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2. As ciências ecológicas
"No confuso debate suscitado pela evolução dessas idéias nas últimas décadas, o termo
Desenvolvimento Sustentável, consagrado por ocasião da Rio-92, contribuiu para eclipsar uma
parte substancial da reflexão sobre meio ambiente e desenvolvimento, deflagrada pelas reuniões
preparatórias à Conferência de Estocolmo".
O conceito de ecodesenvolvimento surgiu durante os debates prévios à realização da
Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano, em 1972. Ignacy Sachs definiu-o
como "um instrumento heurístico que permite aos planejadores e aos decisores políticos
abordarem a problemática do desenvolvimento de uma perspectiva mais ampla, compatibilizando
uma dupla abertura à Ecologia Natural e à Ecologia Cultural. Neste sentido, o agente de
ecodesenvolvimento permanece sensível à diversidade de situações em jogo e, mais que isto, ao
espectro das várias soluções possíveis".
Enquanto a noção de Desenvolvimento Sustentável deslocava a componente ecológica do
ecodesenvolvimento para segundo plano, a Ecologia, em evolução, diversificava-se, integrando
disciplinas como a Geografia, a Biologia e a Sociologia, ressaltando a importância das dimensões
humana, sócio-política e cultural. Diferenciava-se, assim, em vários e novos campos de atividade,
como a agroecologia e a ecologia industrial, entre outras. Neste texto, estamos propondo que um
conceito contemporâneo de Desenvolvimento Sustentável deve ampliar-se, para valorizar um
novo campo, o das ciências ecológicas, que opera transversalmente aos campos de reflexão das
ciências exatas, naturais, sociais e humanas, permeando-os com uma nova perspectiva e ângulo
de visão. Noutras palavras, a sustentabilidade ecológica não pode e nem deve mais ser concebida
como resumindo-se tão somente à base física do processo de crescimento e ter como objetivo
apenas conservar o estoque de recursos naturais incorporados às atividades produtivas. Não pode
também ser reduzida à concepção biológica da Ecologia e precisa abrir-se às suas múltiplas
facetas, da cósmica à energética, da cultural à psicológica.
A defesa da sustentabilidade não pode mais limitar-se a surfar nas ondas de um
ambientalismo superficial, ainda que esse seja um passo e uma etapa, para muitos, necessária,
antes de aventurarem-se em mergulhos mais profundos no conhecimento e na experiência das
várias ecologias. É preciso penetrar nos domínios da ecologia profunda, da ecologia do ser - do
corpo, da mente, das emoções, integrando ao campo da sustentabilidade a Psicologia e outras
Ciências Humanas, assim como os processos cognitivos e emocionais. Ecologizar o
Desenvolvimento Sustentável implicará, nessa perspectiva, conhecer os vários campos do
conhecimento nos quais se ramificou a Ecologia clássica, a partir de sua origem na Biologia,
estendendo-se a uma multiplicidade de âmbitos de pensamento e ação. E um ponto de partida
para uma ação integradora e eficaz, é conhecer as várias ecologias, bem como as formas de
harmonizar seus conceitos com as práticas do Desenvolvimento Sustentável.
2.6.Ecologia política
A ecologia política estuda as relações de poder entre os diversos atores sociais e como
essas relações determinam as escolhas, as prioridades e as tomadas de decisão. Desenvolve
métodos preventivos ou corretivos de lidar com os conflitos de interesses, em torno da
apropriação dos recursos naturais pelos diversos grupos sociais. Esse campo da ecologia tem
importância crucial, já que, à medida que os recursos naturais se esgotam ou tornam-se mais
disputados - o uso múltiplo da água é um exemplo -, os conflitos de interesses tendem a crescer e
a se acirrar. Caso não sejam administrados proativamente ou preventivamente, tais conflitos
podem levar à eclosão da violência ou agravar injustiças sociais.
Considerando-se a história passada, pode-se imaginar que a humanidade não chegou
ainda ao último estágio da sua evolução política, com as democracias e os estados-nação. A
globalização econômica e a integração global pelas comunicações sugerem que as relações
políticas ainda tem uma longa evolução pela frente, até que a espécie humana consiga encontrar o
seu caminho e superar as crises e impasses que a sua ação provoca. A Ecologia política pode ser
vista como um componente cada vez mais estratégico nessa evolução política da humanidade.
Cada ator social e institucional, na arena do meio ambiente, tem papéis, atribuições,
competências e responsabilidades; tem interesses convergentes com outras pessoas, em certas
circunstâncias, e que se opõem e conflitam, em outros momentos. Cada um mantém com os
demais, relações qualitativamente diversas: do apoio e aliança mútuos até o confronto e a
oposição velada ou explícita. Podem compartilhar informações, estabelecer cooperação ou
deflagrar denúncias e cobranças, quando discordam dos comportamentos dos demais atores.
Dentre os atores politicamente relevantes, nesse cenário ambiental, destacam-se o Legislativo, o
Executivo, o Judiciário, o órgão ambiental, as comunidades afetadas, os empreendedores ou
proponentes de novas atividades, os empregados e trabalhadores nessas empresas, as empresas de
consultoria ambiental, as organizações não-governamentais (Ongs) e movimentos ambientalistas
da sociedade civil, a imprensa, a mídia, o Ministério Público, por meio de promotores de justiça e
que defendem interesses difusos.
Para ser sustentável, o desenvolvimento precisa dispor e se valer de mecanismos e
instâncias de mediação e resolução de conflitos políticos envolvidos na apropriação e uso dos
recursos naturais em escala local, regional e global. Precisa resolver conflitos sociais e políticos
de forma não violenta e harmonizar os diferentes valores e interesses. Precisa desenvolver os
recursos humanos e conservar os recursos naturais, proporcionar o desenvolvimento do uso do
tempo disponível e as necessidades de ocupá-lo com atividades criativas e que desenvolvam o ser
humano, ao mesmo tempo em que lhe dão o sustento físico. O Desenvolvimento Sustentável
precisa aprimorar a base legal e institucional, com organizações públicas e privadas flexíveis e
adaptativas.
Conceitos
Até meados dos anos 1950, concebia-se o sistema produtivo separado do meio ambiente,
portanto, os problemas ambientais situavam-se fora das fronteiras do sistema industrial. Sob esse
ponto de vista, os estudos se focalizavam na conseqüências da poluição na natureza e não nas
causas. Atualmente esta forma de encarar o problema é chamada de “tratamento de final de tubo”
(em inglês, end-of-pipe). A Ecologia Industrial adota uma outra abordagem mais real, insere os
sistemas industriais na biosfera: “o sistema industrial como um todo, depende dos recursos e
serviços provenientes da biosfera, dos quais não pode estar dissociado” [4].
Não há um consenso quanto a definição da Ecologia Industrial, porém há vários pontos
em comum entre as diversas definições encontradas na literatura:
A Ecologia Industrial é sistêmica, abrangente, possui uma visão integrada de todos os
componentes do sistema industrial e seus relacionamentos com a biosfera.
Enfatiza o substrato biofísico das atividades humanas, i.é, os complexos padrões do fluxo
de material dentro e fora do sistema industrial, em contraste com a abordagem atual que
considera a economia em termos de unidades monetárias abstratas.
Considera a formação de parques industrias (eco-redes) como um aspecto chave para
viabilizar o ecossistema industrial (Fig. 1).
Leva em conta os limites da capacidade de carga do planeta e da região.
Induz o projeto e a operação, a modelar-se como as atividades dos sistemas biológicos
(mimetismo), otimizando ciclo de materiais de forma a aproximar-se de um ciclo fechado,
utilizando fontes de energia renováveis e conservando materiais não renováveis.
Na Conferência das Nações Unidas ocorrida em 1992 na cidade do Rio de Janeiro (ECO
92), foi colocada a necessidade de se obter respostas práticas para o conceito de
Desenvolvimento Sustentável. A Ecologia Industrial pode ser uma ferramenta apropriada para
dar estas respostas. As propostas tradicionais quase sempre ressaltam a prevenção e redução de
resíduos em contraste com a Ecologia Industrial, onde pode até ser aceitável e benéfico o
aumento da produção de um tipo particular de resíduo, desde que este resíduo possa ser utilizado
como matéria prima em outro processo industrial (Fig. 1).
Comentários
A história do desenvolvimento da Ecologia Industrial contou com a participação de um
grande número de pensadores, alguns originários do meio acadêmico e outros da indústria. Este
artigo, não contempla todos os eventos e personagens envolvidos na evolução deste novo
conceito. Entretanto, a descrição de algumas das principais contribuições realizada neste artigo
oferece um quadro geral do desenvolvimento do conceito e um guia introdutório para um estudo
mais aprofundado da Ecologia Industrial.
A ecologia Industrial se encontra, hoje, em uma etapa de construção, mas já se percebe
seu grande potencial em face aos problemas ambientais. Engenheiros e administradores podem
encontrar neste conceito um vasto campo para ação e para estudo em uma área em que novas
solução são necessárias, se não, obrigatórias.
A Ecologia Industrial oferece um caminho para as empresas para a exploração de seus
recursos (incluindo seus resíduos) de uma forma que resgata a interdependência do homem e da
biosfera.
“O objetivo da Ecologia Industrial é formar uma rede de processos industriais mais
elegante e com menos desperdício” [16]. Uma sociedade industrial mais elegante, uma economia
mais inteligente é uma mudança que engenheiros deverão se engajar em conjunto com os
políticos, economistas e cidadãos.
Ano Publicações
Nicholas 1971 The Entropy Law and the Economic Process: processos
Georgescu- econômicos descritos pelo uso de energia e o II
Roegen Princípio da Termodinâmica
Referências
[1] T. E. Graedel e B. R. Allenby, “Industrial Ecology”, Prentice Hall, New Jersey, 1995
[2] B. R. Allenby, “Industrial Ecology: Policy Framework and Implementation”, Prentice Hall,
New Jersey, 1999
[3] S. E. Manahan, Industrial Ecology: Environmental Chemistry and Hazardous Waste”, Lewis
Publishers, Nova York, 1999.
[4] S. Erkman, J. Cleaner Production, 5 (1-2) (1997) 1.
[5] J. Forrester, “Principles of Systems”, 1968, Cambridge, Wright-Allen Press
[6] J. Forrester, “World Dynamics”, 1971; Cambridge, Wright-Allen Press
[7] D. Meadows e D. Meadows , “Limits to Growth”, New York: Signet, 1972.
[8] P. Cloud, Geologische Rundschau, ,66 (1977) 678.
[9] N. Georgescu-Roegen, a. Growth and Change, 10 (1979) 16.
[10] N. Georgescu-Roegen, Eastern Economic Journal, XII (1986) 3.
[11] N. Georgescu-Roegen, Materials and Society, 7 (1983) 425.
[12] G. Billen, F. Toussaint, P. Peeters, M. Sapir, A. Steenhout e J. P. Vanderborght.
“L’Ecosisteme Belgique, Essay d’Ecologie Industrielle”, Centre de Recherche et d’Information
Sócio-Politique – CRISP, Bruxelas, 1983.
[13] R. U. Ayres,
[14] R. Frosch e N. Gallopoulos, Scientific American 261 (1989) 144.
[15] B. Allenby e D. Richards, eds, “The Greening of Industrial Ecosystems”, The National
Academy of Engineering pub, 1994.
[16] J. H. Ausubel, “Directions for Environmental Technologies,” The Rockefeller University,
New York, Draft, 11 pages July 1993.