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INSTITUTO LOCKMANN

CURSO DE TEOLOGIA
DISCIPLINA HISTORIA DO CRISTIANISMO III
ALUNO REINALDO DE JESUS MARTINS

Capítulo 2. Modernidade: um novo horizonte para a civilização ocidental (pp.13– 40)


MACÊDO, E. F. Wesley e a Modernidade: a teologia de John Wesley no contexto cultural do
século XVIII. Dissertação (mestrado)–Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
Departamento de Teologia, 2014.

Segundo autor é quase impossível delinear o fim e o início de uma época, entretanto
destaca como um essencial para entrada na idade moderna as transformações sofridas no regime de
acumulação1. “Na medida em que a matriz de acumulação muda, haverá mudanças em todas as
relações.” (p. 13). Desta forma sempre que houver mudança na relação econômica de oferta da
produção e a demanda do mercado haverá mudanças nas demais relações sociais.
Inicialmente discorre Macedo que essas transformações são observadas no advento a
revolução agrícola e comercial. Novas tecnologias surgiram para o homem do campo, como o arado
pesado, a colheira, os moinhos de água e de vento, fato este que possibilitou um aumento da
produção agrícola. Segundo o autor:

“O que parece um amadurecimento natural gerou uma ampliação do uso da terra, mudanças
nas relações entre senhores e vassalos, que foram liberados dos serviços pessoais aos
senhores, para cultivarem outras terras. A produção agrícola cresceu e produziu um
excedente, que foi determinante para o fortalecimento do comércio e o fortalecimento
da vida urbana.” (grifo nosso)

O crescimento do comércio fez com que os comerciantes se organizassem em associações


acumulando capital para poderem competir no mercado internacional, surgissem novas profissões, a
até mesmo a criação de universidades. Também houve um ressurgimento das cidades que davam
abrigo a uma nova classe social, a burguesia, “classe média, composta de mercadores e artesãos
que não estavam ligados à atividade agrícola ou a terra, mas ao comércio. Esta nova classe
estabeleceu normas que garantiram seu crescimento e enriquecimento.” (p. 14) O enriquecimento
da burguesia acarretou o desmoronamento da estrutura feudal, pois os burgueses fizeram das
cidades lugares com autonomia própria, afastando assim dos modelos de relações feudais. “Esta
libertação provocará a formação de novos valores e o surgimento de um espírito crítico, que será
fundamental para a dissolução da era medieval e formação do paradigma moderno.” (p. 15) E,
destes novos valores surgiram três grandes movimentos que foram decisivos para o início da idade
de moderna e que foram fundamentais para condicionar a teologia de João Wesley: as grandes
navegações, a reforma protestante e a iluminismo.
As grandes navegações tiveram um grande impacto na compreensão do mundo pelos
cristãos:

1 Um importante conceito utilizado pela escola da regulação é o de regime de acumulação. Um regime de


acumulação pressupõe um padrão de organização da atividade produtiva adequado ao padrão de consumo, isto é,
um nível de atividade econômica compatível com a demanda efetiva (oferta agregada = demanda agregada), o que
evitaria crises de superprodução ou situações de elevado nível de inflação. Escola da regulação. Disponível
em:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_da_regula%C3%A7%C3%A3o>
“A visão cristã da criação também sofreu um golpe com os descobrimentos. Havia uma
ideia de possibilidade de reunificação da humanidade, já que todos derivavam de um tronco
único, fundamentado pela narrativa da criação. A partir deste pressuposto, o selvagem era o
humano caído da graça de Deus, distante de Deus. O que se colocava como desafio
gigantesco para a teologia da criação medieval era como imaginar “que os descendentes de
Adão tivessem navegado através do imenso Oceano, indo povoar o outro lado da Terra”.
Até a era dos descobrimentos o Ocidente já lidava com a alteridade, os povos do oriente, da
África e mesmo da Irlanda, colônia britânica, eram identificados como selvagens; povo
decaído da graça de Deus; mas agora Colombo achou um povo do outro lado do mundo,
serão humanos?” (p. 21, grifo nosso)

Desta forma começava a se desenhar uma teologia premida da necessidade de resgatar o


perdido, motivada a atravessar grandes distâncias geográficas e enfrentar grandes obstáculos para ir
de encontro ao “pecador”, vivida na inicialmente na tentativa de resgate do selvagem perdido.
Outro movimento que contribuiu para a formação do paradigma moderno foi a reforma
protestante, na medida em que através da autoridade da religião legitimou conceitos que já
brotavam na sociedade da época. Max Weber percebe a contribuição da Reforma no fortalecimento
do Capitalismo, indiretamente, por meio da ênfase moral e do assentimento do trabalho como
vocação. “Em contraposição à ostentação de riquezas, os protestantes fizeram do trabalho e do
crescimento profissional uma forma de culto a Deus e de confirmação de sua eleição como filho de
Deus.” (p. 27)
Por fim, o movimento do iluminismo deixa de ver Deus como ponto central para
compreensão do mundo e passa a buscar as repostas no próprio homem. Desta forma o homem
passa a ver o mundo de uma leitura que passa pela medida do homem, sua compreensão, sua busca
pelo autoconhecimento e sua capacidade de evoluir e se relacionar com o mundo. “A busca pela
verdade que havia migrado do mundo das ideias para o mundo natural, agora migra para dentro
do ser humano, a certeza mais pura e livre dos condicionamentos que distorcem a verdade está
interna ao indivíduo; centro desta nova racionalidade.” (p. 37)
Portanto, pelos pontos tratados pelo autor já possível vislumbrar o surgimento de uma
teologia libertadora, que vai na busca de novos conceito; que não tem um fim sim mesma, pelo
contrário, se propõe a vencer os maiores obstáculos para ir de encontro ao pecador; e que busca
também buscar respostas às dúvidas existenciais desse novo homem que busca a verdade em sua
subjetividade.

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