Você está na página 1de 3

Flávio José Fernandes Oliveira (A75005)

GLOBALIZAÇÃO, DIREITOS HUMANOS E RISCOS

Relatório do Discurso Proferido pelo Prof. Doutor Clóvis Demarchi (Professor académico da
UNIVALI, Doutor em Ciências Jurídicas ) no âmbito do Seminário de Conferências “A
protecção dos Direitos Humanos face à Criminalidade Económica Globalizada”.
GLOBALIZAÇÃO, DIREITOS HUMANOS E RISCOS

O desenvolvimento da República Federal do Brasil é condicionado em grande medida pela corrupção.


Nos dias que correm a corrução é crime porque apresenta uma ligação direta e causal com os cidadãos
e todos os Estados, atingindo a proteção dos direitos sociais e económicos sobretudo dos mais
desfavorecidos. A corrupção resultou da evolução histórica de um mundo globalizado de massas onde
o dinheiro é a palavra essencial para subir na carreira.
A natureza material da corrupção assenta na falta de ética e de moral nos padrões comportamentais,
na medida em que se age com objetivos ocultos, obtendo vantagens. Mas como é a que a obtenção de
vantagens poderá ser crime? Os doutrinários defendem a diferença entre uma validade legislativa
formal e uma validade legislativa substancial. As normas podem existir, mas o facto de existirem
estruturalmente, depende que o seu impacto seja abstratamente dependente dos valores do Direito
Natural, que se reflete no comportamento social, de adesão ou não adesão. Personificando, podemos
afirmar que existe uma moldura esquelética societária – o código genético que criminaliza condutas
absolutamente violadores desta consciência interna. O correto e o justo está na validade formal, desde
que atinja o bem-comum individual. O problema resulta na determinação concreta do correto e do justo
em determinados “crimes” onde a afetação vista unilateral não é prejudicial, mas a afetação aglomerada
é considerada crime, deste modo o grave problema na corrupção assenta na legitimidade de interesses.
Nos nossos dias a comunicação, originada da globalização e transnacionalidade é um elemento de
difusão, impacto e deturpação social, onde as concorrências económicas, envolvem a manipulação da
sociedade. A teoria dos aparelhos geológicos do Estado defende especificamente que a comunicação
contraria a realidade. Mas é um facto verídico que quem detém a comunicação detém a realidade.
Desde as épocas do estabelecimento e afirmação das relações comerciais, e quando o comércio se
tornou o meio determinante na aquisição de lucros, vários mecanismos foram surgindo. É comum no
Brasil utilizar-se a expressão Santo de Pau oco. Esta expressão salienta a dissimulação e a fraude nas
classes altas da sociedade Brasileira. De acordo com a História Brasileira, o santo de pau oco, nas
regiões de minério e durante o colonialismo, era utilizado preenchendo-o de ouro em pó ou em pedra,
ou até mesmo diamantes. Tudo isto tinha como objetivo fugir ao serviço de cobrança de impostos. Os
governadores, escravos e clérigos estiverem envolvidos nesta “máfia”. Muitas imagens religiosas
(ocas) eram transacionadas de pais em país com o objeto de esconder as transações comerciais que
existiam.
A grande base preocupante está de facto no Interesse Público, que acima de tudo é um interesse de
todos, plurilateral. De tal modo que os desvios monetários para favores, trabalhos de favorecimento
realizados para determinadas empresas, as subidas de cargos fáceis são deturpadoras das realidades
constitucionais globais. O princípio interconstituicional da igualdade afirma que todos devem ser
1
tratados de igual modo e em igualdade de circuntâncias. A igualdade de circunstâncias é violada pelas
“luvas”, favores, créditos, títulos, imoveis etc. De tal modo que os programas feitos para todos os
cidadãos na qual deviam respeitar a igualdade formal e material são incapazes de ultrapassar meras
quimeras.
Tudo este panorama inconstitucional reflete problemas para aqueles que se preocupam com a
dignidade do trabalho honesto, autêntico e transparente, pois estes vêm impossibilitadas as ascensões
a concursos, empregos, e programas multilaterais. Esta problemática contamina diretamente o
funcionamento da orgânica estadual na sua vertente de prossecução da verdade material nas atuações
públicas. Consequentemente o salário diário das famílias que se transforma em receita orçamental, é
deturpado pelos malabarismos económicos, quebrando as deliberações orçamentais em nome do povo
e para o povo. O veneno do dinheiro consegue impor mais do que o próprio Estado. Já dizia uma grande
deputada indignada com uma candidatura ao Tribunal de Contas que a corrupção está no ADN dos
brasileiros.
A atuação da corrupção é muito pouco sentida concretamente, por vezes até difícil de descobrir, mas
quando é descoberta já apresenta coligações e ramificações que perfuram todas as classes sociais,
autoridades, ministérios. A cidadania, a constitucionalidade, a ética, a autoridade, a contabilidade
pública-fiscal, a justiça são menosprezadas pelos grandes corruptos. Tudo isto se complica quando as
luvas são transferidas para paraísos fiscais, difíceis de encontrar, devido aos grandes planeamentos
económicos e supostos investimentos em “empresas fictícias”.
A reflexão que se deve fazer manifesta-se numa ligação indireta com as crises atuais, e que por ser
indireta é difícil de julgar. Os milhões desviados dos orçamentos ministeriais para os bolsos dos
corrutos, serviriam para melhorar o direito à apoios sociais, o direito a saúde, o direito à educação,
melhoramento de infra-estruturas, desenvolvimento-social, luta contra a fome, instalações de redes de
água-publicas. Como se presume há uma grande teia de consequências difíceis de estabelecer um nexo
causal, mas há verdade é que existindo vários pontos de perfuração estadual as atuações não são o que
podiam ser verdadeiramente.
A solução para estes problemas passa por melhorar as praticas politicas, desenvolver a transparência
através de entidades independentes, exigência de critérios rigorosos de seleção, abertura de concursos
públicos, e orçamentos participativos, simplificação do sistema tributário e realização de auditorias,
ausência de benefícios especiais para exercícios ministeriais (como a derrogação do sigilo bancários
com autorização judicial), sancionamento agravado para crimes contra a corrupção.
2

Você também pode gostar