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SENTENÇA

I – RELATÓRIO

Trata-se de Ação de Indenização por Danos Morais e Materiais apresentada


por JOÃO DA SILVA em face da ABC CELULARES e TELEFALE.A inicial, fls. 02/07,
asseverou, em síntese, que o autor se dirigiu até uma das lojas autorizadas da
requerida com o escopo de adquirir um aparelho celular, todavia a compra não ocorreu,
diante do sistema operacional da empresa encontrar-se, naquele momento, “fora do
ar”, ao que o demandante desistiu do negócio. Sustentou que, após dois meses da
visita ao estabelecimento comercial supra, começou a receber correspondências da
requerida, referindo-se a débitos de telefone celular, oriundo de uma linha telefônica.O
demandante, na exordial, alegou seu inconformismo com as cobranças acima, com o
argumento de que nunca autorizou ou solicitou qualquer serviço da demandada, daí
entrou em contato por telefone com a empresa, e recebeu a informação de que a dívida
cobrada indevidamente havia sido cancelada. Todavia foi surpreendido com um
comunicado do SERASA, no qual estava sendo cobrado um débito na cifra de R$
95,42, cujo credor seria TELEFALE.O nome do autor, segundo consta no pedido inicial,
fora incluído no Serviço de Proteção ao Crédito, obrigando o autor a fazer várias
ligações ao serviço de atendimento da TELEFALE. Após inúmeras tentativas, foi
cientificado do cancelamento da linha e que a empresa ré iria desconsiderar as
supostas dívidas em cinco dias úteis, como também retiraria seu nome do SPC, fato
que, até poucos dias, antes do ajuizamento da ação em tela, não havia ocorrido.

Na contestação, resumidamente, a requerida alegou: a) A ré não praticou


qualquer ato ensejador de danos morais e materiais, pois a habilitação do autor ocorreu
de maneira normal, e, diante a inadimplência autoral, seu nome foi inscrito nos
registros dos órgãos de Proteção ao Crédito; b) Na hipótese, em exame, houve uma
conduta criminosa de um terceiro, e, por óbvio, a ré não poderia ser responsabilizada
em decorrência disso; c) Que a simples ocorrência de um suposto ato não configura a
existência de um dano, não se justificando a indenização pleiteada simplesmente pelo
acontecimento, eis que não é apenas o dano da vítima a fonte de responsabilidade
civil, mas a ligação do eventual dano causado a uma conduta ilegítima ou censurável
do ofensor, o que não foi comprovado pelo autor (nexo de causalidade); d) Não é
qualquer aborrecimento ou transtorno que é considerado pela doutrina e jurisprudência
como capazes de causar danos morais, não tendo o demandante comprovado
eventuais dissabores que os fatos descritos na petição inicial teriam lhe ocasionado; e)
Em relação aos danos materiais mencionados pelo requerente não deve prosperar,
pois não restaram demonstrados.

Houve a realização da audiência de instrução e julgamento, como também foram


apresentadas alegações orais.

É o relatório.

II - FUNDAMENTAÇÃO

Ao analisar a situação presente, na qual um homem é inscrito como um mau


pagador nas instituições de análise de credito, entendendo que não há dívida pendente
do mesmo, podemos observar que foi provocado uma ofensa a sua dignidade e ao seu
nome, ambos protegidos pelo ordenamento jurídico brasileiro. O praticante do ilícito
deve de imediato buscar a correção do ato danoso praticado, fazendo com que o
prejuízo ao indíviduo lesado seja o menor possível, ficando esse também responsável
pela reparação de qualquer dano moral que surja decorrente dessa inscrição indevida.
Para tanto, não é necessário a comprovação do dano moral, pois esse decorre da
simples inscrição irregular e a prorrogação do dano nos orgãos de consulta de crédito,
ou seja, é um dano moral in res ipsa. O entendimento da doutrina e da jurisprudência é
unânime em relação a isso, como podemos analisar no entendimento jurisprudencial do
STJ:
“DIREITO DO CONSUMIDOR. INSCRIÇÃO I
NDEVIDA NO SPC. FURTO DO CARTÃO DE
CRÉDITO. DANO MORAL. PROVA.
DESNECESSIDADE. COMUNICAÇÃO AO
CONSUMIDOR DE SUA INSCRIÇÃO.
OBRIGATORIEDADE. LEI 8.078/90, ART. 43, § 2º.
DOUTRINA. INDENIZAÇÃO DEVIDA. FIXAÇÃO.
PRECEDENTES. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO.
I - Nos termos da jurisprudência da Turma, em se
tratando de indenização decorrente da inscrição
irregular no cadastro de inadimplentes, "a exigência
de prova de dano moral (extrapatrimonial) se satisfaz
com a demonstração da existência da inscrição i
rregular" nesse cadastro.
(....)
(RESP 165727 / DF, STJ, Rel. Min. SÁLVIO DE
FIGUEIREDO TEIXEIRA)"

Consequemente as empresas causadoras do dano ficarão responsáveis pela


reparação proveniente do dano moral de acordo com o artigo 927 do Código Civil e
artigo 14 da Lei nº 8.078/90. Sem dúvida nenhuma, o cidadão cujo o nome está incrito
no cadastro de indadimplentes se vê prejudicado, pois em decorrencia de um ato ilícito
de terceiros, ele será visto como um mau pagador em qualquer tipo de situação futura
em que seja necessária a consulta aos instrumentos de análise de crédito. Portanto,
ficará responsabilizada solidariamente, as rés, ao pagamento de idenização por dano
moral, conforme o artigo 7º da Lei nº 8.078/90 que trata, em resumo, da prática de ato
danoso por mais de um autor, e esses serão solidários na reparação do dano, ou seja,
ambos responderão pelo prejuízo causado.
Já em relação aos danos materiais pleiteados pelo requerente na petição inicial,
entendo que não resta comprovada nos autos os prejuizos sofridos pelo mesmo,
ficando assim inalcançavel a responsabilidade dos requeridos por esses danos.

III - DISPOSITIVOS
ANTE O EXPOSTO, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido formulado
na ação declaratória e indenizatória presente, e em concequência declaro inexistente a
dívida do requerente perante as requeridas e condeno solidariamente as empresas
ABC CELULARES e TELEFALE a pagar a JOAO DA SILVA indenização pelos danos
morais sofridos, que lhe fixo em R$ 10.000,00 (dez mil reais), acrescidos de correção
monetária a partir da data da citação. Condeno o réu ao pagamento das custas
processuais, bem como as taxas judiciarias e honorários advocatícios.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se e cumpra-se.

Curitiba, 13 de Junho de 2016

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Juiz de Direito

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