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O desenvolvimento da imagem de Deus na infância e adolescência

Gisela I. W. Streck

A imagem de Deus é central para entender o desenvolvimento da religiosidade do ser


humano. Esta imagem de Deus é significativa não só na religiosidade da pessoa adulta, como
também na da criança e da pessoa jovem. As mudanças que acontecem na maneira como o ser
humano imagina Deus, no transcorrer da sua vida, são decisivas para entender o
desenvolvimento da sua religiosidade.

Na infância, as primeiras experiências que a criança faz com sua mãe e, posteriormente,
com seu pai são decisivas para o desenvolvimento da sua fé. As experiências de dependência e
de cuidados, de apego e de medos que o ser humano sente no seu relacionamento com a
figura materna e, posteriormente, sua relação com o pai, são os elementos constitutivos da
futura religiosidade. Estes primeiros sentimentos e representações são o campo onde uma
noção sobre Deus começa a desabrochar. Só mais tarde, quando a criança começa a verbalizar
ou visualizar sua imagem de Deus, é possível ver o quanto as primeiras experiências com mãe
e pai influenciam a formação de uma imagem de Deus. Da qualidade desta primeira experiência
depende também o futuro desenvolvimento da fé.

Na infância e início da adolescência desencadeia-se um processo de diferenciação entre


as imagens das figuras de mãe e pai e a imagem de Deus. No entanto, apesar da descoberta
de que pai e mãe e Deus são entidades diferentes, a relação que a criança teve e tem com
pessoas da sua família determina sua noção sobre Deus. Assim como o pai e a mãe, assim
também Deus ama e protege, ameaça e castiga. Esta experiência relacional possibilita a
construção da imagem antropomórfica de Deus, ou seja, crianças e adolescentes falam de
Deus como sendo um pai e o descrevem como uma pessoa: “Deus é o pai de todos. Imagino
Deus como um homem grande, bonito, calmo e muito bondoso. Mas às vezes ele se enfurece.”
(13 anos)

A partir da idade escolar a criança transita, cada vez mais, em diferentes grupos sociais,
além da sua família. Seu círculo social se amplia e com isso também aumenta o número de
pessoas e grupos que, por meio do ensino e da vivência, influenciam a religiosidade da criança.
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Inserida nesta nova realidade, a criança confronta-se, pela primeira vez, com um problema:
como associar o Deus próprio, a imagem “construída” a partir das experiências e da vivência
com pai e mãe e família, com o Deus “oficial”, apresentado pela escola, pela Igreja, pela
sociedade? É importante procurar conhecer a imagem de Deus que crianças e adolescentes
trazem “de casa”, e não impor simplesmente o Deus “oficial”, utilizando palavras que a criança
não consegue entender.

Na adolescência, o desenvolvimento da religiosidade traz a possibilidade para uma


mudança da imagem de Deus. Ela precisa tornar-se pessoal e ser pensada de forma abstrata.
As imagens de Deus como uma pessoa, ou como um velho de barba branca sentado numa
nuvem, tão típicas na infância, precisam ser abandonadas e uma nova imagem de Deus pode
surgir. As mudanças e a imagem abstrata, que aos poucos vai se impondo na adolescência,
trazem consigo algumas dificuldades. A primeira delas é imaginar Deus, e as respostas - Deus é
tudo, está em todos os lugares, está nas pessoas e na natureza - demonstram o quanto é difícil
definir e falar de Deus de forma abstrata. Uma segunda dificuldade na adolescência é afirmar
que Deus existe e, ao mesmo tempo, começar a perceber que há tantos problemas no mundo:
se Deus existe por que há tanta violência, tanta injustiça? - são perguntas que adolescentes
fazem. E quando as respostas não são encontradas ou são insatisfatórias, questionam a própria
existência de Deus: será que Deus não é uma ficção, inventada pelos seres humanos de
acordo com seus interesses ou ele realmente existe? Adolescentes, quando perguntados sobre
o que relacionam com a palavra Deus, podem falar sobre a Igreja, e assumir um tom crítico, ao
afirmarem, por exemplo, que ela existe somente para angariar dinheiro: “ ... as Igrejas arrancam
dinheiro das pessoas fazendo-as acreditar nessas crenças. Não acredito em Deus porque
nunca tive uma prova de que ele realmente existe.” (15 anos)

A adolescência se caracteriza pela possibilidade de mudar a imagem de Deus. Esta fase


da vida pode se caracterizar por conflitos e por questionamentos a respeito da existência de
Deus: afinal, a imagem infantil de Deus como um velho de barba branca está morrendo e novas
imagens abstratas precisam ser “construídas”: “Ele não tem cara nem corpo, mas deve ser legal
e compreensivo.” (14 anos) Para tanto adolescentes necessitam de espaços protegidos e de
pessoas que saibam entender esta fase de mudança. Necessitam de espaços onde possam
participar, perguntar e duvidar, compartilhar suas experiências, seus medos e anseios.
Necessitam de pessoas adultas dispostas a dialogar, sem “pré-conceitos” ou pré-julgamentos,
que saibam ouvir e orientar.
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1. Identificar o tema abordado:

2. Identificar a problematização feita pelo autor em torno do tema – qual é a pergunta central
que o autor quer responder:

3. Identificar a idéia central do autor – identificar a resposta que deu para a pergunta central que
fez:

4. Identificação da argumentação – mostrar os dados, as informações e os pontos de vista que


o autor usa para fundamentar a resposta que apresenta:

5. Posicionamento: concordo ou não com a argumentação? Por que sim? Por que não?

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