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Num primeiro momento, Ilari nos mostra as dificuldades que o ensino da lííngua
portuguesa estava sofrendo na deí cada de 50 com a crescente democratizaçaã o dos
espaços de ensino dos coleí gios puí blicos, ateí entaã o majoritariamente elitistas e
elitizados, muito provavelmente composta por uma maioria branca e de classe
meí dia/meí dia alta – tal como eí , hoje em dia, na grande maioria dos coleí gios de
ensino privado – que ignoravam e/ou menosprezavam os demais membros da
sociedade (incluindo aíí sua fala, o seu portugueê s), aleí m de hipervalorizar a forma
dita culta e correta da lííngua portuguesa (ignorando, de pronto, que as mudanças,
as atualizaçoã es da lííngua ocorrem atraveí s da fala e pela maioria dos falantes, ou
seja, as camadas populares da sociedade), o que sempre dificultou o ensino, pois
que a lííngua portuguesa real, a que se fala na vida real, pouco tem a ver com a
lííngua portuguesa das regras gramaticais que aprendemos em sala.
Apoí s uma breve aula de histoí ria do estudo de líínguas (sobre a relaçaã o entre a
filologia e a gramaí tica com a linguíística), introduziu o conceito da linguíística e a
tarefa de quem a pratica, ou seja, do linguista: descrever a lííngua. Poã e-se, portanto,
a comentar que os linguistas (inicialmente, os estruturalistas), jaí na deí cada de
1960, propunham uma mudança draí stica no ensino da lííngua portuguesa: que naã o
se baseasse mais em exemplos soltos, desconexos com a realidade da fala, para
exemplificar estruturas meramente gramaticais, mas que se focassem, os
professores de lííngua portuguesa, no texto (verbal e escrito), pois era nele que se
encontrava a lííngua na sua forma verdadeira, a usual, da coletividade. Naã o obstante
ser uma cieê ncia nova, a linguíística encontrou pedras no seu caminho aà revoluçaã o
do estudo da lííngua portuguesa, promovendo, assim, pesquisas de campo na aí rea
da linguagem que pudessem auxiliar os linguistas no seu objetivo maior – como
saã o o NURC (Projeto de Estudo da Norma Urbana Culta) e o Projeto de Gramaí tica
do Portugueê s Falado, ambos de Ataliba T. de Castilho. Ao mesmo tempo em que
essa pretensa revoluçaã o quedava “adormecida” no plano do ensino escolar, na
academia a linguíística se expandiu e seus estudantes e pesquisadores jaí naã o soí
descreviam a lííngua portuguesa, mas começaram a desenvolver projetos para
compreender desde as pequenas particularidades mais complexas da fala e do
falante, daíí surgindo estudos de foneí tica/fonologia, sociolinguíística,
psicolinguíística, etnolinguíística etc., e mais: ao absorver e trabalhar sob a
linguíística gerativa de Chomsky e todas as hipoí teses, propostas e conclusoã es que
ela carrega, a linguíística brasileira se depara com a questaã o: qual a verdadeira
funçaã o do professor de lííngua portuguesa numa sala de aula (partindo do
pressuposto que os professores de outras mateí rias ensinam algo “do zero” e os
alunos jaí cheguem aà aula de lííngua portuguesa falando portugueê s)?