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i) Existência de subsolo
Nos casos em que o nível do terreno é inclinado (obras em encosta), é comum manter-se
a mesma profundidade de assentamento, no caso das camadas de solo terem uma
disposição de tendência paralela ao nível do terreno, o que ocorre com alguma
freqüência. Isto corresponde a cotas de assentamento diferentes1. A figura 4.1 abaixo
ilustra o comentário mencionado, onde Df representa a profundidade de assentamento.
1
Lembrar que cota se refere a uma mesma referência de nível, enquanto profundidade é considerada em
relação ao nível do terreno naquela vertical.
ii) Presença do nível d’água
Sempre que possível, deve-se procurar implantar as fundações acima do nível d’água.
Isso decorre não em função da impossibilidade de o nível d’água ser considerado nos
requisitos de projeto (como visto nos capítulos 2 e 3), mas de aspectos relativos à
execução. A presença do nível d’água demanda a necessidade de rebaixamento do
lençol freático (caso de materiais granulares) ou esgotamento da água que chega à
escavação (caso de materiais argilosos). Os sistemas de rebaixamento são geralmente
alugados de empresas especializadas.
Não se deve esquecer que, caso haja alguma camada de menor resistência e maior
compressibilidade abaixo da região abrangida pelos bulbos de tensões das sapatas
consideradas isoladamente, deve-se considerar a interação entre as sapatas sobre aquela
camada.
Cumpre salientar que nas antigas edições da norma brasileira a tabela 4.1 era referida
como tabela de pressões admissíveis. Nas últimas edições, entretanto, passou-se a
denominá-la como de pressões básicas, o que segue a tendência da norma de, cada vez
mais, deixar ao engenheiro projetista ou ao consultor a responsabilidade de fixar a
tensão admissível, com base em estudos mais aprofundados.
Tabela 4.1 – Pressões básicas, NBR 6122/1996.
Figura 4.2 – Gráfico para estimativa da tensão admissível inicial de sapatas em areias
com base no NSPT (adaptado de Terzaghi e Peck, 1948, 1967).
Uma proposta mais recente é devida a Teixeira (1998), em que a tensão de pré-
dimensionamento p é obtida como
p = 0,02 N (MPa)
Esta etapa deve ser feita simplesmente dividindo-se a carga de cada pilar pela tensão
admissível inicial.
B = b + 2x
L= l + 2x
A exceção fica por conta dos casos das sapatas de divisas, em que não é possível
garantir-se uma carga (proveniente do pilar) centrada na sapata. Nesse caso, lança-se
mão do artifício estrutural denominado viga de equilíbrio (ou viga alavanca), cuja
finalidade é eliminar aquela excentricidade. A seguir estão apresentados o esquema e a
análise de uma viga de equilíbrio.
P1 l = R1 ( l − e)
logo
l
R1 = P1
l−e
Assim, para o cálculo de R1 há necessidade da excentricidade e. Esta, por sua vez,
depende da largura da sapata, que é desconhecida. O problema é resolvido por
tentativas. Uma primeira tentativa pode ser feita considerando-se que R’1 = 1,2 P1. Com
base nessa tentativa, é possível obter-se a área da sapata dividindo-se R’1 pela tensão
admissível adotada para o projeto, padm.
A escolha das dimensões da sapata nesse caso não é feita com base no critério dos
balanços iguais, mas adotando-se uma relação entre comprimento L e largura B da
sapata da ordem de 2,5 a 3,0. Assim, de posse de tais valores, pode-se obter a
excentricidade através da expressão
B bo
e= −
2 2
Sendo bo a largura do pilar de P1 (ver figura 4.4).
R1
L=
p adm B
A viga de equilíbrio, em função dos esforços atuantes, pode ter uma redução de seção
na direção do pilar central não apenas em planta como também em altura (ver figura
4.4). Entretanto, a redução na altura dificulta a execução, pela necessidade de se
executar uma forma no fundo da viga. Assim, muitas vezes a altura da viga é mantida
constante, e a concretagem se faz sem forma no fundo da viga, com o lançamento de
concreto magro, da mesma forma que nas sapatas.
R1 = P1 + ∆P R2 = P2 - ∆P
bo
P2
P1
e viga alavanca
R1
σ σ R2
viga alavanca P2
bo
P1
L
ao x
B
b
divisa
Este assunto foi referido anteriormente, e uma previsão de recalques das sapatas da
estrutura deve ser efetuada. Embora a norma brasileira especifique apenas “recalques
compatíveis com a estrutura”, sugere-se que o recalque absoluto deva ser limitado a um
máximo de 3 cm. Embora possam ser efetuados projetos com recalques previstos
maiores que 3 cm, nestes casos o projeto estrutural deve levar em conta a presença de
tais recalques. No caso da hipótese de limitação dos recalques a 3 cm, a experiência do
autor diz que o projeto estrutural pode ser feito da maneira convencional, ou seja, sem a
consideração de recalques. Cabe ressaltar que este comentário é válido para obras
convencionais. Obras com características especias deve-se verificar se mesmo recalques
limitados a 3 cm podem ser capazes de gerar danos de quaisquer origens.
Quanto aos recalques distorcionais – aqueles associados aos danos estruturais, conforme
visto anteriormente –, devem ser limitados em projeto a 1/500.
Tal como visto anteriormente, deve ser calculado o fator de segurança e verificado se é
maior ou igual a 3.
Figura 4.5 – Discussão apresentada por Bjerrum (1963) associada a recalques
distorcionais admissíveis.