Você está na página 1de 40

NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

Lei de introdução às normas do Direito brasileiro. Vigência, aplicação, interpretação e integração das leis. Conflito das
leis no tempo. Eficácia da lei no espaço.......................................................................................................................................................... 01
Pessoas naturais. Existência. Personalidade. Capacidade. Nome. Estado. Domicílio. Direitos da personalidade. Pessoas
jurídicas. Disposições gerais. Domicílio. Associações e fundações....................................................................................................... 09
Bens públicos............................................................................................................................................................................................................. 25
Prescrição: disposições gerais. Decadência.................................................................................................................................................... 26
NOÇÕES DE DIREITO

§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão


LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO judicial de que já não caiba recurso.
DIREITO BRASILEIRO. VIGÊNCIA, APLICAÇÃO,
INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DAS LEIS. Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa deter-
CONFLITO DAS LEIS NO TEMPO. EFICÁCIA mina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o
nome, a capacidade e os direitos de família.
DA LEI NO ESPAÇO.
§ 1o Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada
a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às
formalidades da celebração.
DECRETO-LEI Nº 4.657, DE 4 DE SETEMBRO DE § 2o O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se
1942. perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de
ambos os nubentes.
Lei De Introdução Às Normas Do Direito Brasileiro. § 3o Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os ca-
sos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribui- conjugal.
ção que lhe confere o artigo 180 da Constituição, decreta: § 4o O regime de bens, legal ou convencional, obedece
à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se
Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigo- este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal.
rar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficial- § 5º O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro,
mente publicada. pode, mediante expressa anuência de seu cônjuge, reque-
§ 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei rer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização,
brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão
oficialmente publicada.  parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada
§ 2o (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009). esta adoção ao competente registro.
§ 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova pu- § 6º  O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou am-
blicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste bos os cônjuges forem brasileiros, só será reconhecido no
artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se
nova publicação. houver sido antecedida de separação judicial por igual pra-
§ 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram- zo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato,
-se lei nova. obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das
sentenças estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Jus-
Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei tiça, na forma de seu regimento interno, poderá reexami-
terá vigor até que outra a modifique ou revogue. nar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas
§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressa- em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de
mente o declare, quando seja com ela incompatível ou quan- divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir to-
do regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. dos os efeitos legais.
§ 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou § 7o Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe
especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica da família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não
a lei anterior. emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob
§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não sua guarda.
se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. § 8o Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-
-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou naquele em
Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que se encontre.
que não a conhece.
Art. 8o  Para qualificar os bens e regular as relações a
Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estive-
acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais rem situados.
de direito. § 1o Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o
Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins so- proprietário, quanto aos bens moveis que ele trouxer ou se
ciais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. destinarem a transporte para outros lugares.
§ 2o O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeita- pessoa, em cuja posse se encontre a coisa apenhada.

dos o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.


§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado   Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-
Art. 9o

segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. -á a lei do país em que se constituírem.
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o § 1o Destinando-se a obrigação a ser executada no Bra-
seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles sil e dependendo de forma essencial, será esta observada,
cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condi- admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos
ção pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. requisitos extrínsecos do ato.

1
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

§ 2o A obrigação resultante do contrato reputa-se Art. 16. Quando, nos termos dos artigos precedentes,
constituída no lugar em que residir o proponente. se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a
disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por
Art.  10. A sucessão por morte ou por ausência obede- ela feita a outra lei.
ce à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desapa-
recido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens. Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem
§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia
País, será regulada pela lei brasileira em benefício do côn- no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a or-
juge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, dem pública e os bons costumes.
sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do
de cujus. Art. 18. Tratando-se de brasileiros, são competentes as
§ 2o A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula autoridades consulares brasileiras para lhes celebrar o ca-
a capacidade para suceder. samento e os mais atos de Registro Civil e de tabelionato,
inclusive o registro de nascimento e de óbito dos filhos de
Art. 11.  As organizações destinadas a fins de interesse brasileiro ou brasileira nascido no país da sede do Consulado. 
coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem à § 1º As autoridades consulares brasileiras também po-
lei do Estado em que se constituírem. derão celebrar a separação consensual e o divórcio con-
§ 1o Não poderão, entretanto ter no Brasil filiais, agên- sensual de brasileiros, não havendo filhos menores ou in-
cias ou estabelecimentos antes de serem os atos constitu- capazes do casal e observados os requisitos legais quanto
tivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à aos prazos, devendo constar da respectiva escritura pública
lei brasileira. as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens
§ 2o Os Governos estrangeiros, bem como as organi- comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto
zações de qualquer natureza, que eles tenham constituí- à retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou à ma-
do, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não nutenção do nome adotado quando se deu o casamento.        
poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou suscetíveis de § 2o  É indispensável a assistência de advogado, devi-
desapropriação. damente constituído, que se dará mediante a subscrição de peti-
§ 3o Os Governos estrangeiros podem adquirir a pro- ção, juntamente com ambas as partes, ou com apenas uma delas,
priedade dos prédios necessários à sede dos representan- caso a outra constitua advogado próprio, não se fazendo neces-
tes diplomáticos ou dos agentes consulares. sário que a assinatura do advogado conste da escritura pública. 

Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, Art. 19. Reputam-se válidos todos os atos indicados
quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser no artigo anterior e celebrados pelos cônsules brasileiros
cumprida a obrigação. na vigência do Decreto-lei nº 4.657, de 4 de setembro de
§ 1o Só à autoridade judiciária brasileira compete co- 1942, desde que satisfaçam todos os requisitos legais.
nhecer das ações relativas a imóveis situados no Brasil. Parágrafo único. No caso em que a celebração desses
§ 2o A autoridade judiciária brasileira cumprirá, conce- atos tiver sido recusada pelas autoridades consulares, com
dido o exequatur e segundo a forma estabelecida pele lei fundamento no artigo 18 do mesmo Decreto-lei, ao inte-
brasileira, as diligências deprecadas por autoridade estran- ressado é facultado renovar o pedido dentro em 90 (no-
geira competente, observando a lei desta, quanto ao obje- venta) dias contados da data da publicação desta lei.
to das diligências.
Rio de Janeiro, 4 de setembro de 1942, 121o da Inde-
Art.  13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangei- pendência e 54o da República.
ro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e aos GETULIO VARGAS
meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasilei- Alexandre Marcondes Filho
ros provas que a lei brasileira desconheça. Oswaldo Aranha.

Art.14. Nãoconhecendoaleiestrangeira,poderáojuiz A respeito da Lei de Introdução às Normas do Direi-


exigir de quem a invoca prova do texto e da vigência. to Brasileiro, iremos trazer o artigo científico do Professor
Art. 15.  Será executada no Brasil a sentença proferida Flávio Monteiro de Barros, no qual aborda este assunto de
no estrangeiro, que reúna os seguintes requisitos: forma simplificada e elucidativa, como veremos a seguir:
a) haver sido proferida por juiz competente; A Lei de Introdução (Decreto-lei 4.657/1942) não faz
b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente parte do Código Civil. Embora anexada a ele, anteceden-
verificado à revelia; do-o, trata-se de um todo separado. Com o advento da Lei
c) ter passado em julgado e estar revestida das forma- nº. 12.376, de 30 de dezembro de 2010, alterou-se o nome
lidades necessárias para a execução no lugar em que foi desse diploma legislativo, substituindo-se a terminologia
proferida; “Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro” por ou-
d) estar traduzida por intérprete autorizado; tra mais adequada, isto é, “Lei de Introdução às Normas do
e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal. Direito Brasileiro”, espancando-se qualquer dúvida acerca
Parágrafo único.  (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009). da amplitude do seu campo de aplicação.

2
NOÇÕES DE DIREITO

Ademais, o Código Civil regula os direitos e obrigações c) menos perfeitas: são as que estabelecem como san-
de ordem privada, ao passo que a Lei de Introdução disci- ção à sua violação uma consequência diversa da nulidade
plina o âmbito de aplicação das normas jurídicas. ou anulabilidade. Exemplo: o divorciado que se casar sem
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro realizar a partilha dos bens sofrerá como sanção o regime
é norma de sobre direito ou de apoio, consistente num da separação dos bens, não obstante a validade do seu
conjunto de normas cujo objetivo é disciplinar as próprias matrimônio.
normas jurídicas. De fato, norma de sobre direito é a que d) imperfeitas: são aquelas cuja violação não acarreta
disciplina a emissão e aplicação de outras normas jurídicas. qualquer consequência jurídica. O ato não é nulo; o agente
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro não é punido.
cuida dos seguintes assuntos:
a) Vigência e eficácia das normas jurídicas; Lei de Efeito Concreto
b) Conflito de leis no tempo; Lei de efeito concreto é a que produz efeitos imedia-
c) Conflito de leis no espaço; tos, pois traz em si mesma o resultado específico pretendi-
d) Critérios hermenêuticos; do. Exemplo: lei que proíbe certa atividade.
e) Critérios de integração do ordenamento jurídico; Em regra, não cabe mandado de segurança contra a lei,
f) Normas de direito internacional privado (arts. 7º a salvo quando se tratar de lei de efeito concreto. Aludida lei,
19). no que tange aos seus efeitos, que são imediatos, asseme-
Na verdade, como salienta Maria Helena Diniz, é uma lha-se aos atos administrativos.
lei de introdução às leis, por conter princípios gerais sobre
as normas sem qualquer discriminação. É, pois, aplicável a Código, Consolidação, Compilação e Estatuto.
todos os ramos do direito. Código é o conjunto de normas estabelecidas por lei.
É, pois, a regulamentação unitária de um mesmo ramo do
Conceito e Classificação direito. Exemplos: Código Civil, Código Penal etc.
Lei é a norma jurídica escrita, emanada do Poder Legis- Consolidação é a regulamentação unitária de leis pree-
lativo, com caráter genérico e obrigatório. xistentes. A Consolidação das Leis do Trabalho, por exem-
A lei apresenta as seguintes características: plo, é formada por um conjunto de leis esparsas, que aca-
a) generalidade ou impessoalidade: porque se dirige baram sendo reunidas num corpo único. Não podem ser
a todas as pessoas indistintamente. Abre-se exceção à lei objeto de consolidação as medidas provisórias ainda não
formal ou singular, que é destinada a uma pessoa determi- convertidas em lei (art. 14, § 1.º, da LC 95/1998, com reda-
nada, como, por exemplo, a lei que concede aposentadoria ção alterada pela LC 107/2001).
a uma grande personalidade pública. A rigor, a lei formal, Assim, enquanto o Código cria e revoga normas, a
conquanto aprovada pelo Poder Legislativo, não é propria- Consolidação apenas reúne as já existentes, isto é, não cria
mente uma lei, mas um ato administrativo; nem revoga as normas. O Código é estabelecido por lei; a
b) obrigatoriedade e imperatividade: porque o seu Consolidação pode ser criada por mero decreto. Nada obs-
descumprimento autoriza a imposição de uma sanção; ta, porém, que a Consolidação seja ordenada por lei, cuja
c) permanência ou persistência: porque não se exaure iniciativa do projeto compete à mesa diretora do Congres-
numa só aplicação; so Nacional, de qualquer de suas casas e qualquer membro
d) autorizante: porque a sua violação legitima o ofen- ou comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal
dido a pleitear indenização por perdas e danos. Nesse as- ou do Congresso Nacional. Será também admitido proje-
pecto, a lei se distingue das normas sociais; to de lei de consolidação destinado exclusivamente à de-
claração de leis ou dispositivos implicitamente revogados
Segundo a sua força obrigatória, as leis podem ser: ou cuja eficácia ou validade encontra-se completamente
a) cogentes ou injuntivas: são as leis de ordem pública, prejudicada, outrossim, para inclusão de dispositivos ou
e, por isso, não podem ser modificadas pela vontade das diplomas esparsos em leis preexistentes (art. 14, § 3º, da LC
partes ou do juiz. Essas leis são imperativas, quando orde- 95/1998, com redação alterada pela LC 107/2001).
nam certo comportamento; e proibitivas, quando vedam Por outro lado, a compilação consiste num repertório
um comportamento. de normas organizadas pela ordem cronológica ou maté-
b) supletivas ou permissivas: são as leis dispositivas, ria.
que visam tutelar interesses patrimoniais, e, por isso, po- Finalmente, o Estatuto é a regulamentação unitária dos
dem ser modificadas pelas partes. Tal ocorre, por exemplo, interesses de uma categoria de pessoas. Exemplos: Estatu-
com a maioria das leis contratuais. to do Idoso, Estatuto do Índio, Estatuto da Mulher Casada,
Estatuto da Criança e do Adolescente. No concernente ao
Segundo a intensidade da sanção, as leis podem ser: consumidor, o legislador optou pela denominação Código
a) perfeitas: são as que preveem como sanção à sua do Consumidor, em vez de Estatuto, porque disciplina o
violação a nulidade ou anulabilidade do ato ou negócio interesse de todas as pessoas, e não de uma categoria es-
jurídico. pecífica, tendo em vista que todos podem se enquadrar no
b) mais que perfeitas: são as que preveem como san- conceito de consumidor.
ção à sua violação, além da anulação ou anulabilidade, uma
pena criminal. Tal ocorre, por exemplo, com a bigamia.

3
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

Vigência das Normas Cláusula de Vigência


Cláusula de vigência é a que indica a data a partir da
Sistema de Vigência qual a lei entra em vigor.
O Direito é uno. A sua divisão em diversos ramos é Na ausência dessa cláusula, a lei começa a vigorar em
apenas para fins didáticos. Por isso, o estudo da vigência e todo o país 45 dias depois de oficialmente publicada. Nos
eficácia da lei é aplicável a todas as normas jurídicas e não Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira,
apenas às do Direito Civil. quando admitida, inicia-se três meses depois de oficial-
Dispõe o art. 1.º da Lei de Introdução às Normas do mente publicada. A obrigatoriedade da lei nos países es-
Direito Brasileiro que: “Salvo disposição contrária, a lei co- trangeiros é para os juízes, embaixadas, consulados, bra-
meça a vigorar em todo o país 45 (quarenta e cinco) dias sileiros residentes no estrangeiro e para todos os que fora
depois de oficialmente publicada”. Acrescenta seu § 1.º: do Brasil tenham interesses regulados pela lei brasileira.
“Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasi- Saliente-se, contudo, que o alto mar não é território estran-
leira, quando admitida, se inicia 3 (três) meses depois de geiro, logo, no silêncio, a lei entra em vigor 45 dias depois
oficialmente publicada”. da publicação (Oscar Tenório).
Vê-se, portanto, que se adotou o sistema do prazo de Os prazos de 45 dias e de três meses, mencionados aci-
vigência único ou sincrônico, ou simultâneo, segundo o ma, aplicam-se às leis de direito público e de direito priva-
qual a lei entra em vigor de uma só vez em todo o país. do, outrossim, às leis federais, estaduais e municipais, bem
O sistema de vigência sucessiva ou progressiva, pelo como aos Tratados e Convenções, pois estes são leis e não
qual a lei entra em vigor aos poucos, era adotado pela an- atos administrativos.
tiga Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Com Conforme preceitua o § 2.º do art. 8.º da LC 95/1998, as
efeito, três dias depois de publicada, a lei entrava em vigor leis que estabelecem período de vacância deverão utilizar a
no Distrito Federal, 15 dias depois no Rio de Janeiro, 30 cláusula “esta lei entra em vigor após decorridos (o número
dias depois nos Estados marítimos e em Minas Gerais, e de) dias de sua publicação oficial”. No silêncio, porém, o
100 dias depois nos demais Estados. prazo de vacância é de 45 dias, de modo que continua em
Conquanto adotado o sistema de vigência único, Oscar vigor o art. 1º da LINDB.
Tenório sustenta que a lei pode fixar o sistema sucessivo.
No silêncio, porém, a lei entra em vigor simultaneamente Forma de Contagem
em todo o território brasileiro. Quanto à contagem do prazo de vacatio legis, dispõe
o art. 8.º, § 1.º, da LC 95/1998, que deve ser incluído o dia
Vacatio Legis da publicação e o último dia, devendo a lei entrar em vigor
Vacatio legis é o período que medeia entre a publica- no dia seguinte.
ção da lei e a sua entrada em vigor. Conta-se o prazo dia a dia, inclusive domingos e feria-
Tem a finalidade de fazer com que os futuros destinatá- dos, como salienta Caio Mário da Silva Pereira. O aludido
rios da lei a conheçam e se preparem para bem cumpri-la. prazo não se suspende nem se interrompe, entrando em
A Constituição Federal não exige que as leis observem vigor no dia seguinte ao último dia, ainda que se trate de
o período de vacatio legis. Aliás, normalmente as leis en- domingo e feriado.
tram em vigor na data da publicação. Em duas hipóteses, Convém esclarecer que se a execução da lei depender
porém, a vacatio legis é obrigatória: de regulamento, o prazo de 45 dias, em relação a essa par-
a) Lei que cria ou aumenta contribuição social para a te da lei, conta-se a partir da publicação do regulamento
Seguridade Social. Só pode entrar em vigor noventa dias (Serpa Lopes).
após sua publicação (art. 195, § 6.º, da CF).
b) Lei que cria ou aumenta tributo. Só pode entrar em Lei Corretiva
vigor noventa dias da data que haja sido publicada, con- Pode ocorrer de a lei ser publicada com incorreções e
forme art. 150, III, c, da CF, com redação determinada pela erros materiais. Nesse caso, se a lei ainda não entrou em
EC 42/2003. Saliente-se, ainda, que deve ser observado o vigor, para corrigi-la, não é necessária nova lei, bastando
princípio da anterioridade. à repetição da publicação, sanando-se os erros, reabrin-
Em contrapartida, em três hipóteses, a vigência é ime- do-se, destarte, o prazo da vacatio legis em relação aos ar-
diata, sem que haja vacatio legis, a saber: tigos republicados. Entretanto, se a lei já entrou em vigor,
a) Atos Administrativos. Salvo disposição em contrário, urge, para corrigi-la, a edição de uma nova lei, que é de-
entram em vigor na data da publicação (art. 103, I, do CTN). nominada lei corretiva, cujo efeito, no silêncio, se dá após
b) Emendas Constitucionais. No silêncio, como escla- o decurso do prazo de 45 dias a contar da sua publicação.
rece Oscar Tenório, entram em vigor no dia da sua publi- Enquanto não sobrevém essa lei corretiva, a lei continua
cação. em vigor, apesar de seus erros materiais, ressalvando-se,
c) Lei que cria ou altera o processo eleitoral. Tem vi- porém, ao juiz, conforme esclarece Washington de Barros
gência imediata, na data da sua publicação, todavia, não Monteiro, o poder de corrigi-la, ainda que faça sentido o
se aplica à eleição que ocorra até um ano da data de sua texto errado.
vigência (art. 16 da CF). Por outro lado, se o Poder Legislativo aprova um de-
terminado projeto de lei, submetendo-o à sanção do Pre-
sidente da República, e este acrescenta determinados dis-

4
NOÇÕES DE DIREITO

positivos, publicando em seguida o texto, a hipótese será Em regra, as leis têm efeito permanente, isto é, uma
de inconstitucionalidade, por violação do princípio da vigência por prazo indeterminado, salvo quanto as leis de
separação dos poderes. De fato, o Presidente da Repú- vigência temporária.
blica não pode acrescentar ou modificar os dispositivos A não aplicação da lei não implica na renúncia do Es-
aprovados pelo Poder Legislativo, devendo limitar-se a tado em atribuir-lhe efeito, pois a lei só pode ser revogada
suprimi-los, pois, no Brasil, é vedado o veto aditivo ou por outra lei.
translativo, admitindo-se apenas o veto supressivo.
Repristinação
Local de Publicação das Leis Repristinação é a restauração da vigência de uma lei
A lei é publicada no Diário Oficial do Executivo. Nada anteriormente revogada em virtude da revogação da lei
obsta a sua publicação no Diário Oficial do Legislativo revogadora.
ou Judiciário. Todavia, o termo inicial da vacatio legis é a Sobre o assunto, dispõe o § 3º do art. 2.º da LINDB:
publicação no Diário Oficial do Executivo. “salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restau-
Caso o Município ou o Estado-membro não tenham ra por ter a lei revogadora perdido a vigência”.
imprensa oficial, a lei pode ser publicada na imprensa Assim, o efeito repristinatório não é automático; só é
particular. possível mediante cláusula expressa. No silêncio da lei, não
Nos municípios em que não há imprensa oficial nem há falar-se em repristinação. Se, por exemplo, uma terceira
particular, a publicação pode ser feita mediante fixação lei revogar a segunda, a primeira não volta a viger, a não
em lugar público ou então em jornal vizinho ou no órgão ser mediante cláusula expressa.
oficial do Estado.
Fontes do Direito
Princípio da Obrigatoriedade das Leis Conceito
De acordo com esse princípio, consagrado no art. 3.º As fontes do direito compreendem as causas do sur-
da LINDB, ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando gimento das normas jurídicas e os modos como elas se
que não a conhece. Trata-se da máxima: nemine excusat exteriorizam.
ignorantia legis. São, pois, duas espécies:
Assim, uma vez em vigor, todas as pessoas sem dis- - Fontes materiais ou fontes no sentido sociológico ou
tinção devem obedecer a lei, inclusive os incapazes, pois ainda fonte real;
ela se dirige a todos. - Fontes formais.
Diversas teorias procuram justificar a regra acima.
Para uns, trata-se de uma presunção jure et jure, legal- Fontes Materiais ou Reais
mente estabelecida (teoria da presunção). Outros defen- As fontes materiais são as causas determinantes da ori-
dem a teoria da ficção jurídica. Há ainda os adeptos da gem da norma jurídica.
teoria da necessidade social, segundo a qual a norma do O assunto extrapola os limites da ciência jurídica, regis-
art. 3.º da LINDB é uma regra ditada por uma razão de trando conotação metafísica, levando o intérprete a inves-
ordem social e jurídica, sendo, pois, um atributo da pró- tigar a razão filosófica, sociológica, histórica, social, ética,
pria norma. etc., que determinaram o surgimento da norma jurídica.
Aludido princípio encontra exceção no art. 8.º da Lei Dentre as fontes materiais, merecem destaques: a so-
das Contravenções Penais, que permite ao juiz deixar de ciologia, a filosofia, a ética, a política, os pareceres dos es-
aplicar a pena, em caso de se reconhecer que o acusado pecialistas, etc.
não tinha pleno conhecimento do caráter ilícito do fato. As fontes materiais, como se vê, abrangem as causas
que influenciaram o surgimento da norma jurídica. Kelsen
Princípio Jura Novit Curia nega a essas fontes o caráter científico-jurídico, conside-
O princípio do jura novit curia significa que o juiz co- rando apenas as fontes formais.
nhece a lei. Consequentemente, torna-se desnecessário De fato, a Teoria Pura do Direito de Kelsen elimina da
provar em juízo a existência da lei. Ciência Jurídica as influências filosóficas, sociológicas, po-
Esse princípio comporta as seguintes exceções: líticas etc.
a) direito estrangeiro; Já a Teoria Egológica, idealizada por Carlos Cossio e, no
b) direito municipal; Brasil, aceita por Maria Helena Diniz, assevera que “o juris-
c) direito estadual; ta deve ater-se tanto as fontes materiais como às formais,
d) direito consuetudinário. preconizando a supressão da distinção, preferindo falar em
Nesses casos, a parte precisa provar o teor e a vigên- fonte formal-material, já que toda fonte formal contém,
cia do direito. de modo implícito, uma valoração, que só pode ser com-
preendida como fonte do direito no sentido material”.
Princípio da Continuidade das Leis
De acordo com esse princípio, a lei terá vigor até que Fontes Formais
outra a modifique ou revogue (art. 2.º da LINDB). Assim, As fontes formais do direito compreendem os modos
só a lei pode revogar a lei. Esta não pode ser revogada pelos quais as normas jurídicas se revelam.
por decisão judicial ou por ato do Poder Executivo. Referidas fontes, classificam-se em estatais e não estatais.

5
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

As fontes estatais, por sua vez, subdividem-se em: A revogação tácita ou indireta ocorre quando a nova
a) Legislativas: Constituição Federal, Leis e Atos Admi- lei é incompatível com a lei anterior, contrariando-a de
nistrativos; forma absoluta. A revogação tácita não se presume, pois
b) Jurisprudenciais: são as decisões uniformes dos tri- é preciso demonstrar essa incompatibilidade. Saliente-se,
bunais. Exemplos: súmulas, precedentes judiciais etc. contudo, que a lei posterior geral não revoga lei especial.
c) Convencionais: são os tratados e convenções inter- Igualmente, a lei especial não revoga a geral (§2º do art.
nacionais devidamente ratificados pelo Brasil. 2º da LINDB). Assim, o princípio da conciliação ou das es-
As fontes não estatais são as seguintes: feras autônomas consiste na possibilidade de convivência
a) Costume Jurídico: direito consuetudinário; das normas gerais com as especiais que versem sobre o
b) Doutrina: direito científico; mesmo assunto. Esse princípio, porém, não é absoluto. De
c) Convenções em geral ou negócios jurídicos. De fato, fato, a lei geral pode revogar a especial e vice-versa, quan-
os contratos e outros negócios jurídicos são evidentemente do houver incompatibilidade absoluta entre essas normas;
celebrados com o fim de produzir efeito jurídico e por isso essa incompatibilidade não se presume; na dúvida, se con-
torna-se inegável o seu ingresso no rol das fontes formais. siderará uma norma conciliável com a outra, vale dizer, a
Convém, porém, salientar que a classificação das fontes for- lei posterior se ligará à anterior, coexistindo ambas. Sobre
mais do direito é tema polêmico no cenário jurídico. Numerosos o significado da expressão “revogam-se as disposições em
autores propõem sobre o assunto a seguinte classificação: contrário”, Serpa Lopes sustenta que se trata de uma re-
a) Fonte formal imediata ou principal ou direta: é a lei, pois vogação expressa, enquanto Caio Mário da Silva Pereira,
o sistema brasileiro é o do Civil Law ou romano germânico. acertadamente, preconiza que essa fórmula designa a re-
b) Fontes formais mediatas ou secundárias: são aque- vogação tácita. Trata-se de uma cláusula inócua, pois de
las que só têm incidência na falta ou lacuna da lei. Com- qualquer maneira as disposições são revogadas, por força
preendem a analogia, os costumes e os princípios gerais da revogação tácita prevista no § 1º do art. 2º da LINDB.
do direito (art. 4º da LINDB). Alguns autores ainda incluem Convém lembrar que o art. 9º da LC 107/2001 determina
a equidade. Na Inglaterra, que adota o sistema da Common que a cláusula de revogação deverá enumerar, expressa-
Law, os costumes são erigidos a fonte formal principal. mente, as leis ou disposições legais revogadas, de modo
Quanto à doutrina e jurisprudência, diversos autores que o legislador não deve mais se valer daquela vaga ex-
classificam como sendo fontes não formais do direito. pressão “revogam-se as disposições em contrário”.
Analisando essa classificação, que divide as fontes for- A revogação global ocorre quando a lei revogadora
mais em principais e secundárias, ganha destaque o enqua- disciplina inteiramente a matéria disciplinada pela lei an-
dramento das súmulas vinculantes editadas pelo Supremo tiga. Nesse caso, os dispositivos legais não repetidos são
Tribunal Federal, com base no art. 103-A da CF, introduzida revogados, ainda que compatíveis com a nova lei. Regular
pela EC 45/2004. Trata-se, sem dúvida, de fonte formal prin- inteiramente a matéria significa discipliná-la de maneira
cipal, nivelando-se à lei, diante do seu caráter obrigatório. global, no mesmo texto.

Eficácia da Norma Competência para revogar as Leis


Hipóteses Federação é a autonomia recíproca entre a União, Es-
A norma jurídica perde a sua validade em duas hipóte- tados-Membros e Municípios. Trata-se de um dos mais
ses: revogação e ineficácia. sólidos princípios constitucionais. Por força disso, não há
Desde já cumpre registrar que a lei revogada pode hierarquia entre lei federal, lei estadual e lei municipal.
manter a sua eficácia em determinados casos. De fato, ela Cada uma das pessoas políticas integrantes da Federação
continua sendo aplicada aos casos em que há direito ad- só pode legislar sobre matérias que a Constituição Federal
quirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada. lhes reservou. A usurpação de competência gera a incons-
Em contrapartida, a lei em vigor, às vezes, não goza de titucionalidade da lei. Assim, por exemplo, a lei federal não
eficácia, conforme veremos adiante. pode versar sobre matéria estadual. Igualmente, a lei fede-
ral e estadual não podem tratar de assunto reservado aos
Revogação Municípios.
Revogação é a cessação definitiva da vigência de uma Força convir, portanto, que lei federal só pode ser re-
lei em razão de uma nova lei. vogada por lei federal; lei estadual só por lei estadual; e lei
Só a lei revoga a lei, conforme o princípio da continui- municipal só por lei municipal.
dade das leis. Saliente-se que o legislador não pode inserir No que tange às competências exclusivas, reservadas
na lei a proibição de sua revogação. pela Magna Carta a cada uma dessas pessoas políticas, não
A revogação pode ser total (ab-rogação) ou parcial há falar-se em hierarquia entre leis federais, estaduais e
(derrogação). municipais, pois deve ser observado o campo próprio de
A revogação ainda pode ser expressa, tácita ou global. incidência sobre as matérias previstas na CF.
A revogação expressa ou direta é aquela em que a lei Tratando-se, porém, de competência concorrente, re-
indica os dispositivos que estão sendo por ela revogados. ferentemente às matérias previstas no art. 24 da CF, atri-
A propósito, dispõe o art. 9º da LC 107/2001: “A cláusula de buídas simultaneamente à União, aos Estados e ao Distrito
revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou dis- Federal, reina a hierarquia entre as leis. Com efeito, à União
posições legais revogadas”. compete estabelecer normas gerais, ao passo que aos Es-

6
NOÇÕES DE DIREITO

tados-membros e ao Distrito Federal competem legislar Podemos então elencar três situações de retroativida-
de maneira suplementar, preenchendo os vazios deixados de da lei:
pela lei federal. Todavia, inexistindo lei federal sobre nor- a) lei penal benéfica;
mas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa b) lei com cláusula expressa de retroatividade, desde
plena, para atender as suas peculiaridades. A superveniên- que não viole o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e
cia de lei federal sobre normas gerais suspende a eficá- a coisa julgada. Na área penal, porém, é terminantemente
cia da lei estadual, no que lhe for contrário. Algumas Leis vedada a retroatividade de lei desfavorável ao réu.
estaduais, para serem editadas, dependem de autorização c) lei interpretativa: é a que esclarece o conteúdo de ou-
de lei complementar. O art. 22, parágrafo único, da CF per- tra lei, tornando obrigatória uma exegese, que já era plausí-
mite, por exemplo, que lei estadual verse sobre questões vel antes de sua edição. É a chamada interpretação autêntica
específicas de Direito Civil, desde que autorizada por lei ou legislativa. A lei interpretativa não cria situação nova; ela
complementar. Todavia, a validade da lei estadual não de- simplesmente torna obrigatória uma exegese que o juiz, an-
pende da aprovação do Governo Federal. tes mesmo de sua publicação, já podia adotar. Aludida lei
O §2º do art. 1º da LINDB, que exigia essa aprovação retroage até a data de entrada em vigor da lei interpretada,
violadora do princípio federativo, foi revogado expressa- aplicando-se, inclusive, aos casos pendentes de julgamen-
mente pela Lei 12.036/2009. to, respeitando apenas a coisa julgada. Cumpre, porém, não
Finalmente, as normas previstas na CF só podem ser confundir lei interpretativa, que simplesmente opta por uma
revogadas por emendas constitucionais, desde que não se- exegese razoável, que já era admitida antes da sua edição,
jam violadas as cláusulas pétreas. com lei que cria situação nova, albergando exegese até então
inadmissível. Neste último caso, a retroatividade só é possível
Princípio da Segurança e da Estabilidade Social mediante cláusula expressa, desde que não viole o direito ad-
De acordo com esse princípio, previsto no art. 5º, inc. quirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
XXXVI da CF, a lei não pode retroagir para violar o direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Devem Em algumas situações, porém, uma parcela da doutrina
ser respeitadas, portanto, as relações jurídicas constituídas admite a retroatividade de uma norma, inclusive para violar
sob a égide da lei revogada. o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
- Direito Adquirido: é o que pode ser exercido desde já As hipóteses são as seguintes:
por já ter sido incorporado ao patrimônio jurídico da pessoa. a) A Lei penal benéfica pode retroagir, conforme já vi-
O §2º do art. 6º da LINDB considera também adquirido: mos, para violar a coisa julgada (art.5º, XL, da CF).
a) O direito sob termo. O art.131 do CC também reza b) Princípio da relativização da coisa julgada: A flexibili-
que o termo, isto é, o fato futuro e certo, suspende o exer- zação da coisa julgada passou a ter importância a partir da
cício, mas não a aquisição do direito. análise de decisões que transitaram em julgado, não obs-
b) O direito sob condição preestabelecida inalterável tante a afronta à Constituição Federal, outrossim, no tocan-
a arbítrio de outrem: Trata-se, a rigor, de termo, porque o te às decisões distantes dos ditames da justiça. Segundo o
fato é futuro e certo, porquanto inalterável pelo arbítrio de parágrafo único do artigo 741 do CPC, é inexigível o título
outrem. Exemplo: Dar-te-ei a minha casa no dia que cho- judicial fundado em lei ou ato normativo declarados incons-
ver, sob a condição de João não impedir que chova. Ora, titucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em
chover é um fato certo e inalterável pelo arbítrio de João aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo
e, portanto, trata-se de termo, logo o direito é adquirido. Supremo Tribunal Federal como incompatíveis com a Cons-
- Ato Jurídico Perfeito: é o já consumado de acordo com tituição Federal. A inconstitucionalidade exigida pelo Código
a lei vigente ao tempo em que se efetuou. Exemplo: contrato é aquela emanada de uma ação direta de inconstituciona-
celebrado antes da promulgação do Código Civil não é regido lidade, ou seja, não se contenta a lei com a mera inconsti-
por este diploma legal, e sim pelo Código Civil anterior. tucionalidade declarada incidentalmente no processo, cujo
- Coisa Julgada: é a sentença judicial de que já não cai- efeito é desprovido de eficácia erga omnes. Para o Ministro
ba mais recurso. É, pois, a imutabilidade da sentença. do Superior Tribunal de Justiça, José Augusto Delgado, a coi-
Atente-se que a Magna Carta não impede a edição de sa julgada não deve ser via para o cometimento de injustiças,
leis retroativas; veda apenas a retroatividade que atinja o pois se assim fosse se estaria fazendo o mau uso do Direito,
direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. que não estaria atendendo aos seus ideais de justiça.
A retroatividade, consistente na aplicação da lei a fatos c) Emenda Constitucional pode retroagir para violar o
ocorridos antes da sua vigência, conforme ensinamento do direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada,
Min. Celso de Melo, é possível mediante dois requisitos: porque, no plano hierárquico, posiciona-se acima da lei,
a) cláusula expressa de retroatividade; sendo que apenas a lei, segundo o art.5º, inciso XXXVI, da
b) respeito ao direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada. CF, não pode retroagir para prejudicar o direito adquirido,
Assim, a retroatividade não se presume, deve resultar o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Este posicionamen-
de texto expresso em lei e desde que não viole o direito to, no entanto, é minoritário, prevalecendo a tese de que a
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Abre-se expressão “lei” mencionada no inciso XXXVI do art.5º da CF
exceção à lei penal benéfica, cuja retroatividade é automá- estende-se também às Emendas Constitucionais, logo elas
tica, vale dizer, independe de texto expresso, violando in- não poderiam retroagir para violar o direito adquirido, o ato
clusive a coisa julgada. jurídico perfeito e a coisa julgada.

7
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

d) O parágrafo único do art. 2.035 do CC prevê a re- lícita, tornou-se ilícita, colidindo com os novos postulados
troatividade das normas de ordem pública, tais como as do ordenamento jurídico, impondo-se, pois, a retroatividade
que visam assegurar a função social da propriedade e dos da nova lei.
contratos. Assim, referido dispositivo legal consagrou a re- Outro exemplo: João celebra com Pedro um contrato
troatividade das normas de ordem pública, acolhendo o po- de venda de determinada mercadoria, para ser entregue
sicionamento doutrinário de Serpa Lopes e outros juristas de em 30 (trinta) dias. Antes desse prazo, porém, surge uma lei
escol. A menção à retroatividade dos preceitos do Código proibindo a comercialização dessa mercadoria. A meu ver, o
Civil sobre a função social da propriedade e dos contratos, a contrato, anteriormente válido, deve ser extinto, impondo-
meu ver, é meramente exemplificativa, porquanto em outras -se a retroatividade da nova lei, inviabilizando-se a entrega
situações a lei de ordem pública também poderá retroagir. da mercadoria, sob pena de o ato jurídico perfeito funcionar
como exceção à ilicitude, contrariando a função do próprio
É preciso, no entanto, compatibilizar o preceito legal Direito.
que prevê a retroatividade das normas de ordem pública Nesse caso, a máxima res perit domino soluciona o pro-
com os preceitos, legais e constitucionais, que protegem o blema, devendo a superveniência de lei de ordem pública
direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. ser equiparada a caso fortuito ou força maior, resolvendo-se
No concernente à coisa julgada, salvo nas hipóteses de o negócio nos termos do art.234 do CC. De fato, a ilicitude
sua relativização, não é atingida por leis de ordem pública, superveniente da prestação representa a destruição jurídica
pois, para rescindi-la, é mister ação rescisória, e dentre os desta, equiparando-se ao perecimento material.
seus fundamentos legais, previstos no art.485 do CPC, não Vê-se, assim, que o princípio da segurança jurídica não
se cogita da superveniência de lei de ordem pública. é absoluto. Ele sucumbe diante da superveniência de lei de
Em relação ao direito adquirido e ato jurídico perfeito ordem pública e, a meu ver, com maior razão, em virtude
(por exemplo: contratos já celebrados), não se nega a aplica- da Emenda Constitucional, pois a manutenção de privilé-
bilidade imediata da lei de ordem pública, para fazer cessar gios, como certas aposentadorias conflitantes com os novos
os efeitos que a contrariam, como no exemplo clássico da lei postulados do ordenamento jurídico, não devem persistir
que passou a proibir a usura, considerando-a crime, subsis- acobertadas pelo manto do direito adquirido, porque a par
tindo, porém, os efeitos pretéritos, isto é, que fluíram até a desse princípio, há, no Estado Democrático de Direito, ou-
data da entrada em vigor da lei, mas que, a partir dela, como tros mais importantes.
salienta Serpa Lopes, não podem mais ser exigidos.
Portanto, nos atos ou negócios de execução continuada, Ineficácia
a proteção ao direito adquirido ou ao ato jurídico perfeito, Vimos que a lei só é revogada em razão da superveniên-
que está estabelecido no plano constitucional, é limitada à cia de uma nova lei. Em certas hipóteses, porém, a lei perde a
data de entrada em vigor da lei de ordem pública, estancan- sua validade, deixando de ser aplicada ao caso concreto, não
do os seus efeitos a partir de então. obstante conserve a sua vigência em razão da inexistência
De fato, nenhum direito é absoluto. Todo direito deve da lei superveniente revogadora.
ser protegido à vista de uma finalidade ética. Se um fato Assim, é possível a ineficácia de uma lei vigente, bem
anteriormente lícito tornou-se ilícito em razão de uma nova como a eficácia de uma lei revogada. Essa última hipótese
lei, esta deve ser aplicada imediatamente sob pena de, sob o ocorre quando a lei revogada é aplicada aos casos em que
manto do direito adquirido ou ato jurídico perfeito, permitir- há direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada.
-se que a ilicitude perdure no seio da sociedade, contrarian- Malgrado a sua vigência, a lei é ineficaz, isto é, inaplicá-
do os fins do Direito, que é combatê-la. Portanto, o direito vel nas seguintes hipóteses:
adquirido e o ato jurídico perfeito não podem sobrepor-se à a) caducidade: ocorre pela superveniência de uma si-
função do próprio Direito. tuação cronológica ou factual que torna a norma inválida,
A argumentação acima, a meu ver, resolve o problema sem que ela precise ser revogada. Exemplo: leis de vigência
da aplicação imediata, que, no entanto, não se confunde com temporária.
a retroatividade, isto é, a aplicação da lei de ordem pública b) desuso: é a cessação do pressuposto de aplicação da
aos negócios jurídicos celebrados antes de sua vigência para norma. Exemplo: a lei que proíbe a caça da baleia deixará de
considerá-los ineficazes desde a data da sua celebração. ser aplicada se porventura desaparecerem todas as baleias
Em princípio, prevalece a Escala Ponteana, os planos de do planeta.
existência e validade regem-se pela lei vigente ao tempo de c) costume negativo ou contra legem: é o que contraria a
sua celebração, enquanto o plano da eficácia submete-se à lei. O costume não pode revogar a lei, por força do princípio
lei de ordem pública vigente ao tempo dos efeitos. Dentro da continuidade das leis. Todavia, prevalece a opinião de que
dessa visão, a lei de ordem pública superveniente não pode- ele pode gerar a ineficácia da lei, desde que não se trate de
ria afetar a existência ou validade do negócio jurídico, mas lei de ordem pública. Como ensina Rubens Requião, verifica-
apenas os seus efeitos. da que a intenção das partes foi a de adotar certos costumes,
Imaginemos, porém, que o sujeito tenha adquirido uma o julgador deve aplicá-lo, sobrepondo-o à norma legal não
fazenda num tempo em que o desmatamento era permitido imperativa. De acordo com Serpa Lopes, a realidade, através
e posteriormente leis ambientais proibissem ou limitassem de um costume reiterado, enraizado nos dados sociológicos,
esse seu direito. Ora, não há, nesse caso, que se falar em em harmonia com as necessidades econômicas e morais de
prevalência do direito adquirido, pois a pretensão, até então um povo, é capaz de revogar a norma. Não se trata, data ve-

8
NOÇÕES DE DIREITO

nia, de revogação, pois esta só é produzida pelo advento de I - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
uma nova lei; a hipótese é de ineficácia. Como exemplos de 2015) (Vigência)
costumes contra legem, podemos citar: a emissão de cheque II - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
pré-datado; a expedição de triplicata pelo fato da duplicata 2015) (Vigência)
não ter sido devolvida tornou-se praxe, embora a lei preveja III - (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
para a hipótese o protesto por indicações, ao invés da tripli- 2015) (Vigência)
cata; admissibilidade de prova testemunhal em contrato su-
perior a dez salários mínimos, nos casos em que o costume Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à
dispensar a prova escrita exigida pela lei. maneira de os exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146,
d) decisão do STF declarando a lei inconstitucional em de 2015) (Vigência)
ação direta de inconstitucionalidade (controle por via de I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
ação ou aberto). Cumpre observar que essa decisão judicial II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Reda-
não revoga a lei, apenas retira a sua eficácia. ção dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
e) resolução do Senado Federal cancelando a eficácia III - aqueles que, por causa transitória ou permanente,
de lei declarada incidentalmente inconstitucional pelo STF não puderem exprimir sua vontade; (Redação dada pela
(controle por via de exceção ou difuso). Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
f) princípio da anterioridade da lei tributária, pois, uma IV - os pródigos.
vez publicada, sua eficácia permanece suspensa até o exer- Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será re-
cício financeiro seguinte. gulada por legislação especial. (Redação dada pela Lei nº
g) a lei que altera o processo eleitoral entra em vigor na 13.146, de 2015) (Vigência)
data de sua publicação, mas não tem eficácia em relação à
eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos comple-
tos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os
atos da vida civil.
PESSOAS NATURAIS. EXISTÊNCIA. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapa-
PERSONALIDADE. CAPACIDADE. NOME. cidade:
ESTADO. DOMICÍLIO. DIREITOS DA I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do
PERSONALIDADE. PESSOAS JURÍDICAS. outro, mediante instrumento público, independentemente
DISPOSIÇÕES GERAIS. DOMICÍLIO. de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o
tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
ASSOCIAÇÕES E FUNDAÇÕES.
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
LEI Nº 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela
existência de relação de emprego, desde que, em função
Institui o Código Civil. deles, o menor com dezesseis anos completos tenha eco-
nomia própria.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a
morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos
PARTE GERAL em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.
LIVRO I
DAS PESSOAS Art. 7º Pode ser declarada a morte presumida, sem de-
TÍTULO I cretação de ausência:
DAS PESSOAS NATURAIS I - se for extremamente provável a morte de quem es-
CAPÍTULO I tava em perigo de vida;
DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito pri-
sioneiro, não for encontrado até dois anos após o término
Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na da guerra.
ordem civil. Parágrafo único. A declaração da morte presumida,
nesses casos, somente poderá ser requerida depois de es-
Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nas- gotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fi-
cimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concep- xar a data provável do falecimento.
ção, os direitos do nascituro.
Art. 8º Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma
Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pes- ocasião, não se podendo averiguar se algum dos como-
soalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezes- rientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultanea-
seis) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vi- mente mortos.
gência)

9
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

Art. 9º Serão registrados em registro público: Poder-se-ia até mesmo afirmar que, na vida intrauteri-
I - os nascimentos, casamentos e óbitos; na, tem o nascituro, e na vida extrauterina, tem o embrião,
II - a emancipação por outorga dos pais ou por sen- personalidade jurídica formal, no que atina aos direitos
tença do juiz; personalíssimos, ou melhor, aos da personalidade, visto ter
III - a interdição por incapacidade absoluta ou relativa; a pessoa carga genética diferenciada desde a concepção,
IV - a sentença declaratória de ausência e de morte seja ela in vivo ou in vitro (Recomendação n. 1.046/89, n.
presumida. 7 do Conselho da Europa), passando a ter a personalidade
jurídico material, alcançando os direitos patrimoniais, que
Art. 10. Far-se-á averbação em registro público: permaneciam em estado potencial, somente com o nasci-
I - das sentenças que decretarem a nulidade ou anu- mento com vida (CC, art. 1.800, § 3º). Se nascer com vida,
lação do casamento, o divórcio, a separação judicial e o adquire personalidade jurídica material, mas, se tal não
restabelecimento da sociedade conjugal; ocorrer, nenhum direito patrimonial terá.
II - dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem
ou reconhecerem a filiação; Momento da consideração jurídica do nascituro:
III - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Ante as novas técnicas de fertilização in vitro e do con-
gelamento de embriões humanos, houve quem levantasse
Conforme entendimento doutrinário personalidade o problema relativo ao momento em que se deve consi-
e capacidade jurídica transmite a ideia de personalidade, derar juridicamente o nascituro, entendendo-se que a vida
que revela a aptidão genérica para adquirir direitos e con- tem início, naturalmente, com a concepção no ventre ma-
trair obrigações. terno. Assim sendo, na fecundação na proveta, embora seja
Segundo Maria Helena Diniz: a pessoa natural o sujeito a fecundação do óvulo, pelo espermatozoide, que inicia a
‘das relações jurídicas e a personalidade, a possibilidade de vida, é a nidação do zigoto ou ovo que a garantirá; logo,
ser sujeito, toda pessoa é dotada de personalidade. Esta para alguns autores, o nascituro só será “pessoa” quando
tem sua medida na capacidade, que é reconhecida, num o ovo fecundado for implantado no útero materno, sob
sentido de universalidade, no art. 12 do Código Civil, que, a condição do nascimento com vida. O embrião humano
ao prescrever “toda pessoa é capaz de direitos e deveres”, congelado não poderia ser tido como nascituro, apesar de
emprega o termo “pessoa” na acepção de todo ser huma- dever ter proteção jurídica como pessoa virtual, com uma
no, sem qualquer distinção de sexo, idade, credo ou raça. carga genética própria. Embora a vida se inicie com a fe-
- Capacidade de direito e capacidade de exercício: À cundação, e a vida viável com a gravidez, que se dá com
aptidão oriunda da personalidade para adquirir direitos e a nidação, entendemos que na verdade o início legal da
contrair obrigações na vida civil dá-se o nome de capacida- consideração jurídica da personalidade é o momento da
de de gozo ou de direito. penetração do espermatozóide no óvulo, mesmo fora do
- Quando o Código enuncia, no seu art. 1º, que toda pessoa corpo da mulher. Por isso, a Lei n. 8.974/95, nos arts. 8, II,
é capaz de direitos e deveres na ordem civil, não dá a entender III e IV, e 13, veio a reforçar, em boa hora, essa ideia não
que possua concomitantemente o gozo e o exercício desses di- só ao vedar:
reitos, pois nas disposições subsequentes faz referência àqueles a) manipulação genética de células germinais humanas;
que tendo o gozo dos direitos civis não podem exercê-los, por b) intervenção em material genético humano in vivo,
si, ante o fato de, em razão de menoridade ou de insuficiência salvo para o tratamento de defeitos genéticos;
somática, não terem a capacidade de fato ou de exercício. c) produção, armazenamento ou manipulação de em-
briões humanos destinados a servir como material biológi-
Para discorrer sobre este tema, iremos trazer o enten- co disponível, como também ao considerar tais atos como
dimento da professora Maria Helena Diniz: crimes, punindo-os severamente.
Com isso, parece-nos que a razão está com a teoria
Começo da personalidade natural: concepcionista, uma vez que o Código Civil resguarda des-
Pelo Código Civil, para que um ente seja pessoa e ad- de a concepção os direitos do nascituro e além disso, no
quira personalidade jurídica, será suficiente que tenha vivi- art. 1.597, presume concebido na constância do casamento
do por um segundo. o filho havido, a qualquer tempo, quando se tratar de em-
- Direitos do nascituro: brião excedente, decorrente de concepção artificial hete-
Conquanto comece do nascimento com vida a perso- róloga.
nalidade civil do homem, a lei põe a salvo, desde a concep-
ção, os direitos do nascituro (CC, ais. 22, 1.609, 1.779 e pa- Em relação aos incapazes, são considerados absoluta-
rágrafo único e 1.798), como o direito à vida (CF, art. 52, CP, mente incapazes:
ais. 124 a 128, 1 e II), à filiação (CC, ais. 1.596 e 1.597), à in- - Menoridade de dezesseis anos: Os menores de de-
tegridade física, a alimentos (RT 650/220; RJTJSP 150/906), zesseis anos são tidas como absolutamente incapazes para
a uma adequada assistência pré-natal, a um curador que exercer atos na vida civil, porque devido à idade não atingi-
zele pelos seus interesses em caso de incapacidade de seus ram o discernimento para distinguir o que podem ou não,
genitores, de receber herança (CC, ais. 1.798 e 1.800, § 3~), bem como se fazer algo lhes é conveniente ou prejudicial.
de ser contemplado por doação (CC, art. 542), de ser reco- Por isso, para a validade dos seus atos, será preciso que es-
nhecido como filho etc. tejam representados por seu pai, por sua mãe, ou por tutor.

10
NOÇÕES DE DIREITO

Já em relação aos relativamente incapazes: b) exercício de emprego público efetivo, por funcioná-
- Incapacidade relativa: A incapacidade relativa diz res- rio nomeado em caráter efetivo (não abrangendo a função
peito àqueles que podem praticar por si os atos da vida pública extranumerária ou em comissão), com exceção de
civil desde que assistidos por quem o direito encarrega funcionário de autarquia ou entidade paraestatal, que não
desse ofício, em razão de parentesco, de relação de ordem é alcançado pela emancipação.
civil ou de designação judicial, sob pena de anulabilidade
daquele ato (CC, art. 171), dependente da iniciativa do lesa- De acordo com o art. 6º a existência da pessoa natural
do, havendo até hipóteses em que tal ato poderá ser con- termina com a morte podendo esta ser morte real ou pre-
firmado ou ratificado. Há atos que o relativamente incapaz sumida.
pode praticar, livremente, sem autorização. - Morte real: Com a morte real, cessa a personalidade
- Maiores de dezesseis e menores de dezoito anos: Os jurídica da pessoa natural, que deixa de ser sujeito de direi-
maiores de dezesseis e menores de dezoito anos só pode- tos e deveres, acarretando:
rão praticar atos válidos se assistidos pelo seu representan- a) dissolução do vínculo conjugal e do regime matri-
te. Caso contrário, serão anuláveis. monial;
- Ébrios habituais ou viciados em tóxicos: Alcoólatras, b) extinção do poder familiar; dos contratos personalís-
dipsômanos e toxicômanos. Aqueles que, por causa tran- simos, com prestação de serviço e mandato;
sitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade: c) cessação da obrigação, alimentos com o falecimento
Abrangidos estão, aqui: os fracos de mente, surdos mudos do credor; do pacto de preempção; da obrigação oriun-
e portadores de anomalia psíquica que apresentem sinais da de ingratidão de donatário; á extinção de usufrutos; da
de desenvolvimento mental incompleto, comprovado e doação na forma de subvenção periódica e do encargo da
declarado em sentença de interdição, que os tornam in- testamentaria.
capazes de praticar atos na vida civil, sem a assistência de - Morte presumida: A morte presumida pela lei se dá
um curador (CC, art. 1.767. IV). E portadores de deficiência da ausência de uma pessoa nos casos dos arts 22 a 39 do
mental, que sofram redução na sua capacidade de enten- Código Civil e dos arts. 1.161 a 1.168 do Código de Processo
dimento, não poderão praticar atos na vida civil sem assis- Civil, Se uma pessoa desaparecer, sem deixar notícias, qual-
tência de curador (CC, art. 1.767, III). Desde que interditos. quer interessado na sua sucessão ou o Ministério Público
- Pródigos: São considerados relativamente incapazes (CPC. art. 1.163) poderá requerer ao juiz a declaração de
os pródigos, ou seja, aqueles que, comprovada, habitual sua ausência e a nomeação de curador. Se após um ano da
e desordenadamente, dilapidam seu patrimônio, fazendo arrecadação dos bens do ausente, ou, se deixou algum re-
gastos excessivos. Com a interdição do pródigo, privado presentante. Em se passando três anos, sem que dê sinal de
estará ele dos atos que possam comprometer seus bens, vida, poderá ser requerida sua sucessão provisória (CC, art..
não podendo, sem a assistência de seu curador (CC, art. 26) e o início do processo de inventário e partilha de seus
1.767, V), alienar, emprestar, dar quitação, transigir, hipote- bens, ocasião em que a ausência do desaparecido passa a
car, agir em juízo e praticar, em geral, atos que não sejam ser considerada presumida. Feita a partilha, seus herdeiros
de mera administração (CC, art. 1.782). deverão administrar os bens, prestando caução real, ga-
A capacidade dos indígenas será regulada por legisla- rantindo a restituição no caso de o ausente aparecer. Após
ção especial. dez anos do trânsito em julgado da sentença da abertura
da sucessão provisória (CC, art. 37; CPC, art. 1.167), sem
Quanto à maioridade, Maria Helena Diniz defende que que o ausente apareça, ou cinco anos depois das últimas
a incapacidade cessará quando o menor completar dezoito notícias do desaparecido que conta com oitenta anos de
anos, segundo nossa legislação civil. Ao atingir dezoito anos idade (CC, art. 38), será declarada a sua morte presumida
a pessoa tornar-se-á maior, adquirindo a capacidade de fato, a requerimento de qualquer interessado, convertendo-se
podendo, então, exercer pessoalmente os atos da vida civil. a sucessão provisória em definitiva. Se o ausente retornar
- Emancipação expressa ou voluntária: Antes da maiori- em até dez anos após a abertura da sucessão definitiva,
dade legal, tendo o menor atingido dezesseis anos, poderá terá os bens no estado em que se encontrarem e direito ao
haver a outorga de capacidade civil por concessão dos pais, preço que os herdeiros houverem recebido com sua venda.
no exercício do poder familiar, mediante escritura pública Porém, se regressar após esses dez anos, não terá direito a
inscrita no Registro Civil competente (Lei n. 6.015/73, arts. nada (CPC, art. 1.168).
89 e 90; CC, art. 92, II), independentemente de homologação Morte presumida sem decretação de ausência:
judicial. Além dessa emancipação por concessão dos pais, Admite-se declaração judicial de morte presumida sem
ter-se-á a emancipação por sentença judicial, se o menor decretação de ausência em casos excepcionais, apenas de-
com dezesseis anos estiver sob tutela e ouvido o tutor. pois de esgotadas todas as buscas e averiguações, deven-
- Emancipação tácita ou legal: A emancipação legal de- do a sentença fixar a data provável do óbito, e tais casos
corre dos seguintes casos: são:
a) casamento, pois não é plausível que fique sob a au- a) probabilidade da ocorrência da morte de quem se
toridade de outrem quem tem condições de casar e cons- encontrava em perigo de vida e
tituir família; assim, mesmo que haja anulação do matrimô- b) desaparecimento em campanha ou prisão de pes-
nio, viuvez, separação judicial ou divórcio, o emancipado soa, não sendo ela encontrada até dois anos após o térmi-
por esta forma não retoma à incapacidade; no da guerra.

11
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

A comoriência é a morte de duas ou mais pessoas na Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome
mesma ocasião e em razão do mesmo acontecimento. Em- alheio em propaganda comercial.
bora o problema da comoriência, em regra, alcance casos
de morte conjunta, ocorrida no mesmo acontecimento, ela Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas
coloca-se, com igual relevância, no que concerne a efeitos goza da proteção que se dá ao nome.
dependentes de sobrevivência, na hipótese de pessoas fa-
lecidas em locais e acontecimentos distintos, mas em datas Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à ad-
e horas simultâneas ou muito próximas. ministração da justiça ou à manutenção da ordem públi-
- Efeito da morte simultânea no direito sucessório: ca, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou
A comoriência terá grande repercussão na transmis- a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de
são de direitos sucessórios, pois, se os comorientes são uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e
herdeiros uns dos outros, não há transferência de direitos; sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a
um não sucederá ao outro, sendo chamados à sucessão honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destina-
os seus herdeiros ante a presunção juris tantum de que rem a fins comerciais.
faleceram ao mesmo tempo. Se dúvida houver no sentido Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de au-
de se saber quem faleceu primeiro, o magistrado aplicará sente, são partes legítimas para requerer essa proteção o
o art. 8º, caso em que, então, não haverá transmissão de cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.
direitos entre as pessoas que morreram na mesma ocasião.
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e
CAPÍTULO II o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providên-
DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE cias necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário
a esta norma.
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os di-
reitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciá- De acordo com o art. 11, os direitos da personalidade
veis, não podendo o seu exercício sofrer limitação volun- são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu
tária. exercício sofrer limitação voluntária, salvo exceções previs-
tas em lei.
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, - Sanções suscitadas pelo ofendido em razão de amea-
a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem ça ou lesão a direito da personalidade: Os direitos da per-
prejuízo de outras sanções previstas em lei. sonalidade destinam-se a resguardar a dignidade humana,
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legiti- mediante sanções, que devem ser suscitadas pelo ofendi-
mação para requerer a medida prevista neste artigo o côn- do (lesado direto). Essa sanção deve ser feita por meio de
juge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou medidas cautelares que suspendam os atos que ameacem
colateral até o quarto grau. ou desrespeitem a integridade físico-psíquica, intelectual e
moral, movendo-se, em seguida, uma ação que irá declarar
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de ou negar a existência da lesão, que poderá ser cumulada
disposição do próprio corpo, quando importar diminuição com ação ordinária de perdas e danos a fim de ressarcir
permanente da integridade física, ou contrariar os bons danos morais e patrimoniais.
costumes. - Lesado indireto: Se se tratar de lesão a interesses eco-
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será ad- nômicos, o lesado indireto será aquele que sofre um pre-
mitido para fins de transplante, na forma estabelecida em juízo em interesse patrimonial próprio, resultante de dano
lei especial. causado a um bem jurídico alheio, podendo a vítima estar
Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a falecida ou declarada ausente. A indenização por morte de
disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, outrem é reclamada jure próprio, pois ainda que o dano,
para depois da morte. que recai sobre a mulher e os filhos menores do finado,
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livre- seja resultante de homicídio ou acidente, quando eles
mente revogado a qualquer tempo. agem contra o responsável, procedem em nome próprio,
reclamando contra prejuízo que sofreram e não contra o
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter- que foi irrogado ao marido e pai.
-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a interven- Como o exemplo trazido pela autora Maria Helena Di-
ção cirúrgica. niz: a viúva e os filhos menores da pessoa assassinada são
lesados indiretos, pois obtinham da vítima do homicídio
Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele com- o necessário para sua subsistência. A privação de alimen-
preendidos o prenome e o sobrenome. tos é uma consequência do dano. No caso do dano moral,
pontifica Zannoni, os lesados indiretos seriam aquelas pes-
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado soas que poderiam alegar um interesse vinculado a bens
por outrem em publicações ou representações que a expo- jurídicos extrapatrimoniais próprios, que se satisfaziam
nham ao desprezo público, ainda quando não haja inten- mediante a incolumidade do bem jurídico moral da vítima
ção difamatória. direta do fato lesivo. Por ex.: o marido ou os pais pode-

12
NOÇÕES DE DIREITO

riam pleitear indenização por injúrias feitas à mulher ou aos O direito à imagem é autônomo, não precisando estar
filhos, visto que estas afetariam também pessoalmente o em conjunto com a intimidade, a identidade, a honra etc.
esposo ou os pais, em razão da posição que eles ocupam Embora possam estar em certos casos, tais bens a ele co-
dentro da unidade familiar. Haveria um dano próprio pela nexos, isso não faz com que sejam partes integrantes um
violação da honra da esposa ou dos filhos. Ter-se-á sempre do outro.
uma presunção juris tantum de dano moral, em favor dos - Direito de interpretação, direito à imagem e direito
ascendentes, descendentes, cônjuges, irmãos, tios, sobri- autoral: O direito de interpretação, ou seja, o do ator numa
nhos e primos, em caso de ofensa a pessoas da família mor- representação de certo personagem, pode estar conexo
tas ou ausentes. Essas pessoas não precisariam provar o dano como direito à voz, à imagem e com o direito autoral. O
extrapatrimonial, ressalvando-se a terceiros o direito de elidir autor de obra intelectual pode divulgá-la por apresenta-
aquela presunção. O convivente, ou concubino, noivo, ami- ção pública, quando a obra é representada dramaticamen-
gos, poderiam pleitear indenização por dano moral, mas terão te, executada, exibida, projetada em fita cinematográfica,
maior ônus de prova, uma vez que deverão provar, convincen- transmitida por radiodifusão etc., e é neste terreno que se
temente. o prejuízo e demonstrar que se ligavam à vítima por situa o contrato de representação e execução, de conteú-
vínculos estreitos de amizade ou de insuspeita afeição. do complexo por se referir não só ao desempenho pes-
soal, mas também à atuação por meios mecânicos e ele-
O artigo 16 traz que toda pessoa tem direito ao nome, trônicos dos diferentes gêneros de produção intelectual,
nele compreendidos o prenome e o sobrenome. O nome suscetíveis de comunicação audiovisual.
integra a personalidade por ser o sinal exterior pelo qual se Na representação pública há imagens transmitidas
designa, se individualiza e se reconhece a pessoa no seio para difundir obra literária, musical ou artística que de-
da família e da sociedade. verão ser tuteladas juridicamente, juntamente com os
- Elementos constitutivos do nome: Dois, em regra, são os direitos do autor. Os direitos dos artistas, intérpretes e
elementos constitutivos do nome: o prenome próprio da pessoa, executantes são conexos aos dos escritores, pintores,
que pode ser livremente escolhido, desde que não exponha o compositores, escultores etc. Logo, podem eles impedir a
portador ao ridículo; e o sobrenome, que é o sinal que identifica a utilização indevida de suas interpretações, bem como de
procedência da pessoa, indicando sua filiação ou estirpe, poden- sua imagem.
do advir do apelido de família paterno, materno ou de ambos. - Proteção da imagem como direito autoral: A imagem
A aquisição do sobrenome pode decorrer não só do é protegida pelo art. 52, XXVIII, a, da CF, como direito au-
nascimento, por ocasião de sua transcrição no Registro toral, desde que ligada à criação intelectual de obra foto-
competente reconhecendo sua filiação, também da ado- gráfica, cinematográfica, publicitária etc.
ção, do casamento, da união estável, ou ato de interessado, - Limitações ao direito à imagem: Todavia, há certas
mediante requerimento ao magistrado. limitações do direito à imagem, com dispensa da anuência
A pessoa tem autorização de usar seu nome e de de- para sua divulgação, quando:
fendê-lo de abuso cometido por terceiro, que, em publica- a) se tratar de pessoa notória, pois isso não constitui
ção ou representação, venha a expô-la ao desprezo público permissão para devassar sua privacidade, pois sua vida ín-
— mesmo que não haja intenção de difamar — por atingir tima deve ser preservada. A pessoa que se toma de inte-
sua boa reputação, moral e profissional, no seio da cole- resse público, pela fama ou significação intelectual, moral,
tividade (honra objetiva). Em regra, a reparação por essa artística ou política não poderá alegar ofensa ao seu di-
ofensa é pecuniária, mas há casos em que é possível a res- reito à imagem se sua divulgação estiver ligada à ciência,
tauração in natura, publicando-se desagravo. às letras, à moral, à arte e apolítica. Isto é assim porque a
É vedada a utilização de nome alheio em propaganda difusão de sua imagem sem seu consenso deve estar rela-
comercial, por ser o direito ao nome indisponível, admitin- cionada com sua atividade ou com o direito à informação;
do-se sua relativa disponibilidade mediante consentimento b) se referir a exercício de cargo público, pois quem
de seu titular, em prol de algum interesse social ou de pro- tiver função pública de destaque não poderá impedir que
moção de venda de algum produto, mediante pagamento no exercício de sua atividade, seja filmada ou fotografada,
de remuneração convencionada. salvo na intimidade;
A imagem-retrato é a representação física da pessoa c) se procurar atender à administração ou serviço da
como um todo ou em partes separadas do corpo, desde justiça ou de polícia, desde que a pessoa não sofra dano à
que identificáveis, implicando o reconhecimento de seu ti- sua privacidade;
tular por meio de fotografia, escultura, desenho, pintura. d) se tiver de garantir a segurança pública nacional, em
Intepretação dramática, cinematográfica, televisão, sites que prevalecer o interesse social sobre o particular, reque-
etc., que requer autorização do retratado. E a imagem-a- rendo a divulgação da imagem, p. ex., de um procurado
tributo é o conjunto de caracteres ou qualidades cultivadas pela policia ou a manipulação de arquivos fotográficos de
pela pessoa, reconhecidos socialmente. departamentos policiais para identificação de delinquente.
Abrange o direito: á própria imagem ou a difusão da Urge não olvidar que o civilmente identificado não possa
imagem, a imagem das coisas próprias e á imagem em coi- ser submetido a identificação criminal, salva nos casos au-
sas, palavras ou escritos ou em publicações; de obter ima- torizados legalmente;
gem ou de consentir em sua captação por qualquer meio e) se buscar atender ao interesse público, aos fins cul-
tecnológico. turais, científicos e didáticos;

13
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

f) se houver necessidade de resguardar a saúde pú- § 3º Na falta das pessoas mencionadas, compete ao
blica. Assim, portador de moléstia grave e contagiosa não juiz a escolha do curador.
pode evitar que se noticie o fato;
g) se obtiver imagem, em que a figura seja tão-somen- Seção II
te parte do cenário (congresso, enchente, praia, tumulto, Da Sucessão Provisória
show, desfile, festa carnavalesca, restaurante etc.), sem que
se a destaque, pois se pretende divulgar o acontecimento Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do
e não a pessoa que integra a cena; ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em
h) se tratar de identificação compulsória ou imprescin- se passando três anos, poderão os interessados requerer
dível a algum ato de direito público ou privado. que se declare a ausência e se abra provisoriamente a su-
- Reparação do dano à imagem: O lesado pode pleitear cessão.
a reparação pelo dano moral e patrimonial (Súmula 37 do
STJ) provocado por violação à sua imagem-retrato ou ima- Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, so-
gem-atributo e pela divulgação não autorizada de escritos mente se consideram interessados:
ou de declarações feitas. Se a vítima vier a falecer ou for de- I - o cônjuge não separado judicialmente;
clarada ausente, serão partes legítimas para requerer a tu- II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamen-
tela ao direito à imagem, na qualidade de lesados indiretos, tários;
seu cônjuge, ascendentes ou descendentes e também, no III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito
nosso entender, o convivente, visto ter interesse próprio, dependente de sua morte;
vinculado a dano patrimonial ou moral causado a bem jurí- IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.
dico alheio. Este parágrafo único do art. 20 seria supérfluo
ante o disposto no art. 12, parágrafo único. Art. 28. A sentença que determinar a abertura da su-
O direito à privacidade da pessoa contém interesses cessão provisória só produzirá efeito cento e oitenta dias
jurídicos, por isso seu titular pode impedir ou fazer ces- depois de publicada pela imprensa; mas, logo que passe
sar invasão em sua esfera íntima, usando para sua defesa: em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, se
mandado de injunção, habeas data, habeas corpus, man- houver, e ao inventário e partilha dos bens, como se o au-
dado de segurança, cautelares inominadas e ação de res- sente fosse falecido.
ponsabilidade civil por dano moral e patrimonial. § 1º Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não ha-
vendo interessados na sucessão provisória, cumpre ao Mi-
CAPÍTULO III nistério Público requerê-la ao juízo competente.
DA AUSÊNCIA § 2º Não comparecendo herdeiro ou interessado para
Seção I requerer o inventário até trinta dias depois de passar em
Da Curadoria dos Bens do Ausente julgado a sentença que mandar abrir a sucessão provisória,
proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente pela for-
Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio ma estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823.
sem dela haver notícia, se não houver deixado represen-
tante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conve-
o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Mi- niente, ordenará a conversão dos bens móveis, sujeitos a
nistério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á cura- deterioração ou a extravio, em imóveis ou em títulos ga-
dor. rantidos pela União.

Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomea- Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos
rá curador, quando o ausente deixar mandatário que não bens do ausente, darão garantias da restituição deles, me-
queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se diante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões
os seus poderes forem insuficientes. respectivos.
Art. 24. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe-á os po- § 1º Aquele que tiver direito à posse provisória, mas
deres e obrigações, conforme as circunstâncias, observan- não puder prestar a garantia exigida neste artigo, será ex-
do, no que for aplicável, o disposto a respeito dos tutores cluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a
e curadores. administração do curador, ou de outro herdeiro designado
pelo juiz, e que preste essa garantia.
Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja § 2º Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge,
separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos uma vez provada a sua qualidade de herdeiros, poderão,
antes da declaração da ausência, será o seu legítimo cura- independentemente de garantia, entrar na posse dos bens
dor. do ausente.
§ 1º Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do au-
sente incumbe aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar,
não havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo. não sendo por desapropriação, ou hipotecar, quando o or-
§ 2º Entre os descendentes, os mais próximos prece- dene o juiz, para lhes evitar a ruína.
dem os mais remotos.

14
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisó- seus bens, o juiz a requerimento de qualquer interessado,
rios ficarão representando ativa e passivamente o ausente, seja ou não parente, bastando que tenha interesse pecu-
de modo que contra eles correrão as ações pendentes e as niário ou do Ministério Público, nomeará um curador para
que de futuro àquele forem movidas. administrar seu patrimônio resguardando-o.
Não havendo bens, não se terá nomeação de curador.
Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for Em caso de ausência, a curadoria é dos bens do ausente e
sucessor provisório do ausente, fará seus todos os frutos e não da pessoa do ausente. Há quem ache, acertadamente,
rendimentos dos bens que a este couberem; os outros su- não se tratar de ausência o desaparecimento de alguém num
cessores, porém, deverão capitalizar metade desses frutos acidente aéreo, rodoviário, ferroviário etc. em que, pelos indí-
e rendimentos, segundo o disposto no art. 29, de acordo cios, a sua morte parece óbvia, apesar de não ter sido encon-
com o representante do Ministério Público, e prestar anual- trado seu cadáver já que não há incerteza de seu paradeiro.
mente contas ao juiz competente. A nomeação de curador a bens de um ausente dar-se-
Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado -á mesmo que ele tenha deixado procurador que se recuse
que a ausência foi voluntária e injustificada, perderá ele, a administrar seu patrimônio ou que não possa exercer ou
em favor do sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos. continuar o mandato, seja por ter ocorrido o término da re-
presentação a termo, seja por sua renúncia, não aceitando
Art. 34. O excluído, segundo o art. 30, da posse provisória a fortiori o mandato, seja por sua morte ou incapacidade.
poderá, justificando falta de meios, requerer lhe seja entre- O mesmo se diga se os poderes outorgados ao procurador
gue metade dos rendimentos do quinhão que lhe tocaria. forem insuficientes para a gestão dos bens do ausente.
Com isso, o ausente ficará sem representante que venha
Art. 35. Se durante a posse provisória se provar a épo- a gerir seu patrimônio, urgindo, pois, que se nomeie curador.
ca exata do falecimento do ausente, considerar-se-á, nessa O curador dos bens do ausente, uma vez nomeado,
data, aberta a sucessão em favor dos herdeiros, que o eram terá seus deveres e poderes estabelecidos pelo juiz de con-
àquele tempo. formidade com as circunstancias do caso. Logo, o magis-
trado, conforme o caso, no ato da nomeação determinará
Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a exis- pormenorizadamente as providências a serem tomadas e
tência, depois de estabelecida a posse provisória, cessarão as atividades a serem realizadas, observando os disposi-
para logo as vantagens dos sucessores nela imitidos, fican- tivos legais, sempre no que forem aplicáveis, reguladores
do, todavia, obrigados a tomar as medidas assecuratórias da situação similar dos tutores e curadores, para que a
precisas, até a entrega dos bens a seu dono. atuação do curador dos bens do ausente seja realmente
eficiente e responsável.
Seção III A curadoria dos bens do ausente deverá ser deferida, se
Da Sucessão Definitiva casado for, não estando separado judicialmente, ao seu côn-
juge, para que seu patrimônio não se perca ou deteriore, as-
Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sen- sumindo sua administração. Ante o interesse na conservação
tença que concede a abertura da sucessão provisória, po- dos bens do ausente, qualquer que seja o regime matrimo-
derão os interessados requerer a sucessão definitiva e o nial de bens, seu curador legítimo será seu cônjuge.
levantamento das cauções prestadas. - Nomeação de curador dos bens do ausente na falta
do cônjuge: Se o ausente que deixou bens não tiver con-
Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, tam- sorte, nomear-se-á o pai ou a mãe do desaparecido como
bém, provando-se que o ausente conta oitenta anos de curador, e, na falta destes, os descendentes, desde que te-
idade, e que de cinco datam as últimas notícias dele. nham idoneidade para exercer o cargo.
Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes - Ordem de nomeação entre os descendentes: Na curado-
à abertura da sucessão definitiva, ou algum de seus des- ria dos bens do ausente cabível a descendente seguir-se-á o
cendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os princípio de que os mais próximos excluem os mais remotos.
bens existentes no estado em que se acharem, os sub-ro- - Escolha de curador dos bens de ausente pelo órgão
gados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais judicante: Na falta de cônjuge, ascendente ou descendente
interessados houverem recebido pelos bens alienados de- do ausente competirá ao juiz a escolha do curador, desde
pois daquele tempo. que idôneo a exercer o cargo.
Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este A curadoria dos bens do ausente perdura por um ano,
artigo, o ausente não regressar, e nenhum interessado pro- durante o qual o juiz ordenará a publicação de editais, de
mover a sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão dois em dois meses, convocando o ausente a reaparecer
ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se locali- para retornar seus haveres (CPC, art 1.161).
zados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao Abertura da sucessão provisória: Passado um ano da
domínio da União, quando situados em território federal. arrecadação dos bens do ausente sem que se saiba do seu
paradeiro, ou, se ele deixou algum representante, em se
Verificado o desaparecimento de uma pessoa do passando três anos, poderão os interessados requerer que
seu domicílio, sem dar qualquer notícia de seu paradeiro e se abra, provisoriamente, a sucessão, cessando a curatela
sem deixar procurador, ou representante, para administrar (CPC, art. 1.162,III).

15
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

A sucessão provisória poderá ser requerida por Consequentemente, o curador dos bens do ausente
qualquer interessado: não mais será o representante legal, pois, uma vez que os
a) cônjuge não separado judicialmente; herdeiros, em caráter provisório, entraram na posse da he-
b) herdeiros presumidos legítimos e testamentários; rança, justificativa alguma há para que o curador continue
c) pessoas que tiverem sobre os bens do ausente na representação daqueles bens, quer ativa, quer passiva-
direito subordinado à condição de morte, ou seja, se mente, ou seja, como réu ou como autor.
houver fideicomisso; Se o sucessor provisório do ausente for seu descen-
d) credores de obrigações vencidas e não pagas dente, ascendente ou cônjuge, terá a propriedade de todos
(CPC, art. 1.163, § lº). os frutos e rendimentos dos bens que a este couberem,
podendo deles dispor como quiser. Se se tratar de outros
- Abertura da sucessão provisória pelo Ministério sucessores que não aqueles acima enumerados, sendo. p.
Público: Se, findo o prazo legal de um ano, não houver ex., parentes colaterais, deverão converter a metade desses
interessado na sucessão provisória, ou se entre os her- rendimentos e frutos em imóveis ou títulos de dívida pú-
deiros houver interdito ou menor, competirá ao Minis- blica, a fim de garantir sua ulterior e possível restituição ao
tério Público requerer a abertura da sucessão provisória ausente. Tal capitalização deverá ser feita de acordo com o
(CPC, art. 1.163, § 2º). Ministério Público, que, além de determinar qual o melhor
- Efeitos da sentença declaratória da abertura da emprego da metade daqueles rendimentos, deverá fisca-
sucessão provisória: A sentença que determinar a aber- lizá-lo.
tura da sucessão provisória produzirá efeitos somen- Os sucessores provisórios deverão prestar contas,
te 180 dias depois de sua publicação pela imprensa. anualmente, ao juiz, do emprego da metade dos frutos e
Assim que transitar em julgado, ter-se-á a abertura do rendimentos. Se o ausente aparecer e ficar comprovado
testamento, se houver, e proceder-se-á ao inventário que sua ausência foi voluntária e injustificada ele perderá,
e partilha dos bens como se fosse o ausente falecido em favor dos sucessores provisórios, a parte que lhe cabe-
(CPC, art. 1.165). ria nos frutos e rendimentos.
- Ausência de herdeiro: Se, dentro de trinta dias do O sucessor provisório que não pôde entrar na posse
trânsito em julgado da sentença que manda abrir a su- de seu quinhão, por não ter oferecido a garantia legal, po-
cessão provisória, não aparecer nenhum interessado, derá justificar-se provando a falta de recursos, requerendo
ou herdeiro, que requeira o inventário, sendo a suces- judicialmente, que lhe seja entregue metade dos frutos e
são requerida pelo Ministério Público, a herança será rendimentos produzidos pela parte que lhe caberia, e que
considerada jacente (CPC, art. 1.165, parágrafo único; foi retida, para poder fazer frente à sua subsistência.
CC, ais. 1.819 a 1.823). Retornando o ausente ou enviando notícias suas, ces-
Para garantir ao ausente a devolução de seus bens, sarão para os sucessores provisórios todas as vantagens,
por ocasião de sua volta, o juiz, antes da partilha, de- ficando obrigados a tornar medidas assecuratórias até a
verá ordenar a conversão, por meio de hasta pública, devolução dos bens a seu dono, conservando-os e preser-
dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, vando-os sob pena de perdas e danos.
em imóveis ou em títulos de dívida pública da União, Sucessores provisórios como herdeiros presuntivos: Os
adquiridos com o produto obtido. sucessores provisórios são herdeiros presuntivos, uma vez
Os herdeiros que forem imitidos na posse dos bens que administram patrimônio supostamente seu: o real pro-
do ausente deverão dar garantias de sua devolução prietário é o ausente, cabendo-lhe, também a posse dos
mediante penhor ou hipoteca proporcionais ao qui- bens, bem como os seus frutos e rendimentos, ou seja, o
nhão respectivo (CPC, art. 1.166), exceto se ascenden- produto da capitalização ordenada pelo art. 3º. O sucessor
tes, descendentes ou cônjuge, desde que comprovada provisório, com o retorno do ausente, deverá prestar con-
a sua qualidade de herdeiros. tas dos bens e de seus acrescidos, devolvendo-os , assim
- Falta de condição para prestar garantia: Se o como, se for o caso, os sub-rogados, se não mais existirem.
herdeiro que tiver direito à posse provisória não pu- A sucessão definitiva poderá ser requerida dez anos
der prestar as garantias exigidas no caput deste artigo, depois de passada em julgado a sentença que concedeu
não poderá entrar na posse dos bens, que ficarão sob abertura de sucessão provisória.
a administração de um curador, ou de outro herdeiro Efeitos da abertura da sucessão definitiva:
designado pelo magistrado, se prontifique a prestar a Com a sucessão definitiva, os sucessores:
referida garantia. a) passarão a ter a propriedade resolúvel dos bens re-
Os imóveis do ausente, não só os arrecadados, mas cebidos;
também os convertidos por venda dos móveis, não po- b) perceberão os frutos e rendimentos desses bens,
derão ser alienados, salvo em caso de desapropriação podendo utilizá-los como quiser;
ou por ordem judicial para lhes evitar a ruína. c) poderão alienar onerosa ou gratuitamente tais bens, e
Os sucessores provisórios, uma vez empossados d) poderão requerer o levantamento das cauções pres-
nos bens, ficarão representando ativa e passivamente o tadas.
ausente; logo, contra eles correrão as ações pendentes
e as que de futuro, após a abertura da sucessão provi- Abertura de sucessão definitiva de ausente com oiten-
sória, àquele se moverem. ta anos:

16
NOÇÕES DE DIREITO

Se se provar que o ausente tem oitenta anos de nas- § 1º São livres a criação, a organização, a estrutura-
cido e que de cinco datam as últimas notícias suas; po- ção interna e o funcionamento das organizações religiosas,
der-se-á ter a abertura da sucessão definitiva, consideran- sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimen-
do-se a média de vida da pessoa, mesmo que não tenha to ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu
havido anteriormente sucessão provisória. funcionamento.
- Regresso do ausente ou de seu herdeiro necessário: § 2º As disposições concernentes às associações apli-
Se o ausente, ou algum de seus descendentes ou ascen- cam-se subsidiariamente às sociedades que são objeto do
dentes, regressar nos dez anos seguintes à abertura da Livro II da Parte Especial deste Código.
sucessão definitiva, apenas poderá requerer ao magistra- § 3º Os partidos políticos serão organizados e funcio-
do a devolução dos bens existentes no estado em que se narão conforme o disposto em lei específica.
encontrarem os sub-rogados em seu lugar ou o preço os
herdeiros ou interessados receberam pelos alienados de- Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas
pois daquele tempo, respeitando-se assim, os direitos de de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no
terceiro. respectivo registro, precedida, quando necessário, de au-
- Declaração da vacância dos bens do ausente: Se, nos torização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se
dez anos a que se refere o caput do artigo ora examinado, no registro todas as alterações por que passar o ato cons-
o ausente não retornar, e nenhum interessado requerer a titutivo.
sucessão definitiva os bens serão arrecadados como vagos, Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular
passando sua propriedade plena ao Município, ao Distrito Fe- a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por
deral, se situados nas respectivas circunscrições, ou à União. defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação
de sua inscrição no registro.
TÍTULO II
DAS PESSOAS JURÍDICAS Art. 46. O registro declarará:
CAPÍTULO I I - a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração
DISPOSIÇÕES GERAIS e o fundo social, quando houver;
II - o nome e a individualização dos fundadores ou ins-
Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, in- tituidores, e dos diretores;
terno ou externo, e de direito privado. III - o modo por que se administra e representa, ativa e
passivamente, judicial e extrajudicialmente;
Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno: IV - se o ato constitutivo é reformável no tocante à
I - a União; administração, e de que modo;
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; V - se os membros respondem, ou não, subsidiaria-
III - os Municípios; mente, pelas obrigações sociais;
IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; VI - as condições de extinção da pessoa jurídica e o
V - as demais entidades de caráter público criadas por destino do seu patrimônio, nesse caso.
lei.
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pes- Art. 47. Obrigam a pessoa jurídica os atos dos adminis-
soas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estru- tradores, exercidos nos limites de seus poderes definidos
tura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto no ato constitutivo.
ao seu funcionamento, pelas normas deste Código.
Art. 48. Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva,
Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo as decisões se tomarão pela maioria de votos dos presen-
os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regi- tes, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso.
das pelo direito internacional público. Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular
as decisões a que se refere este artigo, quando violarem a
Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno lei ou estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo, simulação
são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que ou fraude.
nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado di-
reito regressivo contra os causadores do dano, se houver, Art. 49. Se a administração da pessoa jurídica vier a
por parte destes, culpa ou dolo. faltar, o juiz, a requerimento de qualquer interessado, no-
mear-lhe-á administrador provisório.
Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:
I - as associações; Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica,
II - as sociedades; caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão
III - as fundações. patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte,
IV - as organizações religiosas; ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no
V - os partidos políticos. processo, que os efeitos de certas e determinadas relações
VI - as empresas individuais de responsabilidade limi- de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos
tada. administradores ou sócios da pessoa jurídica.

17
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou O artigo 43 traz a teoria do risco e responsabilidade
cassada a autorização para seu funcionamento, ela subsis- objetiva, e por essa teoria cabe indenização estatal de
tirá para os fins de liquidação, até que esta se conclua. todos os danos causados, por comportamentos dos fun-
§ 1º Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver cionários, a direitos de particulares. Trata-se da responsa-
inscrita, a averbação de sua dissolução. bilidade objetiva do Estado, bastando a comprovação da
§ 2º As disposições para a liquidação das sociedades existência do prejuízo a administrados. Mas o Estado tem
aplicam-se, no que couber, às demais pessoas jurídicas de ação regressiva contra o agente, quando tiver havido culpa
direito privado. ou dolo deste, de forma a não ser o patrimônio público
§ 3º Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancela- desfalcado pela sua conduta ilícita. Logo, na relação entre
mento da inscrição da pessoa jurídica. poder público e agente, a responsabilidade civil é subjetiva,
por depender da apuração de sua culpabilidade pela lesão
Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a causada ao administrado.
proteção dos direitos da personalidade.
Classificação das pessoas jurídicas de direito privado: As
Conceito de pessoa jurídica: A pessoa jurídica é a pessoas jurídicas de direito privado, instituídas por iniciativa
unidade de pessoas naturais ou de patrimônios que visa de particulares, dividem-se, segundo o artigo focado, em:
à obtenção de certas finalidades, reconhecida pela ordem a) Fundações particulares, que são universalidades de
jurídica como sujeito de direitos e obrigações. bens, personalizadas pela ordem pública, em consideração
a um fim estipulado pelo fundador, sendo este objetivo
Pessoas jurídicas de direito público interno: São pes- imutável e seus órgãos servientes, pois todas as resoluções
soas jurídicas de direito público interno: estão delimitadas pelo instituidor. Deve ser constituída por
a) a União, que designa a nação brasileira, nas suas re- escrito e lançada no registro geral;
lações com os Estados federados que a compõem e com os b) Associações civis, religiosas, pias, morais, cientifi-
cidadãos que se encontram em seu território; logo, indica cas ou literárias e as associações de utilidade pública, que
a organização política dos poderes nacionais considerada abrangem um conjunto de pessoas, que almejam fins ou
em seu conjunto. Assim, o Estado Federal (União) seria ao interesses dos sócios, que podem ser alterados, pois os
mesmo tempo Estado e Federação; sócios deliberam livremente, já que seus órgãos são diri-
b) os Estados federados, que se regem pela Constitui- gentes. Na associação não há fim lucrativo, embora tenha
ção e pelas leis que adotarem. Cada Estado federado pos- patrimônio formado com a contribuição de seus membros
sui autonomia administrativa, competência e autoridade para a obtenção de fins culturais, educacionais, esportivos,
na seara legislativa, executiva e judiciária, decidindo sobre religiosos, recreativos, morais etc.;
negócios locais; c) sociedade simples, na qual se visa o fim econômico ou
c) o Distrito Federal, que é a capital da União. É um lucrativo, pois o lucro obtido deve ser repartido entre os sócios,
município equiparado ao Estado federado por ser a sede sendo alcançado pelo exercício de cenas profissões ou pela
da União, tendo administração, autoridades próprias e leis prestação de serviços técnicos (p. ex., uma sociedade imobi-
atinentes aos serviços locais. Possui personalidade jurídica liária ou uma sociedade cooperativa — CC, ais. 982, parágrafo
por ser um organismo político administrativo, constituído único, e 1.093 a 1.096). As sociedades devem constituir-se por
para a consecução de fins comuns; escrito, lançar-se no registro civil das pessoas jurídicas;
d) os Territórios, autarquias territoriais (Hely Lopes d) sociedades empresárias, que visam o lucro, me-
Meirelles), ou melhor, pessoas jurídicas de direito público diante exercício de atividade empresarial ou comercial (RT,
interno, com capacidade administrativa e de nível consti- 468/207), assumindo as formas de: sociedade cm nome
tucional, ligadas à União, tendo nesta a fonte de seu re- coletivo; sociedade em comandita simples; sociedade em
gime jurídico infraconstitucional (Michel Temer) e criadas comandita por ações; sociedade limitada; sociedade anô-
mediante lei complementar; nima ou por ações. Assim, para saber se dada sociedade é
e) os Municípios legalmente constituídos, por terem simples ou empresária basta considerar a natureza de suas
interesses peculiares e economia própria. A Constituição operações habituais; se estas tiverem por objeto o exercí-
Federal assegura sua autonomia política, ou seja, a capa- cio de atividades econômicas organizadas para a produção
cidade para legislar relativamente a seus negócios e por ou circulação de bens ou de serviços próprias de empre-
meio de suas próprias autoridades. sário, sujeito a registro, a sociedade será empresária; caso
Ampliação legal do número das pessoas jurídicas de contrario, simples, mesmo que adote quaisquer das formas
direito público interno: Além das pessoas enumeradas por empresariais, como permite o Art. 983 do Código Civil, ex-
este artigo, a lei estendeu a personalidade de direito públi- ceto se for anônima, que, por força de lei, será sempre em-
co, como já tivemos oportunidade de dizer ao comentar- presária. As sociedades empresárias deverão ter assento no
mos o art. 40, às autarquias. Registro Público de Empresas Mercantis. E as simples, no
Registro Civil das Pessoas Jurídicas;
Pessoas jurídicas de direito público externo: São as e) partidos políticos, no interesse do regime democrá-
regulamentadas pelo direito internacional público, abran- tico, da autenticidade do sistema representativo e defen-
gendo: nações estrangeiras, Santa Sé e organismos inter- soras dos direitos fundamentais definidos na Constituição
nacionais (ONU, OEA, Unesco, FAO etc.). Federal.

18
NOÇÕES DE DIREITO

O fato que dá origem a pessoa jurídica de direito pri- e) a responsabilidade subsidiária dos sócios pelas obri-
vado é a vontade humana, sem necessidade de qualquer gações sociais;
ato administrativo de concessão ou autorização, salvo os f) as condições de extinção da pessoa jurídica e
casos especiais do Código Civil, porém a sua personalidade g) o destino do seu patrimônio nesse caso.
jurídica permanece em estado potencial, adquirindo status
jurídico, quando preencher as formalidades ou exigências - Vinculação da pessoa jurídica aos atos praticados
legais. pelos administradores: Se seus administradores a repre-
- Fases do processo genético da pessoa jurídica de di- sentam ativa e passivamente, em juízo ou fora dele, todos
reito privado: Na criação da pessoa jurídica de direito pri- os atos negociais exercidos por eles, dentro dos limites de
vado há duas fases: seus poderes estabelecidos no estatuto social, obrigarão a
a) a do ato constitutivo, que deve ser escrito, podendo pessoa jurídica, que deverá cumpri-los.
revestir-se de forma pública ou particular, com exceção da - Administração coletiva: Se por lei ou pelo contrato
fundação, que requer instrumento público ou testamento. social vários forem os administradores, as deliberações
Além desses requisitos, há certas sociedades que para ad- deverão ser tomadas por maioria de votos dos presentes,
quirir personalidade jurídica dependem de previa autoriza- contados segundo o valor das quotas de cada um, exceto
ção ou aprovação do Poder Executivo Federal, como, p. ex., se ato constitutivo dispuser de modo contrário. Para a for-
as sociedades estrangeiras; mação dessa maioria, é necessário votos correspondentes
b) a do registro público, pois para que a pessoa jurídica a mais de metade do capital.
de direito privado exista legalmente é necessário inscrever - Anulação de decisão contrária à lei e ao estatuto ou
os contratos ou estatutos no seu registro peculiar; o mes- eivada de vício de consentimento ou social: O direito de
mo deve fazer quando conseguir a imprescindível autoriza- anular deliberação de administradores que violar norma le-
ção ou aprovação do Poder Executivo Federal. gal ou estatutária ou for eivada de erro, dolo, simulação ou
Apenas com o assento adquirirá personalidade jurídi- fraude, poderá ser exercido dentro do prazo decadencial
ca, podendo, então, exercer todos os direitos; além disso, de três anos.
quaisquer alterações supervenientes havidas em seus atos Como a pessoa jurídica precisa ser representada, ativa
constitutivos deverão ser averbadas no registro. Como ou passivamente, em juízo ou fora dele, deverá ser admi-
se vê esse sistema do registro sob o regime da liberdade nistrada por quem o estatuto indicar ou por quem seus
contratual, regulado por norma especial, ou com autori- membros elegerem. Por isso, se a administração da pessoa
zação legal, é de grande utilidade em razão da publicida- jurídica vier a faltar, o magistrado, mediante requerimento
de que determinará os direitos de terceiros. O registro do de qualquer interessado, deverá nomear um administrador
ato constitutivo é uma exigência de ordem pública no que provisório, que a representará enquanto não se nomear
atina à prova e à aquisição da personalidade jurídica das seu representante legal, que exteriorizará sua vontade, no
entidades coletivas. exercício dos poderes que lhe forem conferidos pelo con-
- Prazo decadencial para anular constituição de pes- trato social.
soa jurídica de direito privado: Havendo defeito no ato Desconsideração da pessoa jurídica:
constitutivo de pessoa jurídica de direito privado, pode-se A teoria da desconsideração permite que o juiz não
desconstituí-la dentro do prazo decadencial de três anos, mais considere os efeitos da personificação ou da autono-
contado da publicação de sua inscrição no Registro. mia jurídica da sociedade para atingir e vincular a respon-
sabilidade dos sócios, com o intuito de impedir a consu-
- Registro civil da pessoa jurídica: Somente com o re- mação de fraudes e abusos de direito cometidos por meio
gistro ter-se-á a aquisição da personalidade jurídica. da personalidade jurídica que causem prejuízos ou danos
Tal registro de atos constitutivos de sociedades simples a terceiros.
dar-se-á no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, sendo que A utilização da desconsideração da personalidade jurí-
as sociedades empresárias deverão ser registradas no Re- dica deve ser aplicada aos casos previstos em lei, e não de
gistro Público de Empresas Mercantis, sendo competentes forma ampla ou genérica.
para a prática de tais atos as Juntas Comerciais, e seguem Em muitas situações os sócios ou acionistas adminis-
o disposto nas normas dos arts. 1.150 e 1.154 do Código tradores das sociedades, sejam elas de capital ou pessoas,
Civil. acabam agindo com excesso de poder ou má-fé, contra-
- Requisitos para o registro da pessoa jurídica de direi- riam o contrato e estatuto social da sociedade, ou até mes-
to privado: O artigo sub examine aponta os requisitos do mo as leis.
assento, pois este declarará: Esta teoria foi desenvolvida pelos tribunais norte-ame-
a) a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração ricanos, tendo em vista aqueles casos concretos, em que o
e o fundo social, quando houver; controlador da sociedade a desviava de suas finalidades,
b) nome e individualização dos fundadores ou institui- para impedir fraudes mediante o uso da personalidade ju-
dores e dos diretores; rídica, responsabilizando seus membros.
c) a forma de administração e a representação ativa e Pelo Código Civil, quando a pessoa jurídica se des-
passiva, judicial e extrajudicial; viar dos fins que determinarem sua constituição, em ra-
d) a possibilidade e o modo de reforma do estatuto zão do fato de os sócios ou administradores a utilizarem
social no que atina à administração da pessoa jurídica; para alcançar finalidade diversa do objetivo societário para

19
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

prejudicar alguém ou fazer mau uso da finalidade social, II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão
ou quando houver confusão patrimonial (mistura do pa- dos associados;
trimônio social com o particular do sócio, causando dano III - os direitos e deveres dos associados;
a terceiro) em razão de abuso de personalidade jurídica, o IV - as fontes de recursos para sua manutenção;
magistrado, a pedido do interessado ou do Ministério Pú- V – o modo de constituição e de funcionamento dos
blico, está autorizado, com base na prova material do dano, órgãos deliberativos;
a desconsiderar, episodicamente, a personalidade jurídica, VI - as condições para a alteração das disposições esta-
para coibir fraudes e abusos dos sócios que dela se valerem tutárias e para a dissolução.
como escudo, sem importar essa medida numa dissolução VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação
da pessoa jurídica. das respectivas contas.
Em relação à questão processual, esta teoria propõe
a vincular todos os possíveis responsáveis previstos, ou Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas
seja, todos os sócios, fazendo uso de institutos processuais o estatuto poderá instituir categorias com vantagens es-
que regulam o litisconsórcio a fim de garantir um grau de peciais.
aproveitamento e otimização do processo. É de certa forma
uma maneira eficaz para fins de prevenir futuras fraudes a Art. 56. A qualidade de associado é intransmissível, se
credores, desde que requerida em casos extremos de des- o estatuto não dispuser o contrário.
vio de finalidade da empresa e abuso da personalidade ju- Parágrafo único. Se o associado for titular de quota ou
rídica dos sócios, entre outros. fração ideal do patrimônio da associação, a transferência
Atualmente a desconsideração da personalidade jurí- daquela não importará, de per si, na atribuição da qualida-
dica é um remédio bastante eficaz, utilizado ao caso con- de de associado ao adquirente ou ao herdeiro, salvo dispo-
creto, pois se torna cada vez mais necessário a existência sição diversa do estatuto.
de mecanismos, para garantir o pagamento de credores
que sofreram de alguma forma prejuízos ocasionados por Art. 57. A exclusão do associado só é admissível haven-
fraude permeando assim pela eficácia real do Direito. do justa causa, assim reconhecida em procedimento que
A desconsideração é um instrumento para a efetivida- assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previs-
de do processo, a fim de elencar os responsáveis pelos da- tos no estatuto.
nos, executar o fiel cumprimento do pagamento do crédito Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 11.127, de 2005)
aos credores e o retorno da atividade empresarial.
Art. 58. Nenhum associado poderá ser impedido de
Havendo dissolução da pessoa jurídica ou cassada sua exercer direito ou função que lhe tenha sido legitimamente
autorização para funcionamento, ela subsistirá para fins de conferido, a não ser nos casos e pela forma previstos na lei
liquidação, mas aquela dissolução ou cassação deverá ser ou no estatuto.
averbada no registro onde ela estiver inscrita.
- Liquidação da sociedade: Percebe-se que a extinção Art. 59. Compete privativamente à assembleia geral:
da pessoa jurídica não se opera instantaneamente, pois se I – destituir os administradores;
houver bens de seu patrimônio e dívidas a resgatar, ela II – alterar o estatuto.
continuará em fase de liquidação, durante a qual subsiste Parágrafo único. Para as deliberações a que se refe-
para a realização do ativo e pagamento de débitos, cessan- rem os incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da
do, de uma só vez, quando se der ao acervo econômico o assembleia especialmente convocada para esse fim, cujo
destino próprio. quórum será o estabelecido no estatuto, bem como os cri-
- Cancelamento da inscrição da pessoa jurídica: En- térios de eleição dos administradores.
cenada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da
inscrição da pessoa jurídica. A extinção da pessoa jurídica, Art. 60. A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á
com tal cancelamento, produzirá efeitos ex nunc, manten- na forma do estatuto, garantido a 1/5 (um quinto) dos as-
do-se os atos negociais por ela praticados até o instante de sociados o direito de promovê-la.
seu desaparecimento, respeitando-se direitos de terceiro.
Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu
CAPÍTULO II patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o caso, as
DAS ASSOCIAÇÕES quotas ou frações ideais referidas no parágrafo único do
art. 56, será destinado à entidade de fins não econômicos
Art. 53. Constituem-se as associações pela união de designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação
pessoas que se organizem para fins não econômicos. dos associados, à instituição municipal, estadual ou federal,
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e de fins idênticos ou semelhantes.
obrigações recíprocos. § 1º Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por
deliberação dos associados, podem estes, antes da desti-
Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associa- nação do remanescente referida neste artigo, receber em
ções conterá: restituição, atualizado o respectivo valor, as contribuições
I - a denominação, os fins e a sede da associação; que tiverem prestado ao patrimônio da associação.

20
NOÇÕES DE DIREITO

§ 2º Não existindo no Município, no Estado, no Distrito - Exclusão de associado: Há imposição de sanções dis-
Federal ou no Território, em que a associação tiver sede, ciplinares ao associado que infringir as normas estatutárias
instituição nas condições indicadas neste artigo, o que re- ou que praticar ato prejudicial ao grupo, que poderão, ante
manescer do seu patrimônio se devolverá à Fazenda do Es- a gravidade do motivo, chegar até mesmo à expulsão, des-
tado, do Distrito Federal ou da União. de que haja justa causa e deliberação fundamentada da
maioria absoluta dos presentes à assembleia geral espe-
Conceito de associação: cialmente convocada para essa finalidade.
É uma pessoa jurídica de direito privado voltada à rea- - Injustiça ou arbitrariedade na exclusão de associado:
lização de finalidades culturais, sociais, pias, religiosas, re- O estatuto poderá indicar, taxativamente, as causas graves
creativas etc., cuja existência legal surge com a inscrição determinantes da exclusão do membro associado, sendo
do estatuto social que a disciplina, no registro competente. que, se a apreciação da sua conduta for considerada injusta
Por exemplo: APAE, UNE, Associação de Pais e Mestres, As- ou arbitrária, o lesado poderá, da decisão do órgão que de-
sociação dos Advogados de São Paulo. cretou sua expulsão, interpor recurso à assembleia geral e,
- Inexistência de reciprocidade de direitos e obrigações ainda, defender seu direito de associado por via jurisdicio-
entre os associados: Com a personificação da associação, para nal, embora a jurisprudência tenha negado provimento à
os efeitos jurídicos, ela passará a ter aptidão para ser sujeito de ação judicial para indenização de danos, em razão do afas-
direitos e obrigações. Cada um dos associados constituirá uma tamento ilícito do associado, devido à natureza do vínculo
individualidade e a associação uma outra (CC, art. 50, 2a parte), contratual que o une à associação, sujeitando-o aos termos
tendo cada um seus direitos, deveres e bens, não havendo, po- estatutários e às decisões dos órgãos da associação.
rém, entre os associados direitos e deveres recíprocos. Nenhum associado poderá ser impedido de exercer di-
reito ou função que lhe foi conferida pelo pacto social a não
Conteúdo do estatuto da associação: ser nos casos e no modo previsto legal ou estatutariamente
A associação é constituída por escrito e o estatuto so- são invulneráveis direitos individuais especiais, como p. ex.,
cial, que a regerá, sob pena de nulidade, poderá revestir-se o direito á presidência, ao voto reforçado, ás atribuições
de forma pública ou particular, devendo conter: a denomi- especificas etc., Apesar de seus vastos poderes, a assem-
nação, a finalidade e a sede da associação; requisitos para bleia não poderá efetivar todas as deliberações da maioria,
admissão, demissão e exclusão de associados; direitos e uma vez que há certos direitos essenciais dos associados
deveres dos associados; fontes de recursos para sua manu- oriundos do pacto social, insuscetíveis de violação.
tenção; modo de constituição e funcionamento dos órgãos Compete à assembleia a deliberação sobre: eleição e
deliberativos e administrativos e condições para alteração destituição de administradores; aprovação de contas e al-
de disposições estatutárias e para dissolução da associa- teração do estatuto social.
ção. Isto é assim porque toda estruturação do grupo social - Princípio da maioria: Consagra-se o princípio da maio-
baseia-se nessas normas estatutárias. ria nas deliberações assembleares, exigindo-se, para destitui-
Exige-se uma regulamentação bastante uniforme e se- ção de diretoria e alteração estatutária, o voto concorde de
vera, no estatuto, dos direitos e deveres dos associados, dois terços dos presentes à assembleia especialmente con-
que deverão ter tratamento igual. vocada para esse fim, não podendo ela deliberar em primeira
O ato constitutivo poderá, apesar de os associados deve- convocação, sem a maioria absoluta dos associados, ou com
rem ter direitos iguais, criar posições privilegiadas ou confe- menos de um terço nas convocações seguintes.
rir direitos preferenciais para certas categorias de membros, Todos os associados têm direito de participação na as-
como, p. ex.: a dos fundadores, que não poderá ser alterada sembleia geral e de nela votar; logo, tal assembleia é con-
sem o seu consenso, mesmo que haja decisão assemblear vocada, na forma do estatuto, garantindo-se a um quinto
aprovando tal alteração; a de sócios remidos de determina- dos associados o direito de promovê-la.
do clube, que pagam certa importância em dinheiro para ter Sendo extinta uma associação, o remanescente do seu
o direito de pertencer vitaliciamente à associação, sem mais patrimônio líquido depois de deduzidas quando for o caso,
dispêndios, não podendo, assim, a assembleia deles exigir pa- as quotas ou frações ideais do patrimônio, em razão de
gamento de outra contribuição, salvo se houver seu expresso transferência a adquirente ou a herdeiro de associado, será
consentimento ou se for tal exigência imprescindível para ob- destinado a entidade de fins não econômicos indicada pelo
ter meios necessários à sobrevivência da associação. estatuto. Ante a omissão estatutária, por deliberação dos
A qualidade de associado somente poderá ser trans- associados, os seus bens remanescentes deverão ser trans-
ferida a terceiro com o consenso da associação ou com feridos para um estabelecimento municipal, estadual ou
permissão estatutária. federal que tenha finalidade similar ou idêntica à sua. E se
- Transferência de quota ideal do patrimônio da asso- porventura não houver no Município, no Estado, no Distrito
ciação: Se, p. ex., por morte, falência, interdição ou retirada Federal ou no Território, em que a extinta associação está
de associado que tenha uma fração ideal do patrimônio da sediada, estabelecimento, ou instituição, nas condições in-
associação houver transferência de sua quota, tal fato não dicadas, seus bens remanescentes irão para os cofres do
importará, obrigatoriamente, na atribuição da qualidade Estado, do Distrito Federal ou da União.
de membro da associação ao seu sucessor (adquirente ou - Possibilidade de restituição da contribuição social aos
herdeiro), a não ser que haja, no estatuto, convenção nesse associados: Os associados poderão receber em restituição,
sentido. com a devida atualização, as contribuições que prestaram

21
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

à formação do patrimônio social, antes da destinação do § 1º Se funcionarem no Distrito Federal ou em Territó-


remanescente, se cláusula estatutária permitir ou se houver rio, caberá o encargo ao Ministério Público do Distrito Federal
deliberação dos associados nesse sentido. e Territórios. (Redação dada pela Lei nº 13.151, de 2015)
§ 2º Se estenderem a atividade por mais de um Estado,
CAPÍTULO III caberá o encargo, em cada um deles, ao respectivo Minis-
DAS FUNDAÇÕES tério Público.

Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da funda-
por escritura pública ou testamento, dotação especial de ção é mister que a reforma:
bens livres, especificando o fim a que se destina, e decla- I - seja deliberada por dois terços dos competentes
rando, se quiser, a maneira de administrá-la. para gerir e representar a fundação;
Parágrafo único. A fundação somente poderá consti- II - não contrarie ou desvirtue o fim desta;
tuir-se para fins de: (Redação dada pela Lei nº 13.151, de III – seja aprovada pelo órgão do Ministério Público no
2015) prazo máximo de 45 (quarenta e cinco) dias, findo o qual
I – assistência social; (Incluído pela Lei nº 13.151, de ou no caso de o Ministério Público a denegar, poderá o juiz
2015) supri-la, a requerimento do interessado. (Redação dada
II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histó- pela Lei nº 13.151, de 2015)
rico e artístico; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)
III – educação; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015) Art. 68. Quando a alteração não houver sido aprovada
IV – saúde; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015) por votação unânime, os administradores da fundação, ao
V – segurança alimentar e nutricional; (Incluído pela Lei submeterem o estatuto ao órgão do Ministério Público, re-
nº 13.151, de 2015) quererão que se dê ciência à minoria vencida para impug-
VI – defesa, preservação e conservação do meio am- ná-la, se quiser, em dez dias.
biente e promoção do desenvolvimento sustentável; (In-
cluído pela Lei nº 13.151, de 2015) Art. 69. Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a fina-
VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tecno- lidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua
logias alternativas, modernização de sistemas de gestão, existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer inte-
produção e divulgação de informações e conhecimentos ressado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o seu
técnicos e científicos; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015) patrimônio, salvo disposição em contrário no ato consti-
VIII – promoção da ética, da cidadania, da democracia tutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada pelo
e dos direitos humanos; (Incluído pela Lei nº 13.151, de juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante.
2015) Constituir-se-á a fundação mediante escritura pú-
IX – atividades religiosas; e (Incluído pela Lei nº 13.151, blica ou testamento, contendo ato de dotação que com-
de 2015) preende a reserva de bens livres (propriedades, créditos
X – (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015) ou dinheiro) legalmente disponíveis, indicação do fim lícito
colimado e o modo de administração. O próprio instituidor
Art. 63. Quando insuficientes para constituir a funda- poderá providenciar a elaboração das normas estatutárias
ção, os bens a ela destinados serão, se de outro modo não e o registro da fundação (forma direta) ou encarregar ou-
dispuser o instituidor, incorporados em outra fundação trem para este fim (forma fiduciária). Se, porventura, na do-
que se proponha a fim igual ou semelhante. tação de bens o instituidor vier a lesar a legítima de seus
herdeiros necessários, estes poderão pleitear o respeito
Art. 64. Constituída a fundação por negócio jurídico ao quantum legitimário. Dever-se-á proceder ao registro,
entre vivos, o instituidor é obrigado a transferir-lhe a pro- mediante intervenção do Ministério Público, que deverá
priedade, ou outro direito real, sobre os bens dotados, e, se analisar o estatuto elaborado pelo fundador, verificando se
não o fizer, serão registrados, em nome dela, por mandado houve observância das bases da fundação, se os bens são
judicial. suficientes aos fins colimados e há licitude de seu objeto.
Estando tudo em perfeita ordem o Ministério Público
Art. 65. Aqueles a quem o instituidor cometer a aplica- aprovará o estatuto, dentro de quinze dias da autuação do
ção do patrimônio, em tendo ciência do encargo, formula- pedido de aprovação. Se, porventura, o fundador não ela-
rão logo, de acordo com as suas bases (art. 62), o estatu- borar o estatuto nem ordenar algum para fazê-lo ou se o
to da fundação projetada, submetendo-o, em seguida, à estatuto elaborado no prazo assinado pelo instituidor, ou,
aprovação da autoridade competente, com recurso ao juiz. não havendo prazo, em 180 dias, o Ministério Público po-
Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado no derá tornar a iniciativa.
prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em Portanto, para que a fundação tenha personalidade
cento e oitenta dias, a incumbência caberá ao Ministério jurídica será preciso dotação, elaboração e aprovação dos
Público. estatutos e registro.
A lei prevê a possibilidade de ter bens insuficientes
Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do para a constituição da fundação, doados por escritura pú-
Estado onde situadas. blica ou deixados por via testamentária, ordenando, então,

22
NOÇÕES DE DIREITO

que sejam incorporados em outra fundação que vise igual e conhecer das nulidades que, porventura, apareçam no
ou semelhante objetivo, exceto se outra coisa não houver processo de alteração do estatuto da fundação, mediante
disposto o instituidor. recurso interposto pela minoria vencida dos membros de
Se a fundação for constituída por meio de escritura sua Administração, cuja decadência se opera em dez dias.
pública, o instituidor terá a obrigação de transferir a pro- Constatado ser ilícito, impossibilidade, ou inútil o obje-
priedade, ou outro direito real, dos bens livres colocados a tivo da fundação, o órgão do Ministério Público, ou ainda,
serviço de um fim lícito e especial por ele pretendido, sob qualquer interessado poderá requerer a extinção da insti-
pena de, não o fazendo, serem registrados em nome dela, tuição.
por mandado judicial. Terminará a existência da fundação com o vencimento
Em caso de o instituidor não ter elaborado os esta- do prazo de sua duração. Para tanto, o Ministério Público
tutos da fundação, estes deverão ser organizados e for- ou qualquer interessado deverá, mediante requerimento,
mulados por aqueles a quem foi incumbida a aplicação do promover a extinção da fundação.
patrimônio, de conformidade com a finalidade específica Com a decretação judicial da extinção da fundação
e com as restrições impostas pelo fundador, de maneira a pelos motivos acima arrolados, seus bens serão, salvo dis-
não ser violada a vontade do instituidor. E, se os estatutos posição em contrário no seu ato constitutivo ou no seu es-
não forem elaborados dentro do prazo imposto pelo ins- tatuto, incorporados em outra fundação, designada pelo
tituidor, ou, não havendo prazo, em 180 dias, caberá ao juiz, que almeje a consecução de fins idênticos ou similares
Ministério Público tal incumbência. aos seus. O Poder Público dará destino ao seu patrimô-
Uma vez elaborados os estatutos com base nos obje- nio, entregando-o a uma fundação que persiga o mesmo
tivos que se pretende alcançar, deverão ser eles submeti- objetivo, exceto se o instituidor dispôs de forma diversa,
dos à aprovação do órgão local do Ministério Público, que hipótese em que se respeitará sua vontade e a do estatuto.
é o órgão fiscalizador da fundação em virtude de lei. Se, Com o advento da Lei n.º 13.151 de 2015, a fundação
porventura, este vier a recusar tal aprovação, o elaborador somente poderá se constituir para as seguintes finalidades:
das normas estatutárias poderá requerer aquela aprovação – assistência social;
denegada, mediante recurso ao juiz. – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico
O órgão legítimo para velar pela fundação, impedindo e artístico;
que se desvirtue a finalidade específica a que se destina, – educação;
é o Ministério Público. Consequentemente, o órgão do – saúde;
Ministério Público de cada Estado ou o Ministério Público – segurança alimentar e nutricional;
Federal, se funcionar no Distrito Federal ou em Território, – defesa, preservação e conservação do meio ambiente
terá o encargo de fiscalizar as fundações que estiverem e promoção do desenvolvimento sustentável;
localizadas em sua circunscrição, aprovar seus estatutos – pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias
no prazo de quinze dias e as suas eventuais alterações ou alternativas, modernização de sistemas de gestão, produ-
reformas, zelando pela boa administração da entidade ju- ção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos
rídica e de seus bens. e científicos;
A ação da fundação poderá circunscrever-se a um só – promoção da ética, da cidadania, da democracia e
Estado ou a mais de um. Se sua atividade estender-se a dos direitos humanos e
vários Estados, o Ministério Público de cada um terá o ônus – atividades religiosas.
de fiscalizá-la, verificando se atende à consecução do seu
objetivo específico. Ter-se-á, então, uma multiplicidade de TÍTULO III
fiscalização, embora dentro dos limites de cada Estado. Do Domicílio
A Alteração dos estatutos apenas será admitida nos ca-
sos em que houver necessidade de sua reforma. A Funda- Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde
ção, como qualquer pessoa jurídica devido aos progressos ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.
sociais precisará amoldar-se ás novas necessidades, adap-
tando seus estatutos á nova realidade jurídico-social. Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas resi-
Se na reforma estatutária houver minoria vencida, os dências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domi-
administradores da fundação, ao submeterem o estatuto ao cílio seu qualquer delas.
órgão do Ministério Público, requererão que se cientifique o
fato àquela minoria, que poderá, se quiser, estando incon- Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto
formada, impugnar aquela alteração recorrendo ao Judiciá- às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é
rio dentro do prazo decadencial de dez dias, pleiteando a exercida.
invalidação das modificações estatutárias feitas pela maio- Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lu-
ria absoluta dos membros da Administração da fundação e gares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as
aprovadas pelo órgão local do Ministério Público. relações que lhe corresponderem.
Isto é assim porque a lei apenas conferiu ao Ministé-
rio Público o dever de fiscalizar e não o direito de decidir, Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que
uma vez que o controle da legalidade compete ao Judiciá- não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada.
rio. O magistrado terá, então, a competência para decidir

23
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, As pessoas jurídicas têm seu domicílio que é sua sede
com a intenção manifesta de o mudar. jurídica, onde os credores podem demandar o cumprimento
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que das obrigações. Como não têm residência, é o local de suas
declarar a pessoa às municipalidades dos lugares, que dei- atividades habituais, de seu governo, administração ou dire-
xa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da pró- ção, ou, ainda, o determinado no ato constitutivo.
pria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem. As pessoas jurídicas de direito público interno têm por
domicílio a sede de seu governo. De maneira que a União
Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é: aforará as causas na capital do Estado ou Território em que
I - da União, o Distrito Federal; tiver domicílio a outra parte e será demandada, à escolha do
II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais; autor, no Distrito Federal ou na capital do Estado em que se
III - do Município, o lugar onde funcione a administra- deu o ato que deu origem à demanda, ou em que se situe
ção municipal; o bem. Os Estados e Territórios têm por sede jurídica as suas
IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcio- capitais, e os Municípios, o lugar da Administração municipal.
narem as respectivas diretorias e administrações, ou onde As pessoas jurídicas de direito privado têm por domicilio
elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos cons- o lugar onde funcionarem sua diretoria e administração ou
titutivos. onde elegerem domicilio especial nos seus estatutos ou atos
§ 1º Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos constitutivos, devidamente registrados.
em lugares diferentes, cada um deles será considerado do- - Pluralidade do domicilio da pessoa jurídica de direito pri-
micílio para os atos nele praticados. vado: O art.75, § 1º, admite a pluralidade domiciliar da pessoa
§ 2º Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no jurídica de direito privado desde que tenham diversos esta-
estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no belecimentos (p. ex., agências, escritórios de representação,
tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas departamentos, filiais), situados em comarcas diferentes, caso
agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que em que poderão ser demandadas no foro em que tiverem pra-
ela corresponder. ticado o ato. De forma que o local de cada estabelecimento
dotado de autonomia será considerado domicilio para os atos
Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor ou negócios nele efetivados, com o intuito de beneficiar os
público, o militar, o marítimo e o preso. indivíduos que contratarem com a pessoa jurídica.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu re- Se a sede da Administração, ou diretoria, da pessoa jurídi-
presentante ou assistente; o do servidor público, o lugar ca se acha no exterior, os estabelecimentos, agências, filiais ou
em que exercer permanentemente suas funções; o do mi- sucursais situados no Brasil terão por domicilio o local onde as
litar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a obrigações foram contraídas pelos respectivos agentes.
sede do comando a que se encontrar imediatamente subor- Ter-se-á o domicílio necessário ou legal quando for determina-
dinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do por lei, em razão da condição ou situação de ceias pessoas. O
do preso, o lugar em que cumprir a sentença. domicilio do incapaz é legal, pois sua fixação operar-se-á por deter-
Art. 77. O agente diplomático do Brasil, que, citado no minação de lei e não por volição. O recém-nascido adquire o domi-
estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde cilio de seus pais. Os absoluta ou relativamente incapazes terão por
tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Dis- domicilio o de seus representantes legais (pais, tutores ou curadores).
trito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde - Domicilio necessário do servidor público: Deriva o domi-
o teve. cílio legal ou necessário do servidor público de lei, pois o artigo
Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes sub examine entende por domiciliado o funcionário público no
especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direi- local onde exerce suas funções por investidura efetiva. Logo
tos e obrigações deles resultantes. tem por domicílio o lugar onde exerce sua função permanente.
O domicilio do militar do Exército é o lugar onde servir e
Conceito legal de domicilio civil da pessoa natural: o do da Marinha ou da Aeronáutica em serviço ativo, a sede
Pelo art. 70 do Código Civil, o domicílio civil é o lugar onde a do comando a que se encontra imediatamente subordinado.
pessoa estabelece sua residência com animo definitivo ten- Marinha mercante é a encarregada de transportar mercadorias
do, portanto, por critério a residência. Nesta conceituação, e passageiros. Os oficiais e tripulantes dessa marinha mercante
legal há dois elementos: o objetivo, que é a fixação da pessoa têm por domicílio necessário o lugar onde estiver matriculado
em dado lugar, e o subjetivo, que é a intenção de ali per- o navio, embora passem a vida em viagens.
manecer com animo definitivo. Importa em fixação espacial O preso terá por domicílio o lugar onde cumprir a senten-
permanente da pessoa natural. ça. Tratando-se de preso internado em manicômio judiciário, é
A nossa legislação admite a pluralidade de domicilio se competente o juízo local para julgar pedido de sua interdição,
a pessoa natural tiver mais de uma residência, pois se consi- nos termos do art. 76 do Código Civil. Se se tratar de preso ain-
derará domicilio o seu qualquer uma delas. Admite também da não condenado, seu domicilio será o voluntário.
que, excepcionalmente, pode haver casos em que uma pes- - Citação de ministro ou agente diplomático no estrangeiro:
soa natural não tenha domicílio certo ou fixo, ao estabelecer Se o ministro ou agente diplomático brasileiro for citado no exte-
que aquele que não tiver residência habitual, como, p. ex., o rior e alegar a imunidade sem designar o local onde tem, no país,
caixeiro-viajante, o circense, terá por domicilio o lugar onde o seu domicílio, deverá responder perante a Justiça do Distrito
for encontrado. Federal ou do último ponto do território brasileiro onde o teve.

24
NOÇÕES DE DIREITO

- Domicílio contratual ou de eleição é o estabelecido con- Precisam ser desafetados os bens de uso comum e os
tratualmente pelas partes em contrato escrito, que especificam especiais, os dominiais não precisam.
onde se cumprirão os direitos e os deveres oriundos da avença A avaliação prévia do bem é necessária para evitar que
feita. O domicilio de eleição dependerá de manifestação ex- o bem público seja alienado a preço fora de mercado. A Lei
pressa dos contraentes, da qual surge a competência especial, nº 4.767/65 (que rege a Ação Popular) relaciona hipóteses
determinada pelo contrato, do foro que irá apreciar os possí- de lesão a bens públicos, e o baixo valor da alienação é um
veis litígios decorrentes do negócio jurídico contratual. O local deles.
indicado no contato para o adimplemento obrigacional será É possível a privatização de bens públicos.
também aquele onde o inadimplente irá ser demandado ou
acionado. Impenhorabilidade dos bens públicos
Os bens públicos não podem ser dados em garantia
para o cumprimento das obrigações contraídas pelo Poder
Público.
BENS PÚBLICOS. Os débitos deverão ser saldados na forma do art. 100
da Constituição Federal, alterado pela Emenda Constitucio-
nal n. 30/2000.As modificações efetuadas foram:
- acrescentou o § 5º ao art. 100 o responsável pela que-
Bens públicos são todos aqueles pertencentes ao patri- bra da ordem cronológica de pagamento dos precatórios
mônio da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito incorre em crime de responsabilidade;
Federal, suas autarquias e fundações públicas, que podem - inseriu o art. 78 às Disposições Transitórias, dispon-
ser móveis, imóveis ou semoventes (art. 65 do CC). do que o pagamento dos precatórios deve ocorrer em até
10 anos, ressalvados os créditos alimentares e de pequeno
Classificação dos bens públicos quanto à destinação valor.
- Bens de uso comum: são os destinados ao uso da Créditos alimentares e de pequeno valor ficam fora da
coletividade como um todo. Geralmente são de utilização relação geral, formando uma lista à parte. Os créditos serão
gratuita, como, por exemplo, ruas, praças, parques, estra- fixados pelas pessoas políticas respectivas.
das, mares; a exceção à gratuidade é o pedágio cobrado Precatório é o título emitido a partir do trânsito em
nas estradas. julgado de uma sentença que legitima os credores da Ad-
- Bens de uso especial: são aqueles destinados a ativi- ministração Pública. Devem ser apresentados até 1º de ju-
dades especiais relacionadas a um serviço ou a estabeleci- lho de cada ano para que entrem no orçamento do ano
mentos públicos, como teatros, escolas, museus, quartéis, seguinte.
prédios de academia de polícia, aeroportos, cemitérios, O não-pagamento dos títulos enseja crime de respon-
entre outros. sabilidade, em face do Governador e do Prefeito, e inter-
- Bens dominiais ou dominicais: não possuem desti- venção federal.
nação específica, como por exemplo, as terras devolutas
(áreas pertencentes ao Poder Público não destinadas a fins Imprescritibilidade
administrativos específicos). Imprescritibilidade é a impossibilidade de os bens pú-
Os bens de uso comum e os de uso especial formam o blicos serem adquiridos por usucapião – Súmula nº 340 do
conjunto de bens do domínio público, submetendo-se ao Supremo Tribunal Federal, consolidada pelos arts. 183, §
regime jurídico de direito público. 3.º, e 191, par. ún., da Constituição Federal.
Os bens dominicais compõem o chamado patrimônio
disponível do Estado – este exerce os direitos de proprietá- Aquisição e alienação dos bens públicos.
rio, o que não acontece com as categorias anteriores. Sub-
metem-se ao regime jurídico de direito público, mas não As formas de aquisição de bens públicos são:
em sua totalidade. - Desapropriação;
- Confisco;
Inalienabilidade dos bens públicos - Doação;
Em regra, os bens públicos não podem ser alienados, - Dação;
pois são bens fora do comércio. A alienação se verifica - Compra (precedida de licitação).
quando surge o interesse público. Requisitos:
- interesse público caracterizado; Formas de utilização dos bens públicos pelos particu-
- desafetação (uso comum e especial); lares.
- avaliação prévia;
- licitação (concorrência ou leilão, art. 17 da Lei n. Quem pode estabelecer regras quanto ao uso de bens
8.666/93); públicos é o seu titular.
- imóvel (autorização legislativa). A principal obrigação dos titulares é a de conservar
Afetar é atribuir a um bem público uma finalidade es- o bem, segundo os arts. 23, inc. I, e 144, § 8.º, ambos da
pecífica. Desafetar é retirar do bem a finalidade que pos- Constituição Federal.
suía.

25
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

Para a transferência de uso de bens podem ser usados Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alte-
os seguintes instrumentos: rados por acordo das partes.
- Autorização de uso: é um ato administrativo unilate- Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qualquer
ral, discricionário e precário, pelo qual a Administração, no grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita.
interesse do particular, transfere o uso do bem público para Art. 194. (Revogado pela Lei nº 11.280, de 2006)
terceiros por prazo de curtíssima duração, com dispensa de Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurí-
licitação. Exemplos: transporte de carga inflamável pelas ruas dicas têm ação contra os seus assistentes ou representan-
do município, fechamento de rua para comemorações. tes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alega-
- Permissão de uso: é um ato administrativo unilateral, dis- rem oportunamente.
cricionário e precário, pelo qual a Administração, no interesse da Art. 196. A prescrição iniciada contra uma pessoa con-
coletividade, transfere o uso de um bem público para terceiros, tinua a correr contra o seu sucessor.
mediante licitação (quando houver mais de um interessado).
Não há prazo certo e determinado. São exemplos de permissão Seção II
de uso: instalação de bancas de jornal, colocação de mesas e Das Causas que Impedem ou Suspendem a Prescri-
cadeiras em calçadas, instalação de boxes em mercados munici- ção
pais, barracas em feiras livres. A doutrina admite a possibilidade
de permissão de uso qualificada – aquela que, possuindo prazo Art. 197. Não corre a prescrição:
certo e determinado, retira o caráter de precariedade. I - entre os cônjuges, na constância da sociedade con-
- Concessão de uso: é um contrato administrativo pelo jugal;
qual transfere-se o uso de um bem público para terceiros, II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder
para uma finalidade específica, mediante condições previa- familiar;
mente estabelecidas. O contrato possui prazo certo e de- III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou
terminado e a precariedade desaparece. Exemplos: instala- curadores, durante a tutela ou curatela.
ção de restaurante em aeroporto, lanchonete em parques. Art. 198. Também não corre a prescrição:
Trata-se de um ato bilateral; se a Administração rescindir o
I - contra os incapazes de que trata o art. 3º;
contrato antes do término, caberá a ela indenizar.
II - contra os ausentes do País em serviço público da
- Concessão de direito real de uso (variante da con-
União, dos Estados ou dos Municípios;
cessão de uso): incide sobre bens públicos não-edificados,
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Ar-
para urbanização, edificação, industrialização.
madas, em tempo de guerra.
- Cessão de uso: é um contrato administrativo, em que
Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:
o uso de um bem público é transferido de um órgão para
I - pendendo condição suspensiva;
outro, dentro da própria Administração. É ato não precário
porque possui prazo certo e determinado. Para que a ces- II - não estando vencido o prazo;
são de uso seja efetuada exige-se autorização legislativa. III - pendendo ação de evicção.
Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva
ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição an-
tes da respectiva sentença definitiva.
PRESCRIÇÃO: DISPOSIÇÕES GERAIS. Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos
DECADÊNCIA. credores solidários, só aproveitam os outros se a obrigação
for indivisível.

Seção III
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA. Das Causas que Interrompem a Prescrição
TÍTULO IV
Da Prescrição e da Decadência Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente po-
CAPÍTULO I derá ocorrer uma vez, dar-se-á:
Da Prescrição I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que
Seção I ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e
Disposições Gerais na forma da lei processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pre- III - por protesto cambial;
tensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de
que aludem os arts. 205 e 206. inventário ou em concurso de credores;
Art. 190. A exceção prescreve no mesmo prazo em que V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o
a pretensão. devedor;
Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudi-
ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, cial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor.
depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a
quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato
com a prescrição. do processo para a interromper.

26
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 203. A prescrição pode ser interrompida por qual- VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividen-
quer interessado. dos recebidos de má-fé, correndo o prazo da data em que
Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor foi deliberada a distribuição;
não aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indi-
operada contra o codevedor, ou seu herdeiro, não prejudi- cadas por violação da lei ou do estatuto, contado o prazo:
ca aos demais coobrigados. a) para os fundadores, da publicação dos atos constitu-
§ 1º A interrupção por um dos credores solidários apro- tivos da sociedade anônima;
veita aos outros; assim como a interrupção efetuada contra b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação,
o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros. aos sócios, do balanço referente ao exercício em que a vio-
§ 2º A interrupção operada contra um dos herdeiros lação tenha sido praticada, ou da reunião ou assembleia
do devedor solidário não prejudica os outros herdeiros ou geral que dela deva tomar conhecimento;
devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos c) para os liquidantes, da primeira assembleia semes-
indivisíveis. tral posterior à violação;
§ 3º A interrupção produzida contra o principal deve- VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de
dor prejudica o fiador. crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposições
de lei especial;
Seção IV IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a
Dos Prazos da Prescrição do terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabi-
lidade civil obrigatório.
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei § 4º Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a
não lhe haja fixado prazo menor. contar da data da aprovação das contas.
Art. 206. Prescreve: § 5º Em cinco anos:
§ 1º Em um ano: I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas cons-
I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de tantes de instrumento público ou particular;
víveres destinados a consumo no próprio estabelecimento, II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, pro-
para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos; curadores judiciais, curadores e professores pelos seus ho-
II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a norários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da
deste contra aquele, contado o prazo: cessação dos respectivos contratos ou mandato;
a) para o segurado, no caso de seguro de responsabi- III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o
lidade civil, da data em que é citado para responder à ação que despendeu em juízo.
de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da
data que a este indeniza, com a anuência do segurador; CAPÍTULO II
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gera- Da Decadência
dor da pretensão;
III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, ser- Art. 207. Salvo disposição legal em contrário, não se
ventuários judiciais, árbitros e peritos, pela percepção de aplicam à decadência as normas que impedem, suspendem
emolumentos, custas e honorários; ou interrompem a prescrição.
IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos Art. 208. Aplica-se à decadência o disposto nos arts.
bens que entraram para a formação do capital de socieda- 195 e 198, inciso I.
de anônima, contado da publicação da ata da assembleia Art. 209. É nula a renúncia à decadência fixada em lei.
que aprovar o laudo; Art. 210. Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência,
V - a pretensão dos credores não pagos contra os quando estabelecida por lei.
sócios ou acionistas e os liquidantes, contado o prazo da Art. 211. Se a decadência for convencional, a parte a
publicação da ata de encerramento da liquidação da so- quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau de juris-
ciedade. dição, mas o juiz não pode suprir a alegação.
§ 2º Em dois anos, a pretensão para haver prestações Para resguardar seus direitos, o titular deve praticar
alimentares, a partir da data em que se vencerem. atos conservatórios, como: protesto, retenção (CC, Art.
§ 3º Em três anos: 1.219), arresto, sequestro, caução fidejussória ou real, in-
I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos terpelações judiciais para constituir devedor em mora. E
ou rústicos; quando sofrer ameaça ou violação, o direito subjetivo será
II - a pretensão para receber prestações vencidas de protegido por ação judicial Nasce então, para o titular, a
rendas temporárias ou vitalícias; pretensão que se extinguirá nos prazos arrolados nos arts.
III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quais- 205 e 206.
quer prestações acessórias, pagáveis, em períodos não Somente depois de consumada a prescrição, desde
maiores de um ano, com capitalização ou sem ela; que não haja prejuízo de terceiro, é que poderá haver re-
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento núncia expressa ou tácita por parte do interessado. Como
sem causa; se vê, não se permite a renúncia prévia ou antecipada à
V - a pretensão de reparação civil; prescrição, a fim de não destruir sua eficácia prática, caso
contrário, todos os credores poderiam impô-la aos de-

27
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

vedores; portanto, somente o titular poderá renunciar à - Prescrição iniciada contra “de cujus”:
prescrição após a consumação do lapso previsto em lei. Na A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a
renúncia expressa, o prescribente abre mão da prescrição correr contra o seu herdeiro a título universal ou singular,
de modo explícito, declarando que não a quer utilizar, e na salvo se for absolutamente incapaz. A prescrição iniciada
tácita, pratica atos incompatíveis com a prescrição, p. ex., se contra o de cujus continuará a correr contra seus suces-
pagar dívida prescrita. sores, sem distinção entre singulares e universais; logo,
continuará a correr contra o herdeiro, o cessionário ou o
- Sujeição aos efeitos da prescrição: legatário. A prescrição iniciada contra o auctor successionis
Tanto as pessoas naturais como as jurídicas sujeitam-se continuará, e não recomeçará a correr contra seu sucessor.
aos efeitos da prescrição ativa ou passivamente, ou seja,
podem invocá-la em seu proveito ou sofrer suas conse- - Causas impeditivas da prescrição:
quências quando alegada ex adverso, sendo que o prazo As causas impeditivas da prescrição são as circunstan-
prescricional fixado legalmente não poderá ser alterado cias que impedem que seu curso inicie, por estarem funda-
por acordo das partes. das no status da pessoa individual ou familiar, atendendo
razões de confiança, amizade e motivos de ordem moral.
- Alegação da prescrição em qualquer grau de jurisdição: - Casos em que a prescrição não se inicia:
A prescrição poderá ser arguida na primeira instância, Não corre a prescrição entre cônjuges, na constância
que está sob a direção de um juiz singular, e na segun- do matrimônio (24, 526/193); entre ascendentes e descen-
da instância, que se encontra em mãos de um colegiado dentes, durante O pátrio poder; entre tutelados ou cura-
de Juízes superiores. Pode ser invocada em qualquer fase telados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou
processual: na contestação, na audiência de instrução e jul- curatela. Nestas hipóteses a prescrição ficará impedida de
gamento, nos debates, em apelação, em embargos infrin- fluir no tempo.
gentes, sendo que no processo em fase de execução não é
cabível a arguição da prescrição, exceto se superveniente à - Incapacidade absoluta impede prescrição:
sentença transitada em julgado. Os arts. 193 do CC e 303, O Art. 198 contém causa impeditiva da prescrição, logo
III, do CPC são exceções à regra geral do art 300 do CPC esta não correrá contra os absolutamente incapazes. Por
de que toda a matéria de- defesa do réu deverá concentra- exemplo, suponha-Se que, após o vencimento da dívida,
-se na contestação. Isto é assim porque o art. 193 do CC é venha a falecer o credor, deixando herdeiro de oito anos
norma especial, prevalecendo sobre o art. 300 do CPC, que de idade; contra ele não correrá a prescrição até que atinja
é norma legal. Logo, a prescrição é matéria que pode ser dezesseis anos, ocasião em que terá início o curso prescri-
alegada em qualquer instancia ( CPC art. 300 , III ), mesmo cional. tendo-se aqui uma exceção ao Art. 196 do Código
depois da contestação e até , pela primeira vez, no recurso Civil, segundo o qual a prescrição iniciada contra uma pes-
da apelação ( CPC , art. 741, VI ). soa continua a correr contra seu herdeiro (RT 260/332).

- Invocação pela parte a quem aproveita: - Causas suspensivas da prescrição:


A prescrição somente poderá ser invocada por quem As causas suspensivas da prescrição são as que, tem-
ela aproveite, seja pessoa física ou jurídica, p. ex., o herdei- porariamente paralisam ø seu curso; superado o fato sus-
ro do prescribente, o credor do prescribente, o fiador, é o pensivo, a prescrição continua a correr, computado o tem-
devedor em obrigação solidária, o coobrigado em obriga- po decorrido antes dele. Tais causas estão arroladas no Art.
ção indivisível, desde que se beneficiem com a decretação 198, II e III, ante a situação especial em que se encontram o
da prescrição. titular e o sujeito passivo. De forma que suspensa estará a
O juiz não poderá conhecer da prescrição da ação re- prescrição: contra os ausentes do Brasil em serviço público
lativa a direitos patrimoniais, reais ou pessoais, se não for da União, dos Estados e dos Municípios e os que se acha-
invocada pelos interessados, não podendo, portanto, de- rem servindo na armada e no exército nacionais em tempo
cretá-la ex officio, por ser a prescrição um meio de defesa de guerra. Essas duas causas poderão transformar-se em
ou exceção peremptória. O juiz, a não ser para beneficiar impeditivas se a ação surgir durante a ausência ou serviço
absolutamente incapaz, poderá suprir ex officio a alegação militar temporário.
da prescrição.
- Condição suspensiva e termo não vencido impedem
Ação regressiva: a prescrição:
As pessoas que a lei priva de administrar os próprios São causas impeditivas da prescrição a condição sus-
bens têm ação regressiva contra os seus representantes le- pensiva e o não-vencimento do prazo. Não corre a pres-
gais quando estes, por dolo ou negligência, derem causa crição, pendendo condição suspensiva. Não realizada tal
à prescrição, assegurando-se, assim, a incolumidade pa- condição, o titular não adquire direito, logo não tem ação;
trimonial dos incapazes, que têm, ainda, mesmo que não assim, enquanto não nascer a ação, não pode ela prescre-
houvesse essa disposição, o direito ao ressarcimento dos ver. Igualmente impedida estará a prescrição não estando
danos que sofrerem, em razão do disposto nos arts. 186 e vencido o prazo, pois o titular da relação jurídica submeti-
927 do Código Civil, de que o artigo ora comentado é apli- da a termo não vencido não poderá acionar ninguém para
cação. Com isso, dá-se uma proteção legal aos incapazes. efetivar seu direito.

28
NOÇÕES DE DIREITO

- Pendencia de ação de evicção como causa suspensiva Contudo, a interrupção da prescrição por um credor não
da prescrição: aproveita aos outros, como, semelhantemente, operada
Se pender ação de evicção, suspende-se a prescrição contra o codevedor, ou seu herdeiro, não prejudicará aos
em andamento; somente depois de ela ter sido definitiva- demais coobrigados.
mente decidida, resolvendo-se o destino da coisa evicta, o Se se tratar de obrigação solidária passiva ou ativa, a
prazo prescritivo volta a correr. interrupção efetuada contra o devedor solidário envolverá
os demais, e a interrupção aberta por um dos credores so-
- Efeitos da suspensão da prescrição na solidariedade lidários aproveitará aos outros, em razão de consequência
ativa: da solidariedade prevista nos arts. 264 a 285 do Código
Se a obrigação for indivisível e solidários forem os cre- Civil, pela qual os vários credores solidários são conside-
dores, suspensa a prescrição em favor de um dos credores, rados como um só credor, da mesma forma que os vários
tal suspensão aproveitará aos demais. devedores solidários são tidos como um só devedor. Além
disso, a interrupção operada contra um dos herdeiros do
- Prescrição e obrigação divisível: devedor solidário não lesará os outros herdeiros ou deve-
Se a obrigação for divisível, a prescrição não se suspen- dores, senão quando se tratar de obrigação ou de defeito
derá para todos os coobrigados, ante o fato de ser um be- indivisível.
neficio personalíssimo. Se vários forem os cointeressados, Isto é assim porque a solidariedade ativa ou passiva
ocorrendo em relação a um deles uma causa suspensiva de não passa aos herdeiros (CC, arts. 270 e 276); logo, apenas
prescrição, esta aproveitará apenas a ele, não alcançando serão atingidos os demais coerdeiros pela interrupção se
os outros, para os quais correrá a prescrição sem qualquer houver indivisibilidade da obrigação. E, finalmente, a inter-
solução de continuidade. rupção produzida pelo credor contra o principal devedor
prejudicará o fiador, independentemente de notificação
- Causas interruptivas da prescrição: especial, pelo simples fato de ser a fiança uma obrigação
As causas interruptivas da prescrição são as que inu- acessória.
tilizam a prescrição iniciada, de modo que o seu prazo re- Desaparecendo a responsabilidade do afiançado, não
começa a correr da data do ato que a interrompeu ou do mais a terá o fiador; igualmente, se o credor interrompe
ultimo ato do processo que a interromper. a prescrição contra o devedor, esta interromper-se-á tam-
bém relativamente ao fiador.
- Casos de interrupção da prescrição:
Interrompem a prescrição atos do titular reclamando Prazos:
seu direito, tais como: citação pessoal feita ao devedor, or- Se a lei não fixar prazo menor para a pretensão ou ex-
denada por juiz; protesto judicial e cambial, que tem ape- ceção, este será de dez anos.
nas efeito constituir o devedor em mora; apresentação do
título de crédito em juízo de inventário, ou em concurso Prazo de prescrição especial:
de credores, o mesmo sucedendo com o processo de fa- Há casos de prescrição especial para os quais a norma
lência e de liquidação extrajudicial de bancos, bem como jurídica estatui prazos mais exíguos, pela conveniência de
das companhias de seguro, a favor ou contra a massa; atos reduzir o prazo geral para possibilitar o exercício de certos
judiciais que constituam em mora o devedor, incluindo as direitos ou pretensões.
interpelações, notificações judiciais e atos praticados na Tal prazo pode ser ânuo (CC, Art. 206, § 12, 1, II, a e b,
execução da parte líquida do julgado, com relação à parte III, IV, bienal (CC, Art. 206, § 22), trienal (CC. Art. 206, § 3º,
ilíquida; e atos inequívocos ainda extrajudiciais que impor- Ia IX), quatrienal (CC, Art. 206, § 42) e quinquenal (CC, Art.
tem reconhecimento do direito do devedor. Como paga- 206, § 52, 1 a III).
mento parcial por parte do devedor; pedido deste ao cre-
dor, solicitando mais prazo; transferência do saldo de certa Decadência
conta, de um ano para outro (Súmula 154 do STF). Inaplicabilidade à decadência das normas contidas nos
arts. 197 a 204 do Código Civil: As normas relativas ao im-
- Legitimidade para promover a interrupção da pres- pedimento, suspensão e interrupção de prescrição apenas
crição: serão aplicáveis à decadência nos casos admitidos por lei.
Podem promover a interrupção do lapso prescricional A decadência corre contra todos, não admitindo sua sus-
quaisquer interessados, tais como: o titular do direito em pensão ou interrupção em favor daqueles contra os quais
via de prestação; seu representante legal salvo o dos in- não corre a prescrição, com exceção do caso do art. 198, 1
capazes do art. 3º do Código Civil; e terceiro com legítimo (CC, art. 208); a prescrição pode ser suspensa, interrompida
interesse econômico ou moral, como o seu credor, o credor ou impedida pelas causas legais.
do credor ou o fiador do credor.
- Ação regressiva contra representante:
- Efeitos da interrupção da prescrição: As pessoas jurídicas e os relativamente incapazes têm
Quanto aos efeitos da interrupção da prescrição, o ação regressiva contra representante legal que der causa
princípio é de que ela aproveita tão-somente a quem a à decadência ou não a alegar no momento oportuno, e
promove, prejudicando aquele contra quem se processa. direito à reparação dos danos sofridos.

29
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

- Incapacidade absoluta como causa impeditiva da de- QUESTÕES


cadência:
O Art. 198 contém causa impeditiva da decadência;
logo, esta não correrá contra as pessoas arroladas no Art. 01. (TRE/RS - Analista Judiciário/Administrativa -
32 do Código Civil, ou seja, os absolutamente incapazes. CESPE/2015). Com base na Lei de Introdução às Normas
- Renúncia de decadência prevista em lei: de Direito Brasileiro, assinale a opção correta.
A decadência resultante de prazo legal não pode ser (A) Sempre que uma lei for revogada por outra lei, e
renunciada pelas partes, nem antes nem depois de consu- a lei revogadora também for revogada, a lei inicialmente
mada, sob pena de nulidade. A decadência decorrente de revogada volta a ter vigência, em um instituto jurídico de-
prazo legal deve ser considerada e julgada pelo magistra- nominado de ultratividade da lei.
do, de ofício, independentemente de arguição do interes- (B) Haverá repristinação quando uma norma revogada,
sado. mesmo tendo perdido a sua vigência, for aplicada para re-
ger situações ocorridas à época de sua vigência.
(C) Denomina-se vacatio legis o espaço de tempo com-
preendido entre a data da publicação da lei e a data da sua
ANOTAÇÕES revogação.
(D) Uma norma jurídica pode ser expressa ou tacita-
mente revogada. Diz-se que há revogação expressa quan-
___________________________________________________ do a lei nova declarar, em seu texto, o conteúdo da lei an-
terior que pretende revogar, enquanto que a revogação
___________________________________________________ tácita ocorre sempre que houver incompatibilidade entre a
lei nova e a antiga, pelo fato de a lei nova regular a matéria
___________________________________________________ tratada pela anterior.
(E) Segundo a legislação vigente, a norma jurídica tem
___________________________________________________
vigência por tempo indeterminado e vigora até que seja
___________________________________________________ revogada por outra lei. O ordenamento jurídico brasileiro
não reconhece norma com vigência temporária.
___________________________________________________
02. (TRE/PB - Analista Judiciário/Área Administra-
___________________________________________________ tiva - FCC/2015). No tocante às pessoas jurídicas, é IN-
CORRETO afirmar:
___________________________________________________
(A) A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municí-
___________________________________________________ pios, as autarquias e as associações públicas são pessoas
jurídicas de direito público interno.
___________________________________________________ (B) Não se aplica, em qualquer hipótese, a proteção
dos direitos da personalidade tratando-se de incompatibi-
___________________________________________________ lidade legal de institutos.
___________________________________________________ (C) São de direito privado, dentre outras, as organiza-
ções religiosas, os partidos políticos e as empresas indivi-
___________________________________________________ duais de responsabilidade limitada.
(D) Começa a existência legal das pessoas jurídicas de
___________________________________________________ direito privado com a inscrição do ato constitutivo no res-
pectivo registro, precedida, quando necessário, de autori-
___________________________________________________
zação ou aprovação do Poder Executivo.
___________________________________________________ (E) Decai em três anos o direito de anular a constituição
das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato
___________________________________________________ respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição
no registro.
___________________________________________________
03. (TRT/4ª REGIÃO(RS) - Juiz do Trabalho Substitu-
___________________________________________________
to - TRT4ºRegião/2016). Considere as assertivas abaixo
___________________________________________________ sobre registro das pessoas jurídicas de direito privado.
I - A existência legal das pessoas jurídicas de direito
___________________________________________________ privado inicia com a inscrição do ato constitutivo no res-
pectivo registro, precedida, quando necessário, de autori-
___________________________________________________ zação ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no
___________________________________________________ registro todas as alterações por que passar o ato constitu-
tivo.
___________________________________________________

30
NOÇÕES DE DIREITO

II - O direito de anular a constituição das pessoas jurí- De acordo com o Código Civil brasileiro, está correto o
dicas de direito privado decai em 4 (quatro) anos, por de- que se afirma APENAS em
feito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de (A) II e IV.
sua inscrição no registro. (B) I, II e III.
III - O ato constitutivo deverá ser apresentado a arqui- (C) III e IV.
vamento na Junta Comercial, dentro de 30 (trinta) dias con- (D) I e IV.
tados de sua assinatura, a cuja data retroagirão os efeitos (E) I e III.
do arquivamento; fora desse prazo, o arquivamento só terá
eficácia a partir do despacho que o conceder. 07. (TRE/PB - Analista Judiciário - Área Adminis-
Quais são corretas? trativa – FCC/2015). No tocante às pessoas jurídicas, é
(A) Apenas I INCORRETO afirmar:
(B) Apenas II (A) A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municí-
(C) Apenas III pios, as autarquias e as associações públicas são pessoas
(D) Apenas I e III jurídicas de direito público interno.
(E) I, II e III (B) Não se aplica, em qualquer hipótese, a proteção
dos direitos da personalidade tratando-se de incompatibi-
04. (TRE/SE - Analista Judiciário - Área Administra- lidade legal de institutos.
tiva -FCC/2015). A Lei nova “A” estabeleceu disposições (C) São de direito privado, dentre outras, as organiza-
gerais a par das já existentes. A Lei nova “B” estabele- ções religiosas, os partidos políticos e as empresas indivi-
ceu disposições especiais a par das já existentes. Nestes duais de responsabilidade limitada.
casos, de acordo com a Lei de Introdução às Normas do (D) Começa a existência legal das pessoas jurídicas de
Direito Brasileiro, direito privado com a inscrição do ato constitutivo no res-
(A) as Leis “A” e “B” não revogam e nem modificam a pectivo registro, precedida, quando necessário, de autori-
lei anterior. zação ou aprovação do Poder Executivo.
(B) as Leis “A” e “B” revogam e modificam a lei anterior. (E) Decai em três anos o direito de anular a constituição
(C) apenas a Lei “B” revoga e modifica a lei anterior. das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato
(D) apenas a Lei “A” revoga e modifica a lei anterior. respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição
(E) as Leis “A” e “B” não revogam a lei anterior, mas a no registro.
modificam.
08. (TRE/PB - Analista Judiciário - Área Administra-
05. (TRE/SE - Analista Judiciário - Área Adminis- tiva – FCC/2015). O servidor público e o marítimo:
trativa -FCC/2015). Camila possui 17 anos e passará a (A) possuem domicílio necessário, sendo o domicílio
exercer emprego público efetivo no mês que vem. Con- do servidor o lugar em que estabeleceu a sua residência
siderando que ela completará 18 anos no dia 1 de Abril com ânimo definitivo e do marítimo onde o navio estiver
de 2016 e que está com casamento marcado para o dia matriculado.
21 de Dezembro de 2015, neste caso, de acordo com (B) não possuem domicílio necessário conforme ex-
o Código Civil brasileiro, sua incapacidade civil cessará pressamente previsto pelo Código Civil brasileiro.
(A) somente com o casamento. (C) possuem domicílio necessário, sendo o domicílio
(B) apenas quando ela completar 18 anos. do servidor o lugar em que exercer permanentemente suas
(C) com o exercício de emprego público efetivo. funções e do marítimo a sede do comando a que se encon-
(D) em trinta dias a contar da data do seu casamento. trar imediatamente subordinado.
(E) com a autorização judicial necessária para o seu ca- (D) possuem domicílio necessário, sendo o domicílio
samento. do servidor o lugar em que exercer permanentemente suas
funções e do marítimo onde o navio estiver matriculado.
06. (TRE/SE - Analista Judiciário - Área Administra- (E) possuem domicílio necessário, sendo o domicílio do
tiva -FCC/2015). No tocante aos direitos da personali- servidor o lugar em que estabeleceu a sua residência com
dade, considere: ânimo definitivo e o do marítimo a sede do comando a que
I. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos se encontrar imediatamente subordinado.
da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis.
II. Em regra, o exercício dos direitos da personalidade 09. (TRE/MA - Analista Judiciário - Judiciária – IE-
pode sofrer limitação voluntária. SES/2015). Sobre a vigência das normas, responda as
III. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, questões:
com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção I. Transcorrido o período designado como vacatio legis,
cirúrgica. as correções ao texto legal são consideradas lei nova, e po-
IV. O nome da pessoa não pode ser empregado por dem estar novamente sujeitas à vacatio legis.
outrem em publicações ou representações que a expo- II. A repristinação é admitida quando se tratar de lei
nham ao desprezo público, exceto quando não haja inten- mais benéfica às partes.
ção difamatória. III. É possível que uma lei seja destinada à vigência
temporária.

31
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

Assinale a correta: EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES


(A) Todas as assertivas são falsas. Direito Civil
(B) Apenas a assertiva III é verdadeira
(C) Todas as assertivas são verdadeiras. 01. (TRE/PA - ANALISTA JUDICIÁRIO - IA-
(D) Apenas as assertivas I e III são verdadeiras. DES/2014). Segundo a Lei de Introdução às Normas
do Direito Brasileiro, assinale a alternativa correta. 
10. (TRE/RS - Analista Judiciário - Judiciária – CES- A) A lei em vigor terá efeito imediato e geral, res-
PE/2015). A doutrina civilista brasileira aduz que o es- peitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e
tudo sobre o domicílio da pessoa é de suma importân- a coisa julgada. 
cia, pois dele decorrem diversas situações no campo ju- B) Reputa-se ato jurídico perfeito a decisão judi-
rídico. Nesse sentido, assinale a opção correta, relativa cial de que já não cabe recurso. 
ao domicílio da pessoa. C) Chama-se coisa julgada ou caso julgado a deci-
(A) A pessoa natural poderá perder o domicílio por são judicial de primeiro grau que comporte a interpo-
motivo de mudança, por determinação da lei ou por elei- sição de recurso. 
ção das partes em contratos. D)Consideram-se adquiridos os direitos que ape-
(B) O domicílio legal do tutelado é o lugar onde ele for nas o seu titular possa exercer. 
encontrado. E) A lei em vigor terá efeito imediato e geral em
(C) Residência é o local onde a pessoa natural se esta- qualquer circunstância, sem necessidade de observân-
belece com ânimo definitivo. cia da coisa julgada. 
(D) Morada é a radicação permanente da pessoa natu-
ral em uma certa residência. Segundo a LINDB:
(E) A pessoa natural, segundo o Código Civil, pode ter
diversas residências, mas lhe é vedado possuir mais de um Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeita-
domicílio, filiando-se ao sistema francês de unidade domi- dos o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
ciliar. §1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado se-
gundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. 
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o
RESPOSTAS: seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles
cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição
01. D pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. 
02. B § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a deci-
03. D são judicial de que já não caiba recurso. 
04. A
05. C RESPOSTA: “A”.
06. E
07. B 02. (TRT/GO - JUIZ DO TRABALHO - FCC/2014). Em
08. D relação à hierarquia, integração e interpretação da lei,
09. D examine os enunciados seguintes: 
10. A I. A própria lei, prevendo a possibilidade de inexis-
tir norma jurídica adequada ao caso concreto, indica os
meios de suprir a omissão, prescrevendo caber ao jul-
gador decidir de acordo com a analogia, os costumes e
os princípios gerais de direito.
II. Nos meios de integração da norma em face de
omissão da lei ao caso concreto, há rígida hierarquia,
não podendo o Juiz valer-se indistintamente da ana-
logia, usos e costumes ou princípios gerais de direito
conforme seu critério discricionário, de oportunidade
e conveniência. 
III. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia não
admitem o emprego da analogia, nem a interpretação
extensiva, pois dispõe a lei que são interpretados estri-
tamente. 
Está correto o que consta APENAS em
A) III.
B) I e II.
C) II e III.
D) II.
E) I e III.

32
NOÇÕES DE DIREITO

Inciso I está incorreto, pois segundo o Art. 4o LINDB, 04. (TJ/RO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - CESPE/2012).
quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo Com base na Lei de Introdução às Normas do Direito Bra-
com a analogia, os costumes e os princípios gerais de sileiro e na interpretação doutrinária do direito civil, assi-
direito. nale a opção correta.
Inciso II também está incorreto, pois segundo o A) De acordo com o princípio da continuidade, caso o
Art. 5o   LINDB, na aplicação da lei, o juiz atenderá aos texto legal tenha sido corrigido durante a vacatio legis, o
fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem prazo da obrigatoriedade da lei não voltará a fluir.
comum. B) Caso, em nova lei, sejam estabelecidas disposições
Inciso III está CORRETO pois segundo o Art. 114 CC, a par das já existentes em outras leis, não haverá revoga-
os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpre- ção do texto legal anterior, mas apenas modificação.
tam-se estritamente. C) Caso a Lei B, que revogou expressamente a Lei A,
seja revogada sem que outra lei seja publicada, a Lei A
RESPOSTA: “A”. voltará a vigorar.
D) Caso uma lei já em vigor não tenha sido aplica-
03. (TJ/AP – JUIZ - FCC/2014). Direito Civil Basea- da, não tendo sido exigida sua observância pelos órgãos
do em antiga parêmia -  ubi eadem ratio, ibi eadem aplicadores do direito, essa lei será considerada, para
dispositio  - escreve Miguel Reale: “É de presumir- todos os efeitos, válida e eficaz.
-se que, havendo correspondência de motivos, igual E) O princípio do estatuto pessoal é garantido pelo
deve ser o preceito aplicável” (Filosofia do Direito. V. direito brasileiro, ainda que as leis brasileiras divirjam
1, 7. ed. São Paulo: Saraiva, 1975. p. 128). Esse texto substancialmente das leis estrangeiras.
refere-se
A) à eficácia da lei no tempo e no espaço. Estatuto pessoal é a situação jurídica que rege o estran-
B) à aplicação das leis segundo sua hierarquia. geiro pela lei de seu País de origem. Trata-se da hipótese
C) aos princípios gerais do Direito. em que a norma de um Estado acompanha o cidadão para
D) à analogia. regular seus direitos em outro País. Genericamente esse es-
E) à equidade tatuto pessoal pode se basear na lei da nacionalidade (cri-
A resposta correta é Analogia, uma vez que, os RE- tério político)  ou  na lei do domicílio (critério geográfico).
QUISITOS para o emprego da analogia são: a) inexistência Portanto, ambas (lei nacional e lei do domicílio) constituem
de dispositivo legal prevendo e disciplinando a hipótese critérios solucionadores dos conflitos de leis no espaço.
do caso concreto; b) SEMELHANÇA entre a relação não Atualmente em virtude do art. 7° da LINDB, o estatuto
contemplada e outra regulada na lei; c) Identidade de fun- pessoal funda-se na lei do domicílio ou na da sede jurídica
damentos lógicos e jurídicos no ponto comum as duas si- da pessoa para se determinar a lei aplicável. De fato, a lei
tuações.  do domicílio (lex domicilii), que rege o estatuto pessoa é
NÃO CONFUNDIR ANALOGIA COM INTERPRETAÇÃO o critério que mais atende à nossa conveniência nacional.
EXTENSIVA: A analogia implica o recurso a uma norma as- Como o Brasil adotou a teoria da territorialidade modera-
semelhada do sistema jurídico, em razão da inexistência da (ou mitigada), haverá casos em que se admite a aplica-
de norma adequada a solução do caso concreto. Já a In- ção de norma estrangeira no território brasileiro, pois nem
terpretação extensiva consiste na extensão do âmbito de sempre as leis poderão ficar enclausuradas dentro dos li-
aplicação de uma norma existente, disciplinadora de de- mites espaciais do Estado. No entanto, a extraterritoriali-
terminada situação de fato, a situações não expressamen- dade encontra restrições, não se admitindo a aplicação de
te previstas, mas compreendidas pelo seu espírito, me- norma estrangeira que atente contra a soberania nacional,
diante uma interpretação menos literal. Configura-se, por a ordem pública e os bons costumes.
exemplo, quando o juiz interpreta o art. 25 do CC, estende
à companheira(o) a legitimidade conferida ao cônjuge do RESPOSTA: “E”.
ausente para ser o seu curador. 
05. (TRT/PE - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2012).
“O processo analógico, portanto, é fundamental na vida Dispõe a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasi-
do Direito, baseando-se no antigo ensinamento: ubi eadem leiro que a obrigação resultante do contrato reputa-se
ratio, ibi eadem dispositio. É de presumir-se que, havendo constituída no lugar em que residir o proponente (art.
correspondência de motivos, igual deva ser o preceito apli- 9º, § 2º) e o Código Civil que reputar-se-á celebrado o
cável. É preciso notar que a analogia tem pontos de contac- contrato no lugar em que for proposto (art. 435). Neste
to e pontos de dessemelhança com o processo intuitivo. A caso, 
analogia coincide com a intuição por ser conhecimento do A) ambas as disposições legais se acham em vigor e
particular, mas difere dela por ser sempre de natureza ra- não se contradizem.
cional, enquanto que a intuição pode assumir formas emo- B) o Código Civil foi revogado nessa disposição pela
cionais ou volitivas”. Miguel Reale. Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
C) aquela regra estabelecida na Lei de Introdução às
RESPOSTA: “D”. Normas do Direito Brasileiro foi revogada pelo Código
Civil.

33
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

D) ambas as disposições se revogam reciprocamen- 07. (TJ/RR - TÉCNICO JUDICIÁRIO - CESPE/2012).


te. Com base no que dispõe a Lei de Introdução às normas
E) tendo o juiz dúvida sobre qual das normas legais do Direito Brasileiro, julgue os itens que se seguem.
deve aplicar, possui a faculdade de considerar revogada Integração normativa consiste na obrigatoriedade
qualquer das duas regras, aplicando a outra. de o juiz furtar-se à decisão quando a lei for omissa.
( ) Certo      ( ) Errado
O conflito entre elas é meramente aparente. Assim, a
regra da LINDB se aplica no chamado direito internacional A integração é exatamente o contrário. Ela existe em
privado, ou seja, se destina aos casos em que um dos con- decorrência do mandamento legal que diz que o juiz não
tratantes reside fora do Brasil. Já a regra do CC regulamen- poderá deixar de julgar alegando lacuna da lei. A integra-
ta os contratos firmados no território nacional. ção permite que o juiz use a analogia, os costumes e os
Ao tratar das obrigações, na Lei de Introdução há con- princípios gerais do direito para conseguir dar a resposta
sagração da regra locus regit actum, aplica-se as leis do ao caso concreto.
local em as obrigações foram constituídas (art. 9º). Dessa
forma, exemplificando, para aplicar a lei brasileira a um de- RESPOSTA: “Errado”.
terminado negócio obrigacional, basta a sua celebração no
território nacional. 08. (TJ/RR - TÉCNICO JUDICIÁRIO - CESPE/2012).
De acordo com a Lei de Introdução, aplica-se aos con- Com base no que dispõe a Lei de Introdução às normas
tratos internacionais: do Direito Brasileiro, julgue os itens que se seguem.
Art. 9º, § 2º A obrigação resultante do contrato reputa- Uma lei entrará em vigor no país quarenta e cinco dias
-se constituída no lugar em que residir o proponente. após sua publicação em diário oficial, salvo disposição em
O dispositivo está em conflito parcial com o  art. 435 contrário. Nos estados estrangeiros, quando admitida, a
do CC, pelo qual se reputa celebrado o contrato no lugar lei entrará em vigor seis meses após sua publicação oficial.
em que foi proposto. Ora, o local da proposta não neces- ( ) Certo      ( ) Errado
sariamente é o da residência daquele que a formulou. Para
resolver a suposta antinomia, aplicando-se a especialidade, A assertiva não está integralmente correta, pois, em
deve-se entender que a regra do art. 435 do CC serve para relação ao prazo para a entrada em vigor de uma lei nos
os contratos nacionais; enquanto o dispositivo da Lei de estados estrangeiros, quando admitida, dar-se-á, em regra,
Introdução é aplicado aos contratos internacionais. em três meses, e não em seis, como erroneamente dispôs
o texto sob comento.
RESPOSTA: “A”. Vejam o que preconiza a Lei de Introdução às Normas
do Direito Brasileiro:
06. (TJ/AC - TÉCNICO JUDICIÁRIO - CESPE/2012). Art. 1o  Salvo disposição contrária, a lei começa a vigo-
Com base na Lei de Introdução às Normas Brasileiras, rar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficial-
julgue os itens a seguir. mente publicada.
A Lei de Introdução às Normas Brasileiras revogou § 1o  Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei
a Lei de Introdução ao Código Civil. brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de
( ) Certo      ( ) Errado oficialmente publicada

Segundo o preâmbulo da LINDB, o título “Lei de In- RESPOSTA: “Errado”.


trodução ao Código Civil – LICC¨, foi alterado para: Lei de
Introdução às normas do Direito Brasileiro.   09. (TJ/RR - TÉCNICO JUDICIÁRIO - CESPE/2012).
Houve essa alteração pelo fato de que LICC nunca foi Com base no que dispõe a Lei de Introdução às normas
uma regra para ser aplicada apenas nas relações civis, pois do Direito Brasileiro, julgue os itens que se seguem.
seu conteúdo é de lei geral, é mais amplo. O ato jurídico perfeito promove a imutabilidade da
Em síntese, podemos afirmar que a Lei não foi revoga- situação jurídica que, de boa-fé, tenha sido realizada
da, e sim, ALTERADA. na vigência de uma lei, ainda que a edição de nova lei
LEI N 12.376 DE 30 DE DEZEMBRO DE 2010. a revogue.
Art. 1° Esta Lei ALTERA a ementa do Decreto-Lei nº 4657 ( ) Certo      ( ) Errado
de 4 de setembro de 1942, ampliando o seu campo de apli-
cação. Segundo a LINDB:
Art. 2º A ementa do Decreto-Lei nº 4.657 de 4 de setem- Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeita-
bro de 1942, passa a vigorar com a seguinte redação: Lei de dos o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. 
Introdução às normas do Direito Brasileiro.  § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado se-
gundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. 
RESPOSTA: “Errado”. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o
seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles
cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição
pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.

34
NOÇÕES DE DIREITO

§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão O território pode ser: a) real ou terrestre - que é a su-
judicial de que já não caiba recurso. perfície ocupada pela nação e circunscrita por suas frontei-
ras; b) ficto - quando por uma ficção de direito se reputa
RESPOSTA: “Certo”. território o que material e geograficamente não o é. Por
exemplo, tudo aquilo que, de acordo com o principio da
10. (TJ/AL - AUXILIAR JUDICIÁRIO - CESPE/2012). extraterritorialidade, é considerado um prolongamento da
Assinale a opção correta a respeito da Lei de Introdução nação cujo pavilhão ostenta, a saber: os navios de guer-
às Normas do Direito Brasileiro.  ra e as aeronaves militares onde quer que se encontrem;
A) A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro os edifícios ocupados oficialmente por agentes diplomá-
rege-se pela lei que vigorar nesse país, devendo ser ad- ticos e consulares localizados noutro país; o mar territorial
mitida pelos tribunais brasileiros ainda que seja prova e o espaço aéreo a ele superposto; c) flutuante - que é a
que a lei brasileira desconheça. extensão do mar sob a jurisdição do Estado, ou território
B) O regime de bens convencional obedece à lei do marítimo; são os navios de guerra, quando têm arvorada a
país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este bandeira nacional; d) volante - é o representado pela avia-
for diverso, a do primeiro domicílio conjugal. ção militar, considerada, ficticiamente, parte do território
C) A lei brasileira só se aplica nos limites do territó- nacional, quando em país estrangeiro ou em viagem pelo
rio nacional, pois não há como impor sua obrigatorie- espaço aéreo livre.
dade a outros países.  Ou seja, a resposta fica correta de acordo com o se-
D) Ainda que tenha vigência por prazo certo e de- guinte dispositivo da Lei de Introdução às normas do Di-
terminado, a lei vigorará até que outra a modifique ou reito Brasileiro:
revogue. Art. 9o  Para qualificar e reger as obrigações aplicar-se-á
E) A lei do país em que nasceu a pessoa determi- a lei do país em que se constituírem.
na as regras sobre o começo e o fim da personalidade,
independentemente de a pessoa fixar domicílio nesse RESPOSTA: “Certo”.
país.
A fundamentação de cada alternativa na Lei de In- 12. (TJ/AC - TÉCNICO JUDICIÁRIO - CESPE/2012).
trodução as normas do Direito Brasileiro. Com base na Lei de Introdução às Normas Brasileiras,
julgue os itens a seguir.
O item “a” está incorreto pois segundo o art.  13 da Em decorrência do ato jurídico perfeito, do direito
LINDB, a prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro re- adquirido e da coisa julgada, aplica-se o princípio da
ge-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios irretroatividade das leis, sejam elas penais ou civis.
de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros pro- ( ) Certo      ( ) Errado
vas que a lei brasileira desconheça. Em relação a frase: “Em decorrência do ato jurídico per-
O item “b” está correto pois segundo o art. 7º § 4º da feito, do direito adquirido e da coisa julgada, aplica-se o
LINDB, o regime de bens convencional obedece à lei do princípio da irretroatividade das leis, (...)”, até aí, estaria cor-
país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for reto, mas quando remeteu a regra da irretroatividade em
diverso, a do primeiro domicílio conjugal. Vale ressaltar que razão do ato jurídico e da coisa julgada para a seara penal,
a mesma regra cabe também para o regime de bens legal. já despencou para o ERRO. Isto ocorre porque no direito
O item “c” está incorreto pois segundo o art. 1º § 1º da penal, a lei que beneficia RETROAGE sempre, independen-
LINDB, nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei te de COISA JULGADA (revisão - a qualquer momento), a
brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de abolitio criminis desqualifica uma conduta jurídica antes
oficialmente publicada. qualificada como crime, assim como desconstitui todo um
O item “d” está incorreto pois segundo o art. 2º da LIN- processo judicial, diante de qualquer alteração “in mellius”
DB,    não se destinando à vigência temporária, a lei terá da nova lei, não havendo se falar em ATO JURÍDICO nesta
vigor até que outra a modifique ou revogue. seara; Assim, atentem para o que diz o enunciado: Em de-
O item “e” está incorreto pois segundo o Art. 7º da LIN- corrência do ato jurídico perfeito, do direito adquirido e
DB, a lei do país em que domiciliada a pessoa determina as da coisa julgada, aplica-se o princípio da irretroatividade
regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, das leis, sejam elas penais ou civis. O que torna a questão
a capacidade e os direitos de família. errada é a palavra “penais”. 

RESPOSTA: “B”. RESPOSTA: “Errado”.

11. (TJ/RR - AGENTE DE PROTEÇÃO - CESPE/2012). 13. (PROCON/RJ – ADVOGADO - CEPERJ/2012). No


Com base no que dispõe a Lei de Introdução às normas moderno Direito Civil, devem ser aplicados os novos
do Direito Brasileiro, julgue os itens seguintes. princípios que podem ser extraídos do atual Código
As obrigações pertinentes a contrato celebrado em Civil editado em 2002. Assim, deve ser considerado o
território ficto brasileiro regem-se pelas normas brasi- princípio da:
leiras.  A) autonomia da vontade
( ) Certo      ( ) Errado B) prevalência do credor

35
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

C) solidariedade Já, a alternativa “D” está correta, pois de acordo


D) complexidade com art. 12, p.ú., CC, em caso de morte, terá legitima-
E) ofensibilidade ção para requerer as tutelas preventiva ou repressiva
o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em li-
Com a aproximação do direito público e do direito pri- nha reta, ou na colateral até o quarto grau. Cabe uma
vado ocorreu a constitucionalização do Direito Civil, que observação para que não se confunda em casos de
fez surgir uma nova ordem de pensamento, denominada lesão à imagem (art. 20 CC), que em caso de morte,
de Direito Civil Constitucional, que impôs a releitura do Di- terão legitimidade para promover a ação indenizatória
reito Civil com base nas diretrizes traçadas na Constituição somente os descendentes, ascendentes e o cônjuge,
Federal de 1988. Assim, analisando o Código Civil de 2002 inserido aqui também o convivente, ou seja, diferente-
em uma visão global, nos deparamos com as diretrizes da mente do art. 12, no caso de lesão à imagem, a lei não
Eticidade, Socialidade ou Solidariedade e Operabilidade, reconhece legitimidade aos colaterais até quarto grau.
que orientam a nova codificação, uma vez que, o novo Di- Assim, nos casos de lesão à direitos da personalidade
ploma, em harmonia com Magna Carta de 1988, conferiu – exceto de lesão à imagem - os colaterais até quarto
prevalência aos valores coletivos sobre os individuais, pois grau devem ser considerados como lesados indiretos.
a diretriz da Eticidade busca introduzir valores éticos no O Projeto de Lei 6.960/2002 visa igualar tais disposi-
ordenamento jurídico, se manifestando como importan- tivos, incluindo também a legitimação do companhei-
te base para o princípio da boa-fé objetiva, probidade e ro e convivente, o que é plenamente justificável, pela
correção; a diretriz da Socialidade ou Solidariedade vem previsão constante do art. 226 da CF/88.
em gritante oposição ao individualismo que impregnou o
Código Civil de 1916. Essa diretriz é a análise dos institutos RESPOSTA: “D”.
civis de acordo com o contexto social, ou seja, a proteção
da pessoa dentro do meio social; e, por fim, a diretriz da 15. (AGU – ADVOGADO - CESPE/2012). De acordo
Operabilidade ultrapassa uma época de extremo apego à com o disposto no Código Civil brasileiro acerca da
estética linguística para alcançar o verdadeiro desiderato pessoa natural, julgue os itens a seguir.
da norma. Afasta-se as complexidades e busca-se a efeti- Embora a lei proteja o direito sucessório do nas-
vidade da norma. cituro, não é juridicamente possível registrar no seu
nome, antes do nascimento com vida, um imóvel que
RESPOSTA: “C”. lhe tenha sido doado.
( ) Certo      ( ) Errado
14. (TJ/MG – JUIZ - VUNESP/2012). Assinale a al-
ternativa correta com relação aos direitos da persona- De acordo com a Teoria Natalista, a personalidade
lidade. do ser humano se inicia do nascimento com vida, tor-
A) Os direitos da personalidade são transmissíveis nando-se este titular de direitos, como por exemplo,
e renunciáveis, podendo seu exercício sofrer limitação direitos patrimoniais, o que torna possível o registro
voluntária, salvo se a lei excepcionar. de imóveis em seu nome. Vale destacar que para que
B) Para proteção da utilização da imagem não au- isso aconteça não se exige mais nenhuma característica
torizada de pessoa morta, nas hipóteses da lei civil, é como: forma humana, viabilidade de vida, ou tempo de
parte legítima para requerer a medida judicial protetiva nascido.
somente o cônjuge sobrevivo. Agora, não se pode confundir o neomorto com o
C) É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a dis- natimorto. Natimorto é aquele que nasceu morto, não
posição onerosa do próprio corpo, no todo ou em parte, adquirindo, portanto, personalidade. Neomorto é aque-
para depois da morte. le que nasceu com vida, ou seja, nasceu, respirou, po-
D) Terá legitimação para requerer medida judicial rém, logo em seguida veio a falecer. Nessa situação,
para que cesse lesão a direito da personalidade do mor- diferentemente do natimorto, procede-se primeiro a
to o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente na li- um registro de nascimento e, posteriormente, a um re-
nha reta, ou colateral até o quarto grau. gistro de óbito, uma vez que chegou a ser, ainda que
por breve instante, titular de personalidade, herdando
A altern. “A” está incorreta, pois os direitos da persona- e transmitindo os seus direitos sucessórios, alcançando,
lidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo portanto, seus direitos patrimoniais. O CC/2002 adota
seu exercício sofrer qualquer tipo de limitação. a teoria natalista na primeira metade do art. 2º: “A per-
A altern. “B” está incorreta, pois de acordo com o art. sonalidade civil da pessoa começa do nascimento com
20 CC, as partes legítimas para requererem a medida judi- vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direi-
cial protetiva, conforme dito acima, são os descendentes, tos do nascituro”.
ascendentes e o cônjuge.
A altern. “C” está incorreta, pois a disposição do pró- RESPOSTA: “Certo”.
prio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte,
somente pode ser com o objetivo científico, ou altruístico e
gratuito, conforme disposto no art. 14 do CC.

36
NOÇÕES DE DIREITO

16. (AGU – ADVOGADO - CESPE/2012). De acordo B) deve ser considerada inexistente no caso de nati-
com o disposto no Código Civil brasileiro acerca da pes- morto e nula nos casos de nascimento com vida, ainda
soa natural, julgue os itens a seguir. que haja aceitação por seu representante legal.
A recente decisão do STF em favor da possibilidade C) é nula de pleno direito, já que a personalidade
de interrupção da gravidez de fetos anencéfalos não in- civil começa apenas com o nascimento com vida, in-
valida o dispositivo legal segundo o qual o feto nascido dependentemente de aceitação por seu representante
com vida adquire personalidade jurídica, razão por que legal.
adquirirá e transmitirá direitos, ainda que faleça segun- D) desde que seja aceita por seu representante le-
dos depois. gal, é válida, ficando, porém, sujeita a condição, qual
( ) Certo      ( ) Errado seja, o nascimento com vida.

Em uma perspectiva constitucional de respeito à digni- Segundo os artigos do CC:


dade da pessoa, não importa que o feto não tenha forma hu- Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nasci-
mana ou tempo mínimo de sobrevida. Se o recém-nascido, mento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção,
cujo pai tenha morrido deixando esposa grávida, falece mi- os direitos do nascituro.
nutos após o parto, terá adquirido, por exemplo, todos os di- Art. 542 A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita
reitos sucessórios do seu genitor, transferindo-os para a sua pelo seu representante legal.
mãe, uma vez que se tornou, ainda que por breves instantes, Conjugando esses dois artigos, obtemos a resposta
sujeito de direito. Portanto, a importância de se constatar se da questão.
a criança respirou ou não, adquirindo ou não personalidade,
é neste exemplo, em casos de herança, visto que, se a criança RESPOSTA: “D”.
adquiriu personalidade, ela estará na qualidade de herdeiro.
19. (AGU – ADVOGADO - CESPE/2012). De acordo
RESPOSTA: “Certo”. com o disposto no Código Civil brasileiro acerca da
pessoa natural, julgue os itens a seguir.
17. (MPE/PE - TÉCNICO MINISTERIAL - FCC/2012). Embora a lei proteja o direito sucessório do nas-
Considere as seguintes situações:  cituro, não é juridicamente possível registrar no seu
I. Bárbara, quarenta anos de idade, foi atropelada por nome, antes do nascimento com vida, um imóvel que
um ônibus. Em consequência do atropelamento e das se- lhe tenha sido doado.
quelas físicas resultantes, transitoriamente ela não pode ( ) Certo      ( ) Errado
exprimir a sua vontade.
II. Vivian, cinquenta anos de idade, é pródiga e sen- Há duas espécies de personalidades: uma formal, ou-
do assim, esbanja dinheiro com aquilo que lhe dá prazer, tra material. A formal constitui aquela pertencente ao nas-
dissipando os seus bens.  cituro, ainda no ventre da mãe, onde este faz jus apenas
III. Giulia, vinte anos de idade, é deficiente, sem de- aos direitos da personalidade. A material é aquela aptidão
senvolvimento mental completo, apresentando dificul- para a pessoa ser titular de direitos patrimoniais (como
dades no seu aprendizado escolar.  no caso em comento) e surge apenas do nascimento com
De acordo com o Código Civil brasileiro, é incapaz vida. Logo, está explicado por que o nascituro não pode
relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:  ter imóvel em seu nome, pois este possui apenas a perso-
A) Giulia e Vivian, apenas. nalidade formal que lhe dá aptidão apenas para direitos
B) Bárbara, Giulia e Vivian. da personalidade, quais sejam: vida, dignidade, integrida-
C) Bárbara e Giulia, apenas. de física, etc.
D) Vivian, apenas.
E) Bárbara e Vivian, apenas. RESPOSTA: “Certo”.

Somente Giulia e Vivian são relativamente incapazes à 20. (AGU – ADVOGADO - CESPE/2012). De acordo
prática de certos atos da vida civil precisando ser assistidas com o disposto no Código Civil brasileiro acerca da
para a prática destes atos. Já Bárbara em virtude das se- pessoa natural, julgue os itens a seguir.
quelas do atropelamento, mesmo que transitoriamente, ela A recente decisão do STF em favor da possibilida-
se tornou absolutamente incapaz, precisando portanto ser de de interrupção da gravidez de fetos anencéfalos
representada para a prática dos atos da vida civil. não invalida o dispositivo legal segundo o qual o feto
nascido com vida adquire personalidade jurídica, ra-
RESPOSTA: “A”. zão por que adquirirá e transmitirá direitos, ainda que
faleça segundos depois.
18. (TJ/RJ – JUIZ - VUNESP/2013). É correto afirmar ( ) Certo      ( ) Errado
que a doação feita a nascituro
A) deve ser considerada nula tanto nos casos de na- Nascer com vida, para o direito brasileiro significa res-
timorto como nos casos de nascimento com deficiência pirar. No momento em que ingressar ar nos pulmões, ha-
mental. verá nascimento com vida, é o previsto no código civil:

37
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nas- O inciso II está incorreto uma vez que a assertiva afirma
cimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concep- que a constatação e o registro há de ser feito por um mé-
ção, os direitos do nascituro. dico, quando na verdade o requisito da lei é de dois médi-
Disso se conclui, dentre outras coisas, que não precisa cos, conforme o art. 3º da Lei 9434:
ser uma vida viável, nem mesmo ter forma humana, para Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou par-
adquirir personalidade. tes do corpo humano destinados a transplante ou tratamen-
Observe que a análise é extremamente objetiva. Tanto to deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica,
isso é verdade que, na dúvida, se houve ou não respiração, constatada e registrada por dois médicos não participantes
é realizado um exame, chamado de  Exame da Docimasia das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização
Hidrostática de Galeno. de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do
Portanto, é irrelevante se é anencéfalo, haverá vida se Conselho Federal de Medicina.
respirar; logo, haverá personalidade e, portanto, “adquirirá Já o inciso IV está incorreto, pois de acordo com o ar-
e transmitirá direitos”. tigo 18 do Código Civil, não é permitido o uso do nome
alheio em propaganda comercial, não importa que seja
RESPOSTA: “Certo”. para a promoção de direitos públicos. A assertiva tenta
confundir o candidato com relação à utilização da imagem
21. (TRT/SP - JUIZ DO TRABALHO - TRT/2014). Em de uma pessoa, que pode ser usada se necessárias à ad-
relação à proteção das pessoas e de seus direitos, ob- ministração da justiça ou à manutenção da ordem pública.
serve as proposições abaixo e responda a alternativa Art. 18, CC: Sem autorização, não se pode usar o nome
que contenha proposituras corretas: alheio em propaganda comercial.
I. Pode-se requerer a sucessão definitiva provando- Art. 20, CC: Salvo se autorizadas, ou se  necessárias à
-se que o ausente conta com 65 (sessenta e cinco) anos administração da justiça ou à manutenção da ordem públi-
de idade e que de 5 (cinco) anos datam as últimas no- ca, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a
tícias dele. publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma
II. A retirada “post mortem” de tecidos, órgãos,
pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem pre-
ou partes do corpo humano destinados a transplante
juízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra,
deverá ser precedida de morte encefálica, constatada
a boa fama ou a respeitabilidade, ou se destinarem a fins
e registrada por um médico, não participante das equi-
comerciais.
pes de remoção, por resolução do Conselho Federal de
Medicina. 
RESPOSTA: “D”.
III. A legislação brasileira admite a disposição do
próprio corpo para fins de transplante, na forma esta-
belecida em lei especial. 
IV. Sem autorização não se pode utilizar o nome
alheio em propaganda comercial, salvo para a promo-
ção de direito públicos.
V. O pseudônimo adotado para atividades lícitas
goza da proteção que se dá ao nome.
Está correta a alternativa:
A) I e IV
B) II e IV.
C) II e V.
D) III e V.
E) I e III

Os incisos III e V estão corretos conforme dispos-


to nos seguintes artigos do CC:
Art. 13 Salvo por exigência médica, é defeso o ato de dis-
posição do próprio corpo, quando importar diminuição per-
manente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
Parágrafo único.  O ato previsto neste artigo será
admitido para fins de transplante, na forma estabele-
cida em lei especial.
Art. 19 O pseudônimo adotado para atividades lí-
citas goza da proteção que se dá ao nome.
Os demais incisos estão incorretos, vejamos:
O inciso I está em desacordo com o Art. 38 do CC,
que diz que pode-se requerer a sucessão definitiva,
também, provando-se que o ausente conta oitenta anos
de idade, e que de cinco datam as últimas notícias dele.

38

Você também pode gostar