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RESUMO
TRABALHO COMPLETO
Introdução
A história oficial de Arapiraca apregoa que seus povoadores eram todos alfabetizados,
sem levar em consideração os filhos de ex-escravos e de trabalhadores que, envolvidos no
cultivo da mandioca e mais tarde do fumo, ficaram excluídos do acesso ao ensino elementar.
Arapiraca tem como marco inicial de seu povoamento o ano de 1848 sendo seu fundador,
Manoel André, casado com a filha de Manoel da Silva Valente, um ex-soldado do exército
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português que aqui chegara, em companhia da família real, quando esta se transferiu para o
Brasil. Valente, atraído pela imensidão das terras brasileiras, decidiu abandonar a vida militar e
empenhar-se no desbravamento do sertão estabelecendo-se com toda a sua família em
Cacimbinhas, no semi-árido alagoano.
Manoel André fora recomendado por seu sogro a buscar terras propícias ao plantio da
mandioca para a fabricação da farinha, cuja procura aumentara significativamente no período
imperial. Este abandonou o sertão alagoano e seguiu para o agreste. Alcançando as terras onde
mais tarde ergueu-se o povoado de Arapiraca, abrigou-se à sombra de uma frondosa árvore,
denominada “arapiraca”2, próxima ao Riacho Seco, cujas águas constituíram-se no elemento
fundamental para o início do povoamento daquela localidade. Nas palavras de Guedes (1999) o
crescimento desse povoado torna-se notório muito rápido, logo após dez anos da construção da
primeira casa de taipa que pertenceu a Manoel André.
Com a morte de Manoel da Silva Valente (1875), seus herdeiros, que até então
permaneciam em Cacimbinhas, procuram ocupar suas terras, que constituíam o novo povoado
de Arapiraca. Os herdeiros de Valente se distribuíram em diversos sítios que circundavam o
“quadro”3 do povoado e desta forma as famílias foram se multiplicando, através de casamentos
entre parentes construindo-se numerosos núcleos familiares.
Dessa forma, surgiram diversos sítios: Mocó, a Serra dos Ferreiras, Lagoa de Dentro, Baixa
Grande, o sítio Fernandes e outros de modo que cada sítio tinha seu chefe encarregado de
tomar as decisões políticas e econômicas capazes de promover o desenvolvimento do povo
daquela localidade.
O poder atribuído a esses chefes aliados ao líder local que residia no “quadro” do
povoado advinha da relação com as autoridades de S. João de Anadia e mais tarde de Limoeiro
de Anadia, a que pertencia Arapiraca. Entre esses poderes constituídos estava o
desenvolvimento do ensino que se concretizava dentro da ética paternalista cristã “centrada no
reconhecimento do pobre, de sua condição e do rico, de sua relação de cooperação, de ajuda...”
(HUNT; SHERMAN, 1994, p. 16). Para ser professor nos fins do Império não bastava saber
ler e escrever mas precisamente deveria dominar os fundamentos cristãos, era o predomínio dos
“rotulados professores e na quase totalidade ignorantíssimos” (COSTA, 2001, p. 43). No caso
de Arapiraca os professores recebiam orientação diretamente dos padres que também eram
oriundos das famílias tradicionais, mas residiam na cidade de Limoeiro, necessitando muitas
vezes esses professores residir certo tempo na casa paroquial para serem instruídos.
Aqueles que preenchessem tais requisitos eram solicitados para desenvolver o ensino
nas residências, ou melhor, nos diversos sítios atendendo a determinadas pessoas, no caso, as
mais favorecidas com condições de manter o professor, já que ele passaria a ser um membro da
família por algum tempo. Dessa forma percebemos que a maioria da população estava
impossibilitada de participar do processo de escolarização. Por outro lado, sabemos que esta
visão de desenvolvimento educacional era consoante com a visão propagada comumente no
Brasil em que “o processo educativo se desenvolve lentamente, mesmo com bruscas reformas”
(AZEVEDO, 2001, p. 63). O princípio da gratuidade da instrução pública firmado na primeira
constituição brasileira, não fora cumprido; o ato adicional transferira para as províncias a
responsabilidade da instrução pública e as escolas de primeiras letras orientavam que os
professores deveriam ensinar, sobretudo, os princípios da moral cristã, a ler, escrever e contar.
Notamos portanto que a educação elementar não era de interesse da elite, que defendia mesmo
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era a criação de Escolas Superiores para preparar profissionais e políticos capazes de garantir a
ordem e preservar o regime vigente.
Ramos (2001), explica a situação de Alagoas no início do Período Republicano,
demonstrando que a instrução primária era desenvolvida sem nenhuma fiscalização e sem
instrumentos adequados. Percebemos determinado avanço da instrução pública, mas apenas no
ensino secundário destinado às camadas mais abastadas, ficando o ensino primário no
verdadeiro abandono, o que vai se fortalecer quando o governo provincial, em acordo com a
Assembléia Legislativa da Província, fez provimento de cadeiras de professores primários a
pessoas que soubessem apenas ler, escrever, dominassem as quatro operações fundamentais da
aritmética e fossem versadas na doutrina cristã - católica.
Esse modelo caracteriza muito bem a forma como se desenvolvia o ensino no então
povoado de Arapiraca, lá para os fins do Período Imperial e início do Período Republicano,
quando a sua população ganhava outra característica com a entrada de novos povos vindos de
outros municípios e de outros Estados. Alguns, atraídos pelo desenvolvimento econômico
daquela região e outros à busca de refúgio para defender seus filhos da incorporação dos
Voluntários da Pátria, ou seja, muitos fugiam do recrutamento da guerra do Paraguai ou
buscavam sua sobrevivência. O que se tornara muito difícil com as conseqüências da guerra no
Brasil. Antonio Raimundo fora designado por Manoel André, para ensinar as crianças da
redondeza, mas como não havia prédio próprio, este atendia ao chamado dos representantes de
cada sítio, ficando dessa forma, bem claro que “essa escolarização era direcionada aos filhos de
proprietários de terra ou aos médios lavradores de mandioca e de fumo” (MACEDO, 1994;
GUEDES, 1999). Isso significa dizer que os filhos de trabalhadores continuavam sem acesso ao
desenvolvimento educacional daquela época naquela localidade.
mais além; “conseguiu preparar jovens para a vida religiosa como a Irmã Luzinete Ribeiro de
Magalhães que foi responsável pelo estabelecimento do Colégio São Francisco de Assis em
Arapiraca em 1956 dirigido pelas irmãs franciscanas” (GUEDES, 1999, p. 211).
Percebemos, assim, como a ética paternalista cristã predominava na prática pedagógica
dos professores arapiraquenses que contribuíram com a construção daquela sociedade. “A Igreja
interferia na preparação do professor e na orientação do ensino, em favor de uma
regulamentação da conduta como um todo que penetrando em todos os setores da vida pública e
privada era infinitamente mais opressiva e severamente imposta” (WEBER, 2005, p.38). A
memorização como instrumento pedagógico estava muito ligada à oralidade da religião As
escolas imitavam as cantilenas das ladainhas para memorizar o abecedário e a tabuada. A este
paradigma associava-se o uso da palmatória que apesar de abolida por lei imperial foi muito
usada na escolarização de Arapiraca nas primeiras décadas do período republicano por
delegação das próprias famílias que consideravam o uso desse instrumento fundamental na
disciplina dos alunos.
Nas primeiras décadas do Período Republicano, os destinos de Arapiraca concentravam-
se nas mãos do Major Experidião Rodrigues, que ao lado de seu irmão Manoel Antonio
Rodrigues, nomeado Intendente de Limoeiro de Anadia, intercedia junto às autoridades daquele
município ao governo estadual para atender ás reivindicações do povo arapiraquense. “O
clientelismo político sempre foi e é antes de tudo, preferencialmente uma relação de favores
políticos por benefícios econômicos não importa em que escala” (MARTINS, 1994, p.29). Foi
nessa relação com as autoridades de Limoeiro de Anadia que Experidião Rodrigues conseguiu
em 1891, do então governo estadual, o Barão de Traipu, a nomeação da primeira professora de
Arapiraca Marieta Peixoto que por sinal era sua nora.
Como já foi dito anteriormente, não havia prédios específicos para o funcionamento de
escolas. Quando se construía um salão com essa finalidade era nas terras dos grandes
proprietários que se sentiam no direito de usá-los para outros fins. As escolas funcionavam em
casas arranjadas às pressas sem nenhuma aparência de escola e professoras e alunos se
encarregavam de trazer a mobília principalmente seus assentos como explica Ramos (2001). A
professora nomeada passou a ensinar na residência de um morador do “quadro” do povoado
onde ensinava D. Chiquinha Macedo a qual foi transferida para a periferia, hoje o bairro de
Cacimbas Isso era comum em Alagoas. “As professoras novas ingressavam comumente nos
grupos; as velhas ficavam nas escolas isoladas, desaprendendo o que sabiam, longe do mundo,
ensinando coisas absurdas” (RAMOS, 2001, p.61). Salientamos que em Alagoas já existiam
alguns grupos escolares principalmente na capital, mas muitos deles apenas no decreto.
Nomeava-se a docente e procurava-se uma casa em que a escola pudesse funcionar. Em
Arapiraca não havia nenhum grupo, apenas escolas isoladas que não tinham nome; eram
conhecidas pelo nome da professora ou do proprietário. Isso significa dizer que a escola criada
pela Lei de número 12 de 1890, do governo de Alagoas, o Barão de Traipu, em Arapiraca torna-
se propriedade daquele que teve condições de oferecer o espaço físico para seu funcionamento.
Com o crescimento populacional e econômico de Arapiraca, Experidião Rodrigues
envolve-se com a luta pela sua emancipação, mas para isto necessitava do apoio de políticos
ligados diretamente à Assembléia Legislativa, pois, não podia contar com as autoridades de
Limoeiro, que tinham interesses políticos e econômicos sobre Arapiraca. Sendo, por isso,
contrários ao seu desmembramento. Experidião perdera a liderança para a família Barbosa,
radicalizada em Limoeiro, a qual usufruía de certo prestígio no Palácio do Governo, por conta
de sua oligarquia. Era comum em Alagoas como em todo nordeste, uma família permanecer no
poder por muitos anos. Foi assim com a família Malta que governou de 1900 a 1912. Como
esclarece Verçosa (1997, p. 119), “o poder dos Maltas vai se espraiar por todos os setores da
vida alagoana de forma avassaladora”.
Conquistada a emancipação de Arapiraca em 1924, foi eleito como primeiro prefeito
Experidião Rodrigues, que logo conseguiu a nomeação de mais uma professora desta vez uma
de suas filhas, não obstante faltar-lhe qualificação para o magistério, “era o filhotismo, voltando
a invadir vitoriosamente o magistério e banindo por completo as exigências da habilitação
pedagógica” (COSTA, 2001, p. 20). Como em todo o Brasil, nas primeiras décadas após a
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pretensão de atender a uma camada menos favorecida, passa a privilegiar a um grupo bem
restrito.
A partir de 1955, essa escola introduziu os cursos: comercial, científico e normal
atendendo aos alunos com padrões econômicos diferenciados da maioria daquela população.
Poucos tinham condições de concluir esses cursos e ingressar em cursos superiores já existentes
na capital alagoana. Percebemos que o grupo que se destacava política e economicamente não
priorizava o ensino público para as camadas menos favorecidas. As escolas até então existentes
eram mistas o que não era visto com bons olhos por muitas famílias que desejavam uma escola
exclusivamente feminina.
Em 1956, na administração de João Lúcio da Silva (1956-1961) por interferência de
Irmã Luzinete Ribeiro de Magalhães, as Irmãs Franciscanas fundaram nesta cidade o
Educandário São Francisco de Assis (hoje colégio S. Francisco de Assis) voltado para a
formação moral e cristã católica das jovens arapiraquenses. Era uma escola exclusiva para
meninas, sendo bem aceita pela comunidade. Já era grande o número de pessoas em condições
de investir na educação de suas filhas, mas a escola mista não atendia os anseios de quem
priorizava uma formação católica que preparasse as moças para a obediência introduzindo bons
modos e preparando para boas donas de casa .
O novo Colégio passou a funcionar no prédio da escola pública Aurino Maciel cedido
pelo então governador do Estado de Alagoas. Mais uma vez o público sede espaço ao privado
“No Brasil, a distinção entre público e privado nunca chegou a se constituir na consciência
popular como distinção de direitos relativos à pessoa, ao cidadão” (MARTINS, 1994, p. 22).
Constatamos que, além do atraso na construção de prédios para o funcionamento de escolas em
Arapiraca, quando estes eram construídos eram cedidos para as escolas particulares. A escola
das irmãs como ficou conhecido o Educandário, cobrava uma mensalidade inacessível à maioria
da população. As irmãs franciscanas envolveram alunos e famílias num clima de solidariedade e
cooperação de modo que todos se empenharam na campanha em prol da construção do prédio.
As doações vinham de todos os lados e de diversas formas. As festas religiosas contagiavam as
famílias de Arapiraca, e nesse clima de amor fraternal, muitas meninas sem condições de pagar
as mensalidades diziam-se vocacionadas a seguir a vida religiosa e permaneciam em regime de
internato, responsabilizando-se pelos serviços domésticos, eram as “meninas da casa”, que
prestavam os serviços e tinham direito ao ensino e à formação religiosa. Dessa forma as famílias
arapiraquenses apresentavam-se satisfeitas com o tipo de formação destinado as suas filhas, “os
católicos pretendiam uma ordem em que à família, o Estado, a economia, a política e os
costumes tivessem por base o Evangelho” (BARROS et al, 2001).
Considerações finais.
Referencias Bibliográficas
Notas:
1
Mestranda em Educação Brasileira pelo Centro de Educação da Universidade Federal de Alagoas –
UFAL, com pesquisa intitulada “O romper do silêncio: história e memória na trajetória da educação em
Arapiraca, a partir de 1950”, sob orientação do Prof. Dr. Élcio de Gusmão Verçosa.
2
“arapiraca” é uma árvore de origem indígena, “ramo que arara visita”. Cientificamente, árvore da
família das Leguminosas Minosáceas – Piptadênia, espécie de angico branco muito comum no agreste e
no sertão.
3
O desmatamento feito nas proximidades da frondosa arapiraca onde Manoel André plantou sua roça e
construiu sua casa, tinha a dimensão de um quadro por isso durante muito tempo o povoado ficou
conhecido como Quadro de Arapiraca (GUEDES, 1999, p. 27).
4
Conforme depoimentos de alguns ex-companheiros de Pedro Reis, este havia reclamado do então
Governador Ismar de Góis Monteiro sobre algumas posições tomadas anteriormente que não eram de seu
agrado.