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RESUMO: As águas subterrâneas são fontes indispensáveis para o abastecimento humano no Brasil
e no mundo, uma vez que correspondem à grande maioria da água doce disponível. Além disso, são
significativas as áreas não alcançadas pelas redes públicas de abastecimento, especialmente na zona
rural, onde a captação de água para consumo humano se dá principalmente por meio de poços e
cisternas. Por esse motivo, estudos e pesquisas relacionados a esse tema assumem grande
relevância, gerando conhecimentos que podem ser aplicados no planejamento e gestão dos recursos
hídricos e na conservação da qualidade da água subterrânea de uma região. O presente estudo
objetivou avaliar a qualidade da água de poços utilizados para abastecimento humano em uma sub-
bacia de aproximadamente 130 hectares, que se localiza na zona rural do município de Viçosa-MG.
Inicialmente fez-se a caracterização dos aspectos geológicos e pedológicos da bacia e o
levantamento de todos os poços inseridos na área de estudo, bem como dos usos do solo. Em
seguida, foram definidos pontos de monitoramento que pudessem representar a qualidade da água
subterrânea em toda a sub-bacia, nos quais se coletou mensalmente amostras para análise dos
seguintes parâmetros físico-químicos e microbiológicos: pH, alcalinidade, turbidez, oxigênio
dissolvido, condutividade elétrica, temperatura, cor, cloretos, nitrato, fosfato total, DBO, DQO,
sólidos totais, fixos e voláteis, coliformes totais, E. coli, ferro, manganês, chumbo, cromo, zinco,
cádmio, cobre, níquel, magnésio, cálcio, potássio e alumínio. De acordo com os padrões
estabelecidos pela Portaria nº518/04 do Ministério da Saúde, que estabelece a norma de qualidade
da água para consumo humano, e pela Resolução CONAMA n° 396/08, que dispõe sobre
classificação e diretrizes ambientais para enquadramento das águas subterrâneas, parte significativa
das amostras avaliadas apresentou ao menos um parâmetro fora dos limites previstos, podendo-se
destacar: turbidez, cor, pH, E. coli, ferro, chumbo e alumínio. Diante dos resultados obtidos é
possível afirmar que a qualidade da água subterrânea captada na sub-bacia em estudo pode
representar um risco à saúde dos habitantes da comunidade, sendo necessária a verificação das
fontes de contaminação e a promoção de ações que visem à melhoria das condições dos recursos
hídricos subsuperficiais dessa região.
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COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
A água subterrânea é parte integrante do ciclo A área de estudo está localizada na zona rural
hidrológico e está intimamente ligada aos do município de Viçosa entre os meridianos de
processos climáticos, ao regime das águas 42º50’ e 42º52’ e entre os paralelos de 20º49’ e
superficiais e às características geológicas da 20º51’. A área compreende cerca de 130 ha da
região. É uma importante fonte para o sub-bacia do Palmital, inserida na bacia do
abastecimento no Brasil e no mundo e Ribeirão São Bartolomeu, que abastece o
corresponde à grande maioria da água doce município.
disponível. Para se ter uma estimativa da A pesquisa foi realizada a partir da obtenção
importância deste recurso, o estoque mundial de de informações referentes à rede hidrográfica,
água subterrânea é estimado em 8,4 milhões de às atividades antrópicas, aos usos da água, ao
km³, valor que é cerca de 67 vezes superior ao uso e ocupação do solo, à pedologia e à
volume total das águas doces superficiais geologia local, seguidos de análises físico-
(Costa, 2000). químicas e microbiológicas das águas
Em geral, a água subterrânea tem sua origem subterrâneas.
na superfície e está muito relacionada à água A seqüência metodológica é apresentada a
superficial. O nível de água de um aqüífero é seguir.
governado por mecanismos de descarga e
recarga, que são influenciados pela quantidade 2.1 Delimitação da área de estudo
de água superficial à sua volta. E a qualidade da
água subterrânea também pode ser afetada pela A delimitação teve por base a adoção da bacia
infiltração de águas superficiais, caso estas hidrográfica, como unidade físico-territorial de
estejam contaminadas. planejamento e gerenciamento. A porção
O emprego da água subterrânea em estudada da sub-bacia do Palmital foi
atividades humanas data de milhares de anos, selecionada dentre as diversas sub-bacias do
mas ainda há uma escassez de informações e Ribeirão São Bartolomeu, levando em
estudos que forneçam dados detalhados, consideração o tamanho reduzido, a facilidade
quantitativos, sobre a disponibilidade, de delimitação e a ausência de estudos e
quantidade, uso e distribuição geográfica desse trabalhos específicos. Foi utilizada uma imagem
recurso no Brasil e no mundo (Cleary, 2007). de satélite de alta resolução (IKONOS) com
A utilização da água subterrânea também é curvas de nível, a partir da qual foram
uma importante alternativa de abastecimento demarcados os divisores de água que abrangiam
para populações que vivem em áreas não a área selecionada.
alcançadas pelas redes públicas de
abastecimento, especialmente na zona rural, 2.2 Avaliação da qualidade da água
onde a captação de água para consumo humano
se dá principalmente por meio de poços e 2.2.1 Levantamento sócio-ambiental
cisternas. Por esse motivo, estudos e pesquisas
relacionados a esse tema assumem grande Para a caracterização da qualidade da água na
relevância, gerando conhecimentos que podem sub-bacia procedeu-se inicialmente o
ser aplicados no planejamento e gestão dos levantamento sócio-ambiental da sub-bacia,
recursos hídricos e na conservação da qualidade onde foram visitadas todas as propriedades
da água subterrânea de uma região. rurais, com o objetivo de se fazer o
O presente estudo objetivou avaliar a cadastramento e mapeamento dos poços e,
qualidade da água de poços utilizados para também, dos usos da água e a destinação dos
abastecimento humano em uma área de estudo efluentes líquidos e dos resíduos sólidos
localizada na zona rural do município de gerados. A água retirada dos poços é utilizada
Viçosa, pertencente à Zona da Mata de Minas para abastecimento humano. Posteriormente, foi
Gerais. realizado a identificação da rede de drenagem
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OD (mg/ L O2)
Os parâmetros que apresentaram maiores 7
6
alterações foram, DBO, OD, E. coli e cromo.
5
Destacam-se para o parâmetro DBO os pontos 4
P4, P5, P8 e P9 que apresentaram mais de 50% 3
dos resultados acima dos padrões legais. Os 2
mai/09 jun/09 jul/09 ago/09 set/09 out/09 nov/09 dez/09
resultados demonstram alteração em 9 poços P1 P2
P3 P4
em pelo menos uma campanha para o parâmetro P5 P6
OD, destacando-se o P5 que apresentou P7 P8
P9 P10
concentrações abaixo do recomendado em 50% Mín. Portaria MS 518/ 04
das amostras. Pode-se observar também, uma Figura 2. Parâmetros que apresentaram não conformidade
com os padrões legais (DBO e OD).
tendência de diminuição da concentração OD
nas duas últimas campanhas realizadas em 1.200,00 E. coli - ÁGUA SUBTERRÂNEA
a seguir. 5
0
mai/09 jun/09 jul/09 ago/09 set/09 out/09 nov/09 dez/ 09
P1 P2
P3 P4
P5 P6
P7 P8
P9 P10
Port. MSe CONAMA 396/08
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Figura 4. Uso e ocupação do solo na sub-bacia. Para avaliar de forma integrada a qualidade da
água será apresentado, na Tabela 2 a seguir, um
Por volta de 66% da área estudada é coberta resumo dos parâmetros não conformes em cada
por pastagem, 15% por mata nativa, 7% por nascente monitorada, acompanhados do número
eucalipto, 5% por café, 5% por milho e os 2% de alterações e do número de campanhas
restantes cobertos por feijão, cana-de-açúcar, realizadas.
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Tabela 2. Resumo das não conformidades encontradas ao poços. Tal parâmetro apresentou
longo do período de monitoramento. desconformidade com os padrões legais em
Poços Parâmetros não conformes* quase todos os pontos (com exceção do ponto
DBO (3/7), E. coli (5/6), Cromo P7), o que é um forte indício de contaminação
P1 (2/6), Chumbo (1/6), Cádmio fecal. A presença de E.coli foi observada em
(1/6) mais de 50% das amostras analisadas.
pH (4/6), DBO (2/5),OD (1/6), E. Observando-se os resultados nota-se que as
P2 coli (4/6), Cromo (2/4), Chumbo maiores concentrações desse microrganismo
(1/4)
foram encontradas nos meses secos, de maio a
pH (1/8), DBO (4/7), OD (1/8), E. julho. Tal fato pode ser explicado devido à
P3 coli (3/5), Cromo (3/6), Chumbo
(1/6)
menor recarga do aqüífero nesses meses que faz
com que, caso exista contaminação não sazonal
Turbidez (2/8), pH (1/8), DBO
(4/5), OD (3/8), E. coli (3/6),
(ex.: fossas de infiltração), aumente a
P4 quantidade de organismos por 100 mL.
Manganês total (1/6), Cromo
(2/6), Chumbo (2/6), Cobre (1/6) O parâmetro pH apresentou alterações na
pH (5/8), DBO (4/7), OD (4/8), E. maioria dos pontos analisados, nos quais parte
P5 coli (1/6), Cromo (3/6), Zinco dos resultados obtidos foram um pouco
(1/6) menores que o mínimo permitido pela
pH(3/8), DBO (2/7), OD (2/8), E. legislação. E ao comparar esses dados com os
P6
coli (3/6), Cromo (1/6) dados de análise de solo, pode-se afirmar que
DBO (2/6), OD (2/8), Cromo esses resultados estão diretamente relacionados,
P7
(2/6), Chumbo (1/6) uma vez que os solos da sub-bacia são
pH (2/8), DBO (4/7), OD (2/8), E. predominantemente ácidos, ou seja, também
P8 coli (5/6), Cromo (2/6), Chumbo apresentam baixos valores de pH, o que pode
(2/6) ser entendido como uma característica natural
pH (7/8), DBO (4/7), OD (2/8), E. dessas águas.
P9 coli (4/6), Cromo (2/6), Chumbo
Não foi possível identificar os fatores que
(1/6)
influenciam as alterações verificadas nos
Cor (5/8), Turbidez (7/8), pH
parâmetros cromo e chumbo.
(8/8), DBO (3/7), OD (2/8), E. coli
P10 (5/6), Manganês total (3/6),
Cromo (4/6), Chumbo (2/6),
Cádmio (1/6) 4 CONCLUSÕES
*(n° de não conformidades/n° de campanhas
realizadas Pode-se afirmar que a maioria das alterações
encontradas na qualidade da água está
A DBO apresentou valores maiores que 5 relacionada com as atividades antrópicas e com
mg/L, padrão estabelecido pela Resolução n° o uso e ocupação do solo. Dessa forma,
396/08 do Conselho Nacional de Meio mudanças estruturais e comportamentais
Ambiente, ao longo de todo o período de visando o controle da poluição causado pelas
monitoramento. De acordo com Santos (2000), atividades antrópicas são essenciais para
nas águas subterrâneas, em geral, a DBO é melhorar a qualidade das águas subterrâneas na
inferior a 1 mg/L de O2, sendo que valores mais sub-bacia. Dentre as medidas que podem ser
elevados indicam contaminação. Considerando adotadas, destaca-se a construção de fossas
esse padrão, todas as amostras analisadas sépticas, a fim de impedir a infiltração de
apresentam contaminação. Os maiores valores esgoto não tratado no solo. O isolamento das
foram encontrados nas duas últimas campanhas nascentes e cursos d’água por meio de cercas de
realizadas no período chuvoso. arame farpado, para evitar contato direto de
O parâmetro E. coli apresenta estreita relação bovinos, e a revegetação das matas ciliares são
com a contaminação da água por dejetos de também ações importante na conservação tanto
humanos, o que pode estar relacionado a das águas subterrâneas quanto superficiais.
presença de fossas nas regiões próximas aos Para alguns parâmetros, tais como pH,
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COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
manganês e ferro, a geologia e a pedologia Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2006. 306 p.
exercem significativa influência; entretanto, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria n.º 518, de 25 de
março de 2004. Estabelece os procedimentos e
para minimizar o aporte de sedimentos nas responsabilidades relativos ao controle e vigilância da
nascentes e cursos d’água, que elevam a qualidade da água para consumo humano e seu padrão
concentração de ferro e manganês, é preciso um de potabilidade, e dá outras providências. Disponível
manejo adequado do solo para que se evite os em:
processos erosivos. Neste sentido a diminuição http://189.28.128.179:8080/518/legislacoes/portaria-
ms-no.-518 . Acesso em: 10 de jan. De 2010.
de áreas de pastagem e o reflorestamento das SANTOS, A.C. Noções de hidroquímica. 81-108p. In
áreas de preservação permanentes (que incluem FEITOSA, F.A.C. e FILHO, J.M. (coord.)
as margens dos cursos d’água e o terço superior Hidrogeologia – Conceitos e aplicações 2ª Edição.
dos morros) seriam medidas adequadas. Fortaleza: CPRM/REFO, LABHID-UFPE, 2000.
A avaliação integrada da qualidade da água,
não somente dessa sub-bacia, é um estudo que
envolve inúmeras variáveis, apresentando uma
grande complexidade. Entretanto, constitui uma
ótima ferramenta para promover uma gestão
adequada dos recursos hídricos, permitindo o
conhecimento dos fatores que podem
influenciar em sua qualidade.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS