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Menino do rio Paraguai

Acadêmico: João Guanes.

Era uma vez, num lugar distante e separado por muita água, florestas e animais
em uma região conhecida por Castelo. O lugar era tão distante, mas tão distante mesmo
que, para chegar à cidade mais próxima (Corumbá), era preciso navegar o dia todo pelas
aguas do rio Paraguai. A grande distância entre o Castelo e Corumbá era um dos grandes
motivos pelo qual as pessoas que lá nasciam, cresciam, e também morriam, nunca irem
até a cidade. Os moradores de Castelo preservavam os bons costumes e se mantinham
afastado de tudo o que consideravam errado levando assim uma vida correta e com
características pacatas do local.
Entretanto, lá havia também um menino chamado Guaninhos que era totalmente
diferente daquela gente. Conhecido pela sua intrepidez e travessura, gostava de brincar e
passear pela floresta. Em uma ocasião, sua mãe mandou que ele fosse até a casa da sua
avó levando consigo uma suculenta refeição por nome de quebra torto, - comida feita
pelos pantaneiros-. A comida era para alimentar sua que estava muito doente.
Todas as vezes que Guaninhos se afastava de sua casa sempre levava consigo o
Sapiquá uma sacola em forma de um saquitel para colher as frutas que encontrava pela
mata. O menino caminhava tranquilo ouvindo o canto dos pássaros e o saltitar dos
macacos de um galho para o outro, entoando os gritos pelo seu caminho. De um caminho
para o outro, o garoto se deparava com algum peão que vinha a pé ou a cavalo, o que
transmitia segurança, pois antes havia perigo no bosque.
A algum tempo atrás, não era de costume encontrar pessoas transitando pelo local
pois a presença da onça pintada aterrorizava os sertanejos e os animais da mata,
entretanto, alguns caçadores deram cabo do bicho fazendo reinar a paz naquele povoado.
O garoto prosseguia irradiando alegria ao ver os raios solares que entravam entre as
frestas das arvores enormes que, muitas vezes, escureciam o local com as suas sombras.
Saudando a todos que encontrava pelo caminho e sempre exibindo o seu sorriso enorme
por onde passava Guaninhos seguia feliz.
Ao chegar na casa de sua avó, bateu fortemente em sua porta três vezes, toc toc
toc. Demorando para responder, a velha pergunta:
- Quem é?
- Sou eu, Guaninho, seu neto, trouxe o quebra torto que mamãe mandou.
Então, com a voz embargada a velha diz:
- Empurre a porta e entre, que Deus te abençoe.
Ao entrar o menino se deparou com a vó na cama envolvida em cobertas e
respirando com dificuldade.
D eixe a comida em cima da mesa e se achegue para perto da cama disse a avó ao
menino.
Espantado, o menino notou que perdera seu sapiquá com as frutas que colhera na
floresta para a sua vó e então fala:
– Vovozinha, que braços tão magros, os seus, e que mãos tão trementes!
– É porque não vou poder nunca mais te abraçar, meu neto… a avó murmurou.
– Vovozinha, mas que lábios, aí, tão arroxeados?
– É porque não vou nunca mais poder te beijar, meu neto… a avó suspirou.
– Vovozinha, e que olhos tão fundos e parados nesse rosto, encovado, pálido?
– É porque já não estou te vendo, nunca mais, meu netinho… a avó ainda gemeu.
O menino se assustou, e como se fosse ter juízo pela primeira vez disse:
- Vovozinha, eu tenho medo da Onça!
Mas a avó não estava mais lá, demasiada ausência, a não ser pelo frio, presente,
triste, e tão repentino do corpo.

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