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O ônibus maldito 23 de Março 14h 02

Era pra ser mais uma viagem monótona interestadual daquelas onde vc não quer conversar com
ninguém, apenas ver a paisagem passar pela janela mas algo de sinistro e inexplicável ocorreu
naquela terça-feira.

Entrei no ônibus e fiquei feliz ao observar que a poltrona ao lado estava vazia - teria aumentado
um pouco meu mísero e precário espaço – todavia, a felicidade durou pouco...Alguns
quilômetros depois entrou no ônibus uma senhora de traços indianos e perfil centenário – seus
olhos eram de uma negritude absoluta sem brilho e me causaram logo de cara um temor e
angustia difíceis de se explicar com palavras...tentei disfarçar fingindo olhar a paisagem verde
pela janela mas ela logo puxou conversa – respondi às indagações com respostas curtas na
intenção de extirpar o dialogo mas foi inútil –falava muito, com uma voz rouca sofrida e sobre
assuntos que transpassavam séculos instigando por vezes duvidas pela riqueza de detalhes -
seriam devaneios, loucuras, mentiras ou o que? De repente, passamos por um longo túnel e
quando a luminosidade voltou a senhora havia desaparecido – achei que tivesse ido ao banheiro
mas nada de voltar, levantei então para procura-la e resolvi perguntar para o casal sentado no
par de poltronas ao lado mas estavam dormindo - os da frente também e, de repente, observei
que todos no ônibus estavam em um pavoroso silêncio: não estavam dormindo, não respiravam,
estavam pálidos e gelados – estavam mortos.

Fiquei gelado e estático por um momento, depois parti da paralisia para o desesperado e corri
pelo corredor para avisar o motorista o que estava acontecendo, mas a porta não abria: encostei
meus olhos no vidro e qual foi o espanto quando vi dirigindo uma figura já conhecida – a idosa
indiana. Outra coisa que me assustou ainda mais foi ver seu reflexo que parecia algo animalesco
semelhante a um demônio ceifador –fiquei aterrorizado, fui para a janela, tentei a saída de
emergência, mas nada funcionava, gritava e o som não saia, eu tinha certeza que aquele ônibus
estava indo para o inferno. Estava aterrorizado foi quando no auge de minha angustia...fui
acordado pelo motorista : - Senhor, acorde,- chegamos. Daqui o ônibus vai para a garagem. Ufa,
era um sonho.

E a senhora que estava aqui – que senhora? A que embarcou em Presidente Wenceslau? Ah, ela
desceu algumas paradas atrás se despediu e desejou a você bons sonhos.

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