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FOUCAULT, Michel. História da sexualidade 2, O Uso dos prazeres. Trad. Maria Thereza da Costa
Albuquerque. 8ª ed. Digital Source, p11
2 Ibid., p 11
indivíduos estão desimpedidos de interdições, Foucault se propõe determinar, porque
e de que modo, e à sombra de que forma a atividade sexual foi instituída como sendo
parte do campo moral e o porquê da problematização dos prazeres. Porquanto
destaca, “E, afinal, é esta a tarefa de uma história do pensamento por oposição à
história dos comportamentos ou das representações: definir as condições nas quais o
ser humano "problematiza" o que ele é, e o mundo no qual ele vive” 3. Foucault se
dispõe a analisar as práxis do indivíduo consigo mesmo, aquilo que o constitui como
sujeito. Para tal irá rastrear a gênese do homem de desejo desde o período da
antiguidade clássica através de quatro noções corrente, “Aphrodisia”, “chrésis”,
“enkrateia” e “sóphrosuné”, pelas quais os gregos refletiam sobre o uso dos prazeres
os problematizavam.
A noção de aphrodisia relaciona-se aos os atos que garantem prazer, os quais
estão correlacionados com o prazer e o desejo “Os aphrodisia são atos, gestos,
contatos, que proporcionam uma certa forma de prazer”4. Segundo Foucault a
experiência dos os gregos no tange a preocupação com os prazeres não era em
delimitar ou definir o que seriam esses atos, nem tratava-se de dizer a forma, mas da
atividade que este desvelam, melhor dizendo, o prazer que desencadeiam e o desejo
que manifestam, porquê,
Essa dinâmica é definida pelo movimento que liga entre si os aphrodisia, pelo
prazer que lhes é associado e pelo desejo que suscitam. A atração exercida
pelo prazer e a força do desejo que tende para ele constituem uma unidade
sólida com o próprio ato dos aphrodisia.5
3
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade 2, O Uso dos prazeres. Trad. Maria Thereza da Costa
Albuquerque. 8ª ed. Digital Source, p 12.
4
Ibid., p 38.
5
Ibid., p 41.
A chrésis se articula em uma harmonia direcionada por três estratégias, a
necessidade, a oportunidade e o status. A necessidade se norteia quanto a satisfação
do desejo de acordo com a natureza. O uso adequado se dá quando o prazer sacia o
desejo, e se houver uma discrepância entre ambos acontece a intemperança. Diante
disso nota-se que a intemperança, se dá de dois modos, o primeiro, relaciona-se com
o deleitar antes de querer algo, seja ele de qualquer espécie, o segundo, refere-se a
extravagância dos prazeres. Portanto, percebe-se que o uso dos prazer deve levar
em consideração uma unidade entre bom uso e vontade, isto é, fazer uso do prazer
de acordo com a necessidade.
A oportunidade, é saber leva em consideração o momento apropriado. Esse
momento é marcado por vários aspectos que diferem ente si. No que tange a relação
com os prazeres é preciso levar em conta a idade, isto é, não começar muito cedo
nem prolongar por um longo período da vida; observar as estações do ano e o clima,
assim como a hora do dia, e por motivações religiosas e de pudor recomendava-se o
período noturno.
Do status se observa que, quanto maior a valia do sujeito na sociedade, mais
prudente e ponderado tem que ser, com sua honra e com o uso dos prazeres, “A arte
de usar do prazer deve também se modular em consideração àquele que a usa e
segundo o seu status”6. Esse cuidado não é o mesmo explicitado na moral cristã, no
qual nota-se uma modulação universal que parte de concepções gerais, que legitimam
ou não o valor do ato sexual. Entre os gregos, por sua vez, não se trata de uma moral
direcionada para um conjunto de regras, esta forma de austeridade é traçada pelo
ajustamento circunstancial e pelo prestígio do cidadão.
O termo enkrateia”, por sua vez, é aplicado para a boa aplicação que se faz
dos prazeres. Entende-se por “enkrateia” como o controle, o exercício de domínio de
si. Um duelo contra os prazeres e os desejos na busca da excelência medida de si
mesmo, não uma negação mas a resistência a eles, ou seja, uma transformação de
uma dominação primitiva e sua recolocação a serviço de fins considerados mais
elevados.
6
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade 2, O Uso dos prazeres. Trad. Maria Thereza da Costa
Albuquerque. 8ª ed. Digital Source, p 58.
A “sóphrosuné” é qualificada como uma liberdade, é a condição a ser almejada
pelo domínio dos prazeres. Essa austeridade relacionada aos desejos não acarreta
em uma busca puritana, mas sim no domínio de si, uma vez que,
para o pensamento grego da época clássica, a "ascética" que permite
constituir-se como sujeito moral faz parte integralmente, até em sua própria
forma, do exercício de uma vida virtuosa que é também a vida do homem
"livre" no sentido pleno, positivo e político do termo.7
7
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade 2, O Uso dos prazeres. Trad. Maria Thereza da Costa
Albuquerque. 8ª ed. Digital Source, p 77.
8
Ibid., p 79.
9
Ibid., p 89.
estruturalmente, instrumentalmente e como reconhecimento ontológico do ser consigo
mesmo. Sendo esses sistemas que formam a condição da instauração do indivíduo
como sujeito temperante.
No aspecto estrutural é a razão, ou melhor, o logos, que administra um
indivíduo que tem a temperança e habitualmente usa de modo excelente seus desejos
no decorrer de sua conduta. De outro modo, um indivíduo intemperante é vinculado à
ignorância, à ausência de razão. O bom uso dos prazeres e a regulação do
comportamento demanda a necessidade de elaboração de uma razão prática que
torna o indivíduo capaz de discernir o que, quando e como, deve fazer. Já o aspecto
instrumental é relativo aos coordenado entre os meios os fins. O reconhecimento
ontológico de si mesmo por intermédio de si expressa que é necessário o
autoconhecimento para a atividade virtuosa e o domínio dos prazeres.
Portanto, a filosofia configurou-se como uma atividade de transformação na
antiguidade, transformações que devem elevar o indivíduo a alcançar uma
determinada forma de existência. Esse trabalho por uma estética da existência, que
passa pela formação de um sujeito moral, mostra-se, entre os gregos, como uma
afirmação da liberdade, uma busca de transformar a vida mais ornamental, era nesses
aspectos que inseria-se a problematização dos prazeres.
Quanto a prática dos prazeres Foucault