
concentram no litoral, correspondendo a aproximadamente 8.725 habitantes (IBGE,
2007).
Os municípios em estudo possuem latitudes baixas, o que proporciona altas
temperaturas durante todas as estações do ano, porém, é válido ressaltar que essa
característica não constitui uma particularidade apenas desses municípios; condiz
com a realidade do litoral potiguar como um todo.

1
Vide Mapa 1.
14
Mapa 1: Localização da área em estudo.
Fonte: CPRM

15
Historicamente, o processo de produção dos municípios de Extremoz e
Ceará-Mirim aconteceram atrelados a atividades pertencentes ao setor primário,
como a agricultura, pecuária e a pesca, responsáveis pelo sustento da maioria da
população local. A carcinicultura é uma outra atividade dos municípios. Ela teve
início no final da década de 1990. No caso específico do município de Ceará-Mirim,
a atividade canavieira foi, durante muito tempo, a responsável por sua dinamização.
Atualmente essa atividade se encontra em menor expressividade, dando lugar ao
cultivo irrigado do mamão, o qual vem sendo produzido principalmente para
exportação.
O Turismo constitui-se na mais recente atividade econômica instalada nos
municípios em evidência; nestes desenvolve-se um processo de ocupação dos
espaços litorâneos, através das instalações de equipamentos e serviços que
propiciam o consumo do espaço Turístico.

O consumo do espaço pelo turismo é intermediado por inúmeras


formas de consumo, entre as quais pode-se listar os meios de
transporte, de hospedagem e de restauração, o setor de
agenciamento da atividade, os serviços bancários, o comércio de
bens de consumo de uma maneira geral (CRUZ, 1999, p.3).

Diante do exposto, podemos entender que, ao falarmos em consumo do


espaço pelo turismo, estamos nos referindo ao consumo do meio ambiente existente
naquele espaço como um todo, e isso incluem os ecossistemas, padrões
comportamentais da população local, recursos construídos pelo homem, enfim todo
um conjunto indissociável de elementos que compõem o fazer turístico
(RUSCHAMANN, 2004).

Para que o fazer turístico – inserido na lógica de uma atividade


econômica organizada – possa acontecer, faz-se necessária à
criação de um sistema de objetos capaz de atender a demanda de
ações que lhe é própria (CRUZ, 1999, p.2).

É exatamente o conjunto resultante da sobreposição desses sistemas de


objetos e de ações requeridos pelo uso turístico do espaço que faz do turismo uma
atividade diferente, e que se distingue, portanto, dos demais processos de trabalho
que, anteriormente, eram desenvolvidos, nos municípios acima citados, tomando por
base as atividades agropecuárias (SANTOS, 1994).

16
Neste contexto, no âmbito do presente estudo está a análise de que a
instalação da atividade turística na faixa litorânea dos municípios de Extremoz e
Ceará-Mirim/RN, enquanto inovação econômica, tem provocado transformações
espaciais, socioeconômicas e ambientais no processo de organização do espaço
litorâneo em estudo, sugerindo, portanto, novas relações de trabalho, crescimento
urbano, problemas ambientais como aumento de resíduos sólidos e líquidos,
degradação da cobertura vegetal e contribuição para o aumento da contaminação do
aqüífero.
Neste contexto, para o desenvolvimento desta pesquisa, procederemos ao
estudo do processo de transformação da faixa litorânea dos municípios de Extremoz
e Ceará-Mirim, com base no desdobramento da atividade turística, tendo como
recorte temporal o período de 1997 a 2007, correspondendo ao momento de
importância da intervenção público-privada, que a partir do PRODETUR2, teve a
base para o incremento das suas potencialidades.
Por fim, o objetivo geral constitui-se em analisar o processo de organização
da faixa litorânea dos municípios de Extremoz e Ceará-Mirim/RN, tendo por base as
transformações espaciais, bem como implicações socioambientais ocorridas com o
desenvolvimento da atividade turística. Alguns questionamentos são de grande
relevância para nortear esta pesquisa; indaga-se: como ocorre a dinâmica da
atividade turística na faixa litorânea dos municípios de Extremoz e Ceará-Mirim, em
relação à produção, comercialização e geração de emprego? Quais os impactos
ambientais decorrentes no uso do solo do litoral por esta atividade? Como o poder
público enxerga essa relação que se dá entre a atividade turística e seus impactos
ambientais? Como as populações locais vêem tais ações serem implementadas nos
seus municípios?
Quanto à escolha da área de pesquisa, partiu do interesse em realizar um
estudo sobre a realidade sócio-espacial do litoral dos municípios de Extremoz e
Ceará-Mirim, área caracterizada por ser detentora de uma problemática complexa
em relação às questões social, econômica, política, cultural e ambiental que,
historicamente teve como dinâmica de produção social, as atividades agropecuárias

2
O Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR) é um setor de crédito para
o setor público (Estados e Municípios) que foi criado, tanto para criar situações favoráveis à expansão
e melhoria da qualidade da atividade turística na região nordeste, quanto para melhorar a qualidade
de vida das populações nas áreas beneficiadas. O programa é financiado pelo BID e tem o Banco do
Nordeste como órgão executor.

17
e a pesca artesanal3 e que recentemente, tem sido resultado de práticas sociais
atreladas à atividade turística. Destaca-se também como justificativa a implantação
de um complexo turístico que ocupará aproximadamente uma área de 300 hectares,
desse total 60 % da área total do município de Extremoz e 40% do município de
Ceará-Mirim. Além desse fato, existe o desejo de produzir um trabalho de cunho
científico que possa contribuir com a prática dos setores envolvidos com a atividade
turística, no que diz respeito ao desenvolvimento regional, tendo em vista a
escassez de trabalhos científicos na área em estudo. Portanto, o presente trabalho
tem um papel de relevância, posto que produzirá e difundirá conhecimento científico
acerca do objeto de estudo, evidenciando seus problemas, podendo contribuir dessa
forma para minimizar os danos socioambientais.
Para a realização do projeto foram utilizados os seguintes procedimentos
metodológicos: levantamento e leitura da bibliografia pertinente ao tema proposto,
visitas e levantamentos de dados em instituições públicas4. Também fez parte dos
procedimentos metodológicos a realização de entrevistas pessoais obedecendo ao
método de observação direta para efeito quantitativo e qualitativo dos resultados.
Como instrumento de coleta de dados, a pesquisa utilizou um formulário
estruturado denominado questionário.Os roteiros de entrevistas utilizados foram
elaborados a partir dos dados empíricos do campo, através de pesquisas
preliminares, levando em consideração os aspectos de identificação dos indivíduos,
assim como os sociais, econômicos, políticos e ambientais. A realização das
entrevistas se deu com representantes de diferentes segmentos da sociedade local,
bem como da atividade turística, são eles: representantes do setor público estadual
e municipal envolvidos com a atividade turística, comerciantes antigos, população
local e representante da classe política.
Os dados coletados no campo são dados primários, observados sob a técnica
de pesquisa aplicada. Para a realização da pesquisa foi utilizada uma amostra
casual simples totalizando em 400 questionários. O erro máximo da pesquisa sofreu
um erro máximo permissível de 5%, com confiabilidade de 96%.

3
A pesca artesanal foi atividade predominante na região.
4
IBAMA, IDEMA, SEMURB, EMBRATUR, SECTUR-RN, OMT, Prefeitura Municipal de Extremoz e
Prefeitura Municipal de Ceará-Mirim.

18
Para a apresentação dos dados, através das tabelas e gráficos, foram
utilizadas as técnicas de Estatística Descritiva, sendo feita pela análise descritiva
dos dados à tabulação simples dos dados.
Os softwares utilizados foram: Statistc, para a análise dos dados da pesquisa
(tabulação), Microsoft Excell 2003, para construção dos gráficos e tabelas e o
Microsoft Word 2003 na digitação do trabalho.
Além disso, utilizamos técnicas de georeferenciamento, como dados
complementares para a localização dos empreendimentos da atividade turística,
bem como a caracterização da área na qual os empreendimentos estão instalados,
através dos mapas georeferenciados, fornecidos pelo IDEMA e pelo Departamento
de Geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, utilizando o programa
Arc gis 3.2.
Outro procedimento adotado neste trabalho está relacionado ao processo de
expansão da atividade turística e sua relação com os impactos ambientais na faixa
litorânea dos municípios de Extremoz e Ceará-Mirim. Nesse sentido, foram utilizadas
fotografias e imagens aéreas do local no intuito de percebermos se as mudanças de
ordem espacial ocasionaram implicações socioambientais na área em estudo5. Para
Mendonça (2001), a utilização de fotografias aéreas se constitui hoje numa das mais
importantes ferramentas para o desenvolvimento dos trabalhos do Geógrafo. É um
mecanismo metodológico fundamental para o estudo dos componentes do quadro
físico, assim como permite inúmeras correlações compreendendo assim suas inter-
relações, além da inserção da ação antrópica no jogo de influências que se
processam no espaço.

5
Serão utilizadas fotografias aéreas, correspondentes ao momento anterior e posteriores as
implantações da atividade turística, com o objetivo de estabelecer o comparativo composto.

19
2 RELAÇÃO TURISMO E ESPAÇO

O tema turismo, nas últimas décadas, vem ocupando cada vez mais lugar de
destaque nas pesquisas geográficas; isso se deve em parte pelo fato do turismo se
constituir em uma atividade que interfere de maneira significativa na organização do
espaço geográfico6 e, por conseguinte, pela sua proximidade com o objeto e os
objetivos de estudo da geografia.
Partindo do princípio de que o Turismo é a única prática social e, na sua
essência, consome e produz elementarmente o espaço, constituindo um dos
conceitos-chave da Geografia e que contribui para síntese do que objetiva a Ciência
Geográfica, não poderíamos deixar de suscitar uma discussão acerca da natureza
geográfica da atividade turística, procurando mostrar como ela se encontra
intrinsecamente ligada ao espaço, em específico, ao espaço litorâneo.
O conceito de Turismo é, no léxico da Geografia do Turismo, sem dúvida, o
mais polêmico de todos. O Turismo que, antes de mais nada, é uma prática social,
vem mudando de sentido ao longo da história e cada nova definição consiste em
uma nova tentativa de se conceituar algo que tem, reconhecidamente, uma dinâmica
inquestionável (CRUZ, 2003).
Cruz (2003) chama a atenção ainda, no que diz respeito à definição do
conceito, de que toda ela é sempre carregada de ideologia e exprime, portanto,
alguma forma particular de se ver o mundo, por parte daqueles que criam essas
definições. Diante desse fato, elegemos alguns conceitos, os quais consideramos
importantes, para encaminharmos nossa discussão.
Uma das conceituações mais antigas remonta ao ano de 1911, quando o
economista austríaco Heman Von Schullard definiu o turismo como sendo “[...] a
soma das operações, especialmente as de natureza econômica, diretamente
relacionada com a entrada, permanência, e o deslocamento de estrangeiros para
dentro e para fora do país, cidade ou região”. (AZEVEDO, 1998, p.33).
Ainda de acordo com Azevedo (1998, p. 33), em 1942, os professores suíços
Hunziker e Krapf formularam a seguinte definição para turismo: “É a soma dos
fenômenos das relações resultantes da viagem e da permanência de não residentes,
6
“[...] espaço geográfico, entendido como o resultado da conjugação entre sistemas de objetos e
sistemas de ações [...]”. (SANTOS, 1999, p.51)

20
na medida em que não leva a residência permanente e não esta relacionada a
nenhuma atividade remuneratória”.
O conceito de turismo, atualmente adotado pela Organização Mundial do
Turismo (OMT) é o desenvolvido por Oscar de La Torre (1992 apud MERIGUE7 ,
p.21) que assim o enunciou:

Turismo é um fenômeno social que consiste no deslocamento


voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de pessoas que,
fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou
saúde, saem de seu local de residência habitual para outro, no qual
não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando
múltiplas inter-relações de importância social, econômica e cultural.

Como podemos observar, a OMT considera deslocamento como


característica elementar do turismo, independentemente da razão pela qual motivou;
ou seja, não necessariamente a razão do deslocamento seria o lazer, o que de
acordo com Cruz (2003) vai de encontro com a lógica que rege o planejamento da
atividade, que é a lógica do lazer. Este fato traz polêmicas e distorções quando nos
voltamos para a questão do planejamento, se levar em consideração às estatísticas.
A Organização das Nações Unidas assim o definiu:

[...] Uma atividade humana intencional que serve como meio de


comunicação e como elo de interação entre povos, tanto dentro de
um mesmo país como fora dos limites geográficos dos países.
Envolve o deslocamento temporários de pessoas para outra Região,
país ou continente, visando a satisfação de necessidades outras que
não o exercício de uma função remunerada. Para o país receptor, o
turismo é uma indústria cujos produtos são consumidos no local
formando exportações invisíveis. Os benefícios originários deste
fenômeno podem ser verificados na vida econômica, política,
cultural e psicossociológico da comunidade. (WAHAB, 1991, p.26).

Fazendo uma análise dos conceitos que buscam definir o turismo, podemos
perceber elementos presentes em suas varias definições, são eles: 1) deslocamento
temporário dos turistas de seu local de residência; 2) atividade que visa satisfações
outras que não o exercício de uma função remunerada; 3) atividade que serve como
elo de interações entre povos; 4) benefícios originários da atividade turística que são
verificados na vida econômica, cultural e política.

7
Ano indisponível no artigo.

21
Diante do exposto, percebe-se que se trata de conceitos que não dão conta
da complexidade concernente ao Turismo. Tornando-se, portanto, fatores limitantes
no que diz respeito a sua análise. Para Furtado (2005), a grande maioria dos
estudiosos considera o turismo fenômeno econômico gerador de rendas, tal
atividade, no entanto parece ir além desse fato.
Embora o conceito de turismo da OMT seja considerado o oficial e, portanto
julgado mais adequado nos estudos que envolvem o tema, elegemos o conceito de
turismo de Almeida (1999, p. 185):

O turismo se configura como um processo de produção de um


complexo de imagens, atores e territórios para que a exploração
possa ser efetivada. O turismo ao contrário do que se pensa, não é
somente conseqüência natural dos desenvolvimentos tecnológicos
de transporte de massa, das comunicações. É também, mais uma
forma de exploração planejada, uma estratégia de dominação sobre
os países subdesenvolvidos, porém ainda ricos de ecossistemas
naturais de interesse turístico.

Podemos verificar que o conceito de Almeida (1999) aponta a complexidade


do tema de forma mais explícita e completa, bem como os conflitos nos quais
perpassam a atividade turística, distinguindo-o dos outros conceitos supracitados.
Entendendo que o conceito de Turismo é complexo, tendo em vista os vários
elementos que o compõem, considerando que não existe ainda uma unanimidade,
dada à dinamicidade pela qual seu contexto esta inserido, partimos, então, para o
conceito de espaço e posteriormente a relação que se dá entre Turismo e espaço a
partir do enfoque da apropriação do espaço de maneira desordenada.
Para Santos (1978), a definição de espaço é árdua, porque a sua tendência é
mudar com o processo histórico, uma vez que o espaço geográfico é também o
espaço social e, portanto fortemente influenciado pela cultura.
No que diz respeito ao processo histórico, Corrêa (1995) divide em quatro
momentos históricos pelos qual a ciência geográfica passou e como o conceito de
espaço foi concebido em cada um. O primeiro momento histórico, no período de
1950 a 1970, refere-se à Geografia tradicional. Nela a abordagem espacial,
associada à localização das atividades dos homens e aos fluxos, era muito
secundária entre os geógrafos. O conceito de espaço não se constitui como conceito
chave, embora se encontre presente nas obras de Ratzel e Hartshorn, neste último
de maneira implícita. O espaço para Ratzel é visto com base indispensável para a

22
vida do homem, assim como seu domínio transforma-se em elemento crucial para
sua história.
Nesse contexto, Ratzel desenvolve dois conceitos fundamentais: território e
espaço de vida. O primeiro vincula-se à apropriação de uma porção do espaço por
um determinado grupo, enquanto o segundo expressa as necessidades territoriais
de uma sociedade em função de seu desenvolvimento tecnológico do total de
população e dos recursos naturais. O espaço de Hartshorne aparece como um
receptáculo que apenas contém as coisas, o tempo espaço é empregado no sentido
de área a qual esta relacionada a fenômenos dentro dela, somente aquilo que ela
contém.
Segundo Corrêa (1995), em um segundo momento na Geografia Teorético-
Quantitativa, a qual se adotou a visão da unidade epistemológica da ciência, calcada
nas ciências da natureza, na qual o raciocínio hipotético dedutivo foi o consagrado e
entre os modelos adotados, destacam-se os matemáticos. O espaço aparece, pela
primeira vez, na história do pensamento geográfico, como conceito - chave da
disciplina, sendo considerado sob duas formas: de um lado através da noção de
planície isotrópica e, de outro, representação matricial. Quanto à planície isotrópica,
o ponto de partida para esta análise é uma superfície uniforme, aspectos físicos e
sociais; a variável mais importante é a distância e representações matriciais, sendo
o espaço representado por uma matriz. Para Corrêa (1995), trata-se de uma visão
limitada do espaço, privilegiando em excesso à distância e as contradições. Os
agentes sociais, o tempo e as transformações são inexistentes ou relegadas a um
plano secundário.
Para Corrêa (1995), a concepção de espaço na Geografia Crítica está
fundamentada em teorias marxistas; porém, é a partir da obra de Henri Lefévre
que o espaço aparece efetivamente, entendendo como sendo locus das relações
sociais de produção da sociedade.
Para Santos (1978, p. 122), o espaço deve ser entendido como:

[...] um conjunto de relações realizadas através de funções e de


formas que se apresentam como testemunho de uma história escrita
por processos do passado e do presente. Isto é, o espaço se define
como um conjunto de formas representativas de relações sociais do
passado e do presente e por uma estrutura representada por
relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e

23
que se manifestam através de processos [tempo e mudança] e
funções [papel a ser desempenhado pelo objeto criado].

Ainda neste sentido, de acordo com Santos (1985), o espaço deve ser
analisado a partir de quatro categorias as quais devem ser consideradas em suas
relações dialéticas, são elas: estrutura, processo, função e forma. A forma é o
aspecto visível, arranjo de um ou um conjunto de objetos, formando um padrão
espacial (equipamentos turísticos, por exemplo)8; a função indica o papel a ser
desempenhado pelo objeto criado, o lazer e o trabalho, por exemplo, constituem
algumas das funções associadas aos equipamentos turísticos.
Uma outra categoria de análise do espaço é a estrutura que diz respeito à
natureza social e econômica de uma sociedade num dado momento do tempo.
Dessa forma podemos perceber que, ao inserirmos forma e função na estrutura
social, poderemos captar a natureza histórica do espaço. Finalmente, o processo:
definido como uma ação que se realiza de modo contínuo, visando a um resultado,
implicando tempo e mudança, ocorrendo no âmbito de uma estrutura social e
econômica e resultam das contradições internas das mesmas.
E por fim, não poderíamos deixar de mencionar como o espaço foi abordado
pelos geógrafos humanistas e culturais. Calcada na fenomenologia e no
existencialismo, a Geografia Humanística está assentada na subjetividade, na
intuição, nos sentimentos, na experiência, no simbolismo e na contingência;
privilegiando o singular e não o particular ou o universal; ela tem na compreensão a
base de inteligibilidade do mundo real. O lugar aparece como conceito-chave, e o
espaço passa a ser concebido como espaço-vivido, sendo ele uma experiência
contínua, egocêntrica e social. Aspectos como crença, cultura e sobrevivência são
objetos de estudo desta visão, as quais estão vinculadas à Geografia Francesa
vidaliana, a Psicologia Genética de Piaget, Sociologia e Psicanálise com Bachelard
e Rimbert (CORREA, 1995).
Ainda que tratemos de questões que trazem em sua essência assuntos
abordados pelo espaço concebido pelos geógrafos humanistas e culturais, como
cultura, costumes das comunidades receptoras da atividade turística, sensações

8
Entende-se por equipamentos turístico, o conjunto de elementos, ou objetos inseridos no espaço
que serão responsáveis pela dinamização da atividade turística, podemos citar como exemplos: as
pousadas, hotéis, equipamentos de lazer, restaurantes, quiosques, entre outros.

24
como sentimentos de prazer, de inveja, de ressentimento, entre outros, não as
teremos como base para a discussão do nosso objeto de estudo.
É mister pensar a relação entre Turismo e espaço, uma vez que a dinâmica
desta atividade se dá, entre outros fatores, através da apropriação dos espaços
pela prática social do Turismo. Este, assim como outras atividades, introduz no
espaço objetos que possibilitem seu desenvolvimento, assim como se incorpora de
outros pré-existentes que terão conseqüentemente mudanças em suas funções
Parciais ou totais.
Cruz (2003) destaca que a intensificação do uso turístico de dada porção do
espaço geográfico leva a introdução, multiplicação e, em geral, concentração
espacial de objetos cuja função é dada pelo desenvolvimento da atividade. Entre
esses objetos destacam-se os meios de hospedagem, os equipamentos de
restauração de prestação de serviços e infra-estrutura de lazer.
Ao longo da literatura que trata da relação Turismo e espaço, é possível
encontrar uma série de termos e conceitos, dentre eles iremos dar destaque ao
conceito mais amplamente utilizado na literatura geográfica sobre o Turismo, o
espaço turístico.
Segundo a OMT, o espaço turístico é um determinado lugar geográfico no
qual acontece a oferta turística9 e de onde flui a demanda10.
O espaço turístico é, antes de tudo, um espaço geográfico e, portanto,
constitui um produto social em permanente processo de transformação.
(SANTOS,1985).
Santos (1999, p.77), afirma:

[...] todo e qualquer momento histórico se firma com um elenco


correspondente de técnicas que o caracterizam e com um novo
arranjo de objetos que responde ao surgimento de cada novo
sistema de técnicas [...] que se dá em função das novas exigências
da sociedade [...] e que a evolução que marca as etapas do processo
do trabalho e das relações sociais marca também, as mudanças
verificadas no espaço geográfico tanto morfologicamente quanto do
ponto de vista das funções e dos processos.

9
De acordo com Organização Mundial do Turismo (OMT), oferta turística é composta por um
conjunto de produtos, serviços e organizações envolvidas atuando na experiência da atividade em
questão.
10
Para a Organização Mundial do Turismo (OMT), demanda constitui um conjunto de consumi dores -
ou possíveis consumidores – de bens e serviços turísticos.

25
Essa mudança verificada no espaço geográfico, mais especificamente no
espaço litorâneo, quer seja do ponto de vista morfológico, quer seja do ponto de
vista das funções e dos processos que se dão a partir da dinâmica da atividade
turística, é marcada por conflitos e contradições que se revelarão através de suas
marcas expostas na paisagem, são elas: ocupação desordenada, segregação social
e espacial e degradação ambiental referentes à atividade em estudo.
“O turismo no litoral é a forma mais comum e diferencial do desenvolvimento
turístico; é lá que se gera a maior parte dos movimentos turísticos internacionais, de
maneira que o litoral é o principal espaço de destino em muitos países”.
(PALOMEQUE, 2001 p.90). O litoral nordestino se caracteriza, principalmente, por
seu potencial paisagístico peculiar graças a fatores naturais como sua localização
geográfica, sol tropical, clima agradável durante praticamente todo o ano,
encontrando, em seu litoral, as dunas, as praias, lagoas, falésias, coqueirais,
representando um grande potencial a ser explorado pela atividade turística.
No espaço litorâneo dos municípios de Extremoz e Ceará-Mirim, podem ser
identificadas três tipos de ocupação: a primeira mantida pela própria comunidade
litorânea: a segunda é decorrente da ocupação de segundas residências para
veraneio e finais de semana; a terceira ocupação se dá pela atividade turística
através da inserção de equipamentos turísticos, que são responsáveis pela sua
dinamização.
Atrelado a essas peculiaridades, encontra-se um ambiente extremamente
frágil, do ponto de vista ambiental, o que requer planejamento no processo de
ocupação de seu espaço. No entanto, o que se verifica na faixa litorânea dos
municípios de Extremoz e Ceará-Mirim é um processo de ocupação do espaço feito
de forma desordenada, sem o acompanhamento de infra-estrutura adequada para
receber tal atividade, sem obedecer a uma diretriz ou plano específico e sem estar
integrada a um plano de desenvolvimento econômico que esteja compatível com as
questões socioambientais as quais não se percebe maiores preocupações. Vale
ressaltar que os planos diretores dos municípios em estudo se encontram ainda em
fase de revisão, o que de fato se constitui um problema, pois na ausência dos
mesmos, a população local é a principal prejudicada.
Ainda nesse sentido, Mendonça e Irving (2006, p. 13) entendem que:

26
Para se pensar o desenvolvimento de um segmento da economia
global, comprometido com as questões sociais e ambientais e,
baseado em princípios éticos, o turismo deve partir da premissa que
nem a conservação dos recursos naturais, nem os lucros
empresariais devem desrespeitar as populações locais ou impedir o
seu acesso aos benefícios gerados pelo seu desenvolvimento. Pode-
se considerar, desta forma, que estratégias de planejamento turístico
que neguem direitos e possibilidades às comunidades receptoras são
destrutivas e ilegais.

O plano diretor também se constitui num importante instrumento da política de


desenvolvimento de um município; sua principal finalidade é orientar a atuação do
poder público e da iniciativa privada na construção dos espaços, podendo contribuir,
dessa forma, para um desenvolvimento economicamente viável, socialmente justo e
um meio ambiente equilibrado, propondo soluções para uma melhor qualidade de
vida para a população local.

27
3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A ÁREA EM ESTUDO

O processo de ocupação e organização do espaço litorâneo do Estado do Rio


Grande do Norte, ao longo da história, apresenta-se atrelado as suas atividades
econômicas e à utilização de recursos naturais existentes. No espaço litorâneo dos
municípios de Extremoz e Ceará-Mirim não foi diferente.
A historiografia sobre a organização do espaço da área litorânea desses
municípios tem contemplado ações de transformação da natureza ocasionadas pelo
desenvolvimento da agricultura, pecuária e pesca, associadas à cultura alimentar
tradicional (feijão, mandioca, milho, entre outros).
Enquanto houve o predomínio das atividades econômicas de natureza rural,
ligadas ao setor primário da economia, a ocupação da faixa litorânea obedeceu às
condições naturais do ambiente. O mar, o conjunto relevo e tipo de solo, os
estuários, rios, riachos e lagoas eram determinantes para escolha de locais onde se
estabeleceriam os núcleos populacionais (MARCELINO, 1999).
Ainda nesse contexto, Marcelino afirma que:

Os primeiros habitantes da área resguardavam os seus


assentamentos – núcleos de pescadores – em regiões protegidas do
vento e do risco de soterramento pela migração das areias eólicas,
que formam as dunas móveis. Havia também a preferência por
ocupar áreas próximas a abastecimento d`água, em terraços
costeiros protegidos de inundações marítimas ou fluviais.
(MARCELINO, 1999, p.45).

O espaço litorâneo dos municipios de Extremoz e Ceará-Mirim teve sua


organização espacial atrelada a atividades produtivas predominantemente rurais,
limitando-se ao desenvolvimento de atividades econômicas de pequena magnitude
comercial, como por exemplo, a pesca artesanal e a agricultura de subsistência, a
pecuária. Essas atividades apresentam reduzida produção e comercialização
externa, porém são de grande importância para a população local. O município de
Ceará-Mirim, contudo, distingue-se um pouco do município de Extremoz, pelo fato

28
de ter como elemento responsável pela dinamização de sua economia a cana-de-
açúcar, considerada uma atividade de grande magnitude11.
Quanto ao valor comercial que a cana-de-açúcar agrega, verificou-se que sua
valorização se originou em um contexto da crise do Petróleo mundial em 1973,
época em que foi estimulada a produção do álcool para servir de combustível,
aumentando assim a área dos canaviais; dentre elas, a do município de Ceará-Mirim
(LIMA, 2003).
De acordo com a Secretaria de Agricultura12 do referido município, até o ano
de 1995, a atividade canavieira era o expoente da economia, constituindo-se a
principal fonte de renda dos trabalhadores. O município possuía mais de setenta
engenhos e usinas, sendo duas usinas principais: a Usina São Francisco,
responsável pela produção de álcool e açúcar e a Destilaria Agromar, que produzia
apenas álcool. Porém, após o período citado, houve uma queda da cultura
canavieira, fato atrelado à crise do PROALCOOL. Como conseqüências, a Usina
Agromar fechou e, a Usina São Francisco, a partir de 2002, vem produzindo apenas
álcool, o que implicou em uma redução do número de trabalhadores. Atualmente o
município vem investindo na fruticultura irrigada, em específico no cultivo do mamão,
contribuindo para o crescimento da economia local.
No que diz respeito à atividade pecuária dos municípios em estudo é
considerado um setor de pouca representatividade, ou seja, é uma atividade
complementar sem fins comerciais. Quanto à produção leiteira, podemos afirmar que
é responsável apenas pelo abastecimento interno.
Uma outra atividade econômica presente na realidade dos municípios é a
carcinicultura, embora tenha se iniciado nos anos 70 no nosso Estado, com a
implementação do Projeto Camarão, criado pelo Governo do Estado, tendo certa
representatividade nos municípios de Extremoz e Ceará-Mirim há cinco anos;
contudo é considerada atualmente uma atividade pouco expressiva. Esse fato se
deve à concorrência com o mercado exterior e a crise do dólar.
É válido ressaltar que, apesar de todas as atividades mencionadas,
responsáveis pelo processo de organização dos referidos municípios, tais mudanças
não foram significativas no que diz respeito as suas áreas litorâneas, sendo a pesca

11
Características naturais, como o tipo de solo e o clima, propiciaram o cultivo em larga escala, assim
como pelo valor comercial que o produto agrega.
12
Entrevista informal.

29
a atividade predominante, embora seja inexpressiva, tendo em vista o uso de
técnicas artesanais, permitindo portanto a manutenção da paisagem natural, sendo
marcada principalmente por coqueirais e pela cobertura vegetal característica da
Mata Atlântica e da Mata Ciliar, as quais recobriam a formação dunar e as vertentes
dos corpos d’água.
O processo de urbanização da região litorânea foi se dando de forma
relativamente lenta, a partir da existência de pequenos aglomerados com economia
artesanal de pequena magnitude e um pequeno comércio limitado de bens de
consumo. Quanto ao parcelamento do solo com fins de loteamento, iniciou-se a
partir da década de 80, de forma incipiente a princípio, passando a se dar de forma
contínua com o passar dos anos, destinando-se em um primeiro momento a
construções de segundas residências para veraneio das classes média e alta da
sociedade natalense.
Nos últimos anos, um novo cenário econômico vem se expandindo no espaço
litorâneo dos municípios de Extremoz e Ceará - Mirim. A presença de serviços como
restaurantes, hotéis, pousadas, equipamentos de lazer, comércio, investimentos de
capital público na ampliação de infra-estrutura básica, investimento de capital do
setor privado em atividades produtivas, destacando-se o turismo, esses entre outros
vem fazendo parte da nova configuração espacial dessa faixa litorânea.
Casseti (1991, p. 20) afirma que “uma nova estrutura sócio-econômica
implantada em uma região implica em uma nova organização do espaço, que por
sua vez modifica as condições ambientais anteriores”. Cruz (1999, p. 6), ao discorrer
sobre o processo de transformação do espaço em que a atividade turística se insere
entende que:

A nova organização sócio-espacial imposta pelo turismo não tem


apenas uma conotação de “novidade”. Ela implica mudanças,
transformações, adaptações, novas relações, novos sentidos na vida
de quem vive nesses lugares.

Ainda no que diz respeito ao processo de transformação do espaço pela


atividade, Furtado (2005, p. 22), ressalta que:

[...] as alterações que acontecem nesses lugares afetam


paradoxalmente a população residente: se, de um lado, o turismo é
um potencial gerador de postos de trabalho e conseqüente ativador

30
das economias, por outro, se constitui em um forte mecanismo de
exclusão sócio-espacial.

Sendo assim, é preciso refletir sobre a forma de ocupação, produção e


transformação do espaço litorâneo concebido pelos gestores dos municípios da área
em estudo, buscando evidenciar seus problemas.
Situados no litoral oriental do Estado, os municípios de Extremoz e Ceará-
Mirim concentram equipamentos e serviços de apoio ao turismo, interesses público e
privado em investir na área através da implantação de empreendimentos e estão
entre os municípios que recebem destinação de investimentos dos recursos do
Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste
PRODETUR/RN e “[...] constituem o conjunto de municípios considerados o principal
destino turístico potiguar” (FONSECA, 2005, p.107). Diante desse fato podemos
perceber que se trata de uma área representativa do ponto de vista do Turismo,
havendo, portanto, uma maior demanda e, conseqüentemente, maiores implicações
tanto ambientais quanto sociais.
Quanto à caracterização física, os municípios enfocados possuem certa
similaridade no que diz respeito ao clima, formação vegetal, solos, relevo, formação
geológica e recursos hídricos. O tipo de clima é o tropical chuvoso com verão seco,
temperaturas médias anuais variando entre 21,0 ºC e 30,0 ºC. Quanto à vegetação,
a área caracteriza-se pela formação de Tabuleiro Litorâneo, Manguezal e Floresta
Subcaducifólia. Em relação ao solo, predominam áreas de Neossolos
Quartzarênicos Distróficos; em menor proporção, Latossolo Amarelo Distrófico e
Gleyssolo. O relevo caracteriza-se por possuir menos de cem (100) metros de
altitude, são eles: Tabuleiros Costeiros, Planícies Fluviais e Planícies Costeiras. No
que diz respeito à formação geológica, os municípios estão inseridos,
principalmente, na área de abrangência da Formação Barreiras, com idade do
Terciário Superior, predominando arenitos finos e médios, ou conglomeráticos com
intercalação de siltitos e argilitos, dominantemente associados a sistemas fluviais,
inconsolidades e mal selecionados. As rochas da Formação Barreiras estão
recobertas localmente por extensas coberturas arenosas coluviais e aluviais
indiferenciadas, que formam solos altamente permeáveis e lixiviados. Próximo ao
litoral e recobrindo toda a seqüência estão as Dunas Fixas ou subjacentes, com
idade do período Quaternário, formadas por areias bem selecionadas, amareladas e

31
inconsolidadas de origem marinha que foram transportadas com a ação dos ventos
(eólica), formando “cordões alongados”, atualmente fixados por vegetação.
Acompanhando a faixa litorânea, encontram-se depósitos de praias também
de origem marinha remodeladas pelo vento; são compostos de areias finas e
grossas, com níveis de cascalho, associadas às praias e dunas móveis; arenitos e
conglomerados com cimento carbonático, formando os arrecifes de arenitos ou
beach rocks. Todos esses fatores conjugados contribuem para um ambiente
propício: a expansão da atividade turística.
Os principais atrativos turísticos da área em estudo são: Aquário Natal,
passeios pelas dunas de dromedários, buggys e jegues. Visitas às lojinhas com
produtos artesanais. Refrescar-se nas lagoas e cachoeiras, passeios de caiaque na
praia de Pitangui, travessia de balsa na praia da Barra do Rio e descidas radicais
no“aerobunda”
No que concerne à infra-estrutura turística da faixa litorânea dos municípios
de Extremoz e Ceará-Mirim, os equipamentos são considerados de pequeno e
médio porte, localizam-se em sua maioria na faixa litorânea e são distribuídos entre
as praias da Redinha Nova a Muriú (vide quadro 1).

Nome fantasia Localidade Tipo de estabelecimento

Hotel Atlântico Norte Redinha Nova Hotel


Condomínio Varandas Redinha Nova -----------
Chalés Oásis da Redinha Redinha Nova Chalés
Miramar Apart Hotel Redinha Nova Hotel
Pousada Entre Mares Redinha Nova Pousada
Pousada Felicidade/ Resort Santa Rita Pousada / Resort
Genipabu Hotel Genipabu Hotel
Hotel Aldeia Genipabu Hotel
Vila do Sol Hotel Genipabu Hotel
Hotel Casa de Jenipabu Genipabu Hotel
Palm Beach Genipabu Pousada
Pousada Soleil Genipabu Pousada
Chalés Genipabu Genipabu Chalés
Pousadas 3 Coqueiros Genipabu Pousada
Pousada Caminho das dunas Genipabu Pousada
Pousada Beira Mar Genipabu Pousada
Pousada Praia de Genipabu Genipabu Pousada

32
Posada Raio do Sol Genipabu Pousada
Hotel Pousada Dunas de Genipabu Genipabu Hotel
Hotel Atlântico Norte Redinha Nova Hotel
Condomínio Varandas Beira Mar Redinha Nova Chalés
Chalés Oásis da Redinha Redinha Nova Chalés
Miramar Apart Hotel Redinha Nova Hotel
Pousadas Entre Mares Redinha Nova Pousada
Pousada Felicidade Resort Santa Rita Pousada
Muriú By Pousada e Restaurante Porto Mirim Pousada
Pargos Clube do Brasil Porto Mirim Pousada
Pousada Algarve Muriú Pousada
Charles Porto Mirim Porto Mirim Pousada
Estrela de Davi Quiosque Muriu Quiosque
Pargos Clube do Brasil Jacumã Restaurante
Barraca Estrela do Mar Muriú Restaurante
Barraca Atlântica Muriú Restaurante
Barraca Muriu Muriu Restaurante
Golfinho Azul Muriu Restaurante
Mirante de Muriu Muriu Restaurante
Muriu By Pousada e Restaurante Muriu Restaurante
Brisa Mar Muriu Restaurante
Muriart Muriu Quiosque
Bar do Posto Muriu Bar/Restaurante
Bar da Sandra Muriu Restaurante
Sal e Mar Muriu Restaurante
Restaurante Estrela Guia Bar Jacumã Restaurante
Barraca Estrela do mar Quiosque Jacmã Restaurente
Restaurante Naf Naf Jacumã Restaurante
Restaurante Jacumã Jacumã Restaurante
Miramar Restaurante Porto Mirim Restaurante
Water Park do Nordeste Muriú Clube
Portugalia Ilmo Pesca e Bar Porto Mirim Clube
Santa Mônica Parque das Águas Porto Mirim Clube
Quadro 1 – Relação dos equipamentos de hospedagem e restauração da atividade turística nos
municípios de Extremoz e Ceará-Mirim/RN.
Fonte: Secretaria de Turismo do RN – SETUR, Secretaria de Turismo do Município de Ceará-Mirim e
amostra da pesquisa em campo.

Investigando as datas de inauguração dos equipamentos turísticos na tabela


supracitada, observou-se que há uma variação de 1980 a 2006, verificando-se um

33
crescimento significativo a partir de 2001, mas especificamente em 2004, fato esse
que se explica a partir da política do PRODETUR.
Por meio de investigações empíricas, realizadas na área em estudo, no mês
de fevereiro de 2006, percebeu-se que, em períodos anteriores, a pesca e o
artesanato se constituíam nas únicas e principais fontes de renda para a maioria da
população litorânea. Com a inserção do turismo, atividade que tem como uma de
suas características proporcionar uma diversidade de serviços, tem-se observado
uma maior dinamização local. Quanto aos empregos gerados, não existem dados
concretos dispostos nos órgãos competentes, porém, de acordo com as Secretarias
de Turismo dos municípios de Extremoz e Ceará-Mirim, houve uma melhoria na
quantidade e qualidade dos serviços, embora a área ainda esteja carente quanto à
parte de infra-estrutura. Calcula-se, também, que aproximadamente 50 % da
população informal litorânea vêm sendo empregada. Porém trata-se de uma relação
de produção que ainda se desenvolve com uma lógica própria, isso se deve ao fato
de que a maioria da população envolvida com a atividade turística possui baixo grau
de escolaridade, não recebe apoio do poder público local, nem dos gestores
envolvidos com a atividade turística, tornando, portanto, uma relação de produção
que nem sempre se torna coerente com a essência da lógica capitalista que
pressupõe um modelo mais organizado no que diz respeito à produção de renda.
A área litorânea dos municípios de Extremoz e Ceará - Mirim é marcada por
inúmeros problemas, dentre eles: população com baixa renda, construções de obras
públicas em locais inadequados13, pouco acesso a serviços públicos (saúde,
segurança, educação e etc.), ausência de saneamento básico e de estação de
tratamento de esgoto (ETE), destinação final do lixo em pequenos lixões e uso de
materiais para construção civil.
Nunes (2000, p. 51), referindo-se aos esgotos, observa:

[...] parte dos esgotos, com excrementos humanos, dos municípios


de Extremoz e Ceará - Mirim/RN, são lançados em fossas e
sumidouros, refletidos diretamente no comprometimento do lençol
freático ou aqüífero subterrâneo com coliformes fecais que mais
tarde através de reações químicas se transformarão em nitritos e
nitratos. [...] 70 % da água consumida da Região da Grande Natal
provém de aqüíferos subterrâneos onde a área em estudo esta
inserida.

13
Áreas de dunas.

34
Do ponto de vista da saúde, salienta Nunes (2000, p. 55): “A água
contaminada acarreta inúmeras doenças, entre elas: diarréias infantis, febre, tifóide,
cólera e verminoses diversas.”
Quanto ao lixo urbano e ao seu destino final, o município de Ceará-Mirim
produz em média 30 ton/dia e Extremoz 20 ton/dia, que juntos produzem
aproximadamente 50 ton/dia (NUNES, 2002). Quanto ao seu destino, atualmente o
município de Ceará - Mirim conta com um aterro sanitário construído em seu
território para destinação de resíduos sólidos. Porém, esse fato não condiz com a
realidade do município de Extremoz. De acordo com o Secretario do Meio Ambiente,
toda deposição de seus resíduos sólidos vai para um lixão, localizado em seu
território, numa área de relevo plano aberto para deposição de lixo do município
próximo à praia de Jenipabu. Todos esses fatores mencionados, além de indicar
uma má qualidade de vida da população local, não são condizentes com o
desenvolvimento do Turismo.
Nunes (2000), estudando a Região da Grande Natal, elaborou uma Carta
Geo-ambiental da Grande Natal (vide mapa 4), que identifica e aponta áreas de uso
restrito, inadequado e adequado, cuja finalidade é fazer um melhor aproveitamento
do espaço geográfico, respeitando-se a capacidade de uso, produção e limitação de
cada domínio. Neste sentido, a carta faz referência à área de estudo, classificando-
a, de uso restrito e inadequado a aterros sanitários, cemitérios, fossas sépticas,
lagoas de efluentes industriais e domésticos, estradas e edificações, mecanização
agrícola, obras enterradas e material para construção civil, como areia e argila.14

14
Vide Mapa 2

35
 Os municípios de Extremoz e Ceará
- Mirim estão classificados na carta
geo-ambiental, em áreas de uso
restrito e inadequado para: aterros
sanitários, cemitérios, fossas
sépticas, lagoas de efluentes
industriais e domésticos, estradas e
edificações, mecanização agrícola e
material para construção civil.

Mapa 2: Carta Geo-ambiental da Grande Natal.


Fonte: Nunes (2000, p.119)

36
No que tange às políticas ambientais voltadas para os municípios, percebe-se
uma grande fragilidade na administração pública bem como dificuldades em as gerir.
Segundo a Secretaria do Meio Ambiente de Extremoz, atualmente a mesma não
possui projetos de proteção ou manutenção dos espaços naturais efetivados, todos
se encontram em fase de elaboração ou em andamento; também não há uma
política ambiental definida. Fato semelhante se verifica no município de Ceará-Mirim
que, embora possua uma política ambiental definida, que está preceituada na lei
municipal Nº 1.459/2005 de 16 de dezembro de 2005 conforme preceitua o art. 225
da Constituição Federal e art. 98 da Lei Orgânica do município e de outras
providências, está presente apenas no papel pois, na prática, nada foi aplicado.
Quanto aos projetos, a situação é semelhante a do município de Extremoz, não
existe ainda um projeto ambiental definido, todos ainda estão em fase de
elaboração.
Vale ressaltar um fator preponderante que vem contribuindo para grandes
modificações na especificidade da paisagem assim como no conjunto das relações
sociais e econômicas da região litorânea. Esse fator diz respeito a uma construção
de grande porte, que é a ponte Newton Navarro, a qual já se encontra concluída.
Trata-se da nova ponte, que liga os bairros de Santos Reis e Redinha: a Ponte
Newton Navarro15, que tem como principal objetivo, dentre outros, dinamizar o
Turismo para o Litoral Norte, o que vem sendo, adicionalmente, um fator contribuinte
para o crescimento econômico dos municípios, tendo em vista aumento da procura
de imóveis e terrenos a partir do início de sua construção.

Fotografia 1 – Ponte Newton Navarro.


Fonte: Andréa Hart (ABR/2007)

15
Vide Fotografia 1.

37
Nesse contexto, Nascimento (2005, p. 15) ao fazer uma análise acerca da
inserção de um empreendimento de grande porte, em uma determinada área,
afirma:

[...] acarreta consigo mudanças tanto a nível da morfologia urbana


quanto ao nível do cotidiano das pessoas ali presentes. Essa
inserção desse instrumento condiciona um processo de
reestruturação, visto que vai alterar tanto estruturas físicas quanto
sociais a nível parcial ou total.

Ainda de acordo com Nascimento (2005, p. 27): “A ponte Newton Navarro


pode ser considerada como um empreendimento causador de grande impacto”. O
Plano Diretor de Natal em seu capítulo IV, art 35 ressalta:

Empreendimentos de impactos são aqueles públicos ou privados que


quando implantados, venham a sobrecarregar a infra-estrutura
urbana ou, ainda que tenha uma repercussão ambiental significativa,
provocando alterações nos padrões funcionais e urbanístico da
vizinhança ou do espaço natural circundante (NASCIMENTO, 2005,
p.27).

De acordo com o senhor Antônio Marinho, supervisor geral da imobiliária


Marinho Imóveis, localizada no bairro da Redinha Velha, que funciona a trinta e
quatro anos, sendo, portanto, a mais antiga imobiliária da Região, há existência de
um maior interesse pela área, pois a procura por terrenos e imóveis durante os
últimos cinco anos tem aumentado, porém, no último ano, verifica-se uma maior
intensificação, com a construção da Ponte Newton Navarro (informação verbal)16. De
acordo com o supervisor, os Europeus são os maiores interessados, mais
especificamente portugueses e italianos.
Segundo informações dos Secretários Municipais de Tributação dos
municípios de Extremoz e Ceará-Mirim/RN, o recolhimento dos Impostos sobre
Circulação de Mercadoria de Serviços – ICMS, Imposto sobre Serviço – ISS e o
IPTU, dos municípios em foco tem crescido nos últimos cinco anos, sendo mais
evidente esse crescimento no último ano, o que vem fazendo a diferença na receita
dos municípios. Ainda de acordo com a Secretária de infra-estrutura, em 2001
contabilizavam-se vinte dois mil imóveis, após o ultimo recadastramento realizado

16
Entrevista informal com o Senhor Marinho, sobre a procura por imóveis após o início da construção
da ponte Forte-Redinha, em Natal, em junho de 2006.

38
em 2006 no município de Extremoz. Esse valor aumentou para 49.800, ou seja, em
um recorte temporal de cinco anos observou-se um aumento em termos de
percentual de 118%; acredita-se que esse crescimento esteja atrelado à atividade
turística. Marcelino (1999, p. 51) em sua pesquisa fez a seguinte colocação:

Os acessos viários aos núcleos populacionais são asfaltados, o que


facilita o surgimento contínuo de novas construções. Mesmo assim,
ainda se mantém a característica de horizontalidade na ocupação,
quase não existindo edificações de mais de três pavimentos (a
exceção é um edifício na praia de Jenipabu, construído na década de
80). Portanto é possível se descortinar a paisagem característica do
lugar, por não haver maiores interferências na visualização do relevo
dunar, composto pelo branco de areias e o verde da vegetação que
fixa as partes mais elevadas do terreno ondulado.

Através de informações do setor de infra-estrutura, do Programa de


Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR), pode-se firmar que o novo
Pólo de investimento será o litoral norte, pois se trata de uma área que se enquadra
na atual tendência da atividade, tendo em vista que os turistas e investidores da
área de turismo buscam lugares tranqüilos, que ainda preservem em sua estrutura
características naturais e culturais, por tratar-se de um turismo diferenciado, o qual
necessita de grandes áreas.
Ratificando este fato, em 27 de fevereiro de 2005, foi publicada uma
reportagem no Jornal Tribuna do Norte em que Porpino (2005) ressalta o aumento
de investimentos no Estado por grupos estrangeiros, havendo pelo menos
dezessete grandes empreendimentos de grupos europeus em andamento no litoral
oriental norte, dos quais cinco se encontram na faixa litorânea dos municípios de
Extremoz e Ceará - Mirim/ RN, apontando ainda que estrangeiros buscam uma
cidade pequena, provinciana, tranqüila e com baixo custo de vida. Vale salientar
que, em uma entrevista realizada recentemente, no mês de setembro de 2007 com a
secretária de infra-estrutura de Extremoz, esse número de empreendimentos não
condiz mais com a atual realidade, tendo em vista que, apenas na faixa litorânea do
respectivo município, foram aprovados e estão em processo de construção 17 novos
hotéis.
Diante do exposto, não há dúvidas que o Turismo se constitui numa atividade
relevante nos dois municípios, que trazem o tema em suas leis orgânicas.

39
A Lei orgânica do município de Extremoz (1990, p.7) enfatiza em seu capítulo
V, artigo 17, inciso IX, que é preciso “zelar pela preservação do patrimônio histórico,
cultural, artístico, paisagístico e turístico, observadas a legislação e a ação
fiscalizadora estadual e federal”. A lei orgânica do município de Ceará-Mirim (1990,
p. 39), em seu capítulo X, artigo 121, ressalta: “o município promove e incentiva o
turismo, fator de desenvolvimento econômico e social, como atividade prioritária,
tendo como princípio de sua exploração, a preservação ecológica e proteção ao
meio ambiente”.
No entanto o que se verifica é uma grande disparidade entre o que está
escrito nas leis orgânicas e a prática. Para Ruschmann (2005), encontrar o equilíbrio
entre os interesses econômicos que o Turismo estimula e o seu desenvolvimento
planejado, que preserve o meio ambiente, não é tarefa fácil, principalmente porque o
controle da atividade depende de critérios, valores subjetivos de uma política
ambiental e turística adequada que ainda não se encontra em nosso país nem em
outros países.

40
4 DO TURISMO DE PASSAGEM AO DESENVOLVIMENTO

A proposta deste capítulo é fazer uma análise teórica empírica do Turismo


nos municípios de Extremoz e Ceará-Mirim. Para isso estamos partindo do
pressuposto de que a atividade turística, não vista apenas como uma atividade
econômica, mas, acima de tudo, enquanto prática social, pode ser implementada
como uma das alternativas propulsoras de desenvolvimento na área em estudo,
desde que seja realizada com seriedade, e que a melhoria da qualidade de vida da
sociedade seja um compromisso prioritário no contexto das chamadas políticas
públicas e isso inclui, dentro desse mesmo contexto de desenvolvimento da
atividade turística, o planejamento como elemento fundamental e indispensável.
Na primeira parte buscaremos apresentar como a atividade turística acontece
nos municípios de Extremoz e Ceará-Mirim/RN; num segundo momento
desenvolveremos esforços na tentativa de refletir sobre a relação entre a atividade
turística, em sua situação atual, nos referidos municípios, com a proposta do
conceito de desenvolvimento na perspectiva do desenvolvimento socioespacial
sustentável.
Ao falarmos em Turismo no município de Ceará-Mirim, podemos dividi-lo em
itinerários: no primeiro, é o turismo mais interiorano, realizado na sede do município,
é o que se chama de turismo pedagógico, que em sua maioria é realizado por
instituições de ensino que têm como público-alvo, estudantes e pesquisadores, que
saem dos mais diversos municípios para vivenciar o contexto histórico do município,
onde os engenhos são os principais pontos de atração. Suas vindas são conduzidas
em sua maioria por ônibus alugados ou trens. No que diz respeito à recepção, esta é
realizada por jovens guias de turismo, os quais são frutos de um convênio com o
Governo do Estado, Banco do Nordeste e prefeituras que fazem parte do pólo Costa
das Dunas.
O segundo itinerário consiste no litoral, é ali que há a maior demanda de
turistas, assim como uma maior concentração em termos de infra-estrutura. De
acordo com a Secretaria de Turismo do referido município, a vinda dos turistas é
viabilizada por agências operadoras, localizadas em Natal, as quais conduzem seus
passeios, em sua maioria, por meio de buggys ou ônibus que são credenciados pelo
Estado. Os principais pontos de atração no litoral do município de Ceará-Mirim são

41
os restaurantes, Miramar, Jacumã, e Naff Naff17. A Lagoa de Jacumã e o Pargos
Clube do Brasil também constituem num dos principais pontos de visita.
Já no município de Extremoz, de acordo com a Secretaria de Turismo, a
atividade ocorre predominantemente no litoral. A vinda dos turistas, assim como no
município de Ceará-Mirim, é viabilizada por agências operadoras localizadas em
Natal; buggys e ônibus constituem os principais meios locomotores dos passeios. O
percurso tem início na Redinha, lá se encontra o Aquário Natal18, cujo grande
atrativo são as espécies de animais, tais como: tubarão, moréias, peixes de corais,
cavalos marinhos e pingüins; em seguida a praia de Santa Rita onde a emoção do
passeio consiste em ver as praias de Redinha e Genipabu, do alto das dunas; Em
seguida há a praia de Jenipabu, que de acordo com a Secretaria de Turismo, é
considerada o ícone do turismo potiguar, constituindo-se em um dos pontos
turísticos mais procurados. Lá existe o passeio de bugre nas dunas19, ski bunda20, o
passeio de dromedários21 e jegues também em cima das dunas; ainda em Jenipabu,
há os passeios de jangadas, de cavalos22, presença de barzinhos e lojas de
artesanato23. Continuando pela orla litorânea, o próximo ponto turístico é a travessia
de balsa na Barra do Rio, na foz do Rio Ceará - Mirim, em seguida tem a praia de
Graçandu, com lagoas naturais. Na praia de Pitangui um dos pontos turísticos mais
visitados é a Lagoa de Pitangui.24

17
Vide fotografia 2.
18
Vide fotografia3.
19
Vide fotografia 4.
20
Passeio que se realiza através do deslizamento nos morros de areias em cima de pranchas de
madeira até o mar.
21
Vide fotografia 5.
22
Vide fotografia 6.
23
Vide fotografia 7.
24
Vide Fotografia 8.

42
Fotografia 2 – Restaurante Naff Naff - praia de Jacumã.
Fonte: Idiana Soares (ABR/2007)

Fotografia 3 – Aquário Natal localizado na praia da Redinha Nova.


Fonte: Idiana Soares (ABR/2007)

Fotografia 4 – Passeio de bugre em cima das dunas.


Fonte: Idiana Soares (ABR/2007)

43
Fotografia 5 – Passeio de dromedário.
Fonte: Idiana Soares (ABR/2007)

Fotografia 6 – Passeio de cavalo.


Fonte: Idiana Soares (ABR/2007)

Fotografia 7 – Lagoa de Pitangui.


Fonte: Aureliano Nóbrega (JAN/2007)

44
Fotografia 8 – Lojas de artesanato na praia de Jenipabu.
Fonte: Idiana Soares (ABR/2007)

Trata-se de uma área rica em belezas naturais, fator fundamental de atração


turística, no entanto essa beleza esta associada a inúmeros problemas os quais
constituem barreiras para a promoção do desenvolvimento da atividade bem como
da comunidade local.
Os municípios de Extremoz e Ceará-Mirim não fogem às características
comuns das várias cidades que compõem as regiões do nordeste brasileiro, onde
predominam carências sociais das mais variadas ordens e relações de produção
que ainda se desenvolvem com uma organização própria desse grupo.
O PRODETUR/NE tem como objetivo desenvolver e consolidar a atividade
turística na região nordeste, aproveitando o enorme potencial natural existente e ao
mesmo tempo, garantir a sustentabilidade econômica, ou seja, a geração de
trabalho de forma digna, a possibilidade e a distribuição de renda, através de uma
atividade crescente mundialmente, como forma de reduzir e eliminar a
desigualdades sociais entre as diversas regiões do país. No entanto, os dados
obtidos através das entrevistas sobre geração de emprego e renda mostrou-nos que
a absorção de trabalhadores pelos empreendimentos turísticos e os baixos salários
bem como a informalidade não condizem com o objetivo de geração de emprego e
renda apresentados pelo Programa para o Desenvolvimento do Turismo no
Nordeste – PRODETUR /NE.
Sabemos que não é fácil pensar em desenvolvimento quando se trata de uma
área inserida num contexto de pobreza. Para Cruz (2003), a pobreza tem
implicações negativas diversas que se refletem de forma marcante no
(re)ordenamento dos territórios. A partir de observações preliminares na referida

45
área em estudo, podemos perceber claramente, no que diz respeito ao processo de
organização do espaço litorâneo pela atividade turística, as marcas da pobreza.
É comum nos espaços turísticos em estudo, a associação dos equipamentos
turísticos à sujeira, lixos espalhados, falta de qualificação profissional, à
precariedade de infra-estrutura de saneamento básico, casas abandonadas, bares,
hotéis e agências fechadas, proliferação de favelas e construções em locais
inapropriados, ausência de sinalização, dificultando o acesso aos destinos turísticos,
problemas de iluminação e conseqüentemente de segurança, limitando o trabalho
dos vendedores locais.
A resolução desse impasse pode ser obtida através de um planejamento
socialmente justo, que leve em consideração as relações sociais, a estrutura
institucional local, migrações, sazonalidades e suas conseqüências na dinâmica
local, a geração de emprego e renda. Todos esses elementos levados em
consideração estão na base do planejamento estratégico.
Por planejamento estratégico entende-se um processo de gestão de ações e
empreendimentos, estabelecidos a partir de um processo decisório sistematizado,
voltado e comprometido com estratégias definidas para o alcance do objetivo futuro.
Ele busca, a partir da análise do presente, definir ações que terão influência no
futuro, para que sejam atingidos os objetivos propostos. Dessa forma, leva em
consideração, principalmente, as conseqüências futuras de ações tomadas no
presente.
Nesse sentido, Beni (2006, p.94) defende que o planejamento estratégico
deve apoiar-se na participação social, bem como na equidade, intersetorialidade e
sustentabilidade. Afirma ainda que:

Tal ação interativa certamente representará um esforço ponderável


na construção de um modelo de desenvolvimento integral, integrado
e sustentável, possibilitando superar paulatinamente a reprodução da
pobreza e da exclusão social provocada pelo aumento das
desigualdades, da internacionalização da economia, da incontrolada
competitividade e do esgotamento das verbas públicas. Nesse
processo integrado, a ênfase recai na observação de possíveis
conseqüências das políticas25 alternativas ambientais, sociais e
econômicas para, só então, por meio de sua avaliação em

25
Política é um curso de ação calculado para alcançar objetivos, ou seja, direções gerais para o
planejamento e a gestão do turismo baseadas em necessidades identificadas dentro de restrições de
mercado e de recursos. São orientações específicas para a gestão diária do turismo, abrangendo os
muitos aspectos operacionais da atividade.

46
comparação com os objetivos, aplicar as medidas e os passos mais
indicados (BENI, 2006, p. 94).

Nesse sentido observou-se na área em estudo que ainda não existem ações
articuladas entre os setores, instituições municipais e estaduais quanto às propostas
de desenvolvimento da atividade turística, implicando em ações superpostas,
desarticuladas, que não possuem um encadeamento lógico, não contribuindo dessa
forma para os benefícios sociais, ambientais e econômicos.
Portanto, partimos da idéia de que, para que possamos pensar no
desenvolvimento do turismo de forma sustentável nos municípios de Extremoz e
Ceará-Mirim, deve-se, antes de mais nada, contemplar as necessidades e
expectativas coletivas da população local, comerciantes envolvidos com a atividade
e os visitantes, ou seja, os turistas. Nesse sentido, com o objetivo de identificar
necessidades e subsidiar as proposições de políticas públicas e estratégias que
viabilizem a sustentação econômica dos negócios que se desenvolvem nos espaços
turísticos, foram aplicados questionários por meio dos quais realizou-se uma análise
quantitativa e qualitativa das variáveis de interesse do presente estudo, tento sua
população composta pelos seguintes atores: comunidade local, comerciantes
envolvidos pela atividade e turistas.

4.1 DADOS GERAIS

Foram aplicados 400 questionários nas praias pesquisadas entre comunidade


local, comerciantes e turistas.

4.1.2 Perfil do entrevistado: turista

Para determinar o perfil dos turistas que freqüentaram as praias da área em


estudo, foram estudados as variáveis sexo, faixa etária, profissão e naturalidade.

47
4.1.2.1 Sexo

Em relação ao sexo, durante o período das entrevistas realizadas em todas


as praias pertencentes aos municípios de Extremoz e Ceará-Mirim, há uma
equivalência entre o público masculino e o público feminino conforme o gráfico 1. No
geral 51,43% são do sexo masculino.

Gráfico 1 – Sexo.
Fonte: Pesquisa de campo 2007.

4.1.2.2 Faixa etária

Nas praias pesquisadas, verificou-se que os turistas com idades medianas


freqüentam mais as praias, 74% dos entrevistados têm idade entre 25 a 40 anos,
predominando uma média de idade de 35 anos. Os 22, 8% estão divididos em 14,
29% entre 41 e 50 anos, 5, 71% entre 51 a 60 e 2,86% possuem mais de 60 anos de
idade.

48
Percentual (%)

90 77,14
80
70
60
50
40
30
14,29
20 5,71
2,86
10
0
De 25 a 40 De 41 a 50 De 51 a 60 Mais de 60
Faixa Etária

Gráfico 2 – Faixa etária.


Fonte: Pesquisa de campo 2007).

4.1.2.3 Profissão

A profissão dos freqüentadores apresentou características semelhantes entre


as praias dos dois municípios. As profissões mais citadas foram: Engenheiro,
estudante, médico, professor, aposentado e fonoaudiólogo correspondendo a 68,
5% dos entrevistados, é válido ressaltar que nesse mesmo período em que estavam
sendo realizadas as entrevistas, estavam sendo realizados congressos das referidas
áreas mencionadas acima. Os 31,5% estão distribuídos nas seguintes profissões:
administrador, analista de sistema, bióloga, geólogo, jornalista, militar, pesquisador,
servidor público, empresário, advogado e músico.

49
Gráfico 3 – Profissão.
Fonte: Pesquisa de campo 2007.

4.1.2.4 Naturalidade

A maioria dos freqüentadores, 74,29% dos entrevistados, pertencem à região


sudeste; deste percentual 51,43 pertencem ao estado de São Paulo e 22, 86% ao
Rio de Janeiro, vindo em seguida, em ordem decrescente Minas Gerais, Rio Grande
do Sul, Brasília e Pernambuco. Durante quase todo o ano, com exceção do mês de
janeiro, predominam turistas nacionais.
A maioria dos turistas entrevistados 77,14%26, encontravam-se pela primeira
vez visitando as praias do litoral norte.

26
Vide gráfico 5.

50
Gráfico 4 – Naturalidade.
Fonte: Pesquisa de campo 2007.

Gráfico 5 – Presença nesta localidade outras vezes.


Fonte: Pesquisa de campo 2007.

Corroboramos com as idéias de Petrocchi (1998) sobre a sobrevivência de


um sistema27, quando o autor defende que para que ele sobreviva se faz necessária,
a relação da sobrevivência da atividade turística com a satisfação do desejo dos
clientes (os turistas) e a necessidade de conhecer os aspectos desses desejos e de
inseri-los no processo de planejamento e nas especificações técnicas do produto,
pois é dele que vem a receita que alimenta os negócios turísticos da cidade. Nesse
sentido, procurou-se saber entre outras questões: o que motivou as suas vindas? O
27
Quando o autor fala em sistemas, ele está se reportando as organizações que compõe o sistema
turístico.

51
que eles buscam nas praias do litoral norte pertencentes à área em estudo? Quais
os motivos que levariam a voltar? Nível de satisfação em relação área em questão?
E por fim que sugestões dariam para melhoria da atividade turística.
Da amostra entrevistada 37,14%28 afirmaram que as belezas naturais, onde
as praias e dunas foram os principais elementos citados, constituem o principal
motivo da visita. Em percentagens menores, seguem, em ordem decrescente, os
congressos, amigos, férias, clima, tranqüilidade, lua-de-mel, trabalho, hospitalidade
e praias. Dentre os motivos que os levariam a voltar, a preservação das belezas
naturais também ficou com o maior percentual, 91,43%. Os 8,06% ficaram
distribuídos entre os seguintes motivos: dunas, praias, bons serviços, preço e lua-
de-mel.
Quanto ao nível de satisfação do turista em relação ao lugar 45, 71%
afirmaram que estava bom, 28,57% ótimo e 25, 71% regular. Através do gráfico
podemos verificar que a variável bom obteve o maior percentual. Este dado se
justifica quando nos reportamos ao gráfico 9 que mostra as sugestões de melhorias
para a área, dentre as quais os turistas aponta para a falta de infra-estrutura
adequada relacionada ao acesso, melhoria na educação e qualificação dos
profissionais principalmente no quesito atendimento, pois o assédio, principalmente
por parte de crianças e vendedores ambulantes, constitui um dos fatores de maior
repulsão dos turistas. Outras sugestões como presença de banheiros, presença e
melhoria das hospedagens, ambiente para noite, sinalizações, bons preços, manter
o espaço preservado, presença de segurança e postos policiais, presença de postos
de saúde, não deixar aumentar o número de ambulantes em cima das dunas, pois
descaracteriza a paisagem, presença de farmácias e depósitos para lixo. Vale
ressaltar que todas as sugestões estão diretamente relacionadas às queixas dos
turistas.

28
Vide gráfico 6.

52
Gráfico 6 – O que motivou a visita.
Fonte: Pesquisa de campo 2007.
Obs: Questão de múltipla escolha

Gráfico 7 – Motivo que levaria a voltar.


Fonte: Pesquisa de campo 2007.

53
Gráfico 8 – Nível de satisfação em relação ao lugar.
Fonte: Pesquisa de campo 2007.

Gráfico 9 – Sugestões para melhoria da localidade.


Fonte: Pesquisa de campo 2007.
Obs: Questão de múltipla escolha.

54
Sugestões para melhoria da localidade Percentual (%)
Depósito para lixo 2,86
Farmácia 2,86
Melhorias em pousadas/ restaurantes 2,86
Não deixar aumentar o número de ambulantes 2,86
Posto de saúde 2,86
Posto policial 2,86
Posto turístico 2,86
Segurança 2,86
Manter o espaço preservado 5,71
Organizar melhor os espaços turísticos 5,71
Preços 5,71
Sinalizações 5,71
Ambiente para noite 8,57
Melhorar educação 8,57
Hospedagem 11,43
Sem sugestões 11,43
Banheiro 14,29
Melhorar na limpeza 14,29
Diminuir o assedio 17,14
Infra-estrutura de acesso 25,71
Total 100,00
Quadro 2 – Sugestões para melhoria da localidade.
Fonte: Pesquisa de campo 2007.

Diante dos resultados, podemos chegar à conclusão de que, para garantir a


satisfação do visitante (turista), é preciso garantir a qualidade do meio, através do
planejamento, de cada uma das interfaces do sistema turístico com o turista, e a
preservação dos recursos naturais que se constitui em uma interface fundamental
para o desenvolvimento dessa atividade.

4.1.3 Perfil do entrevistado: comerciante

Para determinar o perfil dos comerciantes da área em estudo, foram


estudadas as variáveis sexo, faixa etária, escolaridade, ramo da atividade e tempo
que atua no comércio.

55
4.1.3.1 Sexo

Em relação ao sexo, em todas as praias entrevistadas predominam o público


masculino. No geral 56,25% são do sexo masculino.

Gráfico 10 – Sexo.
Fonte: Pesquisa de campo 2007.

4.1.3.2 Faixa etária

Nas praias pesquisadas, 46,88% dos comerciantes têm idade entre 41 e 50


anos. Predominando uma média de idade de 44 anos. Os 53,2% estão divididos em
34,38% até 40 anos, 15,63% entre 51 a 60 e 3,13 possuem mais de 60 anos de
idade29.

Gráfico 11 – Faixa Etária.


Fonte: Pesquisa de campo 2007 (Idade média: 44 anos)

29
Vide gráfico 11.

56
4.1.3.3 Escolaridade

Quanto ao grau de escolaridade 65,63% concluiu o Ensino Médio,


representando, portanto o maior percentual. Os 34, 38% estão distribuídos da
seguinte forma: 15,63% são graduados, 12,50% concluíram o Ensino Fundamental e
6,25% são analfabetos30.

Gráfico 12 – Escolaridade.
Fonte: Pesquisa de campo 2007.

4.1.3.4 Ramo da atividade

Da amostra total dos entrevistados, percebe-se uma diversidade quanto ao


ramo de atividade relacionado ao Turismo, havendo, em ordem decrescente, um
predomínio de comerciantes com empreendimentos em sua maioria de pequeno e
médio porte envolvidos com restaurantes, passeios de buggy, lojas de artesanato,
barraca de praia e pousadas, dos quais 48, 88% atuam na área a mais de 10 anos.

30
Vide gráfico 12.

57
Gráfico 13 – Ramo de atividade.
Fonte: Pesquisa de campo 2007.

No que diz respeito à percepção turística e ambiental dos municípios, 59,


38% dos comerciantes afirmam ser o Turismo uma atividade de grande dimensão,
pois a maioria da população local vive desta atividade, tendo em vista que ela
abrange vários serviços, como a área de restaurantes, equipamentos de lazer,
passeios de buggy, comércio informal entre outros. Como se trata de uma área que
possui um segmento populacional com baixa escolaridade e qualificação profissional
inadequada, a economia informal aparece como um fenômeno alternativo à
exclusão.
Quanto às transformações na dinâmica socioespacial e ambiental da
localidade, 75%31 afirmam que, nos últimos dez anos, houve transformações
significativas do ponto de vista espacial relacionadas principalmente ao aumento de
construções, em sua maioria, imóveis destinados à especulação (vide mapa 4). Esse
fato contribuiu para a saída de uma parcela significativa da população nativa,
trazendo perdas para a cultura local. No que diz respeito aos impactos
econômicos32, os comerciantes afirmam que, nos últimos dez anos, essa tem sido a
pior fase do turismo. Nesse sentido, afirma a senhora Cleide Batista (informação
verbal) 33que atua na área há 10 anos, sócia da empresa, Dromedunas:

31
Vide gráfico 14
32
Vide gráfico 15
33
Entrevista informal realizada com a Sr. Cleide Batista em Natal, julho de 2007.

58
Há 10 anos Jenipabu viveu sua fase áurea, do ponto de vista
econômico; nos últimos anos começou a haver um declínio
provocado por vários fatores, dentre eles, problemas na economia
interferindo diretamente no poder aquisitivo dos turistas, baixa
qualificação profissional, desunião das categorias envolvidas com a
atividade, falta de planejamento, acarretando no fechamento de
pousadas, hotéis, restaurantes, casa de show, transferências de
agências para outras localidades, preços altos, falta de infra-estrutura
adequada e mais recentemente a queda do dólar.

Quanto aos impactos ambientais, as construções localizadas em cima das


dunas constituem um dos maiores impactos ambientais citados pelos comerciantes.
É válido chamar a atenção para o descontentamento dos comerciantes no que diz
respeito à queda da atividade na área, dentre as principais causas afirmam ser o
poder público local o principal responsável queixas como falta de segurança,
iluminação, uma política de valorização cultural e do artesanato são comuns no
discurso dos entrevistados34. Um outro fator preocupante está relacionado a uma
prática ilegal realizada pelos bugueiros, os quais são responsáveis pelo passeio,
incluindo o encaminhamento dos turistas aos seus destinos turísticos. Segundo os
comerciantes, em específico, proprietários dos restaurantes, os bugueiros
credenciados em Natal, que são maioria, encaminham os turistas para
empreendimentos que participam parte do lucro obtido, essa participação se dá
através de refeições gratuitas, em caso de restaurantes ou parte do lucro em
dinheiro. Este fato tem contribuído para a falência e fechamento das mais diferentes
atividades de comércio da localidade referentes à atividade turística.

Gráfico 14 – Conhecimento das transformações na dinâmica


sócio-espacial e cultural da localidade.
Fonte: Pesquisa de campo 2007.

34
Vide gráfico 16

59
Gráfico 15 – Existência de impactos sociais, ambientais e econômicos
provocados pelo turismo na localidade.
Fonte: Pesquisa de campo 2007.

Gráfico 16 – Criação de política de valorização cultural, valorização do


artesanato, do patrimônio histórico.
Fonte: Pesquisa de campo 2007.

4.1.4 Perfil do entrevistado: comunidade local

Para determinar o perfil da comunidade local da área em estudo, foram


estudadas as variáveis sexo, faixa etária e escolaridade.

60
4.1.4.1 Sexo

Em relação ao sexo, em todas as praias entrevistadas, predomina o público


Feminino totalizando 59,24% dos integrantes da comunidade entrevistados.

Gráfico 17 – Sexo.
Fonte: Pesquisa de campo 2007.

4.1.4.2 Faixa etária

Nas praias pesquisadas, 57,14% da população entrevistada têm idade até 40


anos. Predominando uma média de idade de 40 anos. Os 42,86% estão divididos
em 20% entre 41 e 50 anos, 14, 29% entre 51 a 60 e 8,57% possuem mais de 60
anos de idade35.

35
Vide gráfico 17

61
Gráfico 18 – Faixa Etária.
Fonte: Pesquisa de campo 2007.

4.1.4.3 Escolaridade

Quanto ao grau de escolaridade 62,86%36 concluíram o Ensino Médio,


representando, portanto, o maior percentual. Os 37,15% estão distribuídos da
seguinte forma: 22,86% são analfabetos e 14,29% concluíram o Ensino
Fundamental.
As respostas relativas à dinâmica socioespacial, bem como aos impactos
ambientais provocados pela atividade turística foram semelhantes. Quanto às
questões culturais, os moradores mais antigos da localidade afirmam que a partir do
momento que a atividade turística se inseriu no espaço e começou a provocar,
através da especulação imobiliária, a migração dos nativos, começou a haver uma
perda de determinadas manifestações culturais, como a dança do coco de roda, a
lapinha e as quadrilhas; danças que faziam parte das tradições dos povos mais
antigos.

36
Vide gráfico 18.

62
Gráfico 19 – Escolaridade.
Fonte: Pesquisa de campo 2007.

Outro fator limitante do ponto de vista do desenvolvimento da atividade turista,


além dos já mencionados, diz respeito aos recursos do poder público local. De
acordo com as Secretarias de Turismo dos municípios de Extremoz e Ceará - Mirim,
eles não vêm sendo repassados, trazendo limitações para realização de seus
trabalhos. Afirmam ainda que se trata de uma política centralizadora, tendo em vista
que a receita proveniente do Turismo não é distribuída, concentrando-se apenas na
capital.
Aliado a esse fato, a política de incentivo fiscal adotado pelo Estado e
municípios inseridos na área destinada ao desenvolvimento do turismo, aos
interessados em investir na região dificulta a arrecadação de impostos para as
unidades administrativas, haja vista, a política de isenção fiscal. Para (MARCELINO
2006) tal procedimento se faz presente no caso do Turismo, contrariando a
compreensão de um princípio fundamental para que esta atividade venha contribuir
com o desenvolvimento econômico e social, pois as arrecadações são responsáveis
por investimentos em infra-estrutura e serviços que tornem atraentes e viabilizem o
capital privado.
Podemos perceber que esses fatores colaboram para a construção de
paisagens pouco atrativas para o Turismo, bem como funcionam como obstáculos
para o desenvolvimento do mesmo.

63
A partir dessas observações, parece-nos que da forma como a atividade
turística vem sendo conduzida, o que não foge a regra do modelo de
desenvolvimento de outras atividades econômicas, inseridas dentro do contexto do
modo de produção capitalista, não vem contribuindo para o desenvolvimento
socioespacial37,pois o que verificamos é um modelo de “desenvolvimento”
concentrador de renda, excludente, contraditório e multiplicador de desigualdades
sócio-espaciais.
Porém, o que se verifica na mídia38, é uma exaltação em seu discurso no que
diz respeito à dimensão econômica do turismo, entendendo que essa dimensão por
si só não constitui fator relevante e responsável por proporcionar o desenvolvimento
socioespacial.
Ainda dentro desse contexto de exaltação, enveredando no caso mais
específico do nosso Estado, é comum ao se falar em Turismo haver uma tendência
à supervalorização da atividade enquanto fator econômico, gerador de renda,
emprego e receita. Afirmando ser a atividade turística a principal responsável pelo
papel que alavanca o desenvolvimento do mesmo, já ocupando o posto de segunda
maior renda do Rio Grande do Norte.
Souza (2002, p.18), entende que “desenvolvimento não deve ser entendido
como desenvolvimento econômico, embora muitos, e não apenas economistas
continuem a reduzir aquele a este”. Para o autor o chamado desenvolvimento
econômico é, basicamente, o binômio formado pelo crescimento econômico
(mensurável por meio do PNB ou PNB) e pela modernização tecnológica, em que
ambos se estimulam reciprocamente (SOUZA, 2002).
O autor, a título de exemplo, chama a atenção para o quadro histórico do
Brasil, em espacial para a época do chamado “milagre econômico”, em fins dos anos
60 e 70, e diz que o desenvolvimento estritamente econômico pode acontecer, sem
que automaticamente ou forçosamente (ou proporcionalmente) haja melhoria do
quadro de concentração de renda ou dos indicadores sociais (SOUZA, 2002).
Para Cruz (1999), essa abordagem historicamente construída, que reduz a
pratica social do Turismo a uma atividade econômica, dentro da base do discurso

37
Partindo da idéia de Souza (2002) compreendemos o desenvolvimento socioespacial como sendo
um processo de superação de problemas e conquistas de condições culturais, técnico-tecnológicas,
político-institucionais, espaços territoriais propiciadoras de maior felicidade individual e coletiva.
38
Entendemos por mídia o conjunto dos meios de informação e de comunicação (imprensa, rádio,
televisão e etc.)

64
apologético ao turismo, negligencia seu entendimento antes de mais nada, como
prática social. Não nos permitindo avançar, portanto, em nossas análises voltadas
ao desenvolvimento socioespacial, pois subvalorizam as transformações provocadas
pela atividade em estudo, assim como seus impactos em função de análises
quantitativas.
Dentre os problemas observados, parece-nos que o descaso do poder público
local se constitui talvez como principal, pois sua ausência vem contribuindo para a
intensificação da degradação do meio, bem como dos conflitos sociais existentes na
área.
Nesse processo de formação dos espaços turísticos, o poder público tem um
papel primordial quanto aos encaminhamentos da atividade, indutor de
investimentos bem como mediador de interesses, de maneira que a atividade se
torne sustentável, ou seja, que haja um desenvolvimento não apenas do ponto de
vista do crescimento econômico, mais que seja uma das alternativas propulsoras do
desenvolvimento justo socialmente. Enquanto esse compromisso não existir, não se
poderá esperar do Turismo mais do que ele pode oferecer: um Turismo de
passagem.

65
5 TURISMO E MEIO AMBIENTE

As questões relacionadas ao meio ambiente vêm sendo uma das maiores


preocupações dos cientistas neste fim de século e vem evoluindo ao longo do
tempo, principalmente a partir dos anos 50, momento correspondente ao início dos
movimentos ambientalistas.
A beleza cênica, formada pelo conjunto de componentes da morfologia
costeira, é responsável pela atratividade turística. A zona costeira é colocada na
Constituição brasileira como patrimônio nacional. A Carta Magna recomenda que a
sua utilização deverá se dar de forma que seja assegurada a preservação do meio
ambiente inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
O crescimento do interesse dos turistas pelos ambientes naturais tem elevado
as preocupações sobre os impactos gerado pela atividade, porque a maior parte dos
lugares que despertam a curiosidade dos viajantes é frágil e apresenta, de modo
geral alto valor conservacionista. De acordo com Ruschamann (2004, p. 19), como
meio ambiente

entende-se a biosfera, isto é, as rochas, a água e o ar que envolve a


terra, juntamente com os ecossistemas que eles mantêm. Esses
ecossistemas são constituídos de comunidades de indivíduos de
diferentes populações (bióticos), que vivem numa área juntamente
com seu meio não-vivente (abióticos) e se caracterizam por suas
inter-relações, sejam elas simples ou mais complexas. Essa
definição inclui também os recursos constituídos pelo homem, tais
como casas, cidades, monumentos históricos, sítios arqueológicos, e
os padrões comportamentais das populações – folclore, vestuário,
comidas e o modo de vida em geral que as diferenciam de outras
comunidades. No que diz respeito à relação Turismo e meio
ambiente, amplia-se o debate e a busca do desenvolvimento
sustentável do Turismo.

Ao falarmos desenvolvimento sustentável do Turismo, faz-se mister pensar a


atividade turística e toda a complexidade que a envolve, visto que no sistema
Capitalista a sustentabilidade de elementos do ambiente pode gerar a
insustentabilidade econômica, e que todas as coisas funcionam segundo a lógica da
sustentabilidade do capital. Diversos artifícios criados por essa ideologia consistem
em uma estratégia para esconder as referidas contradições desse modo de
produção que ocorrem justamente pela constante busca de maximização dos lucros,

66
predominando um interesse meramente mercadológico enquanto as questões
relacionadas ao meio ambiente são relegadas a um plano inferior.
Como exemplo, podemos citar os complexos turísticos a serem implantados
nos municípios, dentre eles o maior entre os grandes empreendimentos do Rio
Grande do Norte, o Grand Natal Golf, localizado nos municípios de Extremoz e
Ceará-Mirim. O projeto compreende catorze prédios e cinco campos de golfe
desenvolvido pela Sociedade Potiguar de Empreendimentos LTDA (Spel) em
parceria com o grupo espanhol Sanchez. De acordo com o Promotor Público de
Extremoz, David da Costa Benavides, ainda não existe avaliação ambiental
estratégica a respeito das conseqüências do impacto dessas obras. Trata-se de um
empreendimento de grande porte que envolve um alto investimento estrangeiro, fato
esse que tem gerado conflitos entre os vários órgãos envolvidos. Alguns
questionamentos vêm sendo realizados por parte do Ministério Público de Extremoz
ao IDEMA, como, por exemplo, a análise do impacto geral a ser causado no
ecossistema pelos cinco campos de golfe. Qual o tipo de tratamento químico que
será utilizado para a grama? Esse tipo de tratamento trará implicações para o lençol
freático da área? E quanto ao abastecimento hídrico, não foram informadas as
condições de explotação das águas subterrâneas.
Para agravar ainda mais a situação, Lobo (2008, p.1) chama a atenção para o
fato de que:

O município de Ceará-Mirim, onde estará cerca de 40% do território


do terreno do Grand Natal Golf, possui uma população de
aproximadamente 70 mil pessoas. Já Extremoz, ainda menor, conta
com apenas 20 mil habitantes fixos. De acordo com cálculos
estimados no EIA, a capacidade total do complexo, contando novos
moradores e visitantes, pode chegar a até 166 mil pessoas. Isso
significa que a geração de lixo e o consumo de água vai
praticamente dobrar. Segundo o Ministério Público, não há qualquer
plano de destinação adequada dos resíduos sólidos.

É importante destacar a necessidade de se conhecer as condições


ambientais antes da implantação e ou operação de um dado empreendimento, para
poder estabelecer de maneira fidedigna as modificações ambientais provocadas por
este.
Ainda nesse sentido, Dias (2003) afirma que o Turismo é uma atividade
econômica que se desenvolveu com as características atuais, como fenômeno de

67
massa, em decorrência do desenvolvimento propiciado pela revolução industrial, a
qual introduziu na sociedade moderna um modelo econômico que tem como seu
objetivo principal a geração de renda, por meio da expropriação e exploração dos
recursos naturais. Afirma ainda que estamos presenciando verdadeira revolução
propiciada pelo incremento dos serviços e pelo aumento do processo de
globalização. Em ambos os processos, o Turismo assume papel primordial e, tal
qual as indústrias do passado, é altamente dependente dos recursos naturais.
Desse modo, a relação Turismo e meio ambiente assume profunda relevância
dentro de uma nova perspectiva de desenvolvimento que não assuma os erros do
passado. No mundo que vivemos, onde o modelo econômico vigente é o modo de
produção Capitalista, buscar a possibilidade de um desenvolvimento sustentável,
socialmente justo, permitindo que as sociedades humanas atinjam melhor qualidade
de vida em todos os aspectos, constitui-se um dos grandes desafios. Nesse sentido
é fundamental salientar o que é entendido por desenvolvimento sustentável.
A partir do século XX pode-se identificar três fases distintas da evolução da
preocupação ambiental; a primeira fase considera-se aquela em que ocorre a
percepção dos problemas ambientais localizados e atribuídos à ignorância, à
negligência ou indiferença das pessoas, produtores e consumidores, a ênfase é
dada nas ações corretivas. Na segunda fase a degradação ambiental é percebida
com um problema generalizado, porém dentro do Estado-Nação. As causas são as
mesmas anteriores mais a gestão inadequada dos recursos. Ocorrem ações
corretivas, intervenção governamental para a prevenção. Já na terceira fase a
degradação ambiental é percebida como um problema planetário, resultado do tipo
de desenvolvimento adotado. Surge uma nova maneira de perceber as soluções
para os problemas globais, que não se reduzem à degradação do ambiente físico e
biológico, mas incorporam a dimensões sociais, políticas e culturais como a pobreza
e a exclusão social. Essa nova concepção é chamada de Desenvolvimento
Sustentável.
De acordo com Barbieri (2000), o termo surge pela primeira vez em 1980 no
documento denominado World conservation strategy, produzido pela IUCN e World
Wildlife Fund (hoje, World Wide Fund for nature – WWF) por solicitação do Programa
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (PNUMA). De acordo com esse
documento, uma estratégia mundial para a conservação na natureza deve alcançar
os seguintes objetivos: o primeiro consiste em manter os processos ecológicos

68
essenciais e os sistemas naturais vitais necessários à sobrevivência e ao
desenvolvimento do Ser Humano. O segundo objetivo preservar a diversidade
genética e o terceiro, assegurar o desenvolvimento sustentável das espécies e dos
ecossistemas que constituem a base da vida humana. O objetivo da conservação,
segundo esse documento, é o de manter a capacidade do planeta para sustentar o
desenvolvimento, e este deve, por sua vez, levar em consideração a capacidade dos
ecossistemas e as necessidades das futuras gerações. Porém, o termo ganha
amplitude após 1987 com a publicação do relatório “Nosso Futuro Comum” que, em
síntese, considera que é necessário continuar o desenvolvimento, mas levando em
conta a possibilidade de recomposição dos ecossistemas naturais. Em outras
palavras, procura estabelecer uma relação harmônica do homem com a natureza,
como centro de um processo de desenvolvimento que deve satisfazer às
necessidades e às aspirações humanas. Enfatiza também que a pobreza é
incompatível com o desenvolvimento sustentável e indica a necessidade de que a
política ambiental seja parte do processo de desenvolvimento e não mais uma
responsabilidade setorial fragmentada, fato este que vêm sendo verificado. Ainda
nesse sentido, Dias (2003, p.36) afirma que o documento “Nosso Futuro Comum” foi
referência e base importante para os debates que aconteceram na Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no
Rio de Janeiro em 1992, na qual popularizou-se o conceito de Desenvolvimento
Sustentável, tornando as questões ambientais e de desenvolvimento
indissoluvelmente ligadas.
A CNUMAD ocorreu 20 anos após a de Estocolmo e concentrou-se em
identificar as políticas que geram os efeitos ambientais negativos. Concluiu ela, de
forma eloqüente, que “a proteção ambiental constitui parte integrante do processo de
desenvolvimento, e não pode ser considerada isoladamente deste”. O meio
ambiente e o desenvolvimento são duas faces da mesma moeda com nome próprio,
desenvolvimento sustentável, o qual “não se constitui num problema técnico, mas
social e político”. (GUIMARÃES, 1992, p. 1000).
Embora o termo sustentabilidade venha sendo usado como novo paradigma
do desenvolvimento, a expressão desenvolvimento sustentável tem sido objeto de
várias polêmicas, desde a sua formulação, a precisão do seu conceito, levando em
consideração as divergências e contradições que carrega no seu escopo. E quando

69
o debate se amplia para a relação Desenvolvimento Sustentável e Turismo, as
polêmicas tomam uma maior dimensão.
No que diz respeito à evolução das relações entre o turismo e o meio
ambiente, Dias (2003, p.66) afirma que:

Tem um reflexo fiel nas diversas declarações e documentos


patrocinados por organizações internaconais, como a ONU, a OMT,
e o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (World Travel and
Tourism Concil – WTTC). Nesses documentos observa-se uma
paulatina transição do predomínio dos aspectos socioculturais e
econômicos ao paradigma onipresente da sustentabilidade. É
importante relembrar que a dependência do turismo em relação aos
recursos naturais aparece nos primeiros textos, e gradativamente vai
acentuando-se a constatação da importância dos impactos
ambientais negativos do turismo, e os riscos de que tais impactos se
agravem com o imprevisível incremento da atividade turística.

Rodrigues (2002), em seu artigo intitulado “Desenvolvimento Sustentável e


atividade turística”, defende que a atividade turística é, na própria essência,
incompatível com uma idéia de Desenvolvimento Sustentável. Afirma ainda que a
atividade turística não é compatível sequer com a noção de desenvolvimento auto-
sustentado porque dirige o consumo aos lugares “exóticos”, transformando-os para
serem comercializáveis, nos padrões de “conforto e qualidade de vida do mundo
moderno”, retirando, portanto ao longo de curto espaço de tempo a característica de
exótico.Como atividade econômica sua sustentação está pautada na contínua
descoberta de paisagens naturais e históricas de novos lugares exóticos, que são
rapidamente transformados para serem usufruídos.
Podemos perceber que quando a discussão é pautada no desenvolvimento
sustentável do Turismo, os pontos de vistas se divergem, desde as visões
exageradamente otimistas, que põe a atividade turística como a salvação para o
desenvolvimento, como grande alternativa para a política econômica, superando
setores tradicionais da economia como a indústria petrolífera no que diz respeito à
geração de divisas internacionais; até as visões pessimistas, apoiadas nas
discussões generalizadas do que o termo Desenvolvimento Sustentável do Turismo
foi exposto, carregado de ambigüidades.
Neste sentido, Dias (2003) defende que apesar das ambigüidades, o termo
Desenvolvimento Sustentável, abriu as portas para o debate da eqüidade social

70
dentro de uma mesma geração e incorporou o meio ambiente no debate sobre o
desenvolvimento de forma definitiva.
Há o reconhecimento por parte de muitos estudiosos do turismo quanto à
importância crescente nas economias receptoras, assim como a degradação
ambiental provocada pela mesma. Diante desse contexto, Silveira (2002) propõem
que se adotem novas formas de Turismo, com menor impacto no meio ambiente.
Entre as denominações que são dadas a essas novas formas, aparece o turismo
sustentável, o qual é colocado como alternativa ao modelo de desenvolvimento
turístico até hoje dominante na maioria dos países.
Para o desenvolvimento da presente pesquisa, utilizaremos o conceito da
OMT, que define o desenvolvimento turístico sustentável como aquele que:

Atende às necessidades dos turistas atuais e das regiões receptoras


e ao mesmo tempo protege e fomenta as oportunidades para o
turismo futuro. Concebe-se como um caminho para gestão de todos
os recursos de forma que possam satisfazer-se as necessidades
econômicas, sociais e estéticas, respeitando ao mesmo tempo a
integridade cultural, os processos ecológicos essenciais, a
diversidade biológica e os sistemas que sustentam a vida sem
comprometer a possibilidade do usufruto dos recursos pelas
gerações futuras. (DIAS, 2003, p. 68).

Para Silveira (2002, p. 88):

A aplicação do conceito de Desenvolvimento Sustentável aplicado ao


turismo representa estratégia válida para se buscar a integração
entre uso turístico, preservação do meio ambiente e melhoria das
condições de vida das comunidades locais. No entanto se esse
conceito não for incorporado às políticas e práticas do planejamento
territorial do turismo em nível local, a sustentabilidade não passa de
retórica.

Na busca da sustentabilidade da atividade turística, os problemas


socioambientais e a falta de implementação das políticas públicas de planejamento
urbano e ambiental são os principais desafios que os municípios de Extremoz e
Ceará-Mirim devem superar.
Cabe, portanto, analisar, discutir e buscar formas concretas de se promover o
desenvolvimento do Turismo sob a ótica do desenvolvimento sustentável, na qual a
sua gestão tenha por base a dinâmica local e o planejamento socialmente justo,

71
levando em consideração a sociedade, o meio ambiente e as exigências
econômicas.
Antes de mais nada, faz-se mister reconhecer que algumas indagações se
fazem necessárias, como: o que o turista busca no Turismo litorâneo? Existe
aceitação da atividade turística pela comunidade local? Houve transformações na
dinâmica sócio-espacial e cultural na localidade a partir da atividade turística? Se
houve, quais foram os impactos provocados?Existe uma política ambiental definida?
Caso exista, ela é posta em prática? E quanto ao Turismo, existe um planejamento
para essa atividade? Qual a sua participação na geração de receita e renda? Que
influências está trazendo para mudanças nas condições de vida da população local?
Essas entre outras questões tornam-se fundamentais para nortear nossa
análise e discussão sobre a relação entre Turismo e meio ambiente no contexto do
desenvolvimento turístico sustentável.
Petrocchi (1998) entende que para haver a sobrevivência de um sistema,
quando falamos em sistemas estamos referindo-às organizações que compõe o
sistema turístico, torna-se então necessário, a relação da sobrevivência da atividade
turística com a satisfação do desejo dos clientes (os turistas) e a necessidade de
conhecer os aspectos desses desejos e de inseri-los no processo de planejamento e
nas especificações técnicas do produto, pois é dele que vem a receita que alimenta
os negócios turísticos da cidade.
No que diz respeito ao processo histórico, Petrocchi (1998) afirma que até os
anos 60 os administradores do Turismo objetivavam ampliar a demanda, tendo suas
atenções concentradas nos números dos visitantes. Ainda segundo o autor:

A partir dessa época começou a tomar força, no mundo todo, a


consciência de preservação do meio ambiente. Essas preocupações
invadiram a gestão do turismo, que muito depende da preservação
da natureza. Instalou-se então, um conflito que dura até os dias de
hoje e sempre ocorrerá. E esse choque de objetivos no ambiente do
turismo coloca frente a frente à promoção e a preservação.
(PETROCCHI, 1998, p. 59)

Os grandes empreendimentos turísticos estão projetados para áreas que


deveriam ser consideradas de preservação. Preservação implica não-uso e não-
destruição (CORIOLANO, 2001).

72
O destino dessas áreas ocupadas turisticamente dependerá da forma de
Turismo a ser implementada.

Os frágeis ecossistemas litorâneos formados por lagos, dunas,


manguezais e coqueirais, os cartões postais das praias paradisíacas
do mundo tropical são os mais suscetíveis às respostas negativas, á
degradação antrópica, apesar de terem sido, no primeiro momento
recursos básicos para a captação dos projetos turísticos. É
fundamental entender o meio natural como um sistema que obedece
a determinadas leis susceptíveis a qualquer ação externa, que pode
provocar graves alterações. Quanto mais frágil for o sistema, menor
é a sua capacidade para assimilar ou absorver as ações externas, ou
seja, maior será o impacto ambiental. (RODRIGUES, 1996, p. 11).

Dessa forma faz se necessário elaborar estratégias de gestão ambiental para


a busca permanente da qualidade ambiental e conseqüentemente o tão almejado
Desenvolvimento Sustentável do Turismo.
Dentre os instrumentos de gestão ambiental, a legislação assume grande
importância por disciplinar as relações sociais e econômicas e impor limites à
conduta dos indivíduos e do Estado. Para Nunes (2000), tratar das questões
ambientais se faz necessário, conhecer primeiro o instrumento legal que mostre as
penalidades para aqueles que insistem na degradação do meio ambiente, seja a
sociedade ou o Estado.
A agenda 21 em seu capítulo VIII – Elaborando Políticas para o
Desenvolvimento Sustentável – afirma que as leis e regulamentos específicos estão
entre os mais importantes instrumentos para a transformação de políticas ambientais
e de desenvolvimento de ações efetivas, não apenas através dos métodos de
controle e comando, mas também como uma estrutura de planejamento econômico
(CONFERÊNCIA..., 2001).
A Constituição Federal Brasileira, aprovada em 1988, disciplina, entre outras
coisas, as competências legislativas da União, Estados, Distrito Federal e
Municípios, a proteção ao meio ambiente (MORAES, 2006).
O artigo 23 coloca como competência comum da União, Estados, Distrito
Federal e Municípios a proteção do Meio Ambiente, o combate à poluição em
qualquer de suas formas; a promoção de programas de construção e de moradias e
a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico (MORAES, 2006).

73
A competência de legislar sobre defesa do solo e dos recursos naturais,
proteção do meio ambiente e controle da poluição, assim como a responsabilidade
por danos ao meio ambiente, a bens e direito de valor artístico, estético, histórico e
paisagístico, é concorrente à União, aos Estados e ao Distrito Federal. Nesse caso,
a União deve estabelecer normas gerais, caso isso não ocorra, os Estados terão
competência legislativa plena (PIRES, 2005).
Assim como a Constituição do Estado, as leis orgânicas dos municípios de
Extremoz e Ceará-Mirim, estão em consonância com Constituição Federal Brasileira.
Nesse contexto, compete aos respectivos municípios prover a administração
municipal e legislar sobre matéria de interesse local de modo que não fira disposição
constitucional; elaborar Plano Diretor, instrumento básico da política de
desenvolvimento e expansão urbana; planejar o uso e ocupação do solo, com vistas
ao bem comum e à defesa ao meio ambiente; realizar os serviços de conservação e
limpeza públicas.
Ainda de acordo com a Lei Orgânica Municipal, compete aos municípios,
concorrentemente com a união ou o Estado, zelar pela saúde, segurança e
assistência públicas, estimular o melhor aproveitamento do solo, proteger os
documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os
monumentos, as paisagens naturais e os sítios arqueológicos e incentivar a
agricultura, a indústria, o comércio e outras atividades que visem ao
desenvolvimento econômico (PREFEITURA MUNICIPAL DE CEARÁ-MIRIM, 2007;
PREFEITURA MUNICIPAL DE EXTREMOZ, 2007).
A proteção do meio ambiente possui um capítulo próprio na Constituição
Federal, assim como nas leis orgânicas dos municípios de Extremoz e Ceará-Mirim,
as quais seguem o mesmo princípio da Constituição Federal que em, seu artigo 225,
consagrou como obrigação do poder público a defesa, preservação e garantia de
efetividade do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo ao
poder público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes
e futuras gerações (MORAES, 2006).
Moraes (2006, p. 2197) dialogando com Raul Machado Horta e Alexandre
Kiss afirma que “a Constituição da República de 1998 exprime estágio culminante da
incorporação do Meio Ambiente ao ordenamento jurídico do país”. Expõe a
necessidade de regulamentação da exploração de recursos naturais como

74
necessidade de proteção ao meio ambiente, pois ressalta que a exploração dos
recursos biológicos pode essencialmente causar problemas de poluição.
É exatamente essa a preocupação do Direito, garantir a proteção aos
recursos naturais da humanidade. O que se pretende nesse artigo (art. 225,
Constituição Federal) é a salvaguarda dos recursos naturais, a preservação do meio
ambiente para as gerações futuras, garantindo-se o potencial evolutivo.
Dentro desse contexto, Moraes (2006) ressalta que o artigo 225 deve ser
interpretado em consonância com o art.1º, III, que consagra como fundamento da
República o princípio da dignidade da pessoa humana; o art.3º, II, que prevê como
objetivo fundamental da República o desenvolvimento nacional; e o art. 4º, IX, que
estipula que o Brasil deve reger-se em suas relações internacionais pelos princípios
da cooperação entre os povos para o progresso da humanidade, de maneira a
permitir maior efetividade na proteção ao meio ambiente.
Para assegurar a efetividade desse direito, incube ao poder público municipal,
na Lei n°. 1.232, de 11 de Dezembro de 1992, no cap ítulo VI, art. 98, preservar e
restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das
espécies e ecossistemas; preservar e diversificar a integridade do patrimônio
genético do município e fiscalizar, nos limites de sua competência, as entidades
dedicadas e manipulação do material genético; definir supletivamente à União e ao
Estado, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos,
sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer
utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
proteger a fauna e a flora, vedadas na forma de lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica; Elaborar o Código do Meio Ambiente, que definirá a
política de preservação e adequação do município (MORAES, 2006).
Sabemos que as belezas cênicas, formadas pelo conjunto de componentes
da morfologia costeira, são responsável pela atratividade turística. A zona costeira é
colocada na Constituição Brasileira como patrimônio nacional. A Carta Magna
recomenda que a sua utilização deverá se dar de forma que seja assegurada a
preservação do meio ambiente inclusive quanto ao uso dos recursos naturais
(MARCELINO, 1999).
A zona costeira abriga um mosaico de ecossistemas de alta relevância
ambiental. Ao longo do litoral, alternam-se mangues, restingas, campos de dunas e
falésias, baías e estuários, recifes e corais, praias, planícies intermarés e outros

75
ambientes importantes, do ponto de vista ecológico. Os espaços litorâneos possuem
uma significativa riqueza em termos de recursos naturais e ambientais, que vem
sendo colocada em risco, em decorrência da intensidade do processo de ocupação
desordenada.
A atividade turística tem sido responsável por influenciar de forma crescente o
processo de ocupação e uso do espaço costeiro, sem obedecer a um planejamento,
a um plano de desenvolvimento econômico estratégico compatível com a proteção
dos recursos naturais, paisagísticos, culturais e históricos os quais constituem os
principais atrativos dos turistas tanto em nível regional, nacional como internacional.
O litoral, entendido aqui como áreas de praias, dunas, lagoas, coqueirais,
paisagens naturais, tais como as encontradas nos municípios de Extremoz e Ceará-
Mirim, constitui área prioritária para o Turismo. O turista que se destina a áreas
litorâneas, em sua maioria, busca o equilíbrio psicofísico em contato com os
ambientes naturais em seu tempo de lazer; como por exemplo, o contato com belas
paisagens, ecossistemas exóticos, cultura local, atividades de lazer envolvendo os
recursos naturais: passeios de buggy nas dunas, passeios de barco, mergulho.
Diante do contexto, podemos perceber que o Turismo está intimamente ligado
ao meio ambiente, essa compreensão turística é destaque em toda literatura sobre o
tema, tendo em vista que a maioria dos turistas busca paisagens diferentes daquela
onde está seu habitat, e quanto mais nativa e natural for esta paisagem maior será
sua atratividade e conseqüentemente maior será o lucro gerado pela mesma,
contribuindo para a sobrevivência do sistema turístico.
Porém o que se verifica nas áreas em estudo são conflitos entre o que
determina a legislação quanto às potencialidades relacionadas ao litoral e o seu uso
existente nas práticas relacionadas à atividade turística.
O Plano Diretor do Município de Extremoz, Capítulo I, Do desenvolvimento
Econômico, em seu artigo 80, determina que o município, com o objetivo de
promover e incentivar o desenvolvimento turístico deve, entre outras atribuições,
promover os bens naturais do Município como atrativo turístico através da melhoria
de infra-estrutura de atendimento e serviços aos turistas na orla marítima e demais
local de atendimento ao turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE EXTREMOZ, 2007).
No entanto, verifica-se a presença constante de lixos a céu aberto, lançamento

76
indiscriminado de esgotos39 domésticos produzidos pelas barracas de praia
instaladas na orla marítima, bem como a falta de infra-estrutura das mesmas. Todos
esses fatores mencionados prejudicam não apenas o meio ambiente e a saúde da
população, assim como constituem barreiras à promoção do desenvolvimento da
atividade turística, tendo em vista as sensações de desconforto e incômodo que
essas marcas na paisagem traz aos olhos dos turistas.

Fotografia 9 – Praia da Redinha Nova - presença de lixo a céu aberto,


demonstrando ausência de infra-estrutura local.
Fonte: Andréa Hart (ABR/2007)

39
Esgoto é o termo usado para as águas que, após a sua utilização humana, apresentam as suas
características naturais alteradas.

77
Fotografia 10 – Praia da Redinha Nova - presença de lixo a céu aberto.
Fonte: Andréa Hart (ABR/2007)

Verificou-se também na área em estudo que a melhoria de infra-estrutura


viária na localidade relacionada à atividade turística, principalmente no município de
Extremoz, onde se concentra a maior parte de prestação de serviços turísticos, foi
acompanhada por uma supervalorização dos imóveis, por um aumento do valor real
dos terrenos, dos preços de residências ou de aluguéis. Esse fato contribuiu para o
crescimento de novas construções para os mais diversos fins, as quais têm se
processado sem obedecer a um planejamento socialmente justo que inclua a
preocupação de compatibilizar o desenvolvimento com a fragilidade ambiental e os
aspectos sociais característicos desse espaço, como por exemplo, a intensificação
do processo de segregação social. A expulsão das populações nativas dos seus
locais de origem já se verifica a partir da melhoria e ampliação da infra-estrutura
viária, fruto do modelo de planejamento vigente.
Ainda nesse sentido Marcelino (1999, p. 81), estudando os novos espaços
produzidos pela atividade turística no Rio Grande do Norte, afirma que:

A expansão da ocupação litorânea, com a construção de residências


para usufruto em período de férias, atende a ideologia consumista de
classes economicamente mais favorecidas e vem acontecendo
através da apropriação dos espaços dos núcleos populacionais
nativos e pela ocupação de áreas loteadas. A modificação na função
de moradia permanentemente para temporária, tem contribuído para
a expulsão das populações nativas do seu habitat natural. Por sua

78
vez, os loteamentos apresentam-se como forte agente degradador
do ambiente costeiro.

Segundo informações das secretarias de infra-estrutura dos municípios de


Extremoz e Ceará-Mirim, a faixa litorânea continua sendo uma área destinada a
segunda- residência, porém nos últimos anos vem sendo alvo de investimentos; a
maioria são empreendimentos de médio e grande porte relacionados ao setor
turístico, o que vem contribuindo também para o processo de expulsão dos nativos,
tendo em vista que esse processo contribuiu para um aumento do valor
mercadológico do solo, não permitindo igual acesso ao consumo dos bens urbanos
para todos os segmentos das populações.
Esse deslocamento, provocado pela impossibilidade do enfrentamento à
pressão imobiliária, transforma a população em agentes produtores de novos
espaços que adquirirão novos valores de troca, configurando-se o processo contínuo
de produção e apropriação do espaço costeiro pelo capital, reforçando a
problemática da segregação socioespacial da população nativa. (MARCELINO,
1999).
Constatou-se, através das investigações realizadas em campo, em específico
com a comunidade local, que a maioria da população nativa que venderam seus
imóveis se deslocaram para áreas periféricas da cidade de Natal, em sua maioria
loteamentos localizados na Zona Administrativa Norte.
Para ratificar esse fato, a autora destaca que:

A infra-estrutura viária, implantada com o objetivo de viabilizar a


atividade turística, tem favorecido o surgimento de novas
construções nos núcleos populacionais, em seus entornos, em áreas
loteadas e ao surgimento de novos parcelamentos. A expansão dos
núcleos urbanos se dá geralmente de forma desorganizada e quase
sempre obedecendo ao direcionamento exercido pelo capital, pelas
tendências do mercado e pela valorização do solo, não sendo
observadas maiores preocupações com relação às questões sociais
da população menos privilegiada nem tão pouco com os aspectos
ambientais. (MARCELINO, 1999, p. 60).

Nesse sentido, a Área de Proteção Ambiental de Jenipabu (APA) constitui-se


um exemplo claro no que diz respeito à não-preocupação quanto às fragilidades
ambientais do nosso ecossistema inseridos aos novos espaços produzidos
relacionados à dinâmica da atividade turística.

79
A APA situada ao norte da cidade de Natal – RN, ocupando uma área de
1.881 hectares, pertencentes, em quase sua totalidade, ao município de Extremoz,
apresentando apenas uma pequena faixa nas proximidades do Rio Doce, localizada
no município de Natal, foi criada no dia 17 de maio de 1995, por força do Decreto n°
12.620, com o objetivo de ordenar o uso, proteger e preservar os ecossistemas de
praia, mata atlântica e manguezal; lagoas, rios e demais recursos hídricos; dunas; e
espécies vegetais e animais.
Devido às suas belezas paisagísticas, características geológicas e
geomorfológicas e posicionamento geográfico, com a proximidade da capital, a área
se apresenta como uma das mais importantes para o Turismo potiguar. A sua
exploração foi intensificada no início da década de 80, período correspondente à
consolidação do Turismo no Rio Grande do Norte como destino turístico dentro do
contexto nacional, provocando, portanto, problemas e conflitos de várias
intensidades.
A sua criação se mostrou, portanto, como alternativa mais viável para dar
início, de forma rápida e eficiente, às atividades de preservação ambiental da área
abrangida, ao mesmo tempo em que se buscava a manutenção do desenvolvimento
da atividade econômica.
Ainda nesse contexto, é válido chamar a atenção para o fato de que:

As Áreas de Preservação Ambiental (APAs) definem espaços onde a


alteração de ecossistemas, por ação antrópica, limita-se a um
patamar compatível com a sobrevivência permanente de
comunidades vegetais e animais. Portanto, as APAs podem,
também, prestar-se à experimentação de novas técnicas e atitudes,
que permitam conciliar o uso da terra com a manutenção dos
processos ecológicos essenciais. Assim, são admitidas as atividades
turísticas e recreativas, bem como outras formas de ocupação e uso
da área, desde que se armonizem com os objetivos específicos da
APA, que são: contribuir para a preservação da diversidade biológica
e dos ecossistemas naturais; propiciar o manejo adequado dos
recursos da fauna e da flora; incentivar a pesquisa científica e
estudos compatíveis com as características da área, propiciar a
educação ambiental; e garantir o monitoramento ambiental. (RIO
GRANDE DO NORTE, 2006, p. 3).

Doze anos após a criação da Área de Proteção Ambiental de Jenipabu as


denúncias de novas invasões e degradações ambientais são constantes e só
crescem, principalmente nos últimos anos.

80
Um estudo Técnico, realizado pelo grupo de trabalho designado pela Diretoria
Técnica do IDEMA, através da Portaria n° 217/2004 d e 29/09/2004, o qual tem como
objetivo principal controlar as invasões na APA de Jenipabu, através das
construções e cercas, constatou que a área considerada atualmente a mais
impactada da APA é a Ponta de Santa Rita (município de Extremoz), localizada
próxima aos principais atrativos turísticos da região. (IDEMA, 2004)
Tomando com referências o levantamento fotogramétrico do Patrimônio da
União de 1997, na escala de 1.2000, fotografia aérea de junho de 2003, fornecida
pela prefeitura de Extremoz e o levantamento realizado pela equipe técnica,
verificou-se que no intervalo entre 2000 e 2004, apenas na parte mais alta das
dunas da praia de Santa Rita, ocorreu um acréscimo de 15 (quinze) novas
edificações totalizando 50 (cinqüenta) construções, entre novas, reformadas e
antigas. Esses números seriam assustadores salvo comparados com dados
recentes fornecidos pela Secretaria de Infra-estrutura de Extremoz, os quais
contabilizam atualmente 350 (trezentos e cinqüenta) construções irregulares em
cima das dunas.
Através de entrevistas realizadas em campo, tomou-se o conhecimento de
que a prefeitura de Extremoz, durante muito tempo, foi conivente com esse crime
ambiental, pois emitia cartas de aforamento, sem os proprietários estarem de posse
da Licença Ambiental, que, por se tratar de uma APA, constitui-se em um
instrumento imprescindível, conforme determina a Legislação Federal.
Além deste fato, as construções irregulares em cima das dunas também
dispõem de serviços básicos prestados pelo poder público, como energia elétrica
fornecida pela COSERN e água tratada pelo Serviço Autônomo de Água e Esgotos
de Extremoz .
Para ratificar esse fato, no dia 14 de janeiro de 2007, foi publicada por
Porpino (2007) uma reportagem no jornal Tribuna do Norte, intitulada “Ministério
Publico (MP) força proteção de Jenipabú” no qual aponta para a conclusão, que
chegou o Ministério Público ao encerrar em dezembro do ano passado o inquérito
aberto em mil novecentos e noventa e oito (1998), de que desde a implantação da
APA de Jenipabu até os dias atuais nada foi implementado de fato. A reportagem
chama a atenção ainda para o fato de que:

81
O decreto não é respeitado. Ao longo de duas décadas a prática
indiscriminada dos bugue-turismo, o avanço de construções
irregulares em cima das dunas e no entorno da APA, e ainda o
desenvolvimento de outras atividades vem contribuindo para a
degradação ambiental da área. (PORPINO, 2007)

Em função das várias denúncias por parte da população de Extremoz, dando


conta das irregularidades, como a emissão da carta de aforamento por parte da
prefeitura, o Ministério Público entrou com uma Ação Civil Pública contra o poder
público local e a prefeitura de Natal. Com a pressão do Ministério Público, no dia 23
de julho de 2004, por meio do Decreto 17.67, a governadora cria a Comissão
Espacial Multidisciplinar de Identificação e Avaliação de Área de interesse turístico,
socioeconômico e ambiental da APA de Jenipabu para fins de intervenção. Também
é criado, em 05 de junho de 2006 o Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental
de Jenipabu, cuja função, é, entre outras, traçar as diretrizes normativas sobre o
funcionamento da APA e exercer o controle de sua efetiva aplicação.
Quanto às construções irregulares em cima das dunas, através da visita
realizada em campo no período de 2005 a 2007, foi identificada diversidade
relacionada à tipologia das edificações, a sua finalidade, bem como os perfis sociais
dos moradores, descartando a possibilidade dessas invasões serem fruto apenas da
problemática relacionada a uma falta de política habitacional efetivada. Ainda nesse
sentido, o Secretário do Meio Ambiente de Extremoz chama a atenção para o fato
de que 90% das construções irregulares em cima das dunas são destinadas para
fins especulativos40.

40
Vide fotografia 11.

82
Fotografia 11 – Construção em cima das dunas destinada para fins
especulativos.
Fonte: Marcelo Delgado (OUT/2004)

Fotografia 12 – Construção em cima das dunas destinada


para fins especulativos.
Fonte: Marcelo Delgado (OUT/2004)

83
Fotografia 13 – Construção em cima das dunas destinada para fins
especulativos.
Foto: Marcelo Delgado (OUT/2004)

Fotografia 14 – Construção em cima das dunas destinada para fins


especulativos.
Foto: Marcelo Delgado (OUT/2004)

84
Fotografia 15 – Construção em cima das dunas destinada para fins
especulativos.
Fonte: Marcelo Delgado (OUT/2004)

Podemos observar, nas figuras 12, 13, 14 e 15, padrões de construção com,
um melhor acabamento relacionado a outras construções nas quais possui um
padrão mais simples, fato esse verificado na maioria das edificações destinadas
para fins especulativos. É válido chamar a atenção para o fato de que as edificações
correspondentes às figuras 12, 13 e 14 se encontram alugadas que segundo
entrevistas realizadas com os moradores, esses aluguéis se efetivaram por via de
imobiliárias.
Conforme foi citado acima, há uma diversidade tanto relacionada ao perfil das
construções, quanto aos seus fins. Além das construções destinadas para fins
especulativos encontra-se também em um número bem menor segundas
residências e construção mais simples destinadas a uma população com um poder
aquisitivo baixo.

85
Fotografia 16 – Construção destinada a moradores com perfil social de baixa renda.
Fonte: Marcelo Delgado (OUT/2004)

Fotografia 17 – Construção destinada a moradores com perfil social de baixa renda.


Fonte: Marcelo Delgado (OUT/2004)

86
Fotografia 18 – Segunda residência.
Fonte: Marcelo Delgado (OUT/2004)

Fotografia 19 – Construções sendo implantada sem licenciamento ambiental


Fonte: Marcelo Delgado (OUT/2004)

Quanto aos problemas verificados na APA de Jenipabu, os mesmos não se


limitam apenas à implantação de construções sem ordenamento e licenciamento
ambiental nas áreas frágeis de dunas, mas ocupam também áreas alagadiças de
importância para a recarga do aqüífero subterrâneo (vide figura 20).

87
Fotografia 20 – Área alagadiça de recarga do aqüífero subterrâneo41
Fonte: Marcelo Delgado (OUT/2004)

Dentre os principais impactos ambientais42 observados na APA de Jenipabu,


relacionado às construções irregulares encontram-se a retirada da vegetação e a
terraplanagem para efeito da urbanização, refletindo em um maior grau de
impermeabilização, destruição do relevo, com prejuízos a sua estabilidade costeira
bem como ao aqüífero subterrâneo devido à poluição provocada por lançamentos de
matéria orgânica e carga bacteriológica oriunda das residências, trazendo
conseqüências para o comprometimento de sua recarga.
Um outro grande problema detectado na APA relacionado ao crescimento
significativo e bastante desordenado das construções está associado ao fato de que
estas construções vêm impedindo parte do transporte eólico de sedimentos. A
principal conseqüência desse fato é um desequilíbrio entre a quantidade de material
transportado pela praia e a quantidade de material depositado pelas dunas43. Como
conseqüência tem-se início a um processo erosivo que já consumiu parte da faixa de
praia, avançando sobre residências, restaurantes e comércios. Moradores e
comerciantes antigos da área afirmam que houve uma diminuição significativa das
dunas bem como houve uma redução no que diz respeito ao tamanho da lagoa de

41
Áreas de recarga de aqüífero são regiões onde a precipitação abastece o aqüífero subterrâneo.
42
De acordo com a Resolução Conama 001/86, considera-se impacto ambiental qualquer alteração
das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de
matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: a saúde,
a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições
estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais. (CONAMA, 1986)
43
Vide figura 21.

88
Jenipabu. No entanto não existem estudos técnicos e científicos que comprovem o
comprometimento desse meio ambiente em função das construções irregulares.

Fotografia 21 – Gameleira com a raiz exposta. (tipo de vegetação


característica de área de dunas)
Fonte: Aureliano Nóbrega (JAN/2008)

No que diz respeito ao consumo e transformações da paisagem provocados


pelo Turismo, o IDEMA certifica que desde o ano de dois mil, tem procurado definir
diretrizes quanto à possibilidade de usos, tais como passeios de buggy, instalação
da empresa Dromedunas Turismo LTDA e a presença de comércio informal no local.
No entanto, nem sempre essas orientações têm sido cumpridas, tendo em vista que
os bugueiros continuavam circulando de forma desordenada.
No sentido de resolver essa problemática, no dia 12 de setembro de 2006, o
Governo do Estado do Rio Grande do Norte, no uso das atribuições que lhe
conferem o art. 64, V, última parte da Constituição Estadual e o art. 7°, parágrafo
único, da Lei Complementar Estadual n° 272, de 03 d e março de 2004, decreta em
seu Art. 1° que fica homologada a proposta constant e da Resolução n° 1, de 11 de
maio de 2006, do Conselho Estadual de Meio Ambiente (CONEMA) e, em
conseqüência, aprovada a norma que ordena e disciplina o uso de veículos
credenciados nas áreas das dunas de Jenipabu. Ainda nesse sentido a Resolução
do CONEMA 01/2006, em seu art. 6° resolve que o per curso, a ser utilizado pelos
condutores de veículos credenciados, deverá obedecer a uma trilha determinada

89
conforme a delimitação geográfica constante no mapa. (RIO GRANDE DO NORTE,
2006)
O artigo 6° em seu parágrafo primeiro define as det erminações que serão
estabelecidas para as trilhas, que são as seguintes: para balizar os percursos
autorizados serão utilizados bandeirolas de cor verde e, para os locais de
contemplação ou parada, serão utilizadas bandeirolas de cor azul. (RIO GRANDE
DO NORTE, 2006)
É responsabilidade do IDEMA a elaboração e execução da trilha de que trata
o caput deste artigo bem como a sua fiscalização. O artigo 9° deixa claro que o
empreendedor que auferir lucros da atividade de uso de veículos credenciados na
área das dunas de Jenipabu, bem como os bugueiros, por meio de sua Associação,
deverão apresentar Relatório de Controle Ambiental, elaborado de acordo com as
diretrizes estabelecidas pelo órgão ambiental competente, para o conhecimento dos
reais impactos causados por essa atividade ao meio ambiente, num prazo de um
ano, a contar a partir da publicação desta Resolução. O não-cumprimento do
disposto nesta Resolução sujeitará os infratores às penalidades administrativas e
penais porventura incidentes, sem prejuízo da obrigação de reparar o dano causado.
De acordo com a empresaria Cleide Batista (informação verbal)44, a qual faz
parte do Conselho Gestor da APA de Jenipabu, a partir do momento que a resolução
do CONEMA 01/2006 entrou em vigor, os bugueiros passaram a circular na área de
forma ordenada em concordância com o disposto pela Resolução em questão.
Quanto ao comércio informal houve uma expansão da área de dunas
ocupada, assim como uma maior variedade dos produtos a serem vendidos não se
limitando apenas a venda de roupas.

44
Entrevista informal realizada com a Sr. Cleide Batista em Natal, julho de 2007.

90
Fotografia 22 – Expansão do comércio informal descaracterizando a paisagem.
Fonte: Idiana Soares (ABR/2008)

Fotografia 23 – Expansão do comércio informal.


Fonte: Idiana Soares (ABR/2008)

91
Fotografia 24 – Variedade do comércio informal.
Fonte: Idiana Soares (ABR/2008)

Fotografia 25 – Variedade do comércio informal.


Fonte: Idiana Soares (ABR/2008)

A degradação das lagoas costeiras, como por exemplo, a lagoa de Jacumã


localizada no município de Ceará-Mirim (vide figura 26), considerada uma unidade

92
de conservação (UC)45 municipal, em específico uma Área de Proteção
Permanente46 (APP), também vem sendo um reflexo do uso intenso do setor
turístico, através da ocupação desordenada nas suas margens. Sendo constante o
lançamento de esgotos domésticos sem nenhum tratamento, bem como a prática
recreativa que se dá a partir da instalação de equipamentos destinados a atividade
sem obedecer as normas ambientais.

Fotografia 26 – Lagoa de Jacumã.


Fonte: Aureliano Nóbrega (JAN/2008)

As lagoas costeiras estão entre os mais férteis ecossistemas litorâneos,


servindo de abrigo e criadouro a numerosas espécies de interesse comercial.

45
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC – (Lei 9.805/2000) define Unidade de
Conservação como “Espaço Territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais,
com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo poder público, com objetivos de
conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias
adequadas de proteção” (IDEMA, 2004)

46 o o
O Código Florestal (Lei n 4.771, de 15/09/65, alterada pela Lei n 7.803, de 8/08/1993), no seu
o
Artigo 2 , define como Áreas de Proteção Permanente locais onde devem ser mantidas todas as
florestas e demais formas de vegetação natural. Estes locais foram definidos como de proteção
especial pois representam áreas frágeis ou estratégicas em termos de conservação ambiental, não
devendo ser modificadas para outros tipos de ocupação. A manutenção da vegetação natural nestes
locais contribui para o controle de processos erosivos e de assoreamento dos rios, para garantir
qualidade dos recursos d'água e mananciais e para a proteção da fauna local. (IDEMA, 2004)

93
Sabemos que o aumento da carga de nutrientes e contaminantes para um
determinado sistema, em específico, um sistema fechado como é o caso da lagoa
de Jacumã, pode alterar as condições físico-químicas da água, como o PH e
alcalinidade e pode alterar a disponibilidade de habitats para diversos componentes
da biodiversidade do sistema. Induz também ao crescimento excessivo das algas,
uma vez que estas encontram-se via, de regra, nos ecossistemas naturais limitados
pela disponibilidade de nutrientes.
Por se tratar de um sistema de corpo fechado, a lagoa possui um pequeno
potencial de diluição, tendo em vista que não há uma exportação do sistema de
cargas recebidas pelas diferentes fontes naturais e antrópicas de nutrientes e
contaminastes exatamente por não haver trocas do sistema.
Nesse sentido, o Plano Diretor do Município de Ceará-Mirim, em seu artigo
24, define as Zonas de Proteção Ambiental as quais deverão estar previstas em Lei
específica do Município, o código Ambiental do Meio Ambiente, devendo compor o
patrimônio ambiental da porção territorial do município, sendo a principal estratégia
de proteção ambiental a ser definida na Política Municipal de meio Ambiente, as
quais se classificam em quatro Zonas de Proteção Ambiental. No caso específico da
Lagoa de Jacumã, está inserida no art. 24 parágrafo 2°, na Zona de Proteção
Ambiental III, na qual constitui-se de áreas de domínio público ou privado,
destinadas à proteção integral dos recursos ambientais nela inseridos,
especialmente os ecossistemas lagunares, associados às formações dunares
móveis ou com vegetação de restinga fixadora e as demais formas de vegetação
natural de preservação permanente, onde não serão permitidas quaisquer atividades
modificadoras do meio ambiente natural ou atividades geradoras de sobre-pressão
antrópica. Vale ressaltar que a Lagoa de Jacumã bem como a área em que está
inserida, faz parte da Zona de Interesse Turístico e de Lazer, conforme o artigo 29
do Plano Diretor do referido município e, portanto, torna-se possível o
desenvolvimento de panos e programas de interesse turístico, bem como o uso
econômico da área para dar suporte ao desenvolvimento da atividade turística e de
lazer da população e dos turistas visitantes. (PREFEITURA MUNICIPAL DE CEARÁ-
MIRIM, 2007)
Para agravar ainda mais a situação, trata-se de uma área que, assim como as
demais presentes na área de estudo, está inserida no contexto de uma problemática

94
socioambiental crônica, onde a urgência cotidiana da sobrevivência sobrepõe a
consciência ambiental das comunidades que se utilizam da área para sobreviver.
Portanto, medidas mitigadoras como um trabalho de conscientização da
sustentabilidade da lagoa realizado pelo poder público local em conjunto com órgãos
que tenham relações direta ou indireta com a atividade turística e com o meio
ambiente, implantação de redes de estação de tratamento e um monitoramento
ambiental, nas quais haja uma descrição de forma contínua das condições
ambientais da lagoa de Jacumã.
Entende-se por monitoramento ambiental:

O processo de acompanhamento de indicadores ambientais que,


num mínimo necessário e pelas suas características, permitem
avaliar a saúde ambiental e suas variações ao longo do tempo e do
espaço, procurando identificar modificações ambientais
potencialmente ligadas a um dado estressor47 . Este procedimento
deve ser metódico e contínuo, no espaço e no tempo, enquanto o
estressor continuar presente, sendo esta a ferramenta principal na
determinação de medidas compensatórias e mitigadoras e na
reavaliação periódica dos planos de contigência. (IDEMA, 2004).

Conforme destaca Dias (2003), o monitoramento deve ser identificado como


um dos aspectos essenciais do desenvolvimento turístico sustentável,
particularmente nos ambientes naturais mais sensíveis. O monitoramento de acordo
com o Pnuma deve incluir a realização de avaliações permanentes, auditorias
ambientais e o exame contínuo dos graus de mudança.
No informe da Comissão sobre Desenvolvimento Sustentável, de 1999, no
capítulo II, item 27, há uma importante ponderação sobre a capacidade de carga em
relação ao desenvolvimento turístico. O documento aponta que não devem impor-se
limites em âmbito mundial e que as decisões devem basear-se em processos locais
nos quais participem diversas entidades. Pois cada lugar terá necessidades e
problemas diferentes. (DIAS, 2003)
Em suma, esta foi a realidade que esteve presente durante todo o processo
de desenvolvimento da atividade turística, contribuindo dessa forma para que a faixa
litorânea dos municípios de Extremoz e Ceará-Mirim apresentem um cenário

47
Estressor é qualquer ação, natural, antrópica ou de gênese desconhecida, que provoca ou pode,
potencialmente provocar modificações na estrutura e processos do ambiente costeiro. Tais
modificações ou variações são definidas como os impactos ambientais propriamente ditos.

95
preocupante no que diz respeito à degradação do meio ambiente litorâneo, isso
inclui a população local que nela habita.

96
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atividade turística nos países em desenvolvimento é tida pelos governos


como uma das principais alternativas para promover o desenvolvimento a nível
regional e local. Em geral, os argumentos utilizados nos discursos são sempre os
mesmos, tais como geração de emprego para a população, capacitação de divisas
para os municípios e os lucros para o setor de serviços.
No final da década de 1960, período conhecido como o “milagre brasileiro”, o
Governo Federal começa a definir uma política de Turismo para o país, com o
objetivo de gerar emprego e renda. No nordeste brasileiro a atividade turística
configurava-se, na década de 80, “[...] como um segmento econômico estratégico,
de modo que, a partir de então apoiados pelo Instituto Brasileiro de Turismo
(EMBRATUR), governadores de vários estados nordestinos empenharam-se por
desenvolver ações no sentido de impulsionar o turismo regional” (Fonseca, 2005).
Dentre as ações destacam-se a Política de Megaprojetos e o Prodetur – Programa
de Ação para o Desenvolvimento do Turismo do Nordeste. Ambas têm por objetivo
comum promover o desenvolvimento regional, minimizando desigualdades
econômicas inter-regionais, por meio do turismo.
No Rio Grande do Norte, a inserção das políticas públicas de Turismo foi
decisiva para o surgimento e projeção dessa atividade, tornando-a um segmento
econômico importante do Estado, sendo atualmente, um dos principais destinos
turísticos.
Essa nova função econômica provocou mudanças no espaço geográfico,
mais especificamente no espaço litorâneo, quer seja do ponto de vista morfológico,
quer seja do ponto de vista das funções e dos processos que se dão a partir da
dinâmica da atividade turística.
A partir do início da década de 80 e de uma forma mais dinâmica, década de
90, ano correspondente à política do PRODETUR, o turismo passou a constituir na
mais recente atividade econômica dos municípios de Extremoz e Ceará-Mirim,
nesses passou-se a desenvolver um processo de ocupação dos espaços litorâneos
através das instalações de equipamentos e serviços que propiciaram o consumo do
espaço turístico.

97
A ação a nível Estadual e em nível local investindo na ampliação de infra-
estrutura e na área de marketing, tem atraído investimentos do setor privado para a
inserção de equipamentos e serviços turísticos de pequeno, médio e grande porte
(implantação de complexos turísticos). O crescimento da atividade fez emergir uma
nova ordenação territorial na área em estudo que continuou obedecendo à
racionalidade da acumulação, do consumismo e principalmente do imediatismo.
As secretarias de Turismo dos municípios em estudo ressaltam o fato de que
aproximadamente 50% da população litorânea vêm sendo empregada
informalmente. O complexo turístico a ser implantado nos municípios de Extremoz e
Ceará-Mirim, Grand Natal Golf, é um exemplo desse fato; na justificativa de gerar
emprego e renda, questões relacionadas ao meio ambiente, como por exemplo,
avaliação ambiental estratégica dos impactos da obra, impactos causados ao
ecossistema pelos campos de golfe, questões relacionadas a capacidade de suporte
dos recursos hídricos, aumento dos resíduos sólidos e líquidos são relegadas a um
plano inferior.
Sabemos que o capitalismo não se desenvolve em todos os lugares da
mesma forma, na área em estudo percebe-se que a relação de produção se
desenvolve com uma lógica própria, não recebe apoio do poder público local, nem
dos gestores envolvidos com a atividade turística, tornando, portanto, uma relação
de produção que nem sempre se torna coerente com a essência da lógica capitalista
que pressupõe um modelo mais organizado no que diz respeito à produção de
renda.
O descaso político tem sido grande, desrespeitando a Constituição, o plano
diretor municipal e a própria lei orgânica. Além desse fato verificou-se a ausência de
ações articuladas entre os setores, instituições municipais e estaduais quanto às
propostas de desenvolvimento da atividade turística implicando em ações
superpostas e desencadeadas, não contribuindo dessa forma para os benefícios
sociais, ambientais e econômicos.
Os municípios de Extremoz e Ceará-Mirim possuem problemas que dificultam
o pleno desenvolvimento do turismo, como deficiência de infra-estrutura básica,
população com baixa renda, nível de escolaridade baixo trazendo implicações na
capacitação profissional para o trabalho e prestação de serviços para o turismo,
ausência de postos de saúde, postos policiais, uso inadequado do solo e
conseqüente degradação do meio ambiente e da paisagem. Todos esses fatores

98
nos levam a concluir que a forma como a atividade turística vem sendo conduzida
nos municípios ainda não vem contribuindo para um desenvolvimento turístico
sustentável.
A resolução desse impasse pode ser obtida através de um planejamento
consciente, que leve em consideração as relações sociais, a estrutura institucional
local, migrações, sazonalidades e as suas conseqüências na dinâmica local, a
geração de emprego e renda. Todos esses elementos levados em consideração
estão na base do planejamento estratégico.
Nesse sentido, Nogueira (2000, p. 78), entende que a Universidade
desempenha papel decisivo para o desenvolvimento da comunidade em que a
atividade está inserida. Através da realização de pesquisas aplicadas ao território.
Cabe a ela por intermédio da realização de pesquisas aplicadas aos seus territórios
e de seus planos de extensão, colaborar para o desenvolvimento, especialmente
pela realização de planejamentos de gestão integral para o desenvolvimento local,
formação de empreendedores e criação de empregos, desenvolvimento de linhas de
pesquisa aplicada, apoio aos programas locais, fomento e inovação; pelas
mudanças culturais e preservação do meio ambiente, cumprindo efetivamente seus
princípios fundamentais.
Como afirma Beni (2006), Política é um curso de ação para alcançar
objetivos, são as direções gerais para o planejamento e a gestão do turismo
baseadas em necessidades identificadas dentro de restrições de mercado e de
recursos. Portanto, se faz necessário que as políticas que levam a produção de
novos espaços e transformações da paisagem litorânea, considerem o uso e
ocupação do solo compatível com a proteção do meio ambiente.
Para que possa obter esse resultado, torna-se imprescindível, como já foi
mencionado em capítulos anteriores que o planejamento deve apoiar-se na
participação dos vários agentes envolvidos com a atividade, onde essa ação
interativa responderá certamente em um esforço significativo na construção de um
modelo de desenvolvimento sustentável, possibilitando superar paulatinamente a
reprodução da pobreza e da exclusão social provocadas em função do modelo de
desenvolvimento atual, onde essa nova ordenação se traduza em um novo modelo
de desenvolvimento, onde a qualidade de vida seja fator fundamental. Diante do
exposto permanece a indagação: quais as perspectivas futuras para o turismo no
litoral dos municípios de Extremoz e Ceará-Mirim?.

99
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Morais Junqueira. 3. ed. São Paulo: Pioneira, 1991.

105
APÊNDICES

106
APÊNDICE A – Secretaria do Meio Ambiente

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES
ROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
MESTRADO EM GEOGRAFIA

GEOGRAFIA, TURISMO E MEIO AMBIENTE: UMA NOVA FACE DO LITORAL DOS MUNICÍPIOS
DE EXTREMOZ E CEARÁ-MIRIM/RN

Pesquisadora: Lidyanne Kaline Sousa do Nascimento


Orientador: Elias Nunes

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Localidade:
Atores: Secretaria do Meio Ambiente

1: Dados pessoais:

 Nome do entrevistado

 Tempo que atua na secretaria

 Profissão/ ocupação

 Idade

 Escolaridade

 Nacionalidade

 Naturalidade

2: Percepção Ambiental e Turística do Município.

1. Envolvimento (direto ou indireto) com a atividade turística.

Sim ( ) Não ( )

2. Qual a dimensão e abrangência da atividade turística?

Grande ( ) Média ( ) Pequena ( )

3. Aspectos comparativos dos momentos anteriores e posteriores a interferência da atividade


turística.

Sim ( ) Não ( )

4. Atribuição das causas e efeitos das transformações espaciais e ambientais da localidade.

Sim ( ) Não ( )

107
5. Existem impactos ambientais provocados pelo turismo na localidade?

Sim ( ) Não ( )

Quais:

6. Existem planos e programas de conservação e preservação de áreas naturais?

Sim ( ) Não ( )

7. Existem planos e programas que viabilizem investimentos por parte dos empreendedores nas
medidas preservacionistas, afim de manter a qualidade e conseqüente atratividade dos
recursos naturais?

Sim ( ) Não ( )

8. A renda da atividade turística, tanto indireta (impostos) como direta (taxas), proporciona as
condições financeiras necessárias para a implantação de outras medidas preservacionistas

Sim ( ) Não ( )

9. O que tem sido feito para amenizar as implicações negativas em períodos de alta estação, no
consumo e na produção de resíduos sólidos?

10. Há envolvimento com as secretarias do Estado?

Sim ( ) Não ( )

11. Os meios de hospedagem indicados agem de forma a proteger o meio ambiente?

Sim ( ) Não ( )

OBSERVAÇÕES DO ENTREVISTADOR:

108
APÊNDICE B – Secretaria de Turismo

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES
ROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
MESTRADO EM GEOGRAFIA

GEOGRAFIA, TURISMO E MEIO AMBIENTE: UMA NOVA FACE DO LITORAL DOS MUNICÍPIOS
DE EXTREMOZ E CEARÁ-MIRIM/RN

Pesquisadora: Lidyanne Kaline Sousa do Nascimento


Orientador: Elias Nunes

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Localidade:
Atores: Secretaria de Turismo

1: Dados pessoais:

 Nome do entrevistado

 Tempo que atua na secretaria

 Profissão/ ocupação

 Idade

 Escolaridade

 Nacionalidade

 Naturalidade

2: Percepção Ambiental e Turística do Município.

1. Envolvimento (direto ou indireto) com a atividade turística.

Sim ( ) Não ( )

2. Aspectos comparativos dos momentos anteriores e posteriores a interferência da atividade


turística.

Sim ( ) Não ( )

3. Preferências a gerentes, administradores e funcionários dos serviços turísticos originários da


localidade que, conhecendo a área, poderão fornecer informações confiáveis aos turistas?

Sim ( ) Não ( )

4. Os meios de hospedagem agem de forma a proteger o meio ambiente, tais como separação
e coleta seletiva do lixo, sistema de tratamento de esgoto.

Sim ( ) Não ( )

109
5. Capacitação aos funcionários dos serviços turísticos em idiomas estrangeiros, afim de melhor
atender clientes de outros países.

Sim ( ) Não ( )

6. Atribuição das causas e efeitos das transformações espaciais e ambientais da localidade.

Sim ( ) Não ( )

7. Existem impactos sociais e econômicos provocados pelo turismo na localidade?

Sim ( ) Não ( )

Quais:

8. Criação de uma política de turismo definida?

Sim ( ) Não ( )

9. Presta atenção aos desejos, às necessidades, às queixas e aos problemas dos turistas ,
levando-os ao conhecimento de operadores turísticos, hoteleiros, comunidades e órgãos
públicos do setor?

Sim ( ) Não ( )

OBSERVAÇÕES DO ENTREVISTADOR:

110
APÊNDICE C– Comerciantes antigos e associações

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES
ROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
MESTRADO EM GEOGRAFIA

GEOGRAFIA, TURISMO E MEIO AMBIENTE: UMA NOVA FACE DO LITORAL DOS MUNICÍPIOS
DE EXTREMOZ E CEARÁ-MIRIM/RN

Pesquisadora: Lidyanne Kaline Sousa do Nascimento


Orientador: Elias Nunes

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Localidade:
Atores: Comerciantes antigos e associações

1: Dados pessoais:

 Nome do entrevistado

 Tempo que atua na secretaria

 Profissão/ ocupação

 Idade

 Escolaridade

 Nacionalidade

 Naturalidade

2: Percepção Ambiental e Turística do Município.

1. Envolvimento (direto ou indireto) com a atividade turística.

Sim ( ) Não ( )

2. Parente próximo envolvido com a atividade turística?

Sim ( ) Não ( )

3. Qual a dimensão e abrangência da atividade turística?

Grande ( ) Média ( ) Pequena ( )

4. Percepção acerca do reconhecimento da história e cultura locais ?

Sim ( ) Não ( )

111
5. Conhecimento das transformações na dinâmica sócio-espacial e cultural da localidade a partir
da atividade turística: cotidiano, costumes, manifestações culturais, paisagem, profissões e
economia.

Sim ( ) Não ( )

6. Aspectos comparativos dos momentos anteriores e posteriores a interferência da atividade


turística.

Sim ( ) Não ( )

7. Impactos sociais e econômicos provocados pelo turismo na localidade

Sim ( ) Não ( )

Em caso afirmativo, quais?

8. Criação de política de valorização cultural, valorização do artesanato, do patrimônio histórico.

Sim ( ) Não ( )

9. Existe aceitação da atividade turística pela comunidade?

Sim ( ) Não ( )

1. Localidade e empreendimento

 Ramo da atividade

 Dimensão do empreendimento

 O porquê da escolha da localidade para o desenvolvimento do negócio

 Perspectiva sobre o turismo na localidade.

OBSERVAÇÕES DO ENTREVISTADOR:

112
APÊNDICE D – Comunidade Local

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
MESTRADO EM GEOGRAFIA

GEOGRAFIA, TURISMO E MEIO AMBIENTE: UMA NOVA FACE DO LITORAL DOS MUNICÍPIOS
DE EXTREMOZ E CEARÁ-MIRIM/RN

Pesquisadora: Lidyanne Kaline Sousa do Nascimento


Orientador: Elias Nunes

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Localidade:
Atores: Comunidade Local

1: Dados pessoais:

 Nome do entrevistado

 Tempo que atua na secretaria

 Profissão/ ocupação

 Idade

 Escolaridade

 Nacionalidade

 Naturalidade

2: Percepção Ambiental e Turística do Município.

1. Envolvimento (direto ou indireto) com a atividade turística.

Sim ( ) Não ( )

2. Parente próximo envolvido com a atividade turística?

Sim ( ) Não ( )

3. Qual a dimensão e abrangência da atividade turística?

Grande ( ) Média ( ) Pequena ( )

4. Percepção acerca do reconhecimento da história e cultura locais pela comunidade local?

Sim ( ) Não ( )

113
5. Conhecimento das transformações na dinâmica sócio-espacial e cultural da localidade a partir
da atividade turística: cotidiano, costumes, manifestações culturais, paisagem, profissões e
economia.

Sim ( ) Não ( )

6. Aspectos comparativos dos momentos anteriores e posteriores a interferência da atividade


turística.

Sim ( ) Não ( )

7. Conhecimento das transformações no desenho espacial a partir da atividade turística e suas


repercussões na dinâmica sócio-cultural.

Sim ( ) Não ( )

8. Existem impactos ambientais e sociais provocados pelo turismo na localidade?

Sim ( ) Não ( )

Quais:

9. Há aceitação da atividade turística pela comunidade?

Sim ( ) Não ( )

114

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