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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO


Letras - Português
Metodologia de Ensino da Literatura
Prof. Paulo Ricardo Braz de Sousa
Daniel Araújo Nascimento

A princípio podemos nos deter ao conceito de Letramento Literário, como


esse fenômeno se desenvolve no ensino da literatura e o motivo dele ser tão
importante para a leitura. Em paralelo também podemos discutir a paridade entre
experiência como aprendizado e experiência como uma simples vivência de
acontecimentos (nesse caso, a leitura). Junto a essas reflexões, vamos agregar o
pensamento de Jorge Larrosa Bondía à discussão iniciada.
O Letramento Literário, segundo Rildo Cosson (2006, P. 11) “Trata-se… da
apropriação da escrita e das práticas sociais que estão a ela relacionadas”. Ou seja,
o letramento literário é um processo de compreensão e desenvolvimento da leitura
como linguagem. Linguagem esta que nos fala, nos transpassa e nos molda ou
modifica a partir de uma experiência. O letramento, não só literário, nos dá
arcabouço para podermos nos apropriar e compreender as diversas situações e
acontecimentos que nos acometem socialmente. Essa visão de letramento literário
nos faz refletir a importância do ensino não só da literatura, mas da leitura literária.
A disciplina de literatura nas escolas, até a atualidade, se resume a um estudo nos
moldes de apanhados históricos da literatura, com quadros de datas, autores e
períodos de produção literária. Não que esses conceitos não colaborem para um
aprendizados do aluno, mas não se deve resumir a literatura à isso. Ela é um objeto
de estudo, reflexão e experiência, que nos atinge e nos faz pensar sobre o que
lemos e como aquilo nos afeta, tal qual fala Rildo Cosson (2006, P, 17) “A literatura
nos diz o que somos e nos incentiva a desejar e a expressar o mundo por nós
mesmos.”. Mas por que essa disciplina tão rica em experiências para serem vividas
e usufruídas não recebe tanto apreço pelos alunos e instituições de ensino? E até
mesmo chega a ser tratada como objeto auxiliar da disciplina de língua portuguesa?
Podemos refletir sobre isso com o verbete da letra B do Jorge Larrosa Bondía, onde
ele fala sobre Biblioteca.
Bondía fala em seu verbete que gosta de ver o professor como um burro de
carga, que leva livros da biblioteca para a sala de aula e, em contrapartida, leva os
alunos à biblioteca. Essa imagem que ele constrói é muito interessante, pois nos
remete à importância da biblioteca e dos livros contidos nela na prática do ensino,
de literatura mais precisamente. Entretanto a ligação entre sala de aula e biblioteca
vem se desfazendo cada vez mais em detrimento da ascensão das novas
tecnologias, onde o interesse do aluno pelo livro vai se esvaindo e dando lugar a
smartphones. Essas coisas comprometem de maneira absurda a noção de
experiência desse aluno, ele não tem contato com o livro(objeto palpável), com as
folhas, com a satisfação de sentir o “cheiro de novo” ou até mesmo notar diferenças
em materiais de produção do objeto etc. Todas essas coisas contribuem para uma
experiência totalmente individual, que os molda, que os diferencia e os fazem únicos
diante das obras que leram.
Podemos analisar, também, o motivo da literatura como experiência não ser
tão valorizada nas salas de aula. Há um estigma muito forte do nosso sistema
econômico na nossa prática pedagógica de ensino, não podemos negar. E isso
reflete totalmente a maneira como desenvolvemos nossos métodos de ensino em
sala de aula. Métodos estes que são pensados a partir de uma Tendência
Pedagógica, a qual se destaca, aqui, a Tecnicista. Nas escolas, em sua maioria
particulares, os professores são incubidos de ensinar determinada gama de
assuntos e materiais para que o aluno, em tese, aprenda e seja bem sucedido nos
exames de conhecimento e aprendizagem, o vestibular. Na sala de aula não há
tempo para fazer um ensino de leitura literária, uma reflexão sobre o que leram, uma
análise subjetiva do texto. Devido a constante pressão da formação para o mercado
de trabalho e a necessidade de ser bem avaliado na prova, a literatura sofre um
corte abrasivo em sua função social e se torna coadjuvante em sua própria área,
para dar lugar a uma série de estudos históricos milimetricamente regrados e
organizados sobre os cânones das escolas literárias. A literatura como arte não é
vista como suficiente para ser considerada como disciplina na sala de aula, por isso
é feito essa mudança de seu objetivo. O que nos torna a outro verbete do Bondía,
onde ele fala que Escola é um local que nos proporciona tempo, espaço, materiais e
maneiras de fazer. Com um foco na questão dos materiais e maneiras de fazer,
vemos uma falha na atual escola, onde ela blinda a literatura em seus clássicos e
resume o ato da leitura literária na utilização de interpretação de textos.
Dado o exposto, podemos concluir que, por diversos fatores o letramento
literário e o ensino de literatura como experiência ainda não recebem a devida
atenção nas instituições de ensino. Entretanto a discussão desses temas e a
reflexão por parte de graduandos e futuros professores sobre a importância de se
trabalhar a leitura literária e a experiência como forma de ensino da literatura é
bastante confortante e esperançosa para as futuras gerações de escolas
professores e alunos.

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