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Uma reportagem do dia 10 de maio da Folha de São Paulo anuncia a metamorfose causada
pelo recente decreto ligado a liberação do porte de armas no Brasil e aponta que a
liberação também se deu no nível das importações de armas e tecnologias militares. Se
observarmos, esse decreto obedece a um comportamento, como a reportagem mesmo
levanta, ao mesmo tempo que o positiva, praticado por países envolvidos interna, como
o caso brasileiro, ou externamente, como os EUA, o Reino Unido e etc em guerras e
conflitos definidos por teóricos militares norte-americanos como guerras de baixa
intensidade. Qual um dos possíveis significados disso? As áreas urbanas são o principa l
campo de conflito armado, o que envolve amplos setores industriais de armamento hoje
no mundo, do Oriente médio ao Haiti ou Rio de Janeiro, o que se pratica hoje tem, sob a
figura de um ou mais inimigos produzidos por um imaginário feroz, a eliminação de civis
sob pretextos diversos, do terrorista ao criminoso traficante. Isso se inclui no capital como
um dos mercados mais promissores e rentáveis no mundo – o mercado da guerra. Não é
atoa que Israel atravessou sua crise após 2003 competindo e se tornando o lugar par
execellence das altas tecnologias militares, de controle e guerra urbana. E, como lembrou
uma reportagem recente, os gastos militares no mundo no último ano representaram os
maiores gastos de diversos governos.
Trata-se de nos perguntar “que horas são no brasil”? Virada de mesa para com uma fração
da ''burguesia interna", radicalizando a assunção do capital internacional no Brasil, agora
também na indústria de armas? Fato é que esse decreto pode representar, e é o que parece,
a estratégia do atual do governo e seus dirigentes de incluir sob forma superior o Brasil
no fluxo armamentista e de alta rentabilidade no mundo. O gráfico abaixo aponta o
faturamento desse mercado e quais são seus representantes:
1Estudante de Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais e membro do Coletivo Refas com Z –
Mostra Itinerante – Cinema Antifascista.
Faturamento, em US$ bilhões (dados de 2017)
Fonte: Abimde
O texto da FSP, entretanto, não menciona o grande mercado de segurança privado hoje
no mundo que ultrapassa a chamada "segurança pública" em número de agentes. Ora, a
partir de então vemos que junto a um evidente beneficiamento por esse decreto das
atividades milicianas e paramilitares, bem como a garantia das despossssões diversas, a
chamada acumulação primitiva, como provavelmente iremos ver com a subida
exponencial da violência no campo praticada por grandes fazendeiros, o Brasil aprofunda-
se, em apenas 5 meses de governo, responsável, diga-se de passagem, por conseguir
desestruturar uma série de instituições através da exoneração de cargos, além de aumentar
o nível do desemprego e estimular a perseguição a professores, movimentos sociais
diversos e a educação pública, no grande fluxo global da guerra urbana. Isso envolve
compras de altas tecnologias de combate e financiamento direto do Estado a esses
desenvolvedores, que em sua maioria são estadunidenses e israelenses. Resta dizer que,
independente do decreto ou não, uma tecnologia já foi importada e agora ganhou ares
legítimos com o atual governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. O "atirar na cabeça",
descobrimos, é uma tecnologia vinda de Israel e da forma como eles eliminam os
palestinos, no Reino Unido ficou conhecida como Kratos, e conhecemos também a
história do brasileiro Jean Charles de Menezes assassinado pela polícia inglesa em 2005.
No RJ, há longa data, os voos de morte acontecem. Restaria nos perguntar se isso também
não é uma tecnologia de guerra aperfeiçoada durante a ocupação militar brasileira no
Haiti, principalmente em grandes favelas como Cité Soleil. Ocupação, aliás, que nós
brasileiros não nos preocupamos o suficiente em compreender, mas que representa, para
além da violência generalizada, uma laboratório de guerra e controle das populações
pobres nas cidades e retorna, como bem parece, nas chamadas UPPs. Em 2014 o atual
ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, general e
primeiro comandante brasileiro da missão no Haiti, revelou, como trás a reportagem de
José Arbex Jr. na Caros Amigos do mesmo ano que: “Os militares entenderam, no Haiti,
que era preciso fixar bases dentro das favelas.” Heleno omite o fato trazido pelo jornalista
de que em 2008 oficiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e da Coodenadoria
de Recursos Especiais (Core) foram treinadas no Haiti. A surpresa seria o fato de
assessores dos EUA, da CIA, do FBI e da DEA participarem, através de escritórios e
assistências diversas, nas ações em favelas do Brasil desde o governo de Fernando
Henrique Cardoso. EUA e Israel, país fabricante dos caveirões utilizados no RJ.
O que o decreto traz, além de toda a gestão da (in) segurança que envolve o mercado de
armamento e o aumento do número de assassinados, sabemos, negros e pobres nas cidades
e agora camponeses e indígenas, é, em suma, a reposição do Brasil no processo global e
altamente lucrativo daquilo que o geógrafo Stephen Graham chama de “novo urbanismo
militar”. Não vamos nos iludir de que todas essas novidades não podem e não vão trazer
mudanças significativas no âmbito, digamos, do massacre da população brasileira através
de novas tecnologias importadas e flexibilizadas pelo novo decreto. As milícias são o
nosso presente e futuro, nesse caso. Mas como lembrou essa mesma reportagem: "Os
estrangeiros se preparam. Já em abril, durante a feira militar LAAD, no Rio de Janeiro,
o tema segurança era frequente. 'Temos soluções integradas de segurança, e dominamos
como poucos a tecnologia para operar drones', afirmou então Eli Alfassi, vice-presidente
de marketing da Israel Aerospace Industries. Israel, país cujo atual governo é um dos
mais próximos da gestão Bolsonaro, produz ampla gama de produtos aplicados à
segurança pública."
Tudo isso envolve um grande esforço de estudo e entendimento de como o atual governo
pretende gerir os pobres de maneira diferente dos governos anteriores, em que chamada
gestão do social penderá, mais ainda que antes, como numa reta, para a gestão armada, o
que já vinha ganhando contornos após a ditadura civil- militar e aperfeiçoada durante os
governos seguintes, FHC e Lula-Dilma. Nesse momento, o que poderíamos chamar de
“campo do social”, dos programas de assistência, estímulo ao consumo, aumento real do
salário mínimo, vê sua reversão brutal, como já ocorre com o desemprego crescente ,
muito embora continue a garantir a rentabilidade mundial, nessa reta, no nível do mercado
da guerra. Vemos, dessa forma, aquilo que um amigo, o sociólogo mineiro Moisés
Augusto Gonçalves, apontou como a restituição da ideia do século XIX de classes
perigosas, conceito desenvolvido sob forte influência racista, em que naquele momento,
essas classes precisavam ser administradas e controladas, outro tempo, em que o trabalho
era a disputa tanto pelos grandes movimentos operários quanto pela burguesia, ele alerta,
que essas classes perigosas, no mundo atual, são restituídas através da ideia de inutilidad e
– não há trabalho para todos e nem haverá, resta, ademais, os chamados bicos, como
entreposto para o desemprego e, posteriormente a eliminação física. O mercado da guerra
move a máquina capitalista e o Brasil atual se esforça para administrar o que reforça ainda
mais o poder do Norte Global, principalmente em momento de forte mudança na
geopolítica mundial. São sonhos de uma vida armada e nossa resposta, além da negação,
precisar partir pela imaginação e conflito nas brechas possíveis de enfrentamento a esse
processo, sabendo, de antemão, o risco representado pelos atuais dirigentes. A paralisação
do dia 15 de maio, próxima quarta-feira, poderá ser uma abertura para que pensemos um
para-além dessa condição, que só se efetiva na ausência de uma exigência constante,
coletiva e desejante por outra sociedade, dessa forma é opor a política, o acontecime nto
e o conflito ao poder policial para além dos campos de domesticação de nossa potência,
pois policial não se trata de ou tão somente aquilo que ordinariamente designamos como
polícia militar, civil e etc, mas sim de um poder que insiste em fazer coincidir política
com consenso, política com uma representação do povo, em simular a inserção popular
nas demandas que são unicamente do governo e de suas oligarquias e, por último, de
governar as condutas e insistir que a comunidade é aquilo que tal oligarquia fabrica como
bem-comum. Política é outra coisa, é imaginação e enfrentamento a essa prática que não
se cansa de forjar uma república e um país de todos, sempre haverá aqueles que não são
parte do todo e exigir a parte é desenrodilhar as representações do bem e da paz e dizer:
mais, mais ainda. E queremos?
Bibliografia:
ARBEX, José. Fascismo made in Brazil. Revista Caros Amigos, maio de 2014.