Você está na página 1de 4

1- Tocqueville observa nos Estados Unidos algo que ele chama de Interesse Bem

Compreendido. De que forma este conceito dialoga com as noções de liberdade para os
antigos e liberdade para os modernos que Benjamin Constant analisou?

R. Constant analisou a diferença entre a noção de liberdade para o mundo antigo e


liberdade para o mundo moderno.

Tendo como referência a Grécia antiga, mais especificamente Atenas, o autor vê que a
liberdade para os cidadãos atenienses era poder contribuir para o bem comum, era
participar das reuniões da Ágora, era se colocar em prol do bem de todos os cidadãos
atenienses. Já quanto à liberdade do mundo moderno há outra análise, ao olhar a
Revolução Francesa e o desenvolvimento do capitalismo, nota-se que a liberdade dos
cidadãos do mundo moderno está relacionada às liberdades individuais, como o direito
de ir e vir, liberdade de expressão e política.

O Interesse Bem Compreendido é visto por Tocqueville nos Estados Unidos, e é


colocado como o interesse individual que gerará retorno ao coletivo. Por exemplo, o
interesse individual de melhoria nas vias públicas fará com que todos os que
frequentarem essas vias sejam beneficiados.

Contudo, o Interesse Bem Compreendido dialoga com as noções de liberdade para o


mundo antigo e para o mundo moderno no ponto em que o Interesse Bem
Compreendido é visto no mundo moderno, portanto, trata-se da expressão da liberdade
para o moderno, a liberdade individual, porém gera benefícios ao coletivo, comportando
também uma característica da liberdade do mundo antigo.

2- “A tese de Tocqueville é, então, esta: a liberdade não pode se fundamentar na


desigualdade; deve assentar-se sobre a realidade democrática da igualdade de
condições” (ARON, Raymond, As Etapas do Pensamento Sociológico, p. 205). A
igualdade de condições tratada por Tocqueville é a igualdade de nascimento.
Tocqueville vem de família nobre, e tem parte de sua família morta pelos
revolucionários franceses. Ele entende que a igualdade de condições só se dará quando
não houver distinção no nascimento de cada pessoa, quando todos nascerem iguais, sem
hierarquização entre povo e nobre. Todos devem nascer em iguais condições, podendo
assumir qualquer posição na sociedade. “A igualdade social [para Tocqueville] significa
a inexistência de diferenças hereditárias de condições; quer dizer que todas as
ocupações, todas as profissões, dignidades e honrarias são acessíveis a todos.” (ARON,
Raymond, As Etapas do Pensamento Sociológico, p. 203). Quando Tocqueville fala em
igualdade, ele não fala de igualdade intelectual, ele não fala em igualdade econômica,
ele fala de igualdade social, em que todos possuem tratamento igual dentro na
sociedade, sem hierarquias sociais.

3- Qual é a argumentação de John Stuart Mill em “Sobre a liberdade” a respeito da


defesa das minorias? Qual é a causa da opressão?

R. Mill inicia sua argumentação analisando a ideia de liberdade política ao longo da


história, desde a antiguidade grega até os dias atuais (século XIX, Mill nasceu em
1806). Nas palavras de Mill, a liberdade era a “proteção contra a tirania dos dirigentes
políticos”, pois na antiguidade os dirigentes políticos eram vistos como antagônicos aos
súditos, mas que estes súditos não os contestavam devido ao poder centralizado nestes
grupos dominantes. A necessidade de um grupo dominante era argumentada
semelhantemente a Hobbes, em “O Leviatã”. Os grupos dominantes eram como o
Estado de Hobbes, em que o poder era transferido aos governantes e não contestado,
pois esse poder maior era necessário para que os mais frágeis não fossem oprimidos
pelos mais poderosos, então, para isso, necessitava-se de um poder maior que o destes
poderosos, o Estado, para Hobbes. Mas era como uma faca de dois gumes, pois se
transferia o poder aos governantes para que protegessem os súditos, porém, ao mesmo
tempo os súditos eram oprimidos pelos governantes. Por conta desta opressão aos
súditos pelos próprios governantes, eram colocados limites no poder, para que os
dirigentes não oprimissem os súditos, e isso era chamado de “liberdade”, a “proteção
contra a tirania dos dirigentes políticos” que Mill falava.

Posteriormente, com a Revolução Francesa, veio a derrubada do poder centralizado e a


substituição pela representatividade, em que o povo colocava, de acordo com os
interesses próprios, os seus representantes como dirigentes políticos. É nesse ponto que
Mill encontra um problema: Os dirigentes políticos são eleitos pela maioria, ou por uma
grande parcela da população que própria se intitula maioria, e as minorias se tornam as
oprimidas, instaurando-se o que Mill chama de “tirania da maioria”.

4- Aparecida Maria Abranches destaca um ponto interessante a respeito da interferência


ilegítima da sociedade na conduta individual que Mill comenta. A interferência se torna
legítima a partir do momento que é necessária para evitar o individuo a seguir um
caminho que lhe causará danos próprios. Nota-se uma influência do Utilitarismo
empírico e racional que o pai de Mill, James Mill, era expoente. A procura pela
felicidade e equação entre prazer e dor do Utilitarismo é parte da formação pessoal e
intelectual de John Stuart Mill. Porém, por conta de um sentimentalismo desenvolvido
por Mill devido ao contato com a poesia, ele coloca essa exceção à regra de não
interferência individual, pois o dano de uma pessoa a si mesma pode causar dano à outra
pessoa que a ama. A interferência individual se torna legítima em casos que o indivíduo
poderá causar dano a si mesmo, por exemplo, um vício em drogas nocivas, isolamento,
alcoolismo, entre outros casos. Essa interferência deve ser feita por pessoas
afetivamente próximas ao indivíduo, como um familiar ou amigo próximo, porém, deve
vir na forma de advertência, conselho ou até persuasão, mas nunca como punição.

5- De que forma Marx faz a crítica aos economistas liberais clássicos Smith, Ricardo e
Mill?

R. Marx critica a visão liberal a partir do ponto em que os liberais ignoram o processo
histórico que origina o individuo do século XVIII. Para Marx, os liberais colocaram leis
naturais imutáveis que geraram esse indivíduo, e que, agora, em seu auge no capitalismo
industrial, iniciará a história de fato, rumo ao progresso da sociedade. Marx é o
expoente do Materialismo Histórico, e entende que o homem é produzido por um
processo histórico que passa por diversas etapas durante a história e se dá por meio da
luta de classes entre um opressor e um oprimido, porém, conforme o tempo foi
passando, o homem, que é um ser social, vem cada vez mais se isolando da sociedade.
Dessa forma, Marx coloca que o individuo do século XVIII não foi dado pela natureza,
e sim, originado historicamente pelo processo da luta de classes. Marx argumenta,
também, que o individuo só se desenvolve em sociedade, e que o desenvolvimento
isolado é impossível, e que mesmo quando o homem se isola em um meio natural, ele
trás consigo as forças da sociedade (referência ao romance Robinson Crusoé, em que
um navegador sofre um naufrágio e fica isolado numa ilha durante 28 anos). A
produção também depende do desenvolvimento social, então, para se falar de produção
é necessário analisar o contexto e o processo histórico da sociedade.

6- Francisco Weffort, na página 237 da obra “Marx: Política e Revolução” coloca o


apreço de Marx pela democracia. Porém não a democracia defendida pelos liberais, e
sim, uma democracia em âmbito social e econômico. A crítica de Marx quanto à
democracia liberal é de que a igualdade social e política são inalcançáveis sem a
igualdade econômica. É necessária uma emancipação social, a extinção da opressão de
uma classe sobre a outra. Assim, Marx defende uma revolução social feita pelo
proletariado para tirar a burguesia da condição de dominante, e o proletário que nada
possui para preservar não se colocará na posição de opressor, e assim uma sociedade
igualitária economicamente, socialmente e politicamente será possível. Esta sociedade
em que o povo seria igual em todos os âmbitos sociais, esse povo, sem exceções, deteria
o verdadeiro poder, sendo em todos os sentidos, uma democracia, um governo do povo.

7- Destacando aspectos importantes de acordo com o pensamento liberal do pensador


John Stuart Mill, têm-se características do pensamento liberal como: defesa dos direitos
das minorias, participação igualitária feminina na sociedade e na política, importância
da educação para alcançar um governo livre, proporcionar o bem-estar coletivo, por
exemplo, evitando conflitos internos no país, entre outros pontos, porém venho destacar
estes. Ao analisar o governo brasileiro atual, temos o presidente Jair Bolsonaro, eleito
pelo PSL (Partido Social Liberal), tendo “Social” e “Liberal” em seu nome. Com isso,
concluir-se-ia que seria um partido adepto ao liberalismo no âmbito da sociedade, um
liberalismo quanto à igualdade social. Porém, diversas declarações do presidente (que
são reproduzidas também pelos deputados e senadores eleitos pelo partido) são
contrárias aos objetivos de um governo liberal. São declarações como: “As minorias
devem se curvar diante das maiorias” e “Eu não empregaria uma mulher com o mesmo
salário de um homem”, declarações de ataques à educação superior e estudantes os
considerando “inúteis”, gerando descontentamento dos estudantes e professores
causados pelos cortes do ensino superior, descontentamento por parte da população em
relação à reforma da previdência que não está de acordo com a vontade da população.
Estes tipos de declaração deixam evidente o descaso com as minorias, mulheres,
educação e bem-estar, o que não dialoga com o pensamento liberal de Mill, concluindo-
se que o PSL leva uma sigla (Social Liberal) que não condiz com o seu governo, que
age de forma conservadora.

Você também pode gostar