Você está na página 1de 9

MG: Suspeita de fraudes no SUS (01/04/2008 14:50:00) Ministério Público

identificou problemas no tratamento dos pacientes, como alteração na dosagem dos


medicamentos e falta de assistência
A suspeita de irregularidades nos serviços de oncologia que atendem o Sistema Único
de Saúde (SUS) de Belo Horizonte deve ser investigada pela Secretaria Municipal de
Saúde. A auditoria foi instalada ontem, e atende solicitação da Promotoria de Justiça de
Defesa da Saúde do Ministério Público Estadual (MPE), que identificou problemas no
atendimento às pessoas com câncer.
De acordo com a promotora de Saúde, Josely Ramos, todos os serviços já foram
visitados pelo MPE e ficou constatado que pacientes não têm acesso ao tratamento
conforme determina o Ministério da Saúde. “Percebemos que as pessoas não recebem as
doses corretas em seus tratamentos por desconhecer a maneira como devem ser tratadas.
As pessoas estão submedicalizadas, ao passo que os serviços são muito bem
remunerados pela assistência que prestam. Medicamentos e exames não padronizados e
de procedência duvidosa também estão sendo administrados”, afirma Josely.

APURAÇÕES
A Secretaria Municipal de Saúde informou que vai se pronunciar a respeito da auditoria
quando os hospitais forem notificados a participar das apurações. Destaca ainda que a
fila especial para cirurgia de câncer já é feita pela SMSA. O Hospital das
Clínicas/UFMG só vai se pronunciar depois de ser comunicado oficialmente. A direção
da Santa Casa foi procurada, mas não retornou a ligação até o fechamento da edição.

FATURAMENTO INVEJÁVEL
O Ministério da Saúde define que os hospitais que atendem o SUS devem arcar com o
fornecimento da medicação para seus pacientes. Segundo a promotora há setores na área
da oncologia que apresentam lucros de até 125%, mesmo se o hospital cumprir todas as
exigências. “No caso de fraude, o faturamento das unidades pode ser exorbitante, e por
isso, é preciso investigar como a verba da saúde tem sido investida.”
Para que os pacientes tenham direito de ser operados rapidamente, já que a cirurgia
oncológica deve ser feita com urgência, a promotora solicitou à Central de Leitos da
SMSA que organizasse a fila das operações oncológicas de forma especial. “Existe
demora nas cirurgias de câncer e, por isso, os pacientes não podem estar inscritos na
mesma lista daqueles que aguardam outro tipo de operação”, informa Josely. Outro
problema se refere à estruturação dos serviços, pois a portaria do Ministério da Saúde
que regulamenta a assistência define que o paciente com câncer deve ser atendido de
forma integral. Muitos são operados para retirada de tumores e precisam de fisioterapia
para retomar os movimentos perdidos devido à intervenção cirúrgica. Mas nem todos
conseguem esse tipo de amparo pelo SUS.

Três pessoas foram detidas em flagrante e a Polícia está à procura de outras duas.
Prisões ocorrem em um hospital

A Polícia Civil prendeu em flagrante, ontem à tarde, três pessoas acusadas de


envolvimento em fraudes contra o Sistema Único de Saúde (SUS). Outras duas estavam
sendo procuradas. Mandados de busca e apreensão, emitidos pelo juiz da 5ª Vara
Criminal da Capital, foram cumpridos com o confisco de documentos e computadores.
O dono do Hospital de Medicina Infantil de Parangaba, Jorge Cabral Rebouças, e dois
funcionários foram detidos e saíram algemados, sendo levados para a DDF sob a
acusação de praticarem crime de estelionato e formação de quadrilha.

A Polícia investiga a falsificação de dados em guias de internação para fim de cobrança


de procedimentos médicos não realizados. Pacientes ‘fantasmas’ foram criados para o
preenchimento das guias a serem encaminhadas à Central do SUS. O sistema acabava
pagando ao hospital por internações e tratamentos que não foram realizados.

Filmagens

A operação batizada de ‘Paciente Fantasma’ foi desencadeada, há cerca de quatro


meses, pela Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF), com o apoio do
Departamento de Polícia Especializada (DPE), Departamento de Inteligência Policial
(DIP) e policiais do próprio gabinete do superintendente da Polícia Civil, delegado Luiz
Carlos Dantas.

O delegado Andrade Júnior, titular da DDF, esteve à frente das diligências sigilosas que
incluíram até filmagens dentro do hospital onde, supostamente, estariam internadas
crianças com doenças diversas.

As filmagens mostraram que as enfermarias indicadas nas guias de procedimentos


sequer existiam. O material serviu de prova para que a Justiça expedisse os mandados
de busca.

O valor da fraude não foi divulgado pela Polícia. Mas, segundo fontes da instituição, as
cifras são altas, pois há mais de um ano as guias eram preenchidas de forma fraudulenta
com o único objetivo de obter o pagamento dos procedimentos médicos não realizados.

“Estamos ainda a procura de outras pessoas que poderão ser presas nas próximas
horas”, disse o delegado Jairo Pequeno, diretor do Departamento de Polícia
Especializada (DPE), em contato com o Diário do Nordeste, no começo da noite
passada, por telefone.

Os flagrantes contra as três pessoas detidas foram iniciados no fim da tarde. Nas buscas,
os inspetores vasculharam o setor contábil do hospital e um prédio anexo que está sendo
construído ali. A equipe policial deixou o local por volta das 17 horas, sem falar à
Imprensa.

Jorge Cabral Rebouças saiu do hospital algemado e com um paletó cobrindo o rosto.
Também não quis dar declarações aos jornalistas. Cerca de meia hora antes, uma
funcionária identificada como Franciane de Menezes Rodrigues, 26 anos, que
trabalhava no hospital como recepcionista, também deixou o local sob escolta dos
policiais e foi encaminhada à sede da Superintendência da Polícia Civil.

O material apreendido pela Polícia já está sendo examinado na DDF e será


encaminhado, ainda hoje, ao Instituto de Criminalística (IC) onde será periciado por
especialistas em grafotécnica.
Cauteloso, o titular da DDF explicou que todos os detalhes da operação deverão ser
divulgados, logo mais, durante uma entrevista coletiva que será concedida pelo
superintendente da Polícia Civil.

Secretário

“O resultado de quatro meses de investigações será detalhado”, informou Andrade


Júnior. Já o secretário de Saúde do Município, Odorico Monteiro, assegurou, ontem à
noite, por meio de sua Assessoria de Imprensa, que também falará hoje sobre o caso.

DEPOIMENTO

Recepcionista detida conta que no começo não sabia do golpe

Entre as três pessoas detidas pela Polícia Civil no Hospital de Medicina Infantil de
Parangaba, está a recepcionista identificada como Franciane de Menezes Rodrigues, 26.
Na saída para a DDF, ela falou rapidamente com os jornalistas e admitiu que participou
da fraude. Disse aos repórteres que há mais de um ano trabalhava ali. No início, não
sabia de nada. Depois, passou a preencher as fichas e as encaminhava para outra
funcionária, que ela identifica como Meire.

“Fazia isto por necessidade. Mas, não ganhei nada. Não tenho nem uma casa própria”
disse Franciane, alegando que recebia apenas o salário mínimo e que sequer tinha
carteira assinada pelo hospital.

Outros nomes

A Polícia prometeu divulgar os nomes de outros envolvidos na fraude. As investigações


poderão se estender para outros hospitais. O caso está sendo acompanhado pelas
autoridades da Saúde e pelo Ministério Público.

Brasil

SAÚDE

Dados do Departamento Nacional de Auditores do SUS revelam que, em 47% dos


municípios fiscalizados, há cobrança irregular de procedimentos por parte dos
hospitais

Erika Klingl
Da Equipe do Correio

Boa parte do dinheiro que deveria ser investido na saúde está indo para o ralo ou para o
bolso de terceiros. Pelo menos é essa a impressão passada pelos relatórios do
Departamento Nacional de Auditores do Sistema Único de Saúde (Denasus). Os dados
levantados pelo órgão, ligado ao Ministério da Saúde, mostram que muitas das
reclamações não têm tanta razão de ser. Os donos de hospitais particulares e
filantrópicos se queixam da falta de reajuste da tabela do SUS. Os gestores de hospitais
públicos criticam os repasses insuficientes para garantir o atendimento de toda
população.

Em 47% dos mais de 500 municípios fiscalizados pelo Denasus, existe uma cobrança
irregular junto ao SUS. Isso acontece quando um hospital oferece atendimento ao
paciente, mas informa ao Ministério da Saúde ter feito procedimento mais complexo e
caro. Além disso, cerca de 36% das cidades fiscalizadas não elaboram o Plano
Municipal de Saúde ou relatório de gestão, com planejamento dos investimentos e
comprovação de gastos. Em 72% das cidades visitadas, não existe controle sobre o
número de remédios comprados e distribuídos pelos gestores dos hospitais. Em 28% dos
municípios, os fiscais encontraram medicamentos com prazo de validade vencido entre
os que seriam distribuídos.

'Não é raro encontrar hospitais filantrópicos e privados que cobram duas vezes, uma do
SUS e outra do paciente', denuncia o diretor do Denasus, Paulo Sérgio Nunes. 'E, com
profissionalismo, eles não aceitam cheque e nem dão nota fiscal.' Essa irregularidade foi
encontrada em 11% das cidades fiscalizadas.

Maioria
O número de irregularidades é assustador. Segundo levantamento feito pelo Correio,
mais de 75% dos 60 municípios fiscalizados no 13º sorteio da Controladoria Geral da
União (CGU) usaram indevidamente o dinheiro público reservado para a saúde. É
verdade que nem todos agiram de má-fé. Algumas irregularidades são fruto da
incapacidade de gestão do secretário de Saúde ou do prefeito, como em Alagoa Nova,
cidade com 18 mil habitantes na Paraíba. Lá não existe uma programação das
necessidades de investimentos em saúde segundo o perfil da população e do histórico do
município. A falta de planejamento nessa área faz com que os gestores estejam sempre
desprevenidos.

Em outros casos, fica a dúvida da boa-fé dos gestores. A construção de um hospital em


Serra Dourada (BA), orçado em R$ 185 mil, está repleta de irregularidades. Três
empresas participaram de licitação para construção, sendo que os dados apresentados
pelos empresários à prefeitura não batiam com os arquivados na Junta Comercial. Na
visita dos fiscais à obra, não foi encontrado nenhum trabalhador da construtora. No
lugar deles, estavam funcionários da própria Secretaria de Saúde. Mais grave que isso.
Os cheques entregues à empresa foram depositados em contas pessoais de funcionários
da prefeitura.

Em Divinópolis (MG), quase R$ 2 milhões repassados pelo governo federal para o


Programa de Atenção Básica (PAB) na cidade foram parar na conta da prefeitura sem
que ninguém soubesse o motivo.

Outros R$ 675 mil do Programa de Vigilância em Saúde também foram parar, sem
explicação, na conta da prefeitura. Nos dois casos, as despesas não foram comprovadas.

Paralisação
No 13º sorteio, o mais recentemente divulgado pela CGU, 60 municípios foram
fiscalizados. Foi o quinto que contou a participação de auditores do Denasus
acompanhando os fiscais da Controladoria. 'Isso foi importante porque existem pontos
que só podem ser vistoriados pelos auditores do SUS, como é o caso dos prontuários
médicos', explica o diretor do Denasus.

O acompanhamento de perto foi o principal responsável pelo aumento das ações do


departamento. Desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, houve um aumento
de quase 2.000% das auditorias encerradas. 'O mais incrível é que não houve aumento
de pessoal, apenas de verba para outros gastos como passagens e hospedagem', explica
o secretário de Atenção à Saúde, Jorge Solla.

Só no ano passado, o Denasus verificou a conformidade da aplicação de


aproximadamente R$ 6 bilhões repassados a estados e municípios, o que corresponde a
20% de todo orçamento do SUS. O resultado dessas auditorias pede o ressarcimento de
quase R$ 8 milhões aos cofres públicos.
Mas essa eficiência corre sérios riscos. A greve dos auditores do Denasus está atrasando
o andamento das investigações sobre desvio de recursos e mau atendimento aos
pacientes. Desde o dia 25 de abril, 516 funcionários responsáveis por acompanhar a
aplicação do orçamento de R$ 32 bilhões paralisaram as atividades. 'Se com fiscalização
você tem fraudes, sem fiscalização tudo piora', reconhece Paulo Sérgio Nunes.

Os funcionários responsáveis pelas fiscalizações reivindicam uma gratificação


equivalente ao salário que os auditores receberiam caso o cargo fosse criado. A proposta
do plano de carreira está engavetada desde o ano passado, no Ministério do
Planejamento, em forma de medida provisória que prevê a gratificação para esse
funcionários e concurso para 600 novos auditores.

O NÚMERO
A rede hospitalar do SUS
2.217 públicos 3.497 particulares e
filantrópicos 150 universitários

Sob suspeita

O Departamento Nacional de Auditorias do Sistema Único de Saúde (Denasus)


encontrou graves problemas nos 60 municípios fiscalizados, dentre os quais:
72% não controlam controlam o estoque de remédios
Em Assai (PR) sabe ao certo quantos remédios existem na cidade. A quantidade de
medicamentos registrados não batem com o que está armazenado. Os fiscais perceberam
uma total ausência de controle de entradas e saídas de medicamentos.
28% guardam medicamentos com prazo de validade vencido
Em Jaguapitã, os remédios para tuberculose e hanseníase, assim como de combate a
hipertensão estavam vencidos há pelo menos seis meses no dia da visita dos fiscais ao
almoxarifado da
secretaria de Saúde.

Fonte: Levantamento feito pelo Denasus a partir de denúncias e do sorteio da


Controladoria Geral da União (CGU)
Uma dívida crescente

Os hospitais beneficentes acumulam hoje dívidas superiores a R$ 1,5 bilhão com


fornecedores e bancos, segundo a Confederação das Santas Casas, Hospitais e Entidades
Filantrópicas (CMB). Atualmente existem no Brasil 1.980 entidades beneficentes
mantenedoras que administram 2.100 entidades filantrópicas hospitalares, sendo a
maioria Santas Casas.

A CMB tenta, emergencialmente, um reajuste médio de 40% na tabela de


procedimentos pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e uma renegociação das taxas
de juros de financiamentos obtidos no BNDES e de débitos previdenciários. No
próximo dia 24, haverá uma reunião de negociação sobre essas reivindicações. A queixa
é a mesma dos gestores de hospitais privados. Levantamento da Associação de
Hospitais de Minas Gerais (Ahmg) mostra que os 20 principais procedimentos de saúde
feitos no país estão com, no mínimo, 100% de defasagem.

Para se ter uma idéia, o tratamento de um acidente vascular cerebral (AVC) custa aos
cofres públicos R$ 315. De acordo com o levantamento da associação, um hospital não
consegue realizar o procedimento por menos de R$ 1.037. A diferença passa dos 200%
de um para o outro. A variação é ainda maior quando o paciente precisa extrair a
vesícula. O SUS paga R$ 288 e os hospitais estimam o gasto de R$ 1.489. A variação,
nesse caso, ultrapassa 400%.

'Hospitais têm enorme nível de endividamento no Brasil', afirma o presidente da Ahmg,


Carlos Eduardo Ferreira. Um trabalho feito nas unidades de saúde de Minas Gerais
mostra que seria necessário um ano inteiro de entrada de dinheiro, sem nenhum gasto,
para que os hospitais saíssem do vermelho.

De acordo com o Secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Jorge Solla,


desde o início do governo Lula, dois reajustes nos repasses do SUS foram feitos. Não
exatamente como queriam os donos de hospitais e mantenedoras, um reajuste linear,
mas alguns procedimentos tiveram repasse aumentado. O aporte emergencial do ano
passado foi de R$ 130 milhões para os procedimentos de média complexidade.

Uma das saídas possíveis é a revisão de contratos com o Ministério da Saúde. Mas a
CMB não descarta ingressar com ações judiciais caso as negociações com o ministério
não avancem. O governo federal também estuda um plano de fusões dos hospitais
pequenos para melhorar o gerenciamento de recursos. Uma portaria já em vigor proíbe a
abertura de novas instituições caso elas não tenham, no mínimo, 30 leitos. (EK)

Brasil

SAÚDE
Dados do Departamento Nacional de Auditores do SUS revelam que, em 47% dos
municípios fiscalizados, há cobrança irregular de procedimentos por parte dos
hospitais

Erika Klingl
Da Equipe do Correio

Boa parte do dinheiro que deveria ser investido na saúde está indo para o ralo ou para o
bolso de terceiros. Pelo menos é essa a impressão passada pelos relatórios do
Departamento Nacional de Auditores do Sistema Único de Saúde (Denasus). Os dados
levantados pelo órgão, ligado ao Ministério da Saúde, mostram que muitas das
reclamações não têm tanta razão de ser. Os donos de hospitais particulares e
filantrópicos se queixam da falta de reajuste da tabela do SUS. Os gestores de hospitais
públicos criticam os repasses insuficientes para garantir o atendimento de toda
população.

Em 47% dos mais de 500 municípios fiscalizados pelo Denasus, existe uma cobrança
irregular junto ao SUS. Isso acontece quando um hospital oferece atendimento ao
paciente, mas informa ao Ministério da Saúde ter feito procedimento mais complexo e
caro. Além disso, cerca de 36% das cidades fiscalizadas não elaboram o Plano
Municipal de Saúde ou relatório de gestão, com planejamento dos investimentos e
comprovação de gastos. Em 72% das cidades visitadas, não existe controle sobre o
número de remédios comprados e distribuídos pelos gestores dos hospitais. Em 28% dos
municípios, os fiscais encontraram medicamentos com prazo de validade vencido entre
os que seriam distribuídos.

'Não é raro encontrar hospitais filantrópicos e privados que cobram duas vezes, uma do
SUS e outra do paciente', denuncia o diretor do Denasus, Paulo Sérgio Nunes. 'E, com
profissionalismo, eles não aceitam cheque e nem dão nota fiscal.' Essa irregularidade foi
encontrada em 11% das cidades fiscalizadas.

Maioria
O número de irregularidades é assustador. Segundo levantamento feito pelo Correio,
mais de 75% dos 60 municípios fiscalizados no 13º sorteio da Controladoria Geral da
União (CGU) usaram indevidamente o dinheiro público reservado para a saúde. É
verdade que nem todos agiram de má-fé. Algumas irregularidades são fruto da
incapacidade de gestão do secretário de Saúde ou do prefeito, como em Alagoa Nova,
cidade com 18 mil habitantes na Paraíba. Lá não existe uma programação das
necessidades de investimentos em saúde segundo o perfil da população e do histórico do
município. A falta de planejamento nessa área faz com que os gestores estejam sempre
desprevenidos.

Em outros casos, fica a dúvida da boa-fé dos gestores. A construção de um hospital em


Serra Dourada (BA), orçado em R$ 185 mil, está repleta de irregularidades. Três
empresas participaram de licitação para construção, sendo que os dados apresentados
pelos empresários à prefeitura não batiam com os arquivados na Junta Comercial. Na
visita dos fiscais à obra, não foi encontrado nenhum trabalhador da construtora. No
lugar deles, estavam funcionários da própria Secretaria de Saúde. Mais grave que isso.
Os cheques entregues à empresa foram depositados em contas pessoais de funcionários
da prefeitura.
Em Divinópolis (MG), quase R$ 2 milhões repassados pelo governo federal para o
Programa de Atenção Básica (PAB) na cidade foram parar na conta da prefeitura sem
que ninguém soubesse o motivo.

Outros R$ 675 mil do Programa de Vigilância em Saúde também foram parar, sem
explicação, na conta da prefeitura. Nos dois casos, as despesas não foram comprovadas.

Paralisação
No 13º sorteio, o mais recentemente divulgado pela CGU, 60 municípios foram
fiscalizados. Foi o quinto que contou a participação de auditores do Denasus
acompanhando os fiscais da Controladoria. 'Isso foi importante porque existem pontos
que só podem ser vistoriados pelos auditores do SUS, como é o caso dos prontuários
médicos', explica o diretor do Denasus.

O acompanhamento de perto foi o principal responsável pelo aumento das ações do


departamento. Desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, houve um aumento
de quase 2.000% das auditorias encerradas. 'O mais incrível é que não houve aumento
de pessoal, apenas de verba para outros gastos como passagens e hospedagem', explica
o secretário de Atenção à Saúde, Jorge Solla.

Só no ano passado, o Denasus verificou a conformidade da aplicação de


aproximadamente R$ 6 bilhões repassados a estados e municípios, o que corresponde a
20% de todo orçamento do SUS. O resultado dessas auditorias pede o ressarcimento de
quase R$ 8 milhões aos cofres públicos.
Mas essa eficiência corre sérios riscos. A greve dos auditores do Denasus está atrasando
o andamento das investigações sobre desvio de recursos e mau atendimento aos
pacientes. Desde o dia 25 de abril, 516 funcionários responsáveis por acompanhar a
aplicação do orçamento de R$ 32 bilhões paralisaram as atividades. 'Se com fiscalização
você tem fraudes, sem fiscalização tudo piora', reconhece Paulo Sérgio Nunes.

Os funcionários responsáveis pelas fiscalizações reivindicam uma gratificação


equivalente ao salário que os auditores receberiam caso o cargo fosse criado. A proposta
do plano de carreira está engavetada desde o ano passado, no Ministério do
Planejamento, em forma de medida provisória que prevê a gratificação para esse
funcionários e concurso para 600 novos auditores.

O NÚMERO
A rede hospitalar do SUS
2.217 públicos 3.497 particulares e
filantrópicos 150 universitários

Sob suspeita

O Departamento Nacional de Auditorias do Sistema Único de Saúde (Denasus)


encontrou graves problemas nos 60 municípios fiscalizados, dentre os quais:
72% não controlam controlam o estoque de remédios
Em Assai (PR) sabe ao certo quantos remédios existem na cidade. A quantidade de
medicamentos registrados não batem com o que está armazenado. Os fiscais perceberam
uma total ausência de controle de entradas e saídas de medicamentos.
28% guardam medicamentos com prazo de validade vencido
Em Jaguapitã, os remédios para tuberculose e hanseníase, assim como de combate a
hipertensão estavam vencidos há pelo menos seis meses no dia da visita dos fiscais ao
almoxarifado da
secretaria de Saúde.

Fonte: Levantamento feito pelo Denasus a partir de denúncias e do sorteio da


Controladoria Geral da União (CGU)

Uma dívida crescente

Os hospitais beneficentes acumulam hoje dívidas superiores a R$ 1,5 bilhão com


fornecedores e bancos, segundo a Confederação das Santas Casas, Hospitais e Entidades
Filantrópicas (CMB). Atualmente existem no Brasil 1.980 entidades beneficentes
mantenedoras que administram 2.100 entidades filantrópicas hospitalares, sendo a
maioria Santas Casas.

A CMB tenta, emergencialmente, um reajuste médio de 40% na tabela de


procedimentos pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e uma renegociação das taxas
de juros de financiamentos obtidos no BNDES e de débitos previdenciários. No
próximo dia 24, haverá uma reunião de negociação sobre essas reivindicações. A queixa
é a mesma dos gestores de hospitais privados. Levantamento da Associação de
Hospitais de Minas Gerais (Ahmg) mostra que os 20 principais procedimentos de saúde
feitos no país estão com, no mínimo, 100% de defasagem.

Para se ter uma idéia, o tratamento de um acidente vascular cerebral (AVC) custa aos
cofres públicos R$ 315. De acordo com o levantamento da associação, um hospital não
consegue realizar o procedimento por menos de R$ 1.037. A diferença passa dos 200%
de um para o outro. A variação é ainda maior quando o paciente precisa extrair a
vesícula. O SUS paga R$ 288 e os hospitais estimam o gasto de R$ 1.489. A variação,
nesse caso, ultrapassa 400%.

'Hospitais têm enorme nível de endividamento no Brasil', afirma o presidente da Ahmg,


Carlos Eduardo Ferreira. Um trabalho feito nas unidades de saúde de Minas Gerais
mostra que seria necessário um ano inteiro de entrada de dinheiro, sem nenhum gasto,
para que os hospitais saíssem do vermelho.

De acordo com o Secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Jorge Solla,


desde o início do governo Lula, dois reajustes nos repasses do SUS foram feitos. Não
exatamente como queriam os donos de hospitais e mantenedoras, um reajuste linear,
mas alguns procedimentos tiveram repasse aumentado. O aporte emergencial do ano
passado foi de R$ 130 milhões para os procedimentos de média complexidade.

Uma das saídas possíveis é a revisão de contratos com o Ministério da Saúde. Mas a
CMB não descarta ingressar com ações judiciais caso as negociações com o ministério
não avancem. O governo federal também estuda um plano de fusões dos hospitais
pequenos para melhorar o gerenciamento de recursos. Uma portaria já em vigor proíbe a
abertura de novas instituições caso elas não tenham, no mínimo, 30 leitos. (EK)

Você também pode gostar