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Autor: Arão come

TEMÁTICA ANALISADA: Construção da identidade social

REVISÃO DA LITERATURA

No âmbito das ciências sociais, o conceito de identidade social se caracteriza por sua
polissemia e fluidez. Na literatura destas ciências, existe uma extensa quantidade de significados
atribuídos ao conceito identidade, nomeadamente: identidade individual, identidade nacional,
identidade étnica, identidade profissional, identidade de sexo e idade, são alguns exemplos que
contribuem para a indefinição conceptual e para uma diversa e, por vezes ambígua, utilização
deste conceito.
Os pressupostos que norteiam o debate sobre identidade social constrõem-se
historicamente, em sociologia a partir de alguns conceitos operatórios como o de “consciência
colectiva” em Durkheim, de “comunidade” em Tonnies, “consciência de classe” em Marx ou de
“fechamento social” em Weber. (Cruz, 1995). Tomando esses conceitos de sociólogos clássicos
para contextualizar o debate sobre a identidade social somos, desde logo, remetidos à ideia de
pertença a um grupo, destacando as semelhanças ou atributos à volta dos quais os elementos do
grupo se agregam e lhes proporcionam uma experiência estruturante, um espelho, na qual os
actores sociais constroõem e visualizam um sentido de si mesmo.
A releitura destes autores num estudo que se quer “actual” ajuda nos a (re) situar a
perspectiva teórica sobre identidade numa base sólida e, quiçá, revigorar em conceitos
operatórios “antigos” uma base analítica singular. Entretanto, não deixa de ser verdade que estes
autores não se tenham debruçado sobre este tema de forma explícita, apenas abordaram de forma
ocasional, integrando uma teoria geral.
Em Durkheim os indícios de uma teoria sobre identidade social podem ser encontrados
no conceito de consciência colectiva. Durkheim apelida de “consciência colectiva” o conjunto de
crenças e de sentimentos que é compartilhado pela maioria dos membros de um grupo. Essa
consciência é, por definição, difusa, tendo em conta que há uma conformidade de todas as
consciências particulares a um tipo comum. Nas sociedades tradicionais o indivíduo é, de alguma
forma, absorvido pelo grupo. A “consciência colectiva”, isto é, o conjunto de crenças e
sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade, é particularmente forte e
impõe-se às consciências individuais (Durkheim, 1998, pp. 95-105).
A partir da consciência colectiva, surge uma definição social institucionalizada de uma
sociedade de referência. O referente passa a ser “nós” em oposição aos “outros”. Constitui-se
assim, em Durkheim as bases que possibilitam o entendimento de uma identidade social
específica.
Nesta perspectiva teórica a identidade social remeteria necessariamente ao grupo original
de vinculação do indivíduo. Em outras palavras a identidade seria preexistente ao indivíduo que
não teria alternativa senão aderir a ela, sob o risco de se tornar um marginal, um desenraizado.
Em comum com Durkheim, Weber contribuiu para o entendimento do conceito de Commented [NS1]: AQUI APRESENTO A DISCUSSAO DE DOIS
AUTORES: Durkheim e Weber. Os pontos de encontro entre os dois
identidade social. Essa contribuição pode ser buscada no conceito de “fechamento social”. (Góis, autores

2011). Embora, em oposição a Durkheim, Weber assuma como unidade de análise os indivíduos,
precisamente por considerar que são os únicos que podem ter fins ou intenções (observáveis) nos
actos (que praticam) as suas conclusões caminham em paralelo quando analisamos processos
identitários.
O conceito de fechamento social foi popularizado na teoria Weberiana de estratificação
social. É usado para referir o “processo pelo qual as colectividades maximizam as recompensas
económicas e politicas” (Góis, 2011, p. 146). Este processo implica a construção de fronteiras
simbólicas entre “nós” e os “outros”, baseadas em racionalidades e atributos culturais comuns
(língua, religião, profissão, status social). A fronteira que agrega é também fronteira que separa,
daí a sua importância para entender a identidade social nos tempos actuais.

Silva T. (2000) no seu estudo sobre a Produção Social da identidade e Diferença


refere que estas duas categorias estão em estreita dependência, são inseparáveis. As afirmações
sobre diferença também dependem de uma cadeia, em geral oculta, de declarações negativas
sobre (outras) identidades. Neste âmbito, a ideia duma identidade zambeziana, carrega, mantêm
em si mesma, o traço do outro, da diferença - duma identidade Tsonga por exemplo.

A afirmação da identidade e a marcação da diferença, na perspectiva de Silva T.


(2000), implicam, sempre, as operações de incluir e de excluir. Dizer `` o que somos`` significa
também dizer ``o que não somos``. A identidade e a diferença se traduzem, assim em declarações
sobre quem pertence e sobre quem não pertence. Sobre quem está incluído e quem está excluído.
No contexto moçambicano, Macamo (1998), analisa a influência da religião muito em Commented [NS2]: A analise começa de forma genérica e
passa para um contexto especifico. O que se escreveu no local onde
particular, da Missão Suíça, na formação de identidades no Sul de Moçambique. O conceito de a pesquisa será realizada

associação e os três modelos analíticos a ele adjacentes, nomeadamente o modelo de


antagonismo cultural, o modelo de ambivalência cultural, e modelo do dualismo cultural, usados
por Elísio Macamo como base teórica lhe permite olhar para as interacções que indivíduos
estabelecem como elemento constituidor das identidades sociais no Sul de Moçambique, num
período marcado por vicissitudes económicas e socioculturais. No bojo duma sociedade em
transformação e sem um quadro normativo capaz de integrar socialmente os indivíduos, a Missão
Suíça, segundo o autor, proporciona aos seus aderente “terra firme” a partir da qual eles
manipulam e constroem a sua identidade social. Os círculos concêntricos dum aderente típico da
Missão Suíça incluem, entre outros, a raça negra, a pertença a um suposto grupo étnico Tsonga e
domínio da língua e uma conduta de vida virtuosa. De igual forma, distanciam os seus aderentes
de todos quantos não partilham de certos valores culturais mumificados e proporciona-lhe a
oportunidade de instrumentalizar certos símbolos culturais. A Missão Suíça, neste sentido,
possibilita a demarcação de espaços entre os Tsonga e os outros grupos culturais. (Macamo,
1998)

Na mesma linha de pensamento de Macamo, Silva, (1998) analisa o papel da Missão Commented [NS3]: Ponto de encontro entre os autores

Suíça na formação da identidade Tsonga num contexto cultural e histórico do colonialismo


português em Moçambique. A formação da identidade social dos Tsongas, segundo Silva é
determinada pelo modelo de educação implementado pelas Missões Protestantes no Sul de
Moçambique que procuravam preservar parte da experiencia cultural e social dos seus
estudantes. Os seus métodos de educação e evangelização basearam-se no uso e disseminação
das línguas vernácula, contribuindo, desta forma, para o desenvolvimento duma percepção de
pertença a uma colectividade com a qual se identificava e da qual compartilhava certos atributos.
(Silva T. C., 1998)

O modelo de ensino inaugurado pelas Missões protestantes tornou visíveis as diferenças e


o desenvolvimento de uma consciência étnica entre os tsongas e outros grupos étnicos de
Moçambique.

Muito embora a abordagem de Macamo e Tereza Cruz incida particularmente no papel


desempenhado pelas Missões protestantes na formação da identidade social dos Tsongas no Sul
de Moçambique, nos permite perceber que o entendimento da identidade dum determinado grupo
social em constante interacção com distintos actores sociais passa necessariamente pela
compreensão dos mecanismos de diferenciação e criação ou recriação do sentimento de pertença
comum. Analisam a construção da identidade social confrontando dois grupos: “Nós” e os
“Outros”. Estas análises são estruturadas em torno de oposições binárias, isto é, em torno de dois
grupos polarizados Commented [NS4]: Esse Paragrafo nos indica o rendimento
analítico dos autores apresentados na nossa Revisão para a
pesquisa que pretendemos realizar. Ou seja. COMO ELES NOS
Em oposição aos trabalhos de Macamo e Silva, Liesegang, (1998) advoga que a AJUDAM A INTERPRETAR O FENOMENO QUE PRETENDEMOS
ESTUDAR.
identidade se forma com base num território social e num recurso, mas que implica outras Commented [NS5]: Aqui apresenta-se pontos de
dissemelhança entre os autores
semelhanças detectáveis, baseadas em características naturais e experiencias adquiridas. Para o
autor a identidade social dos indivíduos é marcada pela delimitação e defesa de espaços, de
forma inata ou quase automática que lhe permite criar ``semáforos`` entre diferentes grupos, ou
seja, permite-lhes diferenciar o “Nós” e “Eles” no seio dum determinado território social. Essa
construção de liames entre os indivíduos é regida por mitos de fundação e por uma série de
convenções e regulamentos em vigor. O mito de fundação mencionado pelo autor não é uma
ficção pura, mas sim, uma verdade em parte demonstrável que legitima a existência de espaço,
de regras de comportamento e de poder. Para este, o surgimento de grupos étnicos como Nyanja,
Yao, Mwami, Chuabo, Sena, Nyungwe atentam a sua importância e influência que os mitos de
fundação exerceram no surgimento e delimitação de territórios sociais e identidade sociais
inerentes a estes grupos. (Liesegang, 1998, pp. 79-146)

A perspectiva de Liesenberg, transcende de certa forma a abordagem trazida por Macamo


e Tereza Silva, pois introduz um outro aspecto no jogo das identidades sociais: a territorialidade.
Tem havido um certo número de estudos, inseridos em contexto das ciências sociais e humanas
que analisam a construção da identidade social confrontando dois grupos: “Nós” e os “Outros”.
Estas análises são estruturadas em torno de oposições binárias, isto é, em torno de dois grupos
polarizados. Aqui somos remetidos também a pensar a identidade social como um mecanismo
delimitação e defesa de espaços físicos em contextos de marcados por disputas sociais e étnicas.

Mabongo (2015) na sua tese de Mestrado em Relaçoes Interculturais em espaços


informais argumenta que, existe no mercado Estrela Vermelha uma convivência multicultural,
mas regista-se ainda défice nas relações interculturais. Os vendedores do Sul consideram-se
culturalmente superiores em relação aos seus colegas do norte do Save. Tal como outras pessoas
da região sul, estes vendedores tratam os seus colegas pelo termo xingondo, que além da simples
identificação, é usado para desqualificar os seus colegas do Norte. Assim, o silêncio em relação
ao etnocentrismo das pessoas do Sul, a timidez que ainda se verifica em relação ao uso oficial
das línguas moçambicanas, que são o meio de comunicação mais usado, bem como a incipiente
provisão dos direitos da cidadania, constituem os principais obstáculos à unidade nacional.

A pesquisa de Mabongo se reveste de particular importância para o nosso estudo, pois, a


sua análise reflecte sobre mecanismos de identificação e diferenciação usados por dois grupos
que se consideram socialmente e culturalmente diferentes: oriundos do norte e sul do Save. Na
sua abordagem evidencia o processo de estigmatização e etnocentrismo patente nas relações
entre estes dois grupos.

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