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E EDUCAÇÃO
CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD
Paideia: Tópicos de Filosofia e Educação – Prof. Ms. Artieres Estevão Romeiro, Prof. Ms.
Edson Renato Nardi, Prof. Ms. Marcos José Alves Lisboa e Prof. Ms. Ricardo Bazilio Dalla
Vecchia
Meu nome é Marcos José Alves Lisboa, nasci em Tietê, interior de São Paulo,
cidade que deixei para cursar filosofia (Graduação e Pós-graduação) na PUC-
Campinas. Em Campinas, fui professor de Filosofia na rede particular de ensino.
No ensino superior, lecionei na Universidade Metodista de São Paulo (São
Bernardo do Campo) para as disciplinas Filosofia e Ética e Cidadania para os
cursos de Graduação. No Centro Universitário Claretiano, atuei como docente
de filosofia para os cursos de licenciatura em Filosofia, Pedagogia e Matemática
e coordenador do curso de Licenciatura em Filosofia – EaD; além de participar
como pesquisador do CNPq (área de estudo: Ética Fenomenológica e Hermenêutica) e autor de
materiais didáticos para cursos EaD (Lógica I, Filosofia, História da Ciência e do Conhecimento,
Didática de Filosofia e Introdução à Filosofia).
Olá, amigos! Meu nome é Ricardo Bazilio Dalla Vecchia. Possuo Graduação em
Filosofia e em Letras, especialização em Educação e Letras e Mestrado em
Filosofia. Atualmente, desenvolvo minha pesquisa de doutorado em Filosofia no
IFCH-Unicamp, e sou membro do Grupo de Pesquisa CriM, do CNPq. Possuo
experiência em Ensino e Gestão de cursos de Graduação e Pós-graduação em
Filosofia, assim como em Educação a Distância.
E-mail: ricfilosofo@hotmail.com
Saudações aos navegantes! Meu nome é Edson Renato Nardi sou Filósofo e
Educador Físico, com mestrado (2010) em Educação pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho - Araraquara e, atualmente, doutorando pela
mesma instituição. Atualmente, atuo na coordenação da graduação em Filosofia
no Centro Universitário Claretiano. Atuo, também, na rede pública de ensino do
estado de São Paulo como professor efetivo nas disciplinas de Educação Física e
Filosofia. Possuo uma experiência de aproximadamente 20 anos em escolas
públicas na área de Ensino Fundamental e Médio. No presente momento, tenho focado meus estudos
na área de Estética e Escola de Frankfurt.
E-mail: coordenacao-filosofia@claretiano.edu.br
Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Claretiana, 2011 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013
100 P164
Paideia: tópicos de filosofia e educação / Artieres Estevão Romeiro... [et al.] – Batatais,
SP : Claretiano, 2013.
192 p.
ISBN: 978-85-67425-75-7
CDD 100
Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Martins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Rita Cristina Bartolomeu Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
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forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.
CRC
Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Conhecer o ambiente histórico dos pressupostos teóricos da Educação, na Gré-
cia Antiga, visando compreender as características culturais, econômicas e so-
ciais e, para isso, partiremos da Grécia pré-homérica (século 20 a.C.) até o Perí-
odo Clássico (século 4º a.C.). Analisar a influência dos sofistas na Grécia antiga
e identificar as principais questões ligadas à Educação; as principais escolas e
pensadores, bem como os principais conceitos da Filosofia antiga no que tange
à Educação, salientando a decisiva função que tiveram na época. Desenvolver
um olhar crítico diante da realidade educacional atual, principalmente compre-
endendo-a como fruto de um processo histórico, intrinsecamente vinculado ao
pensamento filosófico contemporâneo.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1. INTRODUÇÃO
A origem do conceito Paideia está na antiguidade clássica
grega. É a herança grega dos pressupostos do que, hoje, denomi-
namos Educação. Infelizmente, nos dias atuais costuma-se atribuir,
equivocadamente, esses fundamentos às contribuições de pensa-
dores modernos e às vezes contemporâneos das diversas áreas do
conhecimento. É em virtude dessa visão desfocada da realidade
10 © Paideia: Tópicos de Filosofia e Educação
Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rápi-
da e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom
domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de co-
nhecimento dos temas tratados no CRC Paideia: Tópicos de Filoso-
fia e Educação. Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos:
1) Ágora: lugar aberto onde se realizavam as assembleias
nas antigas cidades-estados gregas. Especificamente no
caso de Atenas, a ágora acabou tornando-se símbolo da
democracia grega, pois nela participavam aqueles que
eram considerados cidadãos atenienses.
2) Areté: de modo geral, corresponde a uma espécie de Ex-
celência, ou seja, a necessidade de preenchimento de
uma certa função ou objetivo. Dito de outro modo, se
estabelecermos um parâmetro de Excelência e vivermos
em busca da construção e aproximação desse parâme-
tro, estamos buscando a construção de nossa Areté.
Nessa palavra, está presente a ideia de que deveríamos
viver da melhor forma que poderíamos, ou, ainda, em
busca do mais valoroso potencial humano.
3) Etnocentrismo: conceito muito utilizado contempora-
neamente, pois trata de questões que, na atualidade,
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como re-
lacioná-las com a prática do ensino de Filosofia pode ser uma forma
de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução de
questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando
para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma
maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir
uma formação sólida para a sua prática profissional.
Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um gabari-
to, que lhe permitirá conferir as suas respostas sobre as questões
autoavaliativas de múltipla escolha.
Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus
colegas de turma.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
Dicas (motivacionais)
O estudo deste CRC convida você a olhar, de forma mais apu-
rada, a Educação como processo de emancipação do ser humano.
É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas
e científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem
como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-
partilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se
descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a
notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto,
uma capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno dos cursos de Graduação na modalidade
EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente.
Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor
presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-
mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades
nas datas estipuladas.
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
COSTA FILHO, I. C. Etnocentrismo, comunição e cultura popular. Revista da FA7, v. 1, 2006.
JAEGER, W. Paidéia: a formação do homem grego. Tradução de Artur M. Parreira. São
Paulo: Martins Fontes, 2001.
JUSSI, B. Logocentrism and the gathering y: Heidegger, Derrida, and contextual centers of
meaning. Research in Phenomenology, v. 42, n. 1 p. 67-91, 2012.
MERTON, R. K. On the shoulders of giants: a Shandean postscript. Chicago: University of
Chicago Press, 1993.
MORA, J. F. Dicionário de Filosofia. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1970.
SUMNER, W. G. Folkways and Mores. In: MIZRUCHI, E. H. (Org). The substance of sociol-
ogy: codes, conduc and consequences. New York: Meredith Corporation, 1973.
EAD
Unidade 1
Do µῦθος ao λογος:
uma análise do
1
nascimento da
Filosofia ocidental
1. OBJETIVOS
• Reconhecer e comentar sobre a importância da origem da
Filosofia para a compreensão do fenômeno educacional
grego.
• Examinar e comentar sobre a passagem do mito para o
logos.
• Contextualizar historicamente a passagem do mito ao
logos, com ênfase aos séculos precedentes ao século 6º
a.C. (quando se convenciona o nascimento da Filosofia),
tratando-se, também, das hipóteses que envolvem esse
momento.
• Analisar as influências de Hesíodo e, sobretudo, de Ho-
mero no "nascimento" da Paideia grega.
• Especular e enumerar as principais características da Pai-
deia grega desse período.
32 © Paideia: Tópicos de Filosofia e Educação
2. CONTEÚDOS
• Período Pré-homérico.
• Período Homérico.
• Período Arcaico.
• Período Clássico.
• Religião Pública.
• Religião dos Mistérios (orfismo).
• Mito.
• Do mito ao logos.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
O desenvolvimento do pensamento lógico é, certamente,
um fator único em toda a história da humanidade. Graças a ele, o
homem pôde construir coisas nunca antes imagináveis, dentre as
quais enfocamos a Filosofia e a Educação.
Com o advento do pensamento filosófico, há uma revolução
radical na forma do homem se posicionar diante do mundo e dele
mesmo, e isso influencia diretamente todas as dimensões de sua
existência.
Nesse primeiro momento, cuidaremos da mudança paradig-
mática decorrente do nascimento da Filosofia, para só então, nas
próximas unidades, tratar de questões mais específicas ao univer-
so da formação educacional.
Problema originário!
Por que e como surgiu a Filosofia? Ou de forma mais global, quais
as condições que possibilitaram o advento do pensamento racio-
nal?
5. LEVANTAMENTO HISTÓRICO
Compreendendo a história como um organismo vivo e dire-
tamente atuante em nossa existência, optamos inicialmente por
confeccionar uma breve retomada histórica, que nos fornecerá os
Período Pré-homérico
O Período Pré-homérico (século 20 a.C.-12 a.C.) foi palco da
chegada dos povos que configurariam por definitivo a formação
da Grécia, dentre eles os aqueus, seguidos dos jônios e dos eólios,
que foram se instalando nas ilhas do mar Egeu e por todo o litoral
da Ásia Menor.
Os aqueus, com suas férteis terras, construíram diversas ci-
dades, dentre elas a importante cidade de Micenas. Com o tempo,
passaram a estabelecer contato com a população da ilha de Creta,
que era pioneira nos ramos comercial e marítimo. Essas relações
possibilitaram uma considerável expansão dos aqueus, pois eles
passaram a dominar, dentre outras coisas:
• a arte da navegação,
• a metalurgia do bronze, e
• o uso da escrita.
Em aproximadamente 1100 a.C., os dórios, servidos de suas
armas de ferro, atacaram o povo aqueu, ocasionando uma fuga
das populações para o interior do continente, o que ficou conhe-
cido como a primeira diáspora grega, que deu origem aos génos
(γένοσ), que representavam grandes famílias ou clãs. Com o surgi-
mento dos génos, inicia-se o Período Homérico.
© U1 - Do µῦθος ao λογος: uma análise do nascimento da Filosofia ocidental 37
Período Homérico
Esse período foi nomeado "homérico" porque o que sabe-
mos dele nos é trazido por intermédio das obras Ilíada e Odisséia,
atribuídas ao poeta Homero. Adiante, iremos nos dedicar a anali-
sar algumas das principais contribuições de Homero para a Paideia
e para a Filosofia grega, mas, antes disso, convém contextualizar-
mos esse período.
Uma das principais marcas do período, além da invasão dos
dórios, foi a existência do génos. Os génos possuíam terras em co-
mum e sua agricultura era dirigida unicamente à subsistência dos
moradores. Eles eram liderados pelo homem mais velho do clã,
em um regime de poder patriarcal. Há relatos, ainda, de que nos
génos havia um culto aos antepassados, que eram considerados
heróis ou descendentes dos deuses gregos.
Aproximadamente, nos quatro séculos que compreendem
o Período Homérico, uma crise generalizada desencadeou-se na
estrutura dos génos, devido, entre outras coisas, ao crescimento
populacional que gerou a divisão da terra e dos bens.
Com o crescimento populacional, as terras férteis não mais
suportavam a demanda, gerando uma escassez de alimentos que
culminou em vários conflitos pelo direito do uso da terra, iniciando
um processo de privatização das propriedades.
Como consequência das sociedades privadas, nasceu a de-
sigualdade social, a divisão em classes e o individualismo, bem
como a escravidão. No intuito de se restabelecerem os génos, os
gregos uniram-se em grandes tribos.
Essas tribos instalaram-se em cumes, cercando-se por ver-
dadeiras muralhas. Esses locais receberam o nome de acrópole,
em torno da qual se formaram várias cidades, dentre elas, Atenas,
Esparta e Tebas.
A economia começou a crescer e, no final do Período Ho-
mérico, com a utilização da escrita e da moeda, as cidades ressur-
Período Arcaico
O Período Arcaico desenvolveu-se do século 8° ao século
6º a.C. Suas principais marcas foram a presença das cidades-
-estado, ou pólis (ver as figuras 1, 2 e 3), que possuíam governos
próprios e limites definidos, mantendo entre si relações diplo-
máticas. O período é marcado, também, pelo início da coloniza-
ção grega nas regiões vizinhas.
Nesse período, surgiu o alfabeto grego, que propiciou o apa-
recimento da Literatura e da Filosofia, fortalecendo o sistema cul-
tural vigente até então.
© U1 - Do µῦθος ao λογος: uma análise do nascimento da Filosofia ocidental 39
Período Clássico
O Período Clássico foi um dos mais conturbados da história
grega, pois ao mesmo tempo em que as cidades-estado atingiam
seu auge econômico e cultural, eclodiam algumas guerras que as
devastavam. Nesse sentido, sugerimos a você que investigue algu-
mas dessas guerras e, em especial, a guerra do Peloponeso (431
a.C.-404 a.C.), pois essa guerra especificamente trouxe uma série
de desdobramentos importantes para a discussão filosófica.
Nesse período, emergiram grandes sistemas filosóficos,
como o platonismo e o aristotelismo, além de diversas outras mu-
danças e expansões no campo artístico e literário.
Figura 1 Atenas.
Figura 2 Esparta.
Figura 3 Tebas.
Estrutura da imaginação
Diferente de outras narrativas de outros povos, as obras de
Homero não se preocupam apenas em descrever o monstruoso e
o disforme; pelo contrário, a estruturação dos poemas homéricos
traz consigo:
1) Harmonia;
2) Eurritmia;
3) Proporção;
4) Limite;
5) Medida.
Atributos que dão consistência à obra de Homero e garan-
tem a ela uma "verossimilhança", no sentido de ser uma obra que
apresenta nexo entre suas partes.
Cabe frisar que essas características posteriormente se con-
figurarão como constitutivas da própria estrutura do pensamento
grego e, por extensão, ocidental.
Arte da motivação
Figura 6 Aquiles cura Pátroclo (detalhe de vaso datado) cerca de 500 a.C. Aquiles é o herói
da Ilíada.
Expressão da realidade
A obra de Homero, em seu tratamento mítico e discursivo da
realidade, preocupa-se em apresentar a totalidade da existência,
bem como o papel do ser humano diante do mundo.
Tanto a expressão da totalidade quanto a definição do papel
humano são marcas ímpares da Filosofia. Por exemplo, o pensa-
mento moderno, ansiando investigar meticulosamente as coisas,
fatos e fenômenos, criou o chamado "especialista", que se ocupa
de uma faceta muito específica de um problema.
Já os filósofos, em especial os antigos, buscam conhecer os
fatos, coisas e fenômenos em sua totalidade, de forma a construir
uma visão unitária do mundo.
Com o exposto, você observou algumas características da
obra de Homero e Hesíodo. Vamos agora investigar outros traços
importantes para o nascimento da Filosofia.
Como nos propusemos anteriormente, vamos conhecer a
religião grega para tentar compreender em que sentido ela cola-
borou para o nascimento da Filosofia.
© U1 - Do µῦθος ao λογος: uma análise do nascimento da Filosofia ocidental 49
7. RELIGIÃO
Religião pública
A religião pública possui algumas subdivisões, como a natu-
ralista, a antropomórfica e a hierofânica. Vamos distingui-las.
Naturalista
De acordo com a vertente naturalista, os homens deveriam
agir conforme a sua natureza por honra aos deuses, ou seja, para
honrar aos deuses os homens deveriam se esforçar por serem de-
masiadamente humanos.
Antropomórfica
Os deuses são forças naturais calcadas em formas humanas.
Eles se zangam, brigam, divertem-se etc. Para entender melhor
o que são os deuses gregos, recorreremos mais uma vez a Reale
(1993, p. 21):
Mas quem são esses deuses? São – como há tempo se reconheceu
acertadamente – formas naturais diluídas em formas humanas ide-
alizadas, são aspectos do homem sublimados, hipostasiados; são
forças do homem cristalizadas em belíssimas figuras. Em suma: os
deuses da religião natural grega são homens amplificados e ideali-
zados; são, portanto, quantitativamente superiores a nós, mas não
qualitativamente diferentes. Por isso a religião grega é certamente
uma forma de religião naturalista.
Hierofânica
De acordo com a vertente hierofânica, todos os eventos são
manifestações do divino, são obras dos deuses – hieros, do grego,
significa "sagrado".
Comenta Reale (1993, p. 21):
Todos os fenômenos naturais são promovidos por numes: os tro-
vões e os raios são lançados por Zeus do alto do Olimpo, as ondas
do mar são levantadas pelo tridente de Poseidon, o sol é carregado
pelo áureo carro de Apolo, e assim por diante.
8. MITO
Figura 10 Édipo interrogado pela Esfinge. Figura 11 Ânfora ática, decorada com
Héracles e o touro Minos.
Figura 13 Deus grego Ares a caminho de seu encontro com Vênus - Lambert Sustris (1515-1584).
Origem da mitologia
Para adentrar essa questão, optamos por nos fazer a mesma
pergunta que se fez Bulfinch (1999, p. 352) em seu Livro de Ouro
da Mitologia, a saber: "De onde vieram aquelas lendas? Têm algum
fundamento na verdade, ou são apenas sonhos da imaginação?".
A pergunta de Bulfinch é instigante e nos leva a pensar toda
a mitologia. Tal pergunta já recebeu algumas respostas por diver-
sos estudiosos, cada qual solucionando de maneira diversa tão in-
trigante problema. Veja a seguir algumas teorias para respondê-la.
Teoria bíblica
A teoria bíblica postula que:
[...] todas as lendas mitológicas têm sua origem nas narrativas das
Escrituras, embora os fatos tenham sido distorcidos e alterados.
Assim, Deucalião é apenas um outro nome de Noé, Hércules de
Sansão, Árion de Jonas etc. [...] o dragão que guarda os pomos de
ouro era a serpente que enganou Eva (BULFINCH, 1999, p. 352).
9. DO MITO AO LOGOS
Para dar o tom de nossa análise, experimente observar o co-
mentário de Jaeger, em sua Paideia:
Não e fácil traçar a fronteira temporal do momento em que surge
o pensamento racional. Passaria, provavelmente pela epopéia (Po-
ema que narra ações grandiosas) homérica. No entanto, nela é tão
estreita a interpenetração do elemento racional e do "pensamen-
to mítico", que mal se pode separá-los. Uma análise da epopéia, a
partir deste ponto de vista, nos mostraria quão cedo o pensamento
racional se infiltra no mito e começa a influenciá-lo.
[...]
O início da filosofia científica não coincide, assim, nem com o prin-
cípio do pensamento racional nem com o fim do pensamento míti-
co. Até porque, mitogonia autêntica ainda encontramos na filosofia
de Platão e na de Aristóteles. São exemplos, o mito da alma em
Platão, e, em Aristóteles, a idéia do amor das coisas pelo motor
imóvel do mundo (JAEGER, 2003, p. 191-192).
Gabarito
1) a.
2) e.
3) d.
4) c.
5) e.
12. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 Atenas. Disponível em: <http://www.abiyoyo.com/articles/2969_dove_
dormire_ad_atene.html>. Acesso em: 18 abr. 2012.
Figura 2 Esparta. Disponível em: <http://www.diariodelviajero.com/europa/esto-es-
esparta>. Acesso em: 18 abr. 2012.
Figura 3 Tebas. Disponível em: <myopera.com>. Acesso em: 30 jan. 2012.
Figura 4 Hesíodo. Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/dh/heros/traductiones/
hesiodo/index.html>. Acesso em: 18 abr. 2012.
Figura 5 Homero. Disponível em: <http://educaterra.terra.com.br/voltaire/
antiga/2004/05/14/001.htm>. Acesso em: 30 jan. 2012.
Figura 6 Aquiles cura Pátroclo (detalhe de vaso datado) cerca de 500 a.C. Aquiles é o
herói da Ilíada. Disponível em: <http://www.consciencia.org/iliada-homero-resumo>.
Acesso em: 18 abr. 2012.
Figura 7 Ganimedes e a águia de Zeus, escultura de Bertel Thorvaldsen, 1817.
Disponível em: <http://wwwpoetanarquista.blogspot.com.br/2012/03/escultura-bertel-
thorvaldsen.html>. Acesso em: 18 abr. 2012.
Figura 8 Vaso grego mostrando Ulisses (Odisseu) enfrentando as sereias. Disponível em:
<http://blig.ig.com.br/filosofia_sergipe/2009/10/29/ulisses-e-o-canto-das-sereias/>.
Acesso em: 18 abr. 2012.
Figura 9 Orfeu, poeta e músico na mitologia grega. Disponível em:
< h tt p : / / w w w. e d u c a d o r e s . d i a a d i a . p r. g o v. b r / m o d u l e s / my l i n k s / v i e w c a t .
php?cid=10&letter=O&min=20&orderby=titleA&show=10>. Acesso em: 18 abr. 2012.
Figura 10 Édipo interrogado pela Esfinge. Disponível em: <http://artegriego.galeon.com/
ceraetap.html>. Acesso em: 18 abr. 2012.
Figura 11 Ânfora ática, decorada com Héracles e o touro Minos. Disponível em: http://
www.molinfan.com/Sitios/historia_del_arte/Web_GreciaRoma/index.html. Acesso em:
18 abr. 2012.
Figura 12 Aquiles e Ayax jogando os dados. Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/dh/
heros/mithistoria/ensaios/melhoraqueus.html>. Acesso em: 18 abr. 2012.
Figura 13 Deus grego Ares a caminho de seu encontro com Vênus - Lambert Sustris (1515-
1584). Disponível em: <http://www.greek-gods.info/greek-gods/ares/ares-paintings.
php>. Acesso em: 1º jun. 2012.
Sites pesquisados
ROMILLY, J. Os deuses tudo podem; os homens tudo arriscam. Disponível em: <http://
greciantiga.org/arquivo.asp?num=0084>. Acesso em: 30 jan. 2012.
ROSEN, R. M. Homer and Hesiod. Disponível em: <http://repository.upenn.edu/cgi/view-
content.cgi?article=1006&context=classics_papers>. Acesso em: 30 jan. 2012.
SHIGUNOV NETO, A.; NAGEL, L. H. Transformação social e concepções de homem e tra-
balho. (De Homero a Hesíodo). Revista Eletrônica de Ciências da Educação, v. 1, n. 1,
2002. Disponível em: <http://revistas.facecla.com.br/index.php/reped/article/viewFi-
le/483/372>. Acesso em: 30 jan. 2012.
2
1. OBJETIVOS
• Compreender e delimitar o conceito de Areté (άρετή), de
Aristós (άριστός), Kalós (kαλός), Agathós (άγαθός) e de
Paideia.
• Reconhecer a relação entre Areté e Nobreza.
• Examinar a proposta de Areté presente nas obras de Ho-
mero e Hesíodo.
• Reconhecer e examinar a relação entre Estado, Educação
e Nobreza.
2. CONTEÚDOS
• Areté.
• Aristós.
• Agathós.
70 © Paideia: Tópicos de Filosofia e Educação
• Kalós.
• Questão da forma no antropocentrismo do povo grego na
Antiguidade.
• Estado, Educação e Nobreza no período Homérico.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Você estudou, na Unidade 1, as condições que possibilitaram
o surgimento do povo grego e, além disso, o surgimento da Filoso-
fia grega. Agora, com base nesses pressupostos, vamos iniciar nos-
sas investigações filosóficas sobre o fenômeno da Educação grega.
Esse estudo tem por objetivo apenas apontar, em linhas ge-
rais, o processo de formação do homem grego. Por se tratar de um
estudo complexo e muito denso, não será possível, neste modesto
caderno de referência, ir além de alguns tópicos que julgamos im-
portantes para se compreender a Educação atual.
O processo de formação dos gregos não é somente histórico,
mas também espiritual (no sentido mais amplo dessa palavra, con-
forme a obra Antropologia filosófica, de E. Cassirer), que culminou
no conceito do que hoje denominamos "Humanidade".
A cultura grega, assim como a romana, constitui o berço da
civilização ocidental. Bastaria, por exemplo, examinarmos algumas
das palavras do vocabulário da língua portuguesa para reconhe-
5. OS GREGOS E A EDUCAÇÃO
Seguindo, então, pelo caminho apontado por Jaeger, fare-
mos referências concisas baseando-nos em sua própria obra e
outras necessárias à compreensão do fenômeno educativo dos
© U2 - Antiguidade clássica grega e a Educação 73
em toda a sua plenitude aquilo que são. Ora, o ser humano, dadas
as características que possui e, em especial a racionalidade, acaba
por possuir uma peculiaridade que vai além da mera manifestação
anímica e, segundo esse autor, é exatamente na Educação que se
manifestaria toda essa complexidade e grandeza humana.
Isso exposto, podemos dizer que é por meio da Educação
que temos o aprimoramento de todas as qualidades, sejam elas
físicas ou espirituais, que nos caracterizam como humanos.
Conceito de Educação
Das pistas fornecidas por Jaeger é possível então que realize-
mos juntos alguns questionamentos:
• O que podemos entender sobre o conceito de Educação?
• Esse conceito coincide com o que você já estudou ante-
riormente?
• Outras disciplinas que você estudou apontaram para esta
direção?
Para que comecemos a lidar com essas questões, considera-
mos importante que lidemos com outro aspecto e esse se refere ao
caráter individual e coletivo da Educação. Devemos, portanto, exa-
minar a relação, os laços entre a comunidade e o indivíduo, isto é,
entre o coletivo e o particular no contexto próprio da Educação, pois
disso deriva a importância universal dos gregos como educadores.
Além disso, não podemos perder de vista o conceito de cul-
tura, porque é sobre ele que se assenta a estrutura da sociedade
tal como é constituída, imbuída de valores, regras, normas, cren-
ças, ritos, linguagem, comportamento, nas artes, na religião etc. E
notadamente marcada, localizada e condicionada pelas noções de
tempo e espaço.
Analise atentamente algumas indagações que podemos nos
fazer relacionadas à Educação e identificação do conceito de cul-
tura na Grécia:
© U2 - Antiguidade clássica grega e a Educação 75
6. NOBREZA E ARETÉ
Com o mesmo subtítulo da obra, Paidéia: a formação do ho-
mem grego, de Werner Jaeger, objetivamos revelar a mesma temá-
tica. Trata-se da relação entre a nobreza e o conceito de Excelência.
pleno, realizado ou, para usar os termos com que estamos lidando,
você se sentiria melhor ou excelente?
Ao fazer esse exercício, você começa a estabelecer uma ideia
daquilo que você considera como excelente e valoroso ou para fa-
zermos uso da terminologia grega, você acaba por começar esta-
belecer qual seria a sua Areté.
Do que foi dito, é possível então que caminhemos um pouco
mais e analisemos o desenvolvimento desse significado ao longo
da história grega, pois, como mostraremos a seguir, a definição da-
quilo que seria a Areté sofreu profundas mudanças ao longo do
processo de construção da cultura grega antiga.
Inicialmente podemos dizer que, como vimos na Unidade 1
deste CRC, o povo grego, no período homérico, era educado, tendo
como elemento de referência as produções de Homero e Hesíodo
e, nesse sentido, qual seria as qualidades que estavam presentes
nessas obras e, em especial, na obra de Homero?
7. A ARETÉ HOMÉRICA
Para darmos conta da Areté nas obras de Homero, convida-
mos você a analisar as seguintes considerações apresentadas por
Vilanou:
É claro que os gregos – com Homero à frente – inventaram a civi-
lização européia ao destacar a importância do indivíduo que se
definia pela areté, quer dizer, por sua excelência pessoal. Deste
modo, Homero colocou as bases do humanismo europeu porque
suas obras – a Ilíada e a Odisséia – tem definido a origem de uma
vida que destaca um catálogo de virtudes morais e espirituais que
teriam – como sucedeu com todo o helenismo – o objetivo de pro-
mover a dignidade do ser humano. Tanto é assim que a Paideia
equivale a um processo educativo que encaminha os homens até
a virtude (Areté) entendida como sinônimo de excelência humana
(VILANOU, 2001, p. 3).
8. A ARETÉ EM HESÍODO
Conforme o que havíamos discutido na Unidade 1, Homero
e Hesíodo acabaram por encaminhar a formação cultural do povo
grego. No entanto, há de se apresentar algumas diferenças impor-
tantes sobre essas duas grandes personalidades.
Enquanto Homero acabou por contribuir com um ideal de
Areté que encontrou ressonância, sobretudo, na elite grega que
via na figura do herói guerreiro um ideal de nobreza que propi-
ciaria a Excelência, Hesíodo acabou por apresentar uma proposta
de Excelência voltada para uma população que não tinha no ideal
cavalheiresco um parâmetro para suas vidas, pois enquanto este
ideal era possível apenas para uma pequena parcela da população
que podia se dedicar a esses ideais, existia outra parcela da popu-
lação que se dedicava apenas ao trabalho.
© U2 - Antiguidade clássica grega e a Educação 85
9. A PAIDEIA GREGA
No início desta unidade, vimos uma série de elementos vin-
culados ao conceito de Educação. Apresentamos de forma um
tanto quanto sucinta questões referentes à Educação e formação,
Educação e cultura, indivíduo e sociedade e, por fim, o homem e
a Educação. No entanto, muitos aspectos de nossa argumentação
ficaram como que suspensas no ar, pois, para tratar adequada-
mente dos mesmos, era necessário que houvesse a apropriação
do conceito de Areté e, em razão disso, lhe foi apresentado o con-
ceito de Areté em Homero e Hesíodo.
© U2 - Antiguidade clássica grega e a Educação 87
A Paideia em Homero
No princípio, se tomarmos como exemplos as epopeias de
Homero, poderemos notar que a Areté está intimamente relacio-
nada à aristocracia cavalheiresca. Vemos nas figuras de Heitor,
Aquiles e Ulisses exemplos clássicos. É da nobreza grega, portanto,
que nasce esse ideal de homem e que modela o mundo aristocrá-
tico à sua própria imagem.
A Areté designa nas obras do poeta Homero não somente
a Excelência dos seres humanos, mas também dos deuses. Os es-
cravos não têm Areté. O que nos leva à conclusão de que a Areté
homérica, como o próprio Jaeger já havia nos revelado, é atributo
somente da nobreza ou da aristocracia.
O sentido de dever é, nos poemas homéricos, uma característica
essencial da nobreza, que se orgulha por lhe ser imposta uma me-
dida exigente. A força educadora da nobreza reside no fato de des-
pertar o sentimento do dever em face do ideal, que deste modo o
indivíduo tem sempre diante dos olhos (JAEGER, 1995, p. 28).
foi que não havia desculpas fictícias. O único caminho para o su-
cesso era um trabalho árduo. Ninguém tinha-o como um direito
de nascença.
Gabarito
1) e.
2) d.
3) c.
4) b.
5) a.
© U2 - Antiguidade clássica grega e a Educação 99
14. E-REFERÊNCIA
Site pesquisado
PATRÍCIO, M. F. Perenidade da Aretê como horizonte apelativo da Paideia. Sobre a Excelência
em Educação. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto. Disponível em: <http://www.
scielo.oces.mctes.pt/pdf/rpcd/v8n2/v8n2a10.pdf>. Acesso em: 2 fev. 2012.
COAD, G. (2006). A philosophical inquiry into the development of the notion of Kalos
Kagathos from Homer to Aristotle (Master’s thesis). Fremantle: University of Notre Dame
Australia, Fremantle, WA, 2006. (Tese de Mestrado).
GOERGEN, P. De Homero e Hesíodo ou das origens da Filosofia e da Educação. Revista
Pro-Posições, v. 17, n. 3, p. 181-198, set./dez. 2006.
GLOTZ, G. A cidade grega. São Paulo/Rio de Janeiro: Difel, 1980.
GRAVES, R. Deuses e heróis do Olimpo. Tradução de Bárbara Heliodora. Rio de Janeiro:
Xenon, 1992.
HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. Tradução de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras,
1995.
______. Os trabalhos e os dias. Tradução de Mary de Camargo Neves Lafer. São Paulo:
Iluminuras, 1991.
HIRSCHBERGER, J. História da Filosofia na antiguidade. São Paulo: Herder 1965.
KIRK, G. S. Os filósofos pré-socráticos: história crítica em seleção de textos. 4. ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1994.
JAEGER, W. Paidéia: a formação do homem grego. Tradução de Artur M. Parreira. São
Paulo: Martins Fontes, 2001.
NIETZSCHE, F. A Filosofia na idade trágica dos gregos. Tradução de Artur Mourão. Lisboa:
Edições 70, 1987.
PETIT, P. História antiga. Tradução de Pedro Moacyr Campos. 6. ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1989.
REALE, G. História da Filosofia antiga: das origens a Sócrates. Tradução de Marcelo
Perine. São Paulo: Loyola, 1993. v. 1.
VERNANT, J.-P. Mito e pensamento entre os gregos. Tradução de Sarian Haiganuch. 2. ed.
São Paulo: Paz e Terra, 2002.
______. Origens do pensamento grego. Tradução de Isis Lana Borges. São Paulo: Difel,
1972.
VERNANT, J.-P; VIDAL-NAQUET, P. Mito e tragédia na Grécia antiga. São Paulo:
Perspectiva, 2005.
VILANOU, C. Da Paidéia à Bildung: para uma pedagogia hermenêutica. Revista Portuguesa
de Educação. v. 14, n. 2, 2001.
EAD
Filosofia prática ou sobre
os sofistas
3
1. OBJETIVOS
• Contextualizar o período histórico e filosófico em que se
apresentou o surgimento dos sofistas.
• Delimitar algumas das características da Paideia no perí-
odo de Péricles.
• Estabelecer vínculo entre a democracia grega na época de
Péricles e a importância dos sofistas.
• Analisar e compreender a Areté educativa dos sofistas.
• Classificar e examinar a Paideia sofística.
• Analisar e interpretar a Areté política.
• Compreender e justificar o ideal humano da pólis grega.
• Analisar e distinguir criteriosamente a oposição entre
Nomós e a Physis.
• Compreender e relacionar o conceito de natureza huma-
na com a Filosofia.
102 © Paideia: Tópicos de Filosofia e Educação
2. CONTEÚDOS
• O período clássico grego.
• A democracia grega e cultura grega no discurso fúnebre
de Péricles.
• Os sofistas.
• Areté educativa.
• Areté política.
• Nomós.
• Physis.
• Estado e Educação.
• O conceito de natureza humana.
• Paideia sofística.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, você estudou o desenvolvimento da
Areté nos tempos homéricos e seus desdobramentos manifesta-
dos na Paideia daquele período. Agora, iremos conhecer outro
momento da Paideia grega: o chamado "Período Clássico".
Esse período que começa com a chamada "guerra persa"
(490-479 a.C.) e termina com a morte de Alexandre o Grande (323
a.C.), embora tenha sido um momento em que aconteceram mui-
tas guerras, foi o período onde, para muitos, aconteceu o milagre
grego, pois as inovações que surgiram nesse momento na literatu-
ra, poesia, filosofia, drama e artes acabaram por marcar sobrema-
neira nossa herança cultural. Dentre outros acontecimentos, nesse
período, ocorre o surgimento da Filosofia, o apogeu político cul-
tural da cidade de Atenas e, ainda, o surgimento da democracia.
Especificamente esse último aspecto traz, também ,a presença de
uma corrente filosófica chamada "sofista".
Muitos filósofos sofistas viveram no chamado "período áu-
reo", quando se deu o governo do grande líder ateniense Péricles
(495 a.C.-429 a.C.) e a população ateniense viveu o auge do regime
democrático.
6. ANTECEDENTES DO SOFISMO
Antes de iniciarmos nossos estudos acerca dos sofistas, é
preciso relembrar a tradição filosófica que os sofistas herdaram, a
chamada "Filosofia Pré-socrática".
Especificamente neste CRC é importante destacar que, no
Período Clássico, se dá o surgimento da Filosofia, nítida sobrepo-
sição de pensamentos, cada filósofo apresenta uma tese de forma
que não encontramos consenso nos discursos. Cada filósofo acaba
por apresentar propostas diferentes a respeito da origem das coi-
sas ou ainda percebiam e definiam aquilo que será considerado
como ser de forma diametralmente oposta.
Essas características presentes no pensamento Pré-socrático
acabaram por fazer com que a falta de consonância entre os pen-
sadores gerasse uma inquietação e a necessidade de uma resposta
clara por parte dos filósofos sofistas.
7. A FILOSOFIA SOFISTA
Os sofistas são personagens marcantes e pouco compreen-
didos na História da Filosofia.
A imagem mais usual disseminada a respeito dos sofistas é
a de pessoas falsas, dissimuladas, que fingem ser detentoras da
verdade. Essa imagem, porém, não é a mais adequada. Vamos pro-
curar compreender quem foram e o que pensavam, de fato, os
sofistas.
Veja um relato de Henry Sidgwick (1872) sintetizando a opi-
nião acadêmica do período sobre os sofistas:
© U3 - Filosofia prática ou sobre os sofistas 109
9. A REVOLUÇÃO SOFÍSTICA
Com os sofistas, houve uma democratização do ensino, que
até então era apenas destinado à aristocracia. Até o jovem pobre
poderia juntar suas reservas para receber aulas. A preocupação
dos sofistas abarcava os problemas humanos acerca do nómos, ou
das convenções sociais. Houve o fim de todo tipo de manutenção
do status quo. Passou-se a considerar que tudo é fruto de significa-
ção e não de designação, e que aquilo que se sabia das coisas era
fruto de crença e não de conhecimento.
Essas mudanças, porém, não se deram por acaso. Veja o que
relata, por exemplo, Villagra Diez (2002, p. 9, tradução nossa):
Pouco a pouco deixa-se para trás a aristocrática arete pindárica e
se substitui por uma paidéia que aposta em um duplo objetivo: por
um lado, fazer membros da sociedade a todos os homens livres e,
por outro, torná-los aptos a servir ao estado. A cultura torna-se,
então, político-pedagógica. Nesse contexto, surge a educação so-
fista, ainda que, na verdade, esta se oriente à formação daqueles
capazes tanto de fazer cumprir as leis vigentes, quanto de criar
novas leis, para o qual é necessário a intelecção dos assuntos hu-
manos. Com efeito, um homem dedicado à política, além de pos-
suir qualidades para governar, deve incrementar sua capacidade
de pronunciar discursos oportunos e convincentes. Em um estado
democrático que se funda a assembléia pública e a liberdade da
palavra, a oratória se apresenta como uma prática indispensável.
Em uma palavra, necessita-se educar no logos.
© U3 - Filosofia prática ou sobre os sofistas 113
Poucos escritos dos sofistas chegaram até nós, mas seus tex-
tos eram tidos como manuais de estudo, com conteúdo educacio-
nal, portanto, sua preocupação era de atuação pública, eles não
eram literários preocupados em deixar obras para a posteridade.
Gabarito
1) e.
2) a.
3) d.
4) c.
5) e.
14. CONSIDERAÇÕES
Vimos juntos as contribuições trazidas pelos sofistas para
pensarmos o conceito de Paideia. Como você pôde perceber, es-
ses pensadores trouxeram importantes modificações no que tange
15. E-REFERÊNCIAS
Sites pesquisados
GÓRGIAS. Sobre o não-ser ou sobre a natureza. Disponível em: <http://www.hottopos.
com/geral/sofis.htm>. Acesso em: 18 abr. 2012.
HAASE, F-A. Style and the "idea" of the sophist in the time after Plato. Ágora: Estudos
Clássicos em Debate, n. 11, 2009. Disponível em: <http://www2.dlc.ua.pt/classicos/4.
Haase.pdf>. Acesso em: 14 fev. 2012.
MARTINS, J. S. O método sofístico e o ensino da Filosofia. Ágora: revista eletrônica. Disponível
em: <http://www.ceedo.com.br/agora/agora10/ometodosofisticoeoensinodafilosofia_
JassonMartins.pdf>. Acesso em: 14 fev. 2012.
2. CONTEÚDOS
• Método.
• Educação para a pólis.
• Maiêutica.
• Protágoras.
• A República.
• A Teoria das Ideias.
• Areté e Paideia.
• Areté política.
• O homem e a pólis em Aristóteles.
• Humanismo romano.
• Paideia Christi.
• A Bildung contemporânea.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, você estudou em que consiste a Paideia
sofística e os seus valores em Educação, cuja finalidade era superar
o modelo de Educação baseada na linhagem divina. Como estu-
damos anteriormente, os sofistas não conseguiram desvincular o
conceito de Areté da aristocracia.
Nesta unidade, examinaremos uma das figuras que mais
combateram os sofistas: trata-se de Sócrates. Ao longo desse ca-
minho, tentaremos compreender quais são os pressupostos da
Paideia socrática.
Antes de começarmos a realizar essa análise, torna-se neces-
sário contextualizarmos a realidade vivida pelo povo grego nesse
5. SÓCRATES
O que sabemos de Sócrates? Muito pouco. Na verdade, o
que sabemos a seu respeito nos chegou por meio de Xenofonte e,
principalmente, de Platão.
As obras de Platão têm sempre como personagem principal
Sócrates. Como Sócrates não deixou nenhum escrito, várias são as
dúvidas que pode ter um leitor mais atento. Nesses escritos, Platão
não estaria apresentando suas próprias ideias por meio de Sócra-
tes? Como delimitar as ideias do mestre das do discípulo? Não teria
sido ele, Sócrates, uma invenção? O que lemos em A República e em
outras obras não seriam simplesmente as ideias de Platão?
Devemos considerar que, para a tradição grega, a linguagem
escrita não era tão valorizada, pelo menos até certo período da
história. Na Carta VII de Platão, temos uma percepção clara dessa
questão.
Ponto de partida
Em Apologia de Sócrates (ou Defesa de Sócrates), Platão pro-
cura reproduzir o discurso que Sócrates teria feito para se defen-
der das acusações de corromper a juventude, não acreditar nos
deuses então cultuados e criar novos deuses.
© U4 - Evolução e desdobramentos do conceito de Paideia 131
Discípulos
É por meio do testemunho de Platão, em seus diálogos,
como Fédon, Apologia, Protágoras, que temos um retrato um pou-
co mais fiel do mestre ateniense, um decalque de sua personalida-
de moral, cuja importância promoveu uma mudança no conceito
de Areté, conforme já havíamos mencionado anteriormente.
A Paideia Christi
Embora Jaeger seja muito conhecido a partir de suas consi-
derações sobre a Paideia grega, ele também compôs uma análise
das influências dessa Paideia no cristianismo primitivo. Suas con-
siderações a respeito desse tema foram compiladas em uma obra
intitulada Early christianity and greek Paideia (Cristianismo primiti-
vo e Paideia grega). Essa obra foi publicada em 1961 e originou-se
das conferências realizadas na Universidade de Harvard, em 1960.
víduo já não encontre sua razão de ser no próprio eu, mas na fun-
ção dessa vocação altruísta, desse amor ao próximo" (VILLANOU,
2001, [s/p]).
Há de se dizer que as contribuições da Paideia Christi se mos-
tram presentes atualmente sobretudo na chamada relação "eu e
o outro", ou seja, nela os desdobramentos da Areté referem-se à
consideração e à valorização dos demais seres humanos.
Dada as especificidades desta disciplina, não nos alonga-
remos nesse desdobramento, mas lhe indicamos para que você
aprofunde suas pesquisas sobre o tema no estudo de Antropologia
Filosófica, no qual se encontra uma abordagem que lhe apresenta-
rá vários pensadores que se inspiram nessa proposta e que certa-
mente lhe ajudarão a perceber a originalidade dessa contribuição.
A Bildung
Vamos agora apresentar outro desdobramento interessan-
te da Paideia grega, desenvolvido essencialmente por pensadores
alemães e por eles denominado "Bildung" ("formação").
De modo preliminar, vamos examinar uma expressão cunha-
da pelos pensadores alemães que se identificaram com essa pro-
posta por meio do relato de Villanou (2001, [s/p]):
Bilde dich griegisch, isto é "forme-se com um grego" [...], esteve
canalizada por uma série de tradições e obras que culminam no
século XX com a Paidéia de Jaeger em seu intento de implantar –
no meio da crise dos anos de entre guerras (1919-1939) – um ide-
alismo de corte platônico capaz de espiritualizar, de novo, a vida
humana.
ainda mais sábios e tive a mesmíssima impressão; também ali me tornei odiado
dele e de muitos outros.
Depois disso, não parei, embora sentisse, com mágoa e apreensões, que me ia
tornando odiado; não obstante, parecia-me imperioso dar a máxima importância
ao serviço do deus. Cumpria-me, portanto, para averiguar o sentido do oráculo,
ir ter com todos os que passavam por senhores de algum saber. Pelo Cão, Ate-
nienses! Já que vos devo a verdade, juro que se deu comigo mais ou menos isto:
investigando de acordo com o deus, achei que aos mais reputados pouco faltava
para serem os mais desprovidos, enquanto outros, tidos como inferiores, eram
os que mais visos tinham de ser homens de senso. Devo narrar-vos os meus
vaivéns nessa faina de averiguar o oráculo.
Depois dos políticos, fui ter com os poetas, tanto os autores de tragédias como os
de ditirambos e outros, na esperança de aí me apanhar em flagrante inferioridade
cultural. Levando em mãos as obras em que pareciam ter posto o máximo de
sua capacidade, interrogava-os minuciosamente sobre o que diziam, para ir, ao
mesmo tempo, aprendendo deles alguma coisa. Pois bem, senhores, coro de vos
dizer a verdade, mas é preciso. A bem dizer, quase todos os circunstantes pode-
riam falar melhor que eles próprios sobre as obras que eles compuseram. Assim,
logo acabei compreendendo que tampouco os poetas compunham suas obras
por sabedoria, mas por dom natural, em estado de inspiração, como os adivinhos
e profetas. Estes também dizem muitas belezas, sem nada saber do que dizem;
o mesmo, apurei, se dá com os poetas; ao mesmo tempo, notei que, por causa
da poesia, eles supõem ser os mais sábios dos homens em outros campos, em
que não o são. Saí, pois, acreditando superá-los na mesma particularidade que
aos políticos.
Por fim, fui ter com os artífices; tinha consciência de não saber, a bem dizer,
nada, e certeza de neles descobrir muitos belos conhecimentos. Nisso não me
enganava; eles tinham conhecimentos que me faltavam; eram, assim, mais sá-
bios e eu. Contudo, Atenienses, achei que os bons artesãos têm o mesmo defeito
dos poetas; por praticar bem a sua arte, cada qual imaginava ser sapientíssimo
nos demais assuntos, os mais difíceis, e esse engano toldava-lhes aquela sabe-
doria. De sorte que perguntei a mim mesmo, em nome do oráculo, se preferia
ser como sou, sem a sabedoria deles nem sua ignorância, ou possuir, como eles,
uma e outra; e respondi, a mim mesmo e ao oráculo, que me convinha mais ser
como sou.
Dessa investigação é que procedem, Atenienses, de um lado, tantas inimizades,
tão acirradas e maléficas, que deram nascimento a tantas calúnias, e, de outro,
essa reputação de sábio. É que, toda vez, os circunstantes supõem que eu seja
um sábio na matéria em que confundo a outrem. O provável, senhores, é que,
na realidade, o sábio seja o deus e queira dizer, no seu oráculo, que pouco va-
lor ou nenhum tem a sabedoria humana; evidentemente se terá servido deste
nome de Sócrates para me dar como exemplo, como se dissesse: "O mais sábio
dentre vós, homens, é quem, como Sócrates, compreendeu que sua sabedoria
é verdadeiramente desprovida do mínimo valor." Por isso não parei essa investi-
gação até hoje, vagueando e interrogando, de acordo com o deus, a quem, seja
cidadão, seja forasteiro, eu tiver na conta de sábio, e, quando julgar que não o
é, coopero com o deus, provando-lhe que não é sábio. Essa ocupação não me
permitiu lazeres para qualquer atividade digna de menção nos negócios públicos
nem nos particulares; vivo numa pobreza extrema, por estar ao serviço do deus.
Além disso, os moços que espontaneamente me acompanham – e são os que
© U4 - Evolução e desdobramentos do conceito de Paideia 155
dispõem de mais tempo, os das famílias mais ricas – sentem prazer em ouvir o
exame dos homens; eles próprios imitam me muitas vezes; nessas ocasiões,
metem-se a interrogar os outros; suponho que descobrem uma multidão de
pessoas que supõem saber alguma coisa, mas pouco sabem, quiçá nada. Em
consequência, os que eles examinam se exasperam contra mim e não contra
si mesmos, e propalam que existe um tal Sócrates, um grande miserável, que
corrompe a mocidade. Quando se lhes pergunta por quais atos ou ensinamentos,
não têm o que responder; não sabem, mas, para não mostrar seu embaraço,
aduzem aquelas acusações contra todo filósofo, sempre à mão: "os fenômenos
celestes –o que há sob a terra – a descrença dos deuses –o prevalecimento
da razão mais fraca". Porque, suponho, não estariam dispostos a confessar a
verdade: terem dado prova de que fingem saber, mas nada sabem. Como são
ciosos de honrarias, tenazes, e numerosos, persuasivos no que dizem de mim
por se confirmarem uns aos outros, não é de hoje que eles têm enchido vossos
ouvidos de calúnias assanhadas. Daí a razão de me atacarem Meleto, Ânito e
Licão – tomando Meleto as dores dos poetas; Ânito, as dos artesãos e políticos
– e Licão, as dos oradores. Destarte, como dizia ao começar, eu ficaria surpreso
se lograsse, em tão curto prazo, delir em vós os efeitos dessa calúnia assim avo-
lumada. Aí tendes, Atenienses, a verdade; em meu discurso não vos oculto nada
que tenha alguma importância, nada vos dissimulo. Sem embargo, sei que me
estou tornando odioso por mais ou menos os mesmos motivos, o que comprova
a verdade do que digo, que é mesmo essa a calúnia contra mim e são mesmo
essas as suas causas. É o que haveis de descobrir, se investigardes agora ou
mais tarde (PLATÃO, 1987, p. 8-10).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Gabarito
1) a.
2) b.
3) d.
4) c.
5) e.
17. E-REFERÊNCIAS
Sites pesquisados
GIACOMONI, P. Paideia as Bildung in Germany in the age of enlightenment. Disponível
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2. CONTEÚDOS
• A crítica de Nietzsche à Paideia socrático-platônica.
• Os riscos do etnocentrismo presentes nos ideais da Pai-
deia segundo Jacques Derrida.
• A distância existente entre o ideal de Paideia e a realidade.
162 © Paideia: Tópicos de Filosofia e Educação
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, analisamos as contribuições socrático-
-platônicas para o desenvolvimento da Paideia e alguns desdo-
bramentos que aconteceram ao longo do tempo manifestados na
chamada Paideia Christi e o no conceito de Bildung.
Nesta unidade, examinaremos algumas considerações críti-
cas fornecidas sobre o conceito de Paideia, os problemas educa-
tivos contemporâneos e a importância das propostas oriundas da
Paideia para pensarmos a possibilidade de uma mudança positiva
em relação a esses mesmos problemas.
Conceito de tragédia
Para que possamos iniciar nosso diálogo sobre o conceito
de tragédia, é necessário que constatemos a necessidade de ou-
tra empreitada intelectual. Deveríamos passar obrigatoriamente
pela leitura e pelo exame das obras de um dos mais importantes
helenistas de nosso tempo, Jean-Pierre Vernant. A leitura de Mito
e tragédia na Grécia antiga e de Mito e pensamento entre os gre-
gos seriam, portanto, indispensáveis (veja referência completa nas
Referências bibliográficas). No entanto, sem perder de vista sua
importância, voltemos às ideias de Jaeger sobre as razões que le-
varam Nietzsche a combater as ideias socráticas.
A crítica de Nietzsche parte, digamos assim, da "indissolubi-
lidade" entre o ideal socrático e o ideal cristão, mais precisamente
do humanismo escolástico que Sócrates representa.
Quando nos referimos à relação ou ao conceito apolíneo-
-dionisíaco, pode-se afirmar que não havia, para os gregos, na-
quele período, distinção ou dualismo entre corpo e alma. Esses
elementos eram uma e a mesma coisa.
Eis o que a tragédia representa: a harmonia entre esses dois
elementos. Podemos nos lembrar, por exemplo, das peças de Só-
focles, tais como Édipo Rei, Antígona e outras em que os heróis
não têm solução para o drama vivido diante das novas demandas
da sociedade ou da comunidade em processo de democratização.
Eles permanecem entre o que a lei instaurada pelo poder político
prescreve em termos de comportamento e o que diz sua lei inte-
rior, sua consciência moral. O que fazer?
Ainda hoje, vivemos o trágico. Não há lei que diga como de-
vemos agir ou nos comportar em determinadas situações.
Um homem deve escolher entre salvar a vida de seu filho ou
seguir a lei? Parece-nos óbvia a resposta, mas não é tão simples
A sociedade atual
No decorrer do estudo deste CRC, alguns termos conceituais
foram citados, como: virtude, excelência, valores, nobreza, beleza
etc. Esses conceitos se referem a parâmetros ideais do ser humano
e serviriam para inspirar a formação de homens e, por extensão,
de sociedades. Mas, e no presente? Existiriam ideais a serem cons-
truídos e que nos inspiram? Haveria a presença de valores que nos
convidam a construir um modo de ser? Esse ato de construção se-
ria valoroso?
Para dar conta dessas questões, realizaremos, agora, uma
análise da sociedade atual e, para fazê-lo, tínhamos de selecionar
um dos muitos olhares filosóficos existentes sobre essa questão.
Em razão disso, optamos pela chamada "Escola de Frankfurt", que
deu origem à corrente denominada "Teoria Crítica". As razões des-
sa escolha são as mais variadas, mas, para exemplificar uma delas,
nós o convidamos a analisar conosco uma consideração apresen-
tada a respeito dessa corrente filosófica:
A escola de Frankfurt fornece rico material para a sociologia do
conhecimento, pois é um exemplo de como uma vez marginal escola
de pensamento ganhou ampla influência e cruzou os limites entre
as disciplinas, movimentos sociais, psicanálise, Marxismo e tradições
nacionais. Originalmente um grupo de especialistas marxista fundado
pelo filho de um rico milionário alemão, a escola de Frankfurt ajudou
a criar uma inovativa área filosoficamente orientada de modo radical
para a ciência social conhecida como teoria crítica. A Teoria Crítica
teve uma enorme influência após a década de 60 na vida intelectual,
e hoje é mais comumente associada com Theodor Adorno, Max
Horkheimer, Herbert Marcuse, Walter Benjamim e Jürgen Habermas
(McLAUGHLIN, 1999, p. 109).
Felicidade
Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada:
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
A razão instrumental
A razão instrumental é outro conceito extremamente caro
a essa corrente de pensamento. Ele traz consigo uma série de pe-
culiaridades. Em razão de suas sutilezas, tomaremos a liberdade
de lhe apresentar uma citação um pouco longa de Curtis Bowman
(1997, [s/p]) sobre o tema. Dadas a clareza e a objetividade de
Bowman nesse excerto, consideramos importante que você tenha
acesso a ele na íntegra:
A forma dominante de razão em um mundo alienado, de acordo
com Horkheimer e Adorno, é o que eles rotineiramente chamam
razão instrumental. Esta é a capacidade para selecionar os meios
apropriados para nossos fins, o que quer que eles sejam. Isto é, nós
usamos a razão como um instrumento para nos guiar na obtenção
© U5 - Análise crítica da Paideia clássica e sua importância na contemporaneidade 177
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Segundo Friedrich Nietzsche, a decadência ocidental começa, em especial,
com os ideais de Paideia apresentados:
a) no cristianismo;
b) por Descartes e seu racionalismo;
c) por Sócrates e Platão;
d) pelos sofistas e sua argumentação retórica;
e) nenhuma das anteriores.
2) Analise as considerações a seguir, referentes às ideias de Jacques Derrida, e
aponte a alternativa incorreta:
a) Para Jacques Derrida, a história ocidental é uma história alicerçada no
predomínio dos valores patriarcais masculinos e a consequente subjuga-
ção dos valores femininos.
b) Derrida apresenta uma crítica aos ideais da Paideia grega, pois, segundo
ele, nela estão presentes fortes características etnocêntricas.
Gabarito
1) c.
2) d.
3) d.
4) e.
5) a.
11. E-REFERÊNCIAS
Figura
Figura 1 Chaplin, em cena do filme Tempos modernos, de 1936. Disponível em: <http://
www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=181>. Acesso em: 19 abr. 2012.
Sites pesquisados
ADLER, M. The Paideia proposal: an educational manifesto. . Disponível em: <http://
books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=_Q0ZM4lWK1EC&oi=fnd&pg=PR1
1&dq=the+paideia+proposal&ots=WxWXNkjJ2_&sig=ud71mOAM6c__BrvZBr9Jz_
ch7Dw#v=onepage&q=the%20paideia%20proposal&f=false>. Acesso em: 19 abr. 2012.