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Curvas Planas:
Fórmula de Noether e Resolução de Singularidades
Maringá - PR
2016
PRISCILA COSTA FERREIRA DE JESUS BEMM
Maringá - PR
2016
“Talvez não tenha conseguido
fazer o melhor, mas lutei para
que o melhor fosse feito. Não
sou o que deveria ser, mas
Graças a Deus, não sou o que
era antes”.
ii
Dedico este trabalho a Deus
iii
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado fé diante de todas as dificuldades e
proporcionado a benção de conhecer pessoas maravilhosas que tornaram as dificuldades
mais amenas.
Aos meus pais, Edna e Celso, pela paciência, confiança, amor, apoio emocional e
financeiro, independentemente de minhas escolhas.
Aos meus irmãos Fernando, Ireni, Ederson e Jéssica pelo companheirismo, exemplo e
por fazer minha vida mais prazerosa.
Aos meus avós, que são responsáveis pela famı́lia maravilhosa, sem a qual eu não
estaria aqui.
Aos meus amigos Tatiane, Jesus, Patrı́cia, Mônica e Fernando por dividir tantas
angústias, inseguranças e, principalmente, alegrias e momentos que valem a pena nunca
serem esquecidos.
Aos meus sogros, Cacildo e Terezinha, que mesmo distantes me apoiaram e torceram
pelo meu sucesso.
Ao meu marido Laerte pela amizade, companheirismo, paciência e por ser esta pessoa
tão maravilhosa, a qual não consigo mais viver sem; sempre ao meu lado, acreditando
em mim até quando eu mesma não acreditava.
A todos os professores que contribuı́ram para minha formação acadêmica e humana,
em especial a professora Dra. Claudete pelo incentivo e apoio.
Ao professor Dr. Rodrigo Martins, por ter aceitado a solicitação de orientação, pela
confiança, paciência e por me ajudar a lembrar o quanto é prazeroso aprender.
A banca examinadora pelo tempo dedicado para a leitura deste trabalho.
iv
Resumo
O objetivo do nosso trabalho foi demonstrar a Fórmula de Noether, que é uma fórmula
que nos permite calcular o Índice de Interseção entre duas curvas algébricas planas. Para
isso trabalhamos com o anel das séries de potências formais e, através do Teorema de
Preparação de Weierstrass, vimos que podemos associar qualquer série a um polinômio de
Weierstrass. A partir deste resultado, passaremos a ver toda série como um polinômios
de Weierstrass. Para o uso da Fórmula de Noether foi necessário apresentarmos vários
resultados, entre eles, a técnica de desingularização denominada Blowing-up, o Teorema
de Newton-Puiseux e o Teorema da Função Implı́cita de Newton.
v
Abstract
The aim of this work is to demonstrate Noether’s Formula, which allows us to evaluate
the intersection index between two algebraic plane curves. For that, we consider the ring
of formal power series and, through Weierstrass’ Preparation Theorem, we realized it
is possible to associate any series to a Weierstrass polynomial. After that, we consider
every series as a Weierstrass’ polynomial. For Noether’s Formula it was necessary to
present several results, among them the technique of resolution of singularities known as
Blowing-up, Newton-Puiseux’s Theorem and Newton’s Implicit Function Theorem.
vi
Sumário
Introdução 1
1 Preliminares 4
1.1 Anéis das Séries de Potências Formais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 O Teorema da Preparação de Weierstrass . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.3 Fatoração de Séries de Potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.4 Teorema da Base de Hilbert-Rückert . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.5 Eliminação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3 Interseção de Curvas 48
3.1 Índices de Interseção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
5 Resolução de Singularidades 81
vii
Introdução
1
sobre um corpo que é um domı́nio de fatoração única. Para nós, fatorar uma série,
ou seja, encontrar seus fatores irredutı́veis é crucial. Por isso, apresentamos resultados
que nos ajudam a decidir quando uma série é irredutı́vel. Além disso, mostramos que
dada uma curva definida por uma série f com coeficientes num corpo infinito, podemos
encontrar uma curva equivalente g que é expressa de maneira mais “simples”. Mais
precisamente, g é expressa como um polinômio cujos coeficientes são séries. O resultado
que nos garante isso é chamado Teorema da Preparação de Weierstrass. Outro conceito
muito importante deste capı́tulo que nos será muito útil na sequência do trabalho é o
resultante entre dois polinômios com coeficientes em um domı́nio de fatoração única, o
qual nos informa quando tais séries possuem termos em comum.
No capı́tulo 2, definimos Curva Algébrica Plana e algumas de suas caracterı́sticas,
tais como, cone tangente, retas tangentes, curvas regulares e curvas equivalentes. Será
abordado também o Teorema de Newton-Puiseux que, junto com o Teorema de Pre-
paração de Weierstrass e o Teorema da Função ı́mplicita de Newton, afirma que toda
série é equivalente a um polinômio de Weierstrass. Outro resultado significativo deste
capı́tulo é o Lema Unitangente, que nos dá como é expressa a forma inicial de uma série
irredutı́vel.
No capı́tulo 3, definimos Anel Coordenado, Índice de Intersecção entre duas curvas,
Valoração associada a uma série e Curvas Transversais. Demonstramos resultados que
nos dão maneiras alternativas de calcular o Índice de Intersecção entre duas curvas.
Além disso, relacionamos o Índice de Intersecção com Valoração e a multiplicidade da
Resultante de duas curvas.
No capı́tulo 4, apresentamos as Transformações Quadráticas e o Blowing-up que con-
siste em uma técnica de desingularização de curvas. Definimos Transformação Total e
a Transformação Estrita da Transformação Quadrática, além de encontrarmos relações
entre as caracterı́sticas das curvas e as caracterı́sticas da transformação estrita da curva.
Demonstramos que, após um número finito de Transformações Quadráticas, podemos
transformar qualquer curva plana irredutı́vel em uma curva plana regular. Enfim, de-
monstramos a Fórmula de Noether a partir dos resultados mostrados ao longo do traba-
lho.
2
O capı́tulo 5 será voltado para a definição da generalização do Blowing-up de uma
variedade e exemplos. Além disso, enunciamos o Teorema de Hironaka que mostra a
existência de sequência de Blowing-ups que resolvem singularidades.
3
Capı́tulo 1
Preliminares
∞ X
X
fg = (Fj Gk ),
i=0 j+k=i
é um anel comutativo com unidade. Tal anel é denominado Anel das Séries de
Potências Formais .
4
Também podemos denotar os elementos de R = K[[x1 , ..., xr ]] por
∞
X X
f= ai1 ...air x1 i1 ...xr ir .
i=0 i1 +...+ir =i
∞
X X
Definição 1.1 Dada f = ai1 · · · air x1 i1 · · · xr ir ∈ C[[x1 , · · · , xr ]], se existe
i=0 i1 +···+ir =i
ρ ∈ R∗+ tal que
∞
X X
|ai1 · · · air |ρi
i=0 i1 +···+ir =i
Alguns elementos no anel das séries de potências são invertı́veis. Na próxima pro-
posição apresentamos condições necessárias e suficientes para que uma série seja in-
vertı́vel.
∞
X
Proposição 1.4 Um elemento f = Pi ∈ R, com Pi homogêneo de grau i, é invertı́vel
i=0
se, e somente se, P0 é invertı́vel em K.
∞
X ∞
X
Demonstração: De fato, suponha que f = Pi é invertı́vel e seja g = Qi tal que
i=0 i=0
∞ X
X
f g = 1, isto é, f g = Pk Qj = P0 Q0 + (P0 Q1 + P1 Q0 ) + · · · = 1. Neste caso, o
i=0 k+j=i
5
sistema
P Q =1
0 0
P0 Q1 + P1 Q0 = 0
...
∞
X ∞
X
tem solução. Assim, dada f = Pi , existe g = Qi tal que f g = 1 e, portanto, f é
i=0 i=0
invertı́vel. 2
Definição 1.6 Seja f = Pn + Pn+1 + ... ∈ R\{0}, com cada Pi sendo um polinômio
homogêneo de grau i e Pn 6= 0. Chamamos Pn de forma inicial de f e n de multiplicidade
de f .
6
Proposição 1.8 Se f, g ∈ R, então:
7
Demonstração: Suponha que exista um ideal I ∈ R tal que MR ⊂ I ⊂ R com
I 6= MR .
Então existe p ∈ I tal que p ∈
/ MR , isto é, p = P0 + P1 + ... com P0 6= 0 e, portanto p é
invertı́vel, assim, I = R e MR é ideal maximal de R.
Para mostrar que MR é o único ideal maximal de R suponha que exista um outro
ideal maximal J de R. Suponha que existe um elemento p = P0 + P1 + · · · ∈ J tal que
p∈
/ MR , ou seja, P0 6= 0. Desta forma p é invertı́vel e, como J é ideal, segue que 1 ∈ J
e assim J = R, contradizendo o fato de J ser maximal.
\
MiR , pela Observação 1.10 segue que
P
Finalmente, dado f = j∈N Pj ∈
i∈N
\
f = P0 + P1 + · · · ∈ MiR ⇔ P0 = P1 = · · · = 0,
i∈N
e portanto f ≡ 0. 2
com ai ∈ K[[x1 , · · · , xr−1 ]], com mult(ai ) ≥ i para cada i ∈ {1, · · · , n}.
Nesta seção vamos ver que dada uma série f ∈ MR , que satisfaz certas condições,
é possı́vel reescrevê-la como um polinômio de Weierstrass. Estabelecemos critérios de
redutibilidade em K[[x, y]], onde K é corpo e x e y são indeterminadas. Por conveniência
vamos considerar o grau do polinômio nulo como −∞.
f = gp + hq,
8
com gr(h) < r e gr(g) < s.
f = f ap + f bq
= f ap + (ρp + h)q
= f ap + ρpq + hq
= (f a + ρq)p + hq
Além disso,
Lema 1.14 (Lema de Hensel) Seja f ∈ K[[x]][y] mônico tal que f (0, y) = p(y)q(y),
onde p(y), q(y) ∈ K[y] são relativamente primos, gr(p(y)) = r e gr(q(y)) = s. Então
existem dois polinômios unicamente determinados g, h ∈ K[[x]][y] tais que f = gh com
gr(g) = r, gr(h) = s, g(0, y) = p(y) e h(0, y) = q(y).
Demonstração: Seja f ∈ K[[x]][y] mônico tal que n = gry (f ) = gr(f (0, y)) =
gr(p(y)) + gr(q(y)) = r + s. Note que f pode ser escrito como f = f0 (y) + xf1 (y) +
x2 f2 (y) + · · · , onde cada fi (y) ∈ K[y] e f0 (y) = f (0, y).
9
Determinamos g(x, y) = p(y) + xg1 (y) + · · · ∈ K[[x]][y], com gr(gi (y)) < r e h(x, y) =
q(y) + xh1 (y) + · · · ∈ K[[x]][y], com gr(hi (y)) < s tais que f (x, y) = g(x, y)h(x, y). Isto
ocorre se, e somente se,
f0 (y) = p(y)q(y)
f (y) = p(y)h (y) + g (y)q(y)
1 1 1
.. .. ..
. . .
f (y) = p(y)h (y) + g (y)q(y) + · · ·
i i i
Como f é mônico, temos que gr(fi (y)) < n = r + s. Pelo Lema 1.13 a equação pode
ser resolvida de maneira única em gi (y) e hi (y) e portanto g, h ∈ K[[x]][y] são unicamente
determinados com gr(g) = r e gr(h) = s. 2
f xn u
h= = m = xn−m uv −1 = xr w,
g x v
desta forma a série teria infinitos expoentes negativos e isto é um absurdo, pois T é um
endomorfismo. Assim, devemos ter r ≥ 0.
10
Como T é um K-automorfismo existe T −1 definido por T −1 (x) = xs v(x), com v(x)
unidade de K[[x]] e s ∈ Z+ . Daı́,
Exemplo 1.17 Seja f (x, y) = x4 +y 5 −3x4 y+7x2 y 4 . Como f (0, y) = y 5 então f é regular
em y de ordem 5. Por outro lado, f (x, 0) = x4 , então mult(f (x, 0)) = 4 = mult(f ), isto
é, f é regular em x.
g = f q + r,
11
com r = 0 ou grxs (r) < m.
∞
X
h = g − r−1 = hm + hm+1 + · · · = ai xis ∈ R0 [[xs ]], (1.1)
i=m
12
Contudo temos que
= h − qf
=(1.1) qf + r−1 + r0 + · · · .
f u = xm m−1
s + a1 x s + · · · + am
ou r = 0.
Como xm m m
s |f (0, · · · , xs ), então xs divide xs − (f q)(0, · · · , xs ) = r(0, · · · , xs ). Visto
que grxs (r) < m, segue que r(0, · · · , 0, xs ) = 0 e, implica que, q(0, · · · , 0, xs ) ∈ K\{0}
e q(0, · · · , 0) ∈ K\{0}, portanto, q é invertı́vel. Assim tomando q = u e considerando
r = −(a1 xm−1
s + a2 xm−2
s + · · · + am ) ∈ R0 [xs ] teremos
f u = xm
s + a1 x
m−1
+ · · · + am .
i ∈ {1, · · · , m}.
13
Se f é regular em xs então m = mult(f ) = mult(f u) = mult(xm
s +a1 x
m−1
+· · ·+am ) e,
para que isso ocorra devemos ter mult(ai xm−i
s ) ≥ m para cada i = 1, · · · , m e, portanto,
mult(ai ) ≥ i. 2
Observe que nos teoremas anteriores é relevante f ser regular, mas nem sempre isso
ocorre. Vamos ver a seguir que uma série não regular, com coeficientes num corpo infinito,
pode se tornar regular através de um automorfismo em R.
Lema 1.21 Seja K um corpo infinito e F uma famı́lia finita de polinômios homogêneos
não nulos em K[y1 , · · · , yr ]. Então existe uma transformação linear T : K[x1 , · · · , xr ] −→
K[y1 , · · · , yr ] tal que para todo f ∈ F com grau m existe cf 6= 0 tal que,
f (T (x1 , · · · , xr )) = cf xm
r + p(xr ),
onde p(xr ) ∈ K[x1 , · · · , xr−1 ][xr ] são termos de grau menor que m em xr .
Observe que cada polinômio de F possui um número finito de raı́zes em K r . Já que
F é finito e K é infinito, é possı́vel tomar (α1 , · · · , αr ) ∈ K r tal que f (α1 , · · · , αr ) 6= 0
para todo f ∈ F. Portanto cf = f (α1 , · · · , αr ) 6= 0 para algum (α1 , · · · , αr ) ∈ K r . 2
14
Corolário 1.22 Seja K um corpo infinito. Dada uma famı́lia finita F de elementos não
nulos em R existe um automorfismo linear T de R tal que todos os elementos de T (F)
são regulares na última indeterminada.
Exemplo 1.24 Note que o polinômio f = x2 y 3 + 2xy 2 + xy 2 não é regular com relação
a x ou y. Se consideramos o automorfismo
15
O estudo de um polinômio é mais simples do que o estudo de uma série de potências.
Agora, dado f ∈ R\{0} não invertı́vel em R, podemos fazer uma mudança de coordena-
das para que possamos preparar f em um polinômio de Weierstrass.
p(x1 , · · · , xr ) = xm m−1
r + a1 x 1 + · · · + am ∈ R0 [xr ]
Definição 1.26 Seja A um domı́nio. Dizemos que um elemento a ∈ A\{0}, não in-
vertı́vel, é irredutı́vel se existem b, c ∈ A tal que a = b · c então, b ou c é unidade.
Logo, f1 f2 é Pseudo-polinômio.
Da mesma forma, se f1 e f2 são polinômios de Weierstrass então f1 f2 também é.
Analogamente, suponha que f1 f2 é Pseudo-polinômio. Então,
16
mult(f1 ) + mult(f2 ) = mult(f1 f2 ) = m + n.
f = f1 f2 ⇔ f u1 u2 = f1 u1 f2 u2 ⇔ f (u1 u2 ) = h1 h2 .
17
Como f1 e f2 são Pseudo-polinômios em xr , então h1 e h2 são Pseudo polinômios.
Daı́, f = h1 (h2 u−1 −1 −1 −1
2 u1 ), onde h1 e h2 u2 u1 não são invertı́veis. Logo, f é redutı́vel em
R0 [xr ].
Como R0 [xr ] ⊂ R0 , então a redutibilidade em R0 [xr ] implica na redutibilidade em R0 .
Logo, f redutı́vel em R0 [xr ] implica que f é redutı́vel em R0 .
2
Portanto, f = xm
r · u é uma decomposição para f .
18
Demonstração: Seja f ∈ R0 [xr ] um Pseudo-polinômio. Como R0 [xr ] é domı́nio de
fatoração única, podemos decompor f = f1 · · · fn como produto de irredutı́veis em R0 [xr ].
Pelo Lema 1.28 , segue que fi é irredutı́vel em R para todo i ∈ {1, · · · , n}.
Além disso, como f é Pseudo-polinômio segue do Lema 1.27 que fi é Pseudo-polinômio
para cada i ∈ {1, · · · , n}. 2
19
Assim,
h = g − (b1 xd−n1 f1 + · · · br xd−nr fr ) ∈ I,
Considere
h = g − b1 xd−bd1 fd1 + · · · + brd xd−bdrd fdrd ∈ I
20
Como R0 é Noetheriano por hipótese, então R0 [xs ] é Noetheriano e, assim,
I R0 [xs ] =< g1 , · · · , gm >, onde gi ∈ R para i = 1, · · · , m. Dado h ∈ I, pelo Teo-
T
1.5 Eliminação
Definição 1.34 Seja A um domı́nio de fatoração única e considere f = a0 y m +a1 y m−1 +
· · · + am e g = b0 y n + b1 y n−1 + · · · + bn ∈ A[y]. Então o resultante de f e g é um elemento
de A definido por:
a0 a1 a2 ··· am 0 ··· ··· 0
0 a0 a1 · · · am−1 am ··· ··· 0
.. .. .. .. .. .. .. ..
..
. . . . . . . . .
··· ··· ··· ··· ··· · · · am
0 a0
Ry (f, g) = detMf,g = det .
··· ···
b0 b1 b2 bn−1 bn 0 0
··· ···
0 b0 b1 ... bn−1 bn 0
.. .. .. .. .. .. .. .. ..
. . . . . . . . .
0 ··· ··· ··· b0 ··· ··· ··· bn
m+n
Lema 1.35 Os polinômios f, g ∈ A[y] possuem fator comum não constante se, e somente
se, existem p, q ∈ A[y]\{0}, com gr(p) < gr(f ) e gr(q) < gr(g), tais que qf = pg.
21
Reciprocamente, se qf = pg com gr(p) < gr(f ) e gr(q) < gr(g) e f e g não possuem
fatores em comum, então g|q. Mas isto não pode ocorrer pois gr(q) < gr(g).
Logo, f e g possuem termos não constantes em comum. 2
22
Se f e g admitem um fator comum não invertı́vel em R[[y]], então possuem fator
comum em R[y]. Pela proposição anterior segue que Ry (f, g) = 0.
Reciprocamente, se Ry (f, g) = 0, como a0 6= 0 e b0 6= 0, então pela proposição anterior
f = f1 h e g = g1 h, onde h ∈ R[y] não é invertı́vel. Além disso, pelo Lema 1.27, e pelo
fato de f e g serem Pseudo-polinômios, então h é Pseudo-polinômio. Visto que R[y] é
domı́nio de fatoração única podemos supor que h é irredutı́vel em R[y] e, pelo Lema 1.28,
h é irredutı́vel em R[[y]] e portanto h é não invertı́vel em R[[y]]. 2
Demonstração: Suponha que R(α) = Ry (f (α, y), g(α, y) = 0. Pela Proposição 1.36,
a0 (α) = b0 (α) = 0 ou f (α, y) e g(α, y) possuem fatores comuns não constantes.
Se a0 (α) = b0 (α) = 0 o corolário é demonstrado.
Senão, existem f1 (α, y), g1 (α, y) e h(α, y) ∈ C[y] tais que f (α, y) = f1 (α, y)k(α, y) e
g(α, y) = g1 (α, y)k(α, y). Como C é algebricamente fechado e f (α, y) e g(α, y) possuem
fatores comuns não constantes, existe y0 tal que f (α, y0 ) = g(α, y0 ) = 0 e, portanto,
admitem raı́zes comuns em C.
Reciprocamente, se a0 (α) = b0 (α) = 0, então pela Proposição 1.36, R(α) = 0.
Por outro lado, se f (α, y) e g(α, y) admitem raı́zes em comum em C, então possuem
fatores em comum em C[y], como C é um domı́nio de fatoração única então, pela Pro-
posição 1.36, R(α) = 0. 2
Ry (f, g) = qf + pg.
23
Demonstração: Sejam f = a0 y n + a1 y n−1 + · · · + an e g = b0 y m + b1 y m−1 + · · · + bm
elementos de A[y]\A.
Se f e g possuem fatores não constantes em comum em A[y] então, pelo Lema 1.35,
existem p e q ∈ A[y] que satisfazem qf + (−p)g = 0, com gr(q) < gr(g) e gr(p) < gr(f ).
Além disso, pela Proposição 1.36, Ry (f, g) = 0 e portanto Ry (f, g) = qf + (−p)g.
Se f e g não possuem fatores não constantes em comum segue que Ry (f, g) 6= 0 e,
podemos escrever,
n+m−1 m−1
a a1 a2 · · · am 0 ··· ··· 0 y y f
0
n+m−2 m−2
0 a0 a1 · · · am−1 am ··· ··· 0 y y f
...
: : : : : : : : : :
0 ··· ··· ··· ··· ··· · · · am yn
a0 f
=
n−1 . (1.3)
b0 b1 b2 · · · bn−1 bn ··· y n−1
0 0 y g
y n−2
n−2
0 b0 b1 · · · . . . bn−1 ···
bn 0 y g
: : : : : : : : : : :
0 ··· ··· ··· b0 ··· ··· ··· bn 1 g
Substituindo a última coluna da matriz Mf,g pela coluna dos termos independentes
(1.3) obtemos a matriz:
m−1
a a1 a2 ··· am 0 ··· ··· y f
0
m−2
0 a0 a1 · · · am−1 am ··· ··· y f
..
: : : . : : : : :
0 ··· ··· ··· ··· ··· ···
a0 f
M = .
··· 0 · · · y n−1 g
b0 b 1 b2 bn−1 bn
n−2
··· bn · · · y g
0 b 0 b1 ... bn−1
: : : : : : : : :
0 ··· ··· ··· b0 ··· ··· ··· g
Assim, pelo Método de Crammer temos,
detM detM
1= = ⇒ Ry (f, g) = detM.
detMf,g Ry (f, g)
Considere Ai o cofator de y m−i f e Bj o cofator de y n−j g. Expandindo o determinante
de M usando o Teorema de Laplace obtemos:
24
detM = A1 y m−1 f + A2 y m−2 f + · · · + Am f + B1 y n−1 g + B2 y n−2 g + · · · + Bn g
= (A1 y m−1 + A2 y m−2 + · · · + Am )f + (B1 y n−1 + B2 y n−2 + · · · + Bn )g
Tomando q = A1 y m−1 + A2 y m−2 + · · · + Am e p = B1 y n−1 + B2 y n−2 + · · · + Bn temos
Ry (f, g) = detM = qf + pg. 2
1 S1 S2 ··· Sn 0 ··· ··· 0
0 1 S1 ··· Sn−1 Sn ··· ··· 0
...
: : : : : : : :
0 ··· ··· ··· ··· ··· ···
m n
1 Sn
= a0 b 0 .
S10 S20 ··· 0 0
···
1 Sm−1 Sm 0 0
S10 ··· 0 0
···
0 1 ... Sm−1 Sm 0
: : : : : : : : :
0
0 ··· ··· ··· ··· ··· · · · Sm
1
Assim,
25
2 n
1 T S1 T S2 · · · T Sn 0 ··· ··· 0
0 1 T S1 ··· T n−1 Sn−1 T n Sn ··· ··· 0
..
: : : . : : : : :
··· ··· ··· ··· ··· ··· T n Sn
m n
0 1
Ry (f, g)(T x, T y) = a0 b0
1 T S10 T 2 S20 · · · 0
T m−1 Sm−1 0
T m Sm ···
0 0
T S10 ··· 0
T m−1 Sm−1 0
T m Sm ···
0 1 ... 0
: : : : : : : : :
0
··· ··· ··· ··· ··· · · · T m Sm
0 1
Se multiplicarmos a linha l da matriz que nos dá Ry (f, g)(T x, T y) por T l−1 , para cada
l ∈ {2, · · · m} {m − 2, · · · , m + n}, então o novo determinante é dado por T M Ry (f, g),
S
Demonstração: Considere f = a0 (y − x1 ) · · · (y − xn ) e g = b0 (y − y1 ) · · · (y − ym )
elementos de R00 [y]. Se xi = yj , então f e g possuem raiz em comum.
26
Pela Proposição 1.36, Ry (f, g) = 0 e, assim, (xi − yj ) divide Ry (f, g) para todo i e j.
Além disso, xi − yj e xr − ys são coprimos sempre que (xi , yj ) 6= (xr , ys ) e disso segue que
P divide Ry (f, g), onde
n Y
Y m
P = am n
0 b0 (xi − yj ).
i=1 j=1
Além do mais,
n Y
Y m
P = am n
0 b0 (xi − yj )
i=1 j=1
n
Y
m n
= a0 b 0 (xi − y1 )(xi − y2 ) · · · (xi − ym )
i=1
n
Y
= am
0 b0 (xi − y1 )(xi − y2 ) · · · (xi − ym )
i=1
Yn
= am
0 g(xi ).
i=1
Contudo,
n Y
Y m n
Y m
Y
P = am n
0 b0
m
(xi − yj ) = a0 mn n
g(xi ) = (−1) b0 f (yj ).
i=1 j=1 i=1 j=1
27
O resultado segue se substituirmos xi por αi e yj por βj . 2
∞
X X
Definição 1.42 Dada a série f = ai1 ,i2 xi1 y i2 ∈ K[[x, y]], definimos a derivada
i=0 i1 +i2 =i
da série f com relação à variável y por
∞
X X
Dy (f ) = i2 ai1 ,i2 xi1 y i2 −1
i=0 i1 +i2 =i
Dy (f ) = Ry (f, fy ).
n
Y Y n
Y
Dy (f ) = an−1
0
n−1 n
a0 (αi − αj ) = a0 a0 (αi − αj )
i=1 i6=j i=1,i6=j
n
Y
= a2n−1
0 (αi − αj ).
i=1,i6=j
28
Capı́tulo 2
Em geral a curva algébrica plana dada por f é definida como sendo o lugar geométrico
dos pontos que satisfazem f (x, y) = 0. O polinômio f não fica bem determinado pela
curva pois, podemos obter a mesma curva por polinômios diferentes. Por exemplo, f = 0
e f 2 = 0 tem a mesma solução. Mais ainda, xy = 0 e xy 2 = 0 têm soluções idênticas.
Observe que nestes exemplos, os polinômios possuem os mesmos termos irredutı́veis. Dito
isso, podemos afirmar que dois polinômios em duas variáveis com coeficientes num corpo
têm as mesmas soluções se, e somente se, possuem os mesmos fatores irredutı́veis? A
resposta é “sim”, como vemos no próximo resultado.
Proposição 2.1 Se f e g são elementos de K[x, y], então f(x,y) e g(x,y) possuem as
mesmas soluções se, e somente se, têm os mesmos fatores irredutı́veis.
Demonstração: Vamos mostrar que todo fator irredutı́vel de f divide g em K[x, y].
Seja p ∈ K[x, y] um fator irredutı́vel de f e note que, se (x, y) ∈ K 2 que é raiz de p
então também é raiz de g. Como p é irredutı́vel em K[x][y] e K[x][y] ⊂ K(x)[y], então p
é irredutı́vel em K(x)[y]. Suponha que mdc(p, g) = 1, então existem a, b ∈ K(x)[y] tais
que,
ap + bg = 1.
a0 b0
Visto que a, b ∈ K(x)[y], podemos escreve-los como a = c
eb= c
e obtemos,
29
a0 p + b0 g = c.
Há infinitos valores para x tais que c(x) = 0, por outro lado p(x, Y ) = 0 para um
número finito de valores de x e consequentemente o mesmo acontece para g(x, Y ), o que
é um absurdo. Logo, p divide g em K[x][y] e consequentemente em K[x, y]. 2
Observe que dadas duas curvas com mesmas soluções então, pela proposição anterior,
elas têm os mesmos fatores irredutı́veis e, assim, elas só se diferenciam por uma unidade.
Estudamos propriedades algébricas de f (x, y) como um elemento de K[[x, y]] visto
que o estudo das singularidades de uma curva algébrica plana, ou uma curva analı́tica
em C2 , é representada localmente por uma equação do tipo f (x, y) = 0.
Dadas duas séries f, g ∈ R \ {0}, dizemos que f ∼ g se existe uma unidade u ∈ R tal
que f = ug.
A relação ∼ é uma relação de equivalência e a classe de f ∈ R\{0}, denotada por
(f ), é chamada de Curva Algébrica Plana.
Assim (f ) = (g) se, e somente se, existe uma unidade u ∈ R tal que f = ug.
Como a curva é uma classe de equivalência podemos representá-la por qualquer ele-
mento da classe. As propriedades locais da curva algébrica (f ) e de seus representantes
são as mesmas, assim, de agora em diante quando nos referimos a curva algébrica (f )
podemos nos referir como “a curva algébrica f ” ou “a curva algébrica determinada por
f ”.
Definição 2.2 Uma curva algébrica plana (f ) é regular se mult(f ) = 1. Se mult(f ) > 1
a chamamos de singular.
30
Vamos ver a seguir que através de um K-automorfismo é possı́vel efetuar mudanças
de coordenadas em K[[x, y]] e algumas propriedades de curvas algébricas planas são
preservadas.
Definição 2.6 Duas curvas algébricas planas (f ) e (g) são equivalentes, isto é,
(f ) ∼ (g), se existe um K-automorfismo φ de K[[x, y]] tal que (φ(f )) = (g), isto é,
existe uma unidade u ∈ K[[x, y]] tal que φ(f ) = u.g
Exemplo 2.8 Observe que verificar se duas curvas são equivalentes nem sempre é uma
tarefa simples. Considere as curvas (f ) e (g) onde:
f = y 2 − x3
31
g = −8x3 + 16x4 + 24x2 y + 9y 2 .
Definição 2.9 Seja (f ) uma curva algébrica plana tal que f = fn + fn+1 ..., chamamos
(fn ) de cone tangente da curva (f ).
Observe que todo polinômio homogêneo com duas indeterminadas e coeficientes num
corpo algebricamente fechado decompõe-se em fatores lineares, então podemos escrever
s
Y
fn = (ai x + bi y)ri ,
i=1
Ps
onde i=1 ri = n e ai bj − aj bi 6= 0 sempre que i 6= j.
O cone tangente de (f ) consiste nas formas lineares (ai x + bi y) com multiplicidade ri ,
chamadas de retas tangentes de f .
Observe que se (f ) é regular, então o cone tangente (f1 ) consiste em uma reta tangente
de multiplicidade 1.
P∞ i
Exemplo 2.11 Considere g(x, y) = i=0 (−1) (x + y)i+3 . A forma inicial de
f é f3 = (x + y)3 , e o cone tangente é ((x + y)3 ), com retas tangentes (x + y) que
possuem multiplicidade 3.
32
2.1 Teorema de Newton-Puiseux
f
Seja K((x)) o corpo das frações sobre K[[x]]. Dado h = ∈ K((x)) \ {0}, visto que
g
f = xn u e g = xm v, com m, n ∈ N, u e v unidades em K[[x]], nós temos que
f xn u
h= = m = xn−m uv −1 = xr w,
g x v
onde r ∈ Z e w é unidade em K[[x]].
Assim, os elementos h de K((x)) são da forma:
f x3 + 2x + 7 1(x3 + 2x + 7)
h= = = = x−1 (x2 + 2x + 7)(x + 2)−1 .
g x2 + 2x x(x + 2)
Vimos no exemplo 1.5 que
∞
−1
X xi
(x + 2) = ,
i=0
2i+1
assim,
1 x x2
h = x−1 (x3 + 2x + 7)( + + + · · · ).
2 4 8
Portanto,
7 11 15 15
h = x−1 + + x + x2 + x3 + · · · .
2 4 16 32
1
i) x 1 = x.
33
m m
ii) x( rn )r = x n ∀m, n ∈ Z e n, r > 0.
1
Deste modo obtemos a extensão K((x n )) de K((x)).
Recordamos da Teoria de Galois, que se F/K é uma extensão de corpos, então o
conjunto G(F/K) = {σ : F → F ; σ é K-automorfismo}, munido com a operação de
composição, é um grupo, denominado grupo de Galois da extensão F/K.
Definição 2.13 Seja F/K uma extensão de corpos. Se o grupo de Galois G(F/K)
é finito e K = {a ∈ F, σ(a) = a, ∀σ ∈ G(F/K)}, então F/K é chamada extensão
Galoisiana.
1
Lema 2.14 A extensão de corpos K((x n ))/K((x)) é finita e galoisiana, com o grupo de
Galois isomorfo ao grupo Un .
1 1 1
Demonstração: Seja G = G(K((x n ))/K((x))) e σ : K((x n )) → K((x n )) um
1 1 1 1 1
K((x))−automorfismo de G. Então existe bσ (x n ) ∈ K[[x n ]] tal que σ(x n ) = bσ (x n )x n
1 n 1 1 n
e, assim, bσ (x n ) x = σ(x n )n = σ(x) = x e desta forma bσ (x n ) = 1 e bσ ∈ Un .
Para mostrar que G é isomorfo a Un , defina:
f : G −→ Un
.
σ 7−→ bσ
34
1 1
Dados x n ∈ K((x n )) e σ, ρ ∈ G, então
1 1 1 1 1 1 1 1
x n bσ◦ρ (x n ) = σ ◦ ρ(x n ) = σ(ρ(x n )) = σ(bρ (x n )x n ) = σ(bρ (x n ))σ(x n )
1 1 1 1 1
= bρ (x n )bσ (x n )x n = bρ bσ (x n )x n
e, portanto, f é homomorfismo.
P i 1
Além disso, dado ai x n ∈ K((x n )) suponha f (σ) = f (ρ).
i i i i i
X X X X
σ( ai x n ) = σ(ai )σ(x n ) = ai σ(x n ) = ai bσ (x n )x n
i i i i
X X X
= ai bσ (x n )x n = ai ρ(x n ) = ρ( ai x n ).
Segue que f é injetora e, da maneira que foi definida f , segue que f é sobrejetora e,
portanto, f é um isomorfismo.
1 1
Considere K((x n ))G = {a ∈ K((x n )); σ(a) = a, ∀σ ∈ G} e vamos mostrar que
1
K((x n ))G = K((x)).
1 1
Sabemos que K((x)) ⊂ K((x n ))G , resta mostrar que K((x n ))G ⊂ K((x)).
i 1
X
Suponha que para todo a ∈ Un , dado bi x n ∈ K((x n )), para σ ∈ G temos,
i≥i0
i i i i
X X X X
bi x n = σ( bi x n ) = bi σ(x n ) = bi ai x n .
i≥i0 i≥i0 i≥i0 i≥i0
1
[
K((x))∗ = K((x n )) ⊂ K((x)).
n∈N
35
p1 p2
Observe que os elementos de K((x))∗ são da forma α = b1 x q1 + b2 x q2 + ·· · , onde
pi pi+1 pi
bi ∈ K, pi e qi ∈ Z∗ com qi > 0 e > com i ∈ N. Além disso , i ∈ N∗ admite
qi qi+1 qi
denominador comum.
p1
Se b1 6= 0, então mult(α) = e, como demonstrado anteriormente, dados α e
q1
β ∈ K((x))∗ , temos:
i) mult(αβ) = mult(α)mult(β);
iii) mult(0) = ∞.
1
Definição 2.16 Denotamos por K[[x]]∗ a união de K[[x n ]] para todo n ∈ N \ {0}, isto
é,
1
[
K[[x]]∗ = K[[x n ]].
n∈N
36
Seja p(x, y) = y n + a1 y n−1 + · · · + an ∈ K((x))∗ [y] com gry (p) ≥ 2.
Tome o seguinte K((x))∗ -isomorfismo:
a1 n a1
q(x, z) = φ(p(x, y)) = (z − ) + a1 (z − )n−1 + · · · + an
n n
n n−1
X n! a1 X (n − 1)! a1
= (−1)k z n ( )n−k + (−1)k z n−1 ( )n−k−1 + · · ·
k=0
k!(n − k)! n k=0
k!(n − k − 1)! n
nnz n−1 a1 a1
= z − + · · · + a1 (z n−1 − (n − 1)z n−2
n n−1
n n−2
= z + b2 (x)z + · · · + bn (x).
Com esta mudança de variáveis eliminamos o termo de grau n−1 no polinômio p(x, y)
e obtemos o polinômio q(x, z) ∈ K((x))∗ [z].
Se bi (x) = 0, para todo i = 2, · · · , n, então q(x, z) = z n é redutı́vel em K((x))∗ [z] e,
portanto, p é redutı́vel em K((x))∗ [y].
Por outro lado, se bi (x) 6= 0, para algum i ∈ {2, · · · , n}, faremos uma nova mudança
de variáveis e transformaremos os elementos de K((x))∗ [z] em elementos de K((w))∗ [z].
Considere mult(bi (x)) = ui e u = min{ uii , 2 ≤ i ≤ n}.
ur
Dado r ∈ N tal que u = , considere o seguinte isomorfismo de K-álgebras.
r
37
Temos que ϕ preserva o grau do polinômio em z, além disso,
ui ur
Note que ≥ , para todo i ≥ 0 e disso, segue que
i r
mult(ci ) = mult(bi (wr )) + mult(w−iur ) = rui − iur ≥ 0.
Mas h(0, z) não possui termos de grau n − 1, ou seja, nα = 0, isto é, char(K) = n o
que é um absurdo pois estamos trabalhando com char(K) = 0.
Logo h(0, z) tem pelo menos duas raı́zes distintas, ou seja, h(0, z) = p(z)q(z), onde
p(z) e q(z) ∈ K[z]
Agora, pelo Lema de Hensel (Lema 1.14), existem dois polinômios unicamente deter-
minados h1 (w, z), h2 (w, z) ∈ K[[w]][z] com grz (h1 ) ≥ 1 e grz (h2 ) ≥ 1 tais que,
38
1
Além disso, ϕ−1 (w) = x r assim,
1 1
q(x, z) = ϕ−1 (wnur h1 (w k , z)h2 (w k , z)
1 1
= ϕ−1 (wnur )ϕ−1 (h1 (w k , z))ϕ−1 (h2 (w k , z))
nur 1 1
= x r ϕ−1 (h1 (w k , z))ϕ−1 (h2 (w k , z))
1 i
X X
ρ∗α= bi (ρx n )i = bi ρ i x n . (2.1)
i≥i0 i≥i0
1
Lema 2.19 Seja α ∈ K((x))∗ \ K((x)) e n = min{m; α ∈ K((x m ))}. Considerando α
1
um elemento de K((x n )) então, para todo ρ, θ ∈ Un , com ρ 6= θ, temos θ ∗ α 6= ρ ∗ α.
1 1
θ ∗ α = ρ ∗ α ⇔ ϕ(θx n ) = ϕ(ρx n )
i i
⇔ θi x n = ρi x n , sempre que bi 6= 0
⇔ θi = ρi , para todo i tal que bi 6= 0.
vn + u1 i1 + u2 i2 + · · · + uk ik = 1
39
e
θ = θ1 = θnv · θu1 i1 · · · · θun in = ρnv · ρu1 i1 · · · · ρun in = ρ
1
Teorema 2.20 Dado α = ϕ(x n ) ∈ K((x))∗ \K((x)), onde n = min{q ∈ N; α ∈
1
K((x q ))} então:
1
i) K((x))[α] = K((x n ));
n
1
Y
ii) g(x, y) = (y − ϕ(ρi x n )) é o polinômio minimal de α sobre K((x)), onde ρ é um
i=1
gerador fixado do grupo Un ;
Demonstração:
1
i) Para mostrar que K((x))[α] = K((x n )) vamos mostrar que:
1
G0 = G(K((x n ))/K((x))[α]) = (1).
.
1
Considere G = G(K((x n ))/K((x))).
Afirmação: G0 = {g ∈ G; g ∗ α = α}, onde ∗ é definida como em (2.1).
1 1
De fato, seja σ ∈ G0 . Então σ : K((x n )) −→ K((x n )) e é K((x))[α]-automorfismo,
isto é, σ(p) = p para todo p ∈ K((x))[α]. Em particular, σ fixa os elementos de K((x)) ⊂
40
1 1
K((x))[α]. Além disso, α ∈ K((x))[α] e, portanto, σ : K((x n )) −→ K((x n )) é um
K((x))-automorfismo e σ ∗ α = α. Portanto, G0 ⊂ {g ∈ G; g ∗ α = α}.
Por outro lado, dado g ∈ G considere
f = a0 + a1 (x)α + · · · + ak (x)αk
então,
e, portanto, G0 = {g ∈ G; g ∗ α = α}.
Pelo Lema 2.19 temos que g ∗ α = α implica que g = 1 e, disso segue que, G0 = (1).
1
Logo K((x))[α] = K((x n )).
ii) Já vimos que G ∼
= Un assim,
1
n = gry (g(x, y)) = G(K((x n ))/K((x))) .
Visto que ,
1
Corolário 2.21 Toda extensão finita de K((x)) é da forma K((x n )) para algum
n ∈ N \ {0}.
41
Demonstração: Como char(K((x))) = 0 então toda extensão L de K((x)) é separável,
além disso pelo Teorema do Elemento Primitivo (ver Teorema 3.3.4, p. 81 de [6]), existe
α ∈ L tal que K((x))[α] = L e, pelo item (i) do Teorema 2.20 , temos que K((x))[α] =
1
K((x n )). 2
Além disso,
≥ i0 + (n − i0 )mult(α),
42
Corolário 2.23 (Teorema da Função Implı́cita de Newton) Seja f (x, y) ∈ K[[x, y]],
∂ nf
irredutı́vel com multiplicidade n, e suponha que (0, 0) 6= 0. Então existe
∂y n
i P i 1
ϕ(x n ) = i≥1 bi x n ∈ K[[x n ]] tal que
1
f (x, ϕ(x n )) = 0.
1 1
Além disso, qualquer α ∈ K[[x n ]] que satisfaz f (x, α) = 0 é tal que α = ϕ(ξx n ), para
algum ξ ∈ Un .
∂ nf
Demonstração: Visto que n (0, 0) 6= 0 temos que f é regular de ordem n com relação
∂y
à y. Pelo Teorema da Preparação de Weierstrass, existe uma unidade u ∈ K[[x, y]] tal
que
f = gu,
1
g(x, ϕ(x n )) = 0.
1 1 1
Portanto, f (x, ϕ(x n )) = g(x, ϕ(x n )).u(x, ϕ(x n )) = 0.
1
Além disso, pelo Corolário 2.22, qualquer α ∈ K[[x n ]] satisfaz
n
Y
f (x, y)u (y − αi ).
i=1
Lema 2.24 (Lema Unitangente) Seja f ∈ K[[x, y]] com f (0, 0) = 0 irredutı́vel com
multiplicidade n. Então a forma inicial de f é
fn = (ax + by)n ,
43
Demonstração: Podemos supor que f é regular em y, caso contrário podemos realizar
uma mudança de coordenadas. Pelo Teorema da Preparação de Weierstrass f = u.p,
onde p ∈ K[[x]][y] e u ∈ K[[x, y]] é unidade.
Como f é irredutı́vel, por hipótese, então p é irredutı́vel em K[[x, y]]. Pelo Lema 1.28
p é irredutı́vel em K[[x]][y].
Segue do Corolário 2.22-ii que
n
1
Y
p(x, y) = (y − ϕ(ξ i x n )),
i=1
1 r r+1 1
onde ξ é uma raiz primitiva da unidade e ϕ(x n ) = br x n + br+1 x n + · · · ∈ K((x n )), com
br 6= 0.
Além disso, p é um polinômio de Weierstrass e, novamente, pelo Corolário 2.22,
1
mult(ϕ(x n )) ≥ 1 e r ≥ n.
A forma inicial de p é a forma inicial de
n
r
Y
q(x, y) = (y − ξ rk br x n )
k=1
n
!
r
X
= yn − br x n ξ kr y n−1 + · · · + (−1)n bnr xr .
k=1
Se r = n então,
n n
r
Y Y
rk
q(x, y) = (y − ξ br x ) = n (y − bn x) = (y − bn x)n .
k=1 k=1
ir ir
Se r > n, observe que ir > in ⇒ n
>i⇒n−i+ n
> n. Assim, como
44
Seja f = fn + fn+1 + · · · ∈ K[[x, y]] uma série de potências irredutı́vel com multiplici-
dade n. Pelo Lema Unitangente fn = (ax + by)n onde a, b ∈ K não são simultaneamente
nulos, isto é, f é regular em x ou em y.
Se f for regular em y podemos escrever
com h(x, y) ∈ K[[x, y]], ai (x) ∈ K[[x]], a0 (x) unidade e mult(ai (x)) ≥ i, para todo
i ∈ {1, · · · , n}.
Observe que o Lema Unitangente nos ajuda a identificar quando as séries são re-
dutı́veis em K[[x, y]], isto é, uma condição necessária para que f = fn + fn+1 + · · · ∈ M
seja redutı́vel em K[[x, y]] é fn = (ax + by)n com a e b não simultaneamente nulos.
Exemplo 2.25 A curva plana conhecida como Trissectriz de Maclaurin dada por
f = x(x2 + y 2 ) − (y 2 − 3x2 ) é redutı́vel, pois f (0, 0) = 0 e a forma inicial de f é
√ √
dada por y 2 − 3x2 = (y − 3x)(y + 3x).
45
Lema 2.27 Seja f = a0 (x)y n + a1 (x)y n−1 + · · · + an (x) + y n+1h(x,y) ∈ K[[x, y]] uma
série de potências irredutı́vel com multiplicidade n e regular em y. Então para cada
i ∈ {0, 1, 2, · · · , n}, vale a seguinte desigualdade:
mult(an (x))
mult(ai (x)) ≥ i · .
n
mult(An (x))
mult(Ai (x)) ≥ i .
n
Daı́,
mult(An (x)) = mult(u0 (x)an (x)) = mult(an (x))
Contudo temos,
mult(an (x))
mult(ai (x)) = mult(ai (x)u0 (x) = mult(Ai −(u1 (x)ai+1 (x)+· · ·+un−1 an (x))) ≥ i .
n
46
1 1
Pelo Corolário 2.23, P (x, α) = P (x, ϕ(x n )) = 0. Fazendo t = x n , então ϕ(t) ∈ K[[t]]
e f (tn , ϕ(t)) = 0.
Nesta situação dizemos que a mudança de variável
x = tn
y = ϕ(t) = P i
i≥m bi t , com bm ∈ K\{0}
multt (ϕ(t)) = n · multx (α) = multx (An (x)) = multx (an (x)) ≥ n.
47
Capı́tulo 3
Interseção de Curvas
Para calcular os pontos de interseção entre uma curva definida por f ∈ C[x, y] e uma
reta l, dada pela equação y = ax + b, resolvemos a seguinte equação:
f (x, ax + b) = 0.
Dizemos que a equação não admite solução, isto é, f (x, ax + b) é uma constante não
nula se, e somente se, a curva e a reta não possuem pontos em comum. Se l é uma
componente de f , então f (x, ax + b) é identicamente nula. No caso em que a reta e
a curva se interceptam, como estamos trabalhando num corpo algebricamente fechado,
então podemos reescrever
n
Y
f (x, ax + b) = c (x − xi )mi , (3.1)
i=1
48
Exemplo 3.1 Sejam f = y 2 + x3 − 3 e g = 2xy − 4. Para calcular as interseções entre
f e g devemos resolver f (x, y) = g(x, y) = 0 ou, equivalentemente,
y 2 + x3 = 3
xy = 2.
x5 − 3x2 + 4 = 0 (3.2)
que é exatamente Ry (f, g). Assim, as abscissas das interseções entre f e g são as soluções
da equação (3.2).
Entretanto, na equação de uma curva nem sempre é fácil escrever uma variável em
função das outras e, assim, é necessário encontrar outras estratégias para calcular as
interseções.
Neste capı́tulo, apresentamos uma maneira de calcular o Índice de Interseções en-
tre quaisquer duas curvas, que nem sempre coincide com a quantidade de pontos de
interseção, mas identifica a multiplicidade delas. Para isso vamos introduzir alguns con-
ceitos como, Anel Coordenado e Valoração, além da relação entre Índice de Interseção e
Resultante de duas curvas.
49
Se existe outro ideal maximal J de Of então existe g(x, y) ∈ J\M, e com o mesmo
raciocı́nio, g(x, y) é invertı́vel e portanto J = Of . 2
Teorema 3.5 Dadas (f ) e (g) duas curvas algébricas planas então Of ' Og se, e so-
mente se, (f ) ∼ (g).
π : K[[x, y]] −→ Og
p(x, y) 7−→ p(x, y).
Assim,
π ◦ φ : K[[x, y]] −→ Og
q(x, y) 7−→ φ(q(x, y))
é um homomorfismo sobrejetor.
Além disso,
Ker(π ◦ φ) = {p ∈ K[[x, y]]; (π ◦ φ)(p) = 0}
= {p ∈ K[[x, y]]; π(φ(p)) = 0}
= {p ∈ K[[x, y]]; φ(p) = 0}
= {p ∈ K[[x, y]]; φ(p) ∈< g >}
= {p ∈ K[[x, y]]; φ(p) = g · hp }
= {p ∈ K[[x, y]]; p = φ−1 (g) · φ−1 (hp )}
= {p ∈ K[[x, y]]; p = f · φ−1 (u−1 ) · φ−1 (hp )}
= <f >.
50
K[[x, y]] K[[x, y]]
Pelo Teorema do Isomorfismo segue que Of = = ' Og .
<f > Ker(π ◦ φ)
Reciprocamente, suponha Of ' Og . Se f e g são regulares, pela Proposição 2.7,
(f ) ∼ (g).
Senão, sem perda de generalidade, podemos supor que mult(g) ≥ 2 e Of ' Og através
do isomorfismo φ tal que
φ(x) = t
1
φ(y) = t ,
2
Como φ é um isomorfismo, existem r(x, y), s(x, y) ∈ K[[x, y]] tais que,
Assim,
x − r(t1 , t2 ) = 0 =< g > que implica x − r(t1 , t2 ) ∈< g >⊂ M2 , e
y − s(t1 , t2 ) = 0 =< g > que implica que y − s(t1 , t2 ) ∈< g >⊂ M2 , pois mult(g) ≥ 2.
Daı́, t1 = ax + by + · · · e t2 = cx + dy + · · · .
Afirmação: ad − bc 6= 0.
De fato,
Como mult(x − r(t1 , t2 )) ≥ 2 então os termos de grau 1 não devem existir, isto é,
51
mult(x − x(ma + nc) − y(yb + nd) + · · · ) ≥ 2
implica
que
ma + nc = 1
mb + dn = 0
e assim,
Consequentemente,
Demonstração: Dado g ∈ K[[x, y]] então, pelo Algoritmo da Divisão (Teorema 1.19),
existem h ∈ K[[x, y]] e ai (x) ∈ K[[x]], para i = 0, · · · , n − 1, tais que
52
Assim,
g = a0 (x) + a1 (x)y + · · · + an−1 (x)y n−1 .
então, b0 (x)+b1 (x)y+· · ·+bn−1 (x)y n−1 ∈< f >, isto é, b0 (x)+b1 (x)y+· · ·+bn−1 (x)y n−1 =
f q, para algum q ∈ K[[x, y]] ou, equivalentemente
g = f q + r.
1
Como (tn , ϕ(t)) é uma parametrização de Puiseux de (f ), existe α = ϕ(x n ) tal que
1
f (x, α) = 0. Além disso, g ∈ KerHϕ implica que 0 = g(tn , ϕ(t)) = g(x, ϕ(x n )) = g(x, α)
e, assim,
0 = g(x, α) = f (x, α)q(x, α) + r(x, α) ⇒ r(x, α) = 0.
53
Desta forma o polinômio minimal mα (x) de r sobre K((x)) divide r(x, y). Por outro
lado, pelo Teorema 2.20, gr(mα (x)) = n que, por sua vez, é maior que gry r(x, y) e isto
não pode ocorrer. Portanto r(x, y) = 0 .
Logo, g = f q e, portanto, kerHϕ =< f > . 2
Agora deduzimos uma das propriedades fundamentais das curvas que são representa-
das por séries de potências irredutı́veis regulares de ordem n em y com a parametrização
de Puiseux dada por (tn , ϕ(t)).
Considere o homomorfismo injetor de K-álgebras Hϕ : Of −→ K[[t]] dado por
Hϕ (ḡ(x, y)) = g(tn , ϕ(t)), para todo ḡ(x, y) ∈ Of . Tal homomorfismo nos permite iden-
tificar Of com a subálgebra Aϕ de K[[t]] definida por
Se ξ denota uma n-ésima raiz da unidade, então Aψ ' Aϕ , sempre que ψ(t) = ϕ(ξt),
através do automorfismo:
hξ : K[[t]] −→ K[[t]]
p(t) 7−→ p(ξt).
Além disso, pela Proposição 3.6, temos que
Aϕ = Hϕ (Of )
54
Os elementos a1 , a2 , · · · , an são chamados elementos Caracterı́sticos da matriz.
Dy (f )(tn )K[[t]] ⊂ Aϕ .
Pelo Lema 2.14, a extensão K((tn ))[ϕ]/K((tn )) é galoisiana e seu grupo de Galois é
isomorfo a Un . Agora, considere ξ um gerador de Un e a ação definida pela equação (2.1)
na Seção 2.2. Para cada j = 0, · · · , n − 1, defina
βj = ξ j ∗ β
n−1
X
j
= ξ ∗ ai (tn )ϕi
i=0
n−1
X
= ai (tn )ϕij ,
i=0
onde ϕj = ξ j ∗ ϕ.
Tais βj0 s dão origem a um sistema, que por sua vez dá origem a matriz (cij ) = (ϕij ).
O determinante desta matriz é um determinante de Vandermonde e, consequentemente,
55
Y
∆= (ϕr − ϕs ).
r>s
Assim, segue do Corolário 2.22 que ϕi são raı́zes de f e, pela Proposição 1.45,
Y
Dy (f ) = (αi − αj ).
i6=j
Contudo temos
Y
∆2 = (ϕr − ϕs )2 = Dy2 (f )(tn ),
r>s
segue da Regra de Crammer que ai (tn ) = ∆−1 Mi e, também, ∆2 ai (tn ) = ∆Mi ∈ K[[t]].
Observe que para todo j = 0, · · · , n − 1,
n−1
X n−1
X n−1
X
n i 2 n i
n
Dy (f )(t )β = ±∆ 2
ai (t )ϕ = ± ∆ ai (t )ϕ ∈ K[[tn ]]ϕi = Aϕ .
i=0 i=0 i=0
56
Definição 3.12 A função vf : Of \{0} −→ N, definida por vf (g) = mult(Hϕ (g)) é
chamada Valoração associada à f .
i) vf (g · h) = vf (g) + vf (h);
ii) vf (1) = 0;
A partir dessa ideia definimos a interseção entre curvas. Nesta seção vamos ver
também resultados que determinam técnicas para seu cálculo.
Vamos considerar K um corpo e denotamos M o ideal maximal de K[[x, y]].
57
Definição 3.14 Sejam f e g ∈ M. O Índice de Intersecção de f e g é a dimensão do
K[[x, y]]
K-espaço vetorial , isto é,
< f, g >
K[[x, y]]
I(f, g) = dimK .
< f, g >
Of
Observe que I(f, g) = , onde g denota a classe residual de g em Of .
<g>
Definição 3.15 Duas curvas algébricas (f ) e (g) são transversais se (f ) e (g) são regu-
lares e suas retas tangentes são distintas.
Demonstração:
Os itens ii) iii) e vi) seguem da definição.
58
Suponha que gry (f ) = n. Dado h ∈ K[[x, y]], pelo Algoritmo da Divisão (Teorema
1.19), existem q ∈ K[[x, y]] e a0 (x) + a1 (x)y + · · · + an−1 (x)y n−1 ∈ K[[x]][y] tais que
Assim,
h = a0 (x) + a1 (x)y + · · · + an−1 (x)y n−1 ,
K[[x,y]]
ou seja, <f,g>
é um K-espaço vetorial gerado por xi y j , com 0 ≤ i ≤ r −1 e 0 ≤ j ≤ n−1.
Logo, I(f, g) é finito.
Reciprocamente, suponha que f e g não são relativamente primos, então existem g1 ,
f1 ∈ K[[x]][y], não unidades e Pseudo-polinômios, tais que f = f1 h e g = g1 h. Assim,
< f, g >⊂< h >.
K[[x, y]]
Além disso, 1, x, x2 , · · · são linearmente independentes sobre K em . De fato,
h
sejam k0 , k1 , · · · , km ∈ K tais que k0 1 + k1 x + · · · + km xm = 0, então
k0 + k1 x + · · · + km xm = hh1 , com h1 ∈ K[[x, y]]. Mas h ∈ K[[x]][y] é Pseudo-polinômio
e, portanto, k0 = k1 = · · · = km = 0.
Desta forma,
K[[x, y]] K[[x, y]]
dimK ≥ dimK = ∞.
< f, g > <h>
Logo I(f, g) é infinito.
/
Of ψ
/
Of φ
/
Of /
0 0
<h> < gh > <g>
é exata então,
Of Of Of
dimK = dimK + dimK ,
< gh > <h> <g>
ou, equivalentemente,
I(f, gh) = I(f, h) + I(f, g).
A barra simples representará a classe residual módulo < h > e a barra dupla repre-
sentará a classe residual módulo < hg >.
59
O homomorfismo ψ é definido por ψ(a) = ga e φ é induzido pela projeção π : Of −→
Of
, assim
<g>
Of
ker(φ) = {a ∈ ; φ(a) ∈< g >}
< gh >
Of
= {a ∈ ; π(a) ∈< g >}
< gh >
Of
= {a ∈ ; a+ < g >∈< g >}
< gh >
<g>
=
< gh >
= Im(ψ).
ψ(z) = 0 ⇔ gz = 0
⇔ gz = ghk1
⇔ z ∈< h >
⇔ z = 0.
v) Suponha que (f ) e (g) são regulares com retas tangentes distintas. Com uma
mudança de coordenadas podemos assumir que existem f1 , g1 ∈ M2 em que f = x + f1
e g = y + g1 . Podemos reescrever como f = ux + yf2 e g = vy + xg2 , onde u e v são
unidades.
Vamos mostrar que y ∈< f, g > e x ∈< f, g > e, assim, < f, g >=< x, y >.
Temos que:
= yv − u−1 g2 (f − ux)
= yv − u−1 g2 f + xg2
60
Além disso, (v − u−1 g2 f2 )(0, 0) = v(0, 0) 6= 0, ou seja, (v − u−1 g2 f2 ) é unidade e,
portanto, y ∈< f, g >.
Analogamente temos que x ∈< f, g > e, portanto,
I 0 : M × M −→ N ∪ {∞}
(f, g) 7−→ I 0 (f, g).
Sem perda de generalidade, podemos supor que n = gry (p) ≤ gry (q) = m.
Defina q1 = q − y m−n p = xq2 , desta forma,
61
Se q2 é unidade segue do Teorema 3.16 que I 0 (p, xq2 ) = I 0 (p, x) e, assim,
⇒ I 0 (p, x) ≤ r − 1 e I 0 (p, q2 ) ≤ r − 1.
e, portanto, I 0 = I.
2
= I(y 5 − x3 , (y 7 − x2 ) − y 2 (y 5 − x3 ))
= 2 · I(y 5 − x3 , x) = 2 · I(y 5 , x)
= 2 · 5 · I(y, x) = 10.
Demonstração: Se f e g possuem fatores em comum então I(f, g), mult(Ry (f, g)) e
Pr
i=1 vfi (g) são infinitos e, portanto não há o que provar.
62
n
X n
Y
Como I(f, g) = I(fi , g) e Ry (f, g) = Ry (fi , g), se provarmos que para f irre-
i=1 i=1
dutı́vel temos I(f, g) = vf (g) = mult(Ry (f, g)) então,
n
X n
X n
X
I(f, g) = I(fi , g) = vfi (g) = mult(Ry (fi , g))
i=1 i=1 i=1
n
Y
= mult( Ry (fi , g)) = mult(Ry (f, g)).
i=1
L : K[[t]] −→ K[[t]]
h(t) −→ h(t)g(tn , ϕ(t)).
Pela Proposição 3.7, g(tn , ϕ) = 0 se, e somente se, g ∈< f >. Como f e g não
possuem termos em comum segue que L é injetora.
Seja W o K-subespaço Aϕ = K[[tn , ϕ]] de V = K[[t]]. Sabemos que Aϕ ' Of , além
disso,
W Aϕ Of
= n
' , onde g ∈ Of . (3.3)
L(W ) g(t , ϕ(t))Aϕ <g>
V K[[t]]
= . (3.4)
L(V ) < g(tn , ϕ(t)) >
Pelo Corolário 3.11 temos que
V K[[t]]
dimK = dimK < ∞.
W Aϕ
V V
Como dimK W < ∞, dimK L(V )
< ∞, por um resultado de álgebra linear segue que,
W V
dimK = dimK . (3.5)
L(W ) L(V )
Além disso,
V K[[t]]
dimK = dimK = mult(g(tn , ϕ(t))) = vf (g) < ∞. (3.6)
L(V ) < g(tn , ϕ(t)) >
63
Contudo temos,
Daı́,
Qn 1
mult(Ry (f, g)) = mult( i=1 g(x, ϕ(ξx n )))
1
= n.mult(g(x, ϕ(ξx n ))
= mult(g(tn , ϕ))
= vf (g)
Portanto, I(f, g) = vf (g) = mult(g(tn , ϕ)) = mult(Ry (f, g)).
2
= mult((atn + bϕ(t))m )
= m · mult((atn + bϕ(t))
≥ m·n
= mult(g)mult(f ).
64
Observe que se a 6= 0, então I(f, g) = mult(g)mult(f ) e, assim, a reta tangente de g
é x, isto é, (f ) e (g) tem retas tangentes distintas. 2
65
Capı́tulo 4
Resolução de Singularidades de
Curvas Planas
Agora já temos os pré-requisitos para mostrar que, a partir da transformação quadrática,
que definimos a seguir, é possı́vel transformar uma curva singular em uma curva regular.
Mais ainda, apresentamos a Fórmula de Noether que nos permite calcular o ı́ndice de
interseção entre duas curvas irredutı́veis. Para calcular o ı́ndice de interseção precisamos
aplicar sucessivas vezes a transformação estrita na série que define a curva então, neste
capı́tulo, definimos Transformação estrita. Além disso, apresentamos um resultado que
nos ajuda a verificar quando a série é redutı́vel, isto é, se a transformação estrita da série
é redutı́vel, então a série é redutı́vel.
Exceto menção contrária, vamos considerar K um corpo algebricamente fechado.
66
τ : K[[x, y]] −→ K[[x1 , y1 ]]
x 7−→ x1 y1
y 7−→ y1 .
Note que σ e τ não são sobrejetoras e, portanto, não são invertı́veis, mas definem
um isomorfismo entre K((x, y)) e K((x1 , y1 )), que são os corpos sa frações de K[[x, y]] e
K[[x1 , y1 ]], respectivamente. Observe também que σ(< x, y >) =< x1 , x1 y1 >=< x1 >.
Temos que T −1 (0, 0) é a reta E : x1 = 0 e, é chamada divisor excepcional da trans-
formação quadrática.
Agora, considere a seguinte série formal de multiplicidade n:
A transformação estrita via σ da curva (f ) é denotada por f (1) e é dada pela série
σ(f )
σ ∗ (f ) =
xn1
ii) σ ∗ (f g) = σ ∗ (f )σ ∗ (g);
67
Reciprocamente, suponha que mult(f (x, 0)) = mult(f ). Então f (x, 0) = cxn + · · ·
com c 6= 0 e, como mult(f ) = n, f (x, y) = cxn + · · · . Daı́
σ ∗ (f ) = fn (1, y1 ) + · · · = c + · · · .
Logo, σ ∗ (f ) é invertı́vel.
ii) Dados f, g ∈ K[[x, y]] com mult(f ) = n e mult(g) = m então,
f (x1 y1 , y1 )g(x1 y1 , y1 ) f (x1 y1 , y1 ) g(x1 y1 , y1 )
σ ∗ (f · g) = n+m = · = σ ∗ (f )σ ∗ (g).
x1 xn1 xm 1
iii) Observe que σ ∗ (f ) = fn (1, y1 ) + x1 fn+1 (1, y1 ) + · · · . Além disso cada polinômio
homogêneo de grau m é da forma
X
fm (x, y) = aj,k xj y k .
j+k=m
Assim,
X
fn (1, y1 ) = aj,k y1k .
j+k=n
∗
Como todos os outros monômios de σ (f ) possui termos x1 , então nenhum monômio
de fn (1, y1 ) pode ser cancelado com outro termo, assim,
fn = (ax + by)n ,
68
Devemos mostrar que se f é irredutı́vel e σ ∗ (f ) não é unidade, então σ ∗ (f ) é irre-
dutı́vel. Suponha que f é irredutı́vel, σ ∗ (f ) não é unidade mas σ ∗ (f ) é redutı́vel.
Como σ ∗ (f ) não é unidade então f não é regular em x e o cone tangente de (f ) é
(y n ).
Podemos assumir que f é um polinômio de Weierstrass, caso contrário, pelo Teorema
de Weierstrass, podemos trabalhar com seu associado.
Observe que se f e g são associados, isto é, existe um unidade u tal que f = g · u,
então σ ∗ (f ) = σ ∗ (g · u) = σ ∗ (g)σ ∗ (u), onde σ ∗ (u) é unidade, ou seja, σ ∗ (f ) e σ ∗ (g) são
associados.
Pelo item iv) temos que σ ∗ (f ) é Pseudo-polinômio. Visto que σ ∗ (f ) é redutı́vel em
K[[x1 , y1 ]] e Pseudo-polinômio, podemos escrevê-lo como produto de Pseudo-polinômios
e irredutı́veis em K[[x1 ]][y1 ].
Considere h(x1 , y1 ) um destes fatores, então 0 < gr(h) < n e
f (x1 , x1 y1 )
σ ∗ (f (x1 , y1 )) = = h(x1 , y1 )h2 (x1 , y1 ) ⇔ f (x1 , x1 y1 ) = xn1 h(x1 , y1 )h2 (x1 , y1 )
xn1
n y1 y1
⇔ f (x1 , y1 ) = x1 h x1 , h2 x1 , .
x1 x1
Proposição 4.3 Seja f ∈ K[[x, y]] uma série de potências irredutı́vel com cone tangente
(y n ) e I(f, y) = m. Então
i) I(σ ∗ (f ), y1 ) = m − n e I(σ ∗ (f ), x1 ) = n;
69
Demonstração: Seja f = a0 (x)y n + a1 (x)y n−1 + · · · + an (x) + y n+1 h(x, y) ∈ K[[x]][y],
com a0 (0) 6= 0 e h(x, y) ∈ K[[x, y]].
Temos que m = I(f, y) = mult(an (x)) e assim, pelo Lema 2.27,
mult(an (x)) m
mult(ai (x)) ≥ i =i (4.1)
n n
σ(f )
σ ∗ (f ) =
xn1
a0 (x1 )xn1 y1n + a1 (x1 )x1n−1 y1n−1 + · · · + an (x1 ) + xn+1
1 y1n+1 h(x1 , x1 y1 )
=
xn1
= b0 (x1 )y1n + b1 (x1 )y1n−1 + · · · + bn (x1 ) + x1 y1n+1 h(x1 , x1 y1 ),
ai (x1 )
onde bi (x1 ) = .
xi1
Contudo temos,
ai (x1 ) m (m − n)
mult(bi (x1 )) = mult( i
) = mult(ai (x1 )) − i ≥ i − i = i . (4.2)
x1 n n
70
Assim, pelo menos b0 (x1 )y n e bn (x1 ) tem multiplicidade n, e as outras parcelas de σ ∗ (f )
tem multiplicidade maiores ou igual a n. Desta forma nem (x1 ) nem (y1 ) são retas
tangente de σ ∗ (f ).
iii) Suponha que 0 < m − n < n. Como mult(an (x1 )) = m, mult(ai (x1 )) ≥ i m
n
em>n
temos,
Assim, n = mult(b0 (x1 )y n ) > mult(b1 (x1 )y n−1 ) > · · · > mult(bn (x1 )) = m − n.
Portanto, mult(σ ∗ (f )) = mult(bn (x1 )) = m − n < n = mult(f ) e (xm−n
1 ) é cone
tangente de σ ∗ (f ). 2
Lema 4.4 Seja f ∈ K[[x, y]] irredutı́vel de multiplicidade n > 0 e regular em y. Então
existe um automorfismo φ de K[[x, y]] tal que φ(f ) é irredutı́vel, de multiplicidade n,
regular em y e I(φ(f ), y) não é divisı́vel por n.
Demonstração: Seja f = a0 (x)y n + a1 (x)y n−1 + · · · + an (x) + y n+1 h(x, y), com
h(x, y) ∈ K[[x, y]], ai (x) ∈ K[[x]], a0 (0) 6= 0 e I(f, y) = mult(an (x)).
mult(an (x)) I(f, y)
Pelo Lema 2.27, mult(ai (x)) ≥ i =i .
n n
Se n não divide I(f, y), considere o automorfismo φ = Id , caso contrário I(f, y) = r.n,
com r ∈ N∗ , então mult(ai (x)) ≥ i.r. Neste caso, defina φ1 (x, y) = (x, y + cxr ), com
c ∈ K um parâmetro. Assim,
φ1 (f ) = a0 (x)(y − cxr )n + a1 (x)(y − cxr )n−1 + · · · + an (x) + (y + cxr )n+1 h(x, y + cxr )
= b0 (c, x)y n + b1 (c, x)y n−1 + · · · + bn (c, x) + p(c)xnr + y n+1 h1 (c, x, y),
71
e o grau de p em c é n.
Seja c0 ∈ K tal que p(c0 ) = 0 então,
Segue que, φ1 (f ) é irredutı́vel, regular em y e mult(bn (c0 , x)) > nr. Note que
I(φ1 (f, y) = mult(bn (c0 , x)) deste modo, se n não divide mult(bn (c0 , x)) o resultado
é demonstrado. Senão repetimos o processo e obtemos um automorfismo φ2 tal que
φ2 (f ) = d0 (x)y n + d1 (x)y n−1 + · · · + dn (x) + y n+1 h3 (x, y) com d0 (0) 6= 0 e mult(di (x)) >
mult(bi (x)).
Se este processo fosse infinito terı́amos φ(f ) = a00 (x)y n + · · · + a0n−1 (x)y + y n+1 h0 (x, y)
que é redutı́vel, o que é uma contradição.
Portanto, é possı́vel repetir o processo até encontrarmos φm que satisfaça φm (f ) irre-
dutı́vel, com multiplicidade n e regular em y, tal que n - I(φm (f ), y).
2
Proposição 4.5 Seja (f ) uma curva irredutı́vel com cone tangente (y n ). Seja f (1) =
σ ∗ (f ) e f (i) = σ ∗ (f (i−1) ), onde m = I(f, y) e n não divide m.
m m
Então b c = min{i; mult(f (i) ) 6= mult(f )} e b c é o menor inteiro mais próximo de
m n n
.
n
Demonstração: Como n - m existe r ∈ N tal que m = nq + r, onde 0 < r < n e
m
q = b c.
n
Pelo item i) da Proposição 4.3 temos que I(f (q) , y) = m − nq. Assim,
Além disso,
m − nq = r > 0 ⇒ m − nq + 2n − n > n
⇒ m − n(q − 2) − n > n
Pelo item ii) da Proposição 4.5 temos mult(f (q−1) ) = mult(f ) e, portanto, q = min{i; mult(f (i) ) 6=
mult(f )}. 2
72
Teorema 4.6 Dada uma curva plana irredutı́vel, após um número finito de transformações
quadráticas, obtemos como transformada estrita uma curva regular.
73
Como f (1) (x1 , y1 ) é regular em y1 de ordem n e f (1) (tn , tϕn ) = (tn )−n f tn , ϕ(t)
tn
=0
então, (tn , ψ(t)) = tn , ϕ(t)
tn
é uma parametrização de Puiseux de f (1) .
Portanto, dado g ∈ K[[x, y]], temos I(σ ∗ (f ), g) = mult g tn , ϕ(t) tn .
Proposição 4.7 Seja f ∈ K[[x, y]] irredutı́vel com cone tangente (y n ). Então existe um
homomorfismo natural injetor φ que torna o diagrama abaixo comutativo.
Of ,→φ Of (1)
Hϕ k Hψ k
Aϕ ,→Id Aψ
Hψ (φ(g(x, y))) = Hψ (g(x1 , x1 y1 )) = g(tn , tn ψ(t)) = g(tn , ϕ(t)) = Id (Hϕ (g(x, y))).
Proposição 4.8 Sejam (f ) e (g) duas curvas algébricas planas irredutı́veis, então
74
n ϕ(t)
(f ). Então t , n é uma parametrização de Puiseux de f (1) e
t
(1) (1) (1) n ϕ(t)
I(f , g ) = mult g (t , n )
t
n
!
n t ϕ(t)
g(t , tn )
= mult
(tn )n0
0
= mult(g(tn , ϕ(t))) − mult((tn )n )
= vf (g) − nn0
75
4.2 Transformações Quadráticas em C2
Na seção anterior, dentre outros resultados, vimos o que é uma Transformação
Quadrática sobre K[[x, y]]. Neste capı́tulo definimos Transformação Quadrática sobre
C2 , neste caso a Transformação Quadrática também pode ser chamada de Blowing-up.
Observe que em C2 a sequência de Blowing-ups são melhores visualizadas então, além
de definir e apresentar caracterı́sticas sobre Blowing-up, apresentamos alguns exemplos
para melhor compreensão.
T : C2 −→ C2
(x, y) 7−→ (x, xy).
= {(x, y) ∈ C2 ; x = 0 ou y = a)}
= {(0, y) ∈ C2 } ∪ {(x, a) ∈ C2 }.
T −1 (Cf ) = {T −1 (a, b); (a, b) ∈ Cf } = {T −1 (a, b); f (a, b) = 0} = {(x, y) ∈ C2 ; f (T (x, y)) = 0}.
76
Então a equação de T −1 (Cf ) é dada por:
A série f (T (x, y)) é chamada transformação total de f que associada a curva T −1 (Cf )
é chamada transformação total de Cf .
A curva Cf (1) é determinada pela equação f (1) (x, y) = 0, onde
77
A transformação total de Cf é
T −1 (Cf ) : f (x, y) = x2 y 2 − a2 x2 − x3 = x2 (y 2 − a2 − x) = 0.
Cf : y 2 − a2 − x = 0.
F2 = y 2 − a2 x2 = (y − ax)(y + ax) = 0
que tem uma transformação estrita dada por duas retas horizontais que passam por P1 =
(1)
(0, a) e P2 = (0, −a) que são pontos de interseção de Cf com E.
Note que depois de um blowing-up a curva Cf é transformada em uma curva suave
Cf (1) .
78
I(h, y) = I(x, y) = 1;
I(h, x) = ∞, pois f e x não são relativamente primos.
Como h é irredutı́vel, a Fómula de Noether, nos permite calcular o ı́ndice de interseção
entre h e qualquer curva irredutı́vel. Assim, dado φ = x−y 2 , observe que o cone tangente
da curva (h) é o mesmo que o da curva (φ), mas o cone tangente de (h(1) ) é (x) e o cone
tangente de (φ(1) ) é (x − y). Pela Fórmula de Noether temos,
K[[x,y]]
Exemplo 4.13 Observe que calcular dimK <y2 −x 3 ,y 2 −x5 > não é uma tarefa simples. Po-
demos perceber que os elementos 1, x, y, x2 , xy, x2 y não podem ser gerados por y 2 − x3 e
por y 2 − x5 . Mas como garantir que são os únicos elementos em K[[x, y]] que não são
gerados por y 2 − x3 e por y 2 − x5 ?
Para responder a esta pergunta, seja f = y 2 − x3 e g = y 2 − x5 . Temos que
f (1) = y 2 − x e g (1) = y 2 − x3 . Assim, embora f e g tenham o mesmo cone tangente, f (1)
e g (1) possuem cones tangentes distintos. Daı́, pela Fórmula de Noether,
K[[x,y]]
<y 2 −x3 ,y 2 −x5 >
.
P∞ 2 n
Exemplo 4.14 Considere a curva Cf onde f = i=0 (y x − xn+3 ).
Temos que mult(f (0, y)) = 2 = mult(f ), ou seja, f é regular em y.
Pelo Teorema da Preparação de Weierstrass existe u ∈ K[[x, y]], com u(0) 6= 0, tal
que f u é um Polinômio de Weiestrass.
79
Considere u = (1 − x), daı́
∞
X
f u = [ (y 2 xn − xn+3 )](1 − x)
n=0
∞
X ∞
X
2 n n+3
= (y x − x )− (y 2 xn+1 − xn+4 )
n=0 n=0
∞
X
= (y 2 xn − y 2 nn+1 − xn+3 + xn+4 )
n=0
= y − y 2 x + y 2 x − y 2 x2 + y 2 x2 − · · · − x3 + x4 − x4 + x5 − x5 · · ·
2
= y 2 − x3 .
Cg(1) : y12 − x1 = 0,
80
Capı́tulo 5
Resolução de Singularidades
81
Definição 5.2 Uma variedade quase-projetiva é um subconjunto aberto U ⊂ X de uma
variedade projetiva X ⊂ Pn .
82
A transformação total da superfı́cie S é dada por
S 0 : y12 + z12 = 1.
Definição 5.6 Se X for uma variedade afim irredutı́vel, como o anel de coordenadas
K[X] é domı́nio de integridade, podemos construir o corpo de funções racionais dado por
f
K(x) = { | f, g ∈ K[x] e g 6= 0}.
g
83
A resolução de singularidades, através de sequências de Blowing-ups, de variedades
algébricas definidas, foi demonstrada por Hironaka em 1964.
84
Bibliografia
[2] HARRIS, J., Algebraic Geometry: A First Course, Graduate Texts in Mathematics,
Vol. 133, Springer-Verlag, New York, 1992.
[3] HAUSER, H., The Hironaka Theorem on Resolution of Singularities, Bulletin (New
Series) of the American Mathematical Society, Vol. 40, N. 3, 323-403, 2003.
[4] HEFEZ, A., Irredutible Plane Curve Singularities, Lecture Notes Series in Pure and
Applied Mathmatics. 232, Decker, New York, 2003.
[6] ROMAN, S., Field Theory, Graduate Texts in Mathematics, Vol. 158, 2a Ed.,
Springer-Verlag, New York, 1995.
[7] STEWART, I., Galois Theory, 1a Ed. Chapman and Hall, London, 1973.
[8] VAINSENCHER, I., Introdução às Curvas Algébricas Planas, Coleção Matemática
Universitária, 1a Ed., IMPA, Rio de Janeiro, 1996.
85
Índice
Anel Lema
Coordenado, 49 de Hensel, 9
das Séries de Potências Formais, 4 Unitangente, 43
Noetheriano, 19
Matriz de Vandermonde, 54
Blowing-up, 76, 82 Multiplicidade, 6
86
da Base de Hilbert, 19
da Base de Rückert, 20
da Função Implı́cita de Newton, 43
de Newton-Puiseux, 36
Preparação de Weierstrass, 13
Transformação
Estrita, 67
Quadrática, 66, 76
Total, 77
Valoração, 57
Variedade Projetiva, 81
Variedade quase-projetiva, 82
87