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RAS TAFARI e a PROFECIA ETÍOPE

Ras Tafari é um movimento pan-africano com apresentações e


messiânicas, que se originaram no despertar de uma revelação
profética feita pôr Marcus Garvey na Jamaica. Desde sua inserção
na década de 30, o movimento cresceu de uma pequena
localidade, em West Kingston à um movimento internacional de
repatriação negra.

Através das primeiras três décadas de seu desenvolvimento, o


movimento foi banido da sociedade jamaicana. Periódicas
confrontações com autoridades coloniais britânicas marcaram os
Rastas em suas intenções revolucionarias, tanto cultural quanto
espiritualmente. A metade de década de 60 trouxe um período de
transição no entendimento social em relação ao Rasta e a sua
forma de se viver

Depois da publicação em 1960 da “Reportagem sobre o


Movimento Ras Tafari I em Kingston (capital da Jamaica)”
veiculada pela Universidade local, subsequentes eventos e um
clima de positivismo tornaram-se publicamente notórios. Essa
mudança na percepção publica serviu para legitimar a visão ampla
do significado da Vida que os Rastas tanto propunham, como uma
responsabilidade cultural ao legado da escravidão e do
colonialismo na Jamaica.

Durante esse período de transição na década de 60, um grande


numero de descontentes e jovens da classe media juntaram-se aos
miseráveis que moravam nas favelas, e dali formaram o esteio do
movimento Rãs Tafari I.

Esse crescimento acelerado foi acompanhado pela popularização


da doutrina Rasta através da comunicação de massa e também
artisticamente. Os ritmos de musica Ska, rocksteady e o reggae
disseminaram nas décadas de 60 e 70 os valores e os sentimentos
dos Dreadlocks (um dos termos empregados para identificas um
Rastas), como um apelo alternativo depois das épocas de pos-
colonialismo.

OS ISRAELITAS
Como um a cultura/ filosofia, Ras Tafari I é uma forma de
Zionismo Negro que segue a leitura da Bíblia (na versão etíope
Kebra Negasta- “Gloria dos Reis”, diferente da versão européia
King James ) como credo milenar da redenção africana.
Identificam-se a si próprios como os Israelitas do Velho
Testamento , Provendo uma seqüência de interpretações mítico-
poéticas da História da Diáspora Negra. Capturados e vendidos
dentro da escravidão pelos europeus, os Rastas vêem os africanos
e seus descendentes no oeste como vivendo na moderna
Babilônia, a sociedade branca e opressora que significou mais de
400 anos de perseguição e colonialismo.

A emancipação oficiosa para a escravidão nas plantações de


açúcar na Jamaica veio em 1834, mas a independência política
jamaicana da Grã-Bretanha foi assegurada somente em 1962,
depois de 97 anos como colônia. Cerca de 95% da população da
Jamaica é de descendência africana, o que determinou uma
consciência dentro do movimento Ras Tafari I em considerarem-
se “estrangeiros numa terra estranha”, referindo-se a própria
Jamaica.

A TERRA PROMETIDA
No idioma de redenção dos Rastas, a única salvação para o negro
do Oeste é se repatriar a seu lar ancestral: Etiópia – África.
Enquanto opiniões dentro do movimento divergem como
precisamente a repatriação ocorrerá e sua natureza, espiritual ou
física, Ras Tafari I reconhece que isso será iminente e sinalizará a
total inversão da estrutura de poder vigente no mundo.
Ao contrario de outras formações culturais pan-africanas; pôr
exemplo, Santeira em Cuba, Vudu no Haiti, Candomblé no Brasil
e Xangô em Trinidade, Ras Tafari I é um fenômeno do século XX
sem antecedente cultural no Oeste ou herança da cultura central –
africana.

Os rituais Rastas mantêm uma continuidade na identidade


africana e nas tradições associadas como pôr exemplo rituais de
dança e tambores, praticas de cura e crença no poder mágico das
palavras – “word, sound & Power” (“Palavra , Som & Poder).

Imagens da realeza Etíope, eventos e personagens do Velho


Testamento, uma forma ritualística de se falar e o uso de longos
cabelos, chamados de Dread Locks têm sido adotados e
transformados nos símbolos e na tradição dos Rastas. No contexto
da Diáspora, essa tradição é melhor entendida como uma resposta
a ideologia da raça dominante.

Essa etnia se refere a autoconscientização da cultura com o intuito


de disseminar uma nova mensagem, juntamente com sua
simbologia e religiosidade. O Etiopianismo anunciou uma nova
fase dos rituais jamaicanos, onde os Rastas identificaram-se como
“crianças”, tanto no sentido espiritual como genealógico, como
que mantendo o parentesco com os antigos Israelitas, que
seguiram Moisés através do Mar Vermelho séculos atrás.

As crônicas bíblicas do “Exílio” e do “Retorno a Terra


Prometida” serviram como documento mítico para a prisão dos
escravos no Novo Mundo, e de seu anseio pôr redenção fora da
escravidão. O uso de velhos materiais para a criação de uma nova
estrutura profética fez com que surgisse a imagem da Etiópia-
Israel como sendo uma nação negra. Faz parte da tradição Rasta ,
pôr Exemplo , cantar e agradecer o “Sagrado Monte Sião”(HOLY
MOUNT ZION) que é reconhecido pela fé como sendo o lar de
Jah Ras Tafari I . Esse processo serviu para cristalizar a soberania
e a legitimidade africana numa aparência político-religiosa única.
“OLHEM PRA AFRICA”

Através de referencias bíblicas à Etiópia, por exemplo, no salmo


68:31, “Etiópia logo estenderá Suas mãos a Deus”, e nos Atos dos
Apóstolos 8:27, “pessoas de descendência africana aprendam a
reconhecer seu país perdido e a herança nas referencia a Etiópia e
etíopes”. Assim, os Rastas começaram a tratar com carinho todas
as referências etíopes na bíblia, pois ali havia a promessa
libertadora, e que, quando contrastava com a indignidade da
escravidão nas plantações, mostravam o negro numa luz humana
e digna.

É na base do clássico Etiopianismo que Associação do Progresso


Universal do Negro e o movimento “Volta - a-África” liderado
pôr Marcus Garvey é bem conhecida. A filosofia do nacionalismo
racial, proposta pôr Garvey, era um conceito étnico, casando o
Etiopianismo e a consciência racial derivada do nacionalismo
pan-africano. “Através da consciência racial, membros de uma
raça se presente e aspirando pelo futuro”.

Um grupo racialmente consciente é mais que uma mera agregação


de indivíduos distintos zoologicamente de outros grupos étnicos.
É uma luta social unida com direção à realização pessoal e do
grupo com o intuito de alcançar uma qualidade de vida que lhe é
própria. Portanto, é um grupo conflitante e a consciência racial é
por si um resultado do conflito. “A raça de um grupo embora não
significante intrinsecamente, se torna um símbolo de identidade
que serve para intensificar o senso se solidariedade”.

Para Garvey ser negro significava ser africano, “em casa ou no


estrangeiro”, e a identidade racial estipulava direitos nacionais.
Sob o título “África para os Africanos”, Garvey relançou a
tradição etíope dentro de um programa político para a libertação
dos negros. A visão de Garvey da ‘redenção africana’ foi e
permanece radical no sentido que, pela primeira vez na historia, o
povo negro era reconhecido universalmente como Africanos no
contexto de um movimento de massa com popularidade
internacional.

O que é único aos Rastas da Jamaica, na tradição emancipadora


africana é sua direta identificação com o Estado Teocrático da
Etiópia, sob a regência “eterna” do Imperador Haile Selassie I ,
intitulado Jah Ras Tafari I. Modelando-se como a reencarnação
dos antigos Israelitas, os Rastas usam o passado bíblico da
teocracia judaica para formar sua etnia como uma família , uma
nação .

A frase profética mais notável atribuída a Marcus Massiah Garvey


afirma, “Olhem para a África! Quando um Rei for coroado, o dia
da redenção estará nas mãos”. A coroação em 2 de novembro de
1930 do imperador Haile Selassie I da Etiópia, formalmente
intitulado Ras Tafari I foi interpretada como a confirmação da
profecia.

Ras significa “cabeça, príncipe” em aramaico e Tafari, “Sem


medo”.

Foi traduzido também pelos pioneiros do movimento Rasta a


significar “Criador”. Haile Selassie I, 225’descendente do Rei
Salomão e da Rainha de Sheba, recebeu os títulos sagrados
escritos na bíblia que foram reservados para o advento da
Segunda vinda: Rei dos reis, Senhor dos senhores e Leão
conquistador da Tribo de Judá.

O PODER DA TRINDADE

Na fé dos Rastas, Haile Selassie é reverenciado como Jah Ras


Tafari I, o Messias, o Cristo Negro que ascendeu ao Trono do Rei
Davi em Adis Ababa, oficializando a promessa de uma nova
ordem espiritual. Como defensor do Trono contra o ataque
fascista de Mussolini em 1935, como um dos chefes-arquitetos do
nacionalismo pan-africano através da fundação da OAU em Adis
Ababa em 1963 e , mais tarde como monarca – embaixador do
Estado independente mais velho da África, a Etiópia , o
Imperador Selassie conseguiu o respeito de inumeráveis negros e
foi reconhecido como o defensor de união e liberdade africana.

Haile Selassie é um nome sagrado, que traduzido significa “Poder


da Trindade”. Em todas as antigas religiões encontra-se a mesma
analogia à Primeira Lei de Deus, ação – reação – equilíbrio. No
cristianismo essa mesma fórmula é reconhecida no Pai-Filho –
Espírito santo; no hinduismo, vishnu-krishna-Brahma. Porem, o
que autenticava a força verdadeira do Ras Tafari era a
personificação da Primeira Lei em uma só pessoa, Haile Selassie
I.

O COMEÇO em KINGSTON
Antes mesmo da explosão da guerra Ítalo-Etíope em 1935, uma
fotografia de Haile Selassie I, em veste de guerreiro em Amhara,
circulou pelas favelas de Kingston juntamente com um artigo do
Jornal Times no dia 7 de dezembro. De acordo com a reportagem,
originalmente atribuída a um agente da propaganda fascista
italiana, o Imperador Selassie era o mentor da Ordem Nyahbinghi.
Essa ordem era internacionalmente reconhecida como uma
sociedade africana secreta dedicada a derrubar a dominação
branca e colonial. O nome Nyahbinghi significava “morte aos
europeus”.

Na Jamaica, os primeiros aderentes da fé Ras Tafari I tornaram


esse artigo quase como a um chamado e procuraram alinhar-se
espiritualmente ao Imperador Selassie, participando efetivamente
da Ordem Nyahbinghi. A palavra Nyahbinghi foi rapidamente
adaptada ao vocabulário Rasta como protesto racial, e tornou-se a
significar ‘morte aos opressores negros e brancos’.

Muitas comunidades Rastas começaram a identificaram-se como


Nyahs, e na sordidez de West Kingston, uma militância do novo
movimento começou a se desenvolver. Em 1960, a Universidade
de West Indies patrocinou uma reportagem sobre o movimento
Ras Tafari I e sua relação com a sociedade jamaicana em geral.
Tal reportagem foi o resultado de um pedido pôr parte da
comunidade Rasta que se queixava da perseguição policial e da
desinformação pública. Até então Jamaica, ao contrário do que
muitas pessoas pensam, a maioria era (e ainda é) cristã, enquanto
que os Rastas eram vistos sem qualquer status social, até porque a
sua maioria vivia em condições paupérrimas.

A CULTURA NYAHBINGHI
Na reportagem, Nyahbinghi foi associado a valores violentos e
com elementos revolucionários. Os Nyah eram publicamente
identificados por seus longos cabelos, os Dreadlocks, e pelo uso
sagrado, mas desafiador e anti-social da maconha (ganja). Os
Nyahbinghis dentro do movimento Ras Tafari I atual é um longo
termo que em adição a seu significado original também cobre
outros importantes aspectos da vida cultural, incluindo:

A Ordem Nyahbinghi, uma seção dentro do movimento Ras


Tafari I em geral, também reconhece o Governo Teocrático de
Haile Selassie I. Os membros da primeira geração Nyah fazem
parte da formação do movimento Rasta.

Os rituais de culto e adoração são patrocinados por membros da


comunidade. As cerimônias Nyahbinghis são festejadas
regularmente em varias datas em toda a ilha da Jamaica.
Comemorações anuais incluem o aniversario do Imperador Haile
Selassie I (23 de julho), a data da coroação do Imperador (2 de
novembro) e o aniversario de visita do Imperador a Jamaica em
1966 (21 de abril). Os Nyahbinghis também realizam
Assembléias ou “Congregações” que são consideradas como
“serviços divinos”

A musica com os tambores, a dança e as palavras fazem parte da


celebração e do culto e também são denominadas de Nyahbinghi.
Como parte da ressurreição dada batida africana, a musica
Nyahbinghi ou Heart Beat (batidas do Coração) está ligada às
harpas do Rei Davi, usadas para compor os salmos reais do Velho
testamento.

As congregações Nyahbinghi usualmente duram de três a sete


dias, tempo para a comunidade se reunir e revitalizar a fé Ras
Tafari através de atividades como, por exemplo, tocar tambores,
cantar orações, ler trechos da bíblia, fumar maconha e dançar. No
centro da celebração Nyahbinghi está o Tabernáculo onde
acontece o ritual. Com as cores da bandeira da Etiópia (verde
ouro e vermelho), os Nyahs chamam a Israel seu destino
providencial – “África, sim! Jamaica, não!” “Jah chama os
cantores e tocadores de instrumentos”, “Repatriação agora!”.

O tabernáculo Nyahbinghi é a sala circular do trono do arco-íris


(representado pelas cores da bandeira da Etiópia), o poder sagrado
do solo de onde emana o terremoto, a luz, o trovão, o fogo e o
enxofre do Armagedon. O “chalice” (cálice, cachimbo Rasta)
Passa de mão em mão em volta do altar, ativando
ritualisticamente os símbolos do calor , ar e água , as forças
primais da criação . Através da Palavra, Som & Poder (Word,
Sound & Iwah) a fé está unida com a cabeça Criadora (Ras
Tafari) num tipo de telepatia mística, que tem o intuito de cantar a
queda da babilônia, para livrar a Terra da perversidade e restaurar
a ordem natural da Criação e seu estado original de perfeição.
Fora do Tabernáculo fica uma grande fogueira onde um Homem
de fogo permanece em vigília para manter as chamas da justiça e
do julgamento acesas até a hora da repatriação chegar.

“A MUSICA do CORAÇÃO”
De acordo comum relato de um observador do movimento em
1953 havia uma falta acentuada na batida dos tambores nos
primeiros encontros de rua dos Rastas. Nesses encontros, hinos de
recitação dos cultos afro-cristãos conhecidos como pocomania e
Sião foram adaptados para o desenvolvimento da liturgia Jesus
Cristo em todos os textos das canções. Hinos Garveyistas e até o
Hino Nacional Etíope Nyahbinghi eram cantados. Naquele tempo
o antagonismo entre os grupos Rastas e os Revivalistas cresceu,
foi naquela época a musica Rastafari, inspirando seus tambores .
Buru foi naquela época à música mais popular derivada da
secularidade africana em Kingston. Apesar da clara derivação da
batida Nyahbinghi, da base, do fundo e do marcador dos três
tambores Burus, as duas tradições tem ritmos basais distintos.
Todavia, ambos estilos tem antecedentes históricos diretos na
tradição musical do oeste e do centro da África. Ambos têm uma
organização rítmicas baseada na intercalação das batidas tocadas
em vários tambores.

A musica Nyahbinghi é um compasso retirado do passado


Africano, mas a distancia é musicalmente evidente ate pelos
toques improvisados do líder e marcador. A batida Nyahbinghi,
com mensagens da Redenção Negra tem sido incorporadas dentro
do reggae. Essas canções populares de libertação são ouvidas hoje
mundialmente , dos sound systems de rua de Kingston ate os
shebeens do soweto , na Africa do Sul.

I & I – EU PODEROSO
A “conversa Rasta” a forma ritual de se falar, praticada em
diferentes graus no movimento, é especialmente proeminente
entre os aderentes da Ordem Nyahbinghi. Considerando o
movimento messiânico e também milenar Ras Tafari I encaixe-se
na discriminação “anti-sociedade”, “uma sociedade estabelecida
dentro de outra sociedade” como uma alternativa consciente. É
um modo de resistência ao mercado ainda “escravista” da
moderna babilônia. A fala Ras Tafari como uma “anti-lingua não
é somente paralela à sociedade, é de fato gerada por ela”. A anti-
lingua cresce quando a realidade alternativa é uma realidade
contrariada, estabelecida em oposição a realidade subjetiva , não
meramente expressando isso, mais ativamente criando e
mantendo essa outra forma de expressão , que nada mais é que
uma ação coletiva.
“I and I” (Eu e Eu) é usado seja onde um pronome aparecer no
discurso; substitui ‘você e eu’. O uso obliquo do pronome
expressa a igualdade presumida entre os Rastas. “I and I”
significa a identidade comum dos oradores como filhos de Haile
Selassie I. Os nomes proferidos pelos Rastas exemplificam a
associação do homem e Deus. A enunciação de “I”(eu) quando
pronunciado “Jah Ras Tafari I” ou “Haile I SelassieI” conecta a
intenção pessoal com a vibração divina.
“Quem é você ? não há nenhum você. Há somente Eu, Eu e Eu. Eu é você, Eu é Deus,
Deus é Eu. Deus é você mas não há nenhum você, porque você é Eu, então Eu e Eu é
Deus. Nós somos todos cada um e um com Deus porque é a mesma energia de Vida que
flui em todos nós”.

Alem disso, a linguagem (I – ance, parlance) Ras Tafari I envolve


o remodelamento e ocultamento de itens lexicais para encontrar
sua necessidade. Uma técnica comum é conotar um símbolo,
incrementado o significado da palavra; por exemplo,
transformando “opressores” em “depressores”(opressers=
downpressers), “políticos” em “politruques” (politics =
politricks), “entendimento” em “sobreentendimento” (understand
= overstand). O uso de algumas palavras pelos Rastas que viviam
nas colinas da Jamaica davam significado à visão que eles tinham
dos urbanos; por exemplo “city” (cidade) = “shity”(merda) ou
também para designar o modelo social – “system” (sistema) =
“shitstem” (sistema de merda), “situation” (situação) =
“shituation” (situação de merda). Quando a

falta de cultura, no cunho educacional – “education”(educação)=


“head-decay-shun” (cabeça- decadente- afastada) e
principalmente a

valorização de personagens europeus históricos, ligados à igreja


católica e que faziam comercio de escravos negros – “Christopher
Colombus” (Cristovão Colombo)- “Christ-Come – To- Rob –
Us”(Cristo veio nos roubar) fez com que milhares de palavras
viessem a surgir no vocabulário denominado de Patois.

Este vasto vocabulário tem a intenção de definir o mundo no qual


o Rasta vive, tanto o sistema econômico, religioso e politico como
também a aspiração espiritual. Todas as palavras que tem
pronome “I” referem-se exclusivamente aos valores ou rituais
que os Rastas davam importância ; por exemplo, “I-shence” =
“icense (incenso),

(maconha) “I-ses” = “praises”(orações) , “I- ration” = “Creation”


(criação), “Ithiopia” = “Ethiopia” (Etiópia) . “I-wah” =
“power”(poder) “I-tes”= “thoughts” (pensamentos).

A compreensão da redenção africana é similarmente conotada


pelo conceito de “Eu” . “For I” ou “Far Eye” (Para Eu ou Olho
que Enxerga Longe) usados em Rastafari I são termos para
denominar a visão mística. A experiência visionaria é interna,
parte pelo processo de conversação, e ultimamente pela noção
visionaria que rendenção é igual a repatriação ; a visão da Africa
concorda com a expectativa da salvação.

GANJA E DREADS
Justificações ideológicas para o ritual de consumo da ganja
(maconha) são comuns entre os Rastas. O uso religioso da erva é
feito pelo processo de plantação, colheita e consumo. Os Rastas
acreditam no poder da maconha, através da abertura de um canal
telepático que aumenta a percepção da realidade. Também se
dizem no direito de fumar pelo fato da Bíblia trazer passagens
indicando o consuma da erva pôr parte dos profetas no Velho
Testamento. “Foi encontrado no sepulcro do Rei Salomão
vestígios de maconha, e de uma espécie muito mais poderosa que
a encontrada hoje em dia”.

A Jamaica é uma das maiores produtoras de ganja no mundo e


também das mais baratas. Ainda é ilegal o consumo da erva; pôr
esta razão, muitos Rastas foram mortos e perseguidos pôr toda
ilha. As plantas de maior qualidade encontradas na Jamaica são
Lambsbread e Sinsemila.
O Dreadlock, distintamente despenteado e com a barba e o cabelo
longo é outra apresentação da identidade cultural dos Rastas.
Muitos jamaicanos inclusive, freqüentemente consideram a
aparência desleixada dos Dreads como uma indicação de falta de
padrões de limpeza. Eles incorretamente dizem que os Rastas
nunca lavam seus cabelos.

Aqueles com dreadlocks são estigmatizados como loucos pela


sociedade jamaicana em geral. Os Rastas também são conhecidos
como “Knotty Dread” (Dread barbudo) ou na linguagem que
freqüentemente usam- “Natty Dread”. Eles são rejeitados à
empregos basicamente pôr suas aparências. Na sociedade
jamaicana colonial e pós – colonial , a policia em muitas ocasiões
cortava os cabelos dos Rastas (dreadlocks) como um ato de
rejeição pública e controle social sobre o movimento.

Os Rastas crêem no poder místico dos Dreadlocks são entendidos


de acordo com a interpretação bíblica como o “voto dos
Nazarenos”, e também como prova de serem eles os “escolhidos”
durante esse tempo de julgamento. Finalmente, eles
fundamentalizam o crescimento dos dreads como um estado
natural de aparência do Homem , sancionado pôr Deus. “O brilho
dos dreads é o brilho da luz negra, um ato feito para chamar as
forças do Julgamento para fazer o coração perverso cair fora da
Criação, para destruir e paralisar todos os depressores”. Dentre
outras argumentações apresentadas pelos Rastas com relação ao
dreadlock, a mais conhecida é que a barba e os cabelos compridos
representam a juba do leão, símbolo da filosofia Rasta.

O LIVRO DA VIDA
Entre os Rastas é muito comum a interpretação das passagens
bíblicas. A versão bíblica do rei James da Inglaterra é tida como
contendo apenas metade do “livro da Vida”. Os próprios Rastas
costumam lembrar que “a outra metade nunca foi contada”. Os
Rastas usam a versão Macabeus de origem etíope, considerado o
livro integral da Revelação. Entre revelações encontra-se o
segredo e o significado dos Sete Selos do Rei Salomão.

“E Eu chorei muito pôr nenhum homem ser merecedor de abrir o


livro nem soltar os Sete Selos. E um dos anciões disse”, Não
chore, contemple o Leão da tribo de Judá. A raiz de Davi foi
capaz de abrir o Livro e soltar os Sete Selos, e Eu contemplei, e
no meio do trono, no meio dos anciões, um cordeiro foi morto pô
sete chifres, de sete olhos, e dos sete espíritos de Jeová eterno,
enviado adiante pôr toda a terra , e Ele veio e tomou o livro na
mão direita de Sua Majestade Jah Ras Tafari I que está sentado no
Trono”. E o sétimo Selo foi libertado. O Sétimo Selo é conhecido
como Haile Selassie I , o Primeiro da Etiópia”.

HIS
O significado de Haile Selassie I em relação aos Sete Selos foi
revelado a um líder de uma comunidade Rasta em uma Visão. Em
fazendo pública sua visão, ele se autoproclamou em uma posição
de liderança profética pôr sua habilidade em interpretar o
significado do sinal revelado.

OS “ELDERS” ANCIÕES
Diferente da Igreja Ortodoxa Etíope das Doze tribos de Israel e da
Comunidade do Principe Emmanuel (todas essas congregações
Rastas), a ordem Nyahbinghi não tem um único local permanente
e central para suas celebrações, e nem mesmo se esmeram na
figura de um só líder. Na verdade, os próprios Nyahbinghi
clamam que cada individuo é um templo em si mesmo, e deste
modo desdenham aqueles que enfatizam o uso de construções
como essencial para as celebrações comunais.

A Ordem Nyahbinghi não tem uma corporação organizacional


formal com membros nomeados ou eleitos, onde as decisões são
tomadas pôr seus associados. O Imperador Haile SelassieI é
reconhecido como a “cabeça” da Ordem Nyahbinghi. Sua
indisputável autoridade espiritual serve como uma barreira efetiva
para a formação de um conselho elitista regulador. Os mais
velhos, os “elders” fazem parte da liderança operacional dos
Nyahbinghi, baseada principalmente no carisma. O
reconhecimento das habilidades sociais e espirituais, juntamente
com o tempo de compromisso ao movimento determina um Rasta
ser um “elder” (ancião). Aqueles que são competentes em
conduzir uma celebração e tem o conhecimento da tradição
Rastafari emerge como um líder dentro de sua congregação.

REGGAE
Chegando o final da década de 60, muitos Rastas se vira, em
condições de extrema pobreza, banidos economicamente do
sistema capitalista. Em sua maioria, os Rastas procuram se manter
financeiramente através da arte, em especial a artesanato. É bem
reconhecida a habilidade dos Rastas em esculpir peças de motivo
africano; como máscaras, estátuas e símbolos bíblicos.

Mas onde melhor a cultura Rasta se propagou foi na musica, com


o Reggae. A origem do Reggae é o Ska, um ritmo acelerado com
instrumentos de metal, oriundos da musica negra americana dos
anos 50 e 60. Da metade para o final da década de 60, o Ska se
tornou mais lento, dando origem ao Rocksteady. Os metais
deixaram de ser os instrumentos que marcavam a musica, e em
seus lugares foi inserido a percussão africana com a batida da
guitarra num estilo Rock. Esse ritmo a partir do inicio da década
de 70 passou a ser mais lento ainda e com outro nome, agora o
Reggae. A maioria dos cantores e bandas famosas da Jamaica
passaram por esses três estilos de ritmo, entre elas os “Wailers”,
grupo formado em seu início por Bob Marley, Peter Tosh e
Bunny Wailer (considerados profetas musicais pelos Rastas).

A industria fonográfica jamaicana teve um avanço incrível nas


décadas de 60 e 70, apenas pelo fato de varias bandas e cantores,
todos Rastas, aparecerem no cenário musical . O Reggae é tido
pelos próprios Rastas como sendo a musica de Jah (Deus),
primeiro por Ter a mesma batida do coração e depois pelas
mensagens, com letras principalmente de caráter religioso e de
protesto racial e político.

“Rivers of babylon”

The Melodians

Adaptado do salmo 137:1

By the rivers of Babylon,

Where we sat down,

And there we wept

When we remembered Zion

Pelos rios da Babilônia,

Onde nos sentamos,

E lá choramos

Quando lembramos de Sião

Oh,the wicked

Carried us away in captivity,

Required from us a song,

How can we sing

King Alpha’s song

Inna strange land?

Ô, o poderoso
Nos levou aprisionados,

Nos exigiu uma canção

Como podemos cantar

A canção do Rei Alfa

Numa terra estranha?

So, let the words

Of our mouth and the meditation

Of our heart

Be acceptable in Thy sight

Então deixe que as palavras

De nossa boca

E a meditação

De nosso coração

Seja aceitável em Vossa visão

Oh, Fari I!

Ô, Meu Deus!

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