Você está na página 1de 22

Nordeste

Os estados da Mata Atlântica


149

A diversidade biológica da Mata Atlântica floresta estacional encravadas no semi-árido.


está distribuída preferencialmente em pelo me- Ao sul do Rio São Francisco, estão os centros
nos cinco centros de endemismos e duas áreas Diamantina e Bahia, os quais ocupam também
de transição. Esses centros e áreas representam pequenas porções de Minas Gerais e do Espírito
as unidades biogeográficas básicas de toda a Santo. Além do elevado número de espécies en-
região da floresta atlântica. A porção de floresta dêmicas, esses quatro centros estão entre as áreas
referida aqui como Mata Atlântica do Nordes- mais ricas em espécies de toda a Mata Atlântica.
te compreende os estados da Bahia, Sergipe,
O Centro Bahia é uma das porções mais ricas de
Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do
floresta tropical do mundo.
Norte, Ceará e Piauí. Do ponto de vista fitofisio-
Infelizmente, a Mata Atlântica do Nordeste
nômico, a Mata Atlântica do Nordeste abriga for-
e seus centros de endemismos representam um
mações pioneiras, porções de floresta ombrófila
dos setores mais degradados do bioma, abrigando
densa e aberta, floresta estacional semidecidual
dezenas de espécies oficialmente ameaçadas de
e decidual.
Do ponto de vista biogeográfico, a Mata extinção.
Atlântica do Nordeste abriga quatro dos cinco cen-
tros de endemismo que ocorrem no bioma. Dois Situação Atual
deles situam-se ao norte do Rio São Francisco, o
Centro de Endemismo Pernambuco e os Brejos A Mata Atlântica no Nordeste cobria uma
Nordestinos, esse último composto por ilhas de área original de 255.245 Km², ocupando 28,84%

Mata Cap3 10NE.indd 149 2/23/06 11:21:24 PM


Os estados da Mata Atlântica

150
Catadora de caranguejo catando “frutos” do manguezal

do seu território. Os últimos esforços das organi- Atlântica e Ecossistemas Associados, a Sociedade
zações não-governamentais Sociedade Nordes- Nordestina de Ecologia, em articulação com a
tina de Ecologia (SNE) e Fundação SOS Mata Fundação SOS Mata Atlântica, adotou as fisio-
Atlântica e parceiros governamentais para mape- nomias definidas no decreto nº 750/93.
amento da Mata Atlântica indicam que o bioma No Piauí, a legenda da vegetação mapeada
no Nordeste ocupa hoje uma área aproximada de foi: floresta estacional semidecidual montana
27.194 Km², cobrindo uma área total de 2,21% (floresta tropical subcaducifólia); floresta esta-
do seu território. cional semidecidual submontana (floresta tropi-
Mais de 46% dos remanescentes mapeados cal subcaducifólia); floresta estacional decidual
estão localizados na Bahia. Os demais sete esta- montana (floresta tropical caducifólia); vegetação
dos contam com 14.520 Km² de remanescentes de dunas/restinga (vegetação com influência ma-
da Mata Atlântica, dispostos em pequenos frag- rinha) e vegetação de manguezal (vegetação com
mentos. A Mata Atlântica no Nordeste se estendia influência fluvio-marinha).
por uma faixa contínua litorânea do Rio Grande Para o Ceará, a legenda adotada foi: vegeta-
do Norte até a Bahia e, nos Estados do Ceará e ção de cerradão (floresta estacional semidecidual
do Piauí, em áreas descontínuas sobre chapadas, montana); vegetação de dunas/restinga; vegetação
serras, dunas e vales. de mata úmida (floresta ombrófila aberta) e vege-
Para a realização do Mapeamento da Mata tação de manguezal.

Mata Cap3 10NE.indd 150 2/23/06 11:21:39 PM


Os estados da Mata Atlântica
151
Para os estados do Rio Grande do Norte e
Área de transição entre
Mata Atlântica e Caatinga
Paraíba, foi utilizada a seguinte legenda: mata
em estágio médio/avançado de regeneração; mata
em estágio inicial de regeneração; vegetação de
restinga; vegetação de manguezal.
Não existem dados atualizados para a Mata
Atlântica nos estados de Pernambuco, Alagoas,
Bahia e Sergipe. (Tabela 1)

1 Remanescentes Florestais da Mata Atlântica no Nordeste

Área UF Remanescentes florestais


UF
Km² Km2 % sobre área total da UF
Alagoas 27.933 (5) 877 (1) 3,14
Bahia 567.295 (5) 12.674 (4) 2,23
Ceará 148.825 (6) 1.873 (3) 1,26
Paraíba 56.585 (5) 656 (2) 1,16
Pernambuco 98.938 (5) 1.524 (1) 1,54
Piauí 251.529 (6) 7.791 (3) 3,10
Rio Grande do Norte 53.307 (5) 432 (2) 0,81
Sergipe 22.050 (5) 1.367 (1) 6,20
Total 1.226.462 27.194 2,21
(1) SNE, 1993 (PE, AL, SE); (2) SNE, 2004 (RN,PB); (3) SNE, 2005 (CE, PI); (4) SOS, 1990; (5) IBGE, 1999 ; (6) IBGE, 2002.

Mata Cap3 10NE.indd 151 2/23/06 11:21:50 PM


Piauí
Os estados da Mata Atlântica

Município de
Cristino Castro
Foto: Paulo Vasconcelos Júnior

152

Em mapeamento concluído em 2005, verifi- lizadas nos municípios de Guaribas e Canto do


ca-se que a Mata Atlântica do Piauí abrange uma Buriti com a fisionomia de floresta estacional
área de 7.791 Km², correspondendo a 3,10% da decidual montana e floresta estacional semideci-
superfície do Estado, compreendendo as seguintes dual submontana, no município de Alvorada do
formações vegetais: floresta estacional semideci- Gurguéia.
dual, floresta estacional decidual, vegetação de No que se refere ao manguezal, os municípios
dunas/restinga e manguezal. em que se identificou a sua presença são Cajueiro
As maiores áreas de vegetação estão loca- da Praia; Luís Correia; Parnaíba e Ilha Grande.

2 Vegetação por Unidade de Conservação no Piauí

Área da
Unidade de Vegetação na unidade
Nível Unidade Tipologia Florestal
Conservação
(ha) (ha) (%)
Vegetação de Manguezal 5.351,11 1,74
APA Delta do Federal 308.273,00 Vegetação de
Parnaíba 19.456,85 6,31
Dunas/Restinga
PN Serra das Floresta Estacional
Federal 526.106,77 343.299,70 65,25
Confusões Decidual Montana
TOTAL 834.379,77 368.107,66 44,12
SNE, 2005.

Mata Cap3 10NE.indd 152 2/23/06 11:21:53 PM


Apenas duas Unidades de Conservação dos por unidades de conservação em nível federal,
foram encontradas nos limites mapeados da Mata sendo 1,36% em floresta estacional decidual
Atlântica e seus Ecossistemas Associados no montana e 0,10% em vegetação de mangue, dunas
estado do Piauí, uma área de proteção ambiental e restingas.
APA (federal) e um parque nacional, conforme De um modo geral, constata-se, a partir dos
tabela 2. trabalhos de campo, uma grande devastação da
Com base nos resultados da Tabela 3, 1,46% vegetação primitiva, em função do plantio de
da cobertura da Mata Atlântica e seus ecossiste- extensas áreas de soja e de frutíferas arbóreas,
mas associados no Estado encontram-se protegi- especialmente de caju.

Os estados da Mata Atlântica


153

Periquitos

3 Vegetação de Mata Atlântica e Ecossistemas Associados no Estado do Piauí.

Área do Vegetação no Vegetação


Estado Tipologia Florestal Estado Protegida
(Km²) (Km²) (%) (Km²) (%)
Floresta Estacional Decidual 5.167,23 2,05 3.433,00 1,36
Montana
Floresta Estacional Semidecidual 441,26 0,18    
Montana
251.529,19
Floresta Estacional Semidecidual 1.773,07 0,70    
Submontana
Vegetação de Manguezal 61,93 0,02 53,51 0,02
Vegetação de Dunas/Restinga 347,97 0,14 194,57 0,08
7.791,46 3,10 3.681,08 1,46
SNE, 2005.

Mata Cap3 10NE.indd 153 2/23/06 11:21:58 PM


Ceará
Os estados da Mata Atlântica

154
APA da
A Mata Atlântica no Ceará ocupa uma área fisionomia de mata úmida e de cerradão. Constata- Serra de
total de 1.873 Km² e está localizada de maneira se que a existência das unidades de conservação Maranguape
dispersa em dez regiões: Chapada do Araripe, da Floresta Nacional do Araripe (Flona Araripe)
Litoral, Chapada do Ibiapaba, Serra da Aratanha, e da APA Chapada do Araripe contribuiu para a
Serra de Baturité, Serra do Machado, Serra das manutenção desses remanescentes, haja vista que,
Matas, Serra de Maranguape, Serra da Meruoca no entorno imediato das unidades de conservação,
e Serra de Uruburetama, ocupando total ou par- quase não se encontra mais vegetação nativa.
cialmente 67 municípios. É no litoral do Estado onde se verifica a maior
De acordo com dados obtidos no mapea- agressão à biodiversidade dos ecossistemas asso-
mento realizado pela SNE em 2004, verifica-se ciados da Mata Atlântica: manguezais e restingas
que apenas 14 municípios (Amontada, Barbalha, (vegetação de dunas). A redução das áreas de
Barroquinha, Beberibe, Camocim, Crato, Fortim, manguezal se explica pelo uso incompatível do
Guaramiranga, Meruoca, Mulungu, Pacatuba, Pa- solo associado à expansão de complexos turísticos
coti, Paracuru e Paraipaba), dentre os que possuem e culturas de crustáceos. A vegetação de restinga
vegetação mapeada, obtiveram um valor acima tem sua redução também associada ao turismo e
de 10% de área municipal recoberta com relação à expansão da agricultura.
à Mata Atlântica e Ecossistemas Associados no A existência de vegetação nativa da Chapada
Estado do Ceará. Na Tabela 4, são apresentados da Ibiapaba, a mata úmida, deve-se à forte declivi-
os fragmentos de vegetação de Mata Atlântica e dade e também à criação das unidades de conser-
Ecossistemas Associados mapeados por região. vação: APA da Ibiapaba e o Parque Nacional de
A Chapada do Araripe apresenta um frag- Ubajara. Nas Serras de Maranguape e Aratanha,
mento de razoável dimensão para a região com a vegetação de mata úmida está mais preservada,

Mata Cap3 10NE.indd 154 2/23/06 11:22:06 PM


4 Vegetação por região mapeada.

Área de Total de Total de


Regiões de Tipologia de vegetação vegetação vegetação
mapeamento vegetação (ha) (ha) (%)
Mata Úmida 4.485,00
Chapada do Araripe 39.782,28 21,24
Cerradão 35.297,28
Manguezal 17.113,76
Litoral 91.632,97 48,93
Restinga 74.519,21

Os estados da Mata Atlântica


Chapada da Ibiapaba Mata Úmida 25.893,22 25.893,22 13,83
Serra da Aratanha Mata Úmida 4.251,25 4.251,25 2,27
Serra de Baturité Mata Úmida 20.567,47 20.567,47 10,98
Serra do Machado Mata Úmida 72,21 72,21 0,04
Serra das Matas Mata Úmida 21,29 21,29 0,01
Serra de Maranguape Mata Úmida 1.471,64 1.471,64 0,79
Serra da Meruoca Mata Úmida 3.205,99 3.205,99 1,71
Serra de Uruburetama Mata Úmida 388,09 388,09 0,21
Total Geral 187.286,41 187.286,41 100,00
SNE, 2002.
155
em virtude de que, em muitas áreas, o acesso é úmida nem estão situadas dentro dos limites do
mais restrito pela própria condição de declivida- Domínio da Mata Atlântica.
de. Na Serra da Meruoca, pode-se constatar um
aumento da área com vegetação, principalmente
no estágio inicial e médio de regeneração. Essa si-
tuação pode ser justificada pela presença do Ibama
na cidade de Sobral (cerca de 30 km de distância)
e a implementação de uma política de fiscalização
mais rígida quanto ao desmatamento e o uso do
fogo por parte dos proprietários rurais.
Nas Serras do Machado e das Matas, assim
como na de Uruburetama, os fragmentos encontra-
dos são muito reduzidos. A existência de 21,29 ha
de mata úmida na Serra das Matas sugere que em
outras áreas situadas no seu entorno, com altitude
acima de 700 m devem ter existido remanescentes
florestais de Mata Atlântica. As Serras das Matas
e do Machado, em estudos anteriores nem são
mencionadas como áreas de ocorrência de mata

Flor da Mata Atlântica

Mata Cap3 10NE.indd 155 2/23/06 11:22:12 PM


5 Vegetação por Unidade de Conservação.

Unidade de
Conservação Tipologia Vegetação
Unidade de Vegetação na
Nível de na Unidade
Conservação no Ceará Unidade (%)
Vegetação (ha)
(ha)

APA da Chapada Cerradão 16.905,85 2,92


Federal 578.603,66
do Araripe Mata Úmida 2.524,46 0,44
APA da Serra da Estadual 6.448,29 Mata Úmida 4.116,57 63,84
Aratanha
Os estados da Mata Atlântica

APA da Serra de Estadual 32.690,00 Mata Úmida 15.848,36 48,48


Baturité

APA da Serra de Manguezal 14,37 0,004


Federal 379.771,10
Ibiapaba Mata Úmida 14.187,78 3,74
APA das Dunas de Estadual 3.909,60 Restinga 324,04 8,29
Paracuru

APA Delta Manguezal 3.784,17 18,61


Federal 20.329,21
do Parnaíba Restinga 2.582,40 12,70

156 APA do Estuário


do Rio Curu
Estadual 881,94
Manguezal
Restinga
59,45
49,64
6,74
5,63
APA do Estuário Manguezal 389,72 24,41
Estadual 1.596,37
do Rio Mundaú Restinga 84,64 5,30
APA do Lagamar Estadual 1.884,46 Restinga 3,94 0,21
do Cauípe

Floresta Nacional Cerradão 18.391,45 48,07


Federal 38.262,33
do Araripe Mata Úmida 1.960,53 5,12
Parque Nacional Manguezal 71,22 0,85
Federal 8.416,08
de Jericoacoara Restinga 138,85 1,65
Parque Nacional Federal 6.288,00 Mata Úmida 1.048,54 16,68
de Ubajara

TI Lagoa Encan- Manguezal 8,82 0,54


Federal 1.641,01
tada Restinga 747,47 45,55
TI Tapeba Federal 4.752,15 Manguezal 412,56 8,68
TI Tremembé Manguezal 121,45 2,53
Federal 4.803,15
de Almofala Restinga 242,12 5,04
Total 1.090.277,35 84.018,40 7,71
TI=Terra Indígena; APA=Área de Proteção Ambiental.
SNE, 2002.

Mata Cap3 10NE.indd 156 2/23/06 11:22:12 PM


APA da Serra
de Baturité

Na Serra de Uruburetama, o resultado do situação dos fragmentos de Mata Atlântica e


mapeamento demonstra que está quase comple- Ecossistemas Associados no Ceará.
tamente ocupada com a cultura de banana e o que Os resultados apresentados nas tabelas de-
resta de vegetação de mata úmida está descarac-
terizada, considerando o seu aspecto original. O
monstram uma questão de relevância na gestão da
Mata Atlântica do Nordeste: a vegetação protegida
157
melhor exemplo de conservação da vegetação de em unidades de conservação (UCs) no Estado
mata úmida no Ceará está na Serra de Baturité, representa 44,86% (84.018,40 ha) do total da ve-
próxima de Fortaleza. A exploração do turismo getação mapeada (187.286,41 ha). Embora, desse
ecológico em pequenos sítios, associada à boa percentual protegido, apenas 25,72% (21.610,59
gestão da APA da Serra de Baturité, pelo governo ha) estejam em unidades de conservação de pro-
do Estado, favorecem a preservação da vegetação. teção integral, os relatos de campo indicam que a
Na Tabela 5, são apresentados os fragmentos de presença de uma unidade de conservação, mesmo
Mata Atlântica existentes nas unidades de con- que de uso sustentável, mas de grande abrangên-
servação do Ceará. cia, como as APAs, tem exercido grande influência
Na Tabela 6, é apresentado um resumo da na conservação do bioma no Estado.

6 Vegetação de Mata Atlântica e Ecossistemas Associados no Ceará.

Área de Área de Vegetação Vegetação


Área do Tipologia de vegetação vegetação protegida pretegida
Estado (ha) vegetação no Estado no Estado (ha) (%)
(ha) (%)
Cerradão 35.297,28 0,24 35.297,30 100,00
Mata Úmida 60.356,16 0,41 39.686,24 65,75
14.882.560,20
Restinga 74.519,21 0,50 4.173,10 5,60
Manguezal 17.113,76 0,11 4.861,76 28,41
14.882.560,20 187.286,41 1,26 84.018,40 44,86
SNE, 2002.

Mata Cap3 10NE.indd 157 2/24/06 12:47:12 AM


Rio Grande do Norte
Os estados da Mata Atlântica

Remanescentes de
Mata Atlântica no
Estado

Foto: Fernando Pinto


158 O Domínio da Mata Atlântica (DMA) no 7 Remanescentes Florestais 2002
Rio Grande Norte ocupa uma área total de 3.298 – Rio Grande do Norte
Km² e está localizado no litoral leste do Estado,
Classe Área (Km²)
ocupando total ou parcialmente 27 municípios,
Fora do
abrangendo os ecossistemas de mata, restinga DMA Total
DMA
e manguezal. Embora não incluído no DMA, o Mata 247 33 280
litoral norte apresenta áreas de remanescentes
Manguezal 67 65 132
de restinga e de manguezal, nos municípios de
Restinga 118 40 158
São Bento do Norte, Galinhos, Guamaré, Ma-
Total 432 138 570
cau, Porto do Mangue, Areia Branca, Grossos
SNE, 2002.
e Tibau. Da mesma forma, são encontrados
fragmentos de mata serrana nos municípios Quanto à restinga, tal decremento se veri-
de Martins, Portalegre, Serrinha dos Pintos, ficou com maior intensidade nos municípios de
Coronel João Pessoa e Luís Gomes, conforme Maxaranguape, Rio do Fogo e Touros. Com rela-
a Tabela 7. ção ao decremento verificado no ecossistema de
Os maiores decrementos de mata identifi- manguezal, tem-se a destacar o que ocorreu nos
cados no Rio Grande do Norte ocorreram nos municípios de Canguaretama, Natal, São Gonça-
municípios de Goianinha, Arês, Nísia Floresta, lo do Amarante, Extremoz, Galinhos, Guamaré,
Parnamirim, Natal, Extremoz e Ceará Mirim. Macau e Porto do Mangue. As atividades iden-
Ainda com relação à mata, deve-se levar em conta tificadas no levantamento, que mais impactaram
também a quase total supressão das matas serranas esses ecossistemas no Estado, foram: atividades
localizadas nos municípios de Viçosa, Umarizal, agrícolas, principalmente a expansão da área de
Martins, Portalegre e Serrinha dos Pintos. cultivo da cana-de-açúcar e de frutíferas arbóreas,

Mata Cap3 10NE.indd 158 2/23/06 11:22:33 PM


Pitanga

Os estados da Mata Atlântica


o desenvolvimento de atividades voltadas para a redor pode ser formado a partir de Extremoz
carcinicultura em áreas de manguezal e a expan- até o município de Touros, também protegendo
são urbana em áreas litorâneas. e recuperando o ecossistema de restinga. Esses
Apesar da acentuada fragmentação dos
ecossistemas que compõem a Mata Atlântica
dois trechos constituem Áreas Prioritárias para
a Conservação da Mata Atlântica no Rio Grande
159
no Estado, vislumbra-se a possibilidade de esta-
do Norte, segundo os resultados do “Workshop
belecimento de corredor ecológico partindo da
Mata da Estrela, no município de Baía Formosa, de Avaliação de Áreas Prioritárias para a Con-
e seguindo pelas restingas arbustivo-arbóreas servação da Mata Atlântica e Campos Sulinos”,
do litoral até o município de Natal. Outro cor- realizado em Atibaia, São Paulo, em 1999.

Caranguejos

Mata Cap3 10NE.indd 159 2/23/06 11:22:37 PM


Paraíba
Os estados da Mata Atlântica

Manguezal

160
O Domínio da Mata Atlântica (DMA) na preliminar das imagens, com base em amostras
Paraíba abrange duas grandes áreas, perfazendo de áreas conhecidas, sugeria um prolongamento
um total de 6.743 Km² e ocupando total ou parcial- da vegetação de mata além desses limites. Essas
mente 63 municípios, incluindo os ecossistemas áreas foram mapeadas, desde que confirmadas
de mata, restinga e manguezal. Uma das áreas fica pelos técnicos locais e/ou nos trabalhos de campo.
localizada na parte sul do Estado, com 575 Km², Na outra área, situada a leste, com 6.168 Km², en-
cobrindo a totalidade dos municípios de Camalaú, contram-se remanescentes da floresta ombrófila,
Caraúbas, Congo, Monteiro, São João do Tigre e da floresta estacional semicaducifólia, da restinga
São Sebastião do Umbuzeiro. No caso específico e do manguezal.
desses municípios paraibanos, que não foram consi- Embora não estejam incluídas no DMA,
derados no mapeamento da SNE de 1992/1993, mas foram identificadas áreas de mata nos seguintes
que estão incluídos no Domínio da Mata Atlântica, municípios: Caiçara, Lagoa de Dentro, Pedro
levantamentos realizados pela equipe do PNUD/ Régio, Duas Estradas, Sertãozinho, Guabiraba,
FAAO/Ibama/Governo da Paraíba e divulgados Cuitegi, Alagoinha, Algodão de Jandaíra, Jua-
no “Mapeamento da Cobertura Florestal Nativa rez Távora, Serra Redonda, Ingá, Riachão do
Lenhosa do Estado da Paraíba”, em 1994 e 2002, Bacamarte, Massaranduba, Fagundes, Campina
revelam, para as áreas serranas desses municípios, Grande, Puxinanâ, Aroeiras e Maturéia. Nessas
uma flora tipicamente de Caatinga. Decidiu-se, áreas foram então mapeados 71 Km² de mata, os
então, pela continuidade da não inclusão dos dados quais somados aos 656 Km² mapeados no DMA,
encontrados naqueles municípios. resultaram em 727 Km², conforme a Tabela 8.
Em contrapartida, em alguns municípios li- Os maiores decrementos identificados nos
mítrofes ao DMA de ambos os estados, a análise últimos dez anos no Estado ocorreram nos mu-

Mata Cap3 10NE.indd 160 2/23/06 11:22:41 PM


8 Remanescentes Florestais 2002 destaque corresponde aos remanescentes encon-
– Paraíba trados no município de Areias e Alagoa Grande,
conjunto de grande interesse ecológico e social,
Classe Área (Km²)
por tratar-se de fragmentos de mata serrana (ou
Fora do
DMA Total brejo de altitude). O Pico do Jabre, localizado no
DMA
município de Maturéia, por se constituir num en-
Mata 525 71 596
crave florestal em área de Caatinga, merece aten-
Manguezal 118 --- 118
ções especiais tendo em vista os resultados obtidos
Restinga 13 --- 13
nesse mapeamento que demonstram decréscimos
Total 656 71 727 de área nos últimos dez anos. Convém salientar
SNE, 2002. que essas três áreas constituem Áreas Prioritárias
para a Conservação da Mata Atlântica na Paraíba,
nicípios de Santa Rita, nas matas denominadas
segundo os resultados do “Workshop de Avalia-
Mata da Usina São João, Mata da Usina Santana,
ção de Áreas Prioritárias para a Conservação da
RPPN Engenho Gurjaú, Mata Pau Brasil e Mata
Mata Atlântica e Campos Sulinos”, realizado em
Fazenda Capitão; Rio Tinto e Mamanguape, na
Atibaia, São Paulo, em 1999.
Reserva Biológica de Guaribas. No ecossistema
de manguezal, as maiores agressões
ocorreram nos municípios de Pitimbu,
Conde, Rio Tinto e Bayeux. A restinga
161
está reduzida a localidades nos municí-
pios de Mataraca, Cabedelo e Rio Tinto,
sendo verificada redução de área desse
ecossistema no município de Mataraca,
limite com Baía Formosa, no Rio Grande
do Norte.
As atividades identificadas no le-
vantamento, que mais impactaram esses
ecossistemas de Mata Atlântica no Esta-
do foram: a expansão da área de cultivo
da cana-de-açúcar e o desenvolvimento
de atividades voltadas para a carcini-
cultura em áreas de manguezal. No que
tange à identificação de áreas com maior
concentração de mata, destaque deve ser
dado aos municípios de Cruz do Espírito
Santo, Santa Rita, Rio Tinto e Maman-
guape. A disposição dessas manchas de
fragmentos florestais insinua a formação
de um corredor ecológico. Outra área de

Área de mata
Foto: Fernando Pinto

Mata Cap3 10NE.indd 161 2/23/06 11:22:48 PM


Pernambuco e Alagoas: O Pacto Murici
Os estados da Mata Atlântica

Cidade de
Olinda – PE

162
Apesar de praticamente toda costa brasileira posteriormente, sugerem que esse número pode
ter sido ocupada pela colonização européia a estar subestimado e que a floresta ao norte do
partir da mesma época (século XVI), foi no Nor- Rio São Francisco é a unidade biogeográfica da
deste do Brasil que a floresta atlântica foi mais floresta atlântica de maior probabilidade de per-
rapidamente degradada. Dois ciclos econômicos der espécies em escala regional e global. Nessa
foram fundamentais nesse processo: o do pau- região, por exemplo, é onde se encontra um dos
brasil e o da cana-de-açúcar, o qual se estende até locais (Murici, Alagoas) com a maior quantidade
os dias atuais. Em 1990, restavam menos de 6% de espécies de aves ameaçadas de extinção nas
da extensão original da floresta atlântica ao Américas.
norte do Rio São Francisco e alguns tipos flo- De acordo com o Caderno nº 29, do Conselho
restais, como a floresta ombrófila densa, foram Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlân-
reduzidos a poucas dezenas de quilômetros tica (RBMA), que trata da RBMA em Alagoas,
quadrados. existem 24 unidades de conservação inseridas na
A Mata Atlântica nos estados de Alagoas área de abrangência do bioma no Estado. Destas
e Pernambuco representa grande parte do que UCs, sete são federais, sete são estaduais, três
restou do Centro de Endemismo Pernambuco, são municipais e sete são Reservas Particulares.
o qual abriga a floresta costeira de Alagoas ao Essas UCs cobrem uma área total de 602.173,60
Rio Grande do Norte. Estudos indicam que um ha. Sete destas UCs são APAs e perfazem um total
terço das árvores do Centro Pernambuco estariam de 575.877 ha, as demais UCs cobrem 26.296,60
ameaçadas de extinção regional, conseqüência da ha. Algumas ainda não foram categorizadas de
interrupção do processo de dispersão de semen- acordo com o Sistema Nacional de Unidades de
tes. Modelos de extinção de árvores, elaborados Conservação (SNUC).

Mata Cap3 10NE.indd 162 2/23/06 11:23:06 PM


Foto: Fernando Pinto
foi impulsionada pela Birdlife International (BI)
e a SNE, por meio da realização de Diagnósti-
co Expedito do Complexo Florestal de Murici
(CFM), região que integra a ESEC e o seu en-
torno imediato. Esse trabalho subsidiou o Ibama
na criação da ESEC Murici. Após a criação da
ESEC Murici, a SNE, em parceria com a WWF
Brasil e a BI, realiza projeto para apoio à sua

Os estados da Mata Atlântica


implementação. Em seguida, contando também
Área de Grande parte das unidades de conservação de com a participação da The Nature Conservancy,
transição
da mata e Alagoas não foi regularizada e implementada, a são realizados o levantamento fundiário do CFM,
restinga , em fiscalização é insuficiente. Observa-se, no entanto, o censo demográfico do CFM, o levantamento
Alagoas
uma situação de grande potencialidade na con- e monitoramento da avifauna, o treinamento de
servação do bioma no Estado, com a efetivação viveiristas e oficinas de educação ambiental, bem
de parcerias do governo estadual e do sistema de como a realização de um sistema de informações
gestão da RBMA com o setor sucro-alcooleiro. geográficas (SIG), organizando todos os dados
Recentemente, quatro RPPNs foram criadas em obtidos sobre a região.
áreas de usinas: a RPPN da Reserva do Gulandim,
criada em 2001, com 41 ha, localizada no municí-
Em junho de 2003, a SNE convidou Funbio,
TNC, BI, CI, SOS e WWF Brasil para uma visita
163
pio de Teotônio Vilela, de propriedade das Usinas à ESEC Murici buscando apoio para a redução
Reunidas Seresta S/A; a RPPN da Fazenda Santa da degradação da Mata Atlântica, mesmo dentro
Tereza, criada em 2001, com 100 ha, localizada de uma UC de proteção integral. Outros parcei-
no município de Atalaia, inserida no território da ros se incorporam ao processo, como o Cepan,
Usina Uruba, e as RPPNs Fazenda Pereira, com que tem tido grande aproximação com o setor
290 ha, e a Fazenda Lula Lobo, com 98,6 ha, sucro-alcooleiro, realizando pesquisas para a
criadas em 2001, localizadas no município de conservação da biodiversidade nas Usinas Serra
Coruripe, de propriedade da S/A Usina Coruripe Grande e Trapiche e o IA-RBMA, que também
Açúcar e Álcool. tem realizado iniciativas importantes com a par-
A criação da Estação Ecológica (ESEC) de ceria do setor sucro-alcooleiro, implementando
Murici, em 2001, cobrindo uma área de 6.116 ha, dois Postos Avançados da RBMA nas Usinas
nos municípios de Messias, Flexeiras e Murici, Coruripe e Guaxuma.
Foto: Fernando Pinto

Mutum: espécie
altamente ameçada
de extinção

Mata Cap3 10NE.indd 163 2/23/06 11:23:14 PM


Em maio de 2004, no Senado Federal, em fortaleçam a implementação das ações constantes
Brasília, foi estabelecido um acordo entre as do plano integrado de ação e assegurem a con-
oito instituições não-governamentais, denomi- servação da biodiversidade e contribuam para o
nado Pacto Murici, cujo objetivo é propiciar a desenvolvimento sustentável na região. Como já
alavancagem de recursos e o desenvolvimento foi tratado inicialmente, não existem mapeamentos
de projetos de grande envergadura, voltados atualizados para os estados de Piauí, Pernambuco,
para a conservação e o uso sustentável da biodi- Alagoas e Sergipe. Os últimos dados estão dispos-
versidade. Dando continuidade a essa estratégia tos na Tabela 1 deste capítulo. O mapeamento do
criou-se então a Associação para a Proteção da
Os estados da Mata Atlântica

Piauí está em realização pela SNE.


Mata Atlântica do Nordeste (Amane), entidade
Evitar perda de espécies em biotas extrema-
formada pelas oito ONGs do Pacto Murici, para
mente fragmentadas, como o Centro Pernambuco,
coordenar as ações de um projeto de conser-
é possível através da implementação de “corredo-
vação e uso sustentável para a Mata Atlântica
res de biodiversidade”. De forma muita sucinta, o
do Nordeste. Esse projeto inclui os estados de
corredor pode ser descrito como um conjunto de
Pernambuco e Alagoas, no território denominado
áreas protegidas públicas e particulares, conec-
Centro de Endemismo de Pernambuco.
tadas através de corredores florestais em escala
O Pacto Murici tem como objetivo catalisar
regional, imerso em uma matriz de uso múltiplo
ações e recursos para conjuntamente reverter
164 o quadro de desmatamento e degradação da
do solo que seja pouco agressiva à diversidade

biodiversidade e criar formas de restaurar o fun- biológica. Assim, várias categorias de uso da terra
cionamento da paisagem e o desenvolvimento compõem o esforço de conservação de um cor-
sustentável da ecorregião Florestas Costeiras de redor, dentre elas: parques, reservas públicas ou
Pernambuco (FCP). Os objetivos específicos do privadas, terras indígenas, além de propriedades
Pacto são: 1. Construir um programa integrado de que praticam sistemas agroflorestais ou ecotu-
ações de conservação, para a ecorregião da FCP; 2. rismo. O Pacto Murici pode ser um instrumento
Captar e mobilizar recursos para a implementação importante para a elaboração e implementação de
do programa integrado de ações de conservação e um corredor de biodiversidade em uma das por-
desenvolvimento sustentável na região; 3. Integrar ções mais importantes de toda a floresta atlântica,
ações visando o cumprimento e/ou o estabele- contribuindo efetivamente para a conservação da
cimento de políticas públicas que favoreçam e Mata Atlântica do Nordeste.

Marcelo Tabarelli, do Departamento de Bo-


tânica, Universidade Federal de Pernambuco,
Recife (PE); Maria das Dores de V. C. Melo,
da Associação da Mata Atlântica do Nordeste
– Amane e Osvaldo C. de Lira, da Associa-
ção da Mata Atlântica do Nordeste - Amane.
(Textos Nordeste e Estados do Nordeste, menos
Sergipe)

Cactus na
restinga

Mata Cap3 10NE.indd 164 2/23/06 11:23:17 PM


Sergipe

Os estados da Mata Atlântica


Cidade de
Aracaju

165
O Estado de Sergipe localiza-se a leste da cana-de-açúcar. Após mais de 500 anos de ocu-
região Nordeste e tem a menor área do Brasil pação, da Mata Atlântica original restam poucos
em extensão territorial, com 22.050,40 Km2. corredores ao longo da extensão litorânea do
Possui cerca de 1.800.000 habitantes, 62,4% Estado, ocupando cerca de 40 Km2 de largura do
urbanos, densidade demográfica de 77,67 hab/ território sergipano, com formações de diferentes
Km2, crescimento demográfico de 1,2% ao ano ecossistemas, que incluem as faixas litorâneas
e uma faixa de migração interna de 11,25%. Sua com suas associações das praias e dunas, com
área natural é bastante devastada, sendo cerca ocorrência das formações florestais perenifólias
de 90% utilizada como pastagens e atividade in- latifoliadas higrófilas costeiras (floresta cos-
tensiva de agricultura, restando apenas algumas teira), que ocorrem ao longo do todo o litoral
manchas da floresta costeira, mata de restinga, sergipano sob a forma de pequenas manchas,
mata ciliar, cerrados arbustivos e caatinga. exceto na porção sul do Estado, onde algumas
Em Sergipe, como no Nordeste em geral, as fazendas particulares se apresentam mais pre-
áreas remanescentes são pequenas e extrema- servadas, localizando-se normalmente nos topos
mente fragmentadas com grande impacto an- das colinas mais elevadas ou nas encostas que
trópico. apresentam declividades acentuadas. Nos locais
Originalmente, a Mata Atlântica ocupava onde foi fortemente devastada, aparecem os
toda faixa litorânea sergipana, até a chegada do cultivos perenes e temporários e posteriormente
homem branco (europeu) em 1501 para tomar as pastagens. A Mata Atlântica sergipana ocorre
posse das terras indígenas, com os objetivos desde municípios localizados no São Francisco
de explorar o pau-brasil, criar gado e plantar até Mangue Seco, na divisa com a Bahia.

Mata Cap3 10NE.indd 165 2/23/06 11:23:27 PM


Apesar da devastação por conta da forte O Litoral Norte compreende 2.300 Km2, em
ação antrópica, o pouco que resta preservado da 112 Km de extensão, com uma população de 600
grande diversificação ambiental proporciona à mil habitantes (257 hab/Km2), em 17 municípios
Mata Atlântica uma enorme diversidade biológica, – Aracaju, Barra dos Coqueiros, Nossa Senhora do
com um bom número de mamíferos, aves, répteis Socorro, Laranjeiras, Riachuelo, Maruim, Santo
e anfíbios que ali sobrevivem e garantem a repro- Amaro das Brotas, Pirambu, Carmópolis, Capela,
dução de muitas espécies, sendo que várias delas Siriri, General Maynard, Pacatuba, Japaratuba,
são endêmicas (só ocorrem ali). A Mata Atlântica Rosário do Catete, Ilha das Flores e Brejo Grande.
ainda possui raras espécies de plantas - das quais Apesar de ser uma Reserva Nacional, tem como
muitas são endêmicas - e ainda consegue ser o principal uso do solo a exploração dos recursos
primeiro e maior bloco de florestas do Estado. minerais, o que tem causado sérios problemas
A zona costeira de Sergipe é dividida em dois ambientais, em decorrência da exploração de pe-
setores: Litoral Norte e Litoral Sul. tróleo, gás, cloreto de sódio, cloreto de potássio

166

Turismo na Serra de Itabaiana

Mata Cap3 10NE.indd 166 2/24/06 12:47:44 AM


Os estados da Mata Atlântica
167

Serra de Itabaiana

e outros evaporitos associados, como também do Itanhy e Indiaroba. A atividade predominante


pela presença de indústrias de cimento e de ferti- é o turismo, por conta do centro histórico de São
lizantes. Grande parte das cidades localiza-se no Cristóvão, o fácil acesso às praias e uma infra-
estrutura de bares, restaurantes e pousadas em
interior dos estuários e tabuleiros, com exceção
expansão. A economia baseia-se na agricultura.
de Aracaju e Barra dos Coqueiros. Há também
Estância e Itaporanga formam um pólo industrial
grandes propriedades de cocoiculturas, cana e pe-
alavancado pela indústria têxtil, de fabricação de
cuária. Em oito municípios, predomina a lavoura sucos de fruta e cervejaria que, juntamente com
e, em outros oito, a pecuária. Laranjeiras tem a Itabaiana e Lagarto, formam os centros urbanos
maior usina do Estado, com grandes canaviais e mais importantes do Estado depois de Aracaju.
algumas destilarias de álcool.
O Litoral Sul possui 2.500 Km2, com 55 Os ecossistemas
quilômetros de extensão, concentrando 143 mil A caracterização da Mata Atlântica em Sergi-
habitantes (57 hab/Km ), em cinco municípios
2 pe foi apresentada por Santos e Andrade (1992),
– São Cristóvão, Itaporanga, Estância, Santa Luzia que descrevem:

Mata Cap3 10NE.indd 167 2/23/06 11:23:47 PM


Os estados da Mata Atlântica

168

Ruínas de igreja em antigo engenho de açucar

O ecossistema da região da Mata Atlântica As associações de restingas ocupam largura


envolve 5.750 Km2 do Estado. Atualmente a co- variável, encontrando-se nos municípios de Paca-
bertura vegetal original restringe-se a manguezais, tuba e Pirambu, alcançando muitas vezes 10 qui-
vegetação de restinga e remanescente da floresta lômetros de largura. É formada de uma associação
tropical úmida. Também denominada de mata arbustiva perenifólia, que se apresenta baixa, xero-
costeira, ocupa aproximadamente uma faixa de 40
morfa, formando moitas com espécies de plantas
Km2 de largura, estendendo-se de sul para norte
suculentas pertencentes às famílias Cactaceae,
vindo da Bahia até Alagoas. Apresenta várias as-
Clusiaceae e Orchidaceae, dos gêneros Vanilla e
sociações, com praias e dunas, vegetação herbácea
e ocorre desde o Rio São Francisco até o mangue Epidendrum. Aparecem muitas arbustivas que se

seco. Essa vegetação serve para fixar as areias das intercalam com plantas das famílias das Poaceae
dunas móveis. Entre essas, destacam-se salsa-da- e recobrem parte do solo. Nos campos de restinga,
praia, grama-da-praia, feijão da praia, capim-gen- aparecem as seguintes espécies: ananás, samam-
gibre, xique-xique ou guizo-de-cascavel. baia-da-praia, murici-da-praia e carrasco.

Mata Cap3 10NE.indd 168 2/23/06 11:23:58 PM


A vegetação dos campos de restinga reco- peiro, gonçalo-alves, cajueiro, louro e murici-
brem os solos de areias quartzozas marinhas dis- da-mata. As associações caducifólias mistas
tróficas e servem para fixar dunas móveis e tam- com a Caatinga são constituídas de espécies
bém o podzol. À medida que essa vegetação vai caducifólias relacionadas com a floresta atlân-
se distanciando da linha da preamar e penetrando tica e com espécies da Caatinga. A vegetação
para o interior, ela se miscigena com a vegetação dessa área é constituída, além de árvores de 10
arbórea da restinga, sendo substituída pela mata, a 15 metros de altura, por espécies arbustivas e
que é uma associação perenifólia pouco densa, herbáceas, dentre as quais aroeira, pau-d´arco,
cujas árvores têm altura de quinze metros. Como angico, mulungu-vermelho, cajazeira, jurema,

Os estados da Mata Atlântica


exemplo citamos angelim, cajueiro, oitizeiro-da- pau-de-leite, pau-ferro, braúna-da-mata, unha-
praia, pitombeira, palmeira-oroba, ouricurizeiro de-gato, cedro e trapiá.
e araçazeiros. A associação de plantas pode ser apenas
A associação campos de várzea é constituída de herbáceas ou, se essas criarem condições, ar-
de plantas herbáceas encontradas nos solos da mar- bustos e depois árvores, que pontilham esparsas.
gem direita do Rio São Francisco. É uma vegetação Com o decorrer dos anos, há uma regressão e as
densa, recoberta de gramíneas e ciperáceas que se plantas arbustivas suplantam as herbáceas e de-
encontram nos brejos ou pântanos, várzeas úmidas pois surgem árvores que conquistam toda a terra
e alagadas, ou nas margens dos cursos de água, retornando a vegetação natural primitiva. As
onde a água proveniente das chuvas se acumula e espécies herbáceas e arbustivas dos campos an- 169
onde a drenagem é insuficiente para o escoamen- trópicos são capim-papuã, capim-pé-de-galinha,
to. A vegetação é composta de plantas higrófilas capim-gengibre, capim-favorito, capim-seda,
e hidrófilas, assim discriminadas: piripiri, taboa, carrapicho-de-agulha, carrapicho-de-roseta,
aninga, junco, capim-papuã e capim-de-roça. capim-amargoso, capim-sapé, grama-de-burro,
Nas matas de várzea, aparecem algumas carrapicho-beiço-de-boi, capim-mão-de-sapo,
espécies caducifólias. Margeando as várzeas, os capim-de-raiz, anil, velamo-branco, rurema e
brejos ou pântanos, desenvolve-se uma associa- umbaúba.
ção de árvores com mais de 30 metros de altura, Os campos antrópicos podem surgir em qual-
de raízes tabulares, enquanto outras apresentam quer uma das associações perenifólias ou mistas
raízes superficiais longas, que buscam a água. A estacionais. Aparecem, nessas áreas, extensas pas-
copa das árvores é grande e aberta e sua vegetação tagens de capim-sempre-verde, capim-brachiária
é constituída de gameleira-branca, mulungu-bran- e capim-pangola.
co, canafístula, ingazeira. A fauna da Mata Atlântica é constituída das
As associações subperenifólias possuem seguintes espécies: paca, guaxinim, raposa, ca-
árvores de até 30 metros de altura e entre suas chorro-do-mato, tatupeba, veado-mateiro, teiú,
espécies encontram-se ingapoca, visgueiro, ja- camaleão, sagüi, macaco-guigó-de-sergipe, pre-
tobá, ouricuri, canafístula, amescla, taquara e guiça, gavião-carijó, urubu-de-cabeça-vermelha
pau-d’alho. e cobra-de-cipó.
As associações subcaducifólias apresen-
tam-se com árvores de até 20 metros de altura. A água e o homem
Entre as suas espécies, destacam-se frei-jorge,
Sergipe possui uma rede hidrográfica cons-
camondange, maçaranduba, sucupira, jenipa-
tituída por pequenas bacias fluviais, à exceção da

Mata Cap3 10NE.indd 169 2/23/06 11:24:01 PM


do Rio São Francisco, cujos limites se encontram As águas subterrâneas representam um
muito além da área em questão. precioso manancial de água doce e qualquer
Na região da Mata Atlântica, existem poluente que entre em contato com o solo pode
cinco bacias hidrográficas: Complexo Real- contaminá-las. Em Sergipe, os lençóis freáticos
Fundo-Piauí, Rio Vaza-Barris, Rio Sergipe, Rio são pouco profundos, facilitando a sua contami-
Japaratuba e Rio São Francisco. À exceção do nação. Há ocorrências crescentes de contamina-
Rio São Francisco, os rios apresentam regimes ção das águas subterrâneas com água salgada,
hidrológicos intermitentes nos trechos da região contaminadores microbiológicos e produtos quí-
Os estados da Mata Atlântica

semi-árida e agreste e são permanentes nas re- micos inorgânicos e orgânicos tóxicos, incluindo
giões úmidas, onde formam mananciais usados pesticidas. Práticas de irrigação têm elevado a
para abastecimento público, irrigação e recepção salinidade das águas subterrâneas à medida que
de efluentes industriais e domésticos. a água utilizada é retirada das áreas da costa.
A disponibilidade hídrica é escassa, agra- A exploração de petróleo e gás natural pode
vando-se no período de estiagem, como afirma contaminar as águas superficiais e os lençóis de
Ab’Saber em referência à drenagem: “Um magro águas subterrâneas, mistura de água salgada com
sistema de cursos d’água de áreas semi-áridas, água doce.
intermitentes e irregulares, dotado de fraquíssi- O desflorestamento nas áreas de bacias hi-

170 mo poderio energético e são desprotegidos do


quorum de precipitações anuais suficientes para
drográficas para obtenção de lenha e madeira para
uso doméstico e destinada ao uso comercial, além
os alimentar permanentemente”. das pastagens e práticas de cultivos inadequados,
O crescimento populacional, as exigências reduz a quantidade de água disponível durante as
crescentes por energia e alimentos estão impondo estações secas. Os solos erodidos, que descem
crescentes demandas aos suprimentos de água das áreas elevadas, causam a sedimentação das
disponível. Os sistemas de descarga dos detritos e represas, usadas na armazenagem de água e ge-
escoamento de esgotos urbanos e rurais, acrescidos ração de energia. O desmatamento está causando
das atividades industriais e de mineração, são as desertificação de grandes áreas antes com farta
principais fontes de poluentes tóxicos das águas. cobertura vegetal.

Lizaldo Vieira dos Santos, coordenador da


RMA e Coordenador do MOPEC (SE); e Maria
José dos Santos, do CUPIM (SE).

AMEAÇAS NO NE: págs. 199 e 227

PROJETOS NO NE: págs. 258 e 264

A REDE NA REGIÃO: págs. 289, 292, 295,


296 e 303

BIBLIOGRAFIA: pág. 319

Mata Cap3 10NE.indd 170 2/23/06 11:24:02 PM

Você também pode gostar