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LYRA DA SILVA, RODRIGO RODRIGUES

Construção Predial Lean – Mapeamento da Cadeia de


Valor das Estruturas Metálicas [Rio de Janeiro] 2005.

xix, 189 p. : il. ; 29,7 cm (FEN/UERJ, Mestrado, PGECIV -


Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil - Área
de Concentração: Estruturas, 2005.)

Dissertação - Universidade do Estado do Rio de Janeiro


- UERJ
1. Produção Lean
2. Construção Lean
3. Um Anteprojeto de Aplicação da Construção Lean

I. FEN/UERJ II. Título (série)


A Deus, por ter iluminado meu caminho ao
longo desses anos e aos meus pais – José
Maria Lyra da Silva e Solange Maria
Rodrigues Lyra da Silva – pelo carinho e
incentivo ao meu trabalho.
AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Prof. Cyro Alves Borges Junior por toda a ajuda e amizade
desenvolvida ao longo destes dois anos de trabalho e por compartilhar seus
conhecimentos para o meu crescimento acadêmico e profissional.

Ao Prof. José Glenio Medeiros de Barros e ao Prof. Carlos Alberto Pereira


Soares pelas sugestões de melhoria do trabalho.

A Isabela Maria Barroso por todo apoio durante o curso e também pela revisão
do trabalho.

Aos colegas de curso, em especial ao Paulo Roberto Corrêa de Araújo pela


amizade criada, a qual colaborou na caminhada durante o curso e também pelas
horas de trabalho durante o curso.

Aos Professores do programa que direta ou indiretamente ajudaram na minha


formação.

Aos funcionários do LABBAS pelo apoio técnico nos momentos necessários.

Ao Prof. Ildony H. Bellei e ao Engo José Moreira de Souza Filho por compartilhar
informações técnicas as quais agregaram valor ao trabalho.
Lyra da Silva, Rodrigo Rodrigues; Alves Borges, Cyro Jr. (Orientador).
Construção Predial Lean – Mapeamento da Cadeia de Valor das Estruturas
Metálicas. Rio de Janeiro, 2005. 189p. Dissertação de Mestrado – Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

RESUMO

Este trabalho propõe uma organização para o processo de construção de um


prédio comercial, encadeando a logística de abastecimento do canteiro com a
montagem das estruturas metálicas. Esta foi desenvolvida a partir dos conceitos
lean originários do Sistema Toyota de Produção e, posteriormente, foram
aplicados em outros setores como o da construção civil. Para enfatizar
problemas críticos de processo e identificar suas soluções, foi estudado um
anteprojeto de obra localizada no Centro da cidade do Rio de Janeiro. A
sincronização entre a atividade logística e o processo de montagem das
estruturas seguiu a lógica lean de redução de tempos de espera, de eliminação
de estoques em canteiro e de criação de frentes simultâneas de fechamento dos
andares, como condição para a melhoria de produtividade da obra. Foi analisado
o mapeamento da cadeia de valor do fluxo de materiais e operações
compreendidos entre o depósito de estruturas e a obra, verificando o
balanceamento de atividades de produção e os possíveis ganhos de
produtividade. Os resultados obtidos evidenciariam potencial de ganho na
medida em que fornece justificativas para a aplicação das ferramentas lean no
estudo do anteprojeto de construção, integra a obra com o abastecimento
logístico das estruturas e principalmente reduz os desperdícios de espera e
estoque. Conclui-se, portanto, que o sistema lean, aplicado a este estudo, reúne
condições para a melhoria de produtividade do processo construtivo e por
conseguinte aumenta sua competitividade.

Palavras-chave: Construção Civil; Construção Predial; Produção Lean


(Produção Enxuta); Construção Lean (Construção Enxuta); Mapeamento da
Cadeia de Valor; Estruturas Metálicas.

v
Lyra da Silva, Rodrigo Rodrigues; Borges Junior, Cyro Alves (Advisor).
Building’s Lean Construction – Value Stream Mapping of Steel’ Structures.
Rio de Janeiro, 2005. 189p. MsC. Dissertation – Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Civil, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

ABSTRACT

The aim of this work is to apply the Lean Construction plan, based on Toyota
Production System, as the main strategy for the steel structure assembly in a
commercial building .
The Lean System target is to increase the productivity in the construction
process by considering the synchronism between the logistic activities and the
steel structural erection. This synchronism can be obtained by following the Lean
Logic of reducing the time delay, the elimination of inventory in the building site
and the organization of simultaneous teams for the assemblage of the steel
parts. The material flow and the sequence of activities are represented in a value
stream map, in order to identify the time wasted during the process and trying to
otimize sequence of operation.
At the end, by analyzing a particular project of a building at the center of Rio de
Janeiro, the critical problems involved in a steel construction were identified and
some alternative solutions for these problems, based on Lean System, are
proposed.

Key-words: Civil Construction; Building Construction; Lean Production; Lean


Construction; Chain Value Mapping (Stream Value Mapping); Steel Structure.

vi
SUMÁRIO

RESUMO v
ABSTRACT vi
LISTA DE FIGURAS x
LISTA DE QUADROS xii
GLOSSÁRIO xiii
1 INTRODUÇÃO 1
1.1 OBJETIVOS DO TRABALHO 3
1.1.1 Objetivo Geral 3
1.1.2 Objetivos Específicos 4
1.2 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO 4
1.3 RELEVÂNCIA DO ESTUDO 4
1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO 5
2 METODOLOGIA 7
2.1 ESTRUTURA DA PESQUISA 7
2.2 MOTIVADORES DA PESQUISA 11
2.3 MEIOS EMPREGADOS NA PESQUISA 12
3 REVISÃO DA LITERATURA 14
3.1 PRODUÇÃO LEAN 14
3.1.1 Histórico da Evolução dos Processos de Produção 14
3.1.2 O Novo Paradigma 18
3.1.2.1 Histórico 18
3.1.2.2 Princípios lean 22
3.1.2.3 Desperdícios 25
3.1.2.4 Ferramentas 36
3.2 CONSTRUÇÃO LEAN 80
3.2.1 O Modelo Tradicional de Processo 82
3.2.2 O Modelo de Processo da Construção Lean 84
3.2.3 Fluxo na Construção 89
3.2.4 Perdas 92

vii
3.2.4.1 Papel das perdas no processo 92
3.2.4.2 Razões para se medir as perdas 96
3.2.5 Perdas ou Desperdícios 97
3.2.6 Princípios da Construção Lean 97
3.2.6.1 Reduzir tarefas que não agregam valor 98
3.2.6.2 Aumentar o valor do produto considerando as
necessidades do cliente 99
3.2.6.3 Reduzir a variabilidade 100
3.2.6.4 Reduzir o tempo de ciclo 102
3.2.6.5 Simplificar reduzindo o número de passos
e relações de trabalho 104
3.2.6.6 Aumentar a flexibilidade de saída 106
3.2.6.7 Aumentar a transparência do processo 108
3.2.6.8 Focar o controle em todo o processo 111
3.2.6.9 Introduzir melhoria contínua no processo 113
3.2.6.10 Balancear melhoria do fluxo com melhoria de
conversão 114
3.2.6.11 Fazer benchmarking 116
4 UM ANTEPROJETO DE APLICAÇÃO DA CONSTRUÇÃO
LEAN 118
4.1 LOCALIZAÇÃO E PROJETO 118
4.2 EQUIPAMENTO 124
4.3 PLANEJAMENTO DA MONTAGEM 129
4.4 MAPEAMENTO DA CADEIA DE VALOR DO TRANSPORTE,
IÇAMENTO E MONTAGEM DAS ESTRUTURAS METÁLICAS 135
4.5 ANÁLISE DOS RESULTADOS 138
5 CONCLUSÕES 141

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFCAS 145

ANEXOS 150
ANEXO 1 – ARTIGO PUBLICADO NO COBEF 2005 151

viii
ANEXO 2 – DESENHOS DO ANTEPROJETO DO EDIFÍCIO 160
ANEXO 3 – MANUAIS TÉCNICOS DOS EQUIPAMENTOS 174
ANEXO 4 – SEQÜÊNCIA DE MONTAGEM DA ESTRUTURA
DO EDIFÍCIO 183
ANEXO 5 – PROPOSTA DE PLANEJAMENTO DE MONTAGEM
DA ESTRUTURA DO EDIFÍCIO 184
ANEXO 6 – PROPOSTA DE PLANEJAMENTO DO DEPÓSITO E
DO PONTO INTERMEDIÁRIO ATÉ À OBRA 187

ix
LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1 – Fases da pesquisa 7


Quadro 3.1 – Sugestões de melhorias na Toyota Motors 26
Quadro 3.2 – Tempo de montagem por veículo 27
Quadro 3.3 – Rotatividade de estoque de fabricantes de
automóveis por país 33
Quadro 3.4 – Fabricação tradicional x fabricação lean 40
Quadro 3.5 – Diferenças entre o sistema Ford e o sistema Toyota 42
Quadro 3.6 – Questionamento sistematizado 61
Quadro 4.1 – Comparativo de características dos equipamentos 126
Quadro 4.2 – Proposta de planejamento de montagem da 2ª etapa 131
Quadro 4.3 – Proposta de planejamento do depósito e do ponto intermediário
até à obra da 2ª etapa 134

xii
LISTA DE FIGURAS

Figura 3.1 – Kanban: Produção Puxada 54


Figura 3.2 – Esquematização do controle de produção com Kanban 55
Figura 3.3 – Fluxo de produção tradicional versus fluxo unitário contínuo 57
Figura 3.4 – Balanceamento de operações tradicionais 58
Figura 3.5 – Cálculo do takt time 59
Figura 3.6 – Componentes da operação padronizada 62
Figura 3.7 – Seqüência de trabalho 63
Figura 3.8 – Mapeamento de Fluxo de Valor 70
Figura 3.9 – Ícones do Mapeamento de Fluxo de Valor 71
Figura 3.10 – Distribuição dos produtos 72
Figura 3.11 – O guarda-chuva do Kaizen 79
Figura 3.12 – Modelo de processo tradicional 82
Figura 3.13 – Modelo de processo da construção lean 84
Figura 3.14 – Relação entre fluxo de materiais e fluxo de trabalho 86
Figura 3.15 – A estrutura da produção 87
Figura 3.16 – Classificação dos movimentos dos operários 94
Figura 3.17 – Distribuição de custos típica antes e depois de um
processo de melhoria 95
Figura 3.18 – Representação do conceito de perdas e desperdício 97
Figura 3.19 – Exemplo de situação na qual foi eliminada uma
atividade que não agrega valor 99
Figura 3.20 – Duas formas de planejar uma mesma obra hipotética 104
Figura 3.21 – Minimização no número de passos na execução de
alvenaria 106
Figura 3.22 – Execução de divisórias de gesso acartonado 108
Figura 3.23 – Exemplo de aplicação do princípio da transparência
de processos 110
Figura 3.24 – Relação entre o princípio da transparência
e os princípios da construção lean 111

x
Figura 3.25 – Exemplo de paletização praticada pelo fornecedor 113
Figura 4.1 – Polígono do Centro da cidade do Rio de Janeiro 120
Figura 4.2 – Esquema de localização da obra 122
Figura 4.3 – Perspectiva da estrutura metálica do edifício 123
Figura 4.4 – Esquema do vigamento principal do prédio em planta 123
Figura 4.5 – Seqüência de montagem de parte da 2ª etapa 124
Figura 4.6 – Torre de lança basculante 125
Figura 4.7 – Torres trabalhando juntas 126
Figura 4.8 – Duas torres de lança fixa 127
Figura 4.9 – Três torres de lança basculante 128
Figura 4.10 – Localização e alcance do equipamento na obra estudada 128
Figura 4.11 – Seqüência de montagem da 2ª etapa 129
Figura 4.12 – Depósito para estoque dos 48 lotes do edifício 130
Figura 4.13 – Balanceamento das operações e takt time da 2ª etapa 132
Figura 4.14 – Mapeamento da Cadeia de Valor da montagem
da estrutura metálica 135

xi
GLOSSÁRIO

Atividade que Não Agrega Valor - Qualquer atividade que acrescenta custo
sem acrescentar valor ao produto ou ao processo.

Cadeia de Valor - Atividades específicas necessárias para projetar, pedir e


oferecer um produto específico, da concepção ao lançamento, do pedido à
entrega, e da matéria-prima às mãos do cliente.

Células - Layout de diferentes tipos de equipamentos que executam operações


diferentes em uma seqüência rígida, geralmente em forma de U, a fim de
permitir o fluxo contínuo e o emprego flexível do esforço humano por meio do
trabalho muito especializado.

Chaku-Chaku - Palavra japonesa que designa o método de realização do fluxo


contínuo, no qual o operador procede de máquina em máquina, pegando uma
peça da operação anterior e carregando-a na próxima máquina, para em
seguida pegar a peça que acaba de retirar da máquina e carregá-la na máquina
seguinte, e assim por diante até o término das operações. No idioma original
significa, literalmente, “carga-carga”.

Cinco “Porquês” - Prática introduzida por Taiichi Ohno, que consiste em se


perguntar "por que" cinco vezes em seqüência, toda vez que se encontra diante
de um problema, a fim de identificar sua causa básica, para que possa
desenvolver e implementar contra-medidas eficazes.

Cinco S (5S) - Disciplina primária e condicionante para o Kaizen, este princípio


tem sua sigla derivada das iniciais, no idioma original japonês, dos cinco termos
que são os objetivos das ações necessárias para se limpar e organizar o local
de trabalho de maneira lógica e eficaz:

• Seiri - identificação/segregação e seleção/descarte (senso de


utilidade). Trata-se de separar as ferramentas, peças e
instruções desnecessárias das que são efetivamente

xiii
necessárias, dando um destino para aquelas que deixaram de
ser úteis para aquele ambiente.

• Seiton - boa disposição/ordenação (senso de ordem). Significa


arrumar e identificar peças e ferramentas, tendo como objetivo
a facilidade de uso.

• Seiso - limpeza/inspeção diária. Trata-se de eliminar a sujeira,


inspecionando para descobrir e eliminar as fontes de
problemas. A limpeza deve ser encarada como uma
oportunidade de inspeção e de reconhecimento do ambiente.

• Seiketsu - higiene/revisar sempre (saúde). Fazer o asseio é conservar


a higiene, tendo o cuidado para que os estágios de seleção,
ordem e limpeza, já alcançados, não retrocedam. Isto é
executado por meio de padronização de hábitos, normas e
procedimentos.

• Shistsuke - disciplina/motivação para manter. Ser disciplinado é


cumprir rigorosamente as normas e tudo o que for
estabelecido pelo grupo. A disciplina é um sinal de respeito ao
próximo.

Cycle Time - vide Tempo de Ciclo.

Estoque - Em geral, trata-se da categoria de mais alto custo; o estoque consiste


de todas as matérias-primas, peças compradas, estoque de processo e produtos
acabados que ainda não foram entregues a um cliente.

Estoque de Material em Processo (WIP - Work In Process) - Estoque


esperando entre os passos da operação. Trata-se, também, de uma prática de
produção em massa por meio da qual se produzem grandes lotes de uma peça
para, em seguida, enviar-se o lote para uma fila de espera, antes da próxima
operação no processo de produção. Comparar com Fluxo Contínuo.

Estoque Mínimo de Processo - Necessidade mínima de material para que o


operador complete um ciclo de trabalho sem atrasos.

xiv
Estratégia Baseada no Tempo - Organização dos objetivos do negócio em
torno de princípios de economia de tempo.

Ferramenta do Tamanho Certo - Dispositivo de projeto, planejamento ou


produção, capaz de se encaixar diretamente no fluxo de produtos dentro de uma
família de produtos, de modo que a produção não exija mais transporte e
esperas desnecessários.

Fluxo - Realização progressiva de tarefas, ao longo da cadeia do valor, para


que um produto passe da concepção ao lançamento, do pedido à entrega e da
matéria-prima às mãos do cliente, sem interrupções, refugos, retrabalhos ou
retrofluxos.

Fluxo Contínuo - Situação na qual os produtos passam, um produto completo


de cada vez, por várias operações no projeto, recebimento de pedidos e
produção, sem interrupções, retrofluxos ou refugo. Comparar com Estoque em
Processo.

Fluxo de Uma Peça - Uma filosofia de manufatura que suporta o movimento do


produto de uma estação de trabalho para a seguinte - uma peça de cada vez -
sem permitir que aumente o estoque entre as estações.

Gargalo - É uma atividade (área ou estação de trabalho) num ambiente de


manufatura com capacidade igual ou inferior à demanda, que limita a
capacidade de todo o processo.

Just-in-Time (JIT) - JIT é um sistema estruturado de controle de estoques e


execução de tarefas/operações, com entrega dos materiais certos, no tempo
certo e na quantidade certa, e que tem por objetivo desenvolver um sistema de
manufatura que permita a um fabricante ter somente os materiais, equipamentos
e pessoas necessários a cada tarefa. O Just-in-Time aproxima-se do Just-on-
Time quando as atividades em etapas anteriores ocorrem minutos ou segundos
antes das atividades posteriores, possibilitando assim o fluxo contínuo. Os
elementos-chave do Just-in-Time são fluxo, puxar, trabalho padrão (com
estoques padrão em processo) e takt time.

xv
Kaikaku - Palavra japonesa que significa melhoria radical; geralmente num
processo do negócio que afeta o fluxo futuro de valor. Trata-se da melhoria
radical de uma atividade a fim de eliminar muda, por exemplo, reorganizando as
operações de processamento para um produto de modo que, em vez de viajar
de e para "ilhas de processo", o produto proceda pelas operações em um fluxo
contínuo e em um curto espaço de tempo. Chamado também de Kaizen
revolucionário, Kaizen do fluxo e Kaizen do sistema.

Kaizen - Uma combinação de duas palavras japonesas: Kai (mudar) e zen


(bem). Geralmente definida como significando "melhoria contínua”. Trata-se da
melhoria contínua e incremental de uma atividade, a fim de criar mais valor com
menos desperdício, ou muda. Chamado também de Kaizen do ponto e Kaizen
do processo.

Kanban - Sinalização visual. Em geral, consiste de um cartão de repetição de


pedido ou outro método de disparar o sistema de puxar a produção, com base
na utilização atual de materiais. Deve estar disponível para uso no ponto de
fabricação.

Layout de Trabalho Standard - Diagrama de uma estação de trabalho ou


célula mostrando como se realiza um trabalho standard.

Lead Time (Prazo de Entrega) - O tempo necessário para produzir um único


produto, da hora em que o cliente faz o pedido até o despacho.

Manutenção Produtiva Total (TPM - Total Productive Maintenance) - Série


de métodos, destinados a garantir que cada máquina em um processo de
produção seja sempre capaz de realizar as tarefas necessárias para que a
produção jamais seja interrompida.

Mapeamento do Fluxo da Cadeia do Valor - (Também chamado de


Mapeamento da Cadeia do Valor ou Mapeamento do Fluxo do Valor) - Trata-se
de um quadro que permite visualizar como os materiais e as informações fluem
dos fornecedores, por meio da manufatura, até o cliente. Inclui os cálculos do
tempo de ciclo total e do total de valor agregado. Preenchido para o estado atual

xvi
e o futuro da cadeia do valor, a fim de indicar a melhoria do processo.
Identificação de todas as atividades específicas que ocorrem ao longo do fluxo
do valor referente a um produto ou família de produtos.

Melhoria Contínua - O compromisso de diariamente melhorar os produtos, o


ambiente de trabalho e os negócios.

Muda - Palavra japonesa que se traduz por desperdício; qualquer atividade que
acrescenta custo, consome recursos, sem acrescentar valor ao produto.

Perfeição - Eliminação total de muda para que todas as atividades, ao longo de


um fluxo de valor, criem e adicionem valor ao produto/processo.

Produção (Throughput) - Quantidade produzida pela qual o sistema gera


dinheiro.

Puxar (Pull) - Sistema de produção e instruções de entrega das atividades


posteriores para as atividades anteriores na qual nada é produzido pelo
fornecedor anterior sem que o cliente sinalize uma necessidade. Oposto de
empurrar (push). Ver também Kanban.

Redução do Setup - Redução do tempo ocioso que vai da troca de ferramenta


da última peça até a primeira peça boa da operação seguinte.

Sensei - Palavra japonesa que designa o mestre, respeitável e com amplo


domínio em uma área de conhecimentos - neste trabalho, pensamento lean e
técnicas lean.

Sete Muda - Enumeração original de Taiichi Ohno dos desperdícios encontrados


comumente na produção física. São o excesso de produção antes da demanda,
a espera pela próxima etapa de processamento, o transporte desnecessário de
materiais (por exemplo, entre as ilhas de processo ou fábricas), o excesso de
processamento de peças devido ao projeto inadequado de ferramentas e
produtos; estoques acima do mínimo absoluto; movimento desnecessário dos
funcionários durante o curso de trabalho em busca de peças, ferramentas, entre
outros) e produção de peças defeituosas.

xvii
Setup - Atividades de preparação das ferramentas que devem ocorrer com a
máquina parada, com o ajuste e início de produção sem defeito.

Supermercado - Local no chão de fábrica junto à linha de produção onde as


peças são disponibilizadas e prontas para os operadores encaminharem para a
operação seguinte.

Takt Time - O tempo líquido operacional total e diário dividido pela demanda
total diária do cliente. Por exemplo, se o cliente demanda 240 peças por dia e a
fábrica opera 480 minutos por dia, o takt time será de dois minutos. O takt time
define o ritmo de produção de acordo com o índice de demanda do cliente.

Tempo de Ciclo (no original: Cycle Time) - O tempo que um operador leva
para completar um ciclo de trabalho. Em geral, é o tempo que dura antes que o
ciclo se repita. Se o tempo de ciclo de uma operação em um processo completo
puder ser reduzido à um takt time igual, os produtos podem ser produzidos em
fluxo contínuo. Consulte: Tempo de Ciclo do Operador e Tempo de Ciclo da
Máquina.

Tempo de Ciclo da Máquina - O tempo que uma máquina necessita para


produzir uma unidade, incluindo o tempo de carga e descarga.

Tempo de Ciclo do Operador - O tempo gasto para que um operador complete


uma seqüência de operações predeterminada, incluindo a carga e descarga, e
excluindo o tempo de espera.

Tempo de Processamento - Tempo durante o qual realmente se trabalha no


projeto ou na produção de um produto, ou tempo durante o qual um pedido
realmente está sendo processado. Em geral, o tempo de processamento é uma
pequena fração do tempo de throughput e do lead time.

Tempo de Throughput - Tempo necessário para que um produto evolua da


concepção ao lançamento, do pedido à entrega ou da matéria-prima às mãos do
cliente. Inclui o tempo de processamento e o tempo de fila. Comparar com
tempo de processamento e lead time.

xviii
Trabalho Standard ou Trabalho Padrão - Seqüência predeterminada de
tarefas a serem completadas pelo operador dentro do takt time. Trata-se,
também, da descrição precisa de cada atividade de trabalho, que especifica o
tempo de ciclo, takt time, a seqüência de trabalho de tarefas específicas e o
estoque mínimo de peças disponíveis necessário para realizar a atividade.

Troca Instantânea de Ferramentas - Série de técnicas para a mudança das


especificações de equipamentos de produção em menos de dez minutos, nas
quais Shigeo Shingo foi pioneiro. Preparação de máquinas quase instantânea é
o termo utilizado quando a mudança nas especificações de máquina exige
menos de um minuto. Obviamente, o objetivo de longo prazo é sempre tempo de
preparação de máquina zero, no qual a mudança nas especificações é
instantânea e não interfere no fluxo contínuo.

Valor – Característica de uma atividade ou operação que acrescente atributo ao


produto e que seja considerado como necessário pelo usuário/cliente.

xix
1 INTRODUÇÃO

As empresas estão inseridas em um cenário de intensa competitividade,


reflexo do rápido processo de desenvolvimento tecnológico de produtos e
processos, que aliados à globalização, ocasionam modificações nos sistemas
produtivos. Buscam uma maneira de se diferenciarem das demais, de forma a
concorrerem em novos segmentos de mercado. Esta diferenciação dá-se por
meio da aplicação de conhecimentos e resultados de pesquisas, ou utilizando-se
novos equipamentos, insumos ou componentes produtivos.

A indústria da construção civil, contudo, apresenta uma evolução pouco


inovadora em relação ao desenvolvimento e aprendizado continuado. Nota-se
que muitos dos princípios desenvolvidos para o setor no início do século 20, por
Frank Gilbreth e Frederick Taylor, ainda não são usados plenamente pelas
empresas de construção.

No Brasil, este setor enfrentou algumas mudanças ao longo dos últimos


anos em razão do aumento da competição, do nível de exigência dos clientes e
das reivindicações por melhoria das condições de trabalho por parte da mão-de-
obra. Houve a evolução das práticas comerciais e tecnológicas para evitar
resultados indesejáveis de desempenho e qualidade, sob pena de sofrerem um
deslocamento do mercado. A construção civil tem buscado alternativas para a
produção tradicional por meio de materiais, da capacitação da mão-de-obra e,
principalmente, da necessidade de encontrar formas de produção mais
econômicas.

Sendo assim, a produção de componentes parcial ou totalmente


fabricados fora do canteiro de obra, o desenvolvimento dos recursos de mão-de-
obra como parte essencial do processo e a utilização de novos equipamentos
são tidos como inovações imprescindíveis à competitividade do processo
produtivo. Tradicionalmente conhecido como empregador de mão-de-obra pouco
qualificada, conservador e “atrasado”, o setor da construção civil passa por

1
transformações que exigem adaptações nas empresas, de modo a acompanhar
as constantes mudanças do mercado.

Uma solução para a modernização do processo tem sido a implantação


de procedimentos e concepções originários da indústria automobilística,
denominados no conjunto como produção lean – ou no caso específico da
construção civil, como construção lean. Uma revisão preliminar da literatura
indica algumas tendências e oportunidades:

Constata-se que o processo de construção predial metálica é uma área


de pesquisa bastante promissora para a construção lean, onde encontram-se
trabalhos como o de Calmon e Moraes (2000) que discutem as restrições ao uso
de estruturas metálicas historiando seu emprego no Brasil. Os autores enfatizam
o fato de que um planejamento deficiente na construção predial e o excesso de
desperdícios são pontos que precisam ser melhorados para a difusão do uso do
aço na construção civil. Eles antevêem que a construção lean seria o
instrumento para contornar esses problemas e estimular o emprego das
estruturas metálicas.

Fontanini e Picchi (2003) apresentam uma análise exploratória da


utilização de macro-fluxos na cadeia de fornecedores seguindo uma visão de
organização lean. Os autores examinam o exemplo de utilização de armadura
de aço na construção de apartamentos na região de Campinas, e elaboram um
mapa de estado futuro de melhora das condições do fluxo entre produtores de
aço e a obra. Identificam em sua análise um grande potencial para
aprofundamento desses estudos.

Queiroz, Rentes e Araujo (2004) verificam a aplicação do fluxo de valor


em situação real, determinando parâmetros do estado atual e propondo
melhorias para o estado futuro. Assim, como em outros estudos analisados na
pesquisa bibliográfica, o seu foco se dá na produção industrial e não na
construção.

Outro trabalho de Fontanini e Picchi (2004) apresenta um estudo de


mapeamento de cadeia de valor no fornecimento de janelas de alumínio para

2
obra civil. Os autores estabelecem diretrizes de análise e um mapeamento do
estado atual e futuro, eliminando desperdícios de fluxo. O exemplo apresentado,
apesar de sua importância no projeto de construção, não interfere no andamento
das etapas fundamentais da construção da superestrutura da obra.

Polat e Ballard (2003) avaliam a reconfiguração do fluxo da cadeia de


valor no estudo do fornecimento de armaduras de aço para obra.

A revisão bibliográfica identifica a linha de pesquisa de Iris Tommelein


como uma das mais promissores sobre o tema. De uma maneira geral, seus
trabalhos buscam representar o processo construtivo por meio de ferramentas
de mapeamento de cadeia de valor. É realizada uma análise na busca da
aceitação do fluxo de materiais e atividades. Um de seus trabalhos
(TOMMELEIN e WEISSEMBERGER, 1999) trata da construção predial e apesar
de não detalhar as etapas da obra, norteou esta dissertação. Em outro trabalho
(TOMMELEIN e LI, 1999) trata do estudo de mapeamento para o fornecimento
de concreto. Verifica-se uma preocupação em estabelecer a lógica de
comunicação entre os integrantes da cadeia de valor, e não com o detalhamento
da obra.

Esses trabalhos revelam que a discussão acadêmica encontra-se em


uma fase de identificação de procedimentos lean e sua adequação ao ambiente
de construção. Nota-se alguma persistência na verificação pontual de quanto a
prática lean na construção contribui para a melhoria do processo. Não foram
encontrados, contudo, trabalhos que apresentassem estudos comparativos entre
a construção lean e a construção convencional.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

Verificar a aplicação na construção civil dos conceitos, métodos e


procedimentos da produção lean. Inicialmente desenvolvidos pela indústria
automobilística (Sistema Toyota de Produção). O trabalho aborda um estudo

3
buscando alternativas para o aumento de produtividade do processo construtivo
por meio da eliminação de desperdícios operacionais e implantação de
procedimentos lean.

1.1.2 Objetivos Específicos

Os objetivos específicos estão associados à melhoria do processo


construtivo de um anteprojeto de construção predial. Este trata da montagem
das estruturas metálicas de um edifício comercial de 8 pavimentos localizado no
Centro da cidade do Rio de Janeiro. Desta forma os objetivos específicos da
dissertação compreendem:

• Fornecer justificativas entre a teoria (principais ferramentas lean) e a


prática (o estudo do anteprojeto);
• abordar a integração entre a obra e o abastecimento das estruturas;
• reduzir os desperdícios da construção, principalmente de espera e
estoque.

1.2 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

O estudo do anteprojeto do edifício limitou-se à analisar as etapas de


abastecimento e, especificadamente, as de içamento e de montagem das
estruturas metálicas. Para tal, estudou-se as principais ferramentas da produção
lean. A análise foi focada no Just-in-Time, na Produção Puxada (Kanban), no
Fluxo e principalmente no Mapeamento da Cadeia de Valor para balancear as
etapas analisadas e reduzir os desperdícios de espera e estoque.

1.3 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

Pretende-se por meio dos resultados obtidos por esse estudo, facilitar
mudanças de processos e aumento da produtividade na construção civil. Por
outro lado, a importância deste estudo, reside também em não existir na

4
literatura nacional, uma quantidade significativa de trabalhos publicados
relacionados à adequação e aplicabilidade dos métodos lean no setor da
construção civil. Este setor é caracterizado por uma produção altamente
diferenciada, de volume variado, de pouca repetitividade, e que agrega alto valor
ao produto final. Entretanto, a construção civil apresenta algum atraso na
organização do processo, apesar da melhoria de equipamentos e materiais. A
possível mudança do processo fazendo-se uso de novos equipamentos,
materiais industriais, e aplicando-se a metodologia lean pode ser uma solução
de aplicação do aço na construção civil.

Sob o ponto de vista exclusivamente acadêmico, espera-se que este


estudo possa esclarecer dúvidas existentes sobre o assunto, podendo ser
utilizado como referência a trabalhos futuros relacionados ao tema.

1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

A dissertação foi estruturada em cinco capítulos, incluindo a Introdução,


correspondendo a este capítulo.

A Metodologia foi abordada no Capítulo 2, justificando a forma como esse


trabalho foi desenvolvido.

No Capítulo 3, foi abordada a Revisão da Literatura, onde a primeira parte


engloba o novo paradigma da produção lean e as suas principais ferramentas.
A segunda parte apresenta a evolução da construção civil, no sentido de
consolidar as bases conceituais da construção lean.

Por meio da aplicação de um estudo de anteprojeto sobre a montagem da


estrutura metálica de um edifício comercial de 8 pavimentos, no Centro da
cidade do Rio de Janeiro, foi possível obter as aplicações das principais
ferramentas da construção lean conforme abordado no Capítulo 4.

No Capítulo 5, são apresentadas as Conclusões, avaliando os principais


resultados obtidos no estudo da aplicação da construção lean na montagem da

5
estrutura do edifício. Foi respeitada a relevância para com o objetivo proposto
neste estudo, sendo sugeridas propostas para pesquisas futuras na área.

6
2 METODOLOGIA

2.1 ESTRUTURA DA PESQUISA

Há dificuldade para estabelecer a metodologia de pesquisa quando se


estuda uma nova concepção de organização do processo construtivo, com
mudança de procedimentos e de critérios de solução dos problemas. É o caso
da construção predial lean. Na fase em que se encontra, quando os
procedimentos ainda estão sendo discutidos e não há ainda um histórico de
resultados positivos, há dificuldade em comprovar a melhoria de desempenho
com a implantação dessa nova concepção de construção. Apesar dos
excelentes resultados da concepção lean na indústria automobilística, as
experiências de mudança de procedimentos na construção civil ainda estão
iniciando. Os exemplos que se têm são pontuais, abordando mudanças na
execução de poucas atividades produtivas. Além disso, boa parte da literatura
e dos exemplos ocorre fora do Brasil, dificultando a tomada de dados de
acompanhamento para comprovar a eficiência de performance da construção
lean.

Dadas essas dificuldades, decidiu-se dividir o trabalho de pesquisa em 3


fases distintas, cada fase com procedimentos e objetivos próprios, conforme o
Quadro 2.1.

Quadro 2.1 – Fases da pesquisa


Objetivos da Dissertação
Fase Descrição Procedimentos Fase Capítulo
Descrição da obra. Viabilidade de
Definição do Identificação das
uma solução de
problema dificuldades e
1ª: Problema

restrições de construção lean 4


construção.
onde a construção
Solução de Desenvolvimento de
construção procedimentos lean convencional não
lean para a obra.
é eficiente.
Avaliação de Comparativo com a
resultados construção
convencional.

7
Revisão da literatura Escolha de
2ª: Construção
procedimentos
Identificação de adequados à 3.2
Construção procedimentos lean solução do
lean
da construção civil. problema:
construção predial
Revisão da literatura
Automobilística

Identificação de
3ª: Indústria

Identificação dos procedimentos 3.1


Produção procedimentos lean adequados à
lean
da indústria construção civil.
automobilística.

Na 1ª Fase é estabelecido um problema da construção de um prédio


comercial no Centro da cidade do Rio de Janeiro. Uma obra desse tipo e com
essa localização é de difícil solução por meio de uma construção convencional.
A obra convencional precisa de espaço e de tempo, em um nível de
necessidade que dificulta sua execução. Essas necessidades são decorrentes,
em primeiro lugar, pelo fornecimento de insumos em bateladas, obrigando a
formação de estoques de materiais na obra (grandes espaços para depósitos).
As frentes de trabalho da obra convencional, por serem organizadas em etapas
independentes e sem qualquer sincronização, necessitam de prazos maiores
de execução. O aumento de prazo propicia uma interferência de mais tempo no
trânsito das ruas adjacentes à obra e nas rotinas das edificações vizinhas.

Na definição do problema de construção convencional e o estudo de


alternativa lean, decidiu-se analisar apenas uma parte das atividades da obra,
desde que essas atividades fossem representativas da construção
convencional. A etapa escolhida para análise foi a construção in situ da
estrutura de concreto armado (vigas e colunas) do prédio comercial. A
execução dessa etapa tem um impacto significativo no cronograma da obra,
além de apresentar complexidade para a coordenação do uso de materiais
(insumos), equipamentos e mão-de-obra envolvidos no processo. É bom

8
salientar que a execução das estruturas em concreto armado tem
características tecnológicas, que impõem uma seqüência rígida de atividades:
preparação de fôrmas, armação, concretagem, cura e desmoldagem. Essa
seqüência típica da obra convencional, tem características de uma produção
artesanal, criando enormes desperdícios de tempo (esperas), de defeitos com
retrabalhos e acumulação de estoques em processo. Por essa razão, a
execução das estruturas em concreto armado, pela acumulação sistemática de
desperdícios, oferece uma boa oportunidade para implantação de uma
alternativa lean de construção.

Uma primeira mudança diz respeito ao material e sua tecnologia. O


concreto armado está associado ao processo artesanal. Sugere-se o uso de
material com maior potencial para eliminação de desperdícios: a solução em
estruturas metálicas. A alternativa em estruturas em aço é um primeiro passo
no encaminhamento a um ambiente lean de construção. Nela os componentes
são industriais e, por conseguinte, não são construídos, são montados. Com as
estruturas metálicas tem-se uma concepção industrial na obra: a montagem
das peças obedece as prioridades estabelecidas pelo uso do equipamento
(guindaste) e não está mais presa às fases de preparação e conformação da
massa de concreto até esta atingir resistência mecânica para iniciar a peça
seguinte.

No estudo de opções de obra, identificou-se um trecho do Centro da cidade


do Rio de Janeiro que apresentava inegável potencial para demolição e
construção de um novo prédio no lugar: no quarteirão da Rua Buenos Aires
com Avenida Passos. Para essa área analisou-se a possibilidade de
construção de um prédio em aço de 8 pavimentos, utilizando um anteprojeto
preparado pelo Prof. Ildony Bellei. Verificou-se que este anteprojeto se
adaptava às condições do terreno e com gabarito compatível com a região
daquelas ruas.

O problema passou a ser em como construir (montar) as estruturas


metálicas em um local de difícil acesso, sem área de estocagem de material e
com dificuldade na movimentação e uso de guindastes e torres de içamento.
Se, de alguma maneira, fosse apresentada uma alternativa de construção
(montagem) das estruturas que resolvesse as limitações impostas à obra, se

9
teria como certo que essa alternativa seria mais eficiente que a solução
convencional em concreto armado.

No aprofundamento das soluções construtivas baseadas na concepção lean


de construção, verificou-se a necessidade de análise da seqüência de
montagem. Estabeleceu-se que as estruturas deveriam ser fornecidas em
pequenos lotes, imediatamente içadas e montadas, o que contornaria as
principais limitações de localização da obra. A implantação do Just-in-Time,
tanto no fornecimento de peças como na operação do guindaste, reduziria os
transtornos de acesso à obra e admitiria a inexistência de área de depósito.

Para tornar viável o processo, identificando gargalos e ajustando a


movimentação em uma seqüência Just-in-Time, houve a necessidade de
representar o encaminhamento das peças em um Mapeamento de Fluxo de
Valor. O mapeamento iniciaria na chegada da batelada de peças fornecidas
pelo fabricante de estruturas metálicas em um depósito fora dos limites da
cidade. Nesse depósito seriam rearrumadas as peças em lotes a serem
transportados, içados e montados, numa seqüência e num ritmo determinado
pela torre de montagem. Ou seja, a montagem tem uma demanda seqüencial
de peças e uma produtividade que é estendida à logística de abastecimento,
determinando uma rotina de fornecimento que é atendida pelo carregamento
no depósito.

O Mapeamento de Fluxo de Valor descreve o enquadramento dessas


atividades: desde o carregamento de lotes nas carretas, transportando até a
obra, as operações de içamento e de montagem de peças. Havendo
sincronismo, não ocorrem “gargalos” ou esperas, a movimentação se faz em
fluxo e estabelece-se um Just-in-Time nas operações. O planejamento do fluxo,
nessas condições exige o balanceamento das atividades em um ritmo
estabelecido pelo Takt Time.

Essa 1ª Fase da pesquisa é concluída pela análise da viabilidade do uso


desses procedimentos lean em uma obra - discussão de anteprojeto. Os
procedimentos por serem factíveis criam uma solução melhor que a construção
convencional, onde havia sérios entraves à sua execução.

10
A 2ª Fase da pesquisa é dedicada à revisão bibliografica dos textos de
construção lean. Como resultado foi possível delinear o estado da arte do lean
na construção. Ainda na 2ª Fase, foi feito um detalhamento dos procedimentos
utilizados na solução do problema definido na 1ª Fase: a construção predial
lean. Para a conclusão da pesquisa acadêmica, permitindo situar a construção
lean em um contexto mais amplo, foi realizada a revisão da literatura sobre a
produção lean na indústria automobilística. Essa 3ª Fase da pesquisa buscou
situar toda a conceituação e os procedimentos em sua concepção de origem: o
Sistema Toyota de Produção.

Para a elaboração da dissertação, pretendendo articular o desenvolvimento


dessas idéias em uma estrutura dedutiva, preparou-se um texto que se inicia
na 3ª Fase (mais geral) e termina na 1ª Fase (caso particular - problema de
aplicação).

2.2 MOTIVADORES DA PESQUISA

A pesquisa desenvolvida nesta dissertação, quanto aos seus objetivos,


tem inicialmente um caráter exploratório. Tem como preocupação descrever e
orientar o desenvolvimento de uma nova organização da construção civil,
pouco conhecida no Brasil. A descrição de um novo processo construtivo
(objeto) baseou-se na sistematização de conceitos e procedimentos em um
ambiente correlato de organização do trabalho, onde surgiu essa nova
concepção de produção: na indústria de transformação.

Para justificar o emprego dos mesmos conceitos e técnicas em setores


diferentes, aceitou-se a analogia entre o fluxo repetitivo de materiais e
componentes por atividades fixas (da indústria) e o fluxo de atividades
repetitivas da construção. A compatibilidade entre esses dois ambientes já foi
debatida e aceita em outros fóruns de discussão – por exemplo, os congressos
do Lean Construction Institute. Dessa forma se espera que o emprego de
conceitos industriais para descrever o processo construtivo já está legitimado,
dando consistência ao caráter exploratório da pesquisa.

Este trabalho, por outro lado, tem motivação de uma pesquisa aplicada
quando define como lócus de estudo uma obra específica, localizada num

11
centro urbano e sujeita à restrições concretas de execução. Ele não atinge
plenamente os objetivos da pesquisa aplicada, por quanto discute problemas e
soluções no âmbito de um anteprojeto. Não dispõe, portanto, de resultados
efetivos de execução de uma obra, que seriam necessários para configurar a
aplicação (em situação real). Ocorre que, seu aspecto preliminar de discussão
de um anteprojeto, incluindo a confrontação de situações reais às soluções
propostas, induz o posterior debate e a elaboração mais consistente de um
projeto definitivo. O trabalho tem uma visão de engenharia quando busca
antecipar a situação real de uma obra específica. Por esta razão pode-se
afirmar que ele encaminha toda uma linha de pesquisa para uma futura
pesquisa aplicada.

2.3 MEIOS EMPREGADOS NA PESQUISA

Quanto aos meios empregados, a pesquisa aborda duas vertentes. A


primeira é a de pesquisa bibliográfica, procurando produzir instrumental
analítico do processo produtivo proposto – conceituando a implementação de
uma nova organização da construção a partir de um processo industrial já
conhecido. A regra adotada para caracterização de uma concepção nova tem
por base o instrumental mediato: revisando as definições e procedimentos da
produção lean e estabelecendo a analogia entre o lean industrial (já
consolidado) e a construção lean (objeto da descrição exploratória).

Outro meio de pesquisa empregado, que estabelece a segunda vertente


de trabalho, diz respeito ao caráter experimental da pesquisa. Apesar de não
lidar com um estudo de caso propriamente, o estudo de anteprojeto de um
prédio comercial se reveste de sentido prático quando, por regra de ofício,
assinala as condições gerais de execução que podem interferir na realização
da obra. Omissões que porventura tenham ocorrido são facilmente
identificadas, dado o aspecto descritivo das operações estudadas. Dessa
maneira o trabalho permite, a qualquer tempo, uma revisão das suas
estimativas e previsões de performance, se ajustando cada vez mais à situação
real. Vale esclarecer contudo, que os dados apresentados estão correntes com
estimativas e previsões de profissionais da área de construção – entrevistados,
mas não citados no trabalho.

12
Há que se assinalar que o estudo de construção lean apresentado,
apesar de limitado à logística de abastecimento e a montagem das estruturas
metálicas não estabelece restrições de processo construtivo. O fluxo proposto
e estudado é o ponto essencial para a transformação da construção predial. O
estudo de montagem enseja uma base para a implementação subseqüente de
frentes simultâneas de serviços (de fechamento dos andares). Dessa forma, a
integração da logística de abastecimento, das atividades de içamento e
montagem e a abertura de frentes simultâneas de serviço, com redução de
desperdícios de espera e de estoques, estabelecem condições de aumento de
produtividade que são o foco do conceito lean de construção. Por essa razão, o
objeto de estudo ganha generalidade como instrumento amplo de discussão da
construção predial.

13
3 REVISÃO DA LITERATURA

3.1 A PRODUÇÃO LEAN

3.1.1 Histórico da Evolução dos Processos de Produção

A produção inicialmente ocorria de maneira artesanal, restrita ao


ambiente domiciliar. A partir do século 18, teve início a organização da
produção, havendo uma centralização da produção e dando origem a um
processo histórico crescente de domínio e controle gerencial. O processo de
trabalho predominante caracteriza-se, a partir de então, como manufatureiro, no
qual as atividades de trabalho centralizadas nos ofícios são decompostas e
reorganizadas. Ocorrendo assim uma divisão do trabalho e uma fragmentação
das tarefas, embora o artesanato continuasse sendo à base do trabalho
(MENDES, 2002).

No início do século 19, surgem novas mudanças na organização da


produção e do processo de trabalho:

O Taylorismo surgiu a partir das idéias de Frederick Taylor, na primeira


metade do século 19, em sua “Administração Científica” que representou a
tentativa de racionalizar a gestão do trabalho e da produção. Essa mudança nos
métodos de trabalho deve ser analisada dentro do contexto histórico em que
ocorreu, quando se teve início o uso da maquinaria nas fábricas, cuja prática até
então, denominada por Taylor de “iniciativa e incentivo”, era caracterizada por
uma iniciativa do operário de definir sua maneira de trabalhar, mas com o
incentivo de intensificação da produção (MENDES, 2002).

Taylor (1976), defendia quatro princípios básicos como os fundamentos


da “Administração Científica”:

1o. Princípio - “Substituição do critério individual do operário por uma ciência”.

Com este princípio, Taylor buscou atribuir à gerência a responsabilidade


de desenvolver uma “ciência”, que substituiria os métodos empíricos geraria

14
uma prática determinada pela gerência sobre o que fazer, como e em quanto
tempo.

Dessa forma, Taylor objetivava racionalizar a produção, por meio da


padronização da melhor forma de executar uma tarefa. Ele defendia o estudo de
tempos e movimentos do operário para analisar quais eram úteis e eliminar os
inúteis e assim aumentar a intensificação do trabalho.

2o. Princípio - “Seleção e aperfeiçoamento científico do trabalhador, que é


estudado, instruído, treinado e, pode-se dizer, experimentado, ao invés do
próprio escolher os processos e aperfeiçoar-se por acaso”.

Taylor defendeu com este princípio que a escolha dos funcionários seja
feita pela direção, de modo a selecionar os que são realmente apropriados para
o tipo de trabalho em vista. Em relação ao treinamento, ele argumentava que a
gerência proceda ao treinamento, que abrange uma seqüência de ordens sobre
a forma de execução das tarefas, as quais devem ser seguidas sem protestos
ou desobediências. Dessa forma, o trabalho é dividido em tarefas simples e
repetitivas.

3o. Princípio - “Cooperação íntima da administração com os trabalhadores, de


modo que façam juntos o trabalho, de acordo com leis científicas desenvolvidas,
em lugar de deixar a solução de cada problema, individualmente, a critério do
operário”.

Taylor buscava assim que o operário fosse orientado e auxiliado


diariamente de maneira “científica” pela gerência, de maneira cordial, indo contra
práticas anteriores, que estimulavam a coação na figura do capataz, o qual se
impunha de maneira autoritária.

4o. Princípio - “... com a divisão equânime, entre a direção e os trabalhadores,


das partes de cada tarefa diária; a administração encarrega-se das atribuições
para as quais está mais bem aparelhada e os operários das atribuições
restantes”.

15
Essa divisão “equânime” representa uma confirmação do primeiro
princípio. Taylor defendeu a idéia de que o trabalhador está mais capacitado
para o trabalho físico, enquanto a gerência está mais preparada para as funções
de concepção e planejamento. Na concepção, ele propõe que seja definido qual
o trabalho que deve ser feito, como deve ser feito, onde e por quem será
executado e, finalmente, quando deverá ser feito. Taylor compreendeu também
que a produção envolvia problemas humanos, assim como materiais e
mecânicos e levou em conta os aspectos psicológicos quando estudava o
elemento humano.

O autor defendeu a padronização de instrumentos e de métodos, o


aprofundamento do estudo do tempo e do movimento (sistematizado por Frank
Gilbreth tentando eliminar todos os movimentos inúteis, substituindo os
movimentos lentos por outros rápidos no assentamento de tijolos), a
determinação de tarefas e gratificações.

Para Silva (1974), Taylor demonstrou que a aplicação da pesquisa


científica, como método para estudar e resolver as questões administrativas,
conduzia invariavelmente, a três resultados favoráveis a empregados e
desejados por todos: aumento de produtividade, aumento de salários e redução
de esforço e fadiga.

Henry Ford, por sua vez, buscou um processo de trabalho que


aumentasse a produção de seus automóveis, de modo a baratear o custo do seu
modelo “T”, tornando-o acessível ao maior número de pessoas possível.

Surge assim o modelo de produção em massa ou fordismo, o qual será


descrito a seguir.

O termo fordismo pode ser entendido como um princípio geral de


organização da produção, que considera simultaneamente a forma de
organização do trabalho, o estilo de gestão e o paradigma tecnológico, todos
característicos do modo de desenvolvimento fordista (FERREIRA, 1999).

16
Segundo Góes (1999), esse processo, por outro lado poderia ser
entendido pela divisão e especialização do trabalho, pela hierarquização e
centralização excessiva e pela mecanização com base em equipamentos
altamente especializados. Este autor acrescenta que esses equipamentos são
interligados por meio da linha de montagem, inovação concebida por Ford, o
qual se transformou no maior símbolo deste modo de produção.

Dina (1987) acrescenta, com a introdução da linha de montagem, a


obrigação do operário de respeitar os tempos determinados não está mais ligada
a uma alternativa entre recompensa e punição, mas sim rigidamente
estabelecida por um parâmetro técnico: a velocidade de deslocamento da linha.
Posteriormente surgem dois aspectos limitantes: a fase de trabalho da peça
deve ser realizada acompanhando as peças em movimento e no tempo
mecanicamente determinado para cada fase. Com isso, a lógica taylorista da
predeterminação dos tempos é levada ao seu limite extremo.

Ao mesmo tempo, surge uma diferença entre a lógica fordista e a


taylorista. Agora, na lógica fordista, segundo Dina (1987), baseada no seu
rendimento individual só tem um sentido formal, pois o rendimento de cada
operário é condicionado não só pela linha de montagem, mas também pelos
colegas “à sua esquerda e à sua direita”.

Já para Womack et al. (1992), a chave da Produção em Massa não


residia na linha de montagem em movimento. Consistia sim na completa e
consistente intercambialidade das peças e na facilidade de ajustá-las entre si.
Segundo eles, essas foram as inovações que tornaram a linha de montagem
possível. Para tanto, Ford padronizou as medidas – metrologia, de todas as
peças do automóvel, o que antes ficava a cargo de cada operário.

Tomadas conjuntamente, a intercambialidade, a simplicidade e a


facilidade de ajuste proporcionaram à ford grandes vantagens em relação aos
competidores. Por exemplo, ele pôde eliminar em grande parte os “ajustadores
qualificados, que sempre haviam constituído maioria da força de trabalho de
montagem” (WOMACK et al., 1992). Além das peças intercambiáveis, Ford

17
aperfeiçoou o operário intercambiável. Isto porque os montadores precisavam
apenas “apertar parafusos” ou “colocar rodas”, sem precisar falar a língua do
seu colega ou mesmo do supervisor. Para tanto foram criados cargos de
especialistas, tais como o engenheiro de produção, os faxineiros (para limpar as
áreas de trabalho), o chefe da qualidade. Os erros só eram descobertos quando
do término do produto, e os reparos e retrabalhos ficavam sempre para uma
outra equipe, no final da linha de montagem.

Outra característica do fordismo surgiu com a especialização das


máquinas, que passaram a executar a maior parte do trabalho, tornando assim o
treinamento dos operários algo simples e rápido concentrando o conhecimento
nos especialistas.

Mudanças no cenário mundial, tais como: a não absorção de quantidades


crescentes de produtos, a demanda por qualidade, a transformação tecnológica
que tornou obsoletos os equipamentos de produção com objetivo único, e a
busca de produtos com características mais flexíveis, conduziram a evolução
organizacional, identificada como a transição da produção em massa, para à
produção flexível.

3.1.2 O Novo Paradigma

3.1.2.1 Histórico da produção lean

Nos anos 50, começaram a surgir no Japão as idéias de uma nova


filosofia de produção, que passou a ser chamada de lean production (produção
lean) ou sistema toyota de produção. Na verdade, essa filosofia surgiu das
tentativas, da Toyota Motors Company, de melhorar o desempenho do setor
automobilístico e que, devido ao grande êxito, espalhou-se por outras indústrias
e pelo mundo. O engenheiro Taiichi Ohno da Toyota, foi o grande responsável
pelo novo sistema de produção e, por esta razão, também passou a ser
conhecido como “ohnismo” (MENDES, 2002).

18
Após a 2ª guerra mundial, a Toyota desejou ingressar na produção em
larga escala de carros e caminhões e, Eiji Toyoda, visitou uma fábrica da Ford
nos EUA, para observar as características do sistema de produção (WOMACK
et al., 1992). No Japão, contudo, os seus engenheiros perceberam que o
sistema de produção em massa necessitava ser adaptado às características
locais: pouco capital, poucas máquinas, sem máquina cativa e flexibilidade.

A Economia no pós-guerra estava arrasada, impossibilitando assim


investimentos em alta tecnologia. Visando proteger o mercado interno japonês, o
Ministério do Comércio Exterior e Indústria do Japão (MITI) criou elevadas tarifas
alfandegárias, proibiu a propriedade estrangeira para evitar concorrência local.
Também sugeriu que cada empresa deveria se especializar em um ramo, como
carros, ônibus ou caminhões. Ao invés disso, a Toyota e a Nissan seguiram um
outro caminho, lançando uma linha completa de novos modelos, preferindo
tornarem-se produtores completos. Para contornar os problemas encontrados, a
Toyota deu um novo enfoque à produção automobilística, criando regras gerais
de produção, que vieram a ser chamadas de sistema toyota de produção.

No sistema de produção em massa, grandes lotes de peças eram


produzidos por dia, totalizando milhões de peças acabadas no ano. O mercado
japonês, entretanto, não tinha capacidade de absorver essa produção de um
único produto. Para solucionar esse problema, Shigeo Shingo realizou diversos
estudos para efetuar a troca rápida de ferramentas, conseguindo reduzir o
tempo de troca de ferramentas (set-up) de algumas horas para, no máximo, dez
minutos. Com a redução do tempo de set-up, Ohno verificou que a produção de
pequenos lotes era mais lucrativa, pois eliminava os custos dos imensos
estoques de peças acabadas da produção em massa e os desperdícios com
peças não conformes, pois, como poucas peças eram produzidas por lote, um
defeito era detectado mais rápido.

Ohno também detectou um alto índice de absenteísmo e como este era


tratado, pois eram necessários muitos operários-reservas para substituir os
ausentes. Organizou os operários em grupos de trabalho, com um líder de

19
equipe que além de substituir os operários ausentes, era responsável por
coordenar a produção, a limpeza do posto de trabalho e o controle da qualidade.
As equipes se reuniam periodicamente para dar sugestões para a melhora do
processo. Este processo de melhoria contínua foi chamado de Kaizen.

Para evitar-se que defeitos de montagem fossem passados adiante,


determinou-se que, a cada defeito, a linha de montagem deveria ser parada (até
que o problema fosse resolvido. Ohno, além disso, instituiu os “Cinco Porquês”,
um sistema de resolução de problemas no qual, a cada porquê, uma causa mais
profunda era descoberta, até que a solução definitiva fosse encontrada. No
início, a linha de montagem era parada incessantemente, mas à medida que os
problemas eram resolvidos em sua causa real, e a mesma era aprendida por
todos, o número de paradas foi reduzido a quase zero.

A Toyota estimulou os fornecedores a trocarem informações entre si


buscando melhorar os projetos de peças. Como estes não competiam entre si,
essas trocas de informações eram benéficas para todos, pois possibilitava o
aperfeiçoamento dos projetos, que antes eram de responsabilidade das
montadoras, no sistema de produção em massa. A fim de buscar uma melhoria
na cadeia de suprimentos de peças, onde as mesmas deveriam chegar no posto
de trabalho na hora certa, a Toyota criou o Kanban e o Just-in-Time, para um
ganho na cadeia de suprimento: as peças deveriam chegar ao posto de trabalho
na hora certa. Segundo Corrêa e Gianesi (2001), Kanban é um sistema de
“puxar” a produção a partir da demanda, produzindo em cada estágio somente
os itens necessários, nas quantidades necessárias e no momento necessário.
Este nome é dado aos cartões utilizados para autorizar a produção e a
movimentação de itens ao longo do processo produtivo. Já o Just-in-Time é um
procedimento que inclui aspectos de administração de materiais e gestão de
recursos humanos.

A implantação destas novas técnicas de gestão da produção, aliadas a


um contato próximo com os consumidores, fez com que a Toyota aumentasse

20
continuamente a produtividade e melhorasse sua participação no mercado
mundial.

Empresas de todo o mundo, típicas produtoras em massa, têm por


objetivo por meio da implantação de técnicas lean, igualar ou superar o
desempenho de seus concorrentes japoneses. A produção deve ser planejada
em função do menor custo possível, e por meio da eliminação de todo e
qualquer desperdício, essa combinação é o que vai gerar o preço; sendo esse o
menor, mais chances de competitividade no mercado terá o produto. Na
verdade, a essência do Sistema Toyota de Produção (STP) é a perseguição e a
eliminação de toda e qualquer perda. É o conhecido “princípio do não-custo”.
Este baseia-se na crença de que a tradicional equação

CUSTO + LUCRO = PREÇO

deve ser substituída por:

PREÇO – CUSTO = LUCRO

Na lógica tradicional, o preço era imposto ao mercado como resultado de


um dado custo de fabricação somado à uma margem de lucro pretendida. Desta
forma, era permitido ao fornecedor transferir ao cliente os custos adicionais
decorrentes da eventual ineficiência de seus processos de produção. Com o
acirramento da concorrência e o surgimento de um consumidor mais exigente, o
preço passa a ser determinado pelo mercado. Sendo assim, a única forma de
aumentar ou manter o lucro é por meio da redução dos custos.

Na Toyota, a redução dos custos pela eliminação das perdas é


conseguida por meio de uma análise detalhada do valor do produto, de sua
cadeia de valores, do fluxo do processo, da produção puxada do mesmo,
atingindo a perfeição, ou seja, fazendo-se uso dos princípios lean.

21
3.1.2.2 Princípios lean

Womack e Jones (1998) identificam cinco princípios do pensamento lean


nas organizações, que visam à eliminação das perdas (desperdícios),
lembrando-se que o começo é obtido pela definição de valor pelo cliente. São
eles:

a) Especificação do Valor:

A definição de valor deve ser feita pelo cliente final do produto. O cliente
deve ser atendido de forma eficaz, no momento certo e com preço adequado.
Para isso, não é suficiente apenas ter um processo eficiente com um corpo
técnico capacitado e meios produtivos sofisticados. É preciso que, ao sair da
empresa, o produto satisfaça os anseios do cliente, ao invés de ser apenas
entregue o resultado de um processo de produção perfeito, mas que não lhe é
atraente.

Após a especificação do valor e definição do produto, o passo seguinte é


a determinação do custo-alvo, considerando a eliminação de toda a perda visível
existente no processo.

b) Identificação da Cadeia de Valor:

De acordo com Rother e Shook (1998), a cadeia de valor consiste em


todas as ações agregadoras e não agregadoras de valor; normalmente
necessárias para conduzir um produto, por meio dos principais fluxos essenciais
durante a produção: (a) o fluxo de produção da matéria-prima até o consumidor;
(b) o fluxo de projeto da concepção ao lançamento.

Womack e Jones (1999) entendem ser a cadeia de valor, o conjunto de


ações que conduzem um determinado produto durante as três tarefas gerenciais
críticas:

• Tarefa de solução de problemas: vai desde a concepção, passando


pelo projeto detalhado e engenharia, finalizando com o lançamento do
produto;

22
• tarefa de gerenciamento da informação: inicia-se com o recebimento
do pedido, seguindo um cronograma detalhado, tendo fim com a
entrega;
• tarefa de transformação física: vai da matéria-prima até o produto
acabado.

Portanto, a cadeia de valor consiste no processo pelo qual o produto


passa; desde a sua concepção, passando pelo fluxo de produção da matéria-
prima ao produto acabado, contemplando as especificações detalhadas de
projeto e os prazos estabelecidos, e finalizando com a entrega do produto ao
cliente final. Durante cada uma dessas etapas, irão existir atividades
agregadoras e não agregadoras de valor ao produto. Por esse motivo, todos os
envolvidos no processo de produção devem buscar um entendimento destes
conceitos visando à eliminação de passos desnecessários em cada atividade e
entre as mesmas, ajustando assim toda a cadeia em torno de um objetivo
comum.

c) Fluxo:

O fluxo de valor deve permear por toda a cadeia produtiva. As atividades


devem fluir gerando valor de uma etapa para outra (fluxo contínuo) e não
ficarem estanques e ligadas ao conceito dos lotes, segundo o qual uma
atividade só é iniciada quando se tem um grande número de peças a serem
processadas, impedindo que o fluxo seja contínuo.

Womack e Jones (1998) também indicam abordagens a serem


consideradas no estudo do fluxo de valor, quais sejam:

• Focalizar o produto do início ao fim do processo (após a definição do


valor e da cadeia de valor);
• ignorar as fronteiras tradicionais, tais como divisões entre
departamentos e empresas e atribuições funcionais, eliminando os
obstáculos ao fluxo contínuo;

23
• repensar as práticas e ferramentas de trabalho específicas (eliminar
retrofluxos, sucata e paralisações de todos os tipos).

Por meio da utilização dessas abordagens, faz-se possível a visualização


de toda a cadeia produtiva e a identificação dos passos e partes que necessitam
serem revistos, para que haja um fluxo contínuo. O estudo do fluxo pode ser
conduzido por meio do mapeamento do fluxo de valor, o qual permite uma
analisa de toda a cadeia de valor e não apenas de pontos isolados. Além disso,
pode-se apontar as fontes geradoras de perdas na cadeia de valor e, também,
as ligações entre os fluxos de material e informação (ROTHER e SHOOK,
1999).

d) Produção Puxada:

O cliente deve puxar a produção, ou seja, apenas o que for solicitado será
fabricado. Para tanto, deve haver flexibilidade e agilidade para que sejam
atendidos os desejos do cliente que pede um determinado produto (ALVES,
2000).

A produção puxada será novamente abordada, com maior detalhamento,


onde será apresentada uma ferramenta de auxílio à mesma: o Kanban.

e) Perfeição:

Ao se alcançar o sucesso com a integração dos princípios anteriores,


parte-se então em busca da maior satisfação possível do cliente, o qual
receberá produtos mais próximos das suas necessidades. Os autores comentam
que o estímulo mais importante para o alcance da perfeição pode ser a
transparência, a qual possibilita que todos os envolvidos no processo possam
ver tudo, e possam contribuir para melhorar a agregação de valor ao produto em
toda a cadeia (ALVES, 2000).

Portanto observa-se que a utilização dos princípios apontados por


Womack e Jones (1998) têm como objetivo principal a eliminação das perdas
criando um fluxo contínuo de valor, que alcance todas as etapas da cadeia

24
produtiva, visando à obtenção da perfeição no atendimento aos requisitos dos
clientes.

3.1.2.3 Desperdícios

Segundo Womack (1992), o desperdício, também conhecido na língua


japonesa por muda, normalmente é associado ao que se classifica como lixo,
porém sua definição vai além disso.

De acordo com Campos (1996), o desperdício é todo e qualquer recurso


que se gasta na execução de um produto ou serviço além do estritamente
necessário (matéria-prima, materiais, tempo, energia, por exemplo). É um
dispêndio extra que aumenta os custos normais do produto ou serviço sem
trazer qualquer tipo de melhoria para o cliente.

Reduzir o desperdício – muda – na produção significa eliminar tudo aquilo


que aumenta o custo de produção, ou seja, transformar muda em valor. Muitas
vezes os desperdícios não são facilmente notados, pois se tornaram aceitos
como conseqüência natural do trabalho rotineiro.

Para melhor entender a conceituação, deve-se dividir o trabalho produtivo


em três diferentes formas:

a) Perda: operações e/ou atividades que não agregam valor e podem ser
eliminadas. Dentro deste conceito, pode-se citar: espera, estoques
intermediários entre operações, reabastecimento, movimentação do
produto etc.
b) Operações que não agregam valor entretanto são imprescindíveis: são as
atividades que não beneficiam a matéria-prima, por exemplo:
movimentação para alcançar peças, desembalagem de caixas, operações
manuais de comandos do equipamento etc.
c) Operações que agregam valor: são atividades que transformam a
matéria-prima, modificando a sua forma e qualidade. Esses valores são
normalmente percebidos pelo cliente final, pois de nada vale incluir

25
atividades no processo que não possam ser “cobradas” daquele. Caso
contrário, podem gerar desperdícios. Muitos processos e atividades não
são percebidos pelo cliente, mas são observados pela manutenção da
Qualidade e Segurança do produto, como, por exemplo, testes finais de
qualidade. Portanto, quanto maior o valor agregado, maior a eficiência da
operação.

A experiência de fábrica mostra que o percentual de trabalho que agrega


valor a um produto é menor do que o esperado, havendo a necessidade de se
transformar todo e qualquer movimento em trabalho. O trabalho avança um
processo à frente e agrega valor, ao passo que a movimentação, por mais
rápida e eficiente que seja, poderá não agregar nada.

O Quadro 3.1 quantifica as atividades de melhoria na eliminação das


perdas na Toyota, entre os anos de 1976 e 1980, as quais são expressas na
forma de sugestões naquele período.

Quadro 3.1 – Sugestões de melhorias na Toyota Motors


Número Total de Número de Sugestões
Ano Taxa de Adoção
Sugestões por pessoa
1976 463.000 10,6 83%
1977 454.000 10,3 86%
1978 527.000 11,9 88%
1979 575.000 12,8 91%
1980 860.000 18,7 94%
Fonte: Monden (1984)

Por outro lado, o Quadro 3.2 ilustra o impacto dessas atividades, ao ser
feita uma comparação entre a montagem Toyota e os fabricantes de automóveis
americanos, suecos e alemães.

26
Quadro 3.2 – Tempo de montagem por veículo
Toyota (Takaoka) EUA Suécia Alemanha
No de empregados 4300 3800 4700 9200
No de carros
2700 1000 1000 3400
produzidos
No de empregados
por No de carros 1,6 3,8 4,7 2,7
produzidos
Fonte: Shingo (1996)

Os números mostram a grande importância do envolvimento dos


funcionários devidamente motivados, que poderão contribuir com novas idéias
para o aprimoramento do processo produtivo, acarretando, assim, ganho de
produtividade e qualidade, tornando a empresa mais competitiva.

Tipos de desperdício

De acordo com Womack (1992), o executivo Taiichi Ohno identificou os


principais tipos de desperdício. São sete tipos primários, que também conduzem
à desperdícios secundários. A título de exemplificação, temos o estoque extra
que provoca a necessidade de material e mão-de-obra além da quantidade
habitual, gerando custos indiretos, como energia e outras utilidades. Na
seqüência, os sete tipos de desperdício são apresentados e descritos:

• Superprodução;
• espera;
• transporte;
• processamento;
• estoque;
• defeitos;
• movimentação desnecessária.

27
Superprodução: está relacionada ao fato da produção ser superior à
demanda ou o ritmo da mesma ser além do necessário. Portanto, dentro do
Sistema Toyota de Produção (STP), a produção deve basear-se na filosofia just-
in-time (JIT), significando produzir peças ou produtos exatamente na quantidade
pedida, quando solicitada, e não antes disso. Dessa forma, o volume de
produção deve ser igual ao número de pedidos. Como nem sempre é possível
atingir um ciclo de produção que seja menor do que o prazo de entrega, o
método do “supermercado” também foi adotado para planejamento e produção.

Os equipamentos devem ser utilizados no maior limite possível de seu


aproveitamento; porém, se isso for feito sem considerar-se a necessidade da
demanda, ocorrerá uma superprodução. Assim, quando forem produzidas peças
ou produtos que não serão vendidos, haverá a necessidade de capital de giro
para mantê-los em estoque.

A superprodução induz a uma situação onde todos estão ocupados,


trabalhando, e que as atividades fluem normalmente. Isto é ilusório, pois
elevados volumes distorcem a verdade e mascaram os problemas da produção
que podem vir à tona, quando os excessos são eliminados.

A superprodução tende a esconder problemas de produção ou defeitos, e


produções ineficientes. Além disso, também pode ocasionar outros desperdícios,
como:

- O crescimento de estoques e conseqüentemente, imobilização do


capital antes do tempo e aumento de despesas financeiras;
- necessidade de utilização de maior espaço, o que exige ampliação das
instalações;
- desmotivação das equipes quanto à produtividade;
- compras de materiais ou componentes em duplicidade, assim como
danos aos produtos e materiais armazenados;
- gastos em excesso com energia e utilidades.

A superprodução esconde, ainda, a questão da movimentação, pois


qualquer movimento de pessoas ou de maquinário, que não agregue valor, será

28
considerado como perda de movimento. Os movimentos de pessoas
(operadores) devem ser planejados de forma ergonômica, para evitar perdas de
produtividade, que são ocasionadas pelo desgaste físico e mental. Quando
movimentos desnecessários são analisados, revisa-se o valor agregado, e o
método de trabalho operacional, de forma a não sobrecarregar o operador.

Quando os movimentos de um operador são observados, pode-se


comparar e analisar o valor agregado e o valor não-agregado. Em um
acompanhamento de estudos de métodos e tempos é possível observar
movimentos que podem ser agrupados, melhorados ou até mesmo eliminados,
por meio de simples ações como, por exemplo, a melhor disposição física da
estação de trabalho.

Segundo Shingo (1996), ações desse tipo podem ser implementadas,


tanto no processo de fabricação, quanto nas operações. Entende-se por
processo e operações:

a) Processo – fluxo de materiais no espaço e no tempo. É a transformação


de matéria-prima em componentes semi-acabados, que, por sua vez, se
transformam no produto acabado.
b) Operações – são os trabalhos realizados para a efetivação da
transformação. Quando o método de trabalho não é adequado, há
trabalho além do necessário, o que resulta em menor produtividade.

Espera: é a atividade de espera para se processar determinada peça, o


que constitui desperdício. Refere-se à matéria-prima, aos produtos semi-
acabados que serão processados, e à acumulação de estoques excessivos a
serem entregues. Portanto, com relação à estocagem, têm-se dois tipos de
espera: as de processo e as de lotes.

As esperas de processo normalmente estão relacionadas às taxas de


defeitos superestimadas, causando a espera do processamento do excedente,
ou, devido à antecipação da programação, os estoques intermediários podem
ser gerados por desbalanceamento, fabricação de buffers (estoques

29
intermediários) para a absorção de quebras e refugos, e para segurança
gerencial.

Enquanto o operador assiste ao trabalho da máquina, ele não tem


possibilidade de fazer outra atividade; conseqüentemente, não agrega valor.
Esse tipo de desperdício é conhecido por “tempo morto”. Em algumas
organizações não planejadas, ocorre freqüentemente a utilização de operadores
em ciclos automáticos, que acompanham o funcionamento da máquina sem
desenvolverem atividades paralelas durante o tempo de processamento do
equipamento.

São necessários portanto, estudos que possibilitem a menor intervenção


do homem na operação, visando seu melhor aproveitamento durante o tempo de
processamento do equipamento que opera.

Para esses casos devem ser utilizados conceitos de fluxo contínuo de


fabricação, fazendo-se uso do bom senso, da lógica, da criatividade e da
iniciativa, para o desenvolvimento de métodos eficazes.

Outro ponto a ser ressaltado é o de manufatura celular nem sempre pode


ser implementada com a utilização de equipamentos “velhos”. A engenharia
deve desenvolver pequenos equipamentos automatizados que não requerem o
acompanhamento intensivo, tendo-se como objetivo o chamado fluxo de uma
peça.

Transporte: esse elemento é de grande importância na produção, devido


ao seu envolvimento com as entregas de peças e materiais, e as informações de
entrega e chegada de grandes lotes de peças fornecedores. Operações de
transporte para distâncias maiores do que as necessárias, taxas e mudanças
são também caracterizadas como desperdícios.

Muitos processos são desenhados com distâncias definidas entre


máquinas, o que ajuda o uso de lotes de produção. Em função da movimentação
desses lotes o operador, deixa seu posto de trabalho para mover essas peças,
que compõem muda. Ao se planejar e desenhar estações de trabalho, é

30
necessário que se observe a localização, que deverá ser o mais próximo
possível das operações simultâneas requeridas pelos lotes.

Todavia, lotes de transporte de peças unitárias acrescentam um


incremento ao transporte de um processo ao próximo, este pode ser resolvido
por meio da otimização do arranjo. Após essa primeira providência, meios de
transporte com maior eficiência devem ser considerados. Desta forma, o
material processado flui facilmente de um processo para outro, propiciando a
redução dos tempos de produção e o número de homens-hora de transporte.

O transporte é somente uma movimentação de produtos, o que não


contribui diretamente para o valor agregado destes. Esta é a razão pela qual o
transporte deve ser reduzido e utilizado para o fornecimento da quantidade, hora
e lugar certos, de acordo com a solicitação.

Processamento: a atividade de acrescentar ao processo mais “trabalho”


ou esforço do que o requerido pelas especificações dos clientes também é um
tipo de desperdício. O valor do produto deve ser criado pelo produtor, o cliente
enxerga e deseja pagar pelo mesmo. Dessa forma, o “pensamento lean” tem
início com uma tentativa de definição precisa do valor, em termos de produtos,
com capacidades especificadas, oferecidas a preços mínimos, por meio do
diálogo com os clientes.

Um ponto importante na avaliação do processamento é a utilização de


ferramentas de prevenção, como a análise de modo e efeitos de falha potencial
de produto e processo. Alguns engenheiros, com o objetivo de proteger
constantemente suas atividades, alocam ao produto ou componente fatores de
tolerância mais “apertados”, assim a empresa desenvolve meios de
processamento e controles sofisticados, rígidos e complexos, ao passo que para
a real necessidade, essa designação é desnecessária. Esse tipo de
posicionamento garantirá a qualidade do produto final, ao cliente, com uma
maior segurança, porém os custos poderão impedir à competitividade do produto
dificultando a oportunidade de um novo negócio.

31
Outro exemplo comum, em plantas produtivas, é a busca de perfeição,
pois, quando tida como objetivo, há maior demanda de tempo para a obtenção
de resultados, e tempo não-produtivo não agrega valor.

Estoque: quando ocorre excesso de fornecimento de peças entre os


processos, ou muitas peças (matéria-prima, componentes e outros) são
entregues pelos fornecedores, com o intuito de abastecer a fábrica, ocorre o que
se chama de estoque. Este gera custos e exige capital de giro para sua
manutenção, ou seja, perdas. Quanto maior o estoque, maior o desperdício.

O estoque é uma garantia contra emergências, porém grandes estoques


dificultam o acesso, aumentam o custo de manutenção e ainda ocupam áreas
da empresa, originando custo pela sua ocupação.

Outro problema das empresas com grandes estoques é que estes


escondem a realidade das organizações, dificultando a identificação dos
problemas existentes e a sua eliminação. Quando ocorrem problemas com as
peças de fornecedores, é mais difícil de se identificar a verdadeira causa do
problema para iniciar as ações corretivas.

Normalmente, inventário excessivo é desperdício, pois há produção além


do necessário, o que gera lotes (estoques) intermediários, devido à inexistência
de um fluxo contínuo. A produção lean tem como objetivo a ser atingido, um
sistema no qual tudo esteja ligado em fluxo coerente de peças unitárias.

Embora essa integração total não seja facilmente atingida, um sistema de


entregas, mistas contínuas e freqüentes de pequenos lotes, pode ser
desenvolvido para plantas de fabricação e para linhas de montagem. Dessa
forma, chegarão entregas constantes, vindas de processos adjacentes à planta
de montagem final.

Todas as atividades devem ser sincronizadas com os tempos de


fabricação unitários e controladas por meio do sistema kanban. O sucesso
dessa atividade refletirá na rotatividade do estoque. Para melhor visualização

32
desta, o Quadro 3.3 mostra a comparação com outros fabricantes de
automóveis.

Quadro 3.3 – Rotatividade de estoque de fabricantes de automóveis por país


Companhia A Companhia B Companhia C
Toyota
(Japão) (EUA) (EUA)
1960 41 vezes 13 vezes 7 vezes 8 vezes
1965 66 13 5 5
1970 63 13 6 6
Fonte: Monden (1984)

Defeitos: pode-se dizer que este está entre os piores fatores de


desperdício, pois os mesmos podem gerar retrabalho, custo de recuperação ou
até mesmo a perda total de esforço e material. Outro ponto importante a ser
considerado é o risco da perda dos clientes.

Os produtos devem ser manufaturados de forma correta, caso contrário,


serão adicionadas tarefas desnecessárias para sua finalização, dentre as quais
pode-se citar energia, tempo de equipamento, mão-de-obra e outros, que
acrescentarão custos desnecessários para a correção do defeito encontrado.

Apesar de muitas vezes um problema ser corrigido, não tem sua “causa
raiz” devidamente eliminada, acarretando problemas futuros dentro da própria
planta, com operações subseqüentes, como risco de falhas no cliente final, e
conseqüente perda. Essa é a razão pela qual esse desperdício deve ser tratado
com elevado grau de importância.

Nos sistemas de produção convencional, normalmente é mantido um


certo nível de estoque para prevenir que produtos com defeito causem
transtornos à linha de produção. Como na produção lean a superprodução, o
mais grave dos desperdícios, não é permitida, torna-se necessária a eliminação
de ocorrência de defeitos. A inspeção deve prevenir os defeitos, e não

33
simplesmente encontrá-los. Algumas estratégias para a obtenção de “zero
defeitos” seriam:

a) Eliminar os excessos de estoques: os estoques são considerados nocivos


por ocuparem espaço e representarem altos investimentos de capital.
Também escondem ineficiências do processo produtivo, como problemas
de qualidade, longos tempos de preparação de máquina para troca de
produtos e falta de confiabilidade de equipamentos. Portanto, utilizando-
se essa estratégia, não devem ser fabricados produtos desnecessários,
ou seja, em excesso. Isto porque quanto mais produtos são produzidos,
maiores são as chances de apresentarem defeito, muitas vezes
ocasionados pelo próprio armazenamento (riscos, batidas e outros).
Dessa forma, deve-se sempre lembrar dos princípios do Just-in-Time.
b) Eliminar os trabalhos no processo: defeitos são facilmente escondidos
durante o processo de fabricação, quando, por exemplo, as peças são
empilhadas antes de serem movidas para a próxima operação. Nesse
caso, o fluxo contínuo de peças não só garantiria a movimentação das
peças sem estoques intermediários, como também permitiria que defeitos
fossem encontrados rapidamente, sem que outras peças precisassem ser
sucateadas.
c) Sistema à “prova de erros” nos processos: esta seria uma abordagem
sistemática para a antecipação e detecção de defeitos potenciais, tanto
no processamento da peça, como no monitoramento da operação. Dessa
forma, ocorreria a paralisação do processo, até que o defeito encontrado
fosse eliminado.

Movimentação desnecessária: este está relacionado à desorganização


do ambiente de trabalho, resultando em baixa performance dos aspectos
ergonômicos e perda freqüente de itens. As movimentações dentro do setor
produtivo devem ser aquelas necessárias ao processamento de atividades.
Muitas vezes, essas movimentações podem ser reduzidas, agrupadas ou até
eliminadas. O ideal para a produção são atividades de movimentação realizadas
sem comprometimento do ciclo produtivo e do rendimento do operador.

34
Como localizar os desperdícios

a) Desperdício de matéria-prima: o uso de materiais com especificações


superiores ou inferiores às necessidades são desperdício, pois, caso o
material seja superior ao especificado, pode significar maior investimento
para o mesmo resultado; se o material for inferior ao especificado, poderá
não atender as necessidades e provocar perda total do produto, ou exigir
reparos. Quantidades incorretas de matéria-prima também constituem
desperdícios.
b) Desperdício de mão-de-obra: a subutilização reduz a produtividade e
aumenta os custos; a superutilização pode causar o estresse e favorecer
falhas e erros; a falta de capacidade exige treinamento extra e
acompanhamento, ocasionando o crescimento do risco. O excesso de
capacidade também pode implicar mão-de-obra mais cara do que a
necessária ou significar subaproveitamento de pessoas, gerando
desestímulo.
c) Desperdício nos métodos de trabalhos: a sofisticação produz custos de
implantação e manutenção além do necessário, e a sua falta pode não
garantir a qualidade final do produto. A falta do cumprimento de etapas no
processo pode acarretar estrangulamentos de fluxo: “gargalos”, e o
excesso pode gerar custos maiores do que os necessários, e também,
atrasos nas entregas.
d) Desperdício com equipamento: a utilização de equipamentos obsoletos
pode comprometer a quantidade e a qualidade dos produtos, diminuindo
a sua competitividade. Por outro lado, a utilização de equipamentos
excessivamente avançados, o volume e a qualidade absorvidos pelo
mercado podem não justificar o seu investimento, aumentando seus
custos.

35
3.1.2.4 Ferramentas

A produção lean é composta por diversas ferramentas, devido à


abordagem do presente trabalho, serão apresentadas:

• Benchmarking
• Brainstorming
• Sistema Lean
• Método “5S”
• Just-in-Time
• Produção Puxada (Kanban)
• Fluxo Contínuo
• Troca Rápida de Ferramentas
• Trabalho Padrão
• Manutenção Produtiva Total
• Mapeamento do Fluxo de Valor
• Kaizen

Benchmarking

Para o planejamento de instalação de uma nova divisão, torna-se


importante a quantidade e a qualidade das informações coletadas, para que se
possa antecipar problemas que venham a ocorrer (FERREIRA, 2004).

Segundo Campos (1996), essa ferramenta deve ser utilizada para que os
gerentes saibam se alguma empresa já possui valores (indicadores) melhores
do que os seus, ou ainda, para se anteciparem à potenciais acontecimentos,
fazendo uso de seus dados históricos.

Caso a pesquisa apresente importantes informações para a tomada de


decisões, deverá ser feita uma análise do como esses resultados foram obtidos,
para se avaliar a viabilidade da implantação ou sua utilização como referência
(FERREIRA, 2004).

36
Se os resultados forem viáveis, deverão ser copiados, para
posteriormente serem melhorados.

As empresas somente serão competitivas caso igualem ou superem seus


concorrentes, razão pela qual pesquisa-se constantemente as “referências de
excelência”, o que melhor definiria a palavra benchmarking, já que a mesma não
encontra um termo correlato, em português.

O Benchmarking é dividido em três tipos:

a) Interno: atividades semelhantes são comparadas dentro da mesma


organização;
b) Competitivo: comparação das atividades locais com atividades
semelhantes às dos concorrentes;
c) Funcional: comparação entre atividades semelhantes, conduzidas dentro
de empresas de ramos diferentes.

Responsáveis por gerências não criam a rotina de buscar valores de


comparação competitivos, pois não têm certeza da própria capacidade de
consegui-los. Há várias fontes que podem gerar tais dados, como literatura
técnica, visitas aos concorrentes, fabricantes de equipamentos, organizações
mundiais de empresas de um mesmo setor, congressos, consultores, entre
outros.

De posse dessa ferramenta, pode-se comparar as práticas de negócio


com aquelas das organizações que se estabeleceram como líderes ou que são
inovadoras naquela função específica de negócios. Também é possível de
comparar-se processos, em substituição à uma comparação entre produtos e
serviços. Portanto, a ênfase não está apenas no que a outra organização
produz, mas também em como ela desenvolve, fabrica, comercializa, presta
suporte a um produto ou serviço.

37
Brainstorming

De acordo com Werkema (1995), o Brainstorming (tempestade de idéias)


é uma dinâmica de grupo onde as pessoas, de forma organizada e com
oportunidades iguais, fazem um esforço mental para opinar sobre determinado
assunto.

Desenvolvida em 1930, e considerada como a mais conhecida maneira


de geração de idéias, é uma técnica que pode ser melhor utilizada na fase de
planejamento. É vinculada à análise de processos, que é a etapa onde são
determinadas as causas mais significativas, as quais influenciam o problema,
destacando as mais importantes. É também utilizada na elaboração de plano de
ação, que compreende a determinação das contramedidas para atacar as
causas principais, a discussão sobre a eficácia das contramedidas e a
montagem do plano de ação propriamente dito.

A técnica apóia-se em dois princípios e em quatro regras básicas. O


primeiro princípio é o da suspensão do julgamento, que requer esforço e
treinamento. O objetivo da suspensão do julgamento é permitir a geração de
idéias, por meio do qual serão avaliadas. O segundo princípio sugere que
quantidade origina qualidade, pois, quanto mais idéias, maior número de
conexões e associações a novas idéias e soluções.

As quatro regras básicas para o êxito de uma sessão de brainstorming


são:

• Eliminar qualquer crítica, no primeiro momento do processo, para que


não haja inibição nem bloqueio, permitindo assim o maior número de
idéias;

• apresentar as idéias tal qual elas surgem, sem elaborações. As


pessoas devem sentir-se à vontade e não inibidas de dizer
“bobagens”. À princípio, as idéias mais desejadas são as que parecem
sem sentido, as quais costumam servir de conexão para outras idéias
criativas ou até representar soluções. Posteriormente, até podem ser

38
abandonadas, o que não é importante na hora da “colheita” de
contribuições;

• obter a maior quantidade de idéias possíveis, considerando-se que a


qualidade será melhor, pois as chances de se conseguir, diretamente
ou por associação, idéias boas serão superiores;

• feita a seleção de idéias, as potencialmente boas devem ser


aperfeiçoadas. Nesse processo, costumam surgir outras idéias. No
entanto, é preciso lembrar que idéias iniciais são frágeis, e que é
preciso reforçá-las, para que sejam aceitas.

O processo de Brainstorming é conduzido por um grupo de participantes


bem acomodados, com um coordenador e um secretário previamente
escolhidos. Cada participante recebe, antes da reunião, o enunciado do
problema, com todas as informações disponíveis.

A sessão começa com a orientação aos participantes sobre as regras do


jogo, a origem e o motivo do problema a ser estudado, fazendo-se uma breve
revisão da questão. O início real da sessão deve ser considerado a partir do
momento em que o problema é anotado em um quadro. A duração da sessão
deve ter quarenta minutos, aproximadamente, período em que cada pessoa
deve estar estimulada e desinibida para oferecer o maior número de idéias.
Todos devem seguir a “regra de ouro”: é proibido criticar.

As idéias devem ser anotadas em local visível. O último passo é a


seleção de idéias, que é feita por um subgrupo de duas a cinco pessoas. Esse
subgrupo, depois, justificará as escolhas ao grupo, e com ele tentará aperfeiçoar
as melhores idéias.

Sistema Lean

É grande o número de empresas que têm investido em atividades


voltadas à eliminação de desperdício, como: Kaizen (melhoria contínua),
JIT/Kanban, teoria das restrições – theory of constrains (TOC), seis sigma,

39
downsizing, reengenharia e outros. Algumas delas produzem o mesmo resultado
de vitórias isoladas contra as perdas, obtendo-se bons resultados, e também
episódios de fracasso na melhoria do todo, devido à falta de um conhecimento
mais profundo e amplo dessas atividades, ou pelo fato de não se articularem
dentro de um sistema (FERREIRA, 2004).

Grande parte desses casos ocorre porque muitas empresas perderam de


foco o valor para o cliente e a maneira de criá-lo. Ocasionando até mesmo a
estagnação da economia dos países desenvolvidos.

Para que essa prática mude, há necessidade de instituir-se um


pensamento lean, assim as empresas têm a possibilidade de especificarem
claramente o valor, alinhando todas as atividades ao longo de uma cadeia de
valor, possibilitando esse valor de fluir uniformemente, de acordo com as
necessidades do cliente.

Para ilustrar o procedimento adotado por uma empresa lean foi elaborado
o Quadro 3.4, onde são demonstrados os comparativos entre as atividades de
fabricação com o conceito tradicional e aquelas com o conceito lean.

Quadro 3.4 – Fabricação tradicional x fabricação lean


Tradicional Lean
Quando não se fabrica, não se gera Quando não se obtém resultados
lucros. positivos e peças de qualidade, não se
geram lucros.
Programação da produção baseada Reagir à procura real e puxar a
em previsões e produção empurrada produção, na fábrica.
na fábrica.
Longos tempos de preparação, agilizar Tamanhos menores de lotes exigem
durante a produção. preparação mais rápida das máquinas.
Relaxar durante a preparação, agilizar Agilizar durante a preparação,
durante a produção. observar, pensar, melhor durante a
produção.

40
O estoque é natural, mantém a Estoque é desperdício, esconde os
produção fluindo. problemas de capacidade, produção e
qualidade.
É necessário WIP para garantir a Velocidade, fluxo de uma peça,
perfeita utilização da máquina. sempre em movimento.
Mercadorias acabadas são ativos Estoque é uma responsabilidade.
exigidos por procura incerta. Quanto maior, mais custo.
A capacidade ociosa de uma máquina É melhor pagar um funcionário ocioso
está perdida para sempre, mas o do que produzir estoque.
estoque pode salvá-la.
Os erros são parte natural do processo Os erros são oportunidades de
de produção. entender e aperfeiçoar o processo de
produção.
A demanda real, em relação ao lead A resposta à demanda real é obtida de
time, é intrinsecamente incerta. melhor forma a partir de equipamento
Apressar e despachar os pedidos são e processos flexíveis e ampla
parte natural dos serviços ao bom capacidade.
cliente.
O trabalho braçal do funcionário é uma A capacidade intelectual do funcionário
despesa variável que deve ser evitada. é um ativo a ser cultivado a longo
prazo.
Diversos fornecedores garantem As parcerias com fornecedores
suprimento confiável e preços baixos. garantem serviços confiáveis e
valorização.
Os clientes são a fonte dos lucros. Os clientes devem ser servidos
Deve-se fazer o melhor para servi-los. segundo seus requisitos. O “melhor” da
empresa poderá não ser
suficientemente bom.

Fonte: Apostila de Treinamento de VSM da empresa Eaton Corporation (1998)

41
Outra comparação entre os sistemas Ford e Toyota. Essa comparação
constituiu o Quadro 3.5:

Quadro 3.5 – Diferenças entre o sistema Ford e o sistema Toyota


Característica Ford Toyota Benefício
Fluxo Somente na Interligação Ciclos curtos, inventário de
de peças Montagem do processo produtos acabados reduzidos,
e montagem estoque intermediário pequeno.
Tamanho Grande Pequeno Redução do estoque
do lote intermediário, produção contra
pedido.
Fluxo do Produto Produto Redução do estoque
produto único misto intermediário, ajustes para
(poucos (muitos mudanças, promoção do
modelos) modelos) equilíbrio da carga.
Fonte: Shingo (1996)

Para Shingo (1996), na comparação entre os sistemas fica claro que o


sistema Toyota apresenta uma evolução progressiva em relação ao sistema
Ford, e que está voltado para atender ao mercado japonês, o qual produz em
massa, em lotes pequenos, com estoques mínimos, e seu maior segredo é a
troca rápida de moldes e ferramentas dentro da produção lean.

O sistema lean busca maneiras de fazer com que as pessoas pensem em


fluxo, ao invés de processos discretos de produção, sendo implementado o
sistema lean, e não processos isolados de melhoria.

Dessa forma, as melhorias ocorrem de forma sistêmica e permanente, e


eliminam, não só os desperdícios, mas também as respectivas fontes geradoras,
que não devem retornar. Para isso, há no sistema lean, um pacote com as
principais ferramentas que são utilizadas para suportá-lo, podendo-se citar: 5S,
TPM (Manutenção Produtiva Total), Just-in-Time, a Produção Puxada (Kanban),
Mapeamento da Cadeia de Valor, Fluxo Contínuo, Kaizen e outras.

42
Método “5S”

O método “5S” foi importante tanto para a implementação da qualidade


total nas empresas, como para a sustentação da produção lean. É possível
principiar a eliminação de desperdícios em cinco fases, com base no método
“5S”, surgido no Japão no fim da década de 60. Este foi um dos fatores para a
recuperação das empresas japonesas e base para a implantação dos métodos
da Qualidade Total naquele país.

A seguir serão apresentadas as fases desse programa que produz bons


resultados e representa um avanço na implementação de uma empresa lean.
Para Osada (1992), as fases estão divididas em palavras japonesas iniciadas
com a letra “S” que compõem os “5S”: seiri, seiton, seiketsu, seiso e shitsuke.
Cada uma destas será detalhada, para melhor entendimento:

a) Seiri – (Descarte) – Ter só o necessário, na quantidade certa. Deve-se


saber diferenciar o útil do inútil, e o que tem utilidade certa deve estar disponível.
Descartando o que é desnecessário, será possível concentrar-se apenas no que
é necessário. As vantagens do descarte são:

- Reduzir as necessidades de espaço, estoques, gastos com sistema de


armazenamento, transporte e seguros;
- facilitar o transporte interno, o arranjo físico, o controle de produção, a
execução do trabalho no tempo previsto;
- evitar compras de componentes em duplicidade;
- reduzir o capital de giro em estoque, e outros.

A prática dessa fase deve ser feita por meio da escolha de um local de
trabalho para uma experiência de descarte. Fotos devem ser tiradas, com a
finalidade de se caracterizar a condição encontrada, antes da implementação da
sistemática, e um grupo deve ser devidamente instruído, no que diz respeito às
responsabilidades para a execução das atividades.

43
Tudo o que fizer parte do ambiente deve ser analisado e, o que for
considerado como desnecessário, deverá ser devidamente identificado e ter um
destino (descarte, alocação em outro setor, conserto ou venda).

É importante que, antes do descarte, pessoas de outro setor sejam


convidadas a avaliar o material, pois pode haver alguma coisa de seu interesse
(FERREIRA, 2004).

b) Seiton – (Arrumação) – Cada objeto tem o seu devido lugar, e após ser
usado, deverá retornar ao mesmo. Tudo deve estar disponível e próximo ao
local de trabalho, onde há o que é necessário, na quantidade, na hora e no lugar
certos. Assim, propicia vantagens no ambiente de trabalho, como, por exemplo,
a redução do tempo de procura de ferramentas para a execução de uma troca
rápida das mesmas, entre outras.

Essa fase implica em um estudo de eficiência e depende da velocidade


necessária para organizar e realocar os itens em seus devidos lugares, isto é,
em áreas demarcadas, de acordo com a sua freqüência de uso, estes devem
estar identificados para facilitar a sua localização, quando necessário (ex.
quadro de ferramentas sombreado) (FERREIRA, 2004).

c) Seiso – (Limpeza) – Todos devem estar conscientes da importância de


estar em um ambiente limpo e da necessidade de manter-se a limpeza. Dentre
as vantagens de se trabalhar em ambientes de trabalho limpos são citadas:
- Possibilidade de identificação de pontos causadores de contaminação;
- maior satisfação do funcionário dentro de seu local de trabalho;
- boa imagem da empresa, aumentando a confiabilidade do cliente;
- maior produtividade.

Na fase inicial de implementação, os funcionários de liderança devem


participar da prática da limpeza, com a finalidade de estimular os demais. A
atividade de limpeza colocará em evidência uma melhor aparência, devendo ser
ressaltada como ponto positivo, para que se consiga sua manutenção.

44
Durante a limpeza serão identificadas fontes geradoras de sujeira e
contaminação, as mesmas serão avaliadas, para que as causas “raízes” sejam
eliminadas. Para isso, recomenda-se a utilização dos “5 Porquês”.

O diagrama dos “5 Porquês” é aplicado quando são definidas as causas


potenciais do problema. Esse diagrama torna uma das raízes possíveis do
problema e tenta explicá-la por meio das respostas dadas aos “Porquês”
efetuados.

Embora o diagrama sugira cinco respostas, evidentemente isso serve


apenas de guia. A equipe pode levantar de seis ou sete idéias, outras vezes,
apenas duas ou quatro. Nesse momento, a equipe deve examinar as respostas
e determinar se existe algum dado disponível para sustentar ou refutar as idéias
propostas, criando um caminho crítico para a raiz do problema. O exercício
termina quando ocorre uma de duas situações. A primeira, quando inicia-se
repetições de respostas similares, e a segunda, quando não há novas idéias.

d) Seiketsu – (Padronizar) – Após cumpridas as fases anteriores, rotinas


e práticas padrões devem ser estabelecidas para a repetição regular e
sistemática dos “5S” anteriores. Para isso deverão ser criados procedimentos e
formulários de avaliação regulares, em que a opinião de todos será considerada
para a elaboração dos padrões, garantindo a manutenção do sistema. Alguns
exemplos de padrões podem ser citados (FERREIRA, 2004):

- Quadro de ferramentas devidamente sombreado;


- área demarcada para avaliação de produto segregado;
- marcações visuais para monitoramentos (ex: nível de tanques, entre
outros);
- criação de planos diários de manutenção.

e) Shitsuke – (Disciplina) – Esta fase está ligada à manutenção sistêmica,


de forma que atividades anteriormente explicadas se tornem habituais, para que
sejam executadas permanentemente e garantam altos padrões. Para tanto, deve
ser criado e assumido um compromisso rígido dos funcionários com todo o

45
processo, vinculando-o com outras atividades lean (TPM, redução de tempos de
set-up, Kanbans, entre outras).

A mudança de hábito deve ser fortemente trabalhada pelos líderes, para


que os funcionários se comprometam com o sistema.

Uma equipe de gerenciamento também deve ser criada, para auditorias,


com a finalidade de verificar a adesão à padronização e manutenção do padrão,
fazendo uso de formulários devidamente elaborados. Posteriormente, os
resultados serão divulgados, para que haja o conhecimento por parte de todos,
tanto os pontos fortes como dos fracos, de forma que as aplicações de
melhorias contínuas possam ser implementadas (FERREIRA, 2004).

Just-in-Time – JIT

Segundo Yamashina (1988), a técnica, meta ou filosofia de gestão Just-


in-Time tem merecido, recentemente, grande destaque em todo o mundo, em
virtude da grande necessidade de redução de custos na área de produção. Essa
filosofia pode ser traduzida em: produção sem estoques, eliminação dos
desperdícios, sistema de melhoria contínua do processo, entre outras. Enfim,
esse sistema é composto de práticas gerenciais que podem ser aplicadas em
qualquer parte do mundo e em qualquer empresa, tendo por objetivo a melhoria
contínua do processo produtivo.

O Just-in-Time (JIT) surgiu no Japão em meados da década de 70, sua


idéia básica e desenvolvimento foram creditados a Toyota Motor Company, que
estava em busca de um sistema de administração que fosse capaz de coordenar
a produção com a demanda específica, de diferentes modelos e cores de
veículos, apresentando um atraso mínimo.

O sistema de puxar a produção a partir da demanda, produzindo somente


os itens necessários, nas quantidades necessárias e no momento necessário,
ficou conhecido no Ocidente como sistema Kanban. Contudo, o JIT é muito mais
do que uma técnica ou um conjunto de técnicas de administração da produção,

46
sendo considerado como uma “filosofia”. Este inclui aspectos de administração
de materiais, gestão da qualidade, arranjo físico, projeto do produto, organização
do trabalho e gestão de recursos humanos.

Para Schonberger (1988) e Monden (1984), a implementação do JIT


provoca uma redução gradual no nível de estoques, o que revela mais
problemas, e obriga os trabalhadores a buscarem soluções rápidas, desta forma
a multifuncionalidade é uma qualificação essencial.

Embora existam opiniões que defendam que o sucesso do sistema de


administração JIT esteja calcado nas características culturais do povo japonês,
gerentes e acadêmicos têm-se convencido de que essa filosofia é composta por
práticas gerenciais que têm aplicabilidade em qualquer parte do mundo.

Algumas expressões são geralmente usadas para traduzir aspectos da


filosofia Just-in-Time: eliminação de estoques, eliminação de desperdícios,
manufatura de fluxo contínuo, esforço contínuo na resolução de problemas,
melhoria contínua dos processos.

O sistema JIT é mais do que um conjunto de técnicas, sendo considerado


uma filosofia de trabalho. Seus objetivos fundamentais são a qualidade e
flexibilidade do processo. Essa filosofia diferencia-se da abordagem tradicional
de administrar a produção. As metas colocadas pelo JIT, em relação aos vários
problemas de produção, são:

- Zero defeito;
- tempo zero de preparação (set-up);
- estoque zero;
- movimentação zero;
- quebra zero;
- lote unitário (uma peça).

O sistema de produção que adota o JIT deve apresentar determinadas


características, as quais formam um corpo coerente com os princípios do
mesmo. Dentre suas várias características, são citadas:

47
• A não adaptação à produção de muitos produtos diferentes, o que
requer extrema flexibilidade de faixa do sistema produtivo, em
dimensões que não são conseguidas com a filosofia JIT;
• layout do processo de produção deve ser celular, dividindo-se os
componentes produzidos em famílias, conseguindo maior
produtividade;
• a não aceitação de erros, paralisando-se a linha até que estes sejam
eliminados;
• a produção é responsável pela qualidade. A redução de estoque e a
resolução dos problemas de qualidade formam um ciclo positivo de
aprimoramento contínuo;
• a ênfase na redução dos tempos do processo a fim de focalizar o valor
agregado ao produto, de forma a maximizar a qualidade dos mesmos;
• o fornecimento de materiais no sistema JIT deve ser uma extensão
dos princípios aplicados dentro da fábrica, tendo como principais
objetivos os lotes de fornecimento reduzido, recebimentos freqüentes
e confiáveis, lead times de fornecimento reduzidos e altos níveis de
qualidade;
• o planejamento da produção deve garantir uma carga de trabalho
diária estável, que possibilite o estabelecimento de um fluxo contínuo
de material. O sistema de programação e controle de produção está
baseado no uso de cartões (Kanban), para a transmissão de
informações entre os centros produtivos.

As vantagens do sistema de administração da produção Just-in-Time


podem ser demonstradas por meio da análise de sua contribuição aos principais
critérios competitivos:

a) Custos: dados os preços já pagos pelos equipamentos, materiais e mão-


de-obra, o JIT busca a redução do custo de cada um desses fatores seja
reduzido ao necessário. As características do sistema JIT, o planejamento
e a responsabilidade dos encarregados da produção pelo refinamento do

48
processo produtivo favorecem a redução de desperdícios. Existe também
uma grande redução dos tempos de set-up, interno e externo, além da
redução dos tempos de movimentação, dentro e fora da empresa;

b) Qualidade: o projeto do sistema evita que defeitos percorram ao longo do


fluxo de produção; o único nível aceitável de defeitos é zero. A pena pela
produção de itens defeituosos é alta. Isso motiva a busca das causas dos
problemas e das soluções para eliminá-las. Os trabalhadores são
treinados em todas as tarefas de suas respectivas áreas, incluindo a
verificação da qualidade. Sabem, portanto, o que é uma peça com
qualidade e como produzi-la;

Se um lote inteiro apresentar peças defeituosas, o tamanho reduzido


destes minimizará o número de peças afetadas. O aprimoramento de qualidade
faz parte da responsabilidade dos trabalhadores e da produção, estando incluído
na descrição de seus cargos.

c) Flexibilidade: o Just-in-Time aumenta a flexibilidade de resposta do


sistema, por meio da redução dos tempos envolvidos no processo.
Embora o sistema não seja flexível com relação à faixa de produtos
oferecidos ao mercado, a flexibilidade dos trabalhadores contribui para
que o sistema produtivo seja mais flexível em relação às variações do mix
de produtos. Por meio da manutenção de estoques baixos, um modelo de
produto pode ser mudado sem que muitos de seus componentes fiquem
obsoletos. O projeto de componentes comprados é geralmente feito pelos
próprios fornecedores. Utilizando-se especificações detalhadas e rígidas
de projeto, estes podem ser desenvolvidos de maneira consistente com o
processo produtivo do fornecedor;

d) Velocidade: a flexibilidade, o baixo nível de estoques e a redução dos


tempos permitem que o ciclo de produção seja curto, e o fluxo, veloz. A
prática de diferenciar os produtos na montagem final, permite em muitos
casos, entregar os produtos em prazos mais curtos. Essa diferenciação é

49
feita a partir de componentes padronizados, de acordo com as técnicas
de projeto adequado de manufatura e projeto adequado à montagem;

e) Confiabilidade: a confiabilidade das entregas também é aumentada por


meio da ênfase na manutenção preventiva e da flexibilidade dos
trabalhadores, o que torna o processo mais robusto. As regras do kanban
e o princípio da visibilidade permitem identificar rapidamente os
problemas que poderiam comprometer a confiabilidade, permitindo sua
imediata resolução.

A viabilização do JIT depende de três fatores intrinsecamente


relacionados: produção puxada, fluxo contínuo e takt time.

Produção Puxada (Kanban)

Os estudos de métodos de programação e controle da produção


desenvolvidos e aplicados por Ford-Taylor enfatizavam o processo de
manufatura em massa. O fator importante era a divisão das tarefas e a
determinação, por meio dos estudos dos movimentos, de tempos-padrão de
fabricação reduzidos. Homens e máquinas deveriam produzir o máximo possível
nesse sistema, mesmo que o destino dos produtos fosse os armazéns.
Posteriormente, o setor de marketing (incluindo as vendas) deveria ser o
encarregado de apresentar esses produtos ao mercado consumidor.

De acordo com Schonberger (1988), esse processo de produção em


massa, também conhecido como processo de empurrar a produção, possui uma
maneira própria de funcionar. É a seguinte: a direção da empresa resolve pelo
lançamento de um produto, comunica a decisão à engenharia de produto, que
desenvolve a idéia, projeta o bem e o envia a documentação para a engenharia
industrial. Esta última, desenvolve o processo, os dispositivos, e remete as
ordens para o setor de produção, que fabrica o novo produto; o produto final é
transferido para o armazém, de onde o setor de marketing tenta enviá-lo ao
consumidor.

50
A produção em massa serviu aos interesses dos produtores,
principalmente após a 2ª Guerra Mundial, quando a disponibilidade de recursos
financeiros norte-americanos era grande. Ocorreu um acentuado crescimento
demográfico, o qual foi acompanhado por uma carência de bens; o mercado era
altamente demandante, a população havia sofrido com a retração do consumo
devido à guerra mundial e queria recuperar o padrão de consumo.

Nessa época, início da década de 50, o Japão buscava sua reconstrução.


Era necessário direcionar todos os esforços para a recuperação econômica da
nação, e assim implantar e desenvolver novamente a indústria.

Taiichi Ohno e um grupo de executivos da Toyota foram para os Estados


Unidos para observar e estudar os fabricantes de automóveis e de autopeças.
Por curiosidade, ou motivados por necessidades individuais, puderam ter
contato com o sistema de atendimento ao varejo por meio dos supermercados.
Motivados também pelo plano de reconstrução da nação e pelo hábito da
autodisciplina, aqueles técnicos observaram e estudaram todos os aspectos, e
traçaram comparações entre o sistema de trabalho das indústrias e dos
supermercados, notando que este último era completamente distinto do primeiro.

Num supermercado, os clientes anseiam pelo atendimento de suas


necessidades. Assim determinam como deve ser o serviço de reposição de
mercadorias em relação às marcas, quantidades e períodos, principalmente num
regime econômico estável. Com a presença da estabilidade econômica é
desnecessário manter estoques de produtos em casa, o que equivale a dizer
que o consumidor é quem “puxa” pelas atividades daquele tipo de
estabelecimento.

O sistema de produção puxada é uma maneira de conduzir o processo


produtivo de tal forma que cada operação requisite a operação anterior, e os
componentes e materiais para sua implementação, somente para o instante
exato e nas quantidades necessárias.

51
Esse método choca-se frontalmente com o tradicional, no qual a operação
anterior empurra o resultado de sua produção para a posterior, mesmo que esta
não necessite ou não esteja pronta para o seu uso.

Estendendo-se esse conceito a toda a empresa, conclui-se que é o


cliente quem decide o que vai produzir, pois o processo de puxar a produção
transmite a necessidade de demanda específica a cada elo da corrente.

Retornando ao seu país, aqueles técnicos japoneses procuraram adaptar


tudo o que haviam visto nas indústrias e nos supermercados americanos à sua
tecnologia de gerenciamento de produção inventada há um século, desde que
se lançaram ao mundo moderno.

Esses estudos determinaram a criação do sistema de administração da


produção “puxada”, controlada por meio de cartões – Kanban. No sistema de
administração da produção por meio de Kanban existem vários propósitos,
assim como em qualquer outro sistema. O mais importante é o de aumentar a
produtividade e reduzir os custos por meio da eliminação de todas as funções
desnecessárias ao processo produtivo.

O método é basicamente empírico, e consiste em identificar as operações


que não agregam valor. Estas são investigadas individualmente, e, por meio da
técnica da tentativa e erro, busca-se alcançar uma nova operação, que
apresente resultados considerados satisfatórios para aquele determinado
problema ou empresa específica.

O sistema Kanban não é uma receita pronta para ser aplicada


indistintamente em qualquer empresa, pois, mesmo dentro de uma única
empresa, poderão ser apresentadas soluções diversas para cada uma das
funções desnecessárias.
O conceito básico do sistema é fabricar bens com a completa eliminação
de funções desnecessárias à produção, na quantidade e tempo necessários.
Desta forma são eliminados os estoques intermediários e de produtos acabados,
com a conseqüente redução dos custos e o aumento da produtividade.

52
A grande maioria das pessoas confunde o Kanban e o Just-in-Time. O
Just-in-Time, que em português significa “no momento exato”, ou, na linguagem
cotidiana, “em cima da hora”, é um sistema de produção cuja idéia principal é
fabricar produtos na quantidade necessária e no momento exato em que o item
foi requisitado. A exigência de um produto pode ter origem interna ou externa à
fábrica. No caso da exigência interna, ela é feita por uma estação de trabalho
subseqüente àquela em que o item é produzido, já a externa pode ser por parte
do mercado consumidor.

O Kanban é uma ferramenta para administrar o método de produção JIT,


ou seja, é um sistema de informação por meio de cartões (tradução de Kanban),
para controlar as quantidades a serem manufaturadas pela empresa.

Para Shingo (1996), o Kanban da Toyota apresenta para cada tipo ou


número de peça uma caixa especial. Esta é destinada a conter determinada
quantidade (exata), de preferência bastante reduzida, de peças daquele número.
Dois são os cartões correspondentes a cada caixa, chamados Kanban, que
informam o número da peça, a capacidade da caixa e alguns outros dados.

Um Kanban, o da produção, destina-se ao centro usuário. Cada caixa


avança a partir do centro produtor (e seu ponto de estocagem) para o centro
usuário (e seu ponto de estocagem), e posteriormente retorna, ocorrendo no
caminho a troca de um Kanban pelo outro.

Existem diversos tipos de sistema Kanban; o sistema representado na


Figura 3.1 é o sistema de dois cartões, também conhecido como Kanban do tipo
A.

53
Fonte: Ghinato (2000)
Figura 3.1 – Kanban: produção puxada

Por meio do Kanban, o processo subseqüente (cliente) vai até o


supermercado (estoque) do processo anterior (fornecedor). De posse do Kanban
de retirada é possível retirar desse estoque exatamente a quantidade necessária
do produto a fim de satisfazer as necessidades.

O Kanban de retirada, então, retorna ao processo subseqüente,


acompanhando o lote de material retirado. No momento da remoção dos itens
pelo processo subseqüente, o anterior recebe o sinal para iniciar a produção
daquele por meio do Kanban de produção, que estava anexado ao lote retirado.

O sistema de controle da produção pelo Kanban deve funcionar, por meio


dos diversos centros produtivos da empresa, como uma corrente contínua
fechada. Como resultado os centros de fabricação do sistema produtivo
receberão, no momento exato, os itens necessários para que se cumpram os
objetivos do programa de produção, como se pode observar na Figura 3.2.

54
Fonte: Apostila de treinamento de Just-in-Time da Visteon (1997)
Figura 3.2 – Esquematização do controle de produção com Kanban

A eficiência do sistema Kanban está relacionada às seguintes regras:

• Somente o Kanban autoriza a produção. Os operários poderão cuidar


da manutenção ou trabalhar em projetos de melhoria, quando não
houver Kanban na caixa de remessa;

• há exatamente um Kanban para cada caixa, e a quantidade dessas


(com Kanban) por número de peça, no sistema, é fixada por decisão
estudada pela gerencia da empresa;
• só são usadas caixas padronizadas;
• o número de Kanban deve ser projetado para cobrir o lead time do
processo, que é o tempo utilizado para produzir peças acabadas,
durante o processo.

Pode-se usar o Kanban em toda e qualquer instalação que fabrique


diferentes produtos em unidades de processamento, de forma descontínua.

55
Porém nas linhas de processamento contínuo de uma única peça processada
em cada unidade, o Kanban é desnecessário.

O Kanban deve constituir um elemento do JIT. Pouco sentido haverá em


empregar um sistema de chamadas, no qual as peças necessárias ao centro
produtor demorem muito para serem cumpridas. Isto é perceptível nos casos
onde a preparação do maquinário demora horas e os lotes são grandes. A
principal característica do JIT é o de abreviar o período necessário à preparação
do maquinário e reduzir o tamanho dos lotes, permitindo rápidas “chamadas”
das peças dos centros produtores para os centros usuários.

As peças confeccionadas no sistema Kanban devem ser utilizadas todos


os dias. Esse sistema permite que pelo menos uma caixa cheia de itens de
determinado número esteja sempre à mão. Assim não haverá constituição de
um estoque ocioso se o conteúdo pleno da caixa for consumido no mesmo dia
em que for produzido.

As empresas que dispõem do sistema Kanban, geralmente o empregam


na produção e movimentação da peças de maior consumo. Recorrem a técnicas
ocidentais como o planejamento dos materiais necessários e o ponto de
renovação da encomenda para o atendimento dos componentes de menor uso.

Aos componentes de alto valor ou grandes dimensões não se deve


aplicar o sistema Kanban, pois são componentes de armazenagem cara ou
transporte.

Fluxo Contínuo

O Fluxo Contínuo é a resposta à necessidade de redução do lead time de


produção. A implementação de um fluxo contínuo na cadeia de agregação de
valor, normalmente requer a reorganização e o rearranjo do layout fabril. É
realizada a conversão dos tradicionais layouts funcionais (ou layouts por
processos) – onde máquinas e recursos estão agrupados de acordo com seus
processos (ex: grupo de fresas, grupo de retificas, grupo de prensas, entre

56
outros) – para células de manufatura compostas dos diversos processos
necessários à fabricação de determinada família de produtos.

A conversão das linhas tradicionais de fabricação e montagem em células


de manufatura é somente um pequeno passo em direção à implementação da
produção enxuta. O que realmente conduz ao fluxo contínuo é a capacidade de
implementação de um fluxo unitário (um a um) de produção, caso em que, no
limite, os estoques entre processos sejam completamente eliminados, conforme
mostra a Figura 3.3. Desta forma garante-se a eliminação das perdas por
estoque e perdas por espera e obtém-se a redução do lead time de produção.

Para Shingo (1996), a sincronização do fluxo de peças unitárias, pode


acabar com as esperas interprocessos. A implementação de um fluxo contínuo
de produção necessita de um perfeito balanceamento das operações ao longo
da célula de fabricação e montagem. A abordagem da Toyota para o
balanceamento das operações difere diametralmente da abordagem tradicional.

Conforme demonstra a Figura 3.4, o balanceamento tradicional procura


nivelar os tempos de ciclo de cada trabalhador, para que recebam cargas de
trabalho semelhantes. O tempo de ciclo é o tempo total necessário para que um
funcionário execute todas as operações alocadas a ele.

Tradicional (Tipo funcional) - O s trabalhadores estão separados

A B C
m atéria-prim a inventário inventário inventário inventário produto acabado

Fluxo contínuo: E lim ina as verdadeiras “estagnações” de trabalho em cada processo e entre
eles, viabilizando a produção 1 × 1

A B C P roduto
M aterial A cabado

Fonte: Ghinato (2000)

57
Figura 3.3 – Fluxo de produção tradicional versus fluxo unitário contínuo

60

50

40

30

20

10

0
O p #1 O p #2 O p #1 O p #2

T e m p o (s)

Fonte: Ghinato (2000)


Figura 3.4 – Balanceamento de operações tradicionais

O balanceamento das operações está fundamentalmente ligado ao


conceito do takt time. O takt time (TKT) é o tempo necessário para produzir um
componente ou um produto completo, baseado na demanda do cliente. Em
outras palavras, o takt time associa e condiciona o ritmo de produção ao ritmo
das vendas. Na lógica da “produção puxada pelo cliente”, o fornecedor produzirá
somente quando houver demanda. O takt time é dado pela equação:

Tkt = TOL/P
DC/P

Onde: Tkt = takt ime (min)


TOL = tempo operacional líquido (min)
DC = demanda do cliente ou necessidade do cliente
(unidades)
P = períodos ou turnos

A Figura 3.5, mostra um exemplo de cálculo de takt time, este representa o


tempo que o cliente deseja receber o produto versus o tempo de ciclo.

58
Fonte: Apostila Kaizen – Siemmens (2002)
Figura 3.5 – Cálculo do takt time

Do ponto de vista da operação do Sistema Toyota de Produção, a


linearização e o encadeamento do fluxo de materiais têm fundamental
relevância. Conforme Monden (1984), isso é realizado de duas formas gerais:

• Com a utilização do sistema kanban para a conexão de células de


produção;
• por meio da produção de fluxo unitário em linha (one piece flow) –
transferência de matérias entre postos de trabalho por meio de lotes
de tamanho igual a uma unidade (peça).

Objetivamente, o que ocorre é uma combinação dessas duas


modalidades. A gestão pelo tempo assume papel primordial na medida em que a
fábrica como um todo se adapta ao ritmo definido pela linha.

59
Troca Rápida de Ferramenta

Um dos maiores obstáculos à flexibilidade de fabricação é a incapacidade


de alterar os processos rapidamente em resposta às mudanças de demandas.
Trocas demoradas originam lotes e estoques grandes, baixa produtividade e
aquisição de equipamentos adicionais para evitar trocas. Estes são dispendiosos
devido ao custo do espaço na fábrica, que poderia ser usado para novas
atividades (FERREIRA, 2004).

O tempo de troca é definido como sendo o tempo transcorrido desde a


última peça produzida, do tipo de peça anterior, até a primeira peça boa, do tipo
de peça seguinte. A meta deve ser sempre a busca do tempo zero para que a
planta se torne cada vez mais flexível às mudanças de programação do cliente
reduzindo os níveis de estoque.

Um ponto importante na redução do tempo de troca é o treinamento dos


operadores para a realização sistêmica de troca, dividindo-se quando possível
as atividades. Este exemplo é comprovado em corridas de Fórmula 1, no qual há
um grupo de engenheiros responsáveis pela realização de trocas rápidas.

Outro ponto importante a ser considerado é a separação dos elementos


internos e externos:

a) Elementos Internos: são todas as atividades executadas enquanto a


máquina não está produzindo peças. Pode-se citar como exemplo a
remoção de dispositivo e montagem do novo dispositivo.
b) Elementos Externos: são todas as atividades relacionadas à montagem,
enquanto a máquina está produzindo peças boas. O transporte de
dispositivos e o material do almoxarifado para a máquina são alguns
exemplos.

Para Shingo (2000), a troca rápida de ferramentas permitiria a redução


dos tamanhos de lotes e conseqüentemente dos estoques (uma das sete perdas
– perda por superprodução).

60
Um ponto importante na utilização do sistema de troca rápida é a
eliminação de tempos externos utilizados como internos. Na maioria dos casos,
o tempo de troca pode ser reduzido de 30% a 50%. São exemplos, estabelecer
procedimentos formais de preparação, e certificar-se de que todas as
ferramentas necessárias para a efetivação da troca estejam facilmente
disponibilizadas.

Para auxiliar a identificação de atividades que podem ser eliminadas,


combinadas ou mudadas, utiliza-se uma seqüência de questionamentos
sistematizados. Estes podem ser observados no Quadro 3.6.

Quadro 3.6 – Questionamento sistematizado

Faça a Pergunta E Considerar a Ação


Qual o propósito?
O que

Eliminar Atividades
Esta atividade é necessária? Desnecessárias
Pode ser eliminada? Pergunte Por que Cinco Vezes
Onde está sendo feita?
Onde

Combinar ou Mudar o
Onde poderia ser feita Local
Por que precisa ser feita neste lugar?
Quando está sendo feita?
Quando

Por que estamos fazendo isto agora ao Combinar ou Mudar a


invés de outras coisas? Seqüência de Tempo
Quando poderia ser feita?
Quem está fazendo?
Quem

Combinar ou Mudar
Por que esta pessoa está fazendo isso? Pessoal
Quem deveria fazer isso?
Como está sendo feito?
Por que estamos fazendo desta forma?
Como

Simplificar ou Melhorar o
Existe um modo mais simple ou melhor de Método
atingir o mesmo resultado?
Como poderia ser feito?
Fonte: Apostila de treinamento de troca rápida da Eaton Corporation (1999)

Além de separar o tempo de preparação interno e externo, existem vários


outros métodos usados para ajudar a reduzir as trocas. São citados a
padronização de parafusos, de ferramentas e de trabalhos, onde quantidade,
tamanho e flexibilidade de mudança são analisados. Podem ainda ser utilizados
meios de identificação visual para facilitar o trabalho operacional.

61
Trabalho Padrão

O trabalho padrão pode ser definido como um método efetivo e


organizado de produzir sem perdas.

A padronização das operações visa obter o máximo de produtividade por


meio da identificação e padronização dos elementos de trabalho que agregam
valor e eliminação das perdas. O balanceamento entre os processos e a
definição do nível mínimo de estoque em processamento também são objetivos
desta (FERREIRA, 2004).

Para Monden (1984), são três os componentes da operação padronizada:


o takt time, a rotina padrão de operações e a quantidade padrão de inventário
em processamento, demonstrados na Figura 3.6.

P ro d u ção N iv elad a co m o
M ín im o d e M .O . e In v en tário

O perações P adro nizadas

R o tin a-P ad rão Q u a n tid ad e -P ad rã o d e


T ak t T im e
d e O p eraçõ e s In v en tá rio em P ro cessam en to

Fonte: Ghinato (2000)


Figura 3.6 – Componentes da operação padronizada

A rotina-padrão de operações é um conjunto de operações executadas


por um operador em uma seqüência determinada, permitindo-lhe repetir o ciclo
de forma consistente ao longo do tempo. Sua determinação evita que cada
operador execute, aleatoriamente, os passos de um determinado processo,

62
reduzindo as flutuações de seus respectivos tempos de ciclo, permitindo que
cada rotina seja executada dentro do takt time, de forma a atender a demanda.

A Figura 3.7 mostra uma seqüência de trabalho definida e realizada


dentro de um takt time, calculado em função de uma demanda.

HOMEM

Fonte: Apostila de treinamento de trabalho padrão da Eaton Corporation (1999)


Figura 3.7 – Seqüência de trabalho

A quantidade-padrão de inventário em processamento é a mínima


quantidade de peças em circulação, necessária para manter o fluxo constante e
a produção nivelada. Este nível pode variar de acordo com os diferentes layouts
de máquina e rotinas de operações. Se a rotina de operações segue a mesma
ordem do fluxo do processo, é necessário somente uma peça em
processamento em cada máquina, sendo dispensável manter qualquer estoque
entre as máquinas. Se a rotina é executada em direção oposta à seqüência de
processamento, é necessário manter no mínimo uma peça entre as operações.

63
Na determinação da quantidade-padrão de estoque (inventário) em
processamento, devem ser considerados os pontos de teste e verificação do
produto. Pequenas quantidades podem ser requeridas nestes pontos.

Manutenção Produtiva Total

Alguns estudiosos consideram a TPM, ou manutenção produtiva total,


como uma ferramenta abrangente que envolve todos os setores da organização,
teve a sua origem no TQM (total quality management - gestão da qualidade
total) conduzida pelas áreas de manufatura (FERREIRA, 2004).

Destaca-se uma frase de Nakagima (1989) referente ao assunto,


definindo TPM como a “Manutenção conduzida com a participação de todos”.
Neste sentido a palavra “todos”, significa, o envolvimento de todo o pessoal,
incluindo os elementos da média e alta direção num trabalho conjunto, o qual
não será conduzido por operadores de maneira voluntária. Ainda conforme
Nakajima (1989) “TPM representa uma forma de revolução, pois conclama a
integração total do homem x máquina x empresa, onde o trabalho de
manutenção dos meios de produção passa a constituir a preocupação e a ação
de todos”.

Assim, os autores ressaltam que um programa de TPM abrange todos os


departamentos, incluindo-se os departamentos de manutenção, operação,
transportes e outras facilidades, engenharia de projetos, engenharia de
planejamento, de construção, estoques e armazenagem, compras, finanças e
contabilidade e gerência da instalação. Desta forma, entendem que por meio da
participação ativa de todos os envolvidos no processo, de forma contínua e
permanente é possível de obter-se zero de quebra, de defeito e de perda no
processo.

Ao se estabelecer as relações das ferramentas da produtividade com a


Autonomação, que juntamente com o JIT se constituem os pilares de
sustentação do STP, Ghinato (1996) define a manutenção produtiva total, “como
uma abordagem de parceria entre a produção e a manutenção, para a melhoria

64
contínua da qualidade do produto, eficiência da operação, garantia da
capacidade e segurança”.

Para Takahashi (1993) a manutenção produtiva total, é uma campanha


que abrange a empresa inteira, com a participação de todo o corpo de
empregados para conseguir a utilização máxima do equipamento existente,
utilizando a filosofia do gerenciamento orientado para o equipamento. Com esta
campanha, eles entendem que melhorando as máquinas, dispositivos e
acessórios para torná-los mais confiáveis, seguros e de fácil manutenção,
treinando todo o pessoal para operá-los com eficiência e segurança, se estará
despertando o interesse dos operadores, educando-os para que cuidem das
máquinas da fábrica e garantindo a qualidade do produto.

A análise das diversas definições e conceitos conduz a um consenso de


que a TPM busca criar uma nova forma de trabalho, que maximize a eficiência
de todo o sistema produtivo.

Por isso, a TPM não deve ser encarada como uma simples ferramenta ou
programa. Esta é focada nas pessoas, utilizando o equipamento como material
de ensino necessário ao seu desenvolvimento.

De acordo com Querne (2001), hoje o TPM alcança um enfoque


estratégico na gestão das operações industriais, sendo uma das bases para a
obtenção de vantagem competitiva na produção. Com a atual evolução do
pensamento enxuto, criando-se um canal para ganhos em toda a cadeia
produtiva e a necessidade de grande flexibilidade de produção, podemos afirmar
que o TPM é um programa que promove os ganhos hoje necessários no atual
cenário competitivo. Isto porque é voltado para a otimização dos ativos,
diminuição dos custos de produção, de retrabalho, aumento da disponibilidade
operacional e aumento da capacidade de produção, e confiabilidade de toda a
organização promovendo o envolvimento de todos os funcionários para a
conscientização da necessidade constante da eliminação das perdas na
operação.

65
Para Shingo (1996) existem dois tipos de operação: aquelas que agregam
valor e as que não agregam valor. As primeiras transformam a matéria-prima,
modificando a forma ou a qualidade. Quanto maior o valor agregado, maior a
eficiência da operação. Porém, no chão de fábrica existem as atividades que
não agregam valor, as quais podem ser consideradas perdas, tais como as
causadas pela má manutenção de equipamentos, reparos e “retrabalhos”. É
exatamente para a eliminação destas perdas que o TPM é implementado
(FERREIRA, 2004).

Nakajima (1989) afirma que o TPM busca a conquista da quebra


zero/falha zero das máquinas e equipamentos. Uma máquina sempre disponível
e em perfeitas condições de uso propicia elevados rendimentos operacionais,
diminuição dos custos de fabricação e redução do nível de estoques.

Conforme Nakajima (1989), com a implantação do TPM, a performance


operacional das máquinas em geral pode apresentar incrementos de 17 a 26 %,
com redução dos defeitos nos produtos a um nível de até 1/10 da anteriormente
vigente. Isto proporciona um incremento da produtividade da mão de obra em
até 1,5 vezes.

Para Querne (2001), as empresas industriais estão com toda a sua


atenção voltada para a melhoria de seu desempenho, resultados e rentabilidade.
Com a aplicação do TPM, faz-se emergir oportunidades que vêem a melhorar as
resultados, o que raramente é ignorado pelos atuais Diretores Industriais.
Também promove o crescimento do ser humano, uma vez que seus princípios
estão fundamentados no trabalho em equipe. Portanto, as razões que levam à
implementação do TPM é o fato de ser um programa que deve fazer parte de
qualquer empresa que queira operar em um contexto de classe mundial. É uma
estratégia de negócios que visa a maximização da performance operacional,
eliminando parte das perdas operacionais, redução de produtos defeituosos no
processo e dos custos de manutenção, crescimento da organização pelo
desenvolvimento do ser humano, buscando o aumento da lucratividade. A

66
interpretação das definições e conceitos de TPM, permite destacar alguns
objetivos desta nova modalidade de gestão.

Para Mirshawka e Olmedo (1994) os cinco principais são: garantir a


eficiência global das instalações; implementar um programa de manutenção
para otimizar o ciclo de vida dos equipamentos; requerer o apoio dos demais
departamentos envolvidos no plano de elevação da capacidade instalada;
solicitar dados e informações de todos os funcionários da empresa; e incentivar
o princípio do trabalho em equipe para consolidar ações de melhoria contínua.

No campo da manutenção das máquinas e equipamentos, os Estados


Unidos foram os pioneiros na adoção da manutenção preventiva (MP), que
gradativamente evoluiu para manutenção do sistema de produção (MSP),
incorporando a prevenção de manutenção (PM), além dos tópicos oriundos da
engenharia da confiabilidade. O Japão assimilou todos estes conhecimentos, na
criação do TPM (FERREIRA, 2004).

Os primeiros contatos das empresas japonesas com estas técnicas


americanas ocorreram no início da década de 50, com apresentação e adoção
da manutenção preventiva. Na década subseqüente esta evoluiu para o sistema
de manutenção da produção e nos anos 70, consolidou-se no Japão.
Anteriormente o Japão se preocupava unicamente com a manutenção corretiva,
ou melhor, com o BM – breakdown maintenance, que visa somente as correções
acontecendo a posteriori.

De acordo com Querner (2001), a evolução de resultados da pesquisa


conduzida nos anos de 1976 a 1979 pela JIPM (Japan Institute of Plant
Maintenance) junto a 124 empresas associadas, concluiu-se a existência de
quatro estágios distintos na condução da manutenção no Japão, que foram:

Estágio 1 – Manutenção corretiva


Estágio 2 – Manutenção preventiva
Estágio 3 – Manutenção do sistema de produção
Estágio 4 – TPM

67
Neste período de três anos (1976-79), as empresas que declararam ter
adotado o TPM evoluíram de 10,6% para 22,8%, o que comprova a sua
consolidação dentro do cenário industrial em vigor.

TPM engloba também, as técnicas estabelecidas pela manutenção


preditiva (predictive maintenance), ou seja, o uso das ferramentas que
possibilitam o diagnóstico preliminar das máquinas e equipamentos.

Isto significa que a manutenção do futuro não mais será em TBM – time
based maintenance – ou seja, manutenção centrada no tempo de uso, para
passar a ser conduzida em CBM – condition based maintenance – que é a
manutenção baseada na performance e no desempenho.

O objetivo básico do TPM é ter zero de perdas. As perdas são os maiores


fatores de improdutividades no processo de produção. As grandes perdas são
classificadas da seguinte forma (FERREIRA, 2004):

Perdas por paradas;


perdas por ajustes e preparações;
perdas por defeitos;
perdas por acidentes;
perdas por paradas curtas.

Ao se zerar cada uma das perdas, o máximo do rendimento operacional


global tornar-se-á efetivo, conforme Nakajima (1989). O autor cita outra perda
que influi diretamente no rendimento operacional global, a “perda por queda da
velocidade de trabalho”.

Mapeamento do Fluxo de Valor

No mapeamento da cadeia de valor ou value stream mapping (VSM),


torna-se necessária a definição de valor. Segundo Womack (1998), o
mapeamento da cadeia de valor é feito pelo cliente, e só é significativo quando
expresso em termos de produto específico (bens ou serviços), de forma que
atenda às necessidades do cliente a um preço e momento específico.

68
Para Shingo (1996), a produção consiste em um grande fluxo de
processos e operações, sendo cada processo um fluxo de material. O processo
é a transformação da matéria-prima em produtos semi-acabados e as operações
são os trabalhos realizados para efetivar esta transformação – a interação do
fluxo de equipamento e operadores no tempo e no espaço.

Para Rother e Shook (1999), fluxo de valor é toda a ação (agregando


valor ou não) necessária para trazer um produto por todos os fluxos essenciais a
cada produto manufaturado, desde que possua etapas de fabricação:

• O fluxo de produção desde o recebimento da matéria-prima até o


consumidor final;
• o fluxo do projeto do produto, da concepção até o lançamento.

Para a correta abordagem da técnica, o fluxo de produção deve ser


coberto porta-a-porta dentro da planta, incluindo a entrega na planta do cliente e
o recebimento dos insumos de matéria-prima. Considerando o fluxo de
produção, o que normalmente vem à mente é o fluxo de material dentro da
fábrica. Mas há outro fluxo – o de informação – que informa à cada processo o
que fabricar ou fazer em seguida. Os fluxos de material e de informação devem
ser mapeados juntos.

Nessa abordagem é traçada uma visão do estado atual e projetada uma


idéia do estado futuro desejado. A partir daí, empregam-se várias ferramentas,
que são aplicadas sobre pontos críticos levantados pelo mapeamento do fluxo
do processo.

A Figura 3.8 mostra um exemplo de mapeamento de fluxo de valor:

69
Fonte: Rother e Shook (2002)
Figura 3.8 – Mapeamento de fluxo de valor

A Figura 3.9 apresenta exemplos de alguns ícones utilizados para facilitar


o entendimento dos mapas.

Os mapas tiveram a finalidade de mostrar o formato físico da produção


antes da implementação dos resultados propostos pela ferramenta, os quais
puderam ser observados no mapa do estado futuro implementado.

Na realização de um mapeamento, tanto o fluxo de processo quanto o de


informações devem ser trabalhados com a mesma importância. Anteriormente,
focava-se somente na produção, o desperdício do fluxo de informações não era
considerado, podendo aumentar ou reduzir o valor agregado, em função da sua
estrutura.

70
E
Fontes Externas
Processo de Estoque Meio de Entrega
Manufatura Caixa de
dados

Empurrar Produto acabado ao cliente


Programação Bola para puxar
seqüenciada

Kanban
Operador Puxada de
Física Produção
Pulmão ou Supermercado
Estoque de
segurança

2
Fluxo de informação
1-Manual
2-Eletrônica
Kanban de Retirada Posto Kanban Kanban de sinal

Fonte: Rother e Shook (1999)


Figura 3.9 – Ícones do mapeamento de fluxo de valor

Antes de ser feito o mapeamento do fluxo do valor, deve-se identificar


adequadamente a área que vai ser mapeada. Esta é chamada de linha, família
ou grupo de produtos.

71
Uma família é um grupo de produtos que passa por etapas semelhantes
de processamento e utiliza equipamentos comuns nos processos anteriores,
conforme os produtos A, B e C da Figura 3.10.

ETAPAS DE MONTAGEM E EQUIPAMENTOS

PRODUTOS 1 2 3 4 5 6 7 8

A X X X X X

B X X X X X X

C X X X X X X

D X X X X X

E X X X X X

F X X X X X

G X X X X X

Fonte: Rother e Shook (1999)


Figura 3.10 – Distribuição dos produtos

Cabe-se fazer uma análise do estado corrente da produção a ser


estudada, a fim da implementação de melhorias, garantindo a eliminação de
desperdícios.

O mapeamento deve ser inicializado dentro do conceito porta-a-porta,


desenhando-se o processo de fabricação por meio da utilização dos ícones
sugeridos, ou de ícones adicionais, que sejam de fácil compreensão por todos
da empresa.

Quando necessário, o nível da amplitude poderá ser mudado,


focalizando-se o mapeamento de cada etapa individual em um tipo de processo,
ou ampliando-se para abarcar o fluxo de valor externo à planta.

72
Na realização de um mapeamento, tanto o fluxo de processo, quanto o de
informação deve ser trabalhado com a mesma importância. Anteriormente à
utilização dos conceitos de produção lean, o foco era somente na produção, não
sendo considerado o desperdício do fluxo de informações, que pode aumentar
ou reduzir o valor agregado dependendo da sua estrutura. De acordo com
Rother e Shook (1999), é eficiente a utilização de “dicas” para este
mapeamento:

• As informações de estado atual, quando possível, devem ser


coletadas junto dos fluxos reais de materiais e informação;
• uma caminhada geral ao longo do fluxo deve ser feita, para a
compreensão do processo. Posteriormente informações de cada fase
deverão ser reunidas;
• o trabalho de mapeamento deve começar pela expedição, ou seja, do
ponto mais próximo do cliente para o início da cadeia;
• os dados teóricos, como tempo de ciclo, devem ser medidos para
evitar falhas por falta de atualização de documentações;
• o desenho do mapa deverá ser feito à mão e lápis, para facilitar as
anotações e modificações necessárias, em campo.

Durante a observação da planta estudada, dados importantes puderam


ser coletados para definir como será o estado futuro. Para isto, a utilização dos
ícones deve ser considerada como fundamental nesta coleta, como: tempo de
ciclo (tempo que leva entre um componente e o próximo para saírem do mesmo
processo); o tempo de troca (tempo para mudar a produção de um tipo de
produto para o outro); número de pessoas necessárias para operar o processo,
que pode ser indicado com um ícone de operador; tempo disponível no turno
daquele processo; e outros dados que devem ser considerados se julgados
relevantes para o estudo.

Ainda durante o trabalho de mapeamento, provavelmente serão


encontrados lugares onde o estoque se acumula. Estes pontos deverão ser

73
devidamente representados para serem avaliados, pois estoque representa
"dinheiro parado".

Posteriormente, um segundo aspecto deverá ser considerado no


mapeamento: o fluxo de informação, por meio do qual é dito o que fabricar e
quando, em cada processo. Nesta fase é importante um levantamento de como
as informações caminham pela fábrica, pois sua distorção ou falta pode
acarretar uma produção empurrada e ocasionar perdas.

Após a elaboração de um mapa de estado atual, poderão ser observados


os diversos desperdícios correntes, tendo-se oportunidades de melhorias, para a
elaboração do mapa futuro.

Para combater os potenciais desperdícios apresentados acima utilizam-se


algumas técnicas descritas a seguir:

• Eficiência sistêmica: ser uma empresa enxuta não significa ter uma
linha de produção em forma de célula operando por meio de Kanban.
Para tal faz-se necessário ter toda a estrutura lean, desde os meios
para se produzir até as ferramentas para que se possa produzir;
• takt time: se o objetivo é combater o excesso de produção, deve-se
produzir essencialmente o que será utilizado pelos clientes, na
velocidade com que utilizam o produto. O que configura o takt time,
que é a velocidade com que o cliente utiliza uma unidade do produto
fabricado pelo fornecedor;
• manufatura celular: antes da introdução da manufatura celular, as
empresas trabalhavam em linhas de montagem ou em agrupamento
de máquinas, onde várias destas, pertencentes ao mesmo modelo
efetuavam o trabalho reunidas no mesmo espaço físico.Com a
introdução da manufatura celular as linhas viraram células com
diferentes tipos de máquina e de onde o produto pode sair semi-
acabado ou já pronto para ser entregue ao cliente.

A vantagem da manufatura celular está no fato de não haver excesso de


estoques entre operações intermediárias, uma vez que a peça entra e sai numa

74
seqüência de operações. Outro grande benefício é a possibilidade de um
problema relacionado à qualidade poder ser rapidamente diagnosticado,
evitando-se a contaminação de um lote inteiro.

Ainda na manufatura celular existe a necessidade de um operador com


postura multifuncional, ou seja, é necessário conhecer e estar habilitado a
operar vários tipos de equipamentos dentro da mesma célula de produção.

• Equipamentos adequados: os equipamentos à disposição dos


operadores sejam o mais adequado possível às necessidades da
produção. As “improvisações” que comumente estão presentes no dia-
a-dia da produção devem ser identificadas e eliminadas, no sentido de
prover aos operadores as melhores condições de trabalho,
eliminando-se possíveis perdas de tempo na procura de dispositivos,
ajustes e outros;

• fluxo contínuo: um fluxo contínuo de processo é importante por evitar


excesso de produção, como altos estoques entre operações, que
muitas vezes escondem diversos tipos de desperdício como má
qualidade, tempos de troca de produto (set-up), alta e baixa
produtividade do equipamento ocasionada por algum motivo de
quebra constante, falta de manutenção, entre outros;

• Kanban: segundo Rother e Shook (1999), “a mais importante fonte de


desperdício é o excesso de produção, que significa produzir mais,
antes, ou mais rápido do que é requerido pelo processo seguinte”. O
Kanban atua exatamente nesse ponto, limitando a produção de itens e
quantidades desnecessárias, por meio do uso de cartões sinalizadores
de produção e disciplina dos operadores que possuem autoridade
para conduzir a produção.

Por meio do mapeamento do fluxo de valor, os desperdícios podem ser


destacados e eliminados. Este ganho potencial é projetado no mapa do estado
futuro que pode se tornar real em pequenos intervalos de tempo, dependendo
diretamente de decisões estratégicas.

75
O mapa do estado futuro visa à construção de uma cadeia de produção,
no qual os processos individuais sejam articulados aos seus clientes por meio de
fluxo contínuo ou puxado, sendo produzido apenas o que o cliente precisa no
momento certo. Para isto são adotadas algumas regras para a obtenção de um
melhor êxito na implantação do sistema:

• Encontre o takt time para a cadeia de valor, pois este indicará o ritmo
em que a fábrica deverá trabalhar para a obtenção de peças focadas
ao fluxo contínuo, produzindo-se de acordo com a demanda do
cliente. Desta forma muitos dos inventários de processo poderão ser
minimizados ou até mesmo eliminados;

• defina onde será usado o sistema de puxadas, geralmente com a


utilização de supermercados, Kanban e sua metodologia de trabalho.
Esta definição dependerá de fatores como os padrões de compra do
cliente (interno ou externo), a confiabilidade dos processos e as
características do produto;

• introduza o nivelamento das atividades permitindo que o operador


atue de forma multifuncional, executando sempre um trabalho padrão;

• desenvolva o comprometimento dos operadores para com os cuidados


de seu equipamento, incluindo lubrificação e algumas pequenas
manutenções (TPM). Este ponto é tido como base para o sucesso do
sistema, pois um sistema enxuto está diretamente relacionado com as
condições de seus equipamentos;

• projete/opere usando times multifuncionais para assegurar que o


sistema (não apenas o processo) seja otimizado. O maior desperdício
é não usar o raciocínio de uma equipe de trabalho. Se o desejo é
assegurar que o sistema seja otimizado, é necessário envolver todas
as pessoas que dão suporte ao sistema;

• mantenha a simplicidade das atividades evitando soluções


aparentemente fantásticas, mas extremamente complexas. Isso

76
mantém as pessoas comprometidas com o processo e capazes de
melhorar o sistema e de mantê-lo, facilita o treinamento e o tempo de
respostas às mudanças;

• use os recursos de informática para auxiliar em simulações. Uma


simulação pode avaliar vários layouts de processos e pode ajudar a
determinar qual projeto satisfaz melhor a necessidade do seu cliente.
Fluxos de processos, tempos de ciclo estimados, taxas de rejeição,
tempo de conserto e downtime de máquina fornecem a base para
todos os modelos de simulação utilizados nesse processo;

• pratique as melhorias contínuas (Kaizen) para eliminar desperdícios,


os quais podem ser observados somente após a instalação da planta,
pois o mapeamento da cadeia de valor é um documento “vivo” que
pode ser constantemente melhorado.

A representação do estado futuro também é feita com a utilização de


ícones que desenham uma nova cadeia de valor esperada, a qual foi projetada a
partir da identificação dos desperdícios do mapa de estado atual.

A seqüência de abordagem das regras para a projeção do estado futuro


varia de caso a caso, e a distinção entre as etapas pode parecer muito sutil, pois
elas estão acontecendo praticamente ao mesmo tempo.

Para que se crie um maior impacto financeiro por meio da utilização do


mapeamento é sugerido que a implementação seja feita por meio da utilização
do fluxo contínuo, devido a sua simplicidade de execução e facilidade na
identificação de desperdícios. Outras ferramentas podem ser utilizadas para se
definir quais melhorias de processo serão necessárias para o fluxo de valor fluir
conforme especifica o projeto do estado futuro.

Desenvolver fluxos contínuos, puxados e nivelados exige esforços


diferenciados de trabalho de preparação. Por exemplo, antes de se alcançar um
alto grau de nivelamento, pode ser necessário um maior aprofundamento em
troca rápida. Ou, antes de se esperar que os processos operem eficientemente

77
no takt time, pode ser necessária uma revisão dos equipamentos para o
aumento de sua confiabilidade.

Quando houver dúvidas sobre a priorização de ferramentas, recomenda-


se que sejam implementados os pontos mais evidentes identificados no
mapeamento do estado atual, que apresentem uma maior facilidade de sua
realização. Esta decisão motiva a equipe envolvida, devido a visualização de
pontos concretizados.

A projeção do estado futuro permitirá à equipe envolvida uma


visualização rápida dos potenciais ganhos, porém para obter uma mensuração
exata torna-se necessária sua efetivação, pois as previsões podem ser muitas
vezes otimistas ou pessimistas em excesso.

Kaizen

Kaizen é um termo japonês que pode ser interpretado como melhoria


contínua do homem, porém quando aplicado à empresa, é interpretado,
também, como melhoria continuada dos processos de produção e
administrativos. Busca a perfeição do processo produtivo, uma vez que este não
acaba, ou seja, após um Kaizen, sempre haverá outros futuros, mantendo
sempre “aceso” o sistema.

Segundo Imai (1986), “Kaizen significa melhoria contínua. Mais do que


isto significa continuar melhorando na vida pessoal, da vida do lar, na vida
social, na vida profissional. Quando aplicado ao local de trabalho, kaizen
significa melhoria continua envolvendo a todos, desde gerentes até funcionários
por igual”.

Com o direcionamento para custeio, o Kaizen pode ser tratado como uma
melhoria contínua aplicada à redução de custos no estágio de produção da vida
de um produto.

Para Brimson (1996), a melhoria contínua significa que a excelência


empresarial necessita de aprimoramento em todas as atividades. Por isso, faz-

78
se necessário o gerenciamento das atividades para minimizar os desperdícios,
buscando-se a perfeição em todas áreas.

Kaizen é um conceito de guarda-chuva, que abrange a maioria das


práticas “exclusivamente japonesas” que recentemente atingiram fama mundial.
O recado da estratégia do Kaizen é que nenhum dia deve passar sem que
algum tipo de melhoramento tenha sido feito em algum lugar da empresa, este
deve ser uma rotina na busca da excelência dos processos produtivos.

Na Figura 3.11, pode-se observar o conteúdo do conceito citado como


guarda-chuva:

- Orientação para o consumidor - Kanban


- CTQ (Controle total da Qualidade) - Melhoramento da qualidade
- Robótica - Just-In-Time
- Círculo de CQ (Controle de - Zero defeito
Qualidade) - Atividades em grupos pequenos
- Sistema de sugestões - Relações cooperativas entre
- Automação administração e mão de obra
- Disciplina no local de trabalho
- Melhoramento da produtividade

Fonte: Imai (1998)


Figura 3.11 – O guarda-chuva do Kaizen

O Kaizen também é um processo de resolução de problemas, pois, exige


o uso de várias ferramentas de solução. O melhoramento atinge novas alturas
com cada problema que é resolvido, e para consolidar o novo nível deve ser
padronizado.

79
O primeiro pilar do Kaizen é o orientado para a administração. Ele é
crucial, já que se concentra nas mais importantes questões logísticas e
estratégicas e oferece o incentivo para manter o progresso e a moral. Os tipos
de projetos de Kaizen, estudados pela administração, exigem experiência
sofisticada em resolução de problemas, bem como conhecimento profissional e
de engenharia, embora as simples ferramentas estatísticas possam ser
suficientes em determinadas situações.

Os projetos de Kaizen normalmente se manifestam na forma de


sugestões. Portanto a atenção e a receptividade da administração para com o
sistema de sugestões é essencial, caso deseje ter “operários pensantes”, que
procuram por maneiras melhores de realizar o seu serviço. Desta forma deve-se
haver a implantação de um plano bem projetado para assegurar que o sistema
de sugestões seja dinâmico.

Estes sistemas de sugestões estão em operação na maioria das grandes


empresas de manufatura e em cerca da metade das pequenas e médias
empresas. Segundo a Associação Japonesa de Relações Humanas, os
principais temas das sugestões neste sistema das empresas japonesas são:

• Melhoramentos no próprio trabalho;


• economia de energia, materiais e outros recursos;
• melhoramentos no ambiente de trabalho;
• melhoramentos nas máquinas e processos;
• melhoramentos nos dispositivos e ferramentas;
• melhoramentos no trabalho de escritório;
• melhoramentos na qualidade do produto;
• idéias de novos produtos;
• serviços e relações com o consumidor.

3.2 A CONSTRUÇÃO LEAN

A organização da produção predominante na construção civil é muito


heterogênea. Apresenta características manufatureiras, prevalecendo a

80
atividade manual no processo de trabalho, com a preservação de determinadas
habilidades por parte dos trabalhadores, porém também apresenta aspectos
tayloristas-fordistas. Algumas destas podem ser exemplificadas, em relação à
concepção e execução, divisão do trabalho (especialização e fragmentação do
controle), mecanismos de simplificação e intensificação do trabalho pelo
aumento de escala, conforme a seguir:

• Parte do conhecimento detido pela mão-de-obra operária, com maior


parte dominado pelos engenheiros e arquitetos, tais como domínio de
projeto, cálculo estrutural, projetos de instalações e outros;
• especialização de operários, dentre eles, carpinteiros, armadores,
pedreiros, eletricistas, entre outros;
• máquinas substituindo a força de trabalho humana: betoneira,
furadeira, grua, elevador de carga, e demais;
• pouco trabalho de capital intensivo, exemplificando-se por meio de
situações específicas como, a construção de casas populares, com
uso de pré-moldados ou em estruturas metálicas.

Esse setor busca novas formas de organização da produção e do trabalho, de


modo a obter ganhos de produtividade e qualidade. Nesse sentido e a partir da
publicação do trabalho Application of the new production philosophy to
construction, de Koskela (1992) do Technical Research Center (VTT) da
Finlândia, foi criado o IGLC – International Group for Lean Construction – o qual
dedica-se à adaptação e disseminação do modelo da produção lean no setor da
construção civil em diversos países.

A concepção da nova produção construtiva, ou construção lean, refere-se


a um conjunto de metodologias, técnicas e ferramentas, cuja origem é no Just-
in-Time, e em esforços de controle da qualidade total, inicialmente aplicados na
fabricação de carros e na construção civil (KOSKELA, 1992).

81
3.2.1 Modelo Tradicional de Processos (Modelo de Conversão)

A diferença básica entre a filosofia gerencial tradicional e a da produção


lean é essencialmente conceitual. A mudança mais importante para a
implantação é a introdução de uma nova forma de conceber os processos.

O modelo conceitual dominante na construção civil costuma definir a


produção como um conjunto de atividades de conversão, que transformam os
insumos (materiais, informação) em produtos intermediários (por exemplo,
alvenaria, estrutura, revestimento) ou final (edificação), conforme a Figura 3.12.
Por esta razão, é também denominado de modelo de conversão (ISATTO et al,
2000).

Fonte: Adaptado de Koskela (1992)


Figura 3.12 – Modelo de processo tradicional

Este modelo apresenta, implicitamente, as seguintes características:

• O processo de conversão pode ser sub-dividido em sub-processos.


Por exemplo, a execução da estrutura metálica de um edifício pode
ser sub-dividida em içamento e montagem das peças;
• o esforço de minimização do custo total de um processo em geral é
focado no esforço de minimização do custo de cada sub-processo
separadamente;
• o valor do produto (output) de um sub-processo é associado somente
ao custo (ou valor) dos seus insumos. Desta forma, assume-se que o
valor de um produto pode ser aumentado somente por meio da

82
utilização de materiais de melhor qualidade ou mão-de-obra mais
qualificada.

As principais deficiências do modelo de conversão são as seguintes:

• Existe uma parcela de atividades que compõem os fluxos físicos entre


as atividades de conversão (fluxos de materiais e de mão-de-obra), as
quais não são explicitamente consideradas. Estas atividades não
agregam valor, o que não ocorre com as atividades de conversão. Em
processos complexos, como é o caso da construção de edificações, a
maior parte dos custos são originados nestes fluxos físicos. Koskela
cita: estima-se que cerca de dois terços (67%) do tempo gasto pelos
trabalhadores em um canteiro de obras consiste nas operações que
não agregam valor: transporte, espera por material, retrabalhos e
outras;
• o controle da produção e o esforço de melhorias tende a ser focado
nos sub-processos individuais e não no sistema de produção como um
todo. Uma excessiva ênfase em melhorias nas atividades de
conversão, principalmente por meio de inovações tecnológicas, pode
deteriorar a eficiência dos fluxos, de outras atividades de conversão e
limitar a melhoria da eficiência global. Fato perceptível por meio da
introdução de um novo sistema de vedações verticais em substituição
à alvenaria convencional. Desta forma pode haver um aumento da
produtividade da atividade de execução de paredes, porém há o risco
de um impacto pequeno na melhoria da eficiência do processo como
um todo, caso não haja uma redução significativa no tempo gasto em
atividades que não agregam valor, tais como transporte de materiais,
esperas por parte de equipes subseqüentes entre outras.

Koskela (1992) aponta 3 grupos críticos nos conceitos gerenciais


convencionais: método seqüencial na realização do projeto, falta de
considerações em relação à qualidade e controle segmentado. Estes violam

83
princípios de desenho de processo como fluxo e aperfeiçoamento, conduzindo a
fluxos não otimizados e a uma expansão de atividades que não agregam valor.

Isatto et al (2000) salientou que o modelo tradicional de conversão não é


necessariamente errado. Ele é perfeitamente aplicável a sistemas de produção
relativamente simples, centrados em apenas um processo de conversão. À
medida que os sistemas de produção tornaram-se mais complexos e os
mercados mais competitivos, o modelo de conversão passou a não representar
adequadamente os sistemas de produção.

3.2.2 O Modelo de Processo da Construção Lean

O modelo de processo da construção lean, por sua vez, assume que um


processo consiste em um fluxo de materiais, desde a matéria prima até o
produto final. Constituído por atividades de transporte, espera, processamento
(ou conversão) e inspeção conforme Figura 3.13. Estas atividades de transporte,
espera e inspeção não agregam valor ao produto final, sendo denominadas
atividades de fluxo (ISATTO et al, 2000).

Nem toda a atividade de processamento agrega valor ao produto. Por


exemplo, quando as especificações de um produto não forem atendidas após a
execução de um processo e existe a necessidade de retrabalho, significa que
atividades de processamento foram executadas sem agregar valor.

Fonte: Isatto et al (2000)


Figura 3.13 – Modelo de processo da construção lean

84
A geração de valor é outro aspecto que caracteriza os processos na
construção lean. O conceito de valor está diretamente vinculado à satisfação do
cliente, não sendo inerente à execução de um processo. Assim, um processo só
gera valor quando as atividades de processamento transformam as matérias
primas ou componentes nos produtos requeridos pelos clientes, sejam eles
internos ou externos.

O modelo de processo da Figura 3.13 é aplicável não só a processos de


produção, que têm um caráter físico, mas também a processos de natureza
gerencial, tais como planejamento e controle, suprimentos, projeto, entre outros.
No caso de processos gerenciais, ao invés de materiais, ocorre o transporte,
espera, processamento e inspeção de informações (fluxo de informações). Por
exemplo: no processo de projeto os principais dados de entrada são as
informações relativas às necessidades dos clientes, às características do terreno
e legislação pertinente que, após sucessivas atividades, são transformadas no
produto projeto (arquitetônico, estrutural, instalações, entre outros).

Além dos fluxos de montagem, de materiais e de informações, existe um


outro tipo de fluxo na produção que necessita ser devidamente gerenciado,
denominado fluxo de trabalho. Este fluxo refere-se ao conjunto de operações
realizadas por cada equipe no canteiro de obras. A operação, neste contexto,
refere-se ao trabalho realizado por equipes ou máquinas. A Figura 3.14 ilustra a
diferença entre os fluxos de materiais (processo) e os de pessoas (operações)
num sistema de produção. Algumas operações podem estar fora do fluxo de
materiais como, por exemplo, manutenção de equipamentos, limpeza, entre
outros. Por outro lado, algumas atividades do processo não envolvem
operações, como é o caso de espera (estocagem) de materiais.

85
Fonte: Isatto et al (2000)
Figura 3.14 – Relação entre fluxo de materiais e fluxo de trabalho

Os fluxos de materiais, de mão-de-obra e de equipamento não pertencem


ao mesmo eixo, mas, em conjunto formam uma rede conforme apresentado na
Figura 3.15 (SHINGO, 1996).

O conteúdo dos processos consiste de quatro etapas (SHINGO, 1981):

• Processamento: quando em alteração da forma ou substância,


mudança de propriedades, montagem ou desmontagem;
• inspeção: quando em verificação da conformidade, comparação com
um padrão;
• transporte: quando em mudança de posição ou deslocamento;
• espera: corresponde ao tempo decorrido sem haver processamento,
inspeção ou transporte.

86
Fonte: Shingo (1996)
Figura 3.15 – A estrutura da produção

A operação consiste de ações por meio das quais operadores e máquinas


transformam os materiais. Corresponde ao fluxo de operadores e máquinas
(fluxo de trabalho), ao longo do tempo e espaço simultaneamente. Diversos
materiais (objetos da produção) são trabalhados por estes ao longo do tempo e
espaço. As operações são classificadas da seguinte maneira (SHINGO, 1981):

• Operações de Preparação e Pós-Ajuste (Operações de Setup):


referem-se à preparação dos materiais, ferramentas, máquinas, e
outros, antes de uma operação principal ser executada. Inclui,
também, as operações pós-ajustes, tais como limpeza;
• Operações Principais: referem-se ao trabalho real, correspondendo,
respectivamente, aos quatro fenômenos do processo – operação de
processamento, inspeção, transporte e espera;
• Folgas: são operações que não ocorrem regularmente; podem ser
divididas em dois tipos: humanas e não-humanas. Dentre as primeiras
encontram-se como folgas por fadiga e para higiene pessoal,
decorrentes da necessidade humana e as outras são as folgas

87
operacionais e entre operações, decorrentes da manutenção e espera
de materiais.

O conceito de processo de produção como uma rede formada pela


interseção de processo e de operações, segundo Shingo (1981), é a mais
fundamental e inovadora diferença entre os sistemas convencionais de produção
e os da nova concepção. A clara separação entre as funções de processo e
operação como uma rede determinou um avanço significativo nos métodos de
produção nos últimos anos.

Diferencia-se, portanto da concepção ocidental, onde os termos operação


e processamento significam a mesma coisa. Os itens definidos nos orçamentos
convencionais e nos planos de obra implicitamente contém as referidas
atividades de fluxo. Entretanto, o fato das mesmas não serem explicitadas
dificulta a sua percepção e prejudica a gestão da produção. À medida que os
sistemas de produção tornaram-se mais complexos e os mercados mais
competitivos, o modelo de conversão passou a não representá-los
adequadamente. A complexidade tende a aumentar a parcela de atividades que
não agregam valor no sistema de produção, exigindo-se devida atenção às
mesmas por meio do modelo da construção lean (MUÑOS, 2001).

Para Koskela (1992), a aplicação dos conceitos do novo modelo


construtivo exige uma mudança do modelo gerencial da ênfase nas atividades
de conversão para a abordagem sistêmica do processo. Esta mudança requer o
desenvolvimento de habilidades gerenciais relacionadas à visão sistêmica e
aprendizagem coletiva, observando-se a necessidade dos conhecimentos
individuais e de alterações na gestão do processo de produção como um todo.
Todos os processos envolvidos na construção civil estão embasados em
atividades de conversão e em atividades de fluxo. Este pesquisador defende que
apenas as atividades de conversão agregam valor ao produto e, por isso
precisam ser eficientes; enquanto que as atividades de fluxo não agregam valor
e, por isso, devem ser, sempre que possível, eliminadas do processo ou
minimizadas continuamente.

88
3.2.3 Fluxo na Construção

Diante de todas as peculiaridades e deficiências, Koskela (1992) observa


que a construção deve ser vista como um fluxo de processos, sendo que os
problemas de fluxo mais comuns de construção são causados por projetos,
produção e conceitos de organização tradicionais ou pelas peculiaridades da
construção. Por isso fez considerações sobre esses tópicos. Ao analisar os
processos de fluxo na construção, foram destacados os dois principais
processos numa construção:
• Processo de Projeto – é o estágio no qual as especificações, as
necessidades vagas e os desejos são transformados em
requerimentos, por meio de um variado número de passos para
desenhos detalhados.
• Processo de Construção – é composto do processo do fluxo dos
materiais no canteiro e do processo de trabalho das equipes da
construção.

Os processos podem ser caracterizados pelos seus custos, duração e


valor para o cliente. O valor consiste de dois componentes: desempenho do
produto e ausência de defeitos (conformidade com as especificações). Deve ser
avaliado pela perspectiva do próximo cliente e do cliente final. Custo e duração
dependem da eficiência de atividades que agregam valor e do montante de
atividades que não agregam valor.

Desta forma, o custo do projeto é composto pelas atividades que


agregam valor e por perdas. As últimas são formadas por retrabalho (devido a
erros de projeto detectados durante sua elaboração) e por atividades que não
agregam valor em informações e fluxos de trabalho. O processo de projeto tem
dois clientes: o processo de construção e o cliente propriamente dito.

O valor para o cliente é determinado por:

• A conversão otimizada das necessidades implícitas e explicitas numa


solução de projeto;

89
• o nível de otimização atingido;
• o impacto dos erros de projeto descobertos durante o início e o uso.

O valor do projeto para o processo de construção é determinado por:

• O nível pelo qual as necessidades e imposições do processo de


construção foram analisadas;
• o impacto dos erros de projeto detectados durante a construção.

Já as perdas inerentes à construção são criadas por:

• Retrabalho devido a erros de projeto ou construção;


• atividades que não agregam valor no fluxo dos materiais e do trabalho,
tais como espera, movimentação, inspeção, atividades duplicadas e
acidentes.

O processo da construção visa atingir o maior valor agregado da


construção para o cliente que é determinado pelo grau e quantidade de
desperdícios descobertos durante o mesmo. O foco primário, no projeto, está
assim em minimizar a perda de valor, ao passo que, na construção está na
redução dos desperdícios, apesar de ambos serem reais e consideráveis.

A longo prazo, as organizações da construção devem buscar a evolução


dos processos de modo a encontrar e atingir a prática mais adequada. No
entanto, até mesmo a melhor delas tem um potencial a ser desenvolvido, e a
eficiência da mesma deve estar em constante crescimento, ou seja, com
melhoria contínua visando à perfeição. Sendo assim, há necessidade da busca
por inovação, no sentido de utilizar-se novos equipamentos que possam
assegurar menor variabilidade e novos materiais que possibilitem a simplificação
de um processo.

Dessa forma, Koskela (1992) conclui que:

• Tempo e valor, além dos custos, são influenciados pelas decisões no


projeto;
• influências nos custos, tempo e valor inerentes ao projeto, são
equivalentes à manipulação das características de fluxo;

90
• custo, tempo e valor também são dependentes dos esforços de longo
prazo das organizações participantes da melhoria contínua.

Para monitorar e avaliar a construção, há que se determinar medidas ou


indicadores que irão proporcionar melhorias internas na organização e permitir
uma comparação com outros projetos e organizações. As medidas
convencionais de construção, que mais freqüentemente focam em custo e
produtividade, falham em tornar evidentes as perdas, estimulando a melhoria
contínua. Koskela (1992) aponta alguns problemas encontrados na construção
no que se refere à utilização de medidas ou indicadores:

• Projetos únicos, relacionados à falta de repetição e incertezas ambientais


as quais, à primeira vista, podem tornar difícil a comparação entre
projetos e organizações;
• dificuldade de coleta de dados no canteiro de obras;
• definições e procedimentos variáveis para a coleta de dados.

Para que haja a comparação com outros projetos e organizações, esse


autor sugere a prática de Benchmarking, com informações e taxas de melhoria.
O nível médio da indústria para medida de desempenho é interessante, mas
potencialmente contraprodutivo. Isto induz à complacência naquelas
companhias superiores à média. Para as que estão piores que a média, o
objetivo implícito apontado por este Benchmarking é a média.

Conforme já foi mencionado, os conceitos tradicionais de gerenciamento


não apenas ignoram, mas ativamente deterioram os fluxos da construção.
Assim, é conveniente introduzir métodos alternativos que garantam a melhoria
do fluxo.

Superação de problemas de fluxo causados pelas peculiaridades da


construção:

Devido as suas peculiaridades, Koskela (1992) diz que a indústria da


construção é freqüentemente vista numa classe própria, diferente da indústria
em geral. São usualmente apresentadas razões e desculpas, para que

91
procedimentos úteis e bem estabelecidos da indústria não sejam implementados
na construção. O autor identifica peculiaridades da construção referentes aos
seguintes fatores:

• Projetos de natureza única, impossibilitando comparações;


• canteiros de obra com espaços físicos variados;
• organização multitemporária, serviços e mão-de-obra com
rotatividade.

Estas peculiaridades podem evitar fluxos com a mesma eficiência


daqueles do setor industrial. No entanto, os princípios gerais para o projeto do
fluxo e seu aperfeiçoamento podem ser aplicados aos fluxos de construção,
buscando melhorias (MENDES, 2002).

3.2.4 Perdas

3.2.4.1 Papel das perdas no processo

Existem muitas divergências no setor da construção civil em relação ao


conceito de perdas e a forma de medi-las. Em função disto, existem debates
quanto à validade e ao significado dos indicadores de perdas apresentados em
diferentes estudos (ISATTO et al, 2000).

Com freqüência as perdas na construção civil são consideradas como


sinônimo de entulho, como restos de madeiras, argamassa, blocos e outros
materiais, os quais não apresentam possibilidade de reaproveitamento. Ou seja,
perda é entendida como todo material sem valor, que sobra ao final da obra ou
serviço.

Por serem visíveis, as perdas são facilmente mensuráveis. Por isso o


custo das perdas pode ser calculado sem maiores dificuldades, pela
multiplicação da quantidade perdida (entulho) de cada material por seu valor
unitário. Conseqüentemente, a determinação do custo das perdas de uma obra

92
é obtido a partir da soma dos custos das perdas de cada um dos materiais
empregados na mesma.

No entanto, tal conceito nem sempre é adequado, principalmente quando


se considera os crescentes níveis de competição no setor. Devido ao seu
caráter restrito, a compreensão das perdas como sinônimo de entulho resulta
em uma visão muito restrita do potencial de melhorias efetivamente existentes
na empresa, podendo em muitos casos conduzir à compreensão (errônea) de
que uma obra sem entulho é uma obra eficiente não podendo, portanto,
apresentar melhorias (ISATTO et al, 2000).

Na construção lean o conceito de perdas está fortemente associado à


noção de agregar valor, não se limitando apenas ao consumo excessivo de
materiais. Assim, as perdas são relacionadas ao consumo de recursos de
qualquer natureza, tais como materiais, mão-de-obra, equipamentos e capital,
acima da quantidade mínima necessária para atender os requisitos dos clientes
internos e externos (ISATTO et al, 2000).

Entretanto, uma parcela que não agrega valor pode ser considerada
inerente ao processo, à medida que não pode ser eliminada sem uma mudança
no método de trabalho. A Figura 3.16, ilustra o conceito de perdas, no qual a
atividade do operário é dividida em trabalho e perda. São reunidas duas
categorias de atividades: as que agregam valor e as que não agregam valor,
porém são essenciais ao processo sem uma mudança de método de trabalho. A
perda corresponde às atividades que não agregam valor, mas que podem ser
eliminadas do processo.

93
atividade do
trabalhador

Fonte: Isatto et al (2000)


Figura 3.16 – Classificação dos movimentos dos operários

Pode-se assim admitir que existe um nível aceitável de perdas (perdas


inevitáveis) que só pode ser reduzido por meio de uma mudança significativa no
desenvolvimento tecnológico e gerencial da empresa. Considerando este
pressuposto, as perdas podem se classificadas da seguinte forma:

• Perdas inevitáveis (ou naturais): correspondem a um nível aceitável,


que é identificado quando o investimento necessário para sua redução
é maior do que a economia gerada. O nível de perdas considerado
inevitável pode variar de uma empresa para outra e de obras,
pertencentes à mesma empresa, variando em função do patamar de
desenvolvimento da mesma;
• perdas evitáveis: ocorrem quando os custos de ocorrência são
maiores que os custos de prevenção. São conseqüências de um
processo de baixa qualidade, no qual os recursos são empregados
inadequadamente.

94
A Figura 3.17 ilustra a distribuição dos custos típicos de um processo
antes e depois da ocorrência de melhorias, no qual observam-se as seguintes
mudanças:

• Pequena redução de custos nas atividades que agregam valor por


meio da melhora na eficiência;
• Média redução de custos nas atividades que não agregam valor por
meio da melhoria da sua eficiência ou de sua eliminação;
• Grande redução dos custos eliminando-se as perdas, principalmente
as atividades que não agregam valor. Uma pequena parcela de
perdas permanece, pelo fato de sua eliminação não ser
economicamente viável, a menos que ocorram mudanças substanciais
nos métodos utilizados.

Fonte: Isatto et al (2000)


Figura 3.17 – Distribuição de custos típica antes e depois de um processo de
melhoria

Não se pode afirmar que existe, para cada material, um percentual único
de perdas que pode ser considerado inevitável para todo o setor. Existem
diversos valores, os quais dependem do nível de desenvolvimento gerencial e
tecnológico da empresa. A competitividade da mesma é alcançada na medida
em que a organização persegue a redução de perdas continuamente (ISATTO et
al, 2000).

95
3.2.4.3 Razões para se medir as perdas

Existem várias razões pelas quais uma empresa deve engajar-se na


medição das perdas no seu sistema de produção:

• Visibilidade: a medição das perdas permite avaliar a eficiência


alcançada pelo sistema de produção na utilização de recursos. Desta
forma, obtém-se visibilidade em relação aos processos de produção,
identificando-se os pontos fortes e fracos e estabelecendo-se
prioridades para melhorias. Sobretudo, pode-se observar situações
nas quais existem oportunidades de melhorias, que podem
proporcionar um aumento no grau de competitividade da empresa;
• controle: a empresa pode utilizar indicadores de perdas para definir
padrões de desempenho dos seus processos, a partir dos quais os
mesmos podem ser controlados. A medição de perdas passa, então, a
ser utilizada para a identificação de desvios e também para
acompanhar a evolução do próprio desempenho da empresa ao longo
do tempo;
• melhoria: à medida que as empresas decidem intervir nos processos,
os indicadores de perdas podem ser utilizados para estabelecer metas
de melhorias, a partir de médias setoriais ou de Benchmarks obtidos
em outras empresas. Neste caso, é possível avaliar o impacto das
ações de melhoria sobre o desempenho do processo;
• motivação: as medições contribuem na motivação e no envolvimento
das pessoas com o desenvolvimento de melhorias, pois permite ao
indivíduo um retorno quanto ao seu próprio desempenho e do
processo no qual está inserido (ISATTO et al, 2000).

96
3.2.5 Perdas ou Desperdícios

Para que haja uma perfeita compreensão da utilização das palavras


“perdas” e “desperdício” neste trabalho, será apresentada a Figura 3.18, a qual
mostrará que não são sinônimos, sendo o último uma fração da primeira:

Fonte: Muños (2001)


Figura 3.18 – Representação do conceito de perdas e desperdício

Segundo a Figura 3.18, as perdas englobam a parcela inevitável e o


desperdício o que poderia ser evitado.

3.2.6 Princípios da Construção Lean

Alguns problemas peculiares da construção são conhecidos e precisam


ser analisados para que possam ser melhorados: projetos diferentes a cada vez,
o canteiro de obra, multiorganização temporária e intervenção regulatória de
órgãos governamentais. Apesar de a construção possuir estas características,
várias indústrias apresentam outras, as quais são difíceis, entretanto não deixam
de progredir. Assim, a construção pode e deve promover ações para aprimorar o
fluxo do processo construtivo.

Koskela (1992) aponta onze princípios para que haja um fluxo no


processo construtivo e um sistema lean:

1o - Reduzir tarefas que não agregam valor;

97
2o - aumentar o valor do produto considerando as necessidades dos
clientes;
3o - reduzir a variabilidade;
4o - reduzir o tempo de ciclo;
5o - simplificar reduzindo o número de passos, partes e linkages;
6o - aumentar a flexibilidade de saída;
7o - aumentar a transparência do processo;
8o - focar o controle em todo o processo;
9o - introduzir melhoria contínua no processo;
10o - balancear melhoria do fluxo com melhoria de conversão;
11o - fazer benchmarking.

Isatto et al. (2000) observam que esses princípios têm uma forte interação
entre si e devem ser aplicados de forma integrada na gestão de processos. Cita-
se, por exemplo, que o princípio de aumentar a transparência facilita a
identificação e eliminação da parcela de atividades que não agregam valor,
enquanto a redução do tempo de ciclo cria condições favoráveis para a melhoria
contínua. A seguir, são apresentadas as características desses princípios:

3.2.6.1 Reduzir tarefas que não agregam valor

Por esse princípio fundamental, entende-se que não é apenas com a


melhoria da eficiência das atividades de conversão e de fluxo que é possível
melhorar a eficiência dos processos e reduzir as suas perdas, mas também pela
eliminação de algumas das atividades de fluxo.

Isatto et al. (2000) salientam, porém, que não deve ser levado ao extremo
esse princípio de eliminar atividades de fluxo, pois existem atividades que não
agregam valor ao cliente final de forma direta, porém são essenciais à eficiência
global dos processos. Por exemplo: controle dimensional, treinamento de mão-
de-obra, instalação de dispositivos de segurança. Para melhor avaliar os
processos, esses autores sugerem que as atividades de fluxo sejam explicitadas
para serem mais bem avaliadas e, se possível, eliminadas.

98
A maioria dos princípios seguintes estão de alguma forma relacionados à
meta de reduzir a parcela das atividades que não agregam valor. Em geral o
primeiro passo para atingir este objetivo é explicitar as atividades de fluxo, por
exemplo, por meio da representação do fluxo do processo. Uma vez
explicitadas, estas atividades podem ser controladas e, se possível, eliminadas.

Como exemplo da prática pode ser citado o emprego de um dispositivo de


suporte do mangote utilizado no bombeamento de argamassa, conforme Figura
3.19. Este permite que o servente realize uma atividade que agrega valor
(espalhar a argamassa), e não simplesmente segurar o mangote, ou realizar
outras atividades auxiliares (ISATTO et al, 2000).

Fonte: Isatto et al (2000)


Figura 3.19 – Exemplo de situação na qual foi eliminada uma atividade que não
agrega valor

3.2.6.2 Aumentar o valor do produto considerando as necessidades dos


clientes

Diretamente relacionado ao conceito de processo como gerador de valor.


Koskela (1992) destaca que, para cada atividade, existem dois tipos de cliente, o
da próxima atividade e o final. Por isso este princípio abrange o atendimento às
necessidades desses dois tipos de cliente, o interno e o externo, o que só é

99
possível se for considerado tanto na fase de projeto como na construção. Para
essa última fase, deve-se elaborar um mapeamento do processo para a
identificação sistemática dos clientes e de seus requisitos para cada estágio
desse processo.
Koskela (1992) salienta que os princípios organizacionais e de controle da
filosofia tradicional de produção tendem a diminuir as necessidades dos clientes.
Em muitos processos, os clientes nunca foram identificados, nem suas
necessidades esclarecidas. O princípio dominante de controle tem sido o de
minimizar custos em cada estágio, e isso não permite a otimização dos fluxos
funcionais cruzados na organização.

Isatto et al. (2000) sugerem por exemplo que, para a fase de projeto,
tenha-se em mãos dados relativos aos requisitos e preferências dos clientes
finais que podem ser obtidos por meio de pesquisas de mercado ou de
avaliações pós-ocupação de obras já entregues.Tais informações devem ser
claramente comunicadas aos projetistas por meio de planilhas e reuniões, desde
a concepção do empreendimento até o detalhamento do projeto.

Para a fase de produção, este princípio também pode ser aplicado: a


equipe de cada processo deve ver a próxima equipe de trabalho como seu
cliente interno, executando seu serviço dentro das tolerâncias e necessidades
do próximo processo.

3.2.6.3 Reduzir a variabilidade

Isatto et al. (2000) apresentam três tipos de variabilidade presentes num


processo de produção:

• Variabilidade nos processos anteriores (vinculada aos


fornecedores do processo), por exemplo: blocos cerâmicos com
grandes variações dimensionais;

100
• variabilidade no próprio processo (relacionada à execução de um
processo), como: variação na duração da execução de uma
determinada atividade, ao longo de vários ciclos;
• variabilidade na demanda (relacionada aos anseios e
necessidades dos clientes de um processo), verifica-se por meio
de: determinados clientes de uma incorporadora quando solicitam
mudanças de projeto da edificação.

Salienta-se também que a natureza da variabilidade também se modifica,


podendo estar relacionada com a qualidade do produto, com a duração das
atividades ou com os recursos consumidos.

Do ponto de vista do cliente, a variabilidade deve ser reduzida, pois um


produto uniforme, que atende às especificações pré-determinadas, gera maior
satisfação ao cliente, seja ele interno ou externo. Quanto à produção, a redução
de variabilidade tende a aumentar a parcela de atividades que não agregam
valor e o tempo necessário para executar um produto. Isto porque pode
ocasionar a interrupção de fluxos de trabalho, causada pela interferência entre
as equipes. Fato devido a uma equipe ficar parada ou precisar ser deslocada
para outra frente de trabalho, em função de atrasos da equipe antecedente, e
pela recusa de produtos fora de especificação (gerando retrabalhos ou rejeitos).
Observa-se assim, como já dito, a interação entre os princípios da construção
lean.

No contexto da construção civil, a variabilidade e incerteza tendem a ser


elevadas, em função do caráter único do produto, das condições locais que
caracterizam uma obra, da natureza dos seus processo de produção, cujo ritmo
em grande parte é controlado pelo homem, e da própria falta de domínio das
empresas sobre seus processos. Apenas parte desta variabilidade pode ser
eliminada, principalmente por meio da padronização de processos minimizando
os efeitos nocivos da mesma.

Como exemplo prático deste princípio pode-se citar a utilização de um


procedimento padronizado de execução de instalações sanitárias, que pode

101
reduzir o surgimento de vazamentos posteriores, eliminando-se assim a
incidência de retrabalhos. A padronização de processos envolve também o
treinamento dos envolvidos com base nos padrões definidos pela empresa, o
planejamento e o controle adequado da execução no qual é definido o
seqüenciamento das tarefas e são disponibilizados os recursos necessários
(ISATTO et al, 2000).

3.2.6.4 Reduzir o tempo de ciclo

Este princípio tem origem na filosofia do Just-in-Time. Segundo Koskela


(1992), o fluxo de produção pode ser caracterizado pelo tempo de ciclo, o qual
se refere ao tempo requerido para uma peça particular de material percorrer o
fluxo. O tempo de ciclo constitui-se da soma dos tempos de transporte, espera,
processamento e inspeção utilizados para produzir determinado produto. Ao
buscar-se a redução do tempo de ciclo, busca-se paralelamente a redução das
atividades de fluxo, a concentração da produção em lotes menores e a
eliminação das interdependências entre as atividades para que possam ser
executadas em paralelo.

Isatto et al. (2000) apontam os seguintes ganhos obtidos como


conseqüência da redução do tempo de ciclo:

• A entrega ao cliente é mais rápida: as equipes se dedicam à


conclusão de um pequeno conjunto de unidades e não ficarem
espalhadas por todo o canteiro de obra, assim configurando lotes de
menor produção. Se possível, as unidades são entregues aos clientes
mais cedo, o que tende a reduzir o custo financeiro do
empreendimento. Além disso, em alguns segmentos de mercado, a
velocidade de entrega é uma dimensão competitiva geralmente
importante, pois os clientes necessitam dos produtos num prazo
relativamente curto (por exemplo, construção de shopping centers e
fábricas);

102
• a gestão dos processos torna-se mais fácil: o volume de produtos
inacabados em estoque (denominado de trabalho em processo) é
menor, o que tende a diminuir o número de frentes de trabalho,
facilitando o controle da produção e do uso do espaço físico
disponível;
• o efeito de curva de aprendizagem tende a aumentar: como os lotes
são menores, existe menos sobreposição na execução de diferentes
unidades. Assim, os erros aparecem rapidamente, podendo ser
identificadas e corrigidas as causas dos problemas. O aprendizado
obtido nas unidades iniciais pode então ser aproveitado para melhoria
do processo na execução das unidades posteriores;
• a estimativa de futuras demandas é mais precisa: como os lotes de
produção são menores e concluídos em prazos reduzidos, a empresa
trabalha com uma estimativa mais precisa da demanda. Isto torna o
sistema de produção mais estável;
• o sistema de produção torna-se menos vulnerável à mudanças de
demanda: pode-se obter um certo grau de flexibilidade para
atendimento da demanda, sem elevar substancialmente os custos.
Algumas alterações de produto solicitadas podem ser implementadas
com facilidade nos lotes de produção subseqüentes.

A redução do tempo de ciclo envolve um conjunto de ações, tais como:

• Eliminação de atividades de fluxo que fazem parte do ciclo de


produção;
• concentração do esforço de produção em um menor número de
unidades (lotes menores), por meio do planejamento e controle da
produção;
• mudanças nas relações de precedências de forma que possam ser
executadas em paralelo.

Como exemplo prático são citadas as duas possíveis estratégias para


execução de um empreendimento hipotético, segundo a Figura 3.20. A primeira

103
tem um tempo de ciclo bem maior que a segunda. Pode-se observar que no
segundo caso, os primeiros lotes a serem produzidos podem ser entregues mais
cedo, há menos trabalho em progresso, o potencial para a aplicação do efeito
aprendizagem é maior, assim como a flexibilidade oferecida nos lotes finais.
Além disso, os erros, que porventura venham a ocorrer nos lotes iniciais
aparecerão mais rapidamente no segundo caso, e poderão ser corrigidos nos
lotes subseqüentes.

Fonte: Isatto et al (2000)


Figura 3.20 – Duas formas de planejar uma mesma obra hipotética

3.2.6.5 Simplificar reduzindo o número de passos e relações de trabalho

Reduz a complexidade do produto ou do processo, uma vez que a grande


complexidade aumenta os custos, além dos próprios custos de partes ou passos
individuais. Koskela (1992) salienta que a contabilidade convencional apresenta
o preço diferencial de dois materiais, mas não os custos adicionais criados no
sistema de produção como um todo devido ao uso de dois passos ou mais em
lugar de um só. O autor coloca também que outro problema fundamental de
complexibilidade é a confiabilidade: sistemas complexos são inerentemente

104
menos confiáveis que sistemas simples. Além disso, a habilidade humana para
lidar com complexibilidade é limitada e pode ser facilmente excedida.

A simplificação é freqüentemente utilizada no desenvolvimento de


sistemas construtivos racionalizados. Quanto maior o número de componentes
ou de passos num processo, maior tende a ser o número de atividades que não
agregam valor. Isto ocorre em função das tarefas auxiliares de preparação e
conclusão, necessárias para cada passo no processo (por exemplo, montagem
de andaimes, limpeza, inspeção final entre outros), e também pelo fato de que,
na presença de variabilidade, ocorrer uma tendência ao aumento da
possibilidade de interferências entre as equipes.

A simplificação pode ser assim entendida como:

• Redução do número de componentes de um produto;


• redução do número de passos no fluxo do material ou no fluxo de
informação.

Pode-se obter simplificação pela eliminação de atividades que não


agregam valor ou pela reconfiguração de partes ou passos que agregam valor.
Mudanças organizacionais também podem ocasionar simplificação, uma vez que
a divisão do trabalho vertical e horizontal também possui atividades que não
agregam valor e que podem ser eliminadas por meio de unidades independentes
(times polivalentes e autônomos).

O planejamento eficaz do processo de produção busca eliminar


interdependências e agregar pequenas tarefas em atividades maiores. Além
disso, a disponibilização de materiais, equipamentos, ferramentas e informações
em locais adequados tende a eliminar ou reduzir a ocorrência de movimentos e
deslocamentos desnecessários provocadas por interrupções na tarefa.

Koskela (1992) sugere alguns exemplos de simplificação:

• Redução de fluxos pela consolidação de atividades;


• redução do número de partes de produtos por meio de mudanças de
desenho ou do uso de peças pré-fabricadas;

105
• padronização de partes, materiais, ferramentas entre outras;
• minimização para uma quantidade necessária de informações de
controle.

Um exemplo prático é apresentado na Figura 3.21 com duas alternativas


para a execução de vergas. No caso da verga pré-moldada, existe uma redução
significativa no número de passos pois o próprio pedreiro pode posicioná-la,
durante a execução da alvenaria. No caso da verga moldada no local, o
processo de execução de alvenaria precisa ser interrompido, resultando em
atividades que não agregam valor, como espera da cura do concreto e
subseqüente desforma da verga para recomeço do processo (ISATTO et al,
2000).

Fonte: Isatto et al (2000)


Figura 3.21 – Minimização no número de passos na execução de alvenaria

3.2.6.6 Aumentar a flexibilidade de saída

À primeira vista, aumentar a flexibilidade de saída com simplificação


parece ser contraditório. No entanto, muitas empresas têm obtido sucesso em
atingir os dois objetivos simultaneamente. Koskela (1992) cita que um dos
elementos-chave para atingir esse princípio é o desenho de um produto

106
modulado em conjunto com o uso agressivo de outros princípios, especialmente
redução do tempo de ciclo e transparência.

O aumento de flexibilidade de saída está também vinculado ao conceito


de processo como gerador de valor. Refere-se à possibilidade de alterar as
características dos produtos entregues aos clientes, sem aumentar
substancialmente os custos dos mesmos. Embora esse princípio pareça
contraditório com o aumento da eficiência, muitas indústrias têm alcançado
flexibilidade mantendo elevados níveis de produtividade.

Isatto et al. (2000) citam algumas abordagens para atingir esse princípio:

• Redução do tempo de ciclo, pela redução do tamanho dos lotes;


• uso de mão-de-obra polivalente, capaz de se adaptar facilmente à
mudanças na demanda;
• customização do produto no prazo mais tardiamente possível;
• utilização de processos construtivos que permitam a flexibilidade do
produto sem grande ônus para a produção.

Como exemplo prático tem-se algumas empresas atuantes no mercado


imobiliário que adiam a definição do projeto e, em alguns casos, a execução das
divisórias internas de gesso acartonado de algumas unidades conforme
mostrado na Figura 3.22. Esta estratégia permite aumentar a flexibilidade do
produto, dentro de determinados limites, sem comprometer substancialmente a
eficiência do sistema de produção (ISATTO et al, 2000).

107
Fonte: Isatto et al (2000)
Figura 3.22 – Execução de divisórias de gesso acartonado

3.2.6.7 Aumentar a transparência do processo

Santos et al (2000) definem transparência como capacidade de um


processo de produção (ou de suas partes) se comunicar com as pessoas. A falta
de transparência no processo aumenta a propensão ao erro, reduz a visibilidade
dos mesmos e diminui a motivação para melhoria, segundo Koskela (1992).
Assim, é importante tornar o processo de produção transparente e observável
para facilitar o controle e a melhoria. E isto pode ser alcançado de modo que o
processo fique observável por meio de setores organizacionais e físicos, e
dispositivos públicos de informação. Desta forma, o objetivo é substituir o
autocontrole por controle formal e relato de informações coletadas.

Segundo Santos et al. (2000), a maneira pela qual as informações são


organizadas para facilidade de acesso é a característica peculiar de
transparência, segundo as teorias atuais. Na comunicação convencional, as
informações são “empurradas”, e o usuário tem pouco ou nenhum controle sobre
a qualidade e o tipo de informações transmitidas ou recebidas. Por outro lado,
na construção lean nada é transmitido: um campo de informações é criado a
partir do qual elas podem ser “puxadas” por qualquer pessoa a qualquer
momento.

108
Além das vantagens apontadas por Koskela (1992) relacionadas à
implementação da transparência e já apontadas, Santos et al. (2000) citam mais
algumas:

• Simplificação e maior coerência na tomada de decisão;


• incentivo a contatos informais, por meio dos diferentes níveis
hierárquicos;
• contribuição à introdução de políticas descentralizadas;
• ajuda na ampliação da participação e autonomia dos funcionários na
administração;
• distribuição mais eficaz de responsabilidades;
• melhoria da motivação dos funcionários;
• maior eficácia na programação de produção;
• simplificação dos sistemas de controle de produção;
• rápido atendimento e solução de problemas.

Isatto et al. (2000) também sugerem mais algumas formas de aplicar esse
princípio:

• Remoção de obstáculos visuais, tais como divisórias e tapumes;


• utilização de dispositivos visuais, como cartazes, sinalização luminosa,
demarcação de áreas, que disponibilizam informações relevantes para
a gestão da produção, entre outros;
• emprego de indicadores de desempenho, que tornam visíveis os
atributos do processo, tais como nível de produtividade, número de
peças rejeitadas entre outros;
• programas de melhoria da organização e limpeza, como o programa
5S e outros.

Um exemplo prático é observado na Figura 3.23 que apresenta um


dispositivo de controle de utilização do espaço que mantém o ambiente de
trabalho transparente, suscetível à observação (ISATTO et al, 2000).

109
Fonte: Isatto et al (2000)
Figura 3.23 – Exemplo de aplicação do princípio da transparência de processos

Santos et al. (2000) acrescentam a importância do planejamento


adequado de layout, de iluminação ou de um planejamento melhor do fluxo das
estações de trabalho, de modo a permitir a observação a partir do maior número
possível de perspectivas e o conseqüente aumento da transparência. Reafirma a
importância desse princípio, o qual deve ser praticado por gerentes e operários
da construção civil, de modo a permitir também a aplicação plena de outros
princípios.

A observação dos processos e operações pode resultar na eliminação


das perdas existentes nos fluxos, por meio do melhor planejamento e controle
dos mesmos. Isto pode conduzir à redução do tempo de ciclo, bem como ao
balanceamento das melhorias a serem implementadas nos fluxos e conversões,
dentro de um processo de melhoria contínua conforme mostra a Figura 3.24
(ALVES, 2000).

110
Fonte: Alves (2000)
Figura 3.24 – Relação entre o princípio da transparência e os princípios da
construção lean

3.2.6.8 Focar o controle em todo o processo

Um dos grandes riscos dos esforços de melhorias é subotimizar uma


atividade específica dentro de um processo, com um impacto reduzido (ou até
negativo) no desempenho global do mesmo. Esta situação é muito comum em
processos de produção fragmentados, como é a execução de uma obra, nos
quais existem muitos projetistas, empresas subcontratadas e fornecedores
independentes (ISATTO et al, 2000). Nesta linha, Shingo (1996), um dos
idealizadores do Sistema Toyota de Produção, propõe que primeiro devam ser
introduzidas melhorias nos processos (fluxo de montagem, de materiais e de
informações) para depois serem estudadas melhorias nas operações (tarefas
realizadas por pessoas e máquinas). Assim, é importante que o processo como

111
um todo seja controlado, deve haver um responsável por este controle.
Dependendo da natureza do processo, se gerenciado pode apresentar a
necessidade de envolver toda a cadeia produtiva neste esforço e não apenas
uma única organização (ISATTO et al, 2000).

Koskela (1992) aponta duas causas de controle segmentado do fluxo. Na


primeira, o fluxo atravessa diferentes unidades numa organização hierarquizada
e, na segunda, cruza os limites da organização. Em ambos os casos, há risco de
subotimização. Em obras, essa situação é comum por tratar-se de processos de
produção fragmentados, nos quais existem vários projetistas (projetos
arquitetônico, estrutural e vários outros dependendo do tipo de obra), empresas
subcontratadas e fornecedores independentes.

Desta forma existem dois pré-requisitos para que haja controle sobre todo
o processo. Primeiro o processo tem de ser avaliado como um todo e segundo,
precisa haver uma autoridade para controlá-lo.

Diversas alternativas utilizadas, em organizações hierarquizadas, são


apontados responsáveis para os processos de funções cruzadas, com
responsabilidade para eficiência e eficácia do mesmo. Uma solução mais radical
é deixar times autodirigidos controlarem seus processos.

Para fluxos que vão além da organização, é necessário envolver toda a


cadeia produtiva, realizando cooperações de longo prazo com fornecedores e
organizando times com o objetivo de gerar benefícios mútuos, proporcionando
um fluxo totalmente otimizado.

A aplicação deste princípio baseia-se fortemente na mudança de postura


por parte dos envolvidos na produção, principalmente no que tange à percepção
sistêmica dos problemas, procurando entender o processo como um todo, ao
invés de um foco restrito em operações. Também requer uma disposição em
estabelecer parcerias com fornecedores. Finalmente, envolve a definição clara
de responsabilidade pelo controle global do processo (ISATTO et al, 2000).

112
Um exemplo prático é o custo da alvenaria que pode ser
significativamente reduzido se houver um esforço de desenvolvimento integrado
com o fornecedor de blocos, no sentido de introduzir a paletização conforme
pode ser observado na Figura 3.25. Se a melhoria envolver o processo como um
todo, pode-se obter diversos benefícios, tais como a redução do custo do
carregamento e descarregamento, entregas com hora marcada, redução dos
estoques na obra, entre outros ganhos. Esta melhoria é muito mais significativa
se comparada com uma iniciativa individual de paletização, restrita apenas ao
canteiro de obra.

Fonte: Isatto et al (2000)


Figura 3.25 – Exemplo de paletização praticada pelo fornecedor

3.2.6.9 Introduzir melhoria contínua no processo

O esforço contínuo reduz o desperdício e aumenta o valor na gestão de


processos, por meio de uma atividade de caráter incremental e interna à
organização. Esse princípio é um componente importante tanto da manutenção
da qualidade total, quanto do Just-in-Time.

Isatto et al. (2000) apontam o trabalho em equipe e a gestão participativa


como requisitos essenciais para a introdução de melhoria contínua nos
processos. Além disso, sugerem a aplicação das seguintes medidas que

113
contribuem para direcionar o esforço de melhoria e consolidar os avanços
obtidos:

• Utilização de indicadores de desempenho para monitorar o processo;


• definição clara de prioridades e metas a serem alcançadas;
• padronização de procedimentos, de forma a consolidar boas práticas e
servir de referência para futuras melhorias;
• criação de uma postura de identificação das causas reais dos
problemas e implementação de ações corretivas.

A utilização de ferramentas da qualidade, tais como, fluxograma, ciclo


PDCA (plan, do, check, act), diagrama de Pareto, e outros, podem ser muito
úteis na prática da melhoria contínua. A formação de times de melhoria também
é uma boa prática, os quais vão mapear o processo, coletar dados referentes
aos problemas mais freqüentes, discutir suas principais causas e propor um
plano de ações corretivas.

3.2.6.10 Balancear melhoria do fluxo com melhoria de conversão

Na melhoria das atividades produtivas, tanto melhorias de fluxo quanto de


conversão são importantes e devem ser avaliadas. Esse princípio propõe assim
um equilíbrio dessas duas alternativas.

Todo processo produtivo possui aspectos de conversão e de fluxo, os


quais possuem um potencial diferenciado para melhoria. Isatto et al. (2000)
colocam que, quanto maior a complexidade do processo produtivo, maior o
impacto da melhoria de fluxo; e que, quando existem perdas inerentes à
tecnologia sendo utilizada, as melhorias no processamento (conversão) são
mais vantajosas. Outro aspecto a ser considerado é que, em situações nas
quais os fluxos foram negligenciados por décadas, o potencial para melhorias
dos mesmos é maior do que para melhorias de conversão. Por outro lado, as
melhorias de fluxo podem ser iniciadas com investimentos menores do que as
melhorias de conversão, no entanto requerem um tempo maior para resultados.

114
Koskela (1992) coloca que as melhorias de fluxo e de conversão estão
conectadas:

• Melhores fluxos requerem menor capacidade de conversão e, por sua


vez, menor investimento em equipamentos;
• fluxos mais controlados permitem a implementação de novas
tecnologias de mais fácil conversão;
• novas tecnologias de conversão geram menor variabilidade e,
portanto, benefícios de fluxo.

Para que haja o equilíbrio necessário entre melhorias nos fluxos e


melhorias nas conversões, Isatto et al. (2000) propõem uma alternância entre a
melhoria incremental, participativa, focada nas atividades de fluxo, e a inovação
tecnológica, em geral de origem externa à organização, que envolve mudanças
mais radiais nas organizações. A melhoria incremental requer liderança da
gerência na condução das ações internas, e a inovação tecnológica, por sua
vez, necessita de uma visão do ambiente fora da empresa, visando à
identificação de inovações que podem se adaptar à sua realidade.

Pode-se citar a melhoria do desempenho na execução de sistemas de


vedação vertical em alvenaria de blocos cerâmicos, o que requer um esforço de
eliminação de perdas nas atividades de transporte, inspeção e estoques. A partir
do momento que este processo atinge elevados níveis de racionalização, passa-
se a avaliar a possibilidade de introduzir uma inovação tecnológica nas
atividades de conversão, como, por exemplo, por meio da utilização de divisórias
leves ou painéis pré-moldados. Uma vez introduzida esta inovação, há a
necessidade de uma melhoria contínua, visando a aumentar o desempenho das
atividades de fluxo (ISATTO et al, 2000).

115
3.2.6.11 Fazer benchmarking

Para Isatto et al. (2000), Benchmarking consiste em um processo de


aprendizado a partir das práticas adotadas em outras empresas, consideradas
líderes num determinado segmento ou aspecto específico da produção.

No entanto, a definição do conceito de Benchmarking possui várias


interpretações, principalmente no que se refere à sua abrangência. No que diz
respeito a essas diferentes definições, Santos et al. (1997) identificam alguns
princípios de caráter fundamental, cujos principais são:

• É voltado para melhoria contínua;


• é um processo de médio e longo prazo;
• busca as razões das diferenças de desempenho;
• é pautado pela busca de ganhos competitivos.

Ao mesmo tempo, Santos et al. (1997) citam alguns aspectos que não
podem ser identificados como Benchmarking:

• Análise competitiva: Benchmarking não pode ser entendido como


análise competitiva, dado que não envolve apenas a investigação,
mas também a análise e a descrição dessas práticas de referências e,
no final do processo, a adaptação criativa;
• cópia: não se trata de copiar o sucesso de outras empresas, nem
mesmo pode ser utilizado como meio de espionagem industrial. O
objetivo real é construir performance superior por meio do aprendizado
com os sucessos (e também as falhas) de outras empresas, reduzindo
o desperdício de tempo e recursos;
• gerência pelos números: não é uma simples comparação de números,
uma vez que se deve considerar o ambiente no qual o processo se
desenvolve, assim como avaliadas as causas do desempenho
elevado. Esta pode ser uma tendência por parte de alguns gerentes
hábeis com a manipulação de números.

116
Camp (1989), citado por Koskela (1992), aponta os seguintes passos
básicos para se fazer Benchmarking:

• Conhecer o processo, determinando os pontos fortes e fracos dos


subprocessos;
• conhecer os líderes no segmento industrial ou os competidores,
encontrando, entendendo e comparando as melhores práticas;
• incorporar o melhor, modificando ou incorporando as melhores
práticas em seus próprios subprocessos;
• ganhar superioridade pela combinação dos pontos fortes existentes e
das melhores práticas externas.

Este princípio de uma certa forma contrasta com o princípio relacionado à


introdução da melhoria contínua a partir do esforço interno da empresa. Assim, a
competitividade da empresa deve ser o resultado da combinação dos seus
pontos fortes (internos), desenvolvidos principalmente a partir de um esforço de
melhoria contínua, com boas práticas observadas (externas) em outras
empresas e setores (ISATTO et al, 2000).

117
4 UM ANTEPROJETO DE APLICAÇÃO DA CONSTRUÇÃO
LEAN

A implantação do lean pode abranger diversas áreas da construção civil,


como por exemplo: planejamento, projeto, processo construtivo, sistemas de
informação, entre outras. Com a intenção de simplificar e facilitar o modo como a
construção lean pode ser aplicada e também tornar visível a utilização da mesma,
optou-se por uma destas áreas da construção civil, onde a construção lean vem
sendo estudada.

Neste contexto, o artigo de Lyra da Silva et al (2005) (Anexo 1) apresentou


as principais áreas da construção lean em estudo, suas tendências e
oportunidades de desenvolvimento. A partir do trabalho desenvolvido e
considerando as referências bibliográficas consultadas, constatou-se a existência
de poucos trabalhos na área de processos construtivos, verificando-se uma
grande oportunidade para o estudo de implantação da construção lean.

Definido o foco de aplicação e diante de todos os conceitos apresentados


ao longo deste trabalho, propõe-se neste capítulo avaliar procedimentos lean
aplicados à construção civil. Neste sentido faz-se a análise do mapeamento da
cadeia de valor para o processo construtivo de montagem de uma estrutura
metálica em um anteprojeto de um edifício comercial de 8 pavimentos no Centro
da cidade do Rio de Janeiro.

4.1 LOCALIZAÇÃO E PROJETO

O anteprojeto de construção estudado apresenta dificuldades logísticas


pela falta de espaço para estocagem de peças e materiais utilizados na obra, bem
como limitações ao uso de equipamentos de construção e montagem. Estas
dificuldades são um estímulo à análise da solução lean como alternativa viável e
eficiente para obras em localizações que oferecem dificuldades de acesso e
operação de equipamentos. Outro aspecto importante associado ao estudo é o
fato da a padronização de procedimentos poder ser replicada para edifícios mais

118
altos, estes mais adequados às contingências de áreas centrais metropolitanas,
mantendo ainda os pressupostos de redução de desperdício da construção lean.

O polígono do Centro da cidade do Rio de Janeiro ilustrado na Figura 4.1,


circunda a interseção da Avenida Presidente Vargas com Avenida Rio Branco,
configurando um espaço de poucos quarteirões desde a Praça Mauá até o Museu
de Arte Moderna – no sentido da Rio Branco, e da Praça XV de Novembro até o
Campo de Santana – no sentido da Presidente Vargas. Nesta área tem-se um
aglomerado financeiro, com os mais importantes bancos do país, escritórios,
comércio e as principais agências dos serviços públicos e instituições de governo,
do legislativo e judiciário do Estado. É o centro geográfico de decisão e burocracia
do Estado e do município do Rio de Janeiro. Esta região dispõe de uma malha de
transporte, por onde circulam as principais linhas de ônibus que ligam a Zona Sul
à Zona Norte e o subúrbio da cidade. Dispõe ainda de uma linha de metrô ligando
o bairro da Tijuca à Copacabana, e abriga o terminal de barcas para a cidade de
Niterói. Em um extremo dessa área está localizado o Aeroporto Santos Dumont,
ligando o Rio à São Paulo.

Este polígono do Centro do Rio de Janeiro apresenta nos seus limites,


próximo ao Campo de Santana, um conjunto de ruas de comércio popular, onde
os prédios e construções são assobradadas (até 3 pavimentos), muito antigos e
sem estilo definido, sem conservação, completamente obsoletos e degradados
para o uso comercial. Estes imóveis, por não estarem na faixa do Corredor
Cultural da Cidade, servem como oportunidade para novas locações, na hipótese
de aquecimento do crescimento da economia e dos negócios no Estado.

Uma construção no Centro da cidade conduz ao aproveitamento máximo


possível do espaço físico, dentro do que for definido pelas leis de ocupação. Com
isso a possibilidade do depósito do canteiro de obra ser dentro do terreno da
construção torna-se mais difícil devido à falta de espaço físico. Como os terrenos
vizinhos já estão ocupados com outras edificações, tem-se um problema concreto
para a construção.

119
Fonte: CET-RIO
Figura 4.1 – Polígono do Centro da cidade do Rio de Janeiro

A solução de depósito de materiais proposta e utilizada para esse problema


foi a escolha de um terreno na Via Dutra (à aproximadamente 40 km da obra,
devido ao menor custo) com espaço físico para o armazenamento, organização e
arrumação das peças metálicas vindas da fábrica. Assim, foi feita uma distribuição
de cargas de acordo com a cronologia de montagem da estrutura.

Este terreno, onde se situará o depósito das estruturas metálicas é


dimensionado no trabalho de Araújo (dissertação em desenvolvimento e com

120
previsão de conclusão até o final de 2005) de acordo com a necessidade da obra,
já que a fábrica de estruturas não fornece as peças obrigatoriamente de acordo
com a demanda da obra. Esta função caberá a equipe que estará no depósito,
integrada à rotina da obra.

Com a função de reduzir os riscos de atraso das carretas, devido à razoável


distância entre o depósito e a obra, criou-se um ponto intermediário próximo à
obra, situado junto à Avenida Rodrigues Alves (Cais do Porto). Isto porque
naquela área há espaço físico suficiente para as carretas ficarem estacionadas o
tempo necessário, sem que interfiram no trânsito. Com essa medida reduz-se a
possibilidade de atraso, já que existe folga no dimensionamento dos tempos de
movimentação das carretas.

Figura 4.2 – Esquema de localização da obra

Conforme já mencionado, construir no Centro do Rio de Janeiro, apresenta


algumas dificuldades. Uma das principais é que as ruas são muito estreitas,
dificultando a movimentação das carretas para a obra e impedindo o recuo para
estacionamento permanente de descarga de material. A logística de
abastecimento deve portanto levar em consideração o descarregamento rápido de
cargas, assunto este detalhado no trabalho de Araújo.

121
Como o foco do trabalho não é o projeto estrutural, optou-se por utilizar um
anteprojeto já dimensionado, detalhado e de domínio público que está
apresentado no Anexo 2, o qual foi retirado do livro Edifícios de Múltiplos Andares
em Aço, de Ildony H. Bellei, Fernando O. Pinho e Mauro O. Pinho da Editora Pini e
com o apoio do CBCA (Centro Brasileiro da Construção em Aço), editado em
2004.

Fonte: Adaptado de Bellei et al. (2004)


Figura 4.3 – Perspectiva da estrutura metálica do edifício

O estudo de construção analisado, conforme já ilustrado na Figura 4.2, se


situa no quarteirão da Rua Buenos Aires com a Avenida Passos. Numa avaliação
preliminar é feito um estudo de partido de construção (montagem) das estruturas
de um projeto de 8 pavimentos (elevação no último pavimento, de 25 metros).
Como opção de anteprojeto a proposta de Bellei se adequa ao terreno disponível
com área construída de 18 por 30 metros em estrutura montada em módulos
(colunas e vigas) de 6 por 6 metros de área construída, como pode ser observado
na Figura 4.4. A elevação é dividida no projeto em três fases: (a) primeira fase –
os dois primeiros pavimentos com altura de coluna de 6 metros e suas vigas; (b)

122
segunda fase – os três pavimentos seguintes, com colunas de 9 metros; (c)
terceira fase – os três pavimentos finais e o suporte da caixa dágua, com colunas
de 9 e 12 metros e suas vigas. A obra ainda dispõe de um complemento estrutural
compreendendo os contraventamentos, as escadas e a estrutura da casa de
máquina dos elevadores, as chapas de base, chumbadores e parafusos.

Fonte: Adaptado de Bellei et al (2004)


Figura 4.4 – Esquema do vigamento principal do prédio em planta

O sistema estrutural pode ser entendido da seguinte forma:

• Estabilidade transversal – É garantida pelos quadros rígidos dos eixos 1


e 6;
• estabilidade longitudinal – Pela colocação de contraventamentos
verticais entre os eixos 3 e 4, filas B e C.

As estruturas metálicas, por serem moduladas (6 por 6 metros de área


construída) e admitem um partido de montagem. Este tem início no módulo central
do fosso de elevadores e escada (eixo 3 e 4, fila B e C) – de maior rigidez.
Gradativamente são montados os módulos que se ligam ao módulo anterior,

123
dando estabilidade (travamento) estrutural e dimensional ao conjunto. A Figura 4.5
apresenta os croquis de evolução da montagem da 2ª etapa, devido à mesma ser
a única com características de pavimento tipo, ou seja, a única que pode ser
utilizada tanto para um prédio de 8 pavimentos como para um prédio mais alto:

Fonte: Adaptado de Araújo (2005)


Figura 4.5 – Seqüência de montagem de parte da 2ª etapa

Cada um desses lotes – transportados, içados e montados, compreende o


carregamento da carreta, o trabalho do guindaste (torre) e a montagem da equipe,
que além da uniformidade de quantidade de peças obedecem a um sincronismo
de tempo. A obra tem um ritmo constante: a cada 5 horas (takt time da obra) é
içado e montado um lote, assim como, a cada 5 horas é carregada uma carreta
com peças de um lote que são em seguida transportados para o local da obra.
Essas atividades de transporte e montagem se dão simultaneamente.

4.2 EQUIPAMENTO

Para a execução desses trabalhos de içamento e montagem, é conveniente


que o equipamento seja adequado – capacidade de carga suficiente, e seja

124
versátil – para que a lança consiga cobrir a área de içamento (carreta) e todos os
pontos de montagem.

Pelo menos no Rio de Janeiro, as obras civis em concreto armado utilizam


como torre de içamento de cargas, as torres de lança fixa. Esse tipo de
equipamento é bastante limitado para uma obra em estruturas metálicas situada
no centro de qualquer metrópole. É limitado pela capacidade de carga, velocidade
de içamento e na movimentação da torre que pode se chocar com as construções
vizinhas à obra.

Foi considerada também a possibilidade de se utilizar um guindaste sobre


rodas com lança telescópica. Entretanto, devido ao tamanho do equipamento e a
dificuldade de movimentação em ruas estreitas, essa opção foi abandonada. Outra
alternativa, é colocar o guindaste dentro do terreno, o que gera vários problemas
devido à dificuldade de movimentação da lança telescópica.

O equipamento que melhor se adequa às construções metálicas localizadas


no Centro de cidade é a torre de lança basculante, pois pode se movimentar sem
restrições quanto às edificações vizinhas, conforme na Figura 4.6:

Fonte: www.liebherr.com (15/07/05)


Figura 4.6 – Torre de lança basculante

125
Foi adotado o uso desta torre de lança basculante, tendo em vista que este
equipamento é bastante utilizado nos EUA e Europa. Existem vários fabricantes
no mercado (Favelle-Favco, Kroll e Liebherr, entre outros) com modelos similares.

Quadro 4.1 – Comparativo de características dos equipamentos


Fabricante: Favelle-Favco Kroll Liebherr
Modelo: M70D K-100L 112HC-L
Içamento (m/min) 189 100 160
Rotação Horizontal (rpm) ___ 0,7 0,7
Rotação Vertical (min) ___ 1,5 1,2

O Quadro 4.1 foi elaborado com dados dos respectivos manuais técnicos
(Anexo 3). Escolheu-se, para estudo de performance o equipamento da Liebherr-
Werk Biberach GmbH – o modelo 112 HC – L . A Figura 4.7 mostra a versatilidade
deste equipamento na obra, permitindo que duas ou mais torres trabalhem
simultaneamente num mesmo edifício e na mesma cota.

Fonte: www.liebherr.com (15/07/05)


Figura 4.7 – Torres trabalhando juntas

126
Como outras características relevantes do equipamento utilizado, tem-se:

• Comprimento de Lança: 48 m
• Carga Máxima na Extremidade da Lança: 1.600 kg

Sabe-se que não é o caso estudado, entretanto em prédios altos é uma


prática comum utilizar mais de um equipamento de içamento justamente para que
se possa reduzir o prazo de execução da obra. Diante disso temos duas
situações; a primeira (Figura 4.8) onde são utilizadas 2 torres de lança fixa e a
segunda (Figura 4.9) onde são utilizadas 3 torres de lança basculante:

Fonte: Shapiro (1991)


Figura 4.8 – Duas torres de lança fixa

As Figuras 4.8 e 4.9 mostram que mesmo em maior quantidade, as torres


de lança basculante fornecem maior mobilidade na obra do que as de lança fixa.
Ou seja, para prédios altos onde há a necessidade de mais de um equipamento é
nítida a vantagem do uso das primeiras, já que os desperdícios com movimentos
desnecessários e esperas serão menores.

127
Fonte: Shapiro (1991)
Figura 4.9 – Três torres de lança basculante

Conforme a Figura 4.10 pode-se observar que para montar a peça mais
distante necessita-se de 29 metros e o equipamento escolhido alcança 48 metros.

Figura 4.10 – Localização e alcance da torre Liebherr na obra estudada

Para a construção lean há que se inovar no equipamento – já que com uma


performance superior o guindaste estabelece um ritmo da obra e de
abastecimento logístico que interfere em toda a produtividade da cadeia produtiva.

128
4.3 PLANEJAMENTO DA MONTAGEM

Fez-se necessário o dimensionamento dos lotes, optou-se pelo menor


possível, a partir dos conceitos lean, da dificuldade de tempo e com a carreta
situada em um local movimentado para o içamento das peças. Com lotes
pequenos, o tempo da carreta no local é menor, diminuindo o transtorno às
pessoas que transitam por perto da obra. Estes também permitem uma maior
variabilidade na execução, caso haja necessidade por qualquer imprevisto ou
mudança do programa de execução.

Os lotes foram dimensionados de forma a garantir, no momento da


montagem, a estabilidade das estruturas metálicas. Outro aspecto considerado foi
a tentativa de padronização do tamanho dos mesmos com o intuito de facilitar a
execução da montagem, o armazenamento no depósito, a definição das carretas e
toda a logística envolvida para o abastecimento da obra no momento exato.

Figura 4.11 – Seqüência de montagem da 2ª etapa

Na Figura 4.11 pode-se observar a numeração dos lotes de 17 a 32 devido


à 1ª etapa conter os lotes de 1 a 16 e a 3ª etapa os lotes de 33 a 48, finalizando a
estrutura conforme Anexo 4. Um outro aspecto da Figura é a diferença de hachura
entre os lotes ímpares e os pares, isto se dá devido aos lotes ímpares serem
transportados por uma carreta e os pares pela outra, desta forma as carretas
trabalham no ritmo da torre, ou seja, no fluxo da obra. Esta seqüência de

129
montagem é importante para a equipe que trabalha no depósito, já que permite o
controle do recebimento das peças junto ao fabricante dentro do prazo estipulado
pela obra.

O depósito também foi dimensionado com um conjunto de baias de


armazenamento que permitem a correta organização dos lotes, conforme as
peças sejam recebidas do fabricante. As peças nessas baias facilitarão o
carregamento das carretas, resultando na redução dos desperdícios de
movimentação desnecessária e de transporte. Na Figura 4.12 observa-se o layout
do depósito, conforme o trabalho de Araújo (dissertação em desenvolvimento e
com previsão de conclusão até o final de 2005).

Fonte: Araújo (2005)


Figura 4.12 – Depósito para estoque dos 48 lotes do edifício

No estudo de içamento e montagem foram estimados tempos de operação


para todas as 3 etapas de montagem (Anexo 5). Devido à 2ª etapa poder ser
replicável em prédios mais altos, resolveu-se apresentá-la a seguir, como uma
proposta de planejamento de montagem:

130
Quadro 4.2 – Proposta de planejamento de montagem da 2ª etapa

Tempo Total : Preparação +


Içamento + Montagem (h)
Folga de Operação (h)
Colunas Vigas Vigas
Principais Intermediárias

Preparação Torre (h)


Nº do Lote (un)

Montgem (h)

Montgem (h)

Montgem (h)
Içamento (h)

Içamento (h)

Içamento (h)
Quantidade

Quantidade
Quantidade
Dia/Semana

(un)

(un)

(un)
Seg 17 0,50 3 0,50 1,50 6 0,50 1,50 0 0 0 4,50 0,50
Seg 18 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Seg 19 0,50 2 0,25 1,00 9 0,75 2,25 0 0 0 4,75 0,25
Ter 20 0,50 2 0,25 1,00 9 0,75 2,25 0 0 0 4,75 0,25
Ter 21 0,50 2 0,25 1,00 9 0,75 2,25 0 0 0 4,75 0,25
Ter 22 0,50 2 0,25 1,00 9 0,75 2,25 0 0 0 4,75 0,25
Qua 23 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Qua 24 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Qua 25 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Qui 26 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Qui 27 0,50 2 0,25 1,00 9 0,75 2,25 0 0 0 4,75 0,25
Qui 28 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Sex 29 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 3 0,25 0,75 4,00 1,00
Sex 30 0,50 2 0,25 1,00 9 0,75 2,25 0 0 0 4,75 0,25
Sex 31 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Sáb 32 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 3 0,25 0,75 4,00 1,00

Sobre o Quadro 4.2 cabe uma explicação, já que o mesmo servirá como
base para a criação do mapeamento da cadeia de valor estudada:

• Na 1ª coluna (Dia/Semana) da planilha é possível observar que serão


montados 3 lotes por dias, terminando cada etapa em uma semana. O
segundo e o terceiro carregamento de sábado levarão as escadas dos
respectivos pavimentos montados e as vigas intermediárias das mesmas;
• na 2ª coluna (Nº do Lote) da planilha pode-se verificar a respectiva
numeração de cada lote em relação à toda a estrutura;
• a 3ª coluna (Preparação da Torre) da planilha nos fornece o tempo de
preparação da torre que foi dimensionado em 30 minutos (0,50 h), levando-
se em consideração o tempo em que a mesma leva para ficar totalmente
disponível para o içamento, o tempo da carreta estar na posição correta

131
para o descarregamento e também para os funcionários responsáveis pela
colocação dos cabos de içamento chegarem até a carreta;
• a 4ª coluna (Quantidade de Colunas) da planilha refere-se à quantidade de
colunas a serem montadas no respectivo lote;
• a 5ª coluna (Içamento das Colunas) da planilha diz respeito ao tempo de
içamento das colunas de cada lote, onde foi considerado t = 0 nos lotes
onde somente 1 coluna é içada, devido à mesma já ser montada no
momento do içamento por ser a última peça içada do lote considerado.
Quando são içadas mais de 1 coluna o tempo dimensionado por coluna é
de 15 minutos (0,25 h), lembrando-se que sempre a última coluna de cada
lote é diretamente montada (t = 0);
• a 6ª coluna (Montagem das Colunas) da planilha mostra o tempo
dimensionado para a montagem de cada coluna, tempo este previsto em 30
minutos (0,50 h);
• a 7ª coluna (Quantidade das Vigas Principais) da planilha refere-se à
quantidade de vigas principais a serem montadas no respectivo lote;
• a 8ª coluna (Içamento das Vigas Principais) da planilha diz respeito ao
tempo de içamento das vigas principais de cada lote, onde foram
considerados tempos por amarrados de 3 ou 4 vigas de 15 minutos (0,25
h);
• na 9ª coluna (Montagem das Vigas Principais) da planilha pode-se observar
o tempo dimensionado para a montagem de cada viga principal, tempo este
de 15 minutos (0,25 h);
• as 10ª (Quantidade das Vigas Intermediárias), 11ª (Içamento das Vigas
Intermediárias) e 12ª (Montagem das Vigas Intermediárias) colunas da
planilha seguem as 7ª (Quantidade das Vigas Principais), 8ª (Içamento das
Vigas Principais) e 9ª (Montagem das Vigas Principais) colunas, referindo-
se à vigas intermediárias e não à vigas principais;
• na 13ª coluna (Tempo Total: Preparação + Içamento + Montagem) da
planilha observa-se o tempo total. Este é a soma dos tempos de
preparação, içamento (colunas e vigas) e montagem (colunas e vigas), e

132
deve ser igual ou menor do que o takt time que é de 5 horas. Dessa forma
garante-se o fluxo contínuo da montagem da estrutura, podendo-se gerar o
mapeamento de cadeia de valor;
• e finalizando a última coluna (Folga de Operação) da planilha apresenta a
subtração do takt time (5 h) do tempo total, servindo a verificação das
folgas.

A Figura 4.13 mostra o balanceamento das 3 linhas de fluxo geradas no


planejamento: tempo líquido de carregamento e transporte da carreta (depósito
até a obra), com o somatório dos tempos de içamento e montagem do lote de
peças, e o tempo líquido de descarregamento e volta da carreta (obra até o
depósito), dentro do takt time adotado.

Takt Time de 5 h
5

4
Tempo (h)

0
17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
Lotes
Tempo líquido de carregamento e transporte para a obra
Tempo de içamento + montagem
Tempo líquido de descarregamento e volta ao depósito

Figura 4.13 – Balanceamento das operações da 2ª etapa

A capacidade e velocidade do equipamento estabelece o ritmo de toda a


obra. O planejamento preliminar das equipes de içamento e montagem,
adequados à performance do guindaste, determina um ritmo de obra e uma
demanda logística de um lote a cada 5 horas (takt time). Lembrando-se que esta
análise foi feita com a possibilidade de funcionamento da obra em 2 turnos de 8
horas, onde 1 hora é reservada para a troca de turno. Como resultado tem-se uma
demanda diária de 3 lotes de peça por dia a serem transportados, içados e

133
montados.

A integração das atividades e tempos de operação da logística de


abastecimento (carretas que transportam as estruturas do depósito até a obra) e
do içamento e montagem (operação do guindaste) é representada no
mapeamento de cadeia de valor.

Os respectivos tempos das carretas encontrados no mapeamento da


cadeia de valor foram obtidos do Quadro 4.3 a seguir, fornecidos por Araújo
(Anexo 6).

Quadro 4.3 – Proposta de planejamento do depósito e do ponto intermediário até à


obra da 2ª etapa
Dias da Depósito (h) Ponto Intermediário (h)
Lote
Semana t Prep. t Carreg. t Transp. t Espera t Ida à Obra t Total
Seg 17 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Seg 18 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Seg 19 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Ter 20 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Ter 21 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Ter 22 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qua 23 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qua 24 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qua 25 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qui 26 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qui 27 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qui 28 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Sex 29 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Sex 30 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Sex 31 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Sáb 32 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Fonte: Araújo (2005)

Observando-se o Quadro 4.3 percebe-se que o takt time definido pela


montagem de cada lote é respeitado pela logística, de forma a garantir o
abastecimento da obra em fluxo.

134
4.4 MAPEAMENTO DA CADEIA DE VALOR DO TRANSPORTE, IÇAMENTO
E MONTAGEM DAS ESTRUTURAS METÁLICAS

A seqüência de atividades é representada pelo mapeamento de cadeia de


valor na Figura 4.14. Esta seqüência que relaciona o recebimento das estruturas
fabricadas em um depósito, o carregamento dos lotes, o transporte das carretas
até um ponto intermediário de espera para movimentação até a obra, o içamento
das peças e a montagem dos lotes da estrutura metálica. Os tempos de operação
são assinalados em centésimos de hora.

Figura 4.14 – Mapeamento da cadeia de valor da montagem da estrutura metálica

Observar-se no mapeamento da cadeia de valor acima diferenças para o


mapeamento do fluxo de valor, inicialmente adotado pela indústria automobilística,
como por exemplo:

135
• Para facilitar o entendimento da linha de fluxo a mesma foi feita em 3
partes, ou seja, 3 fluxos simultâneos e sincronizados; representando a torre
de içamento, uma carreta e a outra a segunda carreta;
• estas mesmas linhas de fluxo foram apresentadas em escala facilitando a
relação rápida do tempo com a atividade, evitando falhas na interpretação
do mesmo;
• as linhas na parte superior (por exemplo: t13, t15, entre outras) significam
as atividades que agregam valor ao produto final para o cliente ou se não
agregam valor são fundamentais no processo como as primeiras (por
exemplo: t2, t4, entre outras);
• as linhas na parte inferior como os t1, t3, t7, t9, t12 e t14 significam tempo
de atividades que não agregam valor ao produto final para o cliente, logo
foram reduzidas ao máximo e deveriam ter sido eliminadas;
• e as linhas na parte inferior como os t5 e t11 significam tempo de
atividades. Além de não agregarem valor ao produto final para o cliente,
também podem e devem ser eliminadas pois são esperas, logo são
desperdícios. Num próximo estudo, por meio de uma melhor configuração
do mapeamento pelo tamanho dos lotes será possível a eliminação de
parte desse desperdício ou sua totalidade.

Na Figura 4.14 observa-se a representação de 2 lotes da 2ª etapa,


respectivamente os lotes 25 e 26, como exemplo da aplicação da ferramenta de
mapeamento. Cabe uma explicação a respeito de como os tempos (t) em
centésimos de hora foram dimensionados:

• t1 é o tempo de 15 minutos adotado para a preparação da mão-de-obra e


do equipamento no depósito para o carregamento do lote 26;
• t2 é o tempo de 1 hora adotado para o carregamento do lote 26 na carreta
no depósito;
• t3 é o tempo de 15 minutos adotado para a verificação e recebimento da
documentação da carga (lote 26);

136
• t4 é o tempo de aproximadamente 2 horas e 30 minutos adotado, com
margem de segurança devido às incertezas e riscos existentes no trajeto,
para movimentação da carreta do lote 26 até o ponto intermediário;
• t5 é o tempo de aproximadamente 30 minutos, o qual dependendo da
necessidade pode ser nulo, ou seja, se o tempo de movimentação da
carreta até o ponto intermediário (t4) levar 3 horas, a carreta deve ir direto
para a obra, não havendo necessidade de parar no ponto intermediário.
Este tempo é um desperdício, mas é necessário para reduzir a
possibilidade de atraso na chegada à obra o que implicaria em desperdício
na utilização da torre;
• t6 é o tempo de aproximadamente 30 minutos adotado, com margem de
segurança devido às incertezas e riscos existentes no trajeto, para
movimentação da carreta do lote 26 até a obra;
• t7 é o tempo de 15 minutos adotado para a preparação da mão-de-obra no
térreo da obra para o içamento do lote 25;
• t8 é o tempo de 1 hora adotado para o içamento das peças do lote 25;
• t9 é o tempo de 15 minutos adotado para que a carreta seja preparada
para retornar vazia ao depósito, e carregar o lote 27;
• t10 é o tempo de aproximadamente 3 horas adotado, com margem de
segurança devido às incertezas e riscos existentes no trajeto, para retorno
da carreta vazia ao depósito, para carregar o lote 27;
• t11 é o tempo de aproximadamente 30 minutos adotado para a carreta ficar
em espera no depósito. Este tempo é um desperdício, mas pode ser
utilizado para manutenção da carreta;
• t12 é o tempo de 15 minutos adotado para a preparação da torre para o
içamento das peças do lote 25, onde este tempo ocorre simultaneamente
ao tempo de preparação da mão-de-obra (t7);
• t13 é o tempo de 1 hora adotado para o içamento das peças do lote 25;
• t14 é o tempo de 15 minutos adotado na preparação da mão-de-obra do
pavimento em execução da obra, para a montagem do lote 25;

137
• t15 é o tempo de 3 horas e 30 minutos adotado para a montagem do lote
25.

Em uma descrição preliminar, verifica-se que a seqüência de atividades da


torre basculante tem a duração total de 5 horas por lote içado e montado, é o que
define o takt time conforme indicado no Quadro 4.2. Duas carretas são suficientes
para abastecer a obra. A cada 5 horas, uma carreta é carregada no depósito,
depois movimentada até o ponto intermediário (distante poucos minutos da obra) e
espera o deslocamento para a obra, em função da disponibilidade da torre. Nesse
mesmo período, a outra carreta de abastecimento estaciona na obra para iniciar o
descarregamento e o içamento das peças, numa atividade que tem a duração de 1
hora e 30 minutos, em seguida ela retorna ao depósito. Constata-se que todas as
operações de movimentação de carretas atende à demanda da torre basculante,
de um lote a cada 5 horas conforme apresentado no Quadro 4.3.

O ajustamento da atividade logística das carretas à capacidade de


operação da torre, em uma produção puxada, é a característica de fluxo da
construção lean: a carga de cada atividade é sincronizada no ritmo de demanda
da torre basculante, estabelecendo-se o cadenciamento no mapeamento da
cadeia de valor.

4.5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

O estudo da seqüência de atividades do anteprojeto do prédio comercial de


8 pavimentos no Centro da cidade do Rio de Janeiro enfatizou dificuldades de
execução da obra. Ao mesmo tempo, o estudo salientou o fato de que a rigorosa
implantação de ferramentas lean permite contornar os principais problemas de
queda de produtividade das operações de construção.

O mapeamento da cadeia de valor foi um procedimento fundamental para a


implantação inicial da construção lean, visto que a mesma descreve toda a cadeia
de valor em estudo, facilitando a visualização das atividades que agregam valor e
também das que não agregam. Ele possibilita um melhor arranjo destas atividades

138
na tentativa de eliminar ou reduzir ao máximo as que não agregam valor ao
produto final.

Esta ferramenta também é importante por permitir a aplicação de outras


técnicas e conceitos lean como, por exemplo: o Just-in-Time, o Fluxo, a Produção
Puxada (Kanban) e outros que aparecem indiretamente, porém são essenciais
para o melhor funcionamento da construção lean. Como exemplo tem-se
Benchmarking, Brainstorming, 5S, Troca Rápida de Ferramenta, Trabalho Padrão,
Manutenção Produtiva Total e Melhoria Contínua (Kaizen).

Conceitualmente, o mapeamento deve ser feito primeiramente no seu


estado atual e depois dimensiona-se um estado futuro. No anteprojeto estudado,
contudo, o mapeamento é elaborado como forma de planejamento, ou seja, no
seu estado futuro. Deste modo resolveu-se desenvolver uma alternativa
diretamente no mapeamento do estado futuro, considerando que uma obra de
centro de cidade (sem espaço físico excedente) só apresentaria um aumento de
sua produtividade pela aplicação da construção lean.

O mapeamento mostrou que sem a criação do depósito não haveria o fluxo


e o Just-in-Time. Isto deve-se ao fato de que a fábrica das estruturas (vigas e
colunas) a princípio, não trabalha em processo de produção lean, ou seja, o
depósito é necessário devido ao fornecedor produzir peças em batelada. A
importância do depósito é permitir a implantação de fluxo, apesar da falta de
espaço físico na obra para a estocagem das peças.

Pelo mapeamento também constatou-se que a escolha de um equipamento


de montagem eficiente é essencial, já que é ele quem vai ditar o ritmo da obra.
Este é também o principal motivo para a adoção de 2 turnos de trabalho diário e
se necessário 7 dias da semana de trabalho, utilizando-se ao máximo a torre de
içamento e montagem – o principal responsável pelo ritmo da obra, onde todas as
outras etapas do processo estarão sincronizadas, como é o caso da logística de
abastecimento e do depósito.

A preocupação em estabelecer o fluxo de materiais em pequenos lotes,


adequados à capacidade de operação da torre basculante e às equipes de

139
montagem, elimina “gargalos”, reduzindo esperas e formação de estoques em
processo. A ocorrência de fluxo, integrando a logística de abastecimento às
atividades de montagem das estruturas, diminui ao mínimo a espera de veículos
no local de descarregamento da obra.

A organização do fluxo de estruturas metálicas até sua montagem definitiva


obedece uma seqüência de operações, onde a atividade anterior só é executada a
partir da necessidade manifestada pela atividade posterior. Há portanto o
estabelecimento de um sistema Kanban (sem cartões) feito por rádio ou telefone
entre o depósito, os motoristas das carretas e o operador da torre, no qual a
movimentação de cargas é realizada pela autorização do movimento modal. Há,
em conseqüência, um seqüenciamento em Just-in-Time das cargas, sincronizando
todas as operações. Como resultado, com a estrita observância dessa concepção
de produção, tem-se a produção puxada, inerente a execução de uma construção
lean.

O anteprojeto é constituído de 3 etapas, com 16 lotes cada uma. Por dia


são montados 3 lotes: cada etapa é finalizada em uma semana: de segunda-feira
a sábado. Foi feito um dimensionamento para que, ao término de 3 semanas a
montagem da estrutura fosse concluída, visto que aos sábados, os 2 últimos
carregamentos do dia são para as vigas restantes e para as escadas. Desta
forma, do início ao fim da montagem, são previstas 3 semanas de trabalho,
lembrando-se a disponibilidade de um domingo de cada etapa para possíveis
ajustes, caso houvesse necessidade.

140
5 CONCLUSÕES

Este trabalho aprofundou os estudos de Tommelein e Weissemberger


(1999), analisando as condições de implantação de procedimentos lean, em
anteprojeto de construção predial. Foram apresentadas justificativas para o
aumento de produtividade da obra predial, mesmo sem medir indicadores
numéricos de acompanhamento e de comparação. O fato deste trabalho estar
coerente com a linha de pesquisa de Tommelein se atém a preocupação de
contribuir com as condições de implantação de um novo conceito de
construção – a construção lean – a exemplo do ocorrido na indústria de
transformação – a produção lean.
Para a determinação do ganho de produtividade, é necessária a
medição da produtividade na construção lean e em uma obra convencional.
Contudo, há de se considerar dois aspectos:

a) Não é usual na construção, a ocorrência de situações de “antes” da


implantação e “depois” da implantação de nova forma de organização da
produção, como é comum no setor industrial de produção seriada.
Quando tal ocorre, existe um tempo de aprendizado e acomodação que
não justificariam tal tipo de análise;
b) a comparação entre obras não é comum, já que nesse setor não é usual
a existência de duas ou mais construções iguais. Ocorrem
particularizações de projeto, diferenças de calendário que interferem no
rendimento, apresentando diferenças climáticas e variações na curva de
conhecimento privilegiando as obras executadas posteriormente, entre

outros aspectos. Dessa forma são criadas situações que sempre

distinguem uma obra de outra, mesmo que semelhantes.

Diante dessas diferenças existentes, pode ser analisada a hipótese de


duas obras idênticas, o que é improvável. Estas não poderiam ser vizinhas
para evitar-se a influência de uma sobre a outra, mas também não muito
distantes. Desta forma haveria a possibilidade de se encontrar características
pedológicas e climáticas semelhantes, reduzindo-se a ocorrência de, por
exemplo, chuva à somente uma obra.

141
A equipe de mão-de-obra deve ser independente, isto é, se possível que
não tenham convivência, evitando-se trocas de informações. As construções
ocorreriam simultaneamente, de forma a facilitar as comparações financeiras e
de produtividade, além de garantir as mesmas possibilidades em relação aos
fornecedores e às tecnologias existentes.

Por meio da garantia destas condições improváveis, poderia ser


realizada uma comparação real entre as construções convencional e lean.

Por tudo isso, por ser muito difícil avaliar o aumento de produtividade da
obra, comparando uma construção lean com uma construção convencional,
este trabalho não apresenta esse tipo de resultado.

O conceito de construção lean, por outro lado, deve ser considerado


desde a definição do negócio, conforme Dos Reis e Picchi (2003): estes
discutem a importância do uso do mapeamento de fluxo de valor como
elemento necessário para o desenvolvimento do fluxo de negócios. Os autores
identificam o atendimento das necessidades do cliente como a demanda dos
fluxos operacionais.

Há necessidade, portanto de adotar-se o conceito da construção lean


desde a concepção do projeto. Desta forma permite a integração deste
reduzindo os desperdícios com retrabalho de correção. Para isso, a utilização
da ferramenta do Brainstorming é útil para reunir os projetistas e engenheiros
de montagem da obra – responsáveis pelo equipamento de içamento, e o
pessoal que vai responder pelo abastecimento logístico das peças (colunas e
vigas) na obra. Essas reuniões evitam vários problemas que ocasionam
desperdícios ao longo da construção da obra, e os projetos adquirem uma
certa padronização. Essa padronização induz ao aumento de produtividade da
construção lean quando considera-se que:

a) O uso de concepções e procedimentos lean para eliminação de


desperdícios de processo foi bastante eficiente em diferentes setores
industriais. É possível imaginar que o mesmo ocorra em uma
organização de produção da construção predial, principalmente se for
em estrutura metálica;

142
b) o planejamento de um fluxo de operações, integrando a logística de
abastecimento às atividades de montagem das estruturas metálicas,
preocupou-se em eliminar “gargalos”, balanceando as atividades, o que
significa a estrita eliminação de desperdícios de processos. Essa
sistematização na identificação e eliminação de desperdícios induziu ao
aumento de produtividade em outros setores de produção,
possibilitando-se o aumento da produtividade da construção;
c) a fase da construção estudada – montagem das estruturas metálicas,
permite que as atividades posteriores de concretagem de laje e
fechamento dos andares se dêem de forma simultânea. O uso de
estruturas metálicas assegura um aumento na velocidade da obra e
antecipa sua conclusão. A integração entre o uso do aço e o processo
lean permite ganhos mútuos de produtividade, não só da execução da
montagem, mas principalmente, na obra como um todo.

Este trabalho, busca a generalização da concepção lean em um tipo de


construção predial. Ele contribui para a discussão sobre o conceito lean
quando detalha o planejamento da cadeia de valor, identificando todas as
principais peças de estruturas metálicas. Assim, define lotes de movimentação,
de içamento e montagem, concebendo um fluxo Just-in-Time e estabelece
procedimentos de produção puxada, representado pelo mapeamento da cadeia
de valor.

O trabalho apresenta pressupostos que ainda precisam de confirmação,


como nos exemplos que se seguem: as estruturas metálicas são a melhor
alternativa para tornar flexível a organização de fluxo em lotes sincronizados ao
ritmo de montagem; há necessidade de adoção de equipamentos de içamento
e montagem de maior mobilidade (torre basculante) e que seja viável à
programação de frentes simultâneas de trabalho, a partir da montagem das
estruturas. Outras questões ligadas à logística de abastecimento, também
necessitam melhores esclarecimentos. Finalmente, adotou-se a premissa de
que as estruturas metálicas proporcionam melhores condições para a
implantação de metodologia lean de construção. A construção lean é talvez o
ambiente mais favorável para a utilização das estruturas metálicas prediais,
melhorando suas condições de viabilidade econômica.

143
Sabe-se que pesquisas dessa natureza precisam de maior
aprofundamento. É conveniente num primeiro momento, estender um pouco
mais a cadeia de valor da construção predial lean incorporando outras fases: a
colocação do steel deck (laje) e as atividades de fechamento. Também é
necessário avaliar o uso de outros materiais – como a estrutura em pré-
moldado de concreto, verificando sua compatibilidade a esse novo conceito de
organização de produção e a possibilidade de construções em concreto
armado melhorarem ou não sua produtividade utilizando a construção lean.

Pesquisas futuras também se aplicam à utilização mais detalhada de


outras ferramentas lean, que não foram o foco do estudo deste trabalho.
Ferramentas como o Benchmarking, o Brainstorming, o 5S, a Troca Rápida de
Ferramenta e outras que possibilitam um aumento da produtividade, reduzindo
os desperdícios e melhorando o processo como um todo. A construção lean
deveria ser mais eficiente quando suas ferramentas são utilizadas com uma
concepção de sistema lean. Todas as ferramentas devem estar integradas,
focando sempre no cliente, no processo contínuo de melhoria e na redução de
desperdícios constantes, gerando ganhos ao longo de todo o processo
(matéria-prima até o cliente final, o consumidor).

A pesquisa em construção lean, da qual faz parte este trabalho, tem o


objetivo amplo de apresentar soluções, criando rotinas e padronizações que
seriam replicados na construção de prédios altos (mais de 30 pavimentos). A
pesquisa visa estabelecer procedimentos de maior eficiência para uma
realidade brasileira, procedimentos mais adequados às contingências de áreas
centrais metropolitanas e manter os pressupostos de redução de desperdício
da construção civil. Há necessidade portanto, de confrontar as propostas
apresentadas com a opinião de outros especialistas, tanto no ambiente
acadêmico quanto junto aos profissionais da área de construção. Essa
discussão deve resultar em uma melhor configuração de restrições ao
processo de implantação do lean na construção.

144
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149
150
ANEXO 1 – ARTIGO PUBLICADO NO CONGRESSO BRASILEIRO DE
ENGENHARIA DE FABRICAÇÃO (COBEF) 2005

IDENTIFICAÇÃO DE TENDÊNCIAS E OPORTUNIDADES EM


ESTUDOS VISANDO A UTILIZAÇÃO DE MÉTODOS DA
PRODUÇÃO ENXUTA NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Rodrigo Rodrigues Lyra da Silva – rodrlyra@terra.com.br


Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Pós-Graduação de Eng. Civil
Rua São Francisco Xavier, 524 – 5º andar – Maracanã
CEP: 20550-013 – Rio de Janeiro – Rio de Janeiro
Cyro Alves Borges Junior – cyroborges@terra.com.br
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Pós-Graduação de Eng. Civil
Rua São Francisco Xavier, 524 – 5º andar – Maracanã
CEP: 20550-013 – Rio de Janeiro – Rio de Janeiro
Hélcio de Oliveira Rocha – helcio@uerj.br
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Engenharia
Rua São Francisco Xavier, 524 – 5º andar – Maracanã
CEP: 20550-013 – Rio de Janeiro – Rio de Janeiro
José Glenio Medeiros de Barros – glenio@uerj.br
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Tecnologia
Estrada Resende Riachuelo s/nº - Tel. 24-33540194
CEP: 27523-000 – Resende – Rio de Janeiro

Resumo: A construção civil vem empreendendo um significativo esforço no sentido de


aumentar a produtividade do processo construtivo com o auxílio da Produção Enxuta.
Este trabalho delimita os problemas encontrados, resume as propostas em pesquisa e
esboça as perspectivas futuras dessas pesquisas nas principais áreas da construção civil.
Palavras chave: Produção Enxuta, Construção Enxuta e Construção Civil

1. INTRODUÇÃO
A Produção Enxuta (Lean Production) é uma nova concepção dos sistemas de produção,
que teve origem na Toyota Motor Company, a partir do trabalho desenvolvido por Taiichi
Ohno e Shigeo Shingo. Diante da necessidade de produzir pequenas quantidades de
numerosos modelos de automóveis, Ohno estudou os sistemas de produção norte-
americanos, adaptou seus conceitos para a realidade japonesa da época, que se
caracterizava pela escassez de recursos (materiais, financeiros e humanos). Aplicando
novas abordagens para a produção industrial, o que acabou consolidando, na prática, o
chamado Sistema Toyota de Produção ou Produção com Estoque Zero (CORIAT, 1994).
Uma oportunidade que se apresenta para pesquisadores e profissionais da construção
civil, no momento, é o de adaptar os métodos e princípios da Produção Enxuta, buscando
melhor desempenho em seu processo, apesar da escassez de recursos materiais,
financeiros e humanos também encontrada na construção civil. As inovações trazidas por
essa filosofia podem ser resumidas em três pontos principais (KOSKELA, 1992;
SHINGO, 1996 e SOUZA, 1997):
- Abandono do conceito de processo como transformação exclusiva de inputs em outputs,

151
priorizando agora o fluxo de materiais e informações;
- Análise do processo de produção através de um sistema de dois eixos ortogonais: um
representando o fluxo de materiais (processo) e outro, o fluxo de operações, dando ênfase
à melhoria do primeiro;
- Consideração do valor agregado sob o ponto de vista do cliente interno e externo, tendo
como conseqüência a reformulação do conceito de perdas. Passaram a ser perdas as
atividades de transporte, estoque, espera, inspeção e retrabalho, mudando o planejamento
do fluxo de processo.
Nessa mesma linha Womack e Jones (1998), identificam o fluxo contínuo como
instrumento de organização da produção ideal. Para consegui-lo procura-se produzir peça
a peça, sem estoques intermediários nem paradas. Nessa nova concepção, a produção
passava a ser puxada. Produção Enxuta passa a significar o atendimento somente na
quantidade certa e na hora certa: eliminando os estoques da superprodução. As melhorias
contínuas no fluxo levam à perfeição, que envolve a participação dos diferentes níveis
operacionais, identificando as causas dos problemas e contando com métodos específicos,
baseados nos “5 Por quês”, ferramentas da qualidade, etc. Faz-se o Kaizen (melhoria
contínua) e quando este se esgota, o Kaikaku (melhoria radical, com mudança do fluxo de
materiais e informações).

2. CONSTRUÇÃO ENXUTA

Os conceitos da Produção Enxuta vêm gradativamente sendo introduzidos na construção


civil, primeiramente através do trabalho de Koskela (1992) - onde a Construção Enxuta é
determinada por um conjunto de princípios, interligados, devendo ser aplicados de forma
integrada na gestão de processos para a obtenção dos resultados esperados. Estes
princípios são basicamente:
reduzir a parcela de atividades que não agregam valor; aumentar o valor do produto
através da consideração das necessidades dos clientes; reduzir a variabilidade; reduzir o
tempo de ciclo; simplificar, através da redução do número de passos ou partes; aumentar
a flexibilidade de saída; aumentar a transparência do processo; focar o controle no
processo global; introduzir melhoria contínua no processo; manter um equilíbrio entre
melhorias nos fluxos e nas conversões; fazer benchmarking.
Na Construção Civil, anteriormente a produção era definida pelo modelo conceitual
tradicional como um conjunto de atividades de conversão, denominada “conceito de
produção como transformação” ou simplesmente “conceito T”, ou seja, na transformação
de insumos em produtos intermediários, ou produto final (KOSKELA, 2000). Segundo
Isatto (2000), este modelo, é aplicável a sistema de produção relativamente simples.
Contudo, nos sistemas de produção mais complexos são maiores também as atividades de
fluxo, sendo necessária uma maior atenção às mesmas. Neste caso, o modelo da prática
tradicional de processamento da produção apresenta algumas deficiências:
- as atividades que compõe os fluxos físicos entre as atividades de conversão, ou
transformação, não são explicitamente consideradas, não agregam valor ao produto final,
mas geram custos: como transporte e/ou espera de material;
- a busca de melhorias se situa nas atividades individuais e não no sistema de produção
como um todo;
- não é dada atenção ao que o cliente interno ou externo realmente necessita.

152
Já no Modelo Enxuto, um processo consiste essencialmente em um fluxo de
materiais,processamento ou conversão. Já as atividades de transporte, espera e inspeção,
apesar de consideradas no fluxo, por não agregarem valor, devem ser reduzidas ao
máximo (são perdas).
Neste modelo, a geração de valor somente ocorre quando as atividades de processamento
transformam as matérias-primas em produtos requeridos por clientes internos ou externos
(ISATTO et al, 2000). Dessa maneira, o produto passa a representar um conjunto de
atributos que são demandados pelos clientes, perdendo importância em aspectos materiais
e ganhando relevância nas suas características de utilidade.

3. OPORTUNIDADES NA CONSTRUÇÃO CIVIL DE UTILIZAÇÃO DE


MÉTODOS ENXUTOS

Dentre as áreas mais promissoras e com estudos sendo desenvolvidos, temos: o fluxo de
negócios, o desenvolvimento do projeto, o estudo orçamentário, o planejamento, a
organização do canteiro de obra, o aproveitamento da mão-de-obra, a cadeia de
suprimentos e as modificações no processo construtivo.
Apresentaremos a seguir, de forma sucinta, os problemas encontrados, estudos em
desenvolvimento e as perspectivas futuras para cada uma dessas áreas da construção civil
utilizando a Construção Enxuta, por meio da melhoria contínua como impulso para
atingir a perfeição.

3.1. Fluxo de Negócios


O chamado “Fluxo de Negócios” atua desde o início do empreendimento, da
identificação das necessidades até a entrega do produto final ao cliente. Este fluxo é
responsável por grande parte do tempo de realização de um empreendimento. Ao analisar
a razão desse longo prazo observa-se que o que ocorre são longas esperas em pilhas de
documentos e pedidos em gavetas, causadas principalmente por falta de organização e
planejamento das tarefas com visão de conjunto, pela inexistência de um fluxo contínuo e
ocorrência de inúmeras idas e vindas (DOS REIS e PICCHI, 2003).
A grande dependência entre os diversos agentes envolvidos é outro ponto que deve ser
levado em conta desde as primeiras iniciativas de qualquer mudança nesse fluxo. O
sucesso de qualquer ferramenta para minimizar os desperdícios existentes no fluxo de
negócios de um empreendimento dependerá do envolvimento de todos seus agentes, tais
como: contratantes, projetista, construtora, e principalmente os orgãos e concessionárias
responsáveis pelas vistorias e aprovações do projeto e da obra concluída, para a
concessão do habite-se e venda do imóvel (PICCHI, 2000).
Os principais desperdícios encontrados no fluxo de negócios da construção civil estão nas
interfaces dos agentes que realizam as aprovações, ou seja, Prefeituras, cartórios e
concessionárias, com os proponentes. Os processos dos diversos solicitantes ficam
acumulados em filas, os critérios de aprovação nem sempre são claros, o feedback ao
responsável, que atende ao pedido e manda o projeto de volta para a fila, para prosseguir
com a análise.
Uma forma de se eliminar esse desperdício seria colocar o processo em fluxo. Por
exemplo, com o agendamento prévio de uma reunião entre um funcionário da Prefeitura e
o arquiteto responsável pelo empreendimento, para verificação imediata da necessidade

153
de complementações, correções ou esclarecimentos. Com esse agendamento a
Coordenadoria de Análise já teria uma programação prévia do recebimento de novos
pedidos, e poderia ritmar sua “produção” para atendê-los just-in-time.
Deve ser feito um esforço para tornar viável a localização de todos funcionários desse
processo em um único ambiente, ou o envio de todos os documentos via internet ou fax,
reduzindo com isso o tempo de transporte dos documentos de um órgão para o outro.
Enormes esforços são realizados para redução de tempos de execução de obras, por vezes
implicando em consideráveis investimentos em tecnologia. Tomando-se o tempo de
execução da obra como base, observa-se que o fluxo de negócios pode facilmente dobrar
ou triplicar o lead time entre a identificação da necessidade e a entrega da edificação ao
usuário, e pouco tem sido feito para sua otimização. As soluções apontam para rearranjos
organizacionais, de grande desafio do ponto de vista de determinação política, mas via de
regra de baixo investimento (DOS REIS e PICCHI, 2003).

3.2. Desenvolvimento do Projeto


O entendimento do que seriam as principais características de um projeto lean é algo que
vem sendo buscado posteriormente aos diversos estudos e aplicações que já foram
realizados quanto à aplicação de lean na produção. Desta forma, seu conhecimento não é
ainda completo, destacando-se os trabalhos de Sobek, Liker e Ward (1998 e 1999) e
Ward et al. (1995) para sua compreensão. Dentre os elementos destacados por estes
autores, pode-se citar: a engenharia simultânea baseada em conjuntos de soluções, o foco
no desenvolvimento de conhecimento que agregue valor ao cliente, a liderança de projeto
forte e empreendedora, o time de especialistas com responsabilidade e autonomia
ampliadas e o gerenciamento do projeto como um fluxo puxado (PICCHI, 2003).

3.3. Estudo Orçamentário


No contexto da Construção Enxuta, um orçamento desenvolvido com base na seqüência
de execução de cada grupo de serviços a ser contratado, se torna importante ferramenta
de gestão, na medida em que o profissional responsável pela condução da obra passa a ter
como base não somente a verba a ser gasta em cada serviço, mas também um modelo
completo e transparente que fornece todas as diretrizes necessárias para que o resultado
final do empreendimento consiga atingir o desempenho operacional esperado
(BAZANELLI et al, 2003).
Embora o orçamento operacional, mais se aproxime da filosofia da Construção Enxuta,
uma vez que analisa os custos com base nas operações e não nos serviços, um maior
aprofundamento sobre este tipo de orçamentação não é conseguido, devido à escassez de
pesquisas neste assunto (BAZANELLI et al, 2003).
A adoção de uma estrutura de orçamento em função do plano de ataque da obra, além de
tornar os custos referentes à execução das atividades, mais condizentes com a realidade
pretendida, reduz os prazos de produção, explorando ao máximo a possibilidade de
superposição de atividades: exigindo um planejamento operacional mais preciso e ao
mesmo tempo, flexível. Assim sendo, é alcançado um aumento do poder de tomada de
decisão em relação ao orçamento convencional (BAZANELLI et al, 2003).
Uma vez que as empresas buscam menores custos e prazos sem perder a qualidade, cada
vez mais serão implementados sistemas gerenciais que visem planos de ataque que
conduzirão a esta finalidade. A partir desses planejamentos, torna-se necessária uma

154
revisão no sistema orçamentário, a fim de que este complete o que se planejou
(BAZANELLI et al, 2003).

3.4. Planejamento
Para cada horizonte de tempo ou cada necessidade associada de inércia de decisão, deve-
se pensar em um instrumento de planejamento específico. Para o longo prazo considera-
se genericamente o diagrama de Gantt, a técnica de rede CPM/PERT e a linha de
balanço. As três técnicas baseiam-se em dados preliminares oriundos de orçamentos dos
projetos, de estimativas de tempo das atividades necessárias à realização do projeto e do
seqüenciamento técnico entre elas (HEINECK e MACHADO, 2002).
Heineck e Machado (2002) descrevem uma nova estruturação dos planejamentos de
médio e curto prazo, baseados no planejamento de longo prazo, mas adequados ao
conceito lean:
O planejamento de médio prazo proporciona a ligação (antes negligenciada) entre as
decisões estratégicas tomadas no longo prazo, oriundas da linha de balanço, com a
necessidade de definição de ações ao nível operacional em bases que vão usualmente do
dia de trabalho até a quinzena;
Devem ser liberadas previamente ordens de produção, montagem ou compra, de modo a
assegurar que todos os recursos necessários para a execução de um serviço existente no
plano de longo prazo estejam disponíveis nos momentos certos. Parece elementar essa
lógica, mas infelizmente não ocorre de forma organizada na grande maioria dos canteiros
de obras;
Tendo realizado o planejamento de médio prazo passa-se às decisões de nível
operacional, do dia a dia do canteiro de obras. A este planejamento de curto prazo, que
usualmente ocorre em um período de 1 a 15 dias, confere-se a importância de ser o
instrumento efetivo da geração de ações operacionais;
Usualmente, a cada sexta-feira acontece uma reunião para definir o planejamento da
próxima semana de trabalho. No início da semana, cada equipe de produção tem em mãos
as tarefas que irão desempenhar ao longo da semana de trabalho;
A ligação entre o planejamento de médio e o de curto prazo acontece por meio da geração
de cartões de produção para todas as tarefas previsíveis para a conclusão final da obra.
São produzidos, então, diversos cartões de produção – associados às diversas tarefas que
ocorrem no canteiro de obras – que formam uma espécie de estoque de ordens de
produção, liberadas a cada elaboração do planejamento de médio prazo e confirmadas
através da entrega às equipes de produção no planejamento de curto prazo.
Heineck e Machado (2002) terminam enfatizando que a dinâmica do trabalho com
cartões de produção cria um ambiente de compromisso com a execução de tarefas e
assegura o cumprimento dos prazos do planejamento, através da formalização das ordens
de serviço que fluem pelo canteiro de obras.

3.5. Organização do Canteiro de Obra


A composição de um canteiro de obras enxuto inicia-se pela definição dos elementos
geradores de valor ao cliente, que receberão uma estruturação de modo a garantir que os
principais agentes e fluxos do sistema estejam otimizados e racionalizados, dispostos
num arranjo físico que propicie a interação e a flexibilidade necessárias à adequação ao
modelo da Construção Enxuta (GITAHY JUNIOR et al, 2002).

155
Os principais princípios para a definição de layout enxuto são: otimizar o fluxo de
informações, reduzir os estoques, logística interna, desenvolvimento de sub-empreiteiros
e fornecedores, educação, treinamento e aperfeiçoamento, transferência de
responsabilidade, criação de grupos semi-autônomos de trabalho, diminuição de
problemas ergonômicos, definição de entrada, saída, carga e descarga e vias de
circulação, melhoria contínua e outras (GITAHY JUNIOR et al, 2002).

3.6. Aproveitamento da Mão-de-Obra


Pretende-se na cadeia produtiva através de ações de cada sub grupo com a integração
final de todos os envolvidos, elaboração e a divulgação de check lists, manuais e
procedimentos de padronização. Para alcançar esse resultado é necessário que os grupos
tenham algumas prioridades entre as quais pode-se enunciar as principais como
(CORTEZ et al, 2002):
- Para o grupo dos profissionais projetistas e de execução: check lists de procedimentos
de projetos e interferência entre projetos, padronização de unidades de medidas e
soluções gráficas, sistemática de acompanhamento de execução, constante busca de
informações com os demais sub grupos, etc;
- A contribuição dos construtores e empresas construtoras será a criação de: check list de
condições mínimas legais de terminalidade e dados que informam claramente ao cliente
qual o produto que ele está adquirindo, intercâmbio com projetistas e incorporadores na
definição do tipo de imóvel, etc;
- Dentro do processo caberá aos prestadores de serviços (engenheiros de obra, mestres,
encarregados, eletricistas, instaladores hidráulicos, pedreiros, pintores, marceneiros,
armadores, entre outros): técnicas adequadas para as principais atividades de cada
serviço, interferência de cada serviço nos demais, definição exata dos pontos hidráulicos,
elétricos, telefônicos, entre outros, check lists para projetos buscando melhor
construtibilidade, critérios de medição, etc;
- Aos prestadores de serviços com fornecimento de materiais (concreto, aço, gesso
acartonado, entre outros): manual de aplicação, recebimento, medição, lançamento e
adensamento do concreto, manual de cuidados no beneficiamento do aço, interferência
em outros projetos e instalações por parte do gesso acartonado, etc;
- O grupo de fornecedores de insumo para construtores, profissional e cliente caberá
atividades como por exemplo: cadastro de fornecedores e tipos principais de produtos,
check list sobre condições de entrega dos materiais e armazenamento, integração de
projetos ou da obra executada, check list de procedimentos
fornecedor/projetista/construtor, etc.

3.7. Cadeia de Suprimentos


A gestão de fornecedores tem importância relevante, sendo utilizado inclusive o termo
“empresa estendida”, para caracterizar a obrigatoriedade de participação dos fornecedores
nos esforços de melhoria da qualidade e produtividade. Algumas diferenças entre as
relações comprador-fornecedor, em empresas que adotam o Lean Thinking,
comparativamente ao enfoque predominante da produção em massa, são (WOMACK,
JONES e ROOS, 1992 e COOPER e SLADMULDER, 1999):

156
- Parcerias: no sistema Lean são buscadas relações estáveis e de longo prazo com os
fornecedores; um grande investimento é feito na busca de ganhos mútuos, transparência e
construção de confiança entre as partes;
- Redução da base de fornecedores: como decorrência da busca por parcerias, são
escolhidos 1 ou 2 fornecedores para cada família de produtos comprados;
- Aprendizado mútuo: os fornecedores são envolvidos no desenvolvimento de produtos,
desde estágios iniciais, e é buscada compreensão mútua dos processos e troca de
tecnologia, visando agregar mais valor aos produtos;
- Esforço conjunto na redução de desperdícios: são desenvolvidos trabalhos na
identificação e eliminação de desperdícios, através de trocas de informações no
desenvolvimento de produtos e no aperfeiçoamento de processos de produção e logística;
em geral o comprador apóia o fornecedor para que o mesmo utilize princípios Lean em
sua produção;
- Entregas e produção just-in-time: ao invés de pedidos baseados em programações,
entregas pouco freqüentes e em grandes lotes, o pedido entre comprador e fornecedor
Lean se dá just-in-time, utilizando o sistema kanban, que solicita a entrega freqüente (ex.
diária) de lotes pequenos, conforme o efetivamente demandado; mais que isso, o
fornecedor é também encorajado a implantar a produção just-in-time, caso contrário os
estoques simplesmente migrarão do recebimento do comprador para a expedição do
fornecedor.
- Qualidade garantida: num sistema just-in-time, a qualidade é mandatória - caso um lote
seja rejeitado, a produção será interrompida, pela quase inexistência de estoques; torna-se
necessário que o fornecedor tenha processos que garantam a qualidade na produção, de
forma a eliminar a necessidade de inspeção de recebimento.

3.8. Modificações no Processo Construtivo


Definindo o processo construtivo a ser adotado é necessário que se reunam representantes
das principais etapas da obra juntamente com os gerentes das áreas citadas anteriormente
e que tenham os conceitos da Construção Enxuta, para que possam discutir e empregar
novas técnicas ao processo construtivo definido, com o propósito de eliminar o máximo
possível das atividades que não agregam valor, reduzindo desta forma os desperdícios de
tempo e gerando uma maior construtibilidade da obra.
Conforme Picchi, 2001, alguns dos tópicos dessa reunião serão: a combinação de
tecnologias de produtos/processos que ampliam características desejadas pelo cliente,
escolha da tecnologia mais adequada (tamanho de equipamentos por exemplo), escolha
de processos que maximizem o fluxo, garantia de confiabilidade do equipamento, uso de
equipamento flexível, entre outros temas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A revisão bibliográfica permite verificar que a idéia da Construção Enxuta lentamente


vem sendo utilizada na construção civil. No futuro deverá assumir um importante papel
estratégico na melhoria do processo produtivo do setor. Esse fato é constatado pelas
pesquisas citadas neste trabalho e pela maneira como o setor vem se comportando em
relação à idéia.

157
O caminho a percorrer ainda está em fase inicial, porém as primeiras experiências
positivas já estão aparecendo após alguns ensaios nessas áreas, confirmando a viabilidade
desta proposta permitindo ganhos de competitividade no setor.
Está claro que, para o futuro, há a necessidade de aprofundamento de estudos onde se
tenha uma maior participação de empresas de construção – não só para contribuir com
novas propostas mas, principalmente, para difundir resultados e estimular a mudança de
comportamento no setor.

5. REFERÊNCIAS

BAZANELLI, A. C. D. R.; DEMRZO, M. A.; CONTE, A. S. I. Otimização da planilha


orçamentária de edificações através da aplicação dos princípios da Lean Construction. III
SIGRAGEC, São Carlos, S.P. 2003.
COOPER, R.; SLADMULDER, R. Supply Chain Development for Lean Enterprise:
interorganizational cost management. Portand: Productivity, 1999.
CORIAT, B. In: UFRJ. Pensar pelo avesso: o modelo japonês de trabalho e
organização. Rio de Janeiro, 1994.
CORTEZ, A. S.; RIGHI DE OLIVEIRA, J. H.; PISTÓIA DE OLIVEIRA, L. C.
Programa de integração da cadeira produtiva da construção civil: o caso do SINDUSCON
Santa Maria (RS). XXII ENEGEP, Curitiba – PR, 2002.
DOS REIS, T.; PICCHI, F. A. Aplicação da “mentalidade enxuta” ao fluxo de negócios
na construção civil. III SIBRAGEC, São Carlos, S.P. 2003.
GITAHY JUNIOR, A. L.; FARIAS FILHO, J. R.; QUELHAR, O. L. G. Aplicação da
construção enxuta (lean construction) na orientação do arranjo físico em canteiros de obra
da construção civil – subsetor edificações. UFF, Niterói, RJ, 2002.
HEINECK, L. F. M.; MACHADO, R. L. A geração de cartões de produção na
programação enxuta de curto prazo em obra. PPGEP, UFSC – SC, 2002.
ISATTO, eduardo luis et alii. Lean Construction: diretrizes e ferramentas para o
controle de perdas na construção civil. 1º ed. Porto Alegre: Sebrae, 2000.
KOSKELA, L. Application of New Production Philosophy to Construction. 1992. CIFE
Technical Report n. 72, Center for Integrated Facility Engineering, Department of Civil
Engineering,Standford University, 1992.
KOSKELA, L. An exploration towards a production theory and its application to
construction. Techinal Research Center of Finland, VTT publications 408: Espoo, 2000.
PICCHI, F. A. Lean principles and the construction main flows. In: Annual Conf. Int.
Group for Lean Construction, 8th , Brighton, UK. Proceedings...Brighton, UK, July 17-
19, 2000.
PICCHI, F. A. Lean Thinking (Mentalidade Enxuta): avaliação sistemática do potencial
de aplicação no setor de construção. Lean Intitute Brasil, São Paulo –S.P. 2001.
PICCHI, F. A. Oportunidades da aplicação do Lean Thinking na construção. Ambiente
Construído, Porto Alegre, v. 3, n. 1, p. 7-23, jan./mar., 2003.

158
SHINGO, shiego. O Sistema Toyota de produção do ponto de vista da Engenharia de
Produção. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 1996.
SOBEK, d.; LIKER, j.; WARD, a. Another Look at how Toyota Integrates Product
Development. Cambridge: Havard Business Review, 1998 v. 76, n. 4, p. 36-50, July/Aug.
SOBEK, d.; LIKER, j.; WARD, a. Principles from Toyota’s Set-Based Concurrent
Engineering Process. Cambridge: Sloan Management Review, 1999. v. 40, n. 2, p. 67-
83, Winter.
SOUZA, F. A. P. Organização da construção de edificações enfocando as filosofias e
princípios da organização da produção: um estudo de caso. 1997. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Civil) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto
Alegre: 1997.
WARD, a.; LIKER, j.; SOBEK, d.; CRISTIANO, j. The Second Toyota Paradox: how
delaying decisions can make better cars fast? Cambridge: Sloan Management Review,
1995. v. 36,n. 1, p. 43-61, Spring.
WOMACK, james p.; JONES, daniel t.; ROOS, daniel. A máquina que mudou o
mundo. 9. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
WOMACK, james p.; JONES, daniel t. A Mentalidade Enxuta nas empresas: elimine
o desperdício e crie riqueza. 5. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

159
ANEXO 2 – DESENHOS DO ANTEPROJETO DO EDIFÍCIO

160
161
162
163
164
165
166
167
168
169
170
171
172
173
ANEXO 3 – MANUAIS TÉCNICOS DOS EQUIPAMENTOS

Manual Técnico da Liebherr

174
175
176
177
Manual Técnico da Kroll

178
179
180
181
Manual Técnico da Favelle Favco

182
ANEXO 4 – SEQÜÊNCIA DE MONTAGEM DA ESTRUTURA DO EDIFÍCIO

183
ANEXO 5 – PROPOSTA DE PLANEJAMENTO DE MONTAGEM DA
ESTRUTURA DO EDIFÍCIO

Total : Prep+Içam+Mont (h)

Folga de Operação (h)


Colunas Vigas Vigas
Principais Intermediárias
Preparação Torre (h)
Nº do Lote (un)

Montgem (h)

Montgem (h)

Montgem (h)
Içamento (h)

Içamento (h)

Içamento (h)
Quantidade

Quantidade
Quantidade
Dia/Semana

(un)

(un)

(un)
Seg. 1 0,50 3 0,50 1,50 4 0,25 1,00 0 0 0 3,75 1,25
Seg. 2 0,50 1 0 0,50 4 0,25 1,00 4 0,25 1,00 3,50 1,50
Seg. 3 0,50 2 0,25 1,00 6 0,50 1,50 2 0,25 0,50 4,50 0,50
Ter. 4 0,50 2 0,25 1,00 6 0,50 1,50 2 0,25 0,50 4,50 0,50
Ter. 5 0,50 2 0,25 1,00 6 0,50 1,50 2 0,25 0,50 4,50 0,50
Ter. 6 0,50 2 0,25 1,00 6 0,50 1,50 2 0,25 0,50 4,50 0,50
Qua. 7 0,50 1 0 0,50 4 0,25 1,00 2 0,25 0,50 3,00 2,00
Qua. 8 0,50 1 0 0,50 4 0,25 1,00 2 0,25 0,50 3,00 2,00
Qua. 9 0,50 1 0 0,50 4 0,25 1,00 2 0,25 0,50 3,00 2,00
Qui. 10 0,50 1 0 0,50 4 0,25 1,00 2 0,25 0,50 3,00 2,00
Qui. 11 0,50 2 0,25 1,00 6 0,50 1,50 2 0,25 0,50 4,50 0,50
Qui. 12 0,50 1 0 0,50 4 0,25 1,00 2 0,25 0,50 3,00 2,00
Sex. 13 0,50 1 0 0,50 4 0,25 1,00 2 0,25 0,50 3,00 2,00
Sex. 14 0,50 2 0,25 1,00 6 0,50 1,50 2 0,25 0,50 4,50 0,50
Sex. 15 0,50 1 0 0,50 4 0,25 1,00 2 0,25 0,50 3,00 2,00
Sáb. 16 0,50 1 0 0,50 4 0,25 1,00 2 0,25 0,50 3,00 2,00

Proposta de Montagem dos Lotes 1ª Etapa.

184
Total : Prep+Içam+Mont (h)

Folga de Operação (h)


Colunas Vigas Vigas
Preparação Torre (h) Principais Intermediárias
Nº do Lote (un)

Montgem (h)

Montgem (h)

Montgem (h)
Içamento (h)

Içamento (h)

Içamento (h)
Quantidade

Quantidade
Quantidade
Dia/Semana

(un)

(un)

(un)
Seg. 17 0,50 3 0,50 1,50 6 0,50 1,50 0 0 0 4,50 0,50
Seg. 18 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Seg. 19 0,50 2 0,25 1,00 9 0,75 2,25 0 0 0 4,75 0,25
Ter. 20 0,50 2 0,25 1,00 9 0,75 2,25 0 0 0 4,75 0,25
Ter. 21 0,50 2 0,25 1,00 9 0,75 2,25 0 0 0 4,75 0,25
Ter. 22 0,50 2 0,25 1,00 9 0,75 2,25 0 0 0 4,75 0,25
Qua. 23 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Qua. 24 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Qua. 25 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Qui. 26 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Qui. 27 0,50 2 0,25 1,00 9 0,75 2,25 0 0 0 4,75 0,25
Qui. 28 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Sex. 29 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 3 0,25 0,75 4,00 1,00
Sex. 30 0,50 2 0,25 1,00 9 0,75 2,25 0 0 0 4,75 0,25
Sex. 31 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Sáb. 32 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 3 0,25 0,75 4,00 1,00

Proposta de Montagem dos Lotes da 2ª Etapa.

185
Total : Prep+Içam+Mont (h)

Folga de Operação (h)


Colunas Vigas Vigas
Principais Intermediárias
Preparação Torre (h)
Nº do Lote (un)

Montgem (h)

Montgem (h)

Montgem (h)
Içamento (h)

Içamento (h)

Içamento (h)
Quantidade

Quantidade
Quantidade
Dia/Semana

(un)

(un)

(un)
Seg. 33 0,50 3 0,50 1,50 6 0,50 1,50 0 0 0 4,50 0,50
Seg. 34 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Seg. 35 0,50 2 0,25 1,00 9 0,75 2,25 0 0 0 4,75 0,25
Ter. 36 0,50 2 0,25 1,00 9 0,75 2,25 0 0 0 4,75 0,25
Ter. 37 0,50 2 0,25 1,00 9 0,75 2,25 0 0 0 4,75 0,25
Ter. 38 0,50 2 0,25 1,00 9 0,75 2,25 0 0 0 4,75 0,25
Qua. 39 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Qua. 40 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Qua. 41 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Qui. 42 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Qui. 43 0,50 2 0,25 1,00 9 0,75 2,25 0 0 0 4,75 0,25
Qui. 44 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Sex. 45 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 3 0,25 0,75 4,00 1,00
Sex. 46 0,50 2 0,25 1,00 9 0,75 2,25 0 0 0 4,75 0,25
Sex. 47 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 6 0,50 1,50 5,00 0
Sáb. 48 0,50 1 0 0,50 6 0,50 1,50 3 0,25 0,75 4,00 1,00

Proposta de Montagem dos Lotes da 3ª Etapa.

Observação1: As 16 vigas (V5) e as 10 vigas da Casa de Máquinas, não foram


consideradas nas planilhas acima pois serão montadas juntamente com as
escadas nos outros 2 turnos dos sábados.

Observação2: Como somatório de peças temos: 72 colunas, 304 vigas


principais, 128 vigas secundárias , as 26 vigas da observação anterior e as
escadas.

186
ANEXO 6 – PROPOSTA DE PLANEJAMENTO DO DEPÓSITO E DO PONTO
INTERMEDIÁRIO ATÉ À OBRA

Dias da Depósito (h) Ponto Intermediário (h)


Lote t
Semana t Prep. t Carreg. t Transp. t Espera t Ida à Obra
Total
Seg 1 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Seg 2 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Seg 3 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Ter 4 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Ter 5 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Ter 6 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qua 7 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qua 8 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qua 9 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qui 10 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qui 11 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qui 12 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Sex 13 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Sex 14 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Sex 15 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Sáb 16 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00

Proposta de Planejamento do Depósito e do Ponto Intermediário até à Obra da


1ª Etapa

187
Dias da Depósito (h) Ponto Intermediário (h)
Lote t
Semana t Prep. t Carreg. t Transp. t Espera t Ida à Obra
Total
Seg 17 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Seg 18 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Seg 19 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Ter 20 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Ter 21 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Ter 22 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qua 23 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qua 24 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qua 25 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qui 26 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qui 27 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qui 28 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Sex 29 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Sex 30 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Sex 31 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Sáb 32 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00

Proposta de Planejamento do Depósito e do Ponto Intermediário até à Obra da


2ª Etapa

188
Dias da Depósito (h) Ponto Intermediário (h)
Lote t
Semana t Prep. t Carreg. t Transp. t Espera t Ida à Obra
Total
Seg 33 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Seg 34 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Seg 35 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Ter 36 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Ter 37 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Ter 38 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qua 39 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qua 40 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qua 41 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qui 42 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qui 43 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Qui 44 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Sex 45 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Sex 46 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Sex 47 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00
Sáb 48 0,50 1,00 2,50 0,50 0,50 5,00

Proposta de Planejamento do Depósito e do Ponto Intermediário até à Obra da


3ª Etapa

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