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XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006

Indicadores de desempenho na manutenção: um estudo de caso no


departamento de manutenção da transmissão de uma empresa de
energia elétrica

Elaine Cristina Batista de Oliveira (UFPB) elainecjz@hotmail.com


Omar Emir Alvarez, Dr (UFPB) omea1@uol.com.br

Resumo
A recente reestruturação do sistema elétrico nacional e as novas exigências neste mercado
fazem com que as organizações do ramo busquem a excelência empresarial. Neste sentido se
faz necessário um melhor acompanhamento do desempenho daí surgirem os indicadores de
desempenho, que propiciam melhor suporte às tomadas de decisões em todos os níveis das
organizações. A manutenção, como função decisiva na obtenção de qualidade, produtividade
e melhores resultados das empresas do setor elétrico, merece destaque na utilização dos
indicadores de desempenho. Este trabalho teve como objetivo propor um conjunto de
indicadores de desempenho, verificando a sua aplicabilidade através de um estudo de caso,
num departamento de manutenção do sistema elétrico de transmissão de uma empresa de
energia elétrica. Foi visto que é de grande valia a sua aplicação e que, principalmente, de
forma determinante se faz necessária a sua análise crítica para que os referidos indicadores
funcionem como dispositivos de avaliação para a melhoria contínua e o aprimoramento dos
processos da manutenção.
Palavras-chave: Manutenção, Indicadores de Desempenho, Sistema Elétrico.

1. Introdução
O cenário atual da economia, sustentado pela globalização, faz com que barreiras geográficas
não sejam mais impedimento para a competição entre empresas de diversos países,
ocasionando a busca pela oportunidade de ganhos de mercado, ou seja, empresas com foco no
cliente. O setor elétrico brasileiro para se adequar às novas exigências mercadológicas passou
por modificações e remodelagens na sua organização. Essa reforma recém concluída se
enquadra agora, conforme Adriano (2004), em um modelo comercial competitivo e de
qualidade, caracterizado pelo acesso livre às redes de transmissão, e com crescimento
sustentável e lucrativo, resultando aos investidores retorno do capital aplicado.
A função manutenção, como fator determinante ao atendimento de metas e resultados nas
empresas supridoras de energia elétrica, requer um planejamento e controle eficaz na sua
gestão surgindo então, a necessidade da aplicação de um conjunto de indicadores de
desempenho que busquem sinalizar a criticidade do processo e a potencialidade da melhoria
contínua.
1.2 O Setor Elétrico Brasileiro
De acordo com Santana (1994) o setor elétrico brasileiro pode ser caracterizado em dois
períodos consecutivos: O primeiro se particularizou pela participação da iniciativa privada
como principal agente no fornecimento de energia elétrica em várias regiões do Brasil. O
segundo teve aspectos mais evidentes, tais como: aceleração do processo de estatização do
setor, o surgimento da Eletrobrás, os grandes projetos relacionados à expansão dos sistemas
elétricos e a melhora acentuada no atendimento à população.

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O processo de reestruturação do setor elétrico foi implementado no Brasil através da lei n.º
9648, de 27/05/1998 e regulamentado pelo decreto n.º 26555 de 02/07/1998. O novo modelo
foi concebido com presença marcante de agentes privados, funções integrativas, exercidas por
organismos independentes, ao passo que, anteriormente, o setor era um monopólio, com
predominância estatal e coordenação federal da Eletrobrás. A nova estrutura do setor
fundamenta-se em quatro atividades: geração, transmissão, distribuição e comercialização de
energia. Complementa-se pela obrigatoriedade da criação de empresas específicas para
exploração de cada segmento, sendo que as atividades de distribuição e comercialização
podem ser exercidas de forma conjunta, desde que seja promovida uma completa separação
contábil e que a tarifa de transporte aplicada seja idêntica, independentemente do usuário que
utiliza as redes (PIMENTA, 1999).
1.3 Indicadores de Desempenho
O uso de indicadores de desempenho consiste na ação ou no conjunto de ações para
transformar em valores quantitativos atividades que já foram realizadas ou exercidas.
Atualmente, com a competitividade tão acirrada, torna-se imperativo o uso de medidas para a
compreensão da realidade da organização. Segundo Spinola e Pessoa (1997, p. 99), “ a
informação é uma ferramenta poderosa para uma organização, pois através dela pode-se ter
um domínio dos diversos parâmetros que regem a sua dinâmica”.
Assim, ALVAREZ (1988, p. 382), afirma que os indicadores de desempenho na manutenção
propiciarão:
O controle estatístico global ou particular dos sistemas produtivos através do
monitoramento dos índices utilizados para medir a eficiência dos serviços de
manutenção, otimizando os níveis de manutenção em termos econômicos, em
função da potencialidade máxima oferecida pelos sistemas analisados.

1.4 A Função Manutenção


Em 1975 a Organização das Nações Unidas caracterizava a atividade fim das organizações
como sendo a produção o resultado das ações da operação e manutenção, sendo que a esta
última, atribui-se as responsabilidades de redução de paralisação dos equipamentos que
afetam a operação; o reparo em tempo hábil no caso de quebra de máquinas; garantia do
funcionamento das instalações a fim de atender os critérios de qualidade e padrões
preestabelecidos (TAVARES, 1999, p. 9).

2. Metodologia
O presente estudo foi realizado no Departamento de Manutenção do Sistema Elétrico de
Transmissão de uma empresa de energia elétrica. Este departamento responsabiliza-se pela
garantia da disponibilidade e confiabilidade dos equipamentos que compõem os sistemas
elétricos de potência, que incluem entre outros equipamentos: linhas de transmissão;
disjuntores; religadores; bancos de capacitores; chaves seccionadoras; pára-raios;
transformadores de força 69 kV/13,8 kV; transformadores de potencial e de corrente.
A pesquisa caracterizou-se como estudo de caso, com observação do participante, mas
também usando técnicas de análise documental.
Foi criada uma planilha em Excel para a obtenção dos valores dos indicadores de
desempenho, e o seu preenchimento se deu tomando-se como referência os meses de

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Julho/Agosto/Setembro 2005, para os equipamentos de subestações.


A seguir, no quadro 1, têm-se os indicadores de desempenho utilizados:
INDICADORES DE DESEMPENHO

TF (Taxa de Falha por Equipamento) Taxa resultante da divisão do número de falhas pelo número de equipamentos.

TD (Taxa de Defeito por Equipamento) Taxa resultante da divisão do número de defeitos pelo número de equipamentos.

Disp = [TC – (TDP + TDF)]*100/TC


TC – tempo de calendário
Disp (Disponibilidade)
TDP – tempo de desligamento programado
TDF – tempo de desligamento por falha
TME =NDF*100/(NDP+NDF)
TME (Taxa de manutenção de emergência) NDF – número de desligamentos por falhas
NDP–número de desligamentos programado
TMU =NDU*100/(NDP+NDU)
TMU (Taxa de manutenção de urgência) NDU – número de desligamentos de urgência
NDP– número de desligamentos programados
FF = NF/TC
FF ( Freqüência de Falhas) NF – número de falhas
TC – tempo de calendário
Fonte - Elaboração Própria
Quadro 1 - Indicadores de Desempenho utilizados

3. Análise dos Resultados


A seguir serão apresentados os gráficos gerados com a utilização dos dados coletados.

3.1 Taxa de Falhas por tipo de equipamento


Como pode ser visto no gráfico 1, ocorreu uma falha em Disjuntor 15 kV, provocada por
pássaro, onde se pode sugerir a instalação de proteção nas buchas do disjuntor e na chave
seccionadora dos bancos capacitores ou mesmo realizar a substituição das chaves de bancos
por disjuntor à vácuo. Em um Religador houve falha no mecanismo do equipamento
sugerindo-se a redução da periodicidade de manutenção preventiva. Em Chave Seccionadora
69 kV houve duas falhas, também devido a animal, onde mais uma vez é sugerida a instalação
de proteção nas buchas dos equipamentos. Em Chave Seccionadora 15 kV houve uma
ocorrência devido à falha na conexão, na qual seria necessário providenciar a redução da
periodicidade da manutenção preventiva.

2 ,9 %
3 ,0 %
Percentual da Taxa de Falhas

2 ,5 %

2 ,0 %

1 ,5 %

1 ,0 %

0 ,4 % 0 ,5 %
0 ,5 %
0 ,2 %
0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
0 ,0 %
FO

V
L

RT
BC

V
kV

kV
RE
K

K
K

K
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69

15

69

15
69

15

69

15

69

15
TR

TP

TP
TC

TC

PR

PR

C
IS

IS

SE

SE
D

CH

CH

T ip o d e E q u ip a m e n to

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Gráfico 1 – Taxa de Falhas


Fonte – Dados da Pesquisa
3.2 Taxa de Defeitos por tipo de equipamento
No gráfico 2, tem-se que 13,43% dos Transformadores de Força apresentaram defeito no
período e, através dos relatórios técnicos, pôde-se levantar que a grande maioria foi provocada
por vazamento de óleo, onde é sugerido a realização de um programa de inspeção e de
manutenção preventiva.



13,43%




10,09%
PQ
 9,59%
O 8,82%
N
 7,62%
KL M
JH
IH

GH
FE
DE 



0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00%



     
  
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Gráfico 2 - Taxa de Defeitos


Fonte – Dados da Pesquisa

3.3 Disponibilidade
Para disponibilidade, tem-se o benchmarking fornecido pela ANEEL para Transformador de
Força que é de 99,9490 % então, o apresentado no período atende, já que foi 99,9829 %,
porém deve-se mais uma vez sugerir um plano de manutenção para o atendimento destes
equipamentos. Em Disjuntores 69 kV têm-se 99,8700 % como benchmarking e tendo
apresentado 99,9614 % chegou-se à conclusão que estes equipamentos estão em boa
performance.

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 99,9995%


99,9968%
99,9935%
Percentual de disponibilidade

99,9829%

99,9614%
99,9579%
99,9549%
V

V
V

kV

kV
V

V
FO

EL

RT
BC

K
9K

5K

K
A

69

15

69

15

69

15

69

15
J6

J1
TR

PR

PR
TP

TP
TC

TC

C
IS

IS

SE

SE
D

CH

CH

Tipo de equipamento

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Gráfico 3 - Disponibilidade
Fonte – Dados da Pesquisa
3.4 Taxa de Manutenção de Emergência
Este indicador mede a proporção entre as atividades de manutenção emergencial e
manutenção programada. Pode-se observar no gráfico abaixo, desligamentos devido a falhas
de forma bastante significativa onde não houve desligamento programado, então sugere-se
uma revisão pela engenharia do plano de manutenção.

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Gráfico 4 - Taxa de Manutenção de Urgência


Fonte – Dados da Pesquisa

3.5 Taxa de Manutenção de Urgência


Este indicador permite comparar a realização de manutenção de urgência com a manutenção
programada, e no período em estudo pode-se visualizar uma boa performance da manutenção,
restando apenas uma sugestão, pois, conforme se vê no gráfico 4, no tocante à Chave
Seccionadora 15 kV, que seria uma redução na periodicidade da manutenção preventiva
nestes equipamentos, além de um plano de manutenção preditiva com termovisão que
contemple na ocorrência de diagnóstico de altas temperaturas (ponto-quente) programe-se
uma intervenção no equipamento para correção e/ou reaperto nas conexões, evitando-se desta
forma, que ocorram falhas.
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T axa de M anutenção de U rgência (% )

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kV

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15
69

15

69

15
69

15

69

15
TR

PR

PR
SJ

SJ

TP

TP
TC

TC

C
SE

SE
DI

DI

Tipo de Equipamento
CH

CH

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Gráfico 5 - Taxa de Manutenção de Urgência


Fonte – Dados da Pesquisa

3.6 Freqüência de Falhas


A Freqüência de Falhas mede o número de falhas num determinado tempo, ou seja, mostra
quão crítica se encontra a realização da manutenção. Como pode ser observado no gráfico 5, o
grupo de equipamentos que apresentou problemas no período são: Disjuntor 15 kV;
Religador; Chave Seccionadora 69 kV, e; Chave Seccionadora 15 kV.

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Frequênciade Falhas (%)

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TRAFO DISJ DISJ REL TC TC TP 69KV TP 15KV PR 69 kV PR 15 kV BC CH SEC CH SEC RT
69KV 15KV 69KV 15KV 69 KV 15 KV

Tipo de Equipamento

Gráfico 6 - Freqüência de Falhas


Fonte – Dados da Pesquisa

4. Conclusão
Os indicadores de desempenho propostos possibilitam o fornecimento de informações para
um melhor gerenciamento das rotinas, assim como monitoram as oportunidades de melhoria
das atividades desenvolvidas pelo Departamento de Manutenção da Transmissão. Porém,
recomenda-se um estudo com os indicadores de desempenho propostos neste trabalho de
forma que compreendam um período maior, para obtenção de resultados globais.
De maneira geral, o setor em estudo apresenta-se em um processo de mudanças frente às
novas exigências de mercado, principalmente no que tange à busca da uniformização dos
processos de rotina. Neste sentido, os indicadores de desempenho poderão fazer parte do
conjunto de dados que fornecerão base às decisões estratégicas para a melhoria dos itens
qualidade e custos.

Referências
ADRIANO, Francisco Célio. Custos ocultos na recomposição do sistema elétrico de transmissão da
SAELPA. 2004. 120 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Engenharia de Produção) –
Universidade Federal da Paraíba, 2004.
ALVAREZ, Omar Emir. Manual de Manutenção Planejada. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 1988.
PIMENTA, Gilberto M. A reestruturação do setor elétrico no Brasil. Apostila do Curso de Especialização em
Gestão Técnica de Concessionárias de Energia Elétrica. Curitiba: UFPR, 1999.
SANTANA, E. A. de. O planejamento de energia elétrica através de uma metodologia de análise
hierárquica por similaridade com as restrições do sistema. Tese de Doutorado em Engenharia de Produção.
Florianóplis: UFSC, 1994.
SPINOLA, M. M.; PESSÔA, M. S. P. Tecnologia da Informação. IN: Gestão de Operações. São Paulo: Edgar

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Blucher, 1997.
TAVARES, Lourival. Administração Moderna da Manutenção. Rio de Janeiro: Novo Pólo Publicações, 1999.

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