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FENG SHUI, UMA TENTATIVA DE ENTENDIMENTO CIENTÍFICO


FENG SHUI, AN ATTEMPT TO UNDERSTANDING SCIENTIFIC

RESUMO
Esse artigo de revisão tem por finalidade buscar compreender dentro do campo
das ciências das religiões e da linha de pesquisa Cultura e sistemas
simbólicos, como se constituiu milenarmente e quais elementos permeiam o
que se conhece hoje por Feng Shui. O artigo parte da prerrogativa de que o
material hoje disponível apenas perpetua os mitos e misticismo no entorno do
tema. O Feng Shuí é o resultado de pelo menos três mil anos de tradições
chinesas acumuladas e relacionadas à interpretação mística e intuitiva do
mundo natural. Parte-se, portanto da hipótese antropológica de que o
fenômeno analisado tenha valor cultural e antropológico e não científico,
apesar de ser utilizado tanto por decoradores como por arquitetos, o que
pressupões certa cientificidade. Os autores aqui utilizados, não permitem
grande aprofundamento científico, mas apenas uma reflexão sobre o tema.

Palavras Chave: Religiões orientais. Taoismo. I Ching. Feng Shui. Misticismo.


ABSTRACT
This review article aims to seek understanding within the field of sciences and
religions of the research culture and symbolic systems, as it was millennia and
which elements permeate what is known today by Feng Shui. The article is the
prerogative of the material available today only perpetuates myths and
mysticism surrounding the theme. The Fen Shui is the result of at least three
thousand years of Chinese traditions and related accumulated mystical and
intuitive interpretation of the natural world. Part is thus the anthropological
hypothesis that the phenomenon has analyzed cultural and anthropological
value and unscientific, despite being used by decorators as much by architects,
which presupposes certain scientificity. S The authors used here, does not
allow great scientific deepening, but only a reflection on the theme.

Keywords: Eastern Religions. Taoism. I Ching. Feng Shui. Mysticism.


2

INTRODUÇÃO
As práticas místicas, tanto ocidentais quanto orientais, advém de
tradições milenares que têm em seu conjunto a utilização de elementos
variados que associam mundo psíquico com suas crenças e mundo natural.
Dentro desse conjunto, tenciona-se falar sobre o Feng Shui que em seu
significado original recobra as forças do vento ou ar e da água. Com a
pronúncia original em mandarim "fon xuei", o termo refere-se a uma técnica de
estruturação de ambientes e espaços variados, os quais possuem princípios de
organização e de comportamento, nesse conjunto. Trata-se de uma corrente
de pensamento analítico com tradição de mais de 4000 anos.
A revista MDEMULHER (s.d.) o define como:

Feng Shui é uma técnica milenar chinesa de harmonização dos


ambientes que pode trazer paz, alegria e prosperidade ao seu lar e
ambiente de trabalho. Feng significa vento e Shui significa água. A
principal ferramenta do Feng Shui é o ba-guá. Ele pode ser aplicado
na planta da casa toda ou num único ambiente para identificar as oito
diferentes áreas da vida: trabalho, espiritualidade, família,
prosperidade, sucesso, relacionamentos, criatividade e amigos. Elas
serão ativadas com o uso de cores e objetos correspondentes.

Nesse caso, vento ou AR e ÁGUA seriam apenas dois elementos do


Feng shui em sua totalidade, dado que indica a essência dessa teoria Taoísta 1
que seria o fato de uma vez juntos, tais elementos indicam fruição contínua de
duas energias vitais que por sua vez prefiguram o simbolismo de yin yang do
qual se falará mais adiante. Somente no exposto, já surgem alguns elementos
sobre os quais se deve discorrer, a seguir.

1 ORIGEM HISTÓRICA

A origem da técnica denominada Feng Shui possui raízes tanto índicas


como chinesas. Conta-se que arqueologistas descobriram evidências de que
há cerca de 5.500 anos, místicos indianos praticavam os princípios de "vastu
shastra", traduzido literalmente como "ciência das construções".

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Taoismo (ou daoismo) é uma tradição filosófica e religiosa originária da China que enfatiza a vida em
harmonia com o Tao (romanizado atualmente como "Dao"). O termo Tao significa "caminho", "via" ou
"princípio", e também pode ser encontrado em outras filosofias e religiões chinesas. No Taoismo, no
entanto, Tao se refere a algo que é tanto a fonte quanto a força motriz por trás de tudo que existe (Tao Te
Ching (Capítulo I), Lao Zi. Wikisource. Apud WKP, 2012).
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Desse modo, trata-se de um sistema inexato que busca explicar como


projetar e construir prédios, casas e cidades, de modo a torná-las mais
desenvolvidas. De acordo com o site COMO TUDO FUNCIONA (s.d.):

Os seguidores do vastu acreditam que toda construção é um


organismo vivo com sua própria energia, e estudam os efeitos de
cinco elementos: terra, água, fogo, ar e espaço no mundo ao redor
deles. [...] cerca de 3 mil anos atrás, os praticantes indianos de vastu
(geralmente monges) atravessaram o Tibete e foram até a China. Os
chineses adotaram os princípios do vastu e fizeram adaptações, que
se transformaram nas várias escolas de Feng Shui.

No entanto, boa parte dos pesquisadores creem que o Feng Shui se


originou como um método de enterro de corpos humanos que evoluiu com o
tempo.
Ainda segundo o site COMO TUDO FUNCIONA (s.d.):

O Livro do Ritual da dinastia Chou (1030-722 a.C.) descreve os


planos para uma cidade capital, ditando o uso de quadrados e a
colocação de portões nos quatro pontos da bússola. Isso é
considerado a base para todos os designs das cidades chinesas,
principalmente Beijing

O site taoísmo (s.d.) traz dados novos que podem permitir avançar: "Há
milhares de anos atrás, os antigos Xamãs da China, adivinhadores e reis-
sábios estabeleceram os três blocos fundamentais do feng shui: a bússola, o
baguá (oito trigramas)". O exposto permite entrever que inicialmente o feng
shui teve relação direta com a concepção que os orientais mantinham em
relação aos pontos cardeais. A figura tripla abaixo possibilita observar isso de
forma direta.

FIGURA 01: Bussola, Baguá e Trigrama


FONTE: http://www.google.com.br/imghp?hl=pt-BR&tab=wi
4

Nota-se por hora que existem muitas pontas soltas ou conceitos e


elementos auxiliares que precisam de definição inicialmente histórica. Conta-se
que início da dinastia Chou (1122-207 A.C.), o "Rei Wen foi o primeiro a usar o
baguá para descrever os padrões de mudança no mundo natural". Tal
descrição segundo o site taoísmo (s.d.) servia para "promover o fluxo de
energia nutritiva dentro de uma cidade ou de um palácio e, assim, trazer
harmonia e riqueza para o reino".
Tanto a dinastia Chou quanto a Han, ambas de origem religiosa
Taoísta, viam as forças da natureza como fortemente influentes na vida dos
indivíduos. A dinastia Han (206 A.C - 219 D.C.) cultivava a arte do Kan-yu (kan
significa "montanhas" e yu significa "lugares baixos") ou caminhos de paz pelo
fluxo das águas na terra. À certa maneira, os antigos chineses pensavam que a
energia da terra poderia criar ou quebrar um reino. Conforme exemplifica o site
taoísmo (s.d.):

[...] se a cidade capital fosse construída sobre uma terra com energia
nutritiva, o país prosperaria; se fosse construída sobre uma terra com
energia maléfica, o país sofreria catástrofes. Da mesma forma, se um
imperador fosse enterrado em ou perto de formas terrestres com
energia positiva, sua dinastia duraria, e se ele fosse enterrado em ou
perto de formas terrestres com energia negativa, sua dinastia cairia.
Na verdade, kan yu foi inicialmente utilizado apenas por imperadores
e nobres para selecionar locais de enterro propícios. Foi somente na
dinastia Chin (265-420 D.C.) que os cidadãos comuns começaram a
usar o kan yu para escolher locais para casas (Feng Shui do domínio
Yang) e locais de enterro (Feng shui do domínio Yin).

Surge então na Teoria Han um terceiro elemento que acompanhará o


chamado Baguá que é a TERRA, que indica pelo exposto, sustentação,
localização, sustento, fonte de alimento e ainda elemento que concentra em si
energias vitais, assim como ar e água. Nesse caso, nota-se algo de mais
filosófico no Feng shui que é a noção de que os elementos da natureza
aglutinam forças metafísicas. Nesse sentido, de acordo com a
revistafashionnews (2012) dentro dos princípios do Feng shui:
5

Existe uma energia que permeia tudo no universo. Ela está presente
em todos os elementos que compõem a vida na terra. E está
presente nas águas, no vento, no ar, na matéria densa e fluida. Ela é
a energia que faz tudo existir a nossa volta, inclusive nós mesmos.
Essa energia é chamada em sânscrito de “kundalini”, em outras
línguas ela é chamada de “ki” ou “ch’i”. Se o “ch’i” é desviado para
uma direção imprópria, a vida e a sorte dos homens podem se
modificar. Os humanos sentem e são afetados pelo “ch’i” “, mesmo
sem saber disto.

O site ainda completa:

A energia que nos faz bem, o “ch’i ” – a energia universal, flui


naturalmente em nosso espaço interior e no meio ambiente a nossa
volta e, para desfrutarmos de felicidade e prosperidade, precisamos
nos harmonizar com esta energia. Um Feng Shui favorável num
determinado local, fará com que a pessoa que vive neste local tenha
boa sorte, paz, e vida longa.

Nota-se então que de um rito fúnebre iniciático surge depois a ideia de


utilização dos princípios do kan yu também para se escolher locais
residenciais. Tem-se então, até aqui, a indicação de três elementos essenciais
e a ideia ainda não aclarada de Baguá e a ideia de que existe uma energia
presente nos elementos da natureza de forma indelével e não modificável.
Nesse sentido, mestres os chineses que estruturaram o Feng shui teriam
percebido que cada área natural, terreno ou edificação seria dotada de sua
própria vibração influenciada pela presença do Ch'i (chamada em chinês de qi),
e estaria sujeita às várias influências do ambiente que a circunda.

1.1 As escolas históricas de interpretação

A história do Feng shui para ser bem compreendida, deve ser lida a
partir da história de suas escolas de interpretação da natureza e tradições
chinesas. De acordo com o site Taoísmo (s.d.) as dinastias Tang (618-906
D.C.) e Sung (960-1279 D.C.) foram as eras de ouro do kan yu. A escola Tang
nesse caso tem por base a bússola geomântica (luo pan), com suas vinte e
quatro direções e dezessete anéis.
A palavra Luo pan significa um conjunto de elementos perfeitamente
agrupados em um círculo (ver imagem 2) de modo a servir de roteiro, bússola
ou direção, também acredita-se que contém chaves para os mistérios do
universo. Cada escola adota para si ou constrói seu próprio luo pan, sendo que
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a essência do mesmo como se vê logo abaixo é a mesma, ou seja, as 24


direções divididas em 4 ou em 8 elementos.

FIGURA 02: Bússolas Geomânticas ou luo pans


FONTE: http://www.google.com.br/imghp?hl=pt-BR&tab=wi
As escolas Tang e Sung foram fundadas pelo mestre Yang Yun-sun
que teorizou sobre o que chamou de Três Períodos (San-yüan) e Três
Combinações (San-ho). Para ele era perfeitamente possível mapear a energia
transportada das montanhas observando as características dos vales
existentes no entorno. Outro mestre e talvez discípulo de Yang, o chines Hsü
Jen-wang expandiu o alcance da Escola Três Períodos para incluir edifícios,
assim como as formas terrestres (árvores) e fundou a escola Hsüan-kung
(Sutilezas Misteriosas). Segundo o site Taoísmo (s.d.):

Para avaliar edifícios, a escola de Hsü usou o Sistema das Estrelas


Voadoras, que combina as informações sobre a direção que um
edifício tem em sua fachada, o ano em que foi construído e o ba guá
para localizar energias auspiciosas e não auspiciosas dentro do
edifício. Com o crescimento das cidades, mais e mais casas foram
sendo construídas longe das paisagens naturais e, com isso, a
popularidade da escola Hsüan-kung foi aumentando.

A última fase de desenvolvimento do Feng shui e que se impôs sobre


as demais ganhando aceitação além da muralha da china foi a pertencente à
dinastia Ching (1644-1911 D.C.) e ao período da República da China (1911-
1949 D.C.) fundada por Jo-kuan Tao-jen e recebendo o nome de Pa-chai (Oito
Residências). "Pa-chai tenta combinar as estrelas guardiãs dos ocupantes
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(baseadas nos seus anos de nascimento) com a direção à qual a principal


entrada da casa tem a sua face" (Taoismo, s.d.).
Nesse mesmo período ganhou destaque a escola San-yüan que
estudou as construções residenciais e comerciais, assim como, as formas
terrestres e a escola San-ho a qual se dedicou ao estudo de montanhas, vales
e formas d'água. Hoje, as escolas San-yüan, San-ho, Hsüan-king e Pa-chai
permanecem em prática e são conhecidas como as Quatro Escolas do feng
shui tradicional chinês conforme tabela abaixo.

TABELA 01: Escolas do Feng Shui

NOME DINASTIA DESCRIÇÃO DURAÇÃO


Tang (618-906 D.C.) Escola mais antiga baseada
San-yüan em formas terrestres, locais
1100 anos
de enterro e elemento terra

San-ho Tang (618-906 D.C.) Escola baseada na


determinação construções e 1000 anos
Sung (960-1279 D.C.) localização de montanhas e
caminhos de água
Projetada para o uso em
construções, ela foi concebida
Hsüan-king Sung (960-1279 D.C.) para complementar a escola
800 anos
San-yüan, que nos seus
Ching (1644-1911 D.C.) primeiros anos preocupou-se
exclusivamente com as
formas terrestres e mapear o
fluxo da energia nos edifícios
Associa a estrela guardiã de
uma pessoa (baseada no seu
ano de nascimento) com a
Pa-chai direção da entrada principal,
300 anos
--- na fachada da casa. Usa a
bússola simples de oito pontos
(quatro direções cardeais e
quatro diagonais) para
localizar as áreas de energia
positiva e negativa de uma
casa.
FONTE: construção a partir de pesquisas.

Atualmente, os praticantes de Feng Shui não se prendem


necessariamente às escolas, mas utilizam-se de elementos variados das
mesmas. De acordo com o site Taoísmo (s.d.):
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Feng shui tem dois ramos: o ramo de Classificação das Formas da


Terra (ti-li) e o ramo das Características das Construções (chai-yun).
O ramo de Classificação das Formas da Terra estuda como a energia
flui sobre, em volta e através das montanhas, rios e vales, e como a
energia está conectada com as formas da terra que estão nas
proximidades, assim como, estradas e edifícios, que podem afetar
uma construção ou um local de enterro. O ramo das Características
das Construções estuda o fluxo de energia dentro de uma estrutura e
como ela afeta os ocupantes. Os profissionais especializados são
treinados em ambos os ramos de feng shui.

Nota-se no citado que não se acresceu nenhum novo elemento aos ora
mencionados.
Resta ainda mencionar outra teoria semelhante à das oito mutações
que é a teoria das Estrelas Voadoras; trata-se de outra forma de compreensão
da energia vital presente no mundo, só que nesse caso a energia seria invisível
(o que denota algo mais místico que necessariamente situado) que tenta
localizar e entender a energia de um lugar particular em um determinado
tempo.

FIGURA 04: Esquema das Estrelas voadoras


FONTE: http://fengshui.taoismo.com.br/EstrelasVoadoras.html
Tal energia busca demarcar duas dimensões espaciais, determinadas
pela direção da parte da frente e a parte de trás da face de um edifício,
localizando assim uma dimensão temporal, determinada pelo ano no qual a
construção foi completada. A esse respeito, de acordo com o site Taoísmo (s.d)
temos esse três fatores formando:
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[...] o tipo de energia que reside em cada parte da casa. Usando os


princípios do baguá e as dimensões espaciais e temporais de uma
construção, as escolas San-yüan e Hsüan-kung vieram com um
método chamado o Sistema das Estrelas Voadoras que permite aos
praticantes descobrirem e avaliarem a energia invisível residente em
uma construção.

A teoria das estrelas voadoras é aplicada colocando sua disposição


sobre a planta da casa, desse modo observa-se a relação de harmonia entre a
disposição do mapa e da planta (ver figura 3, acima);
Conclui-se aqui a parte histórica do Feng shui, passando o artigo a
apresentá-los na descrição do Ba guá.

1.2 O Ba guá

Entendido com mapa místico que guarda os segredos das linhas de


fruição do universo, o Baguá ou Ba guá ou ainda Pa guá, é a representação de
um conceito filosófico fundamental da antiga China, sua tradução literal
significa oito trigramas ou oito mutações. Pode ser representado na forma de
um octágono ou de trigrama conforme figura 4:

FIGURA 04: Formas do Ba guá com 8 e 64 trigramas


FONTE: http://www.google.com.br/imghp?hl=pt-BR&tab=wi
Segundo Soroa (2000) esses trigramas são as oito combinações
possíveis das energias Yin Yang em três linhas (as tracejadas significam Yin e
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as contínuas representam o Yang). Desse modo o que forma o Ba guá são os


trigramas que, conforme o mostrado na figura 3, cada um representa um
elemento da natureza que está ou deve estar presente no ambiente em que se
está aplicando o Feng shui a fim de harmonizar os elementos sintéticos ou
abstratos (originários na mente humana) com os elementos naturais presentes
originalmente no entorno desse ambiente (natureza).

FIGURA 04: Ba guá com nomes interpretativos


FONTE: http://blog.fengshuilogico.com
De acordo com costa (2006) o Baguá é a união desses trigramas e
serve para delimitar onde cada energia se localiza em pessoas e ambientes.
Contudo, sua configuração no Feng Shui é especial, pois leva em consideração
as alterações de paredes, portas e janelas nas vibrações da natureza.
O Baguá teria sua composição ou origem com o imperador Fu Hsi que
viu os oito trigramas desenhados no casco de uma tartaruga, às margens do
Rio Amarelo (uma espécie de revelação a 3000 a.C.), e com eles, supõe-se,
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desvendou o segredo de todas as coisas. De combinações binárias dos oito


trigramas, 64 hexagramas2 conforme mostra o quadro 1 e a figura 4.
1. CH•IEN - O CRIATIVO 18. KU - A REAÇÃO 34. TA CHUANG - O PODER 51. CHÊN - O TROVÃO
2. K•UN - O RECEPTIVO 19. LIN - A APROXIMAÇÃO 35. CHIN - O PROGRESSO 52. KÊN - A PARADA
3. CHUN - A DIFICULDADE 20. KUAN - A 36. MING I - O 53. CHIEN - O
INICIAL CONTEMPLAÇÃO OBSCURECIMENTO DESENVOLVIMENTO
4. MENG - A INEXPERIÊNCIA 21. SHIH HO - A MORDIDA 37. CHIA JEN - A FAMÍLIA 54. KUEI MEI - A JOVEM
5. HSU - A ESPERA 22. PI - A BELEZA 38. K•UEI - A OPOSIÇÃO QUE SE CASA
6. SUNG - O CONFLITO 23. PO - A DESINTEGRAÇÃO 39. CHIEN - O OBSTÁCULO 55. FÊNG - A PLENITUDE
7. SHIH - O EXÉRCITO 24. FU - O RETORNO 40. HSIEH - A LIBERAÇÃO 56. LÜ - O VIAJANTE
8. PI - A UNIÃO 25. WU WANG - A 41. SUN - A PERDA 57. SUN - O VENTO QUE
SIMPLICIDADE PENETRA
9. HSIAO CH•U - A FORÇA 42. I - O ACRÉSCIMO
DO FRACO 26. TA CH•U - A FORÇA DO 58. TUI - A SERENIDADE
43. KUAI - A DECISÃO
10. LU - A CONDUTA FORTE 59. HUAN - A DISPERSÃO
44. KOU - O ENCONTRO
11. T•AI - A PAZ 27. I - O ALIMENTO 60. CHIEH - A LIMITAÇÃO
45. TS•UI - A REUNIÃO
12. PI - A ESTAGNAÇÃO 28. TA KUO - O IMPÉRIO 61. CHUNG FU - A
46. SHÊNG - A ASCENSÃO
DOS FATOS SINCERIDADE
13. TUNG JÊN - A 47. K•UN - A OPRESSÃO
FRATERNIDADE 29. K•AN - O ABISMO 62. HSIAO KUO - O AVANÇO
48. CHING - O POÇO DO PEQUENO
14. TA YU - A GRANDE 30. LI - A LUZ
49. KO - A REVOLUÇÃO 63. CHI CHI - APÓS A
FORÇA 31. HSIEN - A ATRAÇÃO
50. TING - O CALDEIRÃO CONCLUSÃO
15. CH•IEN - A HUMILDADE 32. HENG - A DURAÇÃO
64. WEI CHI - ANTES DA
16. YU - O ENTUSIASMO 33. TUN - A RETIRADA
CONCLUSÃO
17. SUI - O SEGUIR

QUADRO 01: As 64 Hexagramas e seus nomes


FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ba_gua#cite_note-1

Outra questão a ser retomada é a das oito mutações mencionadas no


inicio do artigo; princípio este utilizado e adaptado à compreensão de qualquer
tipo de situação, considerando que estas estão sempre em mutação assim
como a própria natureza.
Soroa (2000) menciona que observando os trigramas como indicações
de oito caminhos que se abrem a partir de cada situação, é possível avaliar o
desenvolvimento de uma determinada questão sob oito perspectivas diferentes.
Tais forças antagônicas são opostas e complementares, existindo dentro de
todos nós e sendo guiadas pelo discernimento.

2
Para entender a essência de cada hexagrama, é preciso desmontá-lo:a chave dos símbolos está nas linhas
que os compõem. “Linhas inteiras representavam o céu, enquanto linhas interrompidas indicavam a terra
”, explica o monge budista Gustavo Alberto Corrêa Pinto, que traduziu o I Ching para o português na
década de 1980. Na China antiga, acreditava-se que a Terra estava parada no centro do Universo,
enquanto o céu, com seu séquito de constelações, nuvens, pássaros e meteoros, movia-se ao redor dela.
Do céu vinham a luz e a chuva, que fecundavam o solo e davam origem à vida. Por isso, a linha inteira
significa o elemento ativo, luminoso, masculino do Universo;a linha quebrada era o feminino, o escuro, o
repouso (BOTELHO, 2007).
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TABELA 02: As oito mutações

FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ba_gua#cite_note-1
Talvez o sentido originário do Baguá seja o de harmonizar as energias
do ambiente neutralizando as ruins e fazendo fluir o Chi (energia considerada
boa) ou pelo menos é assim para a corrente Fi xi, uma espécie de mitologia
chinesa. Nesse sentido, escreveu o Rei Wen da Dinastia Zhou: "No início havia
o Céu e a Terra. Céu e Terra se uniram e deram origem a tudo que existe no
mundo. O trigrama Qian representa o Céu, e o trigrama Kun representa a
Terra. Os seis trigramas restantes são seus filhos e filhas" (WKP, 2012, s.p.).
As linhas sólidas nos trigramas simbolizam o yang e as linhas interrompidas
simbolizam o yin. Desse modo, informa o site Taoísmo (s.d.):

[...] um trigrama com duas ou mais linhas interrompidas é


primariamente yin, enquanto um trigrams com duas ou mais linhas
sólidas é primariamente yang. Os trigramas do tipo yin são
associados à energia receptiva e quietude, enquanto os trigramas do
tipo yang são associados à energia expansiva e a ação.

Para se ter uma ideia da importância que chineses conferem a essa


tradição, a Bandeira da Coreia do Sul com quatro trigramas do Baguá na
posição do arranjo do céu primordial conforme a figura 5:
13

FIGURA 05: Bandeira da Coréia do Sul


FONTE: http://www.google.com.br/imghp?hl=pt-BR&tab=wi

O Baguá ainda assume o significado de amuleto, uma espécie de


símbolo religioso semelhante aos crucifixos utilizados em ambientes variados
no Brasil, presentes em residências e repartições públicas, mesmo que ali não
ocorra nenhuma forma de culto ou organização dentro da doutrina do Feng
shui.
Dentro do que fora citado até aqui no artigo, algo ainda deve ser
aclarado, trata-se do princípio Yin Yang. Nesse sentido, deve-se antepor sobre
3
os princípios que regem o I Ching ou esse conjunto de ideias e arquétipos
(formas essenciais e míticas de compreensão do mundo), “[..] está mais ligado
ao inconsciente que à atitude racional da consciência ”, escreveu em 1949 o
psicanalista Carl Jung, que usava o livro I Ching em sessões de análise. Para o
físico Niels Bohr, a obra está na raiz da física quântica, um dos principais
pilares da ciência atual sendo considerado o mais antigo registro sobre o tema
do mundo (BOTELHO, 2007, s.p.). Ainda de acordo com Botelho (2007):

Niels Bohr (1885-1962) lendo o I Ching , ele se inspirou para elaborar


muitos conceitos fundamentais da física quântica. Bohr ajudou a
derrubar a noção de que as leis que regem o Cosmos são
independentes da matéria,em vez disso, hoje se acredita que essas
leis emanam da própria energia em mutação que forma o mundo.

Colocando todo o misticismo de Yin Yang à parte, pode-se entender o


símbolo como uma referência à ideia de que existe uma dualidade de tudo o

3
Um dos mais antigos e um dos únicos textos chineses que chegaram até nossos dias. Ching,
significando clássico, foi o nome dado por Confúcio à sua edição dos antigos livros. Antes era chamado
apenas I: o ideograma I é traduzido de muitas formas, e no século XX ficou conhecido no ocidente como
"mudança" ou "mutação".
14

que existe no universo. O "yin" é o princípio feminino, a terra, a passividade,


escuridão, e absorção. O "yang" é o princípio masculino, o céu, a luz, atividade,
e penetração (Larousse, 2000, p. 11710).

FIGURA 06: Taiji, simbolizando os princípios Yin Yang


FONTE: http://www.google.com.br/imghp?hl=pt-BR&tab=wi

A ideia de forças contrárias regendo o universo é comum a todas as


culturas, na forma de dualismos variados. Bem e mal, Deus e diabo, Guerra
dos contrários ou Pantha hei sã exemplos disso. Nesse sentido, o diagrama do
Taiji simboliza o equilíbrio das forças da natureza, da mente e do físico. Yang
(branco) e Yin (preto) integrados num movimento contínuo de geração mútua
representam a interação destas forças. De acordo com Vecchi (2004):

Cada ser, objeto ou pensamento possui um complemento do qual


depende para a sua existência e que por sua vez existe dentro de si.
Assim, se deduz que nada existe no estado puro nem tão pouco na
passividade absoluta, mas sim em transformação contínua. Além
disso, qualquer ideia pode ser vista como seu oposto quando
visualizada a partir de outro ponto de vista. Neste sentido, a
categorização seria apenas por conveniência. Estas duas forças, yin
e yang, seria a fase seguinte do "tao", princípio gerador de todas as
coisas, de onde surgem. Segundo este princípio, duas forças
complementares compõem tudo que existe, e do equilíbrio dinâmico
entre elas surge todo movimento e mutação.

De acordo com a lenda, Chou Hsin, o último imperador Shang, que


reinou em meados do século 11 a. C., conhecido por beber muito e ser mal
humorado e cruel, foi um dia traído por Wen, um conde de sua província que o
queria matar; Wen foi pego, posto na masmorra e ali iniciou a segunda fase do
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I Ching interpretando intuitivamente os 64 hexagramas. Segundo Botelho


(2007, s.p.):

Wen aparece nas lendas como um sábio versado nas artes da


profecia. Segundo o historiador Ma Rong, do século 2, o conde
passava o tempo na prisão meditando sobre o significado dos
símbolos. Resolveu preservar suas interpretações para a
posteridade:batizou cada hexagrama com um nome, resumindo suas
características essenciais. O primeiro hexagrama, formado apenas
por linhas inteiras ou yang, chamouse Chien, o criativo. O segundo,
só com linhas quebradas ou yin, foi batizado de Kun, o receptivo.
Após 7 anos de prisão, Wen voltou a ver a luz do dia. [...] Confúcio,
que nasceu em 531 a. C. , não era um sujeito supersticioso. Mesmo
assim, ele passava horas e horas lançando as varetas de milefólio e
estudando os hexagramas. “O I Ching o deliciava ”, afirma Sima
Quien em uma biografia escrita 400 anos mais tarde.

Desse modo o desenvolvimento dos princípios da cultura religiosa


chinesa misturam-se a uma filosofia da natureza muito próxima da que fora
mais tarde construída na Grécia, quando os elementos da natureza assumem
relevância criadora. Os símbolos de tais elementos compõem o conjunto de
interpretações de I Ching que tem por norte a noção de bem e de mal
prefigurada no Yin Yang. Cabe a seguir discorrer sobre esses elementos da
natureza e sua função antropológica.

2 IMAGENS E SÍMBOLOS DO BAGUÁ EM MIRCEA ELIADE

No livro O tratado de história das religiões (1998) Eliade desenvolve um


longo estudo sobre os principais elementos da natureza e ritos fundadores que
atribuem a origem de tudo no universo a esses. Para ele o princípio Céu,
princípio masculino ou Yin sempre está associado ao misterioso e por isso será
cultuado antes que se cultue a terra, principio feminino ou Yang. Para Eliade
(1998, p. 39): "O céu revela diretamente a sua transcendência, a sua força e a
sua sacralidade".
Para o mesmo autor (1991, p. 8) o ato de representar o mundo e por
vezes substituí-lo por símbolos é um fenômeno humano e não apenas infante;
precede a linguagem e a razão. Para ele:
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O símbolo revela certos aspectos da realidade, que desafiam


qualquer outro meio de conhecimento. [...] não são criações
irresponsáveis da psiqué; elas correspondem a um necessidade e
preenchem uma função: revelar as mais secretas modalidades do
ser. Por isso, seu estudo nos permite melhor conhecer o homem, ‘o
homem simplesmente’, aquele que ainda não se compôs com as
condições da história.

Desse modo, seguindo sua intuição ou simplesmente transferindo de si


suas percepções sobre o mundo, o homem interpreta o mundo à sua volta de
maneira a entendê-lo a seu modo.
O homem ao substituir a realidade pelo símbolo, em geral começa a
construir para si uma compreensão que pode ser oral ou escrita sobre o mundo
e suas particularidades, e que às vezes transforma-se em uma narrativa aceita
como verdade, dando assim origem ao que ficou convencionado como mito.
Aparentemente desprovido de realidade, o mito na atualidade vem sendo
tratado como uma condição de verdade ou "história verdadeira", não na
essência, mas no significado que este ocupa para o povo do qual emergiu.
Na intensa substituição de mitos que a humanidade sempre viveu,
estes vão se sobrepondo a outros, numa espécie de evolução etérea. De certo
modo isso correu com a construção histórica do I Ching, dadas as
sobreposições de camadas de interpretações dos trigramas e a composição
dos hexagramas, criando assim ,como nos demais livros sagrados das
religiões, um conjunto de informações e narrativas ora misteriosas, ora místicas
repletas de significados.
Parece que os arquétipos de origem - conquistas e destruições - estão
sempre associados a deuses e heróis messiânicos. "Compreendê-las equivale
a reconhecê-los como fenômenos humanos, fenômenos de cultura, criação do
espírito — e não como irrupção patológica de instintos, bestialidade ou
infantilidade" (ELIADE, 1991, p. 9).
Quando se analisa mitos em seu contexto, corre-se o risco de não
olhá-los de fato "em seu contexto", ou porque já sofreram manipulação,
modificação, aculturação, ou porque não se dispõe das ferramentas
adequadas. "Não obstante, é preferível começar por estudar o mito nas
sociedades arcaicas e tradicionais, reservando para uma análise ulterior as
mitologias dos povos que desempenharam um papel importante na história"
(ELIADE, 1991, p. 12).
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No afã de construir uma definição ampla e certa de mito, Mircea


aponta: "o mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento
ocorrido no tempo primordial, o tempo fabuloso do "princípio". Em outros
termos, o mito narra como, graças às façanhas dos Entes Sobrenaturais, uma
realidade que passou a existir, seja uma realidade total, o Cosmo, ou apenas
um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano,
uma instituição" (ELIADE, 1991, p. 13). Nesse contexto, conforme Botelho
(2007) até bem pouco tempo os governos da China baseavam suas estratégias
de administração no I Ching. Um exemplo disso é o livro A arte da guerra que
utiliza diversas vertentes dessa cultura chinesa.
O mito é uma narração sagrada e portanto verdadeira para quem a
narra. Esse conjunto de "Histórias verdadeiras" e "histórias falsas" permeiam o
cotidiano do povo para justificar a dicotomia,na qual, o mito vence.
É preciso que fique muito claro que: "o mito é uma questão da mais alta
importância, ao passo que os contos e as fábulas não o são. O mito prega as
"histórias" primordiais que o constituíram existencialmente, e tudo o que se
relaciona com a sua existência e com o seu próprio modo de existir no Cosmos
o afeta diretamente (ELIADE, 1991, p. 15).
A construção do mito compreende ritualizar, significar, representar,
aceitar e propagar sua índole. Os ritos de vida e de morte, de amor, sexo,
devoção, pertença, consagração, iluminação, são ritos, repletos de mitos, de
sentido, de significação do mundo, de criação cósmica e eliminação caótica.
Não dá portanto para desqualificar a cultura I Ching e os princípios do Feng
shui apenas por não serem de um todo científicos, pois estão baseados na
mesma lógica de equilíbrio moral, ético e social que os demais livros tidos
como sagrados adoram.
Assim, o mito é uma "História dos atos dos Entes Sobrenaturais", a
qual se refere à realidades,ligado sempre a sempre a uma "criação", serve de
chave de conhecimento de algo e é impregnado pelo poder do sagrado.
"'Viver" os mitos implica, pois, uma experiência verdadeiramente
"religiosa", pois ela se distingue da experiência ordinária da vida quotidiana. A
"religiosidade" dessa experiência deve-se ao fato de que, ao reatualizar as
influências e os eventos fabulosos, exaltantes, significativos, assiste-se
novamente às obras criadoras dos Entes Sobrenaturais; deixa-se de existir no
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mundo de todos os dias e penetra-se num mundo transfigurado, áureo,


impregnado da presença dos Entes Sobrenaturais" (ELIADE, 1991, p. 22).

O conhecimento destas "influências" pode explicar muitos fenômenos


que percebemos apenas de forma intuitiva, por exemplo: o que nos
faz sentir confortáveis em determinado ambiente; porque certas áreas
de uma edificação são pouco ou nunca ocupadas; porque alguns dos
seus moradores sempre estão adoentados; porque certas edificações
ou áreas em uma cidade são bem ocupadas enquanto outras são
evitadas pelos habitantes (SOLANO, 2000).

Nas civilizações primitivas, o mito desempenha uma função


indispensável: ele exprime, enaltece e codifica a crença; salvaguarda e impõe
os princípios morais; garante a eficácia do ritual e oferece regras práticas para
a orientação do homem. É um ingrediente vital da civilização humana. Claro
que não só nas sociedades primitivas, pois o homem continua sendo um ser
simbólico, mudando apenas os símbolos e estruturas numéricas de percepção
do mundo; e é nesse ponto que o feng shui moderno e ocidentalizado atua. Os
mestres taoístas que desenvolveram esta arte, não utilizavam-na isoladamente:
consideravam-na mais um instrumento de equilíbrio a ser utilizado em conjunto
com outras práticas articuladas à Medicina tradicional chinesa, como a
acupuntura, a meditação, e o Tai Chi Chuan.

3 O FENG SHUI EM TERMOS PRÁTICOS

Segundo Soroa (2004) o Feng shui pode trazer inúmeros benefícios


aos seus praticantes, tais como guardar e preservar as boas influências
disponíveis no lugar de modo a permitir que permaneçam e se distribuam
suavemente pela edificação; reduzir os efeitos negativos das diversas
influências nocivas ao local, presentes na sua construção ou frutos das
alterações em seu entorno e implementar "curas" que possam produzir
resultados em termos de saúde, bem-estar e harmonia para os moradores ou
usuários do espaço tratado.
Tais benefícios são alcançados quando se estimula o local onde se
está situado através das alterações arquitetônicas ou da forma, da cor, e do
posicionamento dos objetos presentes no local.
No processo de ocidentalização da cultura chinesa, imigrantes
chineses, que se instalaram nos Estados Unidos a partir do início do século XIX
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,construíram estruturas que incorporam os princípios do Feng Shui nos bairros


em que se habitaram nas cidades de New York, San Francisco e Los Angeles.
No Brasil, mais especificamente em São Paulo capital, as tradições chinesas
borbulham o bairro denominado Liberdade. Segundo Soroa (2004):

Há uma divergência entre algumas escolas de Feng Shui sobre a


necessidade ou não de adaptar as antigas teorias chinesas quando o
feng shui for utilizado no Hemisfério Sul. As diferenças entre os dois
hemisférios são uma realidade de fato, mas sua influência sobre o
feng shui não encontra unanimidade entre os estudiosos e praticantes
desta técnica chinesa. As escolas de Feng Shui para o Hemisfério Sul
defendem a necessidade de alterações, que abrangem todo o Feng
Shui e Astrologia Chinesa dos 4 Pilares.

Existe certa celeuma sobre se aqui os principios orientais do Feng shui


se aplicam da mesma forma. Soroa explica três:

- O "Ba Gua" - octógono com um trigrama em cada face – representa


o ciclo das Estações. No Hemisfério Sul as Estações são invertidas
em relação ao Hemisfério Norte. Portanto o Ba Guá deveria refletir
estas diferenças.
- O "Luo Pan" – bússola chinesa com todas as fórmulas do Feng Shui
resumidas em um disco reticulado – foi criado para ser usado em
regiões onde faltam elementos naturais e acidentes geográficos.
Método das estrelas voadoras.
- O Efeito Coriolis faz com que as correntes de ar e água girem em
direções opostas nos dois hemisférios: anti-horário no Hemisfério
Norte e horário no Hemisfério Sul. Este efeito provoca um
espelhamento na distribuição das energias sobre a superfície do
Globo.

Tais problemas foram diminuídos depois da criação do chamado Feng


shui lógico que considera como universais a estações solares independente de
sua incidência local. Nesse sentido e de forma universal, os cinco elementos
(fogo/verão, terra, metal/outono, água/inverno, madeira/primavera) estão
relacionados com as estações do ano, com as direções, com os 12 signos
(animais), com os meses, os dias e as horas, originando um calendário.
Sabe-se que esta técnica chinesa de harmonização de ambientes
destaca que a bagunça provoca cansaço e imobilidade, faz as pessoas viverem
no passado, engorda, confunde, deprime, tira o foco de coisas importantes,
atrasa a vida e atrapalha relacionamentos. Para evitar tudo recomenda-se
atenção para jogar fora lixos da casa, jornais velhos, cartões de visita e tudo
mais que não esteja sendo utilizado. Colocar uma coisa nova em casa quando
se livrar de uma velha. Recomenda-se guardar coisas semelhantes juntas;
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arrumar roupas no armário de acordo com a cor e ficar só com as que se utiliza
mesmo. Jogar papéis velhos fora, limpar gavetas, armários, arrumá-los e a
cada 30 dias fazer limpeza geral utilizando caixas marcadas: lixo, consertos,
reciclagem, em dúvida, presentes, doação, ajuda a organizar e limpar o
ambiente. Nota-se um princípio básico de equilíbrio que pode ser similar a
utilizar apenas o necessário sem acúmulos.
O site Taoismo (s.d.) traz alguns desse princípios aplicados à
arquitetura e à hamonização do ambiente:

Para prevenir a prosperidade de fluir para fora da casa, a entrada


principal não deve estar alinhada com qualquer entrada secundária
ou grandes janelas.
Para impedir que a energia negativa se desenvolva, a casa não deve
ter corredores longos e estreitos, entradas do tipo labirinto, cantos
escuros ou escadas inclinadas.
Para promover o fluxo de energia positiva, entradas e escadas devem
ser largas e bem iluminadas.
Para se assegurar que os residentes não percam energia vital
enquanto dormem, os quartos de dormir não devem ser muito
expostos à área externa. Portanto, janelas largas, do tipo do chão ao
teto, não são apropriadas para os quartos de dormir.
Para maximizar o fluxo de energia global em uma casa, a mesma
deveria ter uma planta razoavelmente simples com andares
claramente definidos. Você não deveria se sentir "perdido" ou
desorientado em uma casa.
Para prevenir a introdução de energia negativa dentro de uma
construção, evite instalar aspectos interiores rústicos tais como
paredes de rochas, vigas expostas, paredes de painéis de madeira
intrincados, tetos abobadados e lareiras de grandes dimensões.
Também evite tetos e estruturas de paredes que sejam fatiados,
como facas ou flechas.
Aspectos arredondados e suaves - mesmo coisas sutis como cantos
arredondados em balcões de cozinha - promovem o desenvolvimento
e fluxo de energia positiva.

Do mesmo modo, na escolha de terrenos deve-se levar em conta


alguns fatores como :"pedras irregulares e penhascos íngremes, árvores com
aspecto grotesco, estruturas ameaçadoras, tais como, grandes
transformadores de energia ou uma estrada correndo diretamente para a
residência), não há razão para olhar para a casa ou examinar a sua planta
baixa" (TAOISMO, s.d.). Recomenda-se escolher local protegido por todos os
lados por coisas como morros, montes, árvores, arbustos, e mesmo outras
construções. Assim, pode-se estar protegido e ainda ter boa vista.
Se a casa ou o espaço escolhido promovem estabilidade, equilíbrio e
suavidade, não tendo, claro, corredores escuros, estreitos ou labirinto e
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escadas íngremes que gerem energia negativa, é bem provável segundo os


princípios estudados, que se está diante de um ambiente propício à paz.

CONCLUSÃO

Não se localizou ainda nenhuma evidência científica de que a utilização


do Feng shui cumpra o prometido em sua doutrina, o que se sabe é que os
princípios de organização nele contidos favorecem significativamente a
sensação de ordem e tranquilidade do ambiente.
O que se pode então afirmar é que os antigos mestres chineses de
Feng Shui procuravam entender e tratar as influências vibracionais sutis que
atuam sobre um determinado espaço, fundamentados na observação da
Natureza e numa experimentação que combina elementos de diversas áreas
do conhecimento da cultura chinesa tradicional. Entre estes elementos
encontramos muitas referências da Matemática e da Astronomia, além da
Arquitetura (SOLANO, 2000).
Em Arquitetura, o livro Percepção Ambiental e Comportamento, do
Mestre em Arquitetura Jun Okamoto (Editora Mackenzie,São Paulo, 2002) é
um importante passo para as bases científicas do Feng Shui. Outro marco
nesse sentido é o livro Feng Shui Lógico, de Stela Vecchi (Ícone Editora, São
Paulo, 2004) que relaciona a Teoria da Relatividade de Einstein e o estudo da
Simbologia Junguiana entre outras associações científicas para comprovar a
eficácia do Feng Shui.

BIBLIOGRAFIA

BOTELHO, José Francisco in: Revista Super Interessante – Edição 235. I Ching o livro
mais antigo do mundo: E fonte para a ciência moderna. Conheça essa misteriosa
história. Janeiro, 2007. Disponível em: <http://super.abril.com.br/historia/i-ching-livro-
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própria, 2006.

COSTA, Riceles Araújo. Xuankong Feixin Fengshui. v. I. Palmas-TO, edição própria,


2006.

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<http://mdemulher.abril.com.br/casa/reportagem/decoracao/feng-shui-tecnicas-
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OKAMOTO, Jun. Percepção Ambiental e Comportamento. São Paulo, Editora


Mackenzie, 2002.

REVISTA FASHION NEWS. Saúde: A historia do Feng Shui. Disponível em:


<http://revistafashionnews.com/noticias/detalhe/id/4607>. Acesso em 15 Dez. 2012.

SOLANO, Carlos. Feng Shui - Kan Yu: Arquitetura ambiental chinesa. São Paulo,
Pensamento, 2000.

SOROA, Raul de. A Prática do Autêntico Feng Shui. São Paulo, Editora Harmonia
Global, 2004.

SOROA, Raul de. Manual do Autêntico Feng Shui. São Paulo, Editora Gente, 2000.

TAOISMO. Feng Shuí. Disponível em: <http://fengshui.taoismo.com.br/index.html>.


Acesso em 15 Dez. 2012.

VECCHI, Stela. Feng Shui Lógico. São Paulo, Ícone Editora, 2004.

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