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Desafios e Oportunidades da Mecanização Agrícola e Agricultura de Precisão

para o Agronegócio Brasileiro.


Evandro Chartuni Mantovani, PhD.
Pesquisador A
Mecanização Agrícola
Embrapa Milho e Sorgo
evandro.mantovani@embrapa.br
Introdução

A população mundial de 7,2 bilhões de Ainda de acordo com ONU (2006), a evolução
pessoas chegará a 9,6 bilhões em 2050, da população mundial tende a ser maior nas
apontou relatório da ONU (14, 2013). Ele Zonas Urbanas, em detrimento às Zonas
prevê que o crescimento será, Rurais, em uma proporção de 80 para 20%,
principalmente, nos países em tanto nos países em desenvolvimento, quanto
desenvolvimento. Considerando a
nos países desenvolvidos. Sendo assim, a
porcentagem (%) do crescimento
populacional global atual, a população mecanização agrícola se tornará uma
mundial deverá crescer mais de 30 por necessidade imprescindível para o sistema de
cento, resultando em mais 2,4 bilhões de produção das culturas.
pessoas para alimentar, como mostra a
Figura 1. Figura 2. Evolução da população rural e
urbana no Mundo.
Figura 1. Evolução da população mundial
.

População urbana e rural


Fonte: UN World urbanization prospects:
The 2012 revision
Source: UN World urbanization prospects: The 2012 revision

Diante desse cenário, entende-se que as


regiões com grandes extensões de áreas
plantadas necessitam de uma capacidade
operacional maior de seus equipamentos,
visando atender cronograma pré-
estabelecido de cada cultura e permitir
Fonte: Informe da ONU sobre população,
2010./UNFPA.
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uma maior quantidade de hectares trabalhados, principalmente na safrinha.

De acordo com Centeno (2012), a possibilidade de explorar duas safras anualmente foi
um dos maiores avanços da agricultura brasileira, entretanto, somente 40% da área
potencial estava sendo plantada. A limitação principal era a baixa capacidade
operacional (máquinas, mão de obra, logística) para plantar a segunda safra simultânea
com a colheita da primeira safra.

O uso de Piloto Automático em tratores supriu esta dificuldade e aumentou a


capacidade de trabalho da frota para trabalhar 24h de uso, permitindo, assim, atender ao
potencial da safrinha e, em muitos lugares, esta passou a ser a maior safra,
ultrapassando a safra de milho de verão.

Estudos recentes de Godfray et al.(2010), sugerem que o Mundo vai precisar de 70 a


100% a mais de alimentos em 2050, para alimentar 9 bilhões de pessoas. Alimentar a
população mundial durante as próximas décadas será um grande desafio e vai demandar
uma nova onda de conhecimentos, com novas estratégias de cooperação e combinação
de esforços. Neste contexto, devido à falta de espaço nos países, haverá necessidade de
uma redução na “expansão horizontal” (área) e um fortalecimento da “expansão
vertical” (maior eficiência), como mostra a Figura 2.

450
400
Disponível
350
300
milhões ha

Ocupada
250
200
150
100
50
0

Disponibilidade de área
Source: FAO

Figura 2. Regiões mundiais em condições de aumentar a produção. Fonte: FAO, 2006

De acordo com Lopes (2014) haverá bons desafios para a pesquisa agropecuária, para
máquinas e implementos agrícolas, fertilizantes, defensivos e sementes, porque estamos
aumentando a produção anualmente, mas ainda com uma dependência externa com
insumos, principalmente fertilizantes.

Rosegrant et al. (2014), estudando um conjunto de 14 (quatorze) tecnologias para


aumento de produtividade, considerou a Agricultura de Precisão como uma delas, para
a otimização de insumos agrícolas assistido por GPS, além de práticas de gestão de

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tecnologia simples que visam controlar todos os parâmetros do campo, desde o
fornecimento de insumos ao espaçamento de plantas e ao nível da água.

No modelo de simulação de culturas, desenvolvido pelo IFPRI (2014), apresentam-se


mudanças na produtividade da cultura pela adoção total de tecnologias agrícolas
alternativas, em 2050, em comparação com um cenário de linha de base. No caso do
Brasil, a utilização da Agricultura de Precisão no modelo, explica 17,6% de aumento na
produtividade.

Em um artigo do jornalista McCready, do NZHerald, 2016, destaca o ganhador do


prêmio de Fazendeiro do Ano, na InfoAg 2016, Craige MacKenzie, da Nova Zelândia, a
eficiência no uso da Agricultura de Precisão: “as culturas e produtos de alto valor da
Nova Zelândia exigem uso preciso de insumos para manter a nossa imagem
internacional e vantagem comercial. Nossas fazendas se tornaram mais eficientes e
estão usando menos insumos para produzir a mesma quantidade ou maior. (...) a AP é o
caminho a seguir e que nós precisamos para responder aos desafios da sustentabilidade
ambiental e financeira.”

A Mecanização Agrícola x Automação x Agricultura de Precisão :

Ao final da década de 80 e início de 90, começou um novo ciclo de tecnologias


aplicadas à agricultura, principalmente para os equipamentos agrícolas, pelas
possibilidades e alternativas para gerenciar, com precisão, os campos de produção. De
certo modo, a automação, já em uso naquela época, facilitava o trabalho dos operadores
de máquinas agrícolas e a área técnica na tomada de decisão. Mas, com a
disponibilização do GPS, no final da década de 80 (Taylor, J. e Whelan, Brett, 2010), e
com a melhoria da precisão para localização e navegação dos veículos, provocou-se
uma onda de atividades, estabelecendo a Agricultura de Precisão. Pelos avanços
tecnológicos já implementados nos equipamentos agrícolas e com a utilização de GPS
com maior precisão (< 2,5cm), com painéis de controle das atividades em curso, ocorre
hoje o seu melhor momento, pela facilidade de programação dos sensores/atuadores e a
visualização das áreas de trabalho.
Apesar dos avanços alcançados pela Agricultura de Precisão na América Latina e no
mundo, ainda continuamos com setores conservadores, que não aceitam esta tecnologia
pela dificuldade de utilizar a eletrônica embarcada e sua programação, além de não
entenderem que a utilização do conceito é mais importante do que a instrumentação
utilizada nos equipamentos agrícolas. Assim, como os equipamentos agrícolas tem a sua
adequação de utilização de forma econômica, nas diferentes escalas de produção, muito
se pode fazer utilizando-se o conceito da Agricultura de Precisão, com ajuda de um
GPS, principalmente para as propriedades pequenas e de médio porte. A mecanização
total da propriedade agrícola, com sistemas avançados para monitoramento de safra é
desejável, mas se há restrição, de acordo com o tamanho da escala de produção, não
será inviabilizada a utilização da Agricultura de Precisão , porque a aplicação do
conceito é mais importante.

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Atualmente, percebe-se que o maior desafio que a área técnica agronômica vem
enfrentando está na Etapa 2 do ciclo da Agricultura de Precisão, ou seja, o de
transformar dados coletados na Etapa 1, Figura 3, em informações, visando a avaliação
e interpretação dos mapas georreferenciados e as recomendações necessárias para a
aplicação de insumos.

+estrutura +contexto +experiência

Dado Informação Conhecimento Sabedoria

• Dado é uma informação desestruturada.

• Processo de estruturação agrega valor aos dados e os transforma em informações.

• Conhecimento é visto como um acúmulo de diversas informações, inseridas em um


contexto, que define sua aplicabilidade.

• Em síntese, conhecimento é um processo cognitivo, que necessita da informação como


matéria-prima para desencadeá-lo.
Fonte: BARAN, U. Helping retailers generate customer relationships. ICL System Journal, v. 11, n. 2, jan. 1997.

Figura 3. Estrutura organizacional para transformação de dados obtidos em qualquer


atividade, em informação e conhecimento de uso técnico.

Portanto, grande parte dos problemas com a Agricultura de Precisão encontra-se na


dificuldade com as técnicas de mapeamento e conhecimento agronômico adequado para
análise e interpretação dos dados. Diante disso, desde 1999, quando estes equipamentos
começaram a ser comercializados na América Latina, muitos dos mapas de áreas de
produção de várias propriedades agrícolas, ficaram subutilizados e armazenados nos
computadores das fazendas, aguardando análise das áreas estudadas. Com certeza, o
conservadorismo e a dificuldade da área técnica em lidar com estas novas tecnologias
foram os principais fatores responsáveis pelo pouco avanço do conhecimento e
priorização somente da agricultura convencional.
Percebe-se então, ao longo destes períodos, a necessidade urgente de investimentos em
treinamento nas universidades, cursos técnicos e em mão de obra especializada, com as
novas técnicas de mapeamento, utilizando-se do Sistema de Informações Geográfica-
GIS e de Geoestatística, além do conhecimento para programar os sensores e atuadores
dos equipamentos agrícolas.
A Etapa 3 de aplicação de insumos é dependente da Etapa 2, para programação dos
equipamentos com a recomendação da semente e da quantidade e tipo de fertilizante a
serem aplicados em cada área. Em seguida, o ciclo da Agricultura de Precisão
continua, com o monitoramento da cultura ao longo do seu desenvolvimento, através de
fotografias aéreas, imagens de satélite ou drones, avaliando se há deficiência de
nitrogênio e água nas plantas ou outras variáveis (inseto, doenças ou plantas daninhas)
afetando a produtividade dos grãos. Estes dados são novamente avaliados nos novos
mapas de resultados alcançados, para saber se as recomendações propostas foram
adequadas, ou não, e quais foram as áreas que precisam de maior atenção para uma
nova recomendação. As Etapas 1 e 3 são mais fáceis de utilização porque a indústria

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mantém os seus operadores e técnicos bem treinados, para regular e programar os
equipamentos, com eletrônica embarcada. Portanto, todas as recomendações técnicas
geradas pela pesquisa e pelas universidades devem ser utilizadas para as regulagens dos
equipamentos de plantio, aplicadores de herbicidas e de fertilizantes e, depois, medidas
pelos sensores de produtividade da cultura instalados nos equipamentos de colheita.
Naturalmente que cada equipamento tem a sua particularidade de regulagem e,
constantemente, os ajustes são necessários e devem ser realizados conforme a
recomendação do seu manual. Caso estes ajustes forem inadequados durante a
programação e nas regulagens, na Etapa 3, as consequências irão refletir diretamente
nos campos de produção pela falta ou excesso dos insumos aplicados.
Atualmente, observa-se uma melhoria substancial na utilização da Agricultura de
Precisão nas áreas de produção, com a participação de técnicos com formação recente,
que dominam estas novas tecnologias, e através da quebra de paradigma pelo maior
conhecimento em automação agropecuária e interpretação de dados georreferenciados
em mapas.

Tudo isso tem sido possível com a participação de várias universidades, através da
oferta de cursos, tanto na graduação, como na pós-graduação, em Agricultura de
Precisão, permitindo aos estudantes um maior conhecimento para uso destas
tecnologias. Entretanto, é preciso cautela e complementação da formação destes novos
especialistas com uma noção conjunta do sistema de produção, para entender melhor
que, em muitos casos, é preciso integrar os conhecimentos agronômicos e atividades
conexas, visando soluções economicamente viáveis.

Para ilustrar bem a necessidade de uma visão conjunta do sistema de produção, as


Figuras 4 e 5, com dados da FAEG e SEAB, de 2015, mostram as operações com
máquinas agrícolas em Goiás e no Paraná, em quatro sistemas de produção (milho
convencional, milho transgênico, plantio convencional e plantio direto). Desta forma, ao
visualizar todos os componentes do custo de produção, pode-se avaliar isoladamente o
componente “máquinas”, que se apresenta com uma variação de 17% a 24%, na
composição total de custos, indicando a importância de se buscar estratégias para se
otimizar este componente e reduzir despesas.

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Figura 4. Custos de Produção em dois sistemas de produção, em Goiás, no ano de 2015,
com os respectivos itens componentes. FAEG, 2015

Figura 5. Custos de Produção em dois sistemas de produção, no Paraná, no ano de 2015,


com os respectivos itens componentes. SEAB, 2015

A grande variação dos custos operacionais efetivos dos sistemas de produção


(R$2.019,00 a R$3.427,21) pode impactar significativamente a rentabilidade da

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atividade, o que justifica a necessidade de se trabalhar dentro de valores técnicos
aceitáveis, indicados nos manuais de operação, das diferentes máquinas agrícolas. Desta
maneira, é possível monitorar e ajustar o desempenho do conjunto, máquina e
implemento, para ficar compatível com a operação que está sendo executada, baseado
na recomendação técnica, de modo a contribuir para a redução dos custos operacionais.

Nas pequenas propriedades os agricultores, de certa forma, já praticam Agricultura de


Precisão há mais tempo e muitas vezes sem saber, pois com um conhecimento mais
profundo de suas áreas, sabem como manejá-las adequadamente, ao aplicar insumos,
sementes melhoradas e fertilizantes, além da correção do solo, com calcário, à taxa
variada. Naturalmente, que a utilização de um GPS poderia auxiliar bastante o agricultor
na marcação e mapeamentos de suas atividades, objetivando manejo adequado das áreas
de produção.

Evolução da Agricultura de Precisão


A evolução da Agricultura de Precisão no mundo está intimamente ligada à melhoria da
precisão e tecnologia dos GPS, que de 1998 para os dias atuais, passou de 1 a 2 metros
para menos de 2,5cm. Permitiu, assim, a automação das operações agrícolas, onde
tratores com piloto automático são programados para caminhamento em uma linha de
plantio de forma precisa, sem a necessidade do operador. Na realidade, esta evolução
tecnológica possibilitou o uso da estação autônoma de trabalho, responsável pela gestão
dos equipamentos agrícolas à distância, utilizados na exploração agrícola.
A seguir, serão apresentados vários exemplos de evolução que já estão em atividade na
agricultura mundial:

1. Gerenciamento da Produção: através dos mapas georreferenciados de produção


mantem-se dados temporais das diferentes áreas de produção, que facilitam
tomadas de decisão para aplicação e correção dos insumos aplicados. Ao mesmo
tempo, permitem visualização dos problemas, onde a produtividade de
determinadas áreas diminui substancialmente, necessitando avaliação “in loco”
de especialistas, com amostragem de solo e foliar. Esta avaliação pode ser
realizada facilmente, com a utilização dos mapas georreferenciados e do GPS
como navegador, na localização das áreas problemas pelo especialista, que
através de um levantamento criterioso, poderá recomendar ao agricultor
soluções em tempo real ou para o próximo ano.

2. Controle Automático nas Aplicações de Químicos: os aplicadores de químicos


para controle fitossanitário estão sendo equipados com controladores, que tanto

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podem programar a aplicação para uma quantidade fixa, em cada campo, como
aplicar à taxa variada. Além disso, sistemas mais avançados, equipados com
sensores de reconhecimento de plantas daninhas de folha larga ou estreita,
indicam o tipo de herbicida e a quantidade a ser aplicada, em tempo real,
facilitando a tomada de decisão e evitando excessos e gastos desnecessários.
Outro ponto a destacar é a precisão das aplicações, evitando sobreposição ou
falhas nas linhas complementares, através da localização geográfica das linhas e
indicação do ponto de caminhamento dos tratores com o aplicador, para ter o
recobrimento certo, inclusive quando cruzam as cabeceiras.

3. Maior Eficiência no Uso de Máquinas e Implementos: os equipamentos


agrícolas têm a sua eficiência previamente estabelecida de acordo com largura
do implemento, velocidade de trabalho e regulada por um fator de campo, em %,
que é medida durante os trabalhos de campo. Um equipamento agrícola tem a
sua avaliação de trabalho realizada, somente quando o mesmo está em execução
de uma determinada tarefa, pois fatores como paradas para descanso do
operador, viradas no final de cada linha, alimentação de combustível, dentre
outros, são considerados desperdícios e perda de eficiência. A viabilidade de
sistemas operados de forma autônoma reduz consideravelmente as perdas e
permite uma quantidade maior de horas de trabalho. Estes sistemas autônomos
são programados e operados por sistemas do tipo posicionamento cinemático em
tempo real-RTK , Piloto automático e GPS, que executam funções com o trator e
cumprem as tarefas de forma precisa. De acordo com
Deere & Company(2016), o Piloto Automático Universal é um sistema de
direcionamento automático via satélite, totalmente intercambiável entre diversos
equipamentos, tratores, pulverizadores e mesmo colhedoras. Este sistema
direciona automaticamente o equipamento sobre uma linha planejada de
aplicação através do acionamento do volante de máquina. A base RTK funciona
parada em um ponto com alimentação de bateria e envia um sinal de correção do
erro GPS para o equipamento trabalhando em campo. A comunicação entre a
base e o veículo em campo é realizada por sinal de rádio, não havendo limites de
equipamentos que recebem o sinal de correção ao redor da base. O GPS de alta
precisão RTK, trabalhando em conjunto com Piloto Automático proporciona
uma precisão de 2,5 cm em 95% do tempo, podendo chegar até 1 cm.

4. Otimização do Uso de Insumos: para a aplicação de prescrições nitrogenadas


espacialmente variadas existem duas aproximações, segundo León, (2014). Uma
primeira metodologia para esta aplicação está baseada nas propriedades dos
cultivos anteriores, tais como a distribuição dos índices vegetativos e dos
rendimentos das últimas safras nas respectivas áreas. Uma segunda
aproximação desenvolvida para a fertilização nitrogenada está baseada na
medição remota e aplicação em tempo real em função do estágio atual de
desenvolvimento da cultura. Neste caso, a quantidade de nitrogênio a ser
aplicada para a cultura do milho é feita pela recomendação técnica e reavaliada
com a passagem do sensor de nitrogênio durante a fase de crescimento do milho,
de maior demanda para a cultura, de 5 a 7 folhas. Através dos sensores ativos

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mede-se o índice de biomassa junto com a informação básica do dossel da
planta, o que pode desenvolver a prescrição da quantidade a ser nitrogenada.
Sensores e GPS são montados em uma barra à frente do aplicador de N, que
coletam os dados da cultura, utilizando modelos matemáticos específicos que
calculam e enviam informações aos controladores para estabelecimentos das
doses de aplicação, nas diferentes áreas da cultura. Como os dados são
georreferenciados a posição geográfica de cada planta é marcada pelo GPS,
junto com a recomendação de N, que em seguida é distribuída em tempo real.

5. Gerenciamento de Frota: o monitoramento de máquinas agrícolas à distância é


realizado por telemetria com transmissão automática de dados, via sinal Wi-Fi,
Bluetooth ou sinal de telefonia celular. Permite o monitoramento do trabalho a
partir da sede da Fazenda, em tempo real, das atividades que estão sendo
executadas no campo, permitindo a visualização dos dados da operação em
questão de eficiência operacional, podendo, inclusive, paralisar as operações no
caso de irregularidade ou envio de alertas por mensagens para correção de
determinada operação. De acordo com Aurélio, 2016, além de monitorar a
máquina, o sistema pode gerar vários tipos de relatórios que permitem
identificar, quantificar e endereçar problemas de logística e operação. Este novo
conceito traz ganhos reais em eficiência operacional da frota de máquinas
agrícolas e se junta às outras técnicas e ferramentas de Agricultura de Precisão
já difundidas pela indústria. Com mais estes recursos, o produtor rural avança
com boas perspectivas, seguindo o exemplo de nações desenvolvidas que
utilizam tecnologia em larga escala na agricultura.

6. Análises do solo por métodos mais rápidos e de baixo custo: os métodos


convencionais de análise de solo utilizados para análise de fertilidade, textura e
compactação do solo são feitos com amostragens manuais, que demandam muito
tempo para coleta de amostra, análise de laboratório e são caros, para atender às
propriedades agrícolas. Além disso, quando se pensa em áreas de médio e
grande porte, fica difícil uma avaliação mais detalhada dos locais de produção,
com muitas amostras, dentro do período disponível para que as informações
possam ser utilizadas na solução e manutenção da produção agrícola. Os
avanços tecnológicos recentes, não só trouxeram inovações nos aspectos de
técnicas de amostragem, como também métodos que utilizam sensores óticos,
elétricos, mecânicos e de coleta de amostra em equipamentos mecanizados, com
o GPS, que permitiram monitorar uma grande quantidade de áreas de produção,
com mapas georreferenciados, de forma mais rápida, precisa, menos cansativa e
a um custo mais baixo.
Como exemplo destes novos métodos para mapeamento da textura do solo, a
Condutividade Elétrica - CE do solo tem chamado a atenção, principalmente, por
ser obtida através de métodos eficientes e rápidos, como é o caso dos sensores de
contato direto com o solo (Celinski et al., 2009). A condutividade elétrica (CE),
tendo como meio condutor o próprio solo, pode ser medida com equipamentos
relativamente simples e com grande eficiência operacional a um custo
relativamente baixo, se comparado com outras técnicas (Rabello, 2008). Os
resultados alcançados por Molin, 2001, nos estudos realizados utilizando um
equipamento comercial, mostraram que a CE responde às variações na textura
do solo e nos seus teores de umidade, indicando potencial para ser utilizada na

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obtenção de dados para a caracterização física dos solos como uma solução de
baixo custo.

7. Drones para mapeamento, visando o gerenciamento de plantios nas mais


variadas culturas e de supervisão, durante o crescimento da cultura: em razão
das dificuldades e custos das imagens de satélite e aéreas, principalmente por
problemas com nuvens e periodicidade, para acompanhamento da cultura em
desenvolvimento, os Drones, também conhecidos como veículos aéreos não
tripulados (vants), aparecem como uma excelente alternativa e ganham espaço
na agricultura, de uma maneira geral. Além disso, há disponibilidade e facilidade
de manuseio para o monitoramento de áreas de produção, para acompanhamento
e correção de problemas fitossanitários, deficiência de nutrientes ou água.
Naturalmente que a maioria dos itens citados anteriormente, quando avaliados
no campo, durante um determinado período de desenvolvimento da cultura, no
caso da cultura do milho até 70 dias, poderá recuperar produtividade da cultura,
evitando que a correção ocorra depois, com os resultados após a colheita.
Portanto, o monitoramento da cultura, em tempo real, é de suma importância
para se conhecer as dificuldades que estão ocorrendo no campo, permitindo que
um especialista possa avaliar “in loco” e, ao mesmo tempo, sugerir as devidas
recomendações, visando a correção e recuperação da produtividade durante o
ano agrícola. Há a uma série de opções de Drones no mercado mundial, com
facilidade de manuseio, uso de sensores e câmeras com infravermelho e alta
resolução de fotos e vídeo, de baixo custo e utilizando software para análise das
imagens coletadas, executando diversas funções na fazenda.

Limitações para adoção:


Como já mencionado anteriormente, o conceito de Agricultura de Precisão pode ser
aplicado em diferentes escalas de produção, na pequena, média e grande propriedade,
sem limitações de adoção. Entretanto, a utilização de sistemas mecanizados com
ferramentas de Agricultura de Precisão, sensores, atuadores, etc, deve ser avaliada
cuidadosamente, para se conhecer a viabilidade econômica, em seu custo de
implantação. Naturalmente, esta limitação se prende ao fato que cada sistema de
produção tem o nível de tecnologia e respectivos custos, que devem ser avaliados, em
função do valor da cultura e tamanho da área a ser explorada. A adequação e os ajustes
para o dimensionamento econômico de máquinas e equipamentos agrícolas, visando
atender ao calendário da cultura da região, podem auxiliar todo o conjunto de
tecnologias envolvidas no atendimento ao calendário agrícola do sistema de produção.
Além disso, ao adicionar as ferramentas de Agricultura de Precisão em seus
equipamentos agrícolas, para uso na sua propriedade, o agricultor precisa estar ciente
que está adquirindo um sistema de gerenciamento econômico do sistema de produção.
Portanto, precisa estar preparado para utilizar a Agricultura de Precisão de forma mais
eficiente possível, para obter retornos econômicos, conhecer as causas sobre redução de

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produtividade e minimizar os danos ambientais, avaliando as diferentes recomendações
que vem utilizando em sua propriedade, para a exploração agrícola.

Considerando a grande quantidade de pequenas propriedades na região, a utilização de


um GPS de uso comum nas comunidades, para o mapeamento das glebas de produção e
a marcação de características importantes, como tipo de solo, tipo de planta daninha e
áreas compactadas, pode ser uma alternativa mais barata a ajudá-los na tomada de
decisão. Ao mapearem anualmente as áreas, incluindo as respectivas produtividades das
culturas, em diferentes cores, podem estabelecer áreas distintas de manejo, em mapas de
variabilidade temporal e de uso. Considerando que há uma maior facilidade de manejo,
pelo tamanho das áreas, as amostragens de solo deverão ser orientadas a utilizar esta
divisão de áreas no mapa, na coleta das amostras e realizar as recomendações de
insumos, baseadas na capacidade de produção de cada subárea. Desta forma, pode-se
afirmar que, ainda que haja limitações para utilização das ferramentas de Agricultura de
Precisão na pequena propriedade, é possível obter o mesmo êxito das médias e grandes
propriedades, utilizando o conceito e fazendo manejo de sítio específico. Portanto,
muito se pode fazer com a Agricultura de Precisão , obtendo resultados positivos em
qualquer escala de produção, ressaltando que a viabilidade ou limitação para uso
depende muito de como se ajusta o seu sistema de produção, para otimizar o uso de
tecnologia, visado uma gestão econômica e sustentável.

Portanto, o grande fator de êxito para uso da Agricultura de Precisão, em qualquer


escala de produção, será a capacidade técnica de transformar dados coletados nas áreas
de produção em informações e transformá-los em conhecimento para a tomada de
decisão na propriedade agrícola.

Tendências no agronegócio:

Em atenção ao que vem acontecendo no cenário mundial, principalmente, nos Estados


Unidos, a Conferência InfoAg, desde 1994, tem sido o principal evento para discussão e
avanço da Agricultura de Precisão, com a participação de profissionais de agricultura
apresentando uma ampla gama de oportunidades educacionais e de networking.

Em um artigo apresentado na InfoAg 2014, pela CropLife, intitulado “Finding The


Payback” (Encontrando retornos financeiros), de Cliff Snyder, 2014, ele avalia a
fazenda da família Allan Baucom, na Carolina do Norte que está utilizando aplicação à
taxa variável, de forma rentável, em sua operação de campo, para aplicações de
nitrogênio (N), potássio (K), gesso e calcário desde 1997.

Razões do sucesso:

• Zonas de manejo bem definidas, com base em 17 anos de amostragem de solo


consistente, dados de colheita e outras informações agronômicas.

• Utilizam o piloto automático (auto-guidance), altura da barra (boom height) e


controle de faixa (swath control).

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• Completam os mapas de prescrições com medições em tempo real de NDVI na
temporada para ajustes finos, de recomendações de N, usando um sensor
GreenSeeker.

• Em 2014, usando a tecnologia Agricultura de Precisão para gerenciar a aplicação


de N, em algodão, Baucom Farms economizou US$12,50 por acre, próximo da
meta para retorno de US$20 por acre, no investimento em tecnologia para a
operação.

A revista CropLife, em seu Editorial, escrito por David Widmar e Bruce Erickson, em
junho de 2015, dá destaque à divulgação da 17ª Pesquisa de Agricultura de Precisão nos
Estados Unidos, concluída com parcerias entre os departamentos de Economia Agrícola
e Agronomia, da Purdue University, com apoio da SST Software e da Raven Industria.
Este artigo analisa os resultados desta pesquisa, sobre os usuários que estão trabalhando
com esta tecnologia e projeta para 2018, as cinco principais tendências para o mercado:

1. Drones;

2. Análise do monitor de produtividade;

3. Mapeamentos de campo (com SIG);

4. Prescrições de semeio à taxa variada;

5. Imagens de satélite / aéreas

Além disso, o “The Wall Street Journal”, em fevereiro de 2014, divulga uma matéria
com o título “Tecnologia do 'big data' chega à lavoura e semeia desconfiança.”. O
artigo mostra que a Monsanto Co., DuPont Co. e outras empresas estão correndo para
lançar tecnologias de "plantio sob receita" para produtores nos Estados Unidos.
Aprenderam, durante anos de experiência, que pequenos ajustes na profundidade da
semeadura e na distância entre as linhas de plantio, por exemplo, podem fazer uma
grande diferença no faturamento da safra, funcionando da seguinte maneira:

• São serviços de plantio sobre prescrição, com base na tecnologia “Big


Data”, para ampliar às colheitas.
• O agricultor fornece as linhas divisórias do campo, o histórico de
produtividade de culturas, as condições do solo e outros dados.
• A empresa analisa os dados e suas próprias informações sobre o
desempenho das sementes em diferentes áreas e tipos de solo.
• A empresa envia um arquivo de computador com recomendações para o
agricultor que, por sua vez, transfere os dados para uma plantadeira. A
máquina semeia com base nas recomendações.
• A empresa monitora o clima e outros fatores e dá conselhos sobre como
gerenciar as culturas à medida que elas crescem.

Considerando as dificuldades que a mecanização agrícola e a Agricultura de Precisão


tiveram para implementar as suas ações nos campos de produção, nota-se que o
investimento das empresas em tecnologia estão valendo a pena. Um artigo na revista

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PrecisonAg mostra que robôs e drones começaram a transformar silenciosamente
muitos aspectos da agricultura. O relatório DTechEx Research, em “Robot” Agrícolas e
Drones, para o período de 2016 a 2026, sobre tecnologias, mercados e usuários, já
considera um mercado de US$3 bilhões, em 2016, indo para US$10 bilhões, em 2022.
Da mesma forma, os dados levantados pela pesquisa e também, do mercado, em um
relatório de vendas, anunciaram em adição, que o “Mercado da Agricultura Inteligente,
com Previsão(2016-2021)”, pode chegar a US$19 bilhões até o final do período de
previsão.

Em contrapartida, na Europa, a Associação de Máquinas Agrícolas – CEMA, em um


artigo publicado em 2016, em um editorial no seu portal de notícias "Euractiv", com o
título “Farm 4.0 nos portões da fazenda” definiu que, na busca por maiores
rendimentos e maior proteção ambiental na agricultura, a transformação mais
importante nestes dias é o crescente uso de tecnologias digitais no que foi chamado de
agricultura inteligente.

Após a mecanização, a introdução de fertilizantes minerais e a industrialização dos


processos de produção, conectividade e gestão de dados estão agora definidos para
desencadear a quarta revolução na história da agricultura. Neste sentido, a agricultura
digital inteligente foi listada como a mais alta oportunidade de tecnologia no último
Relatório Global de Oportunidades, em função do impacto positivo esperado.

Finalizando, a indústria europeia apresenta o “Farming 4.0” e, de acordo com Adam


(2016), um número crescente de agricultores está começando a adotar tecnologia digital
e inovações impulsionadas por dados. Graças à conectividade digital, máquinas
agrícolas inteligentes podem conectar os diferentes pontos de dados em um processo de
trabalho e colocá-los em uma ordem inteligente e otimizada, consultando, por exemplo,
dados meteorológicos, além de encomendar peças sobressalentes ou acessar
informações específicas de campo de uma central, software de gerenciamento de
fazendas, baseado em nuvem. Em uma inteligente combinação de bits e bytes, ferro e
aço, a máquina inteligente torna-se o centro da revolução digital na agricultura.

Resumo e Conclusões:
1. As contribuições da Agricultura de Precisão, desenvolvidas pela indústria para a
agricultura, foram muitas, gerando expressivo impacto no agronegócio brasileiro
e mundial.
2. Neste cenário, vislumbra-se um enorme potencial para sua utilização visando
otimização da mecanização e de insumos das áreas agrícolas, principalmente,
por representarem mais de 50% dos custos de produção.
3. Um grande desafio atual para a sua implementação em larga escala é demandar
uma maior participação dos agrônomos envolvidos com os sistemas de
produção, transformando dados em conhecimento.
4. Há avanços expressivos da automação na agricultura brasileira, comparado ao
manejo de sítio específico.

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5. O gerenciamento econômico do sistema de produção, utilizando a Agricultura de
Precisão, pode auxiliar muito como ferramenta importante para monitoramentos,
recomendações e tomadas de decisões em áreas de produção.
6. O cenário, com previsão de crescimento da população mundial (9 bilhões), e a
necessidade de ampliar a produção de alimentos entre 70 a 100%, até 2050, faz
da Mecanização Agrícola/Agricultura de Precisão uma das dez tecnologias
indicadas pelo “IFPRI–International Food Policy Research Institute”, para
aumentar a produtividade das culturas.
7. As indicações das pesquisas, em publicações, e os relatórios do mercado com as
tendências futuras para a Agricultura de Precisão, mostram que o “Mercado
Global da Agricultura Inteligente”, pode chegar a US$19 bilhões até o final do
período de previsão (2016-1021).
8. A indústria europeia apresenta o “Farming 4.0”, no crescente uso de tecnologias
digitais, com a gestão de dados que estão agora definidas para desencadear a
quarta revolução na história da agricultura.
9. A conectividade digital possibilita que as máquinas agrícolas inteligentes
possam conectar aos diferentes pontos de dados, em um processo de trabalho e
colocá-los em uma ordem inteligente e otimizada.
10. O Brasil precisa se organizar melhor para utilização destas tecnologias que estão
sendo disponibilizadas, para as suas áreas agrícolas, com uma gestão precisa e
econômica de seus processos produtivos.

Referências Bibliográficas:

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http://www.precisionag.com/business/, publicado em 6 de Setembro, 2016.

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diz-novo-relatorio-da-onu/. Publicado em 13/06/2013.
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Trends To Watch. In: http://www.croplife.com/equipment/precision-ag/2015-
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