© Direitos autorais, 1998, da organizagao ¢ da introdugao de Paulo de Salles Oliveira. Dircitos de publi- cacao reservados pela Editora Hucitec Ltda., Rua Gil Eanes, 713 ~ 04601-042 Sao Paulo, Brasil. Telefo- nes: (011)240-9318, 542-0421 © 543-0653; vendas: (011)530-4532; fac-simile: (011)530-5938. e-mail: hucitec@mandie.com.br ISBN 85-271-0465-2 Foi feito 0 depésito legal. Editoragao Eletrénica: Johannes Christian Bergmann Rafael Vitzel Corréa Ilustragao da capa: Pour saluer Fellini (detalhe), Roger Somville, 1985. Co-edigio com a FUNDAGAO EDITORA DA UNESP Av. Rio Branco, 1210 — 01206-904 Sao Paulo, Brasil Telefones: (011)223-7088; fax (011)223-7088 (ramal 227). Dados Internacionais de Catalogagao na Publicacao (CIP) (Sandra Regina Vitzel Domingues) 049 Oliveira, Paulo de Salles Metodologia das Ciéncias Humanas / Paulo de Salles Oliveira (organizador). ~ Sao Paulo : Hucitec / UNESP, 1998. 219 p. ; 21 em. (Paidéia ; 1) Inclui referéncias bibliograficas ISBN 85-271-0465-2 1. Sociologia I. Titulo IL.Série . CbD - 301.2 Indice para catalogo sistematico: 1, Sociologia: Metodologia: Ciéncias Humanas 301.2 2. Cultura popular: Cultura de massas 301.2CAMINHOS DE CONSTRUGAO DA PESQUISA EM CIENCIAS HUMANAS PAULO DE SALLES OLIVEIRA A IMPORTANCIA DO METODO Que © SENTIDO que se pode emprestar & nogao de método? Trata-se de conceito que comporta miltiplas acepgdes. Nestes casos, sempre é bom comecar por um di- cionario especializado. Lalande assinala: esforco para atingir um fim, investigacao, estudo; caminho pelo qual se chega a um determinado resultado; programa que regu- la antecipadamente uma seqiiéncia de operagées a executar, assinalando certos erros a evitar!, Método indica, portanto, estrada, via de acesso e, simultaneamente, rumo, discernimento de diregio. Concluindo, com as palavras de Marilena Chaui, “metho- dos significa uma investigagao que segue um modo ou uma maneira planejada e determinada para conhecer alguma coisa; procedimento racional para o conhecimen- to seguindo um percurso fixado2.” O método assinala, portanto, um percurso escolhido entre outros possiveis. Nao é sempre, porém, que o pesquisador tem consciéncia de todos os aspectos que envol- vem este seu caminhar; nem por isso deixa de assumir um método. Todavia, neste caso, corre muitos riscos de nao proceder criteriosa ¢ coerentemente com as premis- sas te6ricas que norteiam seu pensamento. Quer dizer, o método nao representa tio- somente um caminho qualquer entre outros, mas um caminho seguro, uma via de acesso que permita interpretar com a maior coeréncia ¢ correcdo possiveis as ques- tdes sociais propostas num dado estudo, dentro da perspectiva abragada pelo pesqui- sador. O objeto da metodologia é, entao, o de estudar as possibilidades explicativas CANINHOS DE CONSTRUGAO DA PESQUISA EM CIENCIAS SOCIAIS Lalande, André. Vocabulério téc: nico e cientifico da filosofia. Va trios tradutores, sob a coordena. a0 de Anténio Manuel Maga- Ihaes. Porto: Rés, s.d., 2 v. 2 Chaui, Marilena. Introdugao a hist6ria da filosofia. Dos pré-so craiticos a Arist6teles. Sao Pau. lo: Brasiliense, 1994, p. 354. 17§ Wright Mills, Charles. A imagi- nagao sociolégica. Trad. de W. Dutra. 6.*ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982, p. 135. * Ibidem, p. 134. 5 Chaui, Marilena. Filosofia mo- derna. In: Chaui, Marilena et alii. Primeira filosofia, Sio Pau- lo: Brasiliense, 1984, p.77. © Chauf, Marilena. Convite a filo- sofia. Sao Paulo: Atica, 1994, p. 277, 18 dos diferentes métodos, situando as peculiaridades de cada qual, as diferengas, as divergéncias, bem como os aspectos em comum. Expoentes das ciéncias humanas tém reconhecido que as questdes suscitadas pelo método, nao obstante sejam extremamente relevantes na pesquisa, nem sempre tém recebido a atengao que mereceriam de alguns pesquisadores. Curioso é notar que esse tipo de desatengao possa estar, de alguma forma, vinculado a pratica de se estudar metodologia. Wright Mills constata que: “Muitos autores instintivamente comegam atacando os problemas do método de forma acertada. Mas depois de estudarem metodologia, eles se tornam conscientes de numerosas armadilhas e outros perigos que os esperam. O resultado é que perdem a sua seguranca interior ¢ sao desviados ou tomam decisdes inadequadas.”> Diante disso, recomenda um cuidado especial aos pesquisadores, 0 de buscar fundamento nos autores expressivos que semearam 0 terreno para nés € que, fortale- cidos por essa empreitada, cada qual possa ser também seu “proprio teérico ¢ seu proprio metodélogo”*. Numa perspectiva ampla, é isso que se dé entre os filésofos, como mostra Marilena Chaui, ressalvando entretanto que, no sentido estrito, “o bom método & aquele que permite conhecer verdadeiramente 0 maior ntimero de coisas com 0 menor ntimero de regras”S, Mais recentemente, a autora acrescenta que se verdadeiro que as ciéncias do homem comportam varios ramos especificos, de acordo com seus objetos ¢ métodos, essa especificidade nao deveria inibir aproximaces en- tre as areas, pois: “[...] as ciéncias humanas tendem a apresentar resultados mais completos e satisfatorios quando trabalham interdisciplinarmente, de modo a abran- ger os miltiplos aspectos simultneos e sucessivos dos fendmenos estudados.”* Assim, feitas estas consideragdes, espera-se que leitores e pesquisadores, longe de se apartarem da metodologia, dela se aproximem lapidando artesanalmente a cons- trugao de seus estudos, sem perder de vista a idéia de totalidade que recobre as cién- cias humanas. O ARTESAO INTELECTUAL Wright Mills reflete com beleza e mestria sobre este modo de proceder e discorre sobre varios aspectos relevantes: a relacdo entre o tema de pesquisa e a biografia do pesquisador, a importdncia de coligir anotacGes em arquivos, cuidados com o levanta- mento de dados ¢a produg (0 de novas fontes, a importancia de exercitar a imaginagio PAULO DE SALLES OLIVEIRA