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Clausura1

Maurício Cléto
Piracicaba, 05 de junho de 2019

Recueillement

Sois sage, ô ma Douleur, et tiens-toi plus tranquille.


Tu réclamais le Soir ; il descend ; le voici :
Une atmosphère obscure enveloppe la ville,
Aux uns portant la paix, aux autres le souci.

Pendant que des mortels la multitude vile,


Sous le fouet du Plaisir, ce bourreau sans merci,
Va cueillir des remords dans la fête servile,
Ma douleur, donne-moi la main ; viens par ici,

Loin d'eux. Vois se pencher les défuntes Années,


Sur les balcons du ciel, en robes surannées ;
Surgir du fond des eaux le Regret souriant ;

Le Soleil moribond s'endormir sous une arche,


Et, comme un long linceul traînant à l'Orient,
Entends, ma chère, entends la douce Nuit qui marche.
Charles Baudelaire

Recolhimento2

Sê sábia, minha dor, e mantém-te mais quieta!


Reclamavas a Noite, ei-la que vem descendo:
Ar de sombra por tudo a atmosfera projeta,
A uns trazendo a paz, a angústia a outros trazendo.

Enquanto dos mortais a multidão objeta,


Sob o flagelo do Prazer, este algoz sem virtude,
Na festa mais servil de remorso e repleta,
Minha Dor, dá-me a mão! Teu corpo em mim se escude!

Vê curvados além perdidos os Anos passados,


Nas sacadas dos céus de vestidos antiquados,
Surgir do fundo do mar a Saudade sorridente;

Dormir o Sol morrente sob arcada branda


E assim com um sudário arrastado no Oriente,
Ouve, minha cara, a doce noite que anda.
Charles Baudelaire

1
21 O fio de Ariadne; nº 09.
2
Tradução em: https://www.cultcarioca.com.br/2013/01/charles-baudelaire-recolhimento.html. Acesso em: 29 jun.
2019.
Clausura
Sê lúcida, dor excruciante. Cala teus gritos infernais
Ansiava à noite e ao silêncio, agora, cobre-te a escuridão
sem sentido, as máquinas do mundo tornaram-se virtuais
há uma multidão de solitude sobre sua oração.

Estrangeiro, expatriado e sem comunidade


sem pele exposto às intempéries sociais
enquanto o mundo está em festa em sua sociedade
Em angústia e finitude – um eterno nunca mais.

Pesa sobre nós o peso denso do futuro


enquanto a dor é espesso universo
Será que emergirá da dor a alegria da loucura?

Quando o mundo adormece em sua vicissitude


E a noite abre-se solitária e pura
Dor, lasciva donzela, recebe-me em quietude!

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