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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA


PROGRAMA INSTITUCIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA UEPB/CNPq
COTA 2017-2018

SOLICITANTE: Paula Almeida de Castro


TIPO DE BOLSA SOLICITADA: PIBIC
DEPARTAMENTO: Educação
CENTRO: EDUCAÇÃO (CEDUC)
CAMPUS: Campina Grande
TÍTULO DO PROJETO: Práticas pedagógicas digitais para a formação de
professores: a pesquisa-ação e a escola
FINANCIADO: SIM
FONTE FINANCIADORA E Nº DO EDITAL: CAPES Nº 061/2013
Resumo

A infraestrutura das escolas, a formação de professores e a articulação entre a


universidade e a escola de educação básica são objeto de investigação do projeto de
pesquisa em tela. Pauta-se na possibilidade de conduzir os conhecimentos científicos
para além dos muros da universidade chegando até a escola, levando a que alunos e
professores em parceria possam conduzir novas aprendizagens. O entendimento
oferecido relaciona os aspectos teóricos com a prática para que os sujeitos da pesquisa
tenham a oportunidade de observar os resultados do que, inicialmente, assenta-se em
aulas teóricas. O cenário observado é aquele no qual as propostas quando chegam aos
professores para serem aplicadas em sala de aula, já estão prontas não passam pelo
questionamento das demandas das escolas, não são pensadas com a coletividade e a
particularidade das ações locais. O que pode ser observado é o desinteresse, uma vez
que a maioria das propostas não está adequada aos múltiplos contextos das escolas
públicas brasileiras e, mais detidamente, do Estado da Paraíba. Os professores se
ressentem, em muitos casos, de não participarem da elaboração de propostas que irão
executar ou quando participam não tem a oportunidade de terem suas práticas
devidamente reconhecidas. Para o desenvolvimento da proposta utilizar-se-á da
abordagem metodológica da pesquisa-ação ressaltando as vivências do universo da
escola e a perspectiva colaborativa entre pesquisadores, professores e alunos na
produção do conhecimento crítico-reflexivo. O projeto tem como foco a reflexividade e
a articulação entre o ensino e a pesquisa contribuindo para as transformações políticas,
técnico-científicas, sociais e culturais, favorecendo a elaboração de políticas públicas
para a valorização da escola e seus sujeitos.
Palavras-chave: Formação de professores. Tecnologias digitais. Pesquisa-ação.
a) Identificação da proposta

Na contemporaneidade observa-se uma demanda por conduzir, cada vez mais, os


conhecimentos científicos para além dos muros da universidade chegando até a escola,
levando a que alunos e professores em parceria possam conduzir novas aprendizagens.
A relação entre a escola e a pesquisa ganha novos contornos com a possibilidade de
levar inovação às práticas pedagógicas. O entendimento oferecido relaciona os aspectos
teóricos com a prática para que os envolvidos tenham a oportunidade de observar os
resultados do que, inicialmente, assenta-se em aulas teóricas. De toda forma, as
propostas quando chegam aos professores para serem aplicadas em sala de aula já estão
prontas, não passam pelo questionamento das demandas das escolas, não são pensadas
com a coletividade e a particularidade das ações locais. O que pode ser observado é o
desinteresse, uma vez que a maioria das propostas não está adequada aos múltiplos
contextos das escolas públicas brasileiras. Os professores se ressentem, em muitos
casos, de não participarem da elaboração de propostas que irão executar ou quando
participam não tem a oportunidade de terem suas práticas devidamente reconhecidas.
O posicionamento dos professores quanto ao seu ambiente de trabalho e a
reflexividade do trabalho docente foram exploradas durante a disciplina Etnografia da
Prática Escolar na Formação de Professores – ministrada no curso de pós-graduação em
Formação de Professores – que ofereceu a oportunidade de dialogar com professores de
diferentes áreas da Educação Básica sobre as formas de atuação no cotidiano da escola e
da sala de aula. As avaliações da disciplina consistiram em diferentes possibilidades
reflexivas sobre a prática docente, conduzindo a que os professores pudessem repensar
sua atuação na interação com os alunos nos processos de ensino e aprendizagem. Os
mesmos trouxeram diferentes situações do cotidiano de suas práticas em que puderam
compartilhar com a turma e revisitar o espaço de suas vivências – agora com um novo
olhar, o etnográfico. Foi sinalizado pelos professores – alunos da disciplina – a
necessidade de apresentar propostas que os envolvesse na construção das mesmas
integrando seus saberes na produção dos conhecimentos com a teoria e prática para uma
maior adesão dos alunos nas propostas pedagógicas. Essa disciplina e o contato com a
realidade dos professores foi um dos fatores que motivou a elaboração dessa proposta
alicerçada nos dados que são apresentados sobre as condições das escolas públicas
brasileiras, sobretudo da região nordeste.
O contexto da proposta justifica-se pelo cenário nacional da infraestrutura das
escolas. Os laboratórios, as bibliotecas e áreas para a prática de atividades esportivas
das escolas públicas, em sua maioria, não possuem estrutura adequada para oferecer as
condições adequadas para conduzir aulas práticas que conduzam a uma aprendizagem
significativa. Essas condições são apresentadas em uma pesquisa realizada pelos
pesquisadores Neto, Jesus, Karino, Andrade (2013) sobre a infraestrutura de 194.932
escolas tendo dividido em quatro categorias – elementar (mais precário), básica,
adequada e avançada. Entre a concentração de escolas na categoria elementar estas
estão nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. De acordo com os dados apresentados
pelos pesquisadores, “das 24.079 unidades de ensino da Região Norte, 71% podem ser
consideradas no nível elementar, enquanto que no Nordeste, esse índice ainda se
mantém alto, mas cai para 65%”. A situação é agravada quando são analisadas as
escolas da zona rural, das quais 85,2% encontram-se na categoria elementar. O Estado
da Paraíba tem 4.832 (3,18% do total nacional) escolas públicas de Educação Básica
destas 213 (4%) possuem laboratório de ciências; 1.846 (38%) laboratório de
informática, 862 (18%) biblioteca, 603 (12%) quadra de esportes, e 857 (18%) sala para
leitura (Censo Escolar/INEP 2013). Os dados referem-se aos quantitativos e não
mencionam a qualidade das dependências e quais os recursos disponíveis e a frequência
de uso por alunos e professores – quando sabe-se que não basta informar que a escola
possui os espaços e equipamentos, mas também é preciso considerar qual o uso que se
faz dos mesmos para a melhoria da qualidade dos processos de ensino e aprendizagem.
Salienta-se que muitos projetos do governo federal, tal como o Um Computador
por Aluno, investiram na informatização das escolas públicas – como demonstram os
dados em que as escolas possuem mais laboratórios de informática do que de ciências.
Entretanto, o uso desses poderia ser melhor utilizado em todas as disciplinas com ênfase
na escrita, no uso dos softwares gratuitos previamente instalados nos computadores para
o ensino de Física, Geografia, Geometria, Matemática, dentre outros. Ocorre que o
estímulo para o uso de outros espaços fora da sala de aula não ocorrem e o quadro, o
caderno e o livro permanecem como os recursos únicos para os processos de ensino e
aprendizagem. O passo seguinte para buscar outros recursos ainda precisa ser dado pelo
professor buscando parcerias colaborativas.
A possibilidade colaborativa pode ser encontrada justamente nas produções das
universidades. A UEPB, considerada uma das instituições de referência pela qualidade
dos cursos e atendimento às demandas de qualificação profissional da população, em
2013 foi apontada em 6º lugar (RUF) em relação às Universidades estaduais do
Norte/Nordeste/Centro-Oeste e entre as 20 melhores universidades estaduais do país.
Destaca-se o desenvolvimento de uma política arrojada para a formação de professores,
com diferentes parcerias institucionais. Neste sentido, este projeto associa-se ao
princípio de que a educação, em todos os seus níveis, é fator estratégico no processo de
desenvolvimento socioeconômico e cultural para a sociedade e seus sujeitos, como
firmado pela UEPB. Pauta-se em ações que visam fomentar estratégias para o
enfrentamento de problemas seculares que afetam a Paraíba, destacando sobre como
podemos contribuir, propor e fazer, priorizando o imediato, sem negligenciar as
perspectivas de médio e longo prazo, através das ações que integram o ensino e a
pesquisa. Volta-se para o desenvolvimento de estudos sobre a qualidade do ensino e da
aprendizagem, promoção da docência, além de oportunizar à comunidade espaços
interdisciplinares para o desenvolvimento de inovação e tecnologia para a melhoria da
qualidade educacional da sociedade paraibana.

b) Qualificação do principal problema a ser abordado

Fazer ciência é produzir conhecimento? Conhecimento este que ao ser produzido


possa, sobretudo, conduzir a novos processos de ensino e aprendizagem na interação
entre os sujeitos escolares. Desde Galileu, por exemplo, que a ciência busca formas de
traduzir o enigmático para o homem comum. O professor também o faz em sala de aula,
na transposição didática, com os conteúdos em sala de aula conduzindo os saberes do
alunado para os caminhos científicos. Como sugere Meirieu (2005), o aluno aprende
tanto através do conhecimento adquirido ao longo da vida quanto necessita do professor
para sistematizar e ampliar seu conhecimento. Nesse sentido, o autor utiliza o termo
transposição didática para explicar como se dá ideologicamente a aprendizagem. Um
outro autor que explica o conceito é Yves Chevallard (1981). Ele propõe o
entendimento da transposição didática a partir de um esquema triangular composto pela
base com o professor como aquele que ensina (P) e o aluno como aquele que aprende
(A) e no topo o saber (S). Chevallard propõe a inserção do saber na relação entre o
professor e o aluno. Entretanto, o ensinar ficaria a cargo do professor que seria o
responsável por sistematizar o conhecimento para os alunos.
Ao intepretar-se o sentido dado ao termo “transposição didática”, por Meirieu,
pode-se afirmar que este é um processo que permeia a expectativa da sociedade, da
escola e dos alunos de que, ao planejarem e selecionarem os conteúdos das aulas e fazer
cumprir as normas escolares, os professores podem transpor para seus alunos essas
normas e conteúdos. Espera-se que o professor, ao chegar em sua sala de aula, promova
a construção do conhecimento de seus alunos de modo a transferir os seus
conhecimentos, os da sociedade, da cultura e, em especial, os conteúdos dos livros
didáticos para estes alunos.
Em oposição a esta ideia da transposição didática, nesse projeto, toma-se como
referencial a perspectiva dialética freiriana. Nesta, não basta que o professor fale ao
aluno é necessário que o mesmo fale com o aluno. Para Freire (1996) o ensinar e o
aprender significam, ao mesmo tempo, conhecer – “ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou sua construção” (p.
25). Significa dizer que centralizar o processo de ensino e aprendizagem,
particularmente no aluno ou no professor pode ser considerado um equívoco
pedagógico. Como sugere Vygotsky (1998) a dialética influencia o gerenciamento da
aprendizagem tanto pelo aluno quanto pelo professor e cria novas condições para que
esses sujeitos construam conhecimento (p.80). Para Freire (1993) existe uma
dificuldade entre os professores e os alunos com relação às formas de construção do
conhecimento. Não raro o que ambos esperam é que o livro, assim como o professor
transfira o conteúdo programático de forma automática apenas pela presença de um ou
de outro. Neste contexto existe, ainda, uma tendência em centrar a atenção na
dificuldade do aluno ou na sabedoria do professor. Para Freire (1993) esta dicotomia
pode ser utilizada como um exercício didático quando se quer analisar partes do
processo todo de construção do conhecimento. Entretanto, é necessário que, ao
processar essas análises, seja retomado esses dois elementos constituintes do ensino e
aprendizagem em seu conjunto como um único processo para o desenvolvimento da
ação pedagógica.
Na interpretação de Meirieu (2005) para aprender o aluno “submete-se a regras
arbitrárias, entra em um sistema – um tipo de jogo promovido pela escola – que tem
como meta o reconhecimento e a promoção daqueles que melhor se adaptam às regras
da instituição” (p. 80). Assim como no movimento homeostático, sugerido
anteriormente, da passagem do aluno da condição de não-saber para a de saber. Este
movimento perpassa a busca de um equilíbrio entre o conhecimento que o aluno tem
sobre o seu mundo exterior, a sua vivência interior e subjetiva sobre este mundo
associada ao modo como ele aprende através desse entendimento, que, de um modo
geral, é extraído do contexto institucional e da sala de aula (CHARLOT, 2001, 2005).
Entretanto, Meirieu (op.cit.) sugere que um sistema escolar meritocrático pode
criar condições pouco favoráveis para que ocorra o movimento de equilibração da
aprendizagem necessário para que o aluno construa o sentido para o que aprende. Isto se
verifica por existirem regras consideradas arbitrárias no que se refere, por exemplo, às
avaliações pouco claras que criam indicadores de sucesso ou de fracasso do aluno,
colocando tanto alunos quanto professores como que em suspenso fora deste
movimento. Ao se perceberem no processo de avaliação e produção do conhecimento,
alunos e professores, podem buscar um ao outro para elevarem a produtividade e a
qualidade da educação básica.

c) Objetivos e metas a serem alcançados

Com essas considerações teóricas, busca-se na perspectiva dos sujeitos da


pesquisa, as suas contribuições para a compreensão de como se dá a produção do
conhecimento na escola e na vida cotidiana com o objetivo de que eles se tornem
críticos quanto à produção do conhecimento científico. Aos participantes será
oportunizada nas atividades um espaço para expor e opinar sobre diferentes aspectos
das interações de sala de aula como, por exemplo, a explicação do professor sobre as
tarefas, a apreensão, a re-apropriação do conteúdo e as diferentes estratégias que podem
ser utilizadas pelo aluno para aprender.

São objetivos:

1. Buscar indicadores da produção de conhecimento acadêmico entre usuários de


tecnologias digitais nas escolas.
2. Analisar as experiências de alunos e professores que informem sobre as
inovações tecnológicas digitais no âmbito educacional, buscando as limitações e
possibilidades destas para a educação pública de ensino básico.
3. Identificar a existência ou não de padrões interacionais e dialógicos dos
participantes para compreende de que forma a mediação das tecnologias digitais
nas escolas pode transformar os processos de escolarização.
4. Produzir com professores e alunos da universidade soluções para utilização em
sala de aula de hardware aliado a softwares pedagógicos.
As metas a serem alcançadas objetivam fomentar a formação de professores,
inicial e continuada, a prática colaborativa de pesquisa entre a universidade e a escola
de educação básica fomentando novos estudos que possibilitem olhares diferenciados
para os estudos sobre o cotidiano. Além disso, pelo desenvolvimento dessa pesquisa,
pretende-se fomentar os resultados do Laboratório Interdisciplinar de Formação de
Educadores com materiais pedagógicos utilizando tecnologias para serem utilizados nas
escolas públicas do estado da Paraíba.

d) Abordagem metodológica

A abordagem metodológica pauta-se na possibilidade de atuar em áreas


multidisciplinares, tendo na pesquisa-ação a viabilidade para a execução deste.
Reconhecendo a escola como um espaço constituído por princípios e fins determinados
a partir de contextos sociais, culturais e políticos, tudo direcionado para a formação da
cidadania, com seus diversos atores em diferentes condições de participação, pois
trazem consigo muitas histórias, conhecimentos e visões de mundo, é possível
compreendê-la como um lugar complexo nas suas relações de trabalho e de
convivência. Com essa complexidade que a escola apresenta, pois envolve a gestão, o
ensino-aprendizagem e a participação social, o campo da pesquisa em educação, por
muito tempo, apresentou dificuldades na articulação entre a cultura escolar e a cultura
científica. Segundo Senna (2003), isso era evidente quando todo o conhecimento
científico produzido nos centros de formação não conseguia mudar a realidade do
fracasso escolar. Surgiu então a pesquisa-ação para sanar a falta de reciprocidade entre
os extratos teóricos e o cotidiano da sala de aula. O autor aponta que a pesquisa-ação é
“um movimento de e para professores, com vivências profissionais e interesses comuns,
sempre ligados ao cotidiano da escola básica e seus alunos”. Ressalta, ainda que essa
característica da pesquisa provocou uma revolução na cultura científica em educação,
pois permitiu o intercâmbio entre os meios da produção de conhecimento e a sala de
aula, atribuindo valor acadêmico ao que ele chama de “fala dos professores”.
Nesse sentido, a pesquisa-ação possibilita grande contribuição para o avanço dos
estudos em educação, uma vez que proporciona a articulação entre a teoria científica e a
prática educativa, num movimento reflexivo e propositivo para o desenvolvimento das
soluções do objeto da pesquisa.
Uma das características principais da pesquisa-ação denomina-se contexto. O
universo no qual está inserida a pesquisa deve ser analisado e preservado em sua forma
real, exceto a partir de movimentos do seu próprio interior. Deve-se então considerar a
intenção coletiva de todos os sujeitos envolvidos como legítimas e isso envolve também
a participação do pesquisador.
Na pesquisa-ação existe a participação ativa do pesquisador. Leite (2008) afirma
que a pesquisa-ação está centrada no agir, na ação do pesquisador com a situação
pesquisada e é dessa interação que se busca resolver, ou pelo menos, encaminhar os
problemas pesquisados.
Outra característica muito importante desse tipo de pesquisa é que “além de
implementar soluções em relação ao problema pesquisado, proporciona também a
aquisição de conhecimento por parte de todas as pessoas envolvidas no processo, pois
as informações colhidas no estudo estão à disposição de todos” (LEITE, 2008, p. 70).
Isso se deve a, durante o processo, existir um acompanhamento sistemático das
atividades juntamente com as decisões das pessoas envolvidas na pesquisa.
São situações complexas alheias a produção formal do conhecimento e que
Senna destaca como que
em geral, nas ciências humanas, dada a natureza estritamente subjetiva
de todas as bases em que sustentam sua lógica teórico-científica, o
privilégio à idealização é ainda maior, tendo em vista que a realidade
tende, invariavelmente, a apresentar-se mais complexa e menos
redutível a conceitos estritamente lógicos, deste modo invalidando
suas bases (SENNA, 2003, p. 111).

Na cultura científica opera-se com dados colhidos e levados para locais


específicos de trabalho como, por exemplo, os laboratórios. Desta forma, são mais
facilmente classificados e categorizados, podendo ser desenhados de forma ideal,
alheios ao mundo e de maneira mais conveniente ao pesquisador. Assim é possível
evitar certos impasses que possam invalidar o trabalho de investigação. Na pesquisa-
ação, existe uma ruptura com o antigo paradigma, onde a pesquisa conforma-se a partir
de uma lógica interna de parâmetros pré-estabelecidos. Os laboratórios estão no mundo
real, no próprio local da pesquisa e exigem do pesquisador maior empenho para
conciliar os conceitos teóricos e a prática cotidiana. Essa pode ser considerada a
característica mais particular da pesquisa-ação, um modelo interdisciplinar, aberto,
porém organizado a partir das relações de causalidade.
Dentre as contribuições que a pesquisa-ação possibilita para o bom trabalho da
escola, Senna (2003) cabe destacar o cuidado que é preciso existir com essas tais
mudanças propostas pelo pesquisador. Segundo o autor, a escola é um sistema social
altamente complexo e ao mesmo tempo surpreendentemente frágil, portanto, invadi-la
sob o pretexto de concertá-la pode provocar um verdadeiro desastre, arruinando sua
identidade e atingindo, severamente, a autoestima dos professores e alunos que lá
existem e continuarão existindo independente da vontade ou das verdades do
pesquisador.
Existe uma forma tendenciosa de todo pesquisador em focalizar apenas os
aspectos ruins do local pesquisado, mas que deve ser ponderada uma vez que o processo
de autoria coletiva é a base principal da pesquisa-ação. Por isso, compreendendo a
complexidade da relação teoria e prática da pesquisa-ação, é imprescindível refletir
sobre os princípios éticos dessa metodologia.
Senna (2003) elenca alguns princípios importantes durante a realização da
pesquisa. O primeiro princípio ético refere-se à postura adotada com relação ao contexto
que deve ser de integração ao campo de pesquisa, somando o seu saber ao dos seus
pesquisados. Desta forma, o discurso do pesquisador não assumirá um patamar mais
alto do que o discurso dos pesquisados. O que deve ser considerado é o saber
acumulado, o saber oral, proveniente das histórias, da construção de todos, vinculados
ou não ao conhecimento científico. É um movimento não só de incorporar o saber
prático ao conhecimento científico, mas de incorporar o saber científico ao saber
prático, dando voz ao outro e reconhecendo-o como alguém capaz de dizer uma verdade
potencial.
O segundo princípio está relacionado à postura de respeito que o pesquisador
deve ter com as relações sociais entre os membros da instituição. Mesmo sendo,
reconhecidamente, o líder do processo, não deve interferir no contexto das relações das
pessoas na escola, tanto na questão dos cargos que ocupam quanto nas suas tomadas de
decisões, evitando que sejam testadas ou vigiadas.
Outro princípio importante que Senna (2003) recomenda que seja respeitado é o
da utilização das informações. Os dados revelam os sujeitos e o funcionamento
cotidiano do contexto do local pesquisado e por isso, não é uma conduta aceitável ser
divulgado amplamente, exceto quando é um desejo de todos os envolvidos na pesquisa
exporem publicamente as informações.
E por último, importa saber que, no momento da realização da pesquisa, onde
existe uma relação de diálogo entre o pesquisador e o participante, é preciso haver o
devido reconhecimento de parceiro ou coautor das teorias ali propostas ao invés de
tratar as pessoas como cobaias. Este fator está diretamente relacionado com a avaliação,
que deve ser sempre contínua ao longo do processo e possibilita a autoanálise das
maneiras que o pesquisador lida com as demais pessoas.
Segundo Thiollent (1998), o principal desafio da pesquisa-ação consiste: em
produzir novas formas de conhecimento social e novos relacionamentos de ambos com
o saber. Para enfrentar esse desafio, é claro que a pesquisa-ação precisa ser utilizada
dentro de uma problemática teórica de orientação crítica e não apenas instrumental”
(THIOLLENT, 1998, p. 27).
Com isso, fica clara a existência de um grau de exigência maior para os
pesquisadores em relação à dedicação e ao conhecimento das questões teóricas e
práticas da investigação, porém os resultados alcançados provenientes da participação
de todos na pesquisa podem ser recompensadores no sentido de promover caminhos
para uma melhor prática pedagógica colaborativa.

dd) Etapas da pesquisa

No processo metodológico serão utilizadas as seguintes etapas para avaliar o


andamento das atividades realizadas. Dentre os enfoques da pesquisa-ação quando da
sua aplicação, que vão desde a coleta de informações até a forma de análise dos dados
obtidos, Thiollent (1998) afirma que a coleta de informação, acerca de situações ou de
atores em movimento, deve ser original e que esse conhecimento deve ser sempre
comparado com o saber formal na busca da resolução dos diversos problemas. Desta
forma, surgirão os ensinamentos positivos ou negativos quanto à conduta da ação e suas
condições de êxito. Entretanto, chegar a essa conclusão de resultados, os teóricos da
pesquisa-ação esclarecem que é preciso definir algumas etapas, criando um modelo que
Bortef (1998) divide em quatro fases:
a) Montagem institucional e metodológica que consiste no conhecimento do
grupo envolvido, em detectar apoios e resistências, e na coleta de todas as informações
disponíveis;
b) Estudo preliminar e provisório da região e população envolvidas;
c) Pesquisa dos dados socioeconômicos e tecnológicos;
d) A elaboração e a execução de um Plano de Ação que deve conter:
• As atividades educativas que permitam analisar os problemas e
as situações vividas.
• As medidas que possam melhorar a situação estudada.
• As ações educativas que tornem possível a execução dessas
medidas.
• As atividades que encaminham soluções a curto, médio ou
longo prazo (BORTEF, 1998, p. 52).

A definição de estratégias para lidar com o desenvolvimento da pesquisa é


importante, porém a equipe envolvida deve também estar embasado teoricamente para
realizar as devidas análises ou até mesmo propor encaminhamentos resolutivos. É assim
que a pesquisa-ação ratifica seu papel transformador, à medida que, a partir de um
contexto, instala o desejo de transformação, buscando a cooperação de cada um e
respeitando os limites e as contribuições dos seus parceiros.
Para essa proposta utilizaremos as quatro fases descritas acima contidas no
cronograma de atividades. O local da pesquisa será uma escola pública localizada no
município de Campina Grande – PB de um dos segmentos da Educação Básica.

e) Principais contribuições e impactos esperados da proposta

A pesquisa educacional, especialmente aquelas que buscam a perspectiva de


alunos e professores para as explicações sobre o cotidiano das salas de aula de escolas
públicas, representam uma parcela ainda pouco explorada. As pesquisas, em geral,
visam obter resultados a partir de questionários, entrevistas com professores e gestores,
dentre outras fontes, desconsiderando, sobretudo o olhar dos alunos sobre os processos
de ensino e aprendizagem e as interações que caracterizam a vida escolar. Nesse estudo,
busca-se a perspectiva reflexiva para informar sobre as políticas e práticas educacionais
que possam ser redimensionadas, especialmente, para o atendimento de suas realidades
socioeducacionais.
Os dados em tela apresentam um cenário de possiblidades para uma proposta
conjunta entre pesquisadores, professores e alunos de criação de espaços para discutir as
especificidades das licenciaturas, fornecendo dados para repensar as políticas de
formação de professores no estado da Paraíba.

f) Publicações previstas oriundas da pesquisa.


A realização da pesquisa permitirá a publicização dos resultados em anais de
eventos científicos, periódicos e irá assegurar a participação dos bolsistas na Reunião
Anual de Iniciação Científica da Universidade Estadual da Paraíba. Vale salientar que o
processo de publicação dos resultados da pesquisa é parte importante para o grupo uma
vez que estimula a produção escrita dos alunos bolsistas e eleva a qualidade da
formação científica dos alunos de graduação da universidade.

g) Cronograma das atividades da pesquisa

As atividades da pesquisa estão divididas em semestres

Ano I Ano I Ano II Ano II


Descrição das atividades
1º sem. 2º sem. 1º sem. 2º sem.
Realização das etapas previstas na
metodologia da pesquisa-ação
Elaboração e aplicação de um
questionário para a verificação da
estrutura das escolas em termos de
materiais pedagógicos.
Organização do material didático em
categorias para disponibilização
online.
Inserção de informações, resultados
de pesquisas, bibliografias e
materiais relacionadas aos temas de
interesse dos participantes.
Elaboração de um Guia para a
utilização de Materiais didáticos
distribuídos pelo Governo para as
escolas nos laboratórios
Promoção de espaços de
convivências entre a Universidade e
a escola para a produção de materiais
didáticos.
Elaboração e execução de materiais
pelos professores e alunos na
universidade observando a
pertinência dos mesmos para a sala
de aula e laboratórios.
Participação em eventos científicos
Produção de relatórios
h) Orçamento detalhado para aplicação do fundo de apoio à pesquisa (taxa de
bancada) de R$ 400,00 (quatrocentos reais) ou de R$ 800,00 (oitocentos reais)

Item
Quantidade prevista Itens Descrição Cotação

De acordo com a Material de consumo, Papel A4, Cadernos,
1 necessidade de reposição componentes e/ou peças de DVD’s, Clipes, plásticos, 150,00
ao longo da pesquisa reposição de equipamentos pastas, e similares.
Material bibliográfico de
2 Material bibliográfico Livros e e-books apoio para a execução do 250,00
projeto
Total Custeio 400,00

i) Referências bibliográficas

CHARLOT, B. Os jovens e o saber: perspectivas mundiais. Porto Alegre: Artmed,


2001.
CHARLOT, B. Relação com o saber, formação dos professores e globalização. Porto
Alegre: Artmed, 2005.
CHEVALLARD, Y. La Transposición Didáctica: del saber sabio al saber enseñado. La
Pensée Sauvage: Argentina, 1991.
FREIRE, P. Entrevista concedida a Carmen de Mattos. São Paulo, USP, 1993.
FREIRE, P. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 41.
reimp. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
MEIRIEU, P. O cotidiano da escola e a sala de aula: o fazer e o compreender. Porto
Alegre: ArtMed, 2005.
NETO, J. J. S.; JESUS, G. R. de; KARINO, C. A.; ANDRADE, D. F. de. Uma escala
para medir a infraestrutura escolar. Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 24, n. 54, p. 78-99,
jan./abr. 2013.
SENNA, L. A. G. Orientações para elaboração de projetos acadêmicos de pesquisa-
ação em Educação. 1ª ed. Papel Virtual. Rio de Janeiro, 2003.
THIOLLENT, M. Notas para o debate sobre a Pesquisa-Ação. In: BRANDÃO, C. R.
Repensando a Pesquisa Participante. São Paulo: Brasiliense, 1998.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1998.
j) subprojetos dos alunos vinculados à proposta, com seus respectivos títulos,
justificativas, objetivos e metas e descrição detalhada das atividades a serem
desenvolvidas por cada aluno e relacionadas com o cronograma de pesquisa
(cronograma de atividades). Deve-se informar no subprojeto do aluno a modalidade
(PIBIC, PIBIT ou PIBIC-Af).

j) SUBPROJETOS
Subprojeto 1: Formação docente: métodos e técnicas de ensino para a educação
básica
Modalidade: PIBIC

Resumo
A produção e a divulgação de materiais didáticos para a Educação básica é o objeto de
estudo desse subprojeto que integra a proposta de produção de conhecimento entre a
universidade e a escola. Busca estimular o processo criativo, criando condições para
adequar materiais para o uso no cotidiano de sala de aula por professores junto a seus
alunos. A pesquisa, de base etnográfica, com observação participante e registro em
caderno de campo, é desenvolvida em colaboração com os atores de uma escola pública
do Estado da Paraíba na cidade de Campina Grande. Destaca-se, para o
desenvolvimento da pesquisa, a criação de estratégias utilizando tecnologias
educacionais assegurando inovação nas práticas pedagógicas e na melhoria da qualidade
dos processos de ensino e aprendizagem. Os resultados iniciais apontam que propostas
que aliam o cotidiano escolar com tecnologia de forma colaborativa entre
pesquisadores, professores e alunos tende a fomentar práticas efetivas no interior das
salas de aula adaptadas para as tarefas de cumprimento dos conteúdos curriculares.

Justificativa
A justificativa de execução do subprojeto apoia-se na mediação entre a produção
do conhecimento da universidade e da educação básica, sobretudo na elaboração de
propostas em colaboração entre professores de diferentes segmentos. O diálogo entre
estas instâncias se dá pela possibilidade de cultural e cognitivamente compreender os
processos educacionais e propor novos direcionamentos com vistas à melhoria da escola
pública. Observa-se a necessidade de se estimular o uso de tecnologias nas práticas
cotidianas de modo coerente valorizando o espaço educacional, de modo que integre as
demandas do cotidiano com as possibilidades de inovação na prática docente. Ao
propormos a criação de um laboratório de tecnologias e inovação no âmbito dos
programas de pós-graduação, envolvidos neste subprojeto, pretende-se criar estratégias
que assegurem equidade e qualidade aos processos educacionais. A iniciativa visa
principalmente articular as ações promovidas entre a universidade e a educação básica,
fomentando a formação de professores aliada ao uso de tecnologias.

Objetivos
O objetivo geral do subprojeto é proporcionar condições para a produção e
divulgação de materiais didático-pedagógicos para licenciandos e professores da UEPB
e professores e alunos das escolas de educação básica e, ainda, em colaboração com os
mestrandos da UEPB que atuam na Educação Básica.

Metas
Pretende-se elaborar materiais didáticos baseados na vivência com os sujeitos da
pesquisa integrando a prática de professores da Educação Básica como forma de
adequar os materiais produzidos com o cotidiano das escolas.

Atividades a serem desenvolvidas


• Estabelecer um espaço para criação e produção de materiais didático-
pedagógicos disponibilizados online e off-line. Estes materiais serão produzidos em
colaboração entre os licenciandos, os professores e os alunos da educação básica
baseadas nas demandas cotidianas.
• Fomentar o desenvolvimento de materiais didático-pedagógicos e fortalecimento
da prática docente integrando tecnologia e inovação na prática docente.

Cronograma
Fases ANO I, II
Ano I Contato com as instituições; preparação da equipe e material a ser utilizado no campo
Anos I Realização das etapas da pesquisa-ação (escola de ensino médio)
Anos I e II Transcrição do material de áudio
Anos I, II Análises preliminares dos dados coletados
Anos II Produção de materiais pedagógicos – sequências didáticas, disponibilização de
material online
Ano II Análise dos dados, apresentação dos resultados finais
Ano II Relatório de pesquisa/Perspectiva para novos estudos
Subprojeto 2: A perspectiva interdisciplinar na formação do professor
Modalidade: PIBIC

Resumo
A perspectiva interdisciplinar na formação do professor, através do compartilhamento
das práticas cotidianas de sala de aula é o objeto de estudo desse subprojeto. Busca na
interação entre a universidade e a escola de educação básica a reflexão sobre o projeto
político-pedagógico e de problemas relativos ao ensino, à aprendizagem, ao currículo,
aos recursos materiais disponíveis, ao comportamento dos estudantes, suas expectativas
e frustrações em relação à escola, às expectativas dos pais, da gestão, dos espaços
físicos, dentre outras, pelo reconhecimento e o levantamento sociocultural no qual a
escola está inserida. A inserção, através da pesquisa, no cotidiano da escola e da sala de
aula visa provocar a compreensão do fazer docente, adquirindo novos saberes e
competências relacionadas às especificidades desse fazer contribuindo para a formação
inicial de professores. Os resultados iniciais indicam que a participação da pesquisa na
sala de aula vem fomentando novas práticas, incentivando os professores a revisitaram
suas práticas, sinalizando para uma perspectiva inovadora para os processos de ensino e
aprendizagem.

Justificativa
A inserção no cotidiano da escola e da sala de aula visa provocar a compreensão
do fazer docente, adquirindo novos saberes e competências relacionadas às
especificidades do fazer docente. A análise do cotidiano incluem o estudo do projeto
político-pedagógico e de problemas relativos ao ensino, à aprendizagem, ao currículo,
aos recursos materiais disponíveis, ao comportamento dos estudantes, suas expectativas
e frustrações em relação à escola, às expectativas dos pais, da gestão, dos espaços
físicos, dentre outras. Além disso, inclui o reconhecimento e o levantamento
sociocultural no qual a escola está inserida.
A proposta do subprojeto 2 pauta-se, ainda, na possibilidade de alunos de cursos
de diferentes licenciaturas observarem o cotidiano das escolas e buscarem novas
propostas para a formação inicial.

Objetivos
Compartilhar experiências didáticas para o entendimento das práticas que se
desenvolvem no cotidiano escolar fomentando a formação inicial de professores de
modo interdisciplinar.
Metas
Pretende-se:
i) Ampliar a interação universidade-escola.
ii) Refletir sobre o projeto político-pedagógico das licenciaturas a partir das
experiências vivenciadas.
iii) Refletir sobre o projeto político-pedagógico da escola.
iv) Incentivar os professores da educação básica a aprofundar seus conhecimentos pela
participação em grupos de estudos na universidade.
v) Promover a inserção das tecnologias digitais nas atividades de ensino.

Atividades a serem desenvolvidas


Cronograma
Fases ANO I, II
Ano I Contato com as instituições; preparação da equipe e material a ser utilizado no campo
Anos I Estudo de campo (escolas de ensino médio)
Anos I e II Transcrição do material de áudio
Anos I, II Análises preliminares dos dados coletados
Anos II Sessão de audiência com os sujeitos da pesquisa, aproximação entre a universidade e a
escola
Ano II Análise dos dados, apresentação dos resultados finais
Ano II Relatório de pesquisa/Perspectiva para novos estudos

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