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União não pode cobrar taxas em

ilhas costeiras que sediam


municípios
Publicado por Tribunal Regional Federal da 1ª Região

há 3 anos

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O TRF da 1.ª Região decidiu que a União não tem direito de


cobrar foro, taxa de ocupação e laudêmio referentes a
propriedades sediadas nas ilhas costeiras que sejam sede de
municípios. O entendimento unânime foi da 8.ª Turma, ao
julgar apelação interposta pela União contra sentença da 3.ª
Vara Federal do Maranhão, que julgou parcialmente
procedente pedido para declarar a inexigibilidade da cobrança
de foros e laudêmios incidentes sobre a gleba do Rio Anil,
encravada na ilha costeira de Upaon-Açu, onde estão
localizados os municípios de São Luís, São José de Ribamar,
Paço do Lumiar e Raposa, no Maranhão, bem como nos
terrenos de marinha existentes nessas localidades.

Foro, laudêmio e taxa de ocupação devem ser pagos à União


quando relativos a uma transação com escritura definitiva de
compra e venda, em terrenos de marinha. Os terrenos de
marinha são terrenos da União, identificados a partir da média
das marés altas do ano de 1831, tomando como referência o
estado da costa brasileira naquele ano.

O juízo de primeiro grau afirmou, na sentença, que a Emenda


Constitucional 46/2005 teve o evidente propósito de afastar
definitivamente o domínio da União sobre as ilhas costeiras em
que estão instaladas sedes de municípios, ressalvadas apenas a
propriedade sobre áreas afetadas ao serviço público federal,
áreas onde estão encravadas unidades ambientais federais e
terrenos de marinha e seus acrescidos. Entendeu que, mesmo
que o imóvel seja classificado como terreno de marinha ou
acrescido, também não assiste razão à União, pois o
procedimento utilizado para a demarcação desses terrenos está
viciado por não ter sido observada a indispensável convocação
formal da pessoa em nome da qual está cadastrado o imóvel
para que pudesse, eventualmente, impugnar a demarcação,
conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal (STF), nos
autos da Medida Cautelar em Ação Direta de
Constitucionalidade 4.264/PE.
A União, por sua vez, alegou que a cobrança é legal e
constitucional, pois a EC 46/2005 não alterou a relação de
domínio dos bens que já integravam seu acervo dominial na
gleba do Rio Anil, que é designado como terreno de marinha
ou acrescido. Argumentou que os efeitos da decisão proferida
pelo STF não alcançam as demarcações já realizadas e
homologadas antes da decisão, no caso, em 28/03/2011.
Afirmou que inexistiu arbítrio na demarcação da linha do
preamar médio de 1831, ao contrário, tal demarcação gerou
presunção de legalidade e legitimidade em favor da União
contra o administrado. Por fim, sustentou que, por terem sido
as glebas incorporadas efetivamente ao patrimônio da União,
caberia ao estado do Maranhão e ao município de São Luís
promover ações possessórias para manter as terras em seus
domínios, o que não fizeram. Do mesmo modo, também os
particulares sabiam que detinham apenas o domínio útil de
tais terras e, por isso, é devida a cobrança da taxa de ocupação,
foros e laudêmios em favor da União, legítima proprietária.
Legislação – a Emenda Constitucional 46/2005 alterou o
inciso IV do art. 20 da Constituição Federal, que passou a
estabelecer como bens da União as ilhas fluviais e lacustres nas
zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as
ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas destas as que
contenham a sede de municípios, exceto aquelas áreas afetadas
ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas
no art. 26, II.
A relatora do processo na 8.ª Turma, desembargadora federal
Maria do Carmo Cardoso, afirmou que, a partir da edição da
EC 46/2005, a União não possui mais interesse nem
legitimidade para cobrança de foros, taxas de ocupação ou de
laudêmios referentes às propriedades sediadas nas ilhas
costeiras que sejam sede de município, como é a hipótese dos
autos. “De fato, como alega a ré, os terrenos de marinha ou
acrescidos não foram alcançados pela EC 46/2005.
Historicamente, em razão da defesa nacional, e,
modernamente, para a defesa do meio ambiente, esses terrenos
estiveram, e continuam, sob o domínio da União, como, aliás,
expressamente prevê a Constituição Federal. No caso dos
autos, todavia, há irregularidade insanável, que torna nulo o
procedimento adotado para a demarcação do imóvel como
terreno de marinha, como bem decidiu o magistrado a quo”,
afirmou.
Assim, a magistrada entendeu que, mesmo na hipótese de
terrenos de marinha e acrescidos, a cobrança de taxas é
indevida, pois se baseia em demarcação ilegal.

Processo n.º 0003821-82.2012.4.01.3700


Data do julgamento: 02/08/2013
Publicação no diário oficial (e-dJF1): 13/09/2013

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