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ÀS SETE DA MANHÃ

Ronaldo Rodrigues Moises

Às sete da manhã de uma quinta-feira chuvosa ela apareceu com uma demanda de
emergência e cujo imperativo - “CUMPRA-SE” - vinha destacado em negrito, caixa alta e entre
aspas com a complementação, - dentro do tempo mínimo exigido a fim de se evitar
complicações futuras.

Meu Deus, o que será isso? Uma demanda do Supremo? Do MP ou da LM? Pensei
introspectivo.

Após o solavanco, respirei fundo, me inteirei do assunto e então indaguei:

- Mas precisamos de fato fazer isso agora? Com tantas demandas pendentes? A
aludida exigência ainda está no nível primário, ademais, temos instrumentos e margens que
asseguram proteção e controle do fluxo do processo desencadeado.

Ela então, taxativa e circunspecta me olha com aquele olhar que diz tudo sem falar
uma vírgula sequer e reitera: “CUMPRA-SE”, e em tom de ameaça complementa que - no caso
de efeitos adversos serei eu o primeiro a sentir as consequências.

Contrariado e coagido após a imposição que beirou ao assédio por parte de minha
interlocutora, percebi que a determinação não provinha do Supremo (mamãe) que aliás, nem
estava presente nos autos, tampouco do MP (Marcos Paulo), que estava fazendo prova
substitutiva e sim da própria LM (Lua Maria) cujo tom de seriedade me fez agir “dentro do
tempo mínimo exigido”. Resultado:

- ÀS sete horas e quinze minutos de um dia chuvoso e frio cuja única demanda
imperativa ,em minha humilde opinião seria dormir um pouco mais, o Sr. Pai trocou a fralda
com zelo e presteza a fim de atender o imperativo “CUMPRA-SE” da eminente bebê.

- Aff, trabalho difícil! Ainda bem que me pagam bem, tenho diariamente um sorriso
banguelo e babado que me faz ver as coisas com novas cores. E vamos às demandas
secundárias.

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