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Turma e Ano: Master B - 2015

Matéria /Aula: ECA 011


Professora: Angela Silveira
Monitora: Kathleen Feitosa

Aula 01

FONTES INTERNACIONAIS

A dignidade da pessoa humana passou a ser a base de todas as legislações posteriores


às guerras mundiais. Assim, a primeira fonte internacional é a Declaração dos Direitos da Criança
e do Adolescente (1924), seguida pela Declaração Universal dos Direitos da Criança e do
Adolescente (1959) e, por fim, a Convenção dos Direitos da Criança e do Adolescente (1979).

A Convenção foi ratificada pelo Brasil e através do Decreto 99.710/90, o país se


comprometeu a mudar toda a legislação em torno desse grupo social, elevando as crianças à
categoria de sujeitos de direito e não mais mero objeto de proteção, como era até então.

A adesão do Brasil aos tratados internacionais se concretizou com a Constituição


Federal de 1988, quando, no art. 227, o legislador adota a Teoria da Proteção Integral, afastando a
Doutrina da Situação Irregular que permeava o Direito àquela época.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao


jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

Os direitos previstos no art. 2272 são considerados fundamentais à pessoa em


desenvolvimento. Da mesma sorte, o art. 227/CF destaca quem são os garantidores desses direitos
em responsabilidade solidária: família, sociedade e Estado.

1Fontes internacionais, princípios norteadores, significado da Doutrina de Proteção Integral em contraponto


a Doutrina da Situação Irregular do antigo Código de Menores, análise das disposições preliminares em
comparação aos direitos fundamentais, estudo do direito à vida e à saúde, da liberdade, respeito e dignidade
em comparação ao direito positivo e realidade social.
Bibliografia sugerida: Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente – coordenação Dra. Kátia
Maciel, ed. Saraiva
2O art. 5º/CF constitui apenas rol exemplificativo dos direitos fundamentais, de modo que não se esgotam

ali a exemplo do art. 227/CF.

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DOUTRINA DE PROTEÇÃO INTEGRAL EM CONTRAPONTO A DOUTRINA DA SITUAÇÃO
IRREGULAR

A proposta da Doutrina da Proteção Integral é praticamente sistematizada pelo art. 3º


do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90):
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por
outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

A Doutrina da Situação Irregular era limitada, pois estabelecia a intervenção apenas


quando a criança e o adolescente estivesse em situação de risco social, enquanto a Doutrina da
Proteção Integral contempla a todos, independentemente da situação em que estejam. Entretanto, é
claro, as medidas protetivas deverão observar as situações de risco.

PRINCÍPIOS NORTEADORES

Princípio da Municipalização: a execução dos programas que venham a atender


crianças e jovens é de competência municipal, haja vista ser esse o ente mais próximo e
identificado com a juventude local e suas peculiaridades. Há, ainda, a previsão do Conselho de
Direitos, espaço no qual a sociedade em conjunto com o Poder Executivo Municipal deliberarão
políticas em prol da criança e do adolescente.

Princípio do Melhor Interesse da Criança e do Adolescente: está incluído na Doutrina


da Proteção Integral. A lei não pode servir de entrave para direitos, sendo certo que é fundamental
o sopesamento de valores nos casos concretos.

Princípio da Prioridade Absoluta: a garantia dos direitos da criança e do adolescente


deve ser sempre prioridade quando em conflito com direitos de algum adulto3.

ANÁLISE DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 2º, parágrafo único/ECA

3A garantia conferida aos idosos pelo Estatuto do Idoso é apenas conferida em sede infraconstitucional,
enquanto a garantia dada à criança e ao adolescente possui esteio constitucional. Logo,em um confronto de
direitos entre um idoso e um menor, terá prioridade o menor e, pelo mesmo raciocínio, no confronto entre
direitos de um adolescente e uma criança, será priorizada a criança.

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Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito
e vinte e um anos de idade.
Trata-se de previsão especial que confere proteção especial ao adolescente que tenha
cometido ato infrancional antes do 18 anos.

O art. 4º, parágrafo único, por sua vez, exemplificaa aplicação do Princípio da
Prioridade Absoluta:
A garantia da prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância
e à juventude.

O ECA possui uma regra específica de interpretação para que haja a devida garantia e
aplicação dos direitos fundamentais das crianças e adolescentes. O fim social do estatuto é a
formação de uma sociedade justa e solidária e, a partir disso, é que devem ser direcionadas todas
as ações.
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as
exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e
do adolescnete como pessoas em desenvolvimento.

ESTUDO DO DIREITO À VIDA E À SAÚDE

Enquanto o direito civil adota o nascimento com vida (nataidade) como marco inicial
da personalidade, o ECA, por sua vez, adota a teoria o Princípio da Concepção. Assim, a
criança é cuidada desde o desenvolvimento no ventre materno e tem garantido o direito de
nascer. O aborto apenas é permitido nas hipóteses autorizadas pela lei penal e, com o
advento da Lei 12.010/09, há permissão para que a mulher que não deseje criar seu filho
possa ser encaminhada ao Juízo da Vara da Infância e Juventude para a inclusão da criança
em cadastro de adoção para que, logo após o nascimento, seja adotado.
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a
efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e
harmonioso, em condições dignas de existência.

Seguem os artigos destacados pela professora:


Art. 8º É assegurado à gestante, através do Sistema ùnico de Saúde, o atendimento pré e
perinatal

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§4º Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe, no
período pré e pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências do estado
puerperal.

Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e


particulares, são obrigados a:
I – manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários individuais, pelo
prazo de dezoito anos;
II – Identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital e da
impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade asministrativa
competente;
III – proceder os exames visando ao diagnóstico e terapêutica de anormalidades no
metabolismo do recém-nascido, bem como prestar orientação aos pais;
IV – fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as intercorrências do
parto e do desenvolvimento do neonato;
V – manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à mãe.

Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão proporcionar condições para a


permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou
adolescente.

Ressalta-se que nesses casos de internação hospital, trata-se de direito garantido ao


recém-nascido, criança ou adolescente e não de um direito do adulto responsável. Dessa forma,
por exemplo, um menor que seja atingido em confronto com a polícia tem direito a ter algum
responsável por perto acompanhando-o durante sua internação hospitalar, a despeito de qualquer
ato infracional que possa ter cometido.

A saúde de que trata o ECA contempla a saúde física, emocional, moral e social. Não é
apenas a saúde correspondente à ausência de doença, mas sim tudo o que for necessário ao bem
estar da pessoa.

Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou


degradante e de maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao
Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais.
Parágrafo único. As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para
adoção serão obrigatoriamente encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude.
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e
odontológica para prevenção das enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil e
campanhas de educação sanitária para pais, educadores e alunos.

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DA LIBERDADE, RESPEITO E DIGNIDADE EM COMPARAÇÃO AO DIREITO POSITIVIO E A
REALIDADE SOCIAL

Destaca-se que o legislador deixou claro no texto legal que jamais uma criança poderá
usar o direito de liberdade contra ela mesma, como nos casos de uso de drogas, em que o prejuízo
à saúde sobrepõe sua liberdade de usar qualquer substância ou em hipótese em que o menor
decida parar de frequentar a escola.

Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como
pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais
garantidos na Constituição e nas leis.
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:
I – ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições
legais;
II – opinião e expressão;
III – crença e culto religioso;
IV – brincar, praticar esportes e divertir-se;
V – participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;
VI – participar da vida política, na forma da lei;
VII – buscar refúgio, auxílio e orientação.
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e
moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia,
dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
Art. 18. É dever de TODOS velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a
salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou contragedor.

Esse dispositvo coloca toda a sociedade na posição de garantidora de direitos das


crianças e adolescentes.Já a alteração no art. 18 ocorreu após a “lei da palmada” – Lei 13.010/14.

Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de
castigo físico ou tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou
qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos
agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer outra pessoa encarregada de
cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:
I – castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o nuso da força física
sobre a criança ou ao adolescente que resulte em:
a) sofrimento físico; ou
b) lesão
II – tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de tratamento em relação à
criança ou ao adolescente que:

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a) humilher; ou
b) ameace gravemente; ou
c) ridiculariza
Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os responsáveis, os agentes públicos
executores de medidas socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de crianças e de
adolescentes, tratá-los, educá-los ou protegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou
degradante como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos,
sem prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão aplicadas de acordo com a
gravidade do caso:
I – encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção á família;
II – encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
III – encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
IV – obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado;
V – advertência.
Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão aplicadas pelo Conselho Tutelar,
sem prejuízo de outras providências legais.

Contudo, deve-se fazer uma interpretação sistemática desse artigo. Isso porque é
permitido somente aos pais o uso da força necessária, ou seja, moderada, para imposição de
limitesaos filhos. O art. 136 do Código Penal4, inclusive, afirma que haverá punição em casos de
excesso, deixando subentendido que não é qualquer uso da força que caracteriza crime.

Destaca-se que as sanções previstas no art. 18-B, independentemente de qualquer


medida cível ou criminal, serão aplicadas pelo Conselho Tutelar sem que haja procedimento
judicial.

4Art.136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de
educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis,
quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando dos meios de correção ou
disciplina.

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