Caracterização e Tratabilidade Do Efluente Gerado em Indústria de Refrigerantes Empregando Reator Uasb

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO

TRIÂNGULO MINEIRO – CAMPUS UBERABA


MESTRADO PROFISSIONAL EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS

JULIANA SARAIVA FIOCHI PENA

CARACTERIZAÇÃO E TRATABILIDADE DO EFLUENTE GERADO EM


INDÚSTRIA DE REFRIGERANTES EMPREGANDO REATOR UASB

UBERABA, MG
2016
JULIANA SARAIVA FIOCHI PENA

CARACTERIZAÇÃO E TRATABILIDADE DO EFLUENTE GERADO EM


INDÚSTRIA DE REFRIGERANTES EMPREGANDO REATOR UASB

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


graduação em Ciência e Tecnologia de
Alimentos, do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro-
Campus Uberaba, como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em Ciência e
Tecnologia de Alimentos.

Orientador: Prof. Dr. Amilton Diniz e Souza

UBERABA, MG
2016
JULIANA SARAIVA FIOCHI PENA

CARACTERIZAÇÃO E TRATABILIDADE DO EFLUENTE GERADO EM


INDÚSTRIA DE REFRIGERANTES EMPREGANDO REATOR UASB

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


graduação em Ciência e Tecnologia de
Alimentos, do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro-
Campus Uberaba, como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em Ciência e
Tecnologia de Alimentos.

Aprovada em 13 de dezembro de 2016

Banca Examinadora

__________________________________________________________
Prof. Dr. Amilton Diniz e Souza (Orientador) – IFTM, Campus Uberaba

___________________________________________________________
Prof. Dra. Gislaine Fernandes – IFTM, Campus Uberaba

__________________________________________________________
Profa. Dr. Lucas Ferreira de Paula – IFTM, Campus Uberaba

UBERABA, MG

2016
Aos meus pais, Júlio e Virginia, pela
educação, por minha formação e incentivo em
todas as etapas da minha vida.

Ao meu esposo Felipe, pelo apoio e ajuda


nos momentos difíceis.

Ao meu anjo Theo, que em um momento


importante da minha vida, veio para me
fortalecer mais ainda e incentivar vencer essa
batalha.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela oportunidade de estar aonde cheguei, me


amparando sempre nos momentos difíceis.

Ao Professor Doutor Amilton Diniz e Souza. Mais que um orientador, um amigo,


esclarecendo dúvidas com atenção e, no meu caso em particular, compreendendo a situação em
que estava. Como orientador sempre prestando todo o suporte necessário para realização deste
trabalho. Agradeço a orientação, o apoio, a confiança e a compreensão.

Aos Campi Uberaba do Instituto Federal do Triângulo Mineiro pelo apoio e suporte
prestado para realização do projeto.

À técnica do laboratório de Microbiologia do IFTM – Campus Uberaba, Cintia, que


contribuiu muito no decorrer das análises, dando todo o apoio necessário.

Ao Professor Vinícius da Universidade Federal do Triângulo Mineiro que confeccionou


e cedeu prestativamente o reator UASB, escala de laboratório, para desenvolvimento da
pesquisa.

Aos meus pais, Júlio e Virgínia, que me educaram e me tornaram a pessoa que
sou. Agradeço a tudo que fizeram e passaram para que eu chegasse até aqui. Ao meu
esposo Felipe, que sempre me apoiou, me entendeu, colaborou e vibrou comigo nesta nova
conquista.

A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a concretização deste trabalho.


SUMÁRIO
RESUMO ......................................................................................................................... 8
ABSTRACT ..................................................................................................................... 9
1.INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8
2. OBJETIVOS ................................................................................................................ 8
2.1 Objetivos Específicos .............................................................................................................. 8
2. REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................. 9
2.1 O PROCESSO DE TRATAMENTO ANAERÓBIO PARA EFLUENTES LÍQUIDOS ............................ 9
2.1.1 Reatores Anaeróbios ......................................................................................................... 10
2.1.3 Tratamento anaeróbio de efluentes de refrigerantes ....................................................... 10
2.2 a FABRICAÇÃO DE REFRIGERANTES E A GERAÇÃO DE EFLUENTES ....................................... 11
2.2.1 Preparo do Xarope Simples ............................................................................................... 13
2.2.2 Preparo do Xarope Final .................................................................................................... 13
2.2.3 Preparo e Envase dos Vasilhames, Latas e Garrafas Pet ................................................... 13
2.3 TRATABILIDADE DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS ............................................................................ 14
2.2.1 Aspectos Gerais da Digestão Anaeróbia ............................................................................ 15
2.2.2 Tratamento biológico por reator UASB ............................................................................. 18
2.3 CRITÉRIOS DE PROJETO DO REATOR UASB ........................................................................... 21
2.3.1 Inoculação e partida .......................................................................................................... 21
2.3.2 Características da biomassa em reatores UASB ................................................................ 21
2.4 ASPECTOS LEGAIS PARA LANÇAMENTOS DE EFLUENTES NO BRASIL E NO ESTADOS DE MINAS
GERAIS.................................................................................................................................................. 22
3. MATERIAIS E MÉTODOS..................................................................................... 24
3.1 Dados gerais sobre a indústria de refrigerante .................................................................... 24
3.2 Caracterização da água residuária ....................................................................................... 24
3.3 Tratabilidade anaeróbia empregando reator UASB ............................................................. 24
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 27
4.1 Análise da biomassa ............................................................................................................. 28
4.2 Produção do Biogás .............................................................................................................. 29
4.3 Eficiência do tratamento por Reator UASB – Escala laboratorial ......................................... 30
5. CONCLUSÃO ........................................................................................................... 33
6. RECOMENDAÇÕES ............................................................................................... 34
7. REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 35
“ Cada dia que amanhece assemelha-se
a uma página em branco, na qual gravamos os
nossos pensamentos, ações e atitudes. Na
essência, cada dia é a preparação de nosso
próprio amanhã”.

Chico Xavier
RESUMO

Os processos industriais empregados nas indústrias de refrigerantes demandam grande


quantidade de água, seja para garantir a qualidade dos produtos, seja para a sanitização
de equipamentos e ambientes. Consequentemente, o volume do efluente gerado é
proporcional a este consumo, com os acréscimos dos riscos ambientais e transtornos da
não conformidade. Estes efluentes, sem tratamento, ao serem despejados com os seus
poluentes característicos causam a alteração de qualidade nos corpos receptores e
consequentemente a sua poluição. O presente trabalho consistiu na caracterização do
efluente bruto gerado numa indústria de refrigerantes e avaliação do desempenho de um
Reator de Fluxo Ascendente e Manta de lodo (UASB), em escala de laboratório, para o
seu tratamento. O reator utilizado neste ensaio foi construído em acrílico, com um volume
útil de 1,5 litros e formato cilíndrico. O efluente bruto foi coletado de um tanque de
equalização, localizado a jusante do setor de produção da fábrica e transportado
semanalmente para o IFTM, setor anexo ao Laboratório de Microbiologia. O sistema foi
alimentado através de uma bomba dosadora modelo EX0704. A caracterização do
efluente apresentou concentrações típicas de efluentes deste ramo de indústria, portanto
exigindo tratamento específico para alcançar padrões compatíveis com a legislação para
lançamento em corpo hídrico. A avaliação da eficiência do sistema e da estabilidade
operacional foi realizada através dos parâmetros DQO, DBO, produção de biogás,
temperatura, pH e a qualidade do inóculo. O lodo inoculado teve boa adaptação ao resíduo
líquido da fabricação de refrigerantes e as configurações de projeto do reator UASB
garantiram uma boa eficiência do sistema em relação à remoção de matéria orgânica na
forma de DQO (74,03%) e capacidade elevada de produção de biogás. Durante o período
pesquisado, o reator manteve a estabilidade operacional, uma vez que, a temperatura e
pH tiveram variações mínimas.

Palavras-Chaves: Reator UASB, tratamento anaeróbio, efluente industrial.


ABSTRACT

Industrial processes used in soft drinks industries require large amounts of water, is to
ensure the quality of products, whether for the sanitization of equipment and
environments. Consequently, the volume of effluent generated is proportional to this
consumption, with the additions of the risks and inconvenience of non-compliance. These
effluents, without treatment, to be discharged with their characteristic pollutants cause
quality change in receiving bodies and hence its pollution . This work was the
characterization of the raw wastewater generated in the soft drink industry and
performance evaluation of a Upflow Reactor and Sludge Blanket (UASB) in laboratory
scale for their treatment. The reactor used in this test was constructed of acrylic, with a
working volume of 1.5 liters and a cylindrical shape. The raw wastewater was collected
from an equalization tank, located downstream of the factory production sector and
transported weekly to the IFTM annexed sector the Microbiology Laboratory. The system
was fed via a metering pump EX0704 model. The characterization of the effluent showed
typical concentrations of effluent from this branch of industry, thus requiring specific
treatment to achieve standards-compliant legislation to release water body. The rating
system efficiency and operational stability was carried out using the parameters COD,
BOD, biogas, temperature, pH and the quality of the inoculum. The inoculated sludge had
good adaptation to the liquid waste from the manufacture of soft drinks and reactor design
configurations UASB guaranteed a good system efficiency in relation to the removal of
organic matter in the form of COD (74.03%) and high capacity production biogas. During
the period studied, the reactor remained operational stability, since the temperature and
pH were minimal variations.

Key Words: Uasb reactor. Anaerobic treatment. Industrial effluent.


8

1.INTRODUÇÃO

Os impactos ambientais nos cursos hídricos se devem, principalmente, ao processo


de urbanização, aos usos agrícolas e lançamento de efluentes industriais. Tais impactos
decorrem do gerenciamento inadequado dos resíduos sólidos e efluentes líquidos não tratados
(MACÊDO, 2007). Os efluentes líquidos ao serem despejados com os seus poluentes
característicos causam a alteração de qualidade nos corpos receptores e consequentemente a
sua poluição (degradação), sendo o tratamento dos efluentes uma das ações mitigadoras mais
significativas para a solução do problema.
Todos os setores da sociedade geram resíduos, porém o setor industrial é o principal
alvo, tanto pela quantidade, como pela toxidez dos resíduos gerados. As indústrias de bebidas
não constituem exceção, também geram resíduos, liberando, principalmente, efluentes líquidos
com elevada carga de matéria orgânica biodegradável. Estes efluentes líquidos, quando
lançados diretamente nos cursos de água, provocam poluição, então a questão passa a ser como
realizar o tratamento destes efluentes de forma sustentável.
De acordo com Metcalf e Eddy (2003), um sistema de tratamento de efluentes para
ser sugerido exige a realização de um levantamento detalhado da caracterização qualitativa do
efluente. Dentre as tecnologias empregadas nos tratamentos de efluentes industriais, o Reator
de Fluxo Ascendente e Manta de lodo (UASB) vem ganhando destaque. Este mecanismo é uma
alternativa de tratamento biológico fundamentada na transformação dos poluentes dissolvidos
e em suspensão pela ação de microorganismos, bactérias, fungos e protozoários, em gases, água,
novos microorganismos e sólidos sedimentáveis.
Pela abordagem de tecnologias mais limpas e quando comparados aos processos
aeróbios convencionais, os reatores anaeróbios apresentam diversas vantagens. Pode- se esperar
um sistema de baixo custo, baixo consumo de energia, menos lodo, geram biogás, que pode ser
usado como fonte de energia dentro da fábrica. (CHERNICHARO, 2007).
Estudos vêm demonstrando boa aplicabilidade do Reator de Fluxo Ascendente e
Manta de lodo (UASB) em indústrias que produzem refrigerantes. Neste segmento há uma
produção complexa de águas residuárias, que podem causar a poluição dos corpos d’água se
forem lançadas sem o devido tratamento (KATO, 1994). Os efluentes líquidos da produção de
refrigerantes são, em geral, oriundos das etapas de lavagem (vasilhames, equipamentos e
instalações), de lotes defeituosos e perdas de processo. As principais características desse tipo
9

de efluente são: o pH alcalino, gerado pelas soluções de limpeza utilizadas e a elevada carga
orgânica, decorrente do açúcar do xarope e de extratos vegetais utilizados na composição.
Dentro deste contexto, na inexistência de gestão de resíduos na indústria estudada,
estes são em sua maioria descartados de maneira inadequada, podendo causar algum impacto
ao corpo receptor que o recebe. Neste trabalho, propõe-se caracterizar os efluentes produzidos
por uma indústria de refrigerantes segundo parâmetros físico-químicos, simular a tratabilidade
dos efluentes amostrados em planta piloto e avaliar o desempenho de um reator UASB em
escala laboratorial. O estudo buscou mostrar a importância dessa tecnologia no tratamento de
efluentes líquidos desse tipo de indústria e também a potencial contribuição para o
enquadramento deste efluente aos padrões da legislação ambiental federal e estadual vigentes.
8

2. OBJETIVOS

Este trabalho tem como objetivo geral caracterizar os efluentes oriundos da produção
de refrigerantes através de parâmetros físico-químicos e avaliar o desempenho de um reator
anaeróbio de fluxo ascendente e manta de lodo – UASB – em escala laboratorial tratando este
efluente.

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Caracterizar do ponto de vista físico-químico os efluentes gerados pelo processo


de fabricação de refrigerantes;
 Avaliar a eficiência do reator anaeróbio de fluxo ascendente e manta de lodo –
UASB – em escala laboratorial na remoção de matéria orgânica em forma de
DQO.
 Verificar se o efluente final atende a legislação ambiental para lançamento em
corpo hídrico.
9

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 O PROCESSO DE TRATAMENTO ANAERÓBIO PARA EFLUENTES LÍQUIDOS

Dentre os vários processos de tratamento, a digestão anaeróbia é um dos que está sendo
mais usado por pesquisadores, indústrias e instituições públicas, como uma alternativa para
tratar os efluentes, desde a década de 1970. Nas décadas de 1950 e 1960, o longo tempo de
detenção hidráulica tornava o processo economicamente inviável, pois o reator ocupava um
volume muito grande. Hoje, isto pode ser resolvido, desde que seja mantida uma alta
concentração de microrganismos dentro do sistema, a qual poderá ser conseguida através de
recirculação externa ou de retenção de microrganismos dentro do reator (RINTALA, 1991;
LETTINGA, 1994; VIÑAS, 1994; HIRATA, 1994, ANNACHHATRE, 1996). Existem alguns
processos de digestão anaeróbia que podem atingir essa meta, tais como filtros anaeróbios,
reator de leito fluidificado, digestor de contato, Expanded Granular Sludge Bed (EGSB) e o
Upflow Anaerobic Sludge Blanket Reactor (UASB) (HENZE e HARREMÖES, 1983;
ANNACHHATRE, 1996; FRANKLIN, 2001).
Os processos anaeróbios de alta taxa , capazes de receber maiores quantidades de carga
orgânica, foram usados nos anos 70 para tratar efluentes de indústrias alimentícias (açúcar) que
possuíam compostos facilmente biodegradáveis. Posteriormente foram usados para efluentes
industriais complexos e tóxicos (RINTALA, 1991; FRANKLIN, 2001).
Os filtros anaeróbios foram os primeiros sistemas anaeróbios usados para o tratamento
direto de esgotos domésticos. O seu uso em escala real para esgotos industriais foi feito em
1972, para tratar esgotos de amido de trigo (McCARTY, 2001). O desenvolvimento da
tecnologia anaeróbia para tratamento de efluentes líquidos tem a finalidade de reduzir o tempo
de detenção hidráulica, reter o máximo de biomassa, tornar a operação destes sistemas mais
simples e estimar a eficiência de remoção de matéria orgânica 15 de acordo com as
características do efluente (HENZE e HARREMÖES, 1983). A aplicabilidade de processos
anaeróbios em efluentes de indústrias de bebidas já é conhecida. HIRATA (1994), KATO
(1994), e McCARTY (2001), comentam outros segmentos industriais tais como álcool,
laticínios, alimentos, frigoríficos, abatedouros e papéis, para os quais já existe experiência
suficiente em tratamento anaeróbio e que ainda devem ter muito mercado para o futuro.
10

2.1.1 Reatores Anaeróbios

Para que um sistema de tratamento de esgoto seja ideal, é necessário que a remoção da
matéria orgânica seja a mais alta possível com um menor tempo de permanência. Portanto, para
se comparar os diversos modelos de sistemas de tratamento, deve-se avaliar a relação entre a
eficiência da remoção da DQO em função do tempo de detenção hidráulica (van HAANDEL e
LETTINGA, 1994). A primeira aplicação do tratamento anaeróbio em escala real foi para
esgoto doméstico, na França, em 1881. Desde então, vários tanques anaeróbios foram
desenvolvidos e usados para o tratamento de esgotos, sendo os mais conhecidos: tanques
sépticos (Inglaterra), tanques Imhoff (Alemanha), filtros anaeróbios e digestores de lodo
convencionais (van HAANDEL e LETTINGA, 1994; VIEIRA, 1994; McCARTY, 2001). 20
De acordo com dados experimentais de van HAANDEL e LETTINGA (1994), para
temperaturas maiores que 20 ºC, os sistemas de tratamento anaeróbio, utilizando reatores
UASB, de leito fluidificado e filtro anaeróbio, removem mais do que 80% da DQO. No entanto,
há variação no tempo de permanência do efluente. Estes autores compararam a eficiência de
remoção da DQO entre os 3 sistemas citados acima e observaram que o UASB e o reator de
leito fluidificado obtêm a mesma eficiência de remoção da DQO a um mesmo tempo de
detenção hidráulica (TDH). Já o filtro anaeróbio necessita de um TDH maior para obter o
mesmo percentual de remoção da DQO.

2.1.3 Tratamento anaeróbio de efluentes de refrigerantes

Segundo Tocchini e Nisida (1995, apud GALVÃO, 2011), os refrigerantes são fluídos,
não alcoólicos, que são geralmente adoçados, acidificados, aromatizados, coloridos
artificialmente e gaseificados com dióxido de carbono. As matérias-primas principais para a
produção de refrigerantes são: água, açúcar, concentrado, sucos de fruta, gás carbônico,
acidulantes e corantes.
Esgotos de indústrias alimentícias, como exemplo, os de refrigerantes, podem ser tratados
biologicamente pelos reatores aeróbios e anaeróbios. Eles têm uma alta carga orgânica (DQO)
de 20-180 g/L, embora muitos, como carboidratos, proteínas e em alguns casos, pequenas
quantidades de lipídios, sejam facilmente biodegradáveis e com DBO de 12- 50 g/L.
O processo mais usual de tratamento dos efluentes da fabricação de refrigerantes é
constituído por três etapas:
11

- Preliminar (remoção de areia, separação de água e óleo e peneiramento);


- Primário (correção de pH);
- Secundário (reator anaeróbio).

A proposta de utilizar um reator anaeróbio de fluxo ascendente para tratar tais efluentes
justifica-se pelo fato que neste sistema de tratamento não existe a necessidade de equipamento
de aeração, o investimento energético é baixo e existe a produção de baixa quantidade de lodo
excedente quando comparado ao processo aeróbio (GHALY e PYKE, 1991; CORDOBA et al.,
1984). Além disso, a utilização de tecnologias anaeróbias para o tratamento de efluentes
industriais de alta carga exige uma demanda de área relativamente baixa. Por isso, através da
implantação de um sistema de tratamento em reator anaeróbio de fluxo ascendente e, como
consequência, a determinação da alta eficiência, de remoção da matéria orgânica. O estudo em
questão poderá representar uma importância bastante significativa para tratamento de resíduos
industriais, contribuindo assim para o enquadramento dos efluentes industriais aos padrões de
legislação ambiental brasileira em vigor, que estão cada vez mais rígidos.

2.2 A FABRICAÇÃO DE REFRIGERANTES E A GERAÇÃO DE EFLUENTES

A produção de refrigerante se modernizou muito com o passar do tempo, mas os


ingredientes principais ainda continuam os mesmos (água, CO2 (para a carbonatação), açúcar
cristal e sumo de fruta(s) (em caso de refrigerantes de fruta) ou extrato vegetal (em caso de
refrigerantes de cola)) e, além desses, hoje também se usa diversos aditivos como conservantes
(p.e., sorbato de potássio e benzoato de sódio), estabilizantes, acidulantes, corantes, essências
(guaraná, cola, limão, laranja, tutti-frutti), entre outros.
O processo de produção do refrigerante pode ser dividido em três partes: o preparo do
xarope simples, obtenção do xarope composto e o processo de diluição, carbonatação e
envasamento.

De acordo com Temps (2000, apud WEBBER, 2006), no processo de produção de um


litro de refrigerante são gerados de 2 a 4 litros de efluente, sendo que algumas fábricas chegam
a produzir cerca de um milhão de litros de refrigerante por dia. No Brasil, existem cerca de 835
12

indústrias nesse seguimento, e a maioria é de pequeno e médio porte, sendo que essas são as
que geralmente acabam descartando efluente incorretamente e contaminando muitas vezes o
solo e o lençol freático.
Na figura 1 é apresentada um panorama geral da fábrica, especificando todo o
funcionamento interno da produção do refrigerante e identificando os pontos de geração de
efluentes.

Xaroparia Xarope Simples (água


Tratamento da água
(produção de efluente) e açucar)

Xarope Composto ( aditivos


Diluição (água)
alimentícios e suco)

Linha de envase
Carbonatação
(produção de efluente)

Refrigerante

FIGURA 1 - Processo de Produção do Refrigerante.


13

2.2.1 Preparo do Xarope Simples

O açúcar é diluído em água aquecida, seguida da etapa de cozimento à temperatura de 85


a 100ºC. Essa mistura ainda passa por um processo prévio de limpeza, geralmente por filtros
de areia, filtros bag, e depois processos de desodorização e clarificação em colunas de troca
iônica e filtros de carvão ativado, a fim de garantir a qualidade nos requisitos gosto, odor e cor
do xarope simples. Em seguida é resfriado para seguir o processo ou é armazenado em tanques
(GALVÃO, 2010).

2.2.2 Preparo do Xarope Final

São misturados ao xarope simples, água tratada desaerada, sucos naturais e compostos
concentrados contendo estabilizantes, conservantes, corantes, extratos vegetais, entre outros.
É necessário destacar que para o preparo de xarope final de produtos dietéticos (light ou
zero) são adicionados edulcorantes sintéticos, como aspartame, ciclamato, sacarina, em
substituição ao xarope simples que contém açúcar (GALVÃO, 2010).
Durante as duas primeiras etapas, ocorre apenas a geração de efluentes devido a lavagem
dos tanques, que é feita com água, soda cáustica, utilizando escovas, além das perdas ocorridas
no sistema, que são pequenas (IRL INDUSTRIA DE REFRIGERANTES LTDA, 2010;
GALVÃO, 2010; ALVES, 2012).

2.2.3 Preparo e Envase dos Vasilhames, Latas e Garrafas Pet

Ocorre a diluição do xarope final na água tratada e a carbonatação do xarope, dando


origem à etapa final da fabricação da bebida. Em seguida, o fluido passa pelo processo de
carbonatação final, é inserido o gás carbônico, elemento que confere as características de
refrescância e de acidez própria dos refrigerantes. Logo após, segue para o polimento do
líquido, geralmente feito por filtração e, então, o envase (GALVÃO, 2010).
As embalagens descartáveis são aquelas feitas de latas e garrafas pet, enquanto que as
embalagens retornáveis se constituem basicamente dos vasilhames de vidro.
14

Nessa etapa de preparo de vasilhames, geralmente, as embalagens retornáveis passam por


um rigoroso processo de lavagem em solução alcalina (soda cáustica 2,0 a 2,5%), seguido do
enxágue com água clorada 2 a 4 ppm, para assegurar a higienização das mesmas, já as
embalagens não retornáveis são lavadas apenas com água com cloro 2 a 4 ppm (GALVÃO,
2011; ALVES, 2012).
Conforme ilustrado na figura 1, dois pontos na produção do refrigerante merecem
destaque na geração de efluentes:
Etapa 3: Xaroparia - os efluentes provenientes da xaroparia são referentes às perdas
ocorridas dos tanques e pelo Clean in Place (CIP) um sistema de limpeza e sanitização realizado
no interior dos tanques de armazenamento de xaropes, é uma etapa para retirar a sujeira mais
grosseira do último produto produzido.
Etapa 6: Linha de envase - as garrafas prontas são conduzidas através de esteira metálica
contendo água para o deslizamento das garrafas, produzindo efluentes. Além disso, as garrafas
são lavadas, interna e externamente, com jatos de água clorada pressurizada produzindo mais
efluentes.
Para garantir um eficiente tratamento do efluente produzido na produção do refrigerante,
é fundamental não só a identificação dos pontos geradores de efluentes, como também a análise
das principais características destes e a seleção de um apropriado sistema de tratamento da água
residuária.

2.3 TRATABILIDADE DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS

Conforme Metcalf & Eddy (2003), a escolha dos processos de tratamento de águas
residuais é de fundamental importância para o sucesso do empreendimento. Por isso, esta deve
ser bastante criteriosa e fundamentada na caracterização adequada do efluente a ser tratado.
De acordo com von Sperling (2012) e Chernicharo (2008), os tratamentos que envolvem
microrganismos são extremamente benéficos nos casos onde esses podem ser implantados de
maneira eficiente, eles são indicados para tratar águas com elevada carga orgânica. Os
tratamentos biológicos são processos que maximizam os processos naturais de depuração que
ocorrem no ambiente, logo, nesses sistemas muitas vezes não há necessidade de produtos
químicos e nem grandes intervenções antrópicas.
A decomposição da matéria orgânica pode ser realizada na presença ou ausência de
oxigênio livre. Na presença, isto é, a partir de processo aeróbio, a oxidação realizada é completa,
15

e a molécula orgânica é totalmente quebrada, cedendo toda a energia potencialmente produzida


e formando como produto final o dióxido de carbono (CO2), desprovido de energia útil. Por
outro lado, na ausência de oxigênio livre (processo anaeróbio), a oxidação é apenas parcial,
levando à formação de produtos finais como o metano (CH4), álcoois ou ácidos graxos, ainda
com energia potencialmente disponível, energia potencial que pode ser transformada em
energia elétrica se em quantidade e qualidade que torne economicamente viável sua utilização.
Como não ocorre a oxidação total, a quantidade de energia liberada é muito menor do que nas
reações aeróbias (METCALF & EDDY, 2003; WEBBER, 2006; CHERNICHARO, 2008).

2.2.1 Aspectos Gerais da Digestão Anaeróbia

A despoluição da água residuária industrial tem sido cada vez mais fonte de estudos para
evitar impactos ambientais. A decomposição anaeróbia da matéria orgânica pode ser
considerada como uma das mais antigas tecnologias para estabilização do efluente. O
tratamento anaeróbio converte os poluentes orgânicos presentes na água residuária em pequena
quantidade de lodo e uma grande quantidade de biogás (metano e dióxido de carbono), restando
uma fração de difícil degradação. A degradação biológica de compostos orgânicos complexos
ocorre em vários estágios bioquímicos consecutivos (reações em cadeia), cada qual realizado
por diferentes grupos de microrganismos específicos. Vários produtos intermediários são
continuamente gerados e imediatamente processados, havendo a necessidade dos vários
estágios ocorrerem na mesma velocidade a fim de evitar distúrbios, como o acúmulo de ácidos,
que pode resultar na falência do reator. Isso também pode ocorrer se não houver monitoramento
de variáveis importantes para o controle da digestão anaeróbia como, por exemplo, temperatura,
pH, nutrientes, taxa de carregamento orgânico e produção de metano por microrganismos
(FORESTI et al., 2002).
Simplificando o processo de degradação, quatro fases principais podem ser distinguidas
podendo haver a inclusão de uma quinta fase, dependendo da composição química do despejo
a ser tratado, como a seguir:
Hidrólise: hidrólise de materiais particulados complexos (polímeros) em materiais
dissolvidos mais simples (moléculas menores), os quais podem atravessar as paredes celulares
dos microrganismos fermentativos. Esta conversão de materiais particulados em materiais
dissolvidos é conseguida através da ação de exoenzimas excretadas pelas bactérias
fermentativas hidrolíticas.
16

Acidogênese: os produtos solúveis oriundos da fase de hidrólise são metabolizados no


interior das células das bactérias fermentativas, sendo convertidos em diversos compostos mais
simples, os quais são então excretados pelas células. Os compostos produzidos incluem ácidos
graxos voláteis, álcoois, ácido lático, gás carbônico, hidrogênio, amônia e sulfeto de hidrogênio,
além de novas células bacterianas. Como os ácidos graxos voláteis são os principais produtos
dos organismos fermentativos, estes são usualmente designados de bactérias fermentativas
acidogênicas (exemplo, espécies Clostridium e Bacteroids).
Acetogênese: as bactérias acetogênicas são responsáveis pela oxidação dos produtos
gerados na fase acidogênica em substrato apropriado para as bactérias metanogênicas. Os
produtos gerados pelas bactérias acetogênicas são o hidrogênio, o dióxido de carbono e o
acetato.
Metanogênese: etapa final do processo de degradação anaeróbia de compostos orgânicos
em metano e dióxido de carbono efetuada pelas arqueas metanogênicas. Em função de sua
afinidade por substrato e magnitude de produção de metano, as metanogênicas são divididas
em dois grupos principais:
- Metanogênicas acetoclásticas: formam metano a partir do ácido acético ou metanol. São
os microrganismos predominantes na digestão anaeróbia, responsáveis por cerca de 60 a 70 %
de toda a produção de metano. Pertencem a dois gêneros principais: Methanosarcina (formato
de cocos) e Methanosaeta (formato de filamentos).
- Metanogênicas hidrogenotróficas: praticamente todas as espécies conhecidas de
bactérias metanogênicas são capazes de produzir metano a partir de hidrogênio e dióxido de
carbono. Os gêneros mais frequentemente isolados em reatores anaeróbios são:
Methanobacterium, Methanospirillum e Methanobrevibacter.
Sulfetogênese: a produção de sulfetos é um processo no qual o sulfato e outros compostos
a base de enxofre são utilizados como aceptores de elétrons durante a oxidação de compostos
orgânicos. Durante este processo, sulfato, sulfito e outros compostos sulfurados são reduzidos
a sulfeto, através da ação de um grupo de microrganismos anaeróbios estritos, denominadas
bactérias redutoras de sulfato (ou bactérias sulforedutoras).
Na presença de sulfato, as bactérias redutoras de sulfato (BRS) passam a competir com
os microrganismos fermentativos, acetogênicos e metanogênicos pelos substratos disponíveis.
A importância dessa competição bacteriana é maior quando ocorre o aumento da concentração
relativa de SO4-2 em relação à concentração de DQO.
Uma representação esquemática e as etapas da digestão anaeróbia são mostradas na Figura 2.
17

Matéria Orgânica Complexa


( carboidratos, proteínas,
lipídios)

Matéria Orgânica Simples


( açúcares, aminoácidos,
peptídios)

Ácidos Orgânicos
( propionato, butireto, etc)

H2 + CO2 Acetato

Metanogênicas Metanogênicas
Hidrogenotróficas Acetoclásticas

CH4 + CO2

FIGURA 1 - Sequências metabólicas ne grupos microbianos envolvidos na digestão


anaeróbia.
FONTE: Adaptado de Chernicharo (1997)
18

2.2.2 Tratamento biológico por reator UASB

Segundo Sottoriva (2003), processos anaeróbios compreendem grupos de


microorganismos que não sobrevivem em ambientes aeróbios. Nos processos anaeróbios, além
dos microorganismos metabolizarem material orgânico num ambiente, onde há a presença de
oxidante, existem também alguns microorganismos que conseguem metabolizar a matéria
orgânica, sem que haja um oxidante presente, que é o caso da fermentação, a qual forma como
produtos finais dessa degradação o metano e o dióxido de carbono.
Os sistemas anaeróbios de tratamentos vêm ganhando destaque em nível mundial e
principalmente em países tropicais, como o Brasil, onde as condições climáticas são favoráveis.
Diversos estudos realizados, em escala piloto, têm demonstrado que o reator UASB é uma
tecnologia sustentável e simples para tratamento de efluente.
O reator do tipo UASB trabalha de maneira a maximizar as relações de degradação
microbiana anaeróbia. Há três áreas distintas dentro do reator trabalhando de maneira
progressiva, separando a fase líquida, sólida e gasosa. É formado no fundo do reator uma área
de sedimentação das partículas sólidas. Sobreposta por uma área onde se encontra o material
biológico que entra em contato com o material orgânico promovendo a maior parte da
degradação. E uma terceira região com barreiras físicas que impedem a saída do material
biológico do reator e permitem, separadamente, apenas a passagem do biogás e do líquido
tratado (CHERNICHARO, 2008).
O reator UASB é constituído por um separador trifásico (sólido/líquido/gás). É
alimentado por fluxo ascendente onde o afluente ao entrar em contato, com a manta de lodo,
sofre reações fundamentais para o seu tratamento. Após sofrer as devidas reações, o efluente
sai através de calhas coletoras localizadas no topo do reator. No alto do reator, o gás produzido,
é encaminhado para saída no alto do reator. O líquido contendo partículas em suspensão e,
eventualmente, o lodo disperso da manta de lodo, escoa através da abertura entre placas do
separador trifásico, atingindo a zona de decantação. Nessa zona, os sólidos em suspensão
retornam a câmara de digestão com o auxílio das paredes inclinadas do separador interno,
impedindo o arraste para fora do sistema. O esgoto tratado deixa o sistema por transbordamento
em calhas coletoras distribuídas no topo do reator. A Figura 3 apresenta um desenho
esquemático de um reator UASB.
19

Figura 2 - Desenho esquemático do interior de um UASB. Fonte: Adaptado de


Chernicharo (2008)

Estes reatores, apresentam vantagens como baixo custo de construção, alta capacidade de
retenção de biomassa em seu interior, permitindo tempo prolongado de retenção de
microorganismos, baixa produção de lodo, suporta o tratamento de altas cargas orgânicas e
elevada estabilidade em situações de variações das características da água residuária
(FORESTI,2002).
De acordo com Chernicharo (1997) as principais desvantagens da utilização dos reatores
UASB no tratamento de águas residuárias são: possibilidade de distúrbios devido a choques de
carga orgânica hidráulica, presença de compostos tóxicos ou ausência de nutrientes.
Os reatores UASB representam um grande avanço na aplicação da tecnologia anaeróbia
para o tratamento direto de águas residuárias. Como qualquer reator biológico, possui vantagens
e desvantagens, no entanto sua utilização tem demonstrado ser ele o de maior sucesso entre os
reatores anaeróbios (KATO et al.,1999).
Uma das características principais para o sucesso do funcionamento do reator é a
formação de uma biomassa que tenha uma intensa atividade, podendo ser desenvolvida na
forma de flocos ou mesmo granular.
20

A implementação da tecnologia anaeróbia no Brasil foi embasada nas condições


ambientais favoráveis, no déficit nas estruturas de saneamento básico e necessidade de sistemas
de baixo custo, uma vez que, existem restrições financeiras (FORESTI, 2002). Foresti et al.
(2006) apresenta a ideia de tratamento de esgotos sustentável, baseada em três questões:
proteção da saúde pública, proteção ambiental e recuperação de recursos. Neste contexto, se
encaixam perfeitamente as tecnologias de tratamento anaeróbio, uma vez que podem chegar a
eficiências satisfatórias com baixo custo de implantação.
O desenvolvimento da tecnologia anaeróbia para tratamento de efluentes líquidos tem a
finalidade de reduzir o tempo de detenção hidráulica, reter o máximo de biomassa, tornar a
operação destes sistemas mais simples e estimar a eficiência de remoção de matéria orgânica
de acordo com as características do efluente (HENZE e HARREMÖES, 1983).
A aplicabilidade de processos anaeróbios em efluentes de indústrias de bebidas já é
conhecida. HIRATA (1994), KATO (1994), e McCARTY (2001), comentam outros segmentos
industriais tais como álcool, laticínios, alimentos, frigoríficos, abatedouros e papéis, para os
quais já existe experiência suficiente em tratamento anaeróbio e que ainda devem ter muito
mercado para o futuro.
O tratamento de efluentes de indústria de bebidas tem demonstrado uma alta eficiência
quando se utiliza o reator UASB em escala real (AUSTERMANN-HAUN e KARL-HEIN,
1997), assim como em laboratório e reator piloto (MARTINÉZ et al., 2000). As experiências
piloto podem reproduzir muitos dos fenômenos que ocorrem no reator em escala real.
Alves (2012), utilizou no tratamento de água residuária da indústria de refrigerantes com
variação de DBO de 1.800 a 4.500 mgO2/L e pH relativamente ácido, tecnologias de tratamento
preliminar para remoção de materiais particulados e gorduras, seguido de tratamento anaeróbio
por reator UASB, e sistema de floculação e decantação. Sendo que, no último nível de
tratamento são utilizados coagulantes (PAC) e polímeros para floculação e decantação e, por
último, processo de desinfecção por ultravioleta. Esse processo se encarregava em deixar a água
passível de descarte ambientalmente correto em corpo d’água classe 2, obtendo na saída uma
DBO entre 23 e 277 mgO2/L e pH próximo a neutralidade, mas não era suficiente para que a
água pudesse ser reutilizada.
21

2.3 CRITÉRIOS DE PROJETO DO REATOR UASB

Para projetar um reator UASB é necessário que seja definido em qual critério será baseado
o projeto. O conhecimento desses critérios está relacionado com a eficácia do processo de
tratamento do efluente. Um dos fatores que medem a eficiência do reator é sua habilidade em
desenvolver e manter um lodo, possuindo uma elevada atividade e excelentes características de
sedimentação (HAMERSKI, 2012). Vários fatores como tempo de detenção hidráulica, carga
orgânica volumétrica (COV), velocidade superficial do líquido, dentre outros, são base para o
projeto do reator, e são escolhidos em função da temperatura de operação. Após a definição
desses parâmetros, definem-se características construtivas do sistema como separador gás-
sólido-líquido, dispositivo do sistema de distribuição da água residual, entre outros (ZAIAT,
2003).

2.3.1 Inoculação e partida

O start up (partida) do sistema é marcado por instabilidades operacionais. A inoculação


prévia favorece a seleção e retenção de massa microbiana, uma vez que sem inoculação o tempo
de desenvolvimento é da ordem de 6 meses.

2.3.2 Características da biomassa em reatores UASB

Uma das principais características do reator UASB é o desenvolvimento de um lodo com


elevada capacidade de sedimentação, notadamente lodo granular. As boas propriedades de
sedimentação dos microrganismos são principalmente decorrentes da agregação dos
microrganismos, proporcionando um aumento no diâmetro da partícula. No entanto, a formação
da biomassa por floculação apresenta uma boa performance, uma vez que é essencial para
garantir um efluente com baixa concentração de sólidos suspensos (CHERNICHARO, 1997).
22

2.4 ASPECTOS LEGAIS PARA LANÇAMENTOS DE EFLUENTES NO BRASIL E NO


ESTADOS DE MINAS GERAIS

No Brasil o lançamento de efluentes está sujeito a normativas federais, estaduais e


municipais, respeitando-se essa hierarquia. As normativas estaduais e municipais podem ser
mais restritivas que a nacional, devendo ser cumprida sempre a mais restritiva.
A Resolução CONAMA n° 357 de 2005 (CONAMA, 2005) define os padrões e condições
a serem atendidos para o lançamento de efluentes em corpos d’água, classifica-os e dá diretrizes
para serem cumpridas. Em maio de 2011 a Resolução CONAMA n°430 (CONAMA, 2011),
complementou e alterou a resolução anterior.
As principais alterações são relativas a novas definições e diretrizes para gestão de
efluentes, definição de condições e parâmetros específicos para efluentes de sistema de
tratamento de esgotos sanitários, entre outras. As condições e padrões para o lançamento de
efluente de sistema de esgoto sanitários podem ser visualizados na Tabela 1.

TABELA 1 - Condições e padrões para o lançamento de efluentes de sistemas de tratamento


sanitários conforme Resolução CONAMA nº 430/2011. Fonte: CONAMA (2011)

No estado de Minas Gerais, a classificação dos corpos d’água e as diretrizes para o


enquadramento são regulamentados pela Deliberação Normativa Conjunta COPAM/CERH-
MG n°01 de 5 de maio de 2008 (COPAM, 2008), norma derivada da resolução CONAMA 357
23

e mais restritiva, conforme o interesse do estado. Parâmetros como DBO e DQO foram
inseridos, conforme Tabela 2.

TABELA 1 - Padrões de lançamento de efluente conforme DN COPAM/CERH-MG


nº01/2008. Fonte: COPAM (2008)
24

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 DADOS GERAIS SOBRE A INDÚSTRIA DE REFRIGERANTE

A pesquisa foi realizada entre os meses de outubro de 2015 a maio 2016, em uma indústria
de refrigerantes, localizada na cidade de Uberaba, MG e com filial em Igarapava, SP. O
empreendimento possui capacidade de produção de 235.000 litros/ dia de sabores variados de
refrigerantes. Quantitativamente, são gerados em torno de 2 a 4 litros de efluentes líquido para
cada litro de refrigerante processado.

3.2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁGUA RESIDUÁRIA

Os pontos de amostragem foram escolhidos com base na quantidade e qualidade dos


efluentes encaminhados para o tanque de armazenamento do efluente bruto (água de processo).
Sabendo que o efluente apresentaria características variáveis conforme a atividade e horário de
cada etapa do processo produtivo, foram coletadas três amostras de um único ponto, em um
período de 12 horas, sendo efluentes decorrentes da primeira lavagem da linha de produção, do
processo produtivo e a da última lavagem da linha de produção. A caracterização físico-química
foi realizada com todas as amostras.
Para a caracterização físico-química do efluente, foram determinados os parâmetros:
Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), Demanda Química de Oxigênio (DQO), Sólidos
Sedimentáveis (SS), Sólidos Suspensos Totais (SST), pH, Temperatura, Cor, Turbidez,
Surfactantes, Óleos/Graxas (O&G), Fósforo Total e Nitrogênio Amoniacal. As análises foram
realizadas de acordo com Standard Methods for Examination of Water and Wastewater (APHA,
2012). Todos os ensaios foram realizados por laboratório acreditado pelo Instituto Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – INMETRO. A Tabela 1 apresenta as
características da água residuária gerada no processo de fabricação de refrigerantes da indústria.

3.3 TRATABILIDADE ANAERÓBIA EMPREGANDO REATOR UASB

Após a caracterização do efluente industrial, optou-se pela tratabilidade anaeróbia


empregando-se um reator anaeróbio de fluxo ascendente e manta de lodo (UASB), em escala
de laboratório (Figura 4). A instalação e operação do sistema experimental aconteceram anexas
25

ao laboratório de microbiologia, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do


Triângulo Mineiro (IFTM), Uberaba, MG.
O reator foi confeccionado em acrílico, possuindo um volume útil de 1,5 litros, formato
cilíndrico, separado em dois compartimentos: o corpo (promove contato entre as bactérias e o
efluente) e a parte superior com o separador trifásico (gás- sólido- líquido). As dimensões são
mostradas na Figura 4.

FIGURA 3 - Dimensões do reator UASB

FONTE: Adaptado de ROCHA, (2012)

Foram inoculados 500 ml de lodo anaeróbio, o que correspondia aproximadamente 1/3


do volume do reator. Primeiramente, foi utilizado o lodo da ETE Uberaba por um período de
20 dias, posteriormente foi adicionado um lodo com qualidade superior ao da ETE Uberaba, o
da Dacar Avícola, visando melhorar a qualidade da biomassa do reator, uma vez que, se tratava
de uma biomassa com maior concentração de material orgânico melhorando o rendimento em
metabolização da matéria orgânica presente no efluente e consequentemente uma partida mais
rápida do reator anaeróbio. Para que o lodo pudesse se ambientar passando de um efluente
doméstico para um industrial, o efluente industrial foi diluído nas primeiras semanas numa
proporção 2:1 em água obtida pelo sistema de distribuição da concessionária local. A fase de
aclimatação ao novo ambiente durou em torno de dois meses.
26

Com o lodo já aclimatado, iniciou-se a operação normal do reator. A alimentação foi


realizada através de recipientes plásticos de 20L e uma bomba dosadora EX0704
eletromagnética pulsante com diafragma em teflon. Pelo fato de não conseguir uma boa
regulagem da bomba para pequenas vazões e temendo velocidade de fluxo ascendente muito
elevada provocando o arraste excessivo de partículas do lodo, levando a diminuição da
eficiência, instalou-se um filtro de papel da marca Melitta na saída do reator evitando que as
partículas do lodo entrassem em contato com o efluente alterando sua qualidade.
A operação do sistema foi em regime contínuo e os recipientes plásticos para alimentação
mantidos em temperatura ambiente. O reator UASB trabalhou recebendo esgoto bruto. Tendo
conhecimento prévio de que os valores da temperatura ficariam em torno de 28 – 30ºc, pelas
condições climáticas da cidade de Uberaba, o tempo de detenção hidráulica (TDH) escolhida
para operação foi de 9 horas, o que resultou numa média de vazões volumétricas de 4,9 L/d.
Durante o período da pesquisa foram realizadas coletas semanais do efluente para o
abastecimento do sistema. As amostras apresentaram pH entre 4,19 e 4,42 e temperatura
ambiente, entre 25 e 27°C. O efluente teve seu pH corrigido com bicarbonato de sódio e foi
mantido entre 6,5 e 7,5.Com o intuito de não permitir o escape da biomassa juntamente com o
efluente tratado e de promover maior contato entre o efluente e os microrganismos, utilizou-se
como meio suporte discos plásticos de baixa densidade utilizados em reatores do tipo MBBR
(Moving Bed Biofilm Reactor). Como a densidade é menor do que a do efluente utilizou-se
uma esponja de aço inox (modelo Scotch-Brite – 3M) para manter a biomassa completamente
imersa. Para controle do sistema de tratamento criou-se um programa de monitoramento
conforme a tabela abaixo:
TABELA 3. Programa de monitoramento do reator anaeróbio de bancada
PROGRAMA DE MONITORAMENTO
PARÂMETROS UN. 1 -AFLUENTE 2 - UASB 3 - EFLUENTE REATOR UASB

Vazão Aplicada (CIRCUITO FECHADO) Q DIÁRIA .... ....


DQO Total mg/L-1 1X P/SEMANA .... 1X P/SEMANA
Produção do biogás(eficiência) mg/L-1 .... 1X P/SEMANA ....
ESTABILIDADE OPERACIONAL ( Antes UASB e pós UASB)
Temperatura (estabilidade) mg/L-1 DIÁRIO ....
pH(estabilidade) mg/L-1 DIÁRIO ....

LODO
Sólidos Totais CASUAL ....
mg/L-1
Sólidos Totais Voláteis CASUAL ....
mg/L-1
27

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em relação aos dados apresentados na Tabela 4, nota-se que se trata de um efluente com
constituintes orgânicos dissolvidos, não necessitando de tratamento preliminar. Possui alta
concentração orgânica devido ao açúcar do xarope e dos extratos vegetais utilizados na
formulação das bebidas, contudo de boa degradabilidade.

TABELA 4 - Caracterização das águas residuárias da indústria de refrigerantes

Em função da caracterização físico-química do resíduo líquido, foi possível calcular a


relação DQO/DBO5, que forneceu um valor médio para o fator de biodegradabilidade. De
acordo com Von Sperling (2005), a relação de DQO/DBO5 fornece indicações sobre a
biodegradabilidade de um efluente e esta relação deve ser menor que 2,5. Conforme podemos
visualizar na Tabela 5, percebe-se que a relação DQO/DBO é de 0,68, portanto é menor que
2,5 indicando efluente de boa biodegradabilidade e potencialmente tratado por processos
biológicos.

TABELA 5 - Relação DQO/DBO5 dos pontos de amostragem


28

Quanto à concentração de nutrientes, fósforo e nitrogênio, a carga orgânica é elevada,


mas para o crescimento dos microrganismos é satisfatório. Para a remoção destes nutrientes
seria necessário o emprego de um tratamento terciário.
A presença de óleos, graxas e surfactantes no efluente industrial são devido à limpeza da
linha de produção e a quantidade apresentada foi insignificativa para formação e acumulação
de escuma no interior do reator, não interferindo no tratamento.
O pH apresentou características ácidas necessitando de prévia correção para atingir um
valor aceitável para alimentação do reator (entre 6,8 e 7,4).
Os parâmetros turbidez e a cor aparente são parâmetros de importância para ser aplicado
na avaliação da qualidade de água destinada a reuso, devido à estética, não sendo parâmetros
de estudo neste trabalho.
Pela análise da Tabela 3, foram encontrados valores acima do limite máximo permitido
pela Deliberação nº01 do COPAM (2008), para lançamentos de efluentes no Estado de Minas
Gerais, reforçando a necessidade de tratamento dos efluentes gerados pela indústria em estudo.

4.1 ANÁLISE DA BIOMASSA

Os resultados dos dois inóculos utilizados para partida do reator, com o objetivo de
verificar a qualidade da biomassa utilizada pode ser visualizado na tabela 6.

TABELA 6 - Análise de Sólidos Totais (ST) e Sólidos Voláteis (SV)

Podemos observar que o inóculo proveniente da Dacar Avícola (DA) tem qualidade
superior ao de Uberaba (URA), visto que seus grânulos são maiores, mais consistentes e com
formato mais simétrico. A análise dos sólidos comprova a superioridade de uma biomassa em
29

relação a outra. Observa-se que a biomassa da Dacar apresentou em sua composição 96,3% de
material orgânico, sendo apenas, 3,6% de material inorgânico, enquanto o inóculo de Uberaba
teve apenas 76,9% de material orgânico na sua composição. Houve uma boa adaptação da
biomassa inoculada no reator UASB ao efluente bruto da indústria, devido à eficiência média
de remoção de DQO durante a fase de partida variou entre sendo de 60,3% a 65,8%.

4.2 PRODUÇÃO DO BIOGÁS

A verificação da geração do biogás permite saber se o reator está operando


adequadamente ou não. A produção de biogás foi medida empregando-se o método de
deslocamento de líquido utilizando frascos de Mariotte. Na aplicação deste procedimento,
considerou-se que o CH4 era o principal constituinte do biogás.
A vazão do biogás produzida foi estável durante o período da pesquisa, ocorrendo
pequenas variações. (Figura 7)

FIGURA 7 - Vazão e qualidade do biogás produzido

De acordo com as referências obtidas, o biogás tem qualidade relativamente superior a


qualidade geral obtida por Gulsen e Turan (2004), Sorti el al. (2006), Prado e Campos (2008) e
Prado Campos e Silva (2010), e aproximadamente dentro dos 70 % a 80 % que são propostos
por Metcalf e Eddy (2003) e Chernicharo (2007). Além de ser superior àquela esperada pelos
30

cálculos prévios de eficiência do sistema, a partir dos dados geométricos do reator, do TDH
adotado e da caracterização do efluente. Isto significa que o biogás gerado por esse sistema é
apropriado para produção de energia e pode tornar um sistema de aproveitamento energético
mais viável, já que tem grande proporção de metano.
A qualidade do biogás pode ser creditada ao tipo de efluente, que é basicamente composto
por açucares (carboidratos), que são facilmente digeridos pelas bactérias presentes no meio.

4.3 EFICIÊNCIA DO TRATAMENTO POR REATOR UASB – ESCALA


LABORATORIAL

A estimativa da eficiência de reatores UASB ainda é realizada através de relações


empíricas, obtidas por meio de resultados experimentais de reatores em operação. Para avaliar
a eficiência do reator em relação à degradação da matéria orgânica, utilizou-se o parâmetro
DQO.

FIGURA 8. Remoção de matéria orgânica em forma de DQO durante a fase operacional

As análises de DQO foram realizadas segundo Chernicharo (2007), verifica-se que a


remoção de matéria orgânica, em termos médios, do reator anaeróbio foi de 74, 03%, sendo
dado pela Equação 1. O que indica que o reator trabalhou muito bem e produziu um efluente
passível de descarte correto, atendendo tanto a legislação Federal quanto a Estadual.
31

% 𝑫𝑸𝑶 𝒓𝒆𝒎𝒐𝒗 = 𝑫𝑸𝑶 𝑫𝑸𝑶


𝒂𝒇𝒍−𝑫𝑸𝑶 𝒆𝒇𝒍
𝒂𝒇𝒍
𝒙 𝟏𝟎𝟎 (Eq. 1)

Onde:
% DQOremov = porcentagem de DQO removida
DQOafl = concentração de DQO afluente
DQOefl = concentração de DQO efluente

A verificação do pH foi realizada diariamente e durante o período de operação do reator


não mostrou grandes variações (Figura 9), sendo o pH corrigido com aproximadamente 5
gramas de bicarbonato de sódio por litro de efluente (proporção aproximada de
gBicarbonato:gDQO 1:1 de acordo com as análises de caracterização), para que mantivesse o
pH em aproximadamente 7, já que o efluente bruto encontrava-se com um pH muito ácido. O
pH permaneceu dentro das faixas de 7,16 ± 0,72 e 7,26 ± 0,76 respectivamente para afluente
e efluente. Valores que se encontram próximos à faixa ótima de desenvolvimento para esse tipo
de sistema, que deve ser mantido acima de 6,2, de acordo com Chernicharo (2008).

FIGURA 9 -Valores de pH afluente e efluente no reator UASB

Assim como o pH, a temperatura não mostrou grandes variações (Figura 10). Verificam-
se variações de temperatura no afluente nos períodos de abastecimento do reator, uma vez que,
o efluente ao chegar ao laboratório se encontrava em temperatura ambiente, e a partir desse
momento era refrigerado.
32

FIGURA 10 -Valores de temperatura afluente e efluente no reator UASB

FIGURA 10 -Valores de temperatura afluente e efluente no reator UASB

A temperatura se manteve nos valores para afluente e efluente de 12,9 ± 3,1 °C e 29 ±


4,2°C, respectivamente. A temperatura do efluente manteve-se dentro da faixa de 30 a 35°C,
quando o crescimento da maioria dos microrganismos anaeróbios é considerado ótimo.
33

5. CONCLUSÃO

Com base nos resultados obtidos, o inóculo apresentou boa adaptação ao resíduo líquido
da fabricação de refrigerantes, devido ao reduzido tempo da fase de partida para aclimatação
dos microorganismos anaeróbios demonstrando uma elevada afinidade da biomassa pelo
substrato. A caracterização físico-química do resíduo líquido, permitiu identificar a boa
biodegradabilidade do efluente a ser tratado, resultando numa relação DQO/DBO de 0,68,
potencialmente tratado por processo biológico.
As configurações de projeto do reator UASB garantiram boas condições de
tamponamento, retenção e digestibilidade de sólidos. A boa eficiência do reator é demonstrada
em relação à remoção de matéria orgânica na forma de DQO (74,03%) e capacidade elevada de
produção de biogás (70 a 80%).
A aplicação do tratamento anaeróbio, em indústrias de bebidas de médio porte, é bastante
positiva.
34

6. RECOMENDAÇÕES

Para continuidade da pesquisa nesta área sugere-se:


 Destaca-se o uso das lagoas de polimento como pós-tratamento, pelo fato de se manter,
em todo o sistema, a simplicidade conceitual já assumida para os reatores anaeróbios. As lagoas
de polimento podem contribuir substancialmente para uma remoção significativa de DBO, SST
no reator anaeróbio, além de remover patógenos constituindo aspecto importante, uma vez que,
está relacionado à possibilidade de reuso. Nesse sentido as lagoas de polimento são um sistema
interessante para aplicação em países em desenvolvimento, devido à possibilidade de
higienização dos efluentes do reator UASB como também possibilitar a recuperação de água e
nutrientes, para o reuso industrial.
35

7. REFERÊNCIAS

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2012. 91 p. Dissertação – Universidade de Ribeirão Preto, Programa de Pós-Graduação em
Tecnologia Ambiental. Ribeirão Preto, 2012.

AUSTERMANN-HAUN, U.; KARL-HEIN, R. Two examples of anaerobic pre-treatment


of wastewater in the beverage industry. Wat. Sci. Tech. n. 36, v. 2-3, p. 311-31. 1997.

CAMPOS, C. M. M. Physical aspects affecting granulation in UASB Reactors. 1990. 425


f. Thesis (PhD) - Universidade de Newcastle upon Tyne, Newcastle, 1990.

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução Nº 357, de 17 de março de


2005.

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução Nº 430, de 13 de maio de


2011.

COPAM – Conselho Estadual de Política Ambiental. Deliberação Normativa Conjunta


COPAM/CERH-MG Nº 1, de 05 de maio de 2008.

CHERNICHARO, C. A. L.; CAMPOS, C. M. M. Curso de tratamento anaeróbio de


efluentes líquidos. Belo Horizonte: ABES, 1992. 101 p.

CHERNICHARO, C. A. de L., 2008 – “Princípios do Tratamento Biológico de Águas


Residuárias – Reatores Anaeróbios – Vol. 5. ”

CHERNICHARO, Carlos A. L. Reatores anaeróbios. Princípios do tratamento biológico de


águas residuárias, 5. ed. Belo Horizonte: UFMG, 1997.

CHERNICHARO, C. A.L. Princípios do tratamento biológico de águas residuárias:


reatores anaeróbios. Belo Horizonte, v. 5, 2.ed.: UFMG, 2007, 379 P.

CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente): Resolução nº 430. Dispõe sobre as


condições e padrões de lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução nº357, 17
de março de 2005, 15 de Março de 2005.
36

FORESTI, E., ZAIAT, M., VALLERO, M. V. G. Anaerobic processes as the core


technology for sustainable domestic wastewater treatment: consolidated applications,
new trends, perspectives, and challenges. Reviews in Environmental Science and
Bio/Technology, 5 (2006), pp. 3–19 FORESTI, E. Anaerobic treatment of domestic sewage:
established technologies and perspectives. Water Science Technology. Vol.45, No10, p. 181-
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FORESTI, Eugenio. Anaerobic treatment of domestic sewage: established technologies


and perspectives. Water Science and Technology, v. 45, n. 10, p. 181–186, 2002. Disponível
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