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14ª CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RJ


APELAÇÃO CÍVEL
PROCESSO Nº 0014327-65.2016.8.19.0007
APELANTE: AUGUSTO CUSTÓDIO DA SILVA
APELADO: AUTO ESCOLA JLM LTDA. ME.
RELATOR: DESEMBARGADOR JOSÉ CARLOS PAES

APELAÇÃO CÍVEL. CONSUMIDOR. CONTRA-


TO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE AUTO-
ESCOLA. CURSO TEÓRICO E PRÁTICO PARA
OBTENÇÃO DE PERMISSÃO PARA DIRIGIR
VEÍCULO AUTOMOTOR. REPROVAÇÃO NO
TESTE PSICOLÓGICO REALIZADO NO DE-
TRAN-RJ. PRETENSÃO DE RESCISÃO DE
CONTRATO E DEVOLUÇÃO TOTAL DO NU-
MERÁRIO DESEMBOLSADO. IMPOSSIBILI-
DADE. DEVOLUÇÃO PROPORCIONAL AO
SERVIÇO PRESTADO. POSSIBILIDADE. PRE-
VISÃO CONTRATUAL E CLÁUSULAS ABUSI-
VAS. DANO MORAL. INEXISTÊNCIA. HONO-
RÁRIOS RECURSAIS.
1. O caso versa sobre relação de consumo, pois
o demandante enquadra-se no conceito de con-
sumidor descrito no artigo 2º do Código de Prote-
ção e Defesa do Consumidor e a demandada no
de fornecedora, nos termos do caput do artigo 3º
do mesmo diploma legal, uma vez que aquele é o
destinatário final dos serviços prestados pela au-
toescola. Posto isso, deve o apelo ser julgado de
acordo com as regras do CPDC.
2. Tratando-se de relação de consumo, a res-
ponsabilidade do fornecedor de serviços é objeti-
va, nos termos do artigo 14 do CPDC, razão pela
qual incumbe à ré demonstrar a existência de
causa excludente de sua responsabilidade.
3. Outrossim, nas relações de consumo os con-
tratos devem ser interpretados de maneira mais
favorável ao consumidor, conforme determina o
artigo 47 do CPDC.

Assinado em 09/05/2018 18:43:49


JOSE CARLOS PAES:29005 Local: GAB. DES JOSE CARLOS PAES
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4. Na hipótese, tem-se situação singular na qual


o autor, após contratar os serviços de autoescola
para obtenção da primeira licença para dirigir ve-
ículo automotor, acabou reprovado no exame
psicológico realizado pelo DETRAN-RJ, tendo
postulado a rescisão do contrato e a devolução
total dos valores desembolsados. A ré, por sua
vez, sustenta que os serviços estavam à disposi-
ção do consumidor, na forma pactuada, inexistin-
do dever de devolver os valores pagos.
5. Verifica-se que no contrato entabulado entre
os litigantes existem dispositivos que vedam
qualquer tipo de restituição de valores pagos,
enquanto, por outro lado, existe previsão de res-
cisão contratual pela vontade de qualquer das
partes e pagamento de forma proporcional aos
serviços prestados.
6. Inegável que a existência de cláusula que dis-
ponha sobre a impossibilidade de rescisão con-
tratual e perda total dos valores pagos sem a efe-
tiva prestação dos serviços contratados revela-se
abusiva e deve ser considerada ilegal, na forma
do artigo 51 do CPDC.
7. Nesse caminhar, resta dar ênfase a cláusula
Décima Oitava - diga-se especifica de rescisão
contratual - sopesando os serviços efetivamente
prestados pela parte ré frente ao pagamento rea-
lizado pelo demandante, não perdendo de vista
que o serviço contratado se resume em aulas
práticas e teóricas necessárias à obtenção de
permissão para a direção de veículos automoto-
res, categoria B, nos termos da cláusula segun-
da.
8. Os elementos probatórios trazidos aos autos
demonstram que a parte ré realizou trabalho de
despachante, consubstanciado no pagamento do
DUDA, abertura do RENACH junto ao DETRAN-
RJ e agendamento dos exames psicológicos rea-
lizados pelo apelante. Portanto, forçoso concluir
que não houve qualquer prestação de serviço de
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aulas teóricas ou práticas ou agendamento da


prova prática no DETRAN-RJ.
9. Nesse passo, mostra-se razoável a restituição
equivalente a 90% do dinheiro desembolsado pe-
lo autor com o contrato, tendo em vista que o
serviço principal da autoescola (aulas teóricas e
práticas) não foi efetivamente prestado.
10. Deve-se abater o valor de R$ 229,36 referen-
te ao DUDA de inscrição de primeira habilitação
e exames, uma vez que desembolsado pela au-
toescola.
11. A alegação de que os serviços estavam à
disposição do consumidor, não é suficiente para
ser considerada efetiva prestação do serviço con-
tratado. E isso, porque as aulas teóricas e práti-
cas estão disponíveis na autoescola durante os
12 meses do ano para qualquer cidadão que pre-
tenda obter a primeira habilitação para conduzir
veículo automotor.
12. Ademais, os custos com serviço de despa-
chante são irrisórios, porquanto o agendamento
pode ser realizado pelo sítio eletrônico do DE-
TRAN ou pela Central Gratuita de Atendimento
Telefônico, assim como pagamento do DUDA ser
feito através dos portais eletrônicos dos bancos.
13. Dos fatos narrados pelo autor, não se verifica
ofensa à sua honra em grau suficiente a caracte-
rizar lesão a interesse extrapatrimonial, que cau-
se dano moral objetivo (in re ipsa), cuja prova se
presume.
14. O mero inadimplemento contratual não gera
dano moral, exceto em situações excepcionais
em que há ofensa a personalidade do consumi-
dor, incidindo, na espécie, o verbete nº 75 da
súmula de jurisprudência predominante deste
Tribunal de Justiça.
15. A interposição de recursos contra sentença
prolatada já sob a égide da Vigente lei Ritos impõe
a fixação de honorários recursais na forma do §11
do artigo 85 do CPC. Dessa maneira, fixa-se os
honorários recursais em 2% (dois por cento) do va-
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lor da condenação, devidos pelo autor ao patrono


do réu, quantia que também é devida pela deman-
dada ao advogado do demandante, conforme pre-
coniza o §14 do mesmo dispositivo legal.
16. Recurso provido em parte.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos esta Apelação Cível nos


autos do processo nº 0014327-65.2016.8.19.0007, em que é ape-
lante AUGUSTO CUSTÓDIO DA SILVA e apelado AUTO ESCOLA JLM
LTDA. ME.

Acordam os Desembargadores que integram a 14ª


Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro,
por unanimidade de votos, em conhecer e dar parcial provimento ao
recurso para que a restituição proporcional dos serviços contratados
alcance a importância de R$ 1.143,57 (Um mil e cento e quarenta e
três reais e cinquenta e sete centavos), com correção monetária a
contar do pedido de rescisão contratual ocorrido em 10/06/2016 (fls.
31 / 000022), e juros de mora de 1% ao mês a partir da citação váli-
da ocorrida em 10/03/2017 (fls. 48 / 000048), bem como em fixar os
honorários recursais em 2% (um por cento) do valor da condena-
ção, devidos pelo autor ao patrono da ré e, também, pela deman-
dada ao advogado do demandante, suspensa a exigibilidade quanto
ao autor, na forma do §3º do artigo 98 do Códex Instrumental.

VOTO

Conhece-se o recurso, pois tempestivo, com gratui-


dade de justiça deferida a folhas 40 (000040), presentes os demais
requisitos para sua admissibilidade.

Ab initio, destaca-se que o caso versa sobre relação


de consumo, pois o demandante enquadra-se no conceito de con-
sumidor descrito no artigo 2º do Código de Proteção e Defesa do
Consumidor e a demandada no de fornecedora, nos termos do ca-
put do artigo 3º do mesmo diploma legal, uma vez que aquele é o
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destinatário final dos serviços prestados pela autoescola. Posto is-


so, deve o apelo ser julgado de acordo com as regras do CPDC. 1 2

E, em se tratando de relação de consumo, a respon-


sabilidade do fornecedor de serviços é objetiva, nos termos do arti-
go 14 do CPDC, razão pela qual incumbe à ré demonstrar a exis-
tência de causa excludente de sua responsabilidade.

No caso vertente, incontroverso que as partes firma-


ram contrato de adesão para realização de Curso de Formação de
Condutores, consistente na realização de aulas práticas e teóricas
necessárias à permissão para a direção de veículos automotores,
categoria B, pelo valor de R$ 1.500,00, que foram pagos em 5 pres-
tações de R$ 300,00 reais cada.

Incontroverso ainda, que o parte autora foi reprovada


por três vezes no exame psicológico realizado pelo DETRAN-RJ,
acabando por desistir do curso.

Destaque-se que houve pedido formal de resolução


do contrato e devolução do numerário desembolsado com o contra-
to, encontrando o demandante, contudo, resistência da ré sob ale-
gação de que prestou os serviços na forma pactuada.

Pois bem.

Não se olvide que a boa-fé se encontra prevista ex-


pressamente no Código de Proteção e Defesa do Consumidor co-
mo vetor de harmonização dos interesses dos participantes das re-
lações de consumo, a teor de seu artigo 4º, inciso III. 3
1 Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final.
2 Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangei-

ra, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, monta-
gem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercializa-
ção de produtos ou prestação de serviços.
3
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das
necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção
de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparên-
cia e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibiliza-
ção da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnoló-
gico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da
Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumido-
res e fornecedores;
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Por sua vez, o artigo 51 do CPDC dispõe que em ha-


vendo disposições ou cláusulas abusivas no contrato em espécie,
dentre elas as que impossibilitem, exonerem ou atenuem a respon-
sabilidade do fornecedor de serviços poderá a nulidade delas ser
declarada de ofício pelo julgador. 4

Outrossim, é cediço que nas relações de consumo os


contratos devem ser interpretados de maneira mais favorável ao
consumidor, conforme determina o artigo 47 do CPDC. 5

In casu, verifica-se que no contrato entabulado entre


os litigantes existem dispositivos que vedam qualquer tipo de resti-
tuição de valores pagos, enquanto, por outro lado, existe previsão
de rescisão contratual pela vontade de qualquer das partes e pa-
gamento de forma proporcional aos serviços prestados.

Vejam-se as cláusulas:

4 Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao forneci-
mento de produtos e serviços que:
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qual-
quer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas
relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá
ser limitada, em situações justificáveis;
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos
neste código;
III - transfiram responsabilidades a terceiros;
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
V - (Vetado);
VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;
VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;
VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor;
IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consu-
midor;
X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral;
XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja
conferido ao consumidor;
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual
direito lhe seja conferido contra o fornecedor;
XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contra-
to, após sua celebração;
XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;
XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;
XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias.
5 Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumi-

dor.
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Cláusula Oitava: O processo de habilitação deverá ser


concluído no prazo máximo de 01 (um) ano, contados da
data da assinatura do presente contrato.
Parágrafo Primeiro. Uma vez encerrada a validade do
processo pelo decurso do prazo, por culpa do CONTRA-
TANTE não haverá direito a restituição de quaisquer valo-
res pagos, devendo o mesmo, caso queira, efetuar o pa-
gamento de novas taxas para iniciar novo processo de
habilitação e o valor do respectivo serviço DO CONTRA-
TADO conforme tabela de preço da CFC

Cláusula Décima Quinta: É de inteira responsabilidade do


CONTRATANTE as faltas ás aulas teóricas ou práticas,
que não permitem a conclusão do curso dentro do prazo
do processo de habilitação, não havendo direito à restitui-
ção de qualquer valor pago na forma da cláusula oitava.

Cláusula Décima Sexta: Do mesmo modo, será de inteira


responsabilidade do CONTRATANTE a falta nos dias de-
signados para os exames médico, psicológico, teórico e
de direção ou, ainda, em caso de reprovação dos mes-
mos.
Parágrafo Único. No caso de falta ou reprovação nos
exames, querendo, deverá o CONTRATANTE efetuar no-
vamente o pagamento das taxas ao DETRAN, para reali-
zação de novo exame, assim como o aluguel do veículo
no valor para o dia, no caso de novo exame de direção; e
ainda, desejando frequentar novamente as aulas teóricas
ou realizar novas aulas práticas, deverá efetuar o paga-
mento correspondente ás mesas, conforme tabela de pre-
ços do CFC.

Cláusula Décima Oitava: O presente contrato poderá ser


rescindido caso uma das partes não cumpra o estabeleci-
do em qualquer das cláusulas deste instrumento, ou ain-
da, pela vontade de qualquer das partes, sem que haja di-
reito a multa ou qualquer tipo de indenização, devendo os
serviços ser, imediatamente interrompidos e o pagamento
efetuado de forma proporcional aos serviços prestados.

Cláusula Décima Nona: Em caso de desistência do CON-


TRATANTE não haverá direito a restituição dos valores
pagos, sem prejuízo da cobrança de valores eventual-
mente devidos até o momento da desistência;

É inegável que a existência de cláusula que disponha


sobre a impossibilidade de rescisão contratual e perda total dos va-
lores pagos sem a efetiva prestação dos serviços contratados reve-
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la-se abusiva e deve ser considerada ilegal, na forma do artigo o


artigo 51 do CPDC.

Nessa linha, resta dar ênfase a cláusula Décima Oita-


va - diga-se específica de rescisão contratual - sopesando os servi-
ços efetivamente prestados pela parte ré frente ao pagamento reali-
zado pelo demandante. 6

Não se perca de vista que o serviço contratado se re-


sume as aulas práticas e teóricas necessárias à permissão para a
direção de veículos automotores, categoria B, nos ternos da cláusu-
la segunda. 7

Os elementos probatórios trazidos aos autos demons-


tram que a parte ré realizou trabalho de despachante, consubstan-
ciado no pagamento do DUDA no valor de R$ 229,36, abertura do
RENACH junto ao DETRAN-RJ e agendamento dos exames psico-
lógicos realizados pelo apelante.

Portanto, forçoso concluir que não houve qualquer


prestação de serviço de aulas teóricas ou práticas ou agendamento
da prova prática no DETRAN-RJ.

A alegação de que os serviços estavam à disposição


do consumidor não é suficiente para ser considerada efetiva presta-
ção do serviço contratado. E isso, porque as aulas teóricas e práti-
cas estão disponíveis durante os 12 meses do ano para qualquer
cidadão que pretenda obter a primeira habilitação para conduzir ve-
ículo automotor.

Ademais, os custos administrativos com serviço de


despachante são irrisórios, porquanto o agendamento pode ser rea-
lizado pelo sítio eletrônico do DETRAN ou pela Central Gratuita de

6 Cláusula Décima Oitava: O presente contrato poderá ser rescindido caso uma das partes não
cumpra o estabelecido em qualquer das cláusulas deste instrumento, ou ainda, pela vontade
de qualquer das partes, sem que haja direito a multa ou qualquer tipo de indenização, devendo
os serviços ser, imediatamente interrompidos e o pagamento efetuado de forma proporcional
aos serviços prestados.
7 Cláusula 2ª. O presente contrato tem como OBJETO, a prestação dos serviços de Ensino

pelo CONTRATADO ao CONTRATANTE correspondente ao CURSO DE FORMAÇÃO DE


CONDUTORES, consistente na realização de aulas teóricas e práticas necessárias à obtenção
de habilitação de veículos automotores, nos limites da CATEGORIA contratada, nos termos da
Legislação Vigente e Regulamentos do órgão executivo estadual de trânsito – DETRAN/RJ
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Atendimento Telefônico, assim como pagamento do DUDA ser rea-


lizado através dos portais eletrônicos dos bancos.

Nesse caminhar, mostra-se razoável a restituição de


90% do dinheiro desembolsado pelo autor com o contrato, tendo em
vista que o serviço principal da autoescola (aulas teóricas e práti-
cas) não foi efetivamente prestado.

Do percentual alhures, deve-se abater o valor de R$


229,36 referente ao DUDA de inscrição de primeira habilitação e
exames, uma vez que desembolsado pela autoescola, conforme
documento de folhas 70-71 (000070-000071), não refutado pela
parte autora.

Por isso, a sentença será reformada para que a resti-


tuição em favor do apelante represente a quantia de R$ 1.143,57
(R$ 1.500 - R$ 229,36 = R$ 1.270,64 / 90% = 1.143,57)

Quanto aos danos imateriais reclamados pelo autor,


melhor sorte não lhe assiste.

Os incisos V e X do artigo 5º da Constituição da Re-


pública asseguraram a indenização por dano moral como forma de
compensar agressão à dignidade humana, entendendo-se esta
como dor, vexame, sofrimento ou humilhação, angústias, aflições
sofridas por um indivíduo, fora dos parâmetros da normalidade e do
equilíbrio.8 9

Dos fatos narrados pelo autor, não se verifica ofensa


à sua honra em grau suficiente a caracterizar lesão a interesse ex-
trapatrimonial, que cause dano moral objetivo (in re ipsa), cuja pro-
va se presume.

Com efeito, o inadimplemento contratual não gera da-


no moral, exceto em situações excepcionais em que há ofensa a
personalidade do consumidor, incidindo, na espécie, o verbete nº

8 V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por da-


no material, moral ou à imagem;
9 X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado

o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;


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75 da súmula de jurisprudência predominante deste tribunal de Jus-


tiça. 10

Assim, ausente dano a ensejar reparação moral, a


improcedência deste pedido é medida de rigor.

Por fim, o artigo 85, §11, do atual Código de Processo


Civil dispõe que o Tribunal, ao julgar o recurso interposto, majorará
os honorários fixados anteriormente.11

Já o Enunciado administrativo número 7 do Superior


Tribunal de Justiça dispõe que “Somente nos recursos interpostos
contra decisão publicada a partir de 18 de março de 2016, será
possível o arbitramento de honorários sucumbenciais recursais, na
forma do art. 85, §11, do novo CPC”.

Desse modo, tendo em vista que a sentença proferida


quando já vigente o atual Codex, cabível a fixação dos honorários
sucumbenciais recursais.

A majoração a ser aplicada, nos termos do dispositivo


citado (CPC/2015, artigo 85, §11), leva em consideração a finalidade
de se inibir a interposição de recurso, mas, também, o percentual
mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da con-
denação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível men-
surá-lo, sobre o valor atualizado da causa (artigo 85, §2º,
CPC/2015), considerando o cômputo geral dos honorários. Por isso,
este Relator deve determinar tal majoração entre 0,01% e 10% do
valor da condenação.

Dessa forma, fixa-se os honorários recursais em 2%


(dois por cento) do valor da condenação, devidos pelo autor ao pa-
trono da ré, montante que também é devido pela demandada ao

10 SÚMULA TJ Nº 75 - O SIMPLES DESCUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL OU CONTRA-


TUAL, POR CARACTERIZAR MERO ABORRECIMENTO, EM PRINCÍPIO, NÃO CONFIGURA
DANO MORAL, SALVO SE DA INFRAÇÃO ADVÉM CIRCUNSTÂNCIA QUE ATENTA CON-
TRA A DIGNIDADE DA PARTE.
11 § 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em

conta o trabalho adicional realizado em grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto
nos §§ 2o a 6o, sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos
ao advogado do vencedor, ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos §§ 2o e 3o para
a fase de conhecimento.
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advogado do demandante, conforme preconiza o §14 do mesmo


dispositivo legal. 12

Por tais fundamentos, conhece-se o recurso e a ele se


dá parcial provimento para que a restituição proporcional dos servi-
ços contratados alcance a importância de R$ R$ 1.143,57 (um mil e
cento e quarenta e três reais e cinquenta e sete centavos), com cor-
reção monetária a contar do pedido de rescisão contratual ocorrido
em 10/06/2016 (fls. 31 / 000022), e juros de mora de 1% ao mês a
partir da citação válida ocorrida em 10/03/2017 (fls. 48 / 000048).
Honorários recursais fixados em 2% (um por cento) do valor da
condenação, devidos pelo autor ao patrono da ré e, também, pela
demandada ao advogado do demandante, suspensa a exigibilidade
quanto ao autor, na forma do §3º do artigo 98 do Códex Instrumen-
tal.

Rio de Janeiro, 9 de maio de 2018.

DESEMBARGADOR JOSÉ CARLOS PAES


RELATOR

12§ 14. Os honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar, com os mes-
mos privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a compensação
em caso de sucumbência parcial.

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