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A FORÇA DOS PRINCIPIOS NO DIREITO DO TRABALHO

A proteção é dada aos trabalhadores que dela necessitam


para combater os vícios existentes nas relações de emprego. A
Constituição é intolerante a preconceitos e proíbe atos
discriminatórios no momento da admissão do trabalhador,
previstos no inciso XXX do art. 7º CF, o qual determina a
proibição de diferença de salários, de exercícios de funções e
de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou
estado civil e o inciso XXXI que proíbe a discriminação de
salários e outros critérios de admissão aos deficientes físicos,
senão veja-se:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores


urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:

XXX - proibição de diferença de salários, de


exercício de funções e de critério de
admissão por motivo de sexo, idade, cor ou
estado civil;

XXXI - proibição de qualquer discriminação


no tocante a salário e critérios de admissão
do trabalhador portador de deficiência; [...]

A Constituição impede atos discriminatórios, pois estes levam


a ineficácia do princípio da igualdade jurídica, e acabam
deixando o trabalhador em situação de desvantagem.
Sabemos que os direitos fundamentais têm o poder de dar
uma segurança jurídica às desigualdades, mas, infelizmente
essa não é a realidade.

Essa proteção está sempre clara e é imprescindível que os


intérpretes constitucionais sejam capazes de analisar essas
normas, para assim possibilitar sua concretude.

O trabalho é símbolo de dignidade e cidadania. Embora se


tenha a reivindicação de trabalho com salário digno, para
uma grande massa populacional se busca o trabalho como
fonte de vida. O direito ao trabalho está inserido em vários

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princípios, aonde todos vêm apenas para proteger o
trabalhador. Vejamos:

1. PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS

1.1. PRINCIPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


(Artigo 1º da CF – Constituição Federal de 1988)

1.2. PRINCÍPIO DOS VALORES SOCIAIS DO TRABALHO


(Artigo 170 da CF)

- valorização do trabalho humano (caput)


- justiça social (caput)
- função social da propriedade (artigo 170, inciso III e
artigo 5º, XXIII, CF)
- busca do pleno emprego (inciso VIII)

1.3. PRINCÍPIO ISONOMIA (Artigo 5º, caput e inciso I da


CF)

1.4. PRINCIPIO DA INVIOLABILIDADE DA VIDA PRIVADA,


DA HONRA E DA IMAGEM (Artigo 5º, X, CF)

1.5. PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE TRABALHO E OFÍCIO


(Art. 5º, XIII, CF)

1.6. PRINCÍPIO DE LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO (Art. 5ª,


XVII a XX, CF)

1.7. PRINCÍPIO DE NÃO DISCRIMINAÇÃO (Art. 5º, XLI e


XLII, CF)

- não discriminação de salários, exercício de funções e de


critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou
estado civil (Inciso XXX)
- qualquer discriminação em caso de portador de
deficiência (inciso XXXI)
- não distinção de trabalho manual, técnico e intelectual
(inciso XXXII).

2. PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO DIREITO DO TRABALHO

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Os princípios costumam ser conceituados como as diretrizes
mestras de um sistema, como os fundamentos ou regras
fundamentais de uma ciência. Em linguagem figurada, os
princípios equivaleriam às colunas de sustentação do edifício
jurídico, sobre as quais são construídas e com base nas quais
são interpretadas as normas jurídicas.

São os princípios que conferem coerência e consistência a


determinado conjunto de normas, possibilitando sua
compreensão como um sistema orgânico. Com efeito, os
princípios consistem em proposições de caráter genérico que
norteiam o elaborador das normas de Direito e orientam o
intérprete dessas normas.

São aplicáveis ao Direito do Trabalho diversos princípios


gerais, também aplicáveis aos outros ramos do Direito, como
o princípio da isonomia (igualdade), da inafastabilidade de
acesso ao Poder Judiciário, do juiz natural etc.

Ao lado dos princípios gerais, o Direito do Trabalho, como


ramo jurídico autônomo, possui princípios específicos,
voltados para as normas e relações que constituem seu
objeto. Destacamos, a seguir, os mais importantes desses
princípios.

2.1. Princípio protetor ou tutelar

Este postulado tem marcada influência em todas as


características do Direito do Trabalho, sendo, em verdade,
determinante da configuração de sua estrutura geral. Em
decorrência do conflito verificado entre capital e trabalho,
tornou-se necessária a criação de uma teia de proteção
jurídica à parte hipossuficiente — o obreiro —, visando a
atenuar o desequilíbrio existente no universo das relações
empregatícias.

O princípio da proteção do trabalhador orienta também o


processo de elaboração das normas jurídicas. Portanto, as
novas leis devem buscar o aperfeiçoamento do sistema,
favorecendo o trabalhador, contribuindo para a melhoria de

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sua condição social. Só por exceção justificável deve a lei
afastar- se desses objetivos.

O princípio protetor está na base da própria criação do


Direito do Trabalho e orienta o seu desenvolvimento. Em
última análise, dele decorrem todos os demais princípios
peculiares a esse ramo especializado do Direito.

2.2. Princípio da norma mais favorável ao trabalhador

Segundo o princípio da norma mais favorável ao trabalhador,


havendo duas ou mais normas, estatais ou não estatais,
sobre a mesma matéria, deverá ser aplicada, no caso
concreto, a mais benéfica para o trabalhador.

Como corolário desse princípio, a Constituição permite, salvo


as exceções expressas de seu texto, que normas e condições
de trabalho mais vantajosas para os trabalhadores,
conferindo direitos acima dos constitucionalmente previstos,
venham a ser criadas pelas normas inferiores do
escalonamento jurídico. Em regra, as condições mais
benéficas ao trabalhador serão sempre preservadas, ainda
que norma jurídica posterior estabeleça condições menos
favoráveis.

Se a lei ordinária garante férias de trinta dias e a convenção


coletiva assegura férias de sessenta dias, esta última será a
“norma fundamental” a ser aplicada à categoria profissional a
que se refira a convenção. Se, de acordo com os usos e
costumes, o aviso prévio é de sessenta dias e a lei fixar a
duração do aviso em trinta dias, prevalecem os usos e
costumes, de caráter mais vantajoso. Se a Constituição
dispõe que o descanso semanal remunerado será
preferivelmente aos domingos e o regulamento da empresa
dispuser que o repouso será aos sábados e domingos, esta
última norma será a “fundamental” para os trabalhadores
daquela empresa. Se o contrato individual de trabalho
garantir a remuneração das horas extras com adicional de
1OO% sobre a hora normal e a Constituição assegurar
acréscimo de apenas 50%, o contrato individual será a norma
aplicável.

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O princípio da norma favorável ao trabalhador não deve ser
entendido como princípio absoluto, admitindo-se as exceções
a seguir explicitadas.
A primeira exceção diz respeito às leis governamentais
proibitivas, uma vez que o Estado, mediante lei, pode vedar
que por meio de outras normas jurídicas seja dispensado um
tratamento mais benéfico para o trabalhador. Nesse caso,
uma cláusula de convenção ou acordo coletivo que favoreça o
trabalhador, em desrespeito à lei, será inaplicável.

Como exemplo, podemos citar os casos dos malsinados


planos econômicos brasileiros, em que o Governo costumava
intervir nas relações de trabalho, estabelecendo índices
máximos de reajustes salariais permitidos, a fim de conter
pressões inflacionárias.

A segunda diz respeito às chamadas leis de ordem pública, as


quais, ainda que não expressamente proibitivas, não podem
ser contrariadas, em razão de sua função de garantia maior
da sociedade.

Finalmente, ressaltamos não ser vedado que a negociação


coletiva venha a cumprir, excepcionalmente, o papel de
instrumento de flexibilização das relações de trabalho,
reduzindo vantagens. Deve ser enfatizado, entretanto, que a
redução de vantagens dos trabalhadores somente é possível
mediante negociação coletiva (CF, art. 70, VI).

2.3. Princípio da irrenunciabilidade dos direitos


trabalhistas

Em regra, os direitos trabalhistas são irrenunciáveis pelo


trabalhador.

Exemplificando: se o trabalhador, ao firmar seu contrato


individual de trabalho, renuncia ao seu direito às férias
anuais perante a empresa, esse seu ato não terá validade
jurídica, podendo o obreiro posteriormente vir a reclamar as
férias perante a Justiça do Trabalho.

A CLT contempla dois dispositivos que bem retratam esse


princípio, ao prescrever que ‘serão nulos de pleno direito os

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atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou
fraudar a aplicação dos preceitos trabalhistas” (art. 9) e ao só
permitir a alteração das condições de trabalho com o
consentimento do empregado e, ainda assim, desde que não
lhe acarrete prejuízos, sob pena de nulidade (art. 468).

Esse princípio, como o anterior, não é absoluto. E admissível,


por exemplo, que em certos casos o empregado, em juízo,
venha a transigir ou a renunciar a determinados direitos
trabalhistas (há indisponibilidade relativa perante a Justiça
do Trabalho).

Em verdade, o que se veda é a renúncia aos direitos na


empresa, a fim de se evitar atos fraudulentos do empregador,
destinados a reduzir vantagens do trabalhador, praticados
em razão do poder de coação natural que o patrão possui
sobre o empregado, uma vez que este necessita manter seu
emprego para assegurar sua subsistência.

2.4. Princípio da continuidade do emprego

Esse princípio reza que, em regra, o contrato de trabalho terá


validade por prazo indeterminado, isto é, a relação de
emprego tem caráter de continuidade. Os contratos se
presumem por prazo indeterminado; a situação contrária, ou
seja, a determinação do prazo, precisa ser provada. Portanto,
sempre que nada constar no contrato de trabalho a respeito
de seu prazo de duração, considera-se que o trabalhador
tenha sido contratado por prazo indeterminado.

O princípio traduz uma garantia ao empregado, informando


que o ajuste entre empregado e empregador deve ser único,
por prazo indeterminado, evitando-se que o empregador adote
sucessivos contratos por prazo determinado, que
normalmente restringem os direitos do trabalhador.

Tão acentuada é a influência deste princípio em nosso


Direito, que a celebração de contrato de trabalho por prazo
determinado somente é possível nas hipóteses descritas em
lei, fora das quais a cláusula de vigência por prazo certo é
considerada não escrita. Além disso, mesmo nas hipóteses
em que é permitida a celebração de contrato de trabalho por

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prazo determinado, o descumprimento do prazo, ainda que
por um único dia, converte-o, automaticamente, em contrato
por prazo indeterminado.

2.5. Princípio da primazia da realidade

Reza esse princípio que, no âmbito do Direito do Trabalho, os


fatos valem muito mais do que meros documentos, do que os
ajustes formalmente celebrados.

Por exemplo: de nada adianta a celebração de um contrato


entre o empregador e o empregado em que se rotule este de
trabalhador doméstico se, de fato, o trabalhador desenvole
atividades comerciais. Nesse caso, o trabalhador será
considerado empregado regido pela CLT, com todos os
direitos ali previstos. Ou, ainda, um contrato que rotule o
trabalhador de autônomo será desconsiderado neste aspecto,
se entre o trabalhador e o empregador houver, de fato,
subordinação, uma vez que esta o caracteriza como
empregado regido pela CLT. Prevalecerão os fatos sobre os
documentos, sobre a mera formalidade.

2.6. Princípio da razoabilidade

O princípio da razoabilidade traduz a idéia de que somente é


legítima uma conduta se ela for adequada à consecução do
fim almejado (evidentemente o fim deve ser lídimo) e, no caso
de condutas que impliquem gravames para o destinatário, se
for realmente necessária e não existir outra menos gravosa
que produza o mesmo resultado.

A razoabilidade, portanto, conduz às idéias de adequação e de


necessidade. Não basta que um ato tenha uma finalidade
legítima. E necessário que os meios empregados sejam
adequados à consecução do fim almejado e que sua
utilização, especialmente quando se trata de medidas
restritivas ou punitivas, seja realmente necessária.

No âmbito do Direito do Trabalho, esse princípio desempenha


importante papel nas relações entre o empregador e o
empregado, especialmente no tocante à imposição de
restrição de direitos ao trabalhador em face de condutas

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disciplinares. Se a falta cometida pelo empregado é ocasional,
leve, não deve o empregador penalizá-lo além do necessário,
com medidas desproporcionais, desarrazoadas. Se, por
exemplo, o caso enseja uma simples advertência, a aplicação
de dispensa por justa causa deve ser considerada nula, pela
ausência de gravidade que a justifique.

2.7. Princípio da inalterabilidade contratual lesiva

Por este princípio, que se expressa no aforismo os pactos


devem ser cumpridos” (pacta sunt servanda), vedam-se as
alterações contratuais desfavoráveis ao trabalhador, mesmo
que essa inalterabilidade implique prejuízo à atividade da
empresa.

Os riscos do negócio são do empregador, não havendo


redução de suas responsabilidades em razão de dificuldades
havidas no empreendimento. Diante disso, a cláusula rebus
sic stantibus (que implica revisão de contratos em razão de
fatos supervenientes que tornem sua execução
excessivamente onerosa para uma das partes) não costuma
ter aplicação nas relacões de trabalho.

3. PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS DA LIVRE INICIATIVA

Não se poderia deixar de cogitar a ramificação principiológica


de proteção ao empresariado e livre iniciativa que, assim
como os valores sociais, são protegidos pela Constituição
Federal de 1988 em seu artigo 1º, inciso IV.

Ressalta-se o princípio da função social da propriedade


disposto no artigo 5º, e o princípio da função social da
empresa, demonstrando o reconhecimento da necessidade de
se proteger a livre iniciativa e a empresa, uma vez que ela é
fonte geradora de riqueza, emprego, renda e tributos.

4. CONFLITO NORMATIVO OU PRINCIPIOLÓGICO - DA


EFETIVA APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS

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CONSTITUCIONAIS TRABALHISTAS NAS DECISÕES DOS
TRIBUNAIS DO PAÍS.

Diante do conflito entre normas ou conflito entre os


princípios constitucionais sejam protetivos ao empregado
sejam protetivos à livre iniciativa, questiona-se qual seria a
posição do Judiciário para uma solução.

Conforme concluiu o estudo da ilustre jurista Ana Paula


Tauceda, em decorrência da imperatividade nas normas e,
muitas vezes, dos critérios rígidos para a aplicação destas, os
Tribunais vem, cada vez mais, dando força aos princípios
para dirimir conflitos individuais no âmbito da justiça
laboral.

Verifique-se, nos exemplos e comentários abaixo, a


preocupação dos julgadores em aplicar os princípios às
espécies levantadas, de forma objetiva a resolver os litígios
existentes:

EMENTA: TRT-PR-18-03-2011 PENHORA -


BEM ÚTIL À ATIVIDADE DA EXECUTADA -
PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO AO
TRABALHADOR - Em que pese seja o bem da
agravada útil ao exercício da atividade
empresarial, não se pode negar o direito do
exequente de auferir o mínimo necessário ao
seu sustento, ainda mais quando a
executada não terá sua sobrevivência afetada
com a penhora do bem referido, sendo-lhe
possibilitada, inclusive, a substituição do
bem constrito por dinheiro antes da
arrematação ou da adjudicação (art. 668 do
CPC).(TRT-9 17932007322901 PR 1793-
2007-322-9-0-1, Relator: LUIZ EDUARDO
GUNTHER, Data de Publicação:
18/03/2011)

Percebe-se que o caráter alimentar dos direitos trabalhistas


suplantam ao direito de propriedade e produção de seu
empregador, demonstrando claramente o posicionamento do

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Judiciário quanto a aplicabilidade das normas e princípios
constitucionais.

FONTES:

BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do


Trabalho.São Paulo: LTr, 2005.

BRANCO, Ana Paula Tauceda. “A COLISÃO DE PRINCÍPIOS


CONSTITUCIONAIS E NO DIREITO DO TRABALHO, SOB A
PERSPECTIVA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.”
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Direitos e
Garantias Constitucionais Fundamentais das Faculdades de
Vitória. 2006.

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do


Trabalho.10ª Ed., São Paulo: LTr, 2011.

JORGE NETO, Francisco Ferreira; CAVALCANTE, Jouberto


de Quadros. Direito do Trabalho. 7ª ed. São Paulo: Atlas,
2013.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do


Trabalho. 19ª ed. São Paulo: LTr, 2003.

SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. Versão universitária.


4ª ed. São Paulo: Método, 2011.

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