1. INTRODUÇÃO LINDB preocupa-se com a própria norma jurídica. É um diploma legal multidisciplinar. 2. VIGÊNCIA DAS NORMAS: ART. 1º E 2º Vigência e existência são conceitos diversos. Existência da norma se dá no momento da sua promulgação. A lei só ganha vigência depois da vacatio legis (lapso temporal para que as pessoas tenham conhecimento de sua existência). Neste período de vacatio legis a lei já existe, mas ainda não tem vigência. Art. 8º, LC 95/98 . a vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão. Toda norma legal deve ter um período de vacatio legis que deve ser expresso em um número de dias. A fórmula que se conhecia, “esta lei entra em vigor na data de sua publicação”, só poderá ser utilizada para as leis de pequena repercussão. Contagem do prazo de vacatio legis (art. 8º, §1º, LC 95/98): a contagem do prazo da vacatio legis possui uma regra autônoma/própria, incluindo-se o primeiro e o último dia, entrando a lei em vigor no dia subsequente a consumação integral do prazo. Segundo a doutrina, não importa se o último dia for feriado ou final de semana.
ATENÇÃO: essas regras somente se aplicam às normas legais. As normas jurídicas
administrativas (portarias, decretos, regulamentos, resoluções) sempre entrarão em vigor na data de sua publicação (Decreto nº 572/1890). QUESTÃO: Durante o prazo de vacatio, a lei, que já existe, mas não tem vigência, pode ser modificada? a modificação de uma lei dentro do seu período de vacatio legis só pode ocorrer através de uma nova lei. Porém, a correção de erros materiais ou inexatidões pode ser feita através da simples republicação da lei com as devidas correções. No caso de republicação da lei, o prazo de vacatio legis volta a correr do zero somente para a parte que foi corrigida. Revogação: uma vez cumprida a vacatio legis e entrando em vigor, a lei continuará vigendo até que venha outra e, expressa ou tacitamente, a revogue dado o princípio da continuidade. A revogação é gênero da qual ab-rogação e derrogação são espécies. ab-rogação: é a revogação total da lei. derrogação: é a revogação parcial da lei. Repristinação: é o restabelecimento dos efeitos de uma lei que foi revogada pela revogação da lei revogadora. A revogação da lei revogadora não restabelece os efeitos da lei revogada. Porém, o próprio § 3º do art. 2º da LINDB abre uma exceção à repristinação ao dizer que pode haver efeitos repristinatórios quando houver expressa disposição neste sentido na lei. O art. 27 da Lei 9.868/98 estabelece a possibilidade de efeitos repristinatórios no controle concentrado de constitucionalidade. Isto, porque, a lei revogada será tratada como se nunca tivesse existido nem nunca tivesse produzido efeitos. CUIDADO: isso é exclusivo do controle concentrado. No controle difuso não é possível, pois este gera efeitos inter partes tão-somente. Mas nem toda declaração de inconstitucionalidade implica efeitos repristinatórios.
3. OBRIGATORIEDADE DA NORMA: ART. 3º
O art. 3º da LINDB traz presunção de que todas as pessoas conheçam a lei. Ou seja, toda lei traz consigo uma presunção de conhecimento por todos. A respeito da obrigatoriedade de conhecimento da norma existem três correntes: Ficção: há ficção de que todos conhecem a lei. Presunção: legislador presume, de forma absoluta, que todos conhecem a lei. 3ª corrente (prevalece) – Necessidade Social (Zeno Veloso, Maria Helena Diniz, Flávio Tartuce): há uma necessidade social de que todos conheçam as leis. Princípio da Obrigatoriedade Relativa/Mitigada: a presunção de conhecimento da lei não é absoluta, uma vez que existem situações excepcionais expressamente previstas em lei em que se admite a alegação de erro de direito. A alegação de erro de direito só pode ser feita em casos previstos em lei. Esses casos previstos em lei são muito mais numerosos no Direito Penal. o Direito Civil há apenas DOIS casos em que se permite a alegação de erro de direito, quais sejam: a) Casamento putativo (art. 1.561, CC) no caso de casamento nulo ou anulável celebrado com boa-fé, os efeitos do ato serão ser preservados em relação aos filhos. Exemplo: casamento de A com B, sua irmã. Erro de fato: A não sabia que B era sua irmã. Erro de direito: A sabia que B era sua irmã, mas não sabia quer era proibido o casamento entre irmãos. b) Erro como vício de vontade no negócio jurídico (art. 139, III, CC): esse erro pode ser alegado para o desfazimento do negócio jurídico. Obrigatoriedade “simultânea”: A lei entra em vigor em todos os locais do país ao mesmo tempo. 4. INTEGRAÇÃO DA NORMA: ART. 4º A integração da norma é a atividade pela qual o juiz complementa a norma. O ordenamento jurídico vedou o “non liquet”, que significa que o juiz não pode se eximir do dever de julgar alegando lacuna ou desconhecimento da norma. Art. 4º, LINDB . quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Para lembrar: ordem alfabética . A,C,P. Esse dispositivo traz um rol TAXATIVO e preferencial de integração da norma. Havendo lacuna, o juiz está obrigado a promover a integração da norma; colmatará o vazio. Espécies de Lacunas, conforme Maria Helena Diniz: ATENÇÃO a) Lacuna normativa: ausência total de norma para um caso concreto; b) Lacuna ontológica: presença de norma para o caso concreto, mas que não tenha eficácia social; c) Lacuna axiológica: presença de norma para o caso concreto, mas cuja aplicação seja insatisfatória ou injusta; d) Lacuna de conflito ou antinomia: choque de duas ou mais normas válidas, pendente de solução no caso concreto. Métodos de Colmatação: Na integração, da norma o juiz deverá se valer da analogia, dos costumes e dos princípios gerais de direito, devendo utilizar esses métodos nesta ordem porque o art. 4º da LINDB estabeleceu um rol taxativo e preferencial. a) Analogia: é primeiro mecanismo de integração. É o preenchimento da lacuna através da comparação. O seu fundamento é a igualdade jurídica. A analogia pode ter duas formas: I. analogia legis se concretiza pela comparação de um caso não previsto com outro já previsto em lei. II. analogia iuris: o juiz preenche a lacuna com a comparação do caso com o sistema como um todo. Dessa forma, compara-se a situação não prevista em lei com os valores do sistema e não com um dispositivo legal. ATENÇÃO: ANALOGIA Rompe-se com os limites do que está previsto na norma. (INTEGRAÇÃO). INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA: Apenas amplia-se o sentido da norma, havendo subsunção. (CONHECIMENTO). b) Costumes: são os usos cotidianos locais, ou seja, os usos reiterados de uma comunidade. I. costumes contra legem: materializam uma prática cotidiana atentatória à lei. No Direito Brasileiro não se admitem os costumes contra legem. II. costumes secundum legem: legem: são os costumes determinados na lei. A sua utilização vem expressa na própria lei. OBS. vê-se que não são hipóteses de lacunas no sistema, pois o próprio ordenamento é que remete aos costumes. Nesses casos, portanto, não há integração, mas sim subsunção. Exemplo: art. 445, § 2º, CC/02. III. costumes praeter legem: são aqueles costumes que não foram previstos em lei, sendo utilizados para preencher lacuna. É a única forma de costumes que serve como forma de colmatação. Exemplo: eficácia do cheque pós-datado (juiz se vale dos costumes para aceitar a indenização por dano moral quando do depósito do cheque antes da data - STJ). Súmula 370 do STJ: Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado. IV. Requisitos para aplicação dos costumes: (1) continuidade; (2) uniformidade; (3) diuturnidade; (4) moralidade; (5) obrigatoriedade. c) Princípios gerais de direito: são, na verdade, postulados universais. I. Os princípios possuem um papel quaternário: só se decide com base neles se o juiz não conseguiu decidir com base na lei, na analogia e nos costumes. II. Precisamos perceber é que existem dois diferentes tipos de princípios: princípios fundamentais e princípios informativos (ou gerais). princípios fundamentais ou institucionais: possuem força normativa, exatamente na medida em que os princípios fundamentais obrigam. Os princípios fundamentais são as opções valorativas de cada sistema. princípios gerais/informativos: são meras recomendações, têm caráter propositivo, e são universais. Não possuem força normativa porque só servem para desempate. Enquanto os princípios fundamentais correspondem a uma opção de um sistema, os princípios informativos são universais. d) Equidade: excepcionalmente o ordenamento jurídico admite a utilização da equidade como meio de integração. A equidade é a busca do bom/equilibrado/ justiça equitativa (nem tanto o mar, nem tanto a terra). I. O direito brasileiro só admite a equidade quando houver previsão em lei. II. Às vezes, é a própria lei que estabelece o critério de equidade (equidade legal), mas poderá também o juiz estabelecer (equidade judicial). Ex: Art. 7°, CDC e NCPC Art. 85, §
5. INTERPRETAÇÃO DA NORMA: ART. 5º
interpretação não se confunde com integração Integrar é preencher uma lacuna. Já interpretar é buscar o alcance e o sentido. Toda e qualquer interpretação da norma deve ser sociológica/teleológica, isto é, deve atender aos fins sociais a que a norma se destina Ao realizar a interpretação da norma, podemos chegar a um resultado ampliativo, restritivo ou declarativo.
6. APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO: ART. 6º.
Art. 6º, LINDB → a Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. No Direito Brasileiro, portanto, consagrou-se a regra da irretroatividade das leis, de modo que as leis novas não alcançam os fatos pretéritos. Exceção: admitem-se, excepcionalmente, efeitos retroativos na lei quando presentes dois requisitos, quais sejam: A) Expressa disposição neste sentido. B) Que a retroação não prejudique o ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o direito adquirido. O STF disse que não há direito adquirido nem em face do Poder Constituinte Originário, nem em face do Poder Constituinte Derivado. Ultratividade: é o fenômeno através do qual uma lei, já revogada, produz efeitos mesmo após a sua revogação. 7. APLICAÇÃO DA LEI NO ESPAÇO: ART. 7º A 19 Existem situações excepcionais em que a própria LINDB admite a aplicação da lei estrangeira no território brasileiro. Dessa forma, o Brasil adotou a teoria da territorialidade moderada/mitigada. Aplicação do Estatuto Pessoal: ei do domicílio do interessado: a LINDB prevê 07 hipóteses de aplicação da lei estrangeira no território brasileiro: a) nome. b) personalidade. c) capacidade. d) direito de família. e) bens móveis que o interessado traz consigo. f) penhor. g) capacidade sucessória. Existem três casos em que a LINDB admite a aplicação da lei estrangeira sem a aplicação do estatuto pessoal: a) Conflito sobre bens imóveis: aplica-se a lei do lugar em que está situado o imóvel. b) Lei sucessória mais benéfica ao cônjuge ou aos filhos. c) Lugar da obrigação no caso de contratos internacionais se aplica a lei de residência do proponente. Para que o STJ homologue a decisão judicial estrangeira é preciso que estejam presentes três requisitos: A) Prova do trânsito em julgado. B) Filtragem constitucional C) Cumprimento das formalidades processuais do art. 963 do NCPC, dentre as quais se encontra a necessidade de ouvida do MP.
8. ANTINOMIAS JURÍDICAS OU LACUNAS DE COLISÃO
Antinomia é a presença de duas normas conflitantes, válidas e emanadas de autoridade competente, sem que se possa dizer qual delas merecerá aplicação em determinado caso concreto. CRITÉRIOS BÁSICOS DE SOLUÇÃO DOS CHOQUES ENTRE NORMAS A) Critério Cronológico Norma posterior prevalece sobre a anterior. B) Critério da Especialidade Norma especial prevalece sobre a geral. C) Critério Hierárquico Norma superior prevalece sobre a inferior. O critério cronológico é o mais fraco, após, vem o da especialidade e o da hierarquia é o mais forte, ante a importância do texto constitucional. CLASSIFICAÇÃO DAS ANTINOMIAS A) de 1º Grau Conflito entre normas que envolve apenas UM dos critérios acima expostos. B) de 2º Grau Choque de normas válidas que envolve DOIS dos critérios analisados, OU, quando não houver a possibilidade de solucionar um conflito pelos critérios acima, haverá uma antinomia de 2º grau. C) Aparente é aquela que pode ser resolvida pelos critérios da especialidade, hierarquia e cronológico. Quando a própria lei tiver critério para a solução do conflito. D) Real: Não pode ser resolvida pelos critérios acima. Não houver na lei critério para a solução do conflito. OBS Hierárquico x cronológico: prevalece o hierárquico Especialidade x Cronológico: prevalece especialidade. Hierárquico x especialidade: deverá ser decidido à luz da situação concreta.