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Ajuste do modelo Narasimha-Mainza à deslamagem de minério de ferro itabirítico em

hidrociclones

Luciana Pereira Alves1*, Luís Marcelo Marques Tavares1

*luciana.alves@metalmat.ufrj.br, aluna de doutorado


1Laboratório de Tecnologia Mineral, PEMM-COPPE-UFRJ, CP 68505, 21941-972, Rio de Janeiro, RJ

Resumo
A deslamagem é um item comum nas rotas de processamento mineral, sendo majoritariamente realizada em
hidrociclones. O presente trabalho trata do ajuste do modelo Narasimha-Mainza à deslamagem de minério de ferro
itabirítico para a previsão da vazão volumétrica de polpa da alimentação, do tamanho de corte corrigido e do curto-
circuito para o underflow. Para isso, realizaram-se testes em hidrociclones KREBS operando sob uma variedade
de condições. Na validação do modelo, observaram-se desvios entre os valores previstos e medidos, inferiores a
34% para vazão de polpa da alimentação, inferiores a 22% para tamanho de corte corrigido e inferiores a 18%
para curto-circuito para o underflow, demonstrando a validade do seu ajuste.
Palavras-chave: deslamagem, hidrociclone, modelo matemático, minério itabirítico.

Introdução Tecnologia Mineral da COPPE (LTM) e amostragens


A deslamagem é uma forma de classificação de na usina industrial (Usina), somando um total de 34
partículas por tamanho que tem por objetivo remover testes, nos quais variaram-se diâmetros do apex e
aquelas excessivamente finas para recuperação vortex finder, porcentagem de sólidos (m/m) da
econômica (lamas) [1]. Essa operação é alimentação, pressão de admissão, além de
majoritariamente realizada em hidrociclones, cujo parâmetros como diâmetros do hidrociclone e do
processo de separação é resultado do escoamento inlet, ângulo do cone e de inclinação e, distribuição
complexo do fluido e de sua interação com as granulométrica da alimentação, que variaram de
partículas minerais. A previsão do desempenho acordo com o local de realização dos ensaios. Em
desses equipamentos tem sido, ao longo das últimas cada teste, a coleta das amostras foi realizada por
quatro décadas, objeto de diversos modelos meio de cortes simultâneos nos produtos e uma
matemáticos, dentre os quais o modelo de global da alimentação. Mediram-se também as
Narasimha-Mainza. Este modelo semi-empírico foi vazões volumétricas dos produtos.
desenvolvido, mais recentemente, a partir de uma Analisaram-se as amostras para determinação,
extensa base de dados considerando diferentes individualmente, da massa específica de sólidos
condições operacionais e de projeto, apresentando (picnômetro de gás hélio, AccuPyc 1340 da marca
maior acurácia do que modelos previamente Micromeritics) e distribuição granulométrica
utilizados, como de Nageswararao, por exemplo [2]. (granulômetro a laser modelo Mastersizer 2000, da
O conjunto de equações permite a previsão do marca Malvern Instruments). Os balanceamentos
desempenho do hidrociclone quanto ao curto- necessários foram realizados no software
circuito para o underflow, ao tamanho de corte JKSimMet. Aplicaram-se os resultados de forma a se
corrigido, à vazão de polpa da alimentação e à obter parâmetros referentes aos termos das
nitidez da separação. O objetivo do presente equações do modelo para vazão volumétrica da
trabalho é ajustar o modelo Narasimha-Mainza à alimentação (Q), tamanho de corte corrigido (d50c) e
deslamagem de minério itabirítico realizada em curto-circuito para o underflow (Rf), apresentadas
hidrociclones. em outra publicação [2].
Nas equações, aplicaram-se do lado direito as
Materiais e métodos variáveis dos testes, obtendo-se uma constante para
Utilizaram-se amostras de alimentação, underflow e cada um deles. A seguir, realizou-se regressão linear
overflow de testes de deslamagem, em hidrociclone, passando pela origem, usando o software Excel,
de minério de ferro itabirítico proveniente da entre o parâmetro medido (Q, d50c/Dc e Rf) em cada
mineradora Anglo American de Conceição do Mato teste, e a constante obtida no cálculo citado
Dentro (MG). Os ensaios foram realizados na usina anteriormente. Executou-se a exclusão de testes
piloto da referida empresa nos anos de 2014 outliers e também o ajuste de expoentes pelo
(UP2014) e 2018 (UP2018), no Laboratório de software Matlab (aplicado a termos da equação
previamente determinados com base em circuito para o underflow. Os expoentes originais e
características físicas das polpas e dos modificados são apresentados na Tabela 2. O
equipamentos utilizados nos testes). Após os melhor ajuste foi de 2,15.
ajustes, realizaram-se novas regressões lineares
passando pela origem, obtendo-se pelo coeficiente 1
angular a melhor estimativa para as constantes de

Rf medido (m3/s)
calibração das equações (KQ0, Kd e Kw). 0.8

0.6
Resultados e discussão
0.4
A Figura 1 apresenta a regressão realizada para y = 2.1475x
obtenção da KQ0, referente à equação da vazão 0.2 R² = 0.8505
volumétrica de polpa da alimentação, que resultou 0
no melhor ajuste de 0,0786. 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
w
Figura 3 – Ajuste da constante Kw
Q medido (m3/s)

0.008 UP2014
UP2018
LTM Tabela 2 – Ajuste de expoentes para Rf
0.006 Usina
Termo Original Termo modificado
0.004 Du 2,2062 Du 1,1114
y = 0.0786x ( ) ( )
R² = 0.8147
Dc Dc
0.002 -0,7118 -0,5727
μm μm
( ) ( )
0 μw μw
0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12
q Lc 2,424 Lc 0,013
( ) ( )
Figura 1 – Ajuste da constante KQ0 Dc Dc
Vh -0,8843 Vh -1,3766
( ) ( )
A constante Kd, relativa à equação do tamanho de Vt Vt
corte corrigido, foi obtida pela regressão
apresentada na Figura 2. Os expoentes originais e Conclusões
modificados são mostrados na Tabela 1. O melhor Esse tipo de abordagem mostrou-se de análise
ajuste foi de 4,0x10-5. complexa, envolvendo um cenário ainda não
assistido de forma eficiente pelos modelos
0.00025 matemáticos disponíveis. Conclui-se, contudo, que
as equações modificadas retornaram resultados
d50c/Dc medido

0.0002
coerentes ao que se propõe, como demonstrado em
0.00015 suas validações. Entre valores medidos e
0.0001 calculados, obtiveram-se desvios inferiores a 34%
y = 4E-05x
0.00005 R² = 0.5283 para vazão de alimentação, 22% para tamanho de
corte corrigido e 18% para curto-circuito para o
0 underflow.
0 1 2 3 4 5 6 7
d Agradecimentos
Figura 2 – Ajuste da constante Kd Os autores agradecem à Anglo American, ao Global
Comminution Colaborative, ao Labest e ao LTM
Tabela 1 – Ajuste de expoentes para d50c (COPPE/UFRJ).
Termo Original Termo modificado
Referências
Du -1,00 Du -0,942
( ) ( ) [1] B.A. Wills, T. Napier-Munn, T. Wills’ Mineral
Dc Dc Processing Technology: an introduction to the
Vh -0,703 Vh -0,396 practical aspects of ore treatment and mineral
( ) ( ) recovery, Butterworth-Heinemann, 2005.
Vt Vt
(Re)-0,436 (Re)-0,005
[2] M. Narasimha, A.N. Mainza, P.N. Holtham, M.S.
Powell, M.S. Brennam, International Journal of
A Figura 3 apresenta a regressão a partir da qual Mineral Processing 133 (2014) 1.
determinou-se a constante Kw da equação do curto-

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