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IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA AGROFLORESTAL BIODIVERSO

EM UM LOTE DO ASSENTAMENTO ESTRELA DA ILHA,


EM ILHA SOLTEIRA (SP)

Gabriela Gomes Marques1


Clara Campos Beltrame2
Yana Indiara Crivellari de Castro Correa3
Andréia Alves Rezende4
Grupo de Pesquisa: GT1 – Construção do Conhecimento Agroecológico

Resumo
O projeto de extensão universitária denominado “Plantas do Cerrado e seus usos em sistemas
agroflorestais biodiversos em lote rural do assentamento Estrela da Ilha”, desenvolvido pelo
Grupo de Agroecologia de Ilha Solteira (GAISA), teve como objetivo subsidiar sistemas
produtivos agroflorestais num lote rural no município de Ilha Solteira e, expandir o
conhecimento da ecologia presente no Cerrado, além de contribuir para a ampliação da
formação técnica do agricultor quanto à implantação e manejo de sistemas agroflorestais,
geração e diversificação da renda e redução da dependência de insumos externos ao
estabelecimento. Buscou também fortalecer a consciência ecológica dos integrantes do
GAISA por meio da participação direta destes em todas as etapas do processo de implantação
e manejo do sistema agroflorestal.

Palavras-chave: agrofloresta; cerrado; assentamento rural; agricultura familiar

1. Introdução

O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, ocupando uma área de cerca de 22% do
território nacional. Nos últimos 35 anos mais da metade dos seus 2 milhões de km 2 originais
foram cultivados com pastagens plantadas e culturas anuais. (KLINK; MACHADO, 2005;
MMA, 2016).

1
Graduanda de Engenharia Agronômica pela FEIS-UNESP, gabigomesm@hotmail.com
2
Graduanda de Ciências Biológicas pela FEIS-UNESP,clara.campos.beltrame@hotmail.com
3
Graduanda de Ciências Biológicas pela FEIS-UNESP, yana.indiarac@gmail.com
4
Docente de Ciências Biológicas e Engenharia Agronômica pela FEIS-UNESP, andreia.rezende@unesp.br

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Tal contexto, mostra que é necessário à busca por novas alternativas, remetendo-nos a
importância da agroecologia. A agroecologia é o resgate e a valorização do saber popular, em
que por meio do diálogo permuta-se conhecimentos entre os estudantes e os dos agricultores,
no anseio de construir bases para que estes ampliem sua autonomia, especialmente com a
redução da dependência em relação a insumos químicos sintéticos, máquinas e implementos,
mas sempre respeitando os processos da vida e as especificidades sócio-político-econômico-
cultural que caracteriza cada família. Uma forma de implementar processos agroecológicos é
por meio de Sistemas Agroflorestais.
Os Sistemas Agroflorestais (SAF’s) são definidos por Nair (1993) como sistemas e
tecnologias de uso da terra, em que espécies perenes são utilizadas em um manejo combinado
com cultivos agrícolas e/ou animais, com alguma forma de arranjo espacial ou em sequência
temporal.
Segundo Montagnini et al. (1992), os SAF’s adaptam-se muito bem ao esquema de produção
da agricultura familiar, por potencializarem o uso da mão-de-obra disponível na propriedade,
assim como a diversificação e integração dos policultivos são extremamente benéficos às
condições socioculturais dos pequenos produtores.
Assim, o sistema agroflorestal, ao conciliar restauração, conservação e produção agrícola,
torna-se uma importante ferramenta para restauração de áreas de agricultura familiar, não
apenas pelo retorno financeiro imediato gerado com a produção agrícola, mas também pela
manutenção do plantio florestal.
A democratização de saberes fundamenta-se na abordagem de extensão enquanto
comunicação, ou seja, um processo dialógico em que há troca de saberes e de experiências
entre os educadores e educandos (professores/alunos/agricultores), tal como preconizado por
Freire (1985).

2. Objetivos

O projeto teve como objetivo de subsidiar sistemas produtivos agroflorestais em lote rural no
assentamento Estrela da Ilha, localizado no município de Ilha Solteira (SP) e, expandir o
conhecimento da ecologia presente no Cerrado Também buscou ampliar os conhecimentos do
agricultor em relação à implantação e manejo de sistemas agroflorestais, visando reduzir sua
dependência de insumos externos e diversificar sua renda. Além disso, buscou reforçar o
conhecimento prático do Grupo GAISA acerca da agroecologia e dos SAF’s.

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3. Antecedentes

O Grupo de Agroecologia de Ilha Solteira, ao realizar suas reuniões semanais de estudos,


sentiu vontade e necessidade de colocar em prática seus conhecimentos, compartilhados e
adquiridos, de maneira a ampliar e contribuir para a construção do conhecimento
agroecológico, além de também divulgá-lo para um público fora da universidade.
Inicialmente, o Grupo foi em busca de implantar o projeto no pomar da faculdade, no entanto,
não houve apoio à implantação, pois alegaram que a implantação de uma área com o sistema
agroflorestal prejudicaria experimentos existentes no local, já que o mesmo proporcionaria
sombreamento.
Diante dessa dificuldade para implantação do SAF, como muitos dos integrantes do GAISA
participavam também do Grupo de Extensão e Pesquisa sobre Desenvolvimento Rural e
Sustentabilidade da Unesp de Ilha Solteira (Guatambu) que, possui estreita relação com os
assentamentos da região, visto que, o grupo já atuava com atividades de extensão rural nos
lotes, surgiu à ideia de implantar o sistema agroflorestal em algum lote rural no Assentamento
Estrela da Ilha, no qual o agricultor tivesse maior aceitabilidade para introdução das práticas
agroflorestais.

4. Principais Atividades e Ações desenvolvidas

O local de implantação do SAF foi no lote 202, mais precisamente no sítio Bonanza,
localizado no Assentamento Estrela da Ilha. A princípio, fez-se necessário o diagnóstico
participativo, precedendo todas as outras etapas, sendo de extrema importância, já que através
dele se tem conhecimento sobre as habilidades e disponibilidade de cada membro da família,
além do interesse econômico dos mesmos.
Cada espécie foi meticulosamente selecionada com base nas diretrizes do agricultor,
respeitando o escoamento da produção e os diferentes estratos, ou seja, a relação de tempo de
permanência, desenvolvimento e egresso do sistema, além de seu uso e ocupação do solo.
Posterior ao levantamento feito junto ao agricultor, foi elaborado um croqui para organizar e
dimensionar o SAF.
Em seguida foi organizado um mutirão agroflorestal para a instalação do SAF. Iniciou-se com
o plantio das bananeiras e um mix de sementes arbóreas (baru, cedro, ipê-roxo e rosa, aroeira-

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pimenteira, aroeira verdadeira, caju, jatobá,copaíba, gueroba), além disso, foram implantadas
outras plantas como mandioca, milho, gliricídia, crotalária, capim-mombaça, melancia e
eucalipto. As mudas de frutíferas foram doadas pelo Viveiro de Mudas de Ilha Solteira, as
sementes de nativas foram coletadas na Fazenda de Ensino Pesquisa e Extensão da UNESP
(FEPE) e, algumas foram adquiridas em um site que realiza doação de sementes. As estacas
de mandioca e os rizomas de bananeira utilizados foram do próprio agricultor.
Para adubação do solo foi utilizada a cama de frango, sendo que tal adubo foi recolhido no
pomar da Unesp e devidamente fermentado por dois meses, antes de seu efetivo uso. Além
disso, foi efetuada adubação verde com uso de Crotalaria juncea e capim-mombaça.
A primeira espécie plantada foi a banana, devido a necessidade de abertura de buracos mais
profundos e utilização do adubo de cama de aviário, servindo como guia para as outras
plantas. A seguir foram abertos berços e o mix de sementes colocado no solo, e as mandiocas
estacadas uma em cada lado. Com essa base já estabelecida, vieram as gliricidias, depois o
capim mombaça foi plantado a lanço seguido da crotalária. As mudas, como a do eucalipto,
por exemplo, foram colocadas junto ao mix de sementes.
Dentre as espécies, algumas não conseguiram se desenvolver adequadamente, como as
gliricídias, sendo necessário seu replantio no terceiro mês. As gliricídias que conseguiram se
desenvolver, estavam localizadas sob as bananeiras que receberam adubação orgânica devido
ao escorrimento de caldo oriundo do esterco de galinha armazenada ao lado do canteiro.
Algumas outras atividades foram desenvolvidas no terceiro mês, tais como a roçagem do
capim-mombaça e da crotalária, visando o fornecimento de cobertura do solo para sua
conservação, o que também favorece a microbiota existente no solo, além de promover o
processo de decomposição do material, contribuindo para a ciclagem e retorno de nutrientes.
Em outra visita com o SAF mais desenvolvido, foi possível observar que ocorreram falhas em
alguns pontos onde estavam as nativas e bananeiras. Então foi refeita a semeadura do mix de
sementes de arbóreas e o replantio de mudas de bananeiras, ademais, também efetuou-se
podas em algumas bananeiras que estavam se desenvolvendo. As glirícidias pereceram no
sistema. Em algum outro momento, outras espécies foram colocadas no sistema mediante a
vontade do agricultor tais como abacate, citros, abóbora paulista, pepino caipira, feijão-
fradinho e feijão-caupi, e goiabeira. Também foi semeado o feijão-de-porco na área com a
finalidade de adubo verde.

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Por fim, o grupo GAISA desenvolveu uma cartilha de manejo do Sistema Agroflorestal com
objetivo de auxiliar o agricultor no manejo, a cartilha foi construída a partir da discussão e
estudo do Grupo acerca das espécies que por fim se estabeleceram no local.

Referências

FREIRE, P. Extensão ou comunicação? São Paulo: Paz e Terra, 2005.

KLINK, C. A.; MACHADO, R. B. A conservação do Cerrado brasileiro. Megadiversidade,


Brasília, v. 1, n. 1, p.147-155, jul. 2005.

MONTAGNINI, F. Sistemas agroforestales: princípios y aplicaciones em los trópicos. 2. ed.


San Jose: Organizacion para Estudos Tropicales, 1992.

NAIR, P. K. R. An introduction to agroforestry. Netherlands: Kluwer Academic, 1993.

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