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A evolução do Direito Privado passa pelo entendimento de que o Direito é fruto do pensamento filosófico,

do questionamento das bases instituídas, do debate público na busca da coerência entre a ação e o
pensamento com a finalidade de dirimir conflitos, acompanhando as transformações históricas em um
processo contínuo de constante aprimoramento, de modo que o Direito do passado não corresponde ao do
presente e, certamente, não o será no futuro, mas todos mantêm uma linha de correspondência entre os
tempos. Assim, se considera que o período de doze séculos em que perdurou o Império Romano, foi o
momento histórico de maior relevância na evolução jurídica, pois forneceu as bases do Direito Ocidental. Os
romanos separaram o Direito Romano em dois ramos: Direito Público - Jus publicum que regulava as
relações entre governos e entre o governo e os cidadãos e Direito Privado - Jus privatum que regulava as
relações entre particulares (propriedade, contrato, família, sucessões), sendo esse último subdividido em
Juscivile, Jus gentium e Jus naturale. A separação entre público e privado constitui um dos pilares da
ciência do Direito e, ainda que o Direito Público e Privado Romanos não sejam correspondentes diretos do
nosso Direito Público e Privado atuais, a segmentação foi de extrema valia para a compreensão dos
princípios e valores intrínsecos de cada ramo. O Império Romano dotado de grandes extensões e de
pluralidade de povos enfrentou o desafio de manter a ordem e, partindo do primitivismo tribal onde
predominavam como fontes formais as regras religiosas e os costumes (dogmas consuetudinários) atingiu
como fonte primordial a lei escrita ordenada em um conjunto de regras jurídicas das quais duas são as que
mais se destacaram: a Lei das Doze Tábuas e o Corpus Iuris Civilis.A Lei das Doze Tábuas elaborada no
Período Arcaico de Roma representou tremendo avanço político, pois foi uma conquista da plebe para
impedir o abuso dos patrícios. Já o Corpus Iuris Civilis de Justiniano é uma compilação de todo o Direito
Romano abrangendo o Código Gregoriano, Hermogeniano e Teodosiano, além das constituições pós-
teodosianas sendo composto por quatro coleções: Digesto, Instituições, Codex e Novelas distribuídas em
doze livros, onde o primeiro aborda o direito eclesiástico e político, do segundo ao oitavo, o direito privado,
o nono, o direito penal e processual e do décimo ao décimo - segundo tratam de temas da administração
romana. No Corpus Iuris Civilis, os princípios fundamentais do Direito Privado que são a autonomia da
vontade (cada uma das partes zela por seus próprios interesses) e o princípio da igualdade (os sujeitos de
direito encontram-se em pé de igualdade) estão proclamados na divisão do Direito Privado em civil, das
pessoas e da natureza. Após a queda do Império Romano, o renascimento do Direito Privado veio a
acontecer com a instituição do estudo do Direito Romano nas universidades, principalmente da Itália, França
e Alemanha, onde o Corpus Iuris Civilis influenciou a formação da cultura jurídica européia. Já no século
XIX, a ascensão da burguesia, as ideias iluministas, o liberalismo econômico e,principalmente, os ideais da
Revolução Francesa traduziram-se no movimento de codificação que teve no Código Civil Francês
(Napoleônico) e no Código Alemão como modelos de inspiração para outros códigos, como o brasileiro.
Contemplavam a mais ampla e irrestrita liberdade para contratar, a igualdade através da isonomia formal e a
boa-fé nos atos de comércio. Assim, do período do Brasil Colônia até a independência em 1822, nosso país
viveu sob as Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas de herança portuguesa. Com a Constituição de
1824 ficou deliberada a elaboração de um Código Civil próprio que só se materializou em 1917 através do
professor Clóvis Bevilácqua com base nos códigos francês e alemão que por sua vez sofreram a influência
do sistema romano-germânico. Em 1975, uma comissão de juristas liderada por Miguel Reale ficou
incumbida de reformular o antigo código, sem sucesso. Como os fatos e a vida social da sociedade
contemporânea estavam em descompasso com a Lei Civil que regulava a vida privada em sociedade, um
novo código civil baseado no anteprojeto de 1975 entrou em vigor em 2002 sendo utilizado atualmente. Em
linhas gerais o código tem por características: a estrutura do Código de 1916, mas atualizado nos seus
institutos e redistribuído nos moldes da nova sistemática civil; mantém o Código Civil como lei básica do
direito privado e reconhece a autonomia do direito comercial frente ao civil; aproveita os estudos e críticas
dos anteprojetos anteriores; inclui a revisão das matérias especiais criadas após o Código de 1916 de acordo
com as contribuições da jurisprudência; e promove a exclusão de matérias processuais. Os novos ideais da
sociedade moderna calcados no respeito à dignidade da pessoa humana, valor supremo extraído da
Declaração dos Direitos Humanos, estão presentes na reformulação do Direito Privado que hoje se encontra
atrelado aos princípios constitucionais em situação de subordinação superando a ótica individualista e
patrimonialista adotada anteriormente na nossa legislação. Assim, o contrato, a propriedade, a família, a
função social, a boa-fé, todos passam pelo crivo constitucional no neologismo do Direito Privado
Constitucional revitalizando a premissa de que: O Direito é a arte do bom e do justo.

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