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INAYATULLAH, Sohail. 1999.

Situating Sarkar: tantra, macrohistory, and alternative


futures. Gurukul Publications: Australia.

Autor acredita que Sarkar traz novas respostas a perguntas antigas, e uma perspectiva não
ocidental para um mundo dominado pelo pensamento intelectual ocidental. Ele ocupa um
espaço periférico e nele cria um novo discurso, um novo modo de constituir o real (pag 2).
Suas palestras tinham tanto brilho intelectual quanto eram pessoais. Elas eram recursos que
podem ser usados para a transformação pessoal. Sarkar não nos deu textos para discutirmos
seu significado para sempre, mas sim criou um novo discurso, uma nova perspectiva
civilizacional, da qual criar novas possibilidades.

Sarkar’s theory of social change: structure and transcendence

Para Sarkar os movimentos seguem um caminho dialético, tese, antítese e síntese. Um


movimento nasce, é suprimido e oprimido (se realmente muda a distribuição de poder) e se
sobrevive esses desafios, é vitorioso. A força do movimento pode ser medida por sua
habilidade de suportar esses desafios. (pag 6).
O universo de sarkar é um de grande batalha entre vidya e avidya: introversão e extroversão,
contração e expansão, compaixão e paixão. Essa dualidade é uma parte eterna da metafísica
do universo físico e social. Diferente do modelo ocidental no qual a história pode terminar
com um perfeito mercado ou estado sem conflito comunista, para os indianos, para sarkar, a
história social sempre irá continuar. Apenas para o indivíduo, através da iluminação
espiritual, pode o tempo cessar e a mente ser transcendida.
A intenção de sarkar é criar uma revolução socialista espiritual global, uma renascença no
pensamento, linguagem, musica, arte, e cultura. Seu objetivo é infundir os indivíduos com a
presença espiritual, o primeiro passo necessário em mudar o modo que nós conhecemos e
ordenamos o mundo. Sarkar tem uma visão mais compreensiva da transformação, da qual
seu ciclo social provê uma estrutura chave.
Novas abordagens para compreender a realidade social, sua teoria do neohumanismo
pretende realocar o self, o retirando do ego (e sua busca pela maximização individual), da
família (o retirando do orgulho pela genealogia), dos geo-sentimentos (apegos com a terra e
nação), dos socio-sentimentos (apegos a classe, raça e comunidade), do humanismo (como
espécie central) para o neohumanismo (amor e devoção por tudo). Construção do self em
uma ecologia de reverência pela vida, e não uma política moderna e secular do cinismo. A
devoção espiritual para o universo é o ultimo grande tesouro que os humanos possuem. Para
isso ele pretende liberar o intelecto de seus limites e o colocar em um discurso alternativo.
Sarkar então tenta deixar acessível um novo modo de conhecimento do mundo, que inclui
passos para além dos pontos de conhecimento tradicional: razão, intuição, autoridade e auto
inferência.
Para Sarkar existem quatro modos históricos pelos quais os seres humanos lidaram com o
ambiente social e físico: ou sendo dominado por eles, ou os dominando através do corpo, ou
o dominando através da mente, ou o dominando através do ambiente ele mesmo. Enquanto
o paralelo com as castas está presente, Sarkar as redefine as localizando como categorias
sociais mais amplas que historicamente evoluíram através da interação com o meio ambiente.
Além disso, a varna para o individuo é fluida, pode-se mudar de varna através da educação
por exemplo. Sarkar acredita que, embora o ciclo social tenha que sempre se mover através
dessas quatro classes, é possível acelerar esses estágios da história e remover os períodos de
exploração através da presença dos sadvipras, o líder servo compassivo, no centro do ciclo,
no centro da sociedade (e não necessariamente do governo). No começo de sua vida, os
esforços de Sarkar foram os de criar esse tipo de liderança, ao invés de construir uma ampla
organização burocrática.
A chave para a teoria de Sarkar da historia é que há quatro estruturas e quatro épocas na
história. Cada época exibe uma certa mentalidade, uma varna. Essa varna é similar ao
conceito de episteme, de paradigma, de tipo ideal, de classe, de estagio, de era, e outras
palavras que foram usadas para descrever teorias de estágio. Sarkar usa varna e psicologia
coletiva para descrever seus conceitos básicos. Psicologia coletiva reflete desejo de grupo.
Há quatro sistemas de desejo básicos, as quatro varnas são historicamente desenvolvidas.
Seguindo a episteme clássica indiana, a realidade possui muitos níveis. A maioria das
ideologias apenas acentuou o espiritual (vedanta) ou o material (liberalismo), ou o individual
(capitalismo), ou o coletivo (comunismo), ou a comunidade (gandhismo), ou a raça
(hitlerismo), ou a nação (fascismo). (pag 9). Alocar Sarkar em uma construção alternativa do
real é central para entender sua teoria social. Todo macro historiador e pensador que cria um
novo discurso evoca o universal e o transcendental, mas seus grandes esforços também vem
da lama do mundano. Eles nascem e morrem em lugares particulares. Sarkar escreve da índia,
escreve da pobreza que é Calcutá. A centralidade do ciclo pode então ser parcialmente
compreendida por sua localização física. O ciclo promete um futuro melhor a frente. O ciclo
vem diretamente da episteme clássica indiana, nessa ordenação do conhecimento, o real
possui muitos níveis, e é assim pluralista. O mundo mental interior é isomórfico com o mundo
material exterior, há muitos modos de conhecimento do real, e o tempo é grandioso.
Pensadores hindus desenvolveram uma teoria cíclica do tempo, no modelo clássico descrito
pelo bhagavad gita o universo é criado, degenera, e é recriado. O padrão é eterno. Esse padrão
tem fases claras e o escape do ciclo classicamente é através de uma transformação alquímica
e ontológica do self. O self realiza sua verdadeira natureza e assim atinge o atemporal, o
arquétipo do yogui. Concretamente, na realidade social, isso significa a transformação de
uma pessoa endurecida pelo medo para uma pessoa sem medo. Para esse arquétipo, Sarkar
adicionou um nível coletivo, afirmando que a liberação individual deve ser atingida em
paralelo e no contexto da liberação social. Sarkar fornece um conceito redentor que prove
um modo de sair do ciclo histórico, esse é taraka brahma. O primeiro foi shiva, que
transformou o caos da vida primitiva na ordenação da humanidade. Depois krshna, que
restaurou a noção de comunidade nacional. E depois, sarkar, outro redentor que transformou
as nações estado fragmentadas em uma comunidade planetária. Para sarkar há tipos diferentes
de tempo, o tempo cósmico, geração e degeneração do dharma, o tempo individual da
liberação do tempo através do tempo infinito. E há o nível social de tempo no qual a
exploração é reduzida através da transformação social. Balanço entre individual social e
espiritual. Isso difere de outras visões indianas da historia. Na visão idealista, historia é um
jogo da consciência. Individuo não tem agencia e sofrimento é uma ilusão. Na visão dinástica
da historia, historia não eh mais do que a ascensão e queda de reinados, apenas os grandes
tem agencia. Sarkar tb rejeita a visão linear de historia que a ve dividida entre antiga (hindu),
medieval (islâmica), e moderna (britânica nacionalista). A visão de sarkar é próxima da de
Jawaharlal Nehru, que pensa que a historia é sobre como a humanidade supera desafios e luta
contra os elementos e a desigualdade. As visões de sarkar são similares também ao projeto
subalterno, cujo objetivo é escrever a historia do ponto de vista das classes dominadas e não
da elite colonial. Mas diferente do projeto subalterno, que evita metanarrativas, a teoria de
sarkar do ciclo social prove uma nova grande teoria. (pag 11).
A historia marxista é única pois ela é escrita por vipras para shudras mas usada por ksatryas
para ganhar poder sobre os vaeshyas. (pag 12)
Checar bibliografia desse 1 capitulo.

Locating Sarkar: economy, epistemology, and social theory

Quatro modos de conhecer o real, inferência sentida (ciência), razão e lógica (filosofia),
autoridade (religião), e intuição (mística). Sarkar usa as quatro perspectivas epistemológicas,
e adiciona uma quinta, a devoção/amor, a qual não é meramente uma emoção, mas um modo
de constituir o real. O amor não pode descrever o que é real, na medida em que a linguagem
é opaca, participando daquilo ao qual se refere, mas ele cria uma realidade alternativa
inacessível por outros meios convencionais de conhecimento. Além disso, sarkar redefine o
que é ciência, a expandido para além de seus limites ao incluir as teorias espirituais do real.
Essas, enquanto não discerníveis para o cientista materialista, são realizáveis pelo cientista
espiritualmente orientado. Seguindo o pensamento clássico indiano, sarkar aborda o
problema da diversidade filosófica argumentado que a verdade (aqui removida da
epistemologia, como conhecemos o que conhecemos, para a ontologia, a natureza do ser),
possui muitos níveis. (pag 21)
O pensamento indiano sempre argumentou, uni direccionalmente, que apenas deus é real,
negando as dimensões materiais. Essa visa de mundo negou a realidade social, e logo, a
exploração, colocando a transformação nas mãos do individuo, esquecendo como classe,
gênero, e historia estruturam o mundo. O poder é invisibilizado nessa visão do real. A visão
ocidental pensa a verdade como exclusiva e singular, é expansionista, linear e logica, com
fortes divisões entre centro e periferia, humano natureza, ocidente oriente.. (pag 21)
Para sarkar a realidade, em nível filosófico, possui muitos níveis, o universo é real mas em
constante mudança, com muitas camadas, do material ao espiritual. Nós vemos o mundo que
nós somos capazes de ver. No nível social, isso consiste em quatro psicologias, ou modos de
constituir o real, trabalhador, guerreiro, intelectual e mercador. A visão do trabalhador é
materialista, a do guerreiro um materialismo no sentido de conquista-lo, a do intelectual é
ideativa, e a do mercador é materialista. Essas visões se revezam em seus problemas, até que
uma liderança ética possa criar condições de as abordagens materialistas e idealistas
coexistirem.
Teoria social. Onde sarkar se enquadra no mundo de macroteorias da mudança? Sarkar tem
uma teoria múltipla do templo (linear, cíclico e transcendental), que inclui superagência (o
papel do divino, ao menos nos sentidos simbólicos), o papel da estrutura (psicologia
coletiva), e o papel do individuo (agencia humana).

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