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TÓPICOS ESPECIAIS EM POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS I – DOSSIÊ Nº 1

NOME: Adriano Bastos Gentil MATRÍCULA: Aluno Especial

FICHA TÉCNICA
TÍTULO DO TRABALHO: Corpos em paralaxe
LINGUAGEM: Quadro caixa
DIMENSÕES: 95x95 e 60x75.
MATERIAL UTILIZADO: Tecido, tinta, madeira e vidro
TÉCNICA: Sublimação (técnica de impressão em tecido) e montagem em uma caixa de
madeira com a quebra do vidro frontal
DATA/LOCAL DE PRODUÇÃO: novembro e dezembro/2018, Aguas Claras/DF
DEVE SER APRESENTADO EM ESPAÇO ESPECÍFICO? ONDE? Apresentado
durante a disciplina Poéticas Contemporâneas 1, do PPG-Arte/UnB.
CUSTO DO TRABALHO: R$ 450,00 (aproximadamente).

RESUMO CLARO DO TRABALHO E SUAS UMA REPRODUÇÃO FOTOGRÁFICA OU UM


ETAPAS DE REALIZAÇÃO. CROQUI DO TRABALHO
O trabalho consiste em revelar ações de
apropriação e violação em corpos ditos
não hegemônicos, através de ações
violentas que deixem marcas/ estigmas
nas pessoas. O trabalho é uma série de
quadros trabalhados nos tons de
vermelho com imagens apropriadas de
outras pessoas que revelem cenas onde
a temática do sexo anal sejam
representadas na consumação do fato ou
no processo que levará a isso. O filme
Querelle e os desenhos de Tom of
Finland foram as inspirações para a
conceituação dessas obras. Foram feitas
impressão (sublimação) em tecido,
depois as peças foram cortadas e
costuradas, rasgadas e montadas em
caixas com o tampo de vidro quebrado.
TÓPICOS ESPECIAIS EM POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS I – DOSSIÊ Nº 1

NOME: Adriano Bastos Gentil MATRÍCULA: Aluno Especial

GLOSSÁRIO
TERMO I: DEFINIÇÃO(ÕES):
Corpo A coleção de massas tomadas uma a uma, corte de
julgamento final sobre o que somos ou o que
podemos nos tornar. Massa que não se limita às
concepções orgânicas; antes de tudo, ele se
apresenta como um campo sobre o qual operam
diferentes dispositivos.
TERMO II: DEFINIÇÃO (ÕES):
Violação Tratamento desrespeitoso dado a algo ou a alguma
pessoa que merece profunda deferência. Submissão
de alguém a um ato sexual, contra sua vontade;
estupro. Desrespeito ao direito alheio. Invasão de
área privada ou interditada.
TERMO III: DEFINIÇÃO(ÕES):
Apropriação/Roubo Ato ou efeito de apropriar-se, de se tornar próprio,
adequado; adequação, pertinência. Uso sem
permissão de algo. Acomodação, adaptação.
TERMO IV: DEFINIÇÃO(ÕES):
Marca/Estigma Representação simbólica, qualquer que ela seja, algo
que permite identificá-la de um modo imediato como,
por exemplo, um sinal de presença, uma simples
pegada. Cicatriz que deixa uma chaga, uma doença.
TERMO V: DEFINIÇÃO(ÕES):
Tecido Produto artesanal ou industrial resultante da
tecedura; fazenda, pano. Conjunto de células do
organismo para desenvolver determinada função.
Elemento de ligação entre as partes de um todo;
trama, estrutura.
TÓPICOS ESPECIAIS EM POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS I – DOSSIÊ Nº 1
NOME: Adriano Bastos Gentil MATRÍCULA: Aluno Especial

ARTISTA(S)/OBRA(S) DE REFERÊNCIA

Rainer Werner Fassbinder: Querelle - Ein Pakt mit dem Teufel (1982)
O filme em questão é um drama surreal franco-alemão realizado em 1982 por
Rainer Werner Fassbinder. Querelle - Ein Pakt mit dem Teufel traz nomes, de
peso do cinema europeu, no elenco, como Brad Davis, Franco Nero, Jeanne
Moreau, Hanno Poschl, Laurent Malet e Gunther Kaufmann, entre outros. O
argumento foi concebido por Fassbinder e Burkhardt Driest, adaptando o livro
Querelle de Brest, de Jean Genet.
A história gira em torno do jovem marinheiro chamado Querelle que chega ao
porto de Brest, onde nada é aquilo que parece. O dono do bar local, Nono,
também administra um bordel onde sua própria mulher, Lysiane, é uma das
prostitutas. Nono costuma jogar dados com os seus clientes. Se eles ganham,
tem como recompensa relações sexuais com Lysiane, mas se perderem, são
sodomizados pelo proprietário do bar.
Essa temática, a sodomização, o sexo anal, muito esporadicamente, é retratado
pelo cinema, como no filme o “Último Tango em Paris”; onde a violência sexual
e o caos emocional do filme desencadearam uma dantesca polêmica
internacional, o que acabou por desencadear diversos níveis de censura
governamental em todo o mundo; e talvez por essa temática que o filme Querelle
se alcançou a posição de clássico e marcou tanta gente.
A personagem Lysiane é amante declarada de Robert, irmão de Querelle, e esse
desperta o desejo de homens e mulheres que estão à sua volta.
Temáticas como corpo, violação, apropriação, roubo, marca, estigma e tecido
encharcam essa obra prima. Os crimes de Querelle tencionam o imaginário do
personagem, e por consequência o da pessoa que assiste a essa obra, quando
transita entre a ideia de tornar-se um herói por via do seu desejo de testar os
limites da justiça ou será na possibilidade de ser reduzido a um objeto.
O filme prima pela discussão acerca dos méritos do sexo (consentido ou não
consentido) entre homens e conduz Querelle a comportamentos violentos, a
exemplo de quando perde de propósito no jogo de dados com Nono e descobre
o seu gosto por relações homossexuais passivas.
Temáticas como corpo, violação, apropriação, roubo, marca, estigma e tecido
encharcam essa obra prima. Os crimes de Querelle tencionam o imaginário do
personagem, e por consequência o da pessoa que assiste a essa obra, quando
transita entre a ideia de tornar-se um herói por via do seu desejo de testar os
limites da justiça ou será na possibilidade de ser reduzido a um objeto.
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NOME: Adriano Bastos Gentil MATRÍCULA: Aluno Especial

ARTISTA(S)/OBRA(S) DE REFERÊNCIA
Tom of Finland: Desenhos catalogados no livro XXL
Tom of Finland, alcunha de Touko Laaksonem, é o criador desses desenhos,
catalogados no livro de nome XXL. Ele apresenta mudanças cabais na história
da arte e contribuiu para uma guinada drástica, na forma de representar os
corpos sexualizados dentro do universo gay masculino. Nascido na costa sul da
Finlândia, na pequena Finnish village de Kaarina, Touko foi criado dentro de casa
enquanto criança, lendo e praticando piano, enquanto os outros meninos
aproveitavam a dura vida no campo, contudo, se seu corpo estava em casa, sua
mente vagava nos campos como, afirma Dian Hanson (2008), na introdução do
livro The Complete Kake Comics, quando diz que mesmo dentro de casa, Touko
sempre fascinou-se pelos meninos rústicos. Essa fascinação ecoa no teor
homoerótico, uma vez que ele conhecia, desde muito novo, sua atração por
homens, e aceitava, calado, isso como uma condição inerente à sua existência.
Esse desejo cresceu velado, uma vez que a punição para a homossexualidade
era a histórica e sistêmica violenta prisão.
As artes e seus desenhos foi o caminho encontrado por ele, que estava
aprisionado dentro dessa sociedade homofóbica. A alameda dos sonhos, do
lúdico, possibilitou-o a riscar escapadas furtivas, dento de um mundo somente
seu, onde as forças coercitivas da sociedade e do Estado não poderiam patrulhar
seus desejos, não por vezes, mas quase que constantemente afloravam em
desenhos violentos, que apresentavam cena onde personagens com corpo
hipervalorizados muscularmente se apropriavam de outros corpos e oprimiam,
por coação física, levando ao estabelecimento de atos sexuais onde a força era
sempre elemento presente, por consequência violando a existência do outro.
O desenho marcou uma rota de fuga desde sua tenra idade, e eles teciam o
desejo e o prazer não hegemônico. Inicialmente eram os madeireiros e
trabalhadores braçais que agitavam suas clandestinas fantasias e ao mudar-se
para Helsinque os desejos classificados como espúrios ganha urbanidade, e
incluem policiais, trabalhadores da construção e marinheiros.
Nesse movimento um corpo colide contra outro, e continua sua trajetória
incólume. Mentira! Mentira porque não existe o incólume, não existe o ileso ou o
intacto. A tessitura desses corpos por si só já é condição absoluta da troca,
consentida ou usurpada. Nesse processo que Tom risca sua passagem pelo
mundo das artes, hora com força, e em outros momentos com demasiada
supremacia e dominação.
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NOME: Adriano Bastos Gentil MATRÍCULA: Aluno Especial

RELAÇÃO ENTRE A REFERÊNCIA ARTÍSTICA E O TRABALHO REALIZADO


Corpos em paralaxe é uma série fruto de uma confluência de estímulos
emocionais, intelectuais e artísticos, bem como de vivências do artista. A obra é
um testemunho imagético das relações de poder e desumanização que alguns
corpos são compelidos a experimentar no universo da violência, da dominação,
da violação e do sexo que acabam por marcar/estigmatizar o indivíduo, ainda
que em tentativas múltiplas essa marca tenda a ser escondida. Dessa forma o
trabalho busca revelar essas cicatrizes emocionais deixadas na dimensão
existencial do corpo e é através do tecido, matéria oriunda da indústria têxtil
como alegoria metafórica da própria concretude corpórea do ser humano que o
artista rompe com silêncios e traz à tona um assunto tão dolorido e delicado.
A obra apoia-se tem dois vultuosos pilares de largo conhecimento no
universo gay. O primeiro, o filme Querelle, de Rainer Werner Fassbinder, que
evidencia como essas relações de poder e violação estão tão presentes no dia
a dia das pessoas, penetrando inclusive as relações onde o casamento
heterossexual está estabelecido. Do referido filme, a obra se apropria de
conceitos como sexo anal, violação e dor.
A segunda obra inspiradora são os desenhos do artista finlandês, conhecido
por Tom of Finland, reunidos no livro intitulado XXL, onde é notório a conotação
de corpo, de violação, de apropriação, de estigma, e também das relações que
desenham o encadeamento de ações que culminam em cenas de sexo não
consentido, ou seja, o estupro.
Esses conceitos têm elos que os unem muito bem amarrados. A escolha
dos materiais foi pontualmente pensada. O tecido, aqui sintético, foi o elemento
escolhido para representar o próprio corpo, como uma releitura da pele. Como
um lugar onde as marcas encontram primeiro a dimensão física do ser. Assim
como a navalha afiada, ao ser passada na carne, vai rasgando-a e revelando um
universo que antes estava escondido internamente, o uso do tecido tem essa
mesma função, o de pele, o de uma camada que internamente esconde um
mundo de coisas.
O tecido da obra não apenas é uma peça de tecido, mas assume uma forma
de peça de roupa que tem como função proteger o corpo, mas que muitas das
vezes acabam por ser uma ferramenta social de ocultação de marcas, físicas ou
emocionais, que estão forjadas na materialidade orgânica do homem. Dessa
forma, o tecido é exposto rasgado como forma de denunciar as marcas
existentes nesse corpo.
A cor vermelha foi escolhida, tanto para sublimação (forma de impressão em
tecido) com no fundo da tela e em um dos lados da moldura como forma de
representar essa violência, violação do corpo. Farina, em seu livro
Psicodinâmica das Cores em Comunicação revela que vermelho é a cor do crime
por sua relação denotativa com o sangue derramado, além de ser a cor da
masculinidade e da força, elemento recorrente no filme de Fassbinder, muito
embora quase inexistente nos desenhos de Tom of Finland, mas totalmente
perceptível simbolicamente pela força com que essas relações sexuais são
apresentadas no momento em que um personagem se apropria do corpo alheio
no afã de satisfazer seus próprios desejos, sem se importar com o bem estar do
outro.
Ainda sobre o vermelho, outro elemento utilizado, para demonstrar esses
conceitos de violência, violação e força foi a quebra da cor branca na moldura,
optando-se por trazer um dos lados nessa cor, uma vez que o branco da moldura
se relaciona com o branco da peça de roupa rasgada e o vermelho, em um dos
lados aleatório, da moldura atrela-se ao conceito de agressividade e coerção.
O vidro que separa a obra do universo físico, é colocado disposto quebrado
na obra, assumindo assim a mesma função do tecido rasgado, o da
demonstração de um universo que esteve escondido, mas também representa a
violação, a força que pode ser usada para se adentrar em corpos, em realidades,
em existências, aspecto esse muito presente no filem Querelle, quanto na
maioria dos desenhos feitos pelo Tom.
Sendo assim, o nome da obra, Corpos em paralaxe, busca remeter o
espectador ao conceito de deslocamento aparente de um objeto, no caso o corpo
que está em condição de estigmatizado, quando se muda o ponto de
observação, do apropriador para o do apropriado. É o entendimento que esses
corpos usurpados acabam por servir de troféus para a força e, assim acabam
sendo pendurados nas paredes da vida como representações da força, da
brutalidade, da violência, da masculinidade desmedida e desrespeitosa, como
esses quadros caixas, verdadeiros depoimentos artísticos imagéticos, que nada
mais são do que ecos, desdobramentos, não só do drama surreal franco-alemão
– Querelle, como também dos desenhos de Tom of Finland.
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NOME: Adriano Bastos Gentil MATRÍCULA: Aluno Especial

COMENTÁRIOS E CONSIDERAÇÕES
PERTINENTES FEITAS PELOS COLEGAS E PROFESSORES.

I:

II:

III:

IV:

V:

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