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SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 11(3) 1997

O SISTEMA DE PROTEÇÃO SOCIAL


BRASILEIRO
em direção a um modelo descentralizado

MARTA T. S. ARRETCHE
Professora do Departamento de Ciência Política da FCL/Unesp – Araraquara

D urante o regime militar, as relações intergover- dela dependentes. Os diversos programas de assistência
namentais no Brasil eram de fato muito mais social eram formulados e financiados por organismos fe-
próximas às formas que caracterizam um Esta- derais e implementados por meio de outra série de agên-
do unitário do que daquelas que caracterizam as federa- cias públicas e organizações semi-autônomas privadas. As
ções. Com efeito, governadores e prefeitos das capitais e fatias federais do ensino fundamental – particularmente
de cerca de 150 cidades de médio e grande portes foram os programas de reforço alimentar e de apoio à educação
destituídos de base própria de autonomia política: sele- básica – eram diretamente formuladas, financiadas e im-
cionados formalmente por eleições indiretas e mediante plementadas por agências do governo federal.2 A políti-
indicação da cúpula militar, sua autoridade política não ca de saúde, ainda que dispersa entre diferentes institui-
era derivada do voto popular. Além disso, todos os go- ções, também era executada supondo a centralização
vernadores e prefeitos detinham escassa autonomia fis- financeira e administrativa do Inamps e os programas
cal: a centralização financeira instituída pela reforma fis- verticais do Ministério da Saúde. Tal formato institucio-
cal de meados dos anos 60 concentrou os principais nal era compatível com o tipo de Estado vigente durante
tributos nas mãos do governo federal e, ainda que tenha a ditadura militar, para o qual estados e municípios eram
ampliado o volume da receita disponível dos municípios agentes da expansão do Estado e da execução local de
uma vez realizadas as transferências,1 estas estavam su- políticas centralmente formuladas. Nestes termos, gran-
jeitas a estritos controles do governo federal. Finalmen- de parte da atividade de planejamento no plano local con-
te, os governadores não tinham autoridade sobre suas bases sistia em formular projetos de solicitação de recursos para
militares, uma vez que as polícias militares estaduais fo- o governo federal, nos termos previstos pela agência fe-
ram colocadas sob controle do Exército Nacional. Ora, deral encarregada da implementação de uma dada políti-
relações intergovernamentais desta natureza caracterizam ca (Medeiros, 1986).
os estados unitários, nos quais o poder político no plano É importante, contudo, destacar o fato de que tal for-
local é uma delegação do governo central, fonte exclusi- ma de expansão do Estado capacitou estados e municí-
va da autoridade política (Riker, 1987). pios, ainda que de modo inteiramente desigual no espaço
Foi um Estado dotado destas características que insti- territorial brasileiro, dotando-os de uma não desprezível
tuiu o Sistema Brasileiro de Proteção Social, até então um capacidade técnica (em termos de recursos administrati-
conjunto disperso, fragmentado, com reduzidos índices vos e humanos), que torna possível hoje a descentraliza-
de cobertura e fragilmente financiado por iniciativas go- ção de programas sociais. Em outras palavras, políticas
vernamentais na área social. Esta forma de Estado mol- emanadas do governo federal quando da vigência do Es-
dou uma das principais características institucionais des- tado centralizado fortaleceram as capacidades adminis-
te Sistema: sua centralização financeira e administrativa. trativas de estados e municípios, seja pela reprodução no
As políticas federais de habitação e de saneamento bási- plano local de estruturas organizacionais do governo cen-
co eram formuladas, financiadas e avaliadas por uma agên- tral, seja pela criação de empresas públicas induzidas por
cia federal e executadas por uma série de agências locais aquela forma de expansão estatal (Arretche, 1996a).

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O SISTEMA DE PROTEÇÃO SOCIAL BRASILEIRO: EM DIREÇÃO A UM MODELO ...

RECUPEROU-SE O ESTADO FEDERATIVO... sileiro de Proteção Social, dado que a efetiva implanta-
ção de políticas públicas propostas pelo governo federal
Ao longo dos anos 80, recuperaram-se as bases do supõe, pelo menos por definição, a adesão de governado-
Estado federativo no Brasil. A democratização – particu- res e/ou prefeitos.
larmente a retomada de eleições diretas para todos os ní- Não há dúvida de que fatores de ordem econômica in-
veis de governo – e a descentralização fiscal da Consti- terferem nas possibilidades de exercício da autonomia
tuição de 1988 tornaram possível que governo federal, política e, portanto, na decisão pela “adesão”. A “penú-
estados e municípios tivessem fontes autônomas e inde- ria” fiscal de estados e municípios localizados em regiões
pendentes de autoridade política, bem como dispusessem de pobreza aguda limita o exercício da autoridade políti-
de bases fiscais para o exercício desta autoridade. A au- ca, uma vez que a reduzida base de taxação implica a quase
toridade política de governadores e prefeitos deriva do inexistência de autonomia fiscal. Porém, neste caso, a fra-
voto popular direto e ainda que, no momento presente, o gilidade fiscal não nega o princípio federativo. A neces-
governo federal e os diversos estados e municípios en- sidade de recursos por parte de uma determinada unidade
frentem graves problemas de natureza fiscal, estes não da federação passa a ser um dos elementos de barganha
decorrem da inexistência de autoridade tributária. Ao do nível de governo que esteja buscando implementar uma
contrário, decorrem em parte de fenômenos tais como a dada política, seja ele federal ou estadual, que podem es-
guerra fiscal e elevados níveis de endividamento relacio- tar implementando políticas diferentes entre si. Há aí,
nados ao tipo de autoridade tributária conferido a estados portanto, margem para decisão e negociação políticas.3
e municípios pela Constituição de 1988. Além disto, esta é a realidade de uma parte dos municí-
A reforma do Sistema Brasileiro de Proteção Social pios brasileiros, derivada da enorme heterogeneidade re-
integrou a agenda do processo de democratização e, des- gional. Para o conjunto do país, a possibilidade de um nível
de então, diversas dimensões de suas características es- de governo (estadual ou municipal) não aderir a uma dada
truturais têm sido objeto de propostas de mudança. O política federal (que não esteja constitucionalmente defi-
universo dos beneficiários e o escopo dos benefícios, as nida) é, de fato, uma prerrogativa derivada da recupera-
formas de financiamento, as modalidades de gestão e a ção do Estado federativo ao longo dos anos 80.
distribuição de competências entre os níveis de governo
têm sido intensamente questionados e, em alguns casos, DESCENTRALIZAR O SISTEMA BRASILEIRO
já foram modificados. DE PROTEÇÃO SOCIAL
Este processo de reforma, contudo, tem se processado
sob regime democrático – o que implica, entre outras coi- No campo do debate sobre a reforma do Sistema Bra-
sas, a possível alternância de orientação política no po- sileiro de Proteção Social, ganhou posição de elevado
der em qualquer nível de governo – e sob um estado de consenso o papel positivo a ser desempenhado pela des-
fato federativo – o que pressupõe que as relações inter- centralização dos programas sociais.4 Na verdade, a des-
governamentais operem por meio de processos de nego- centralização passou a ser um componente (praticamen-
ciação distintos daqueles vigentes para os estados unitá- te) inquestionável e imprescindível do referencial 5 de
rios. O longo processo de reformas do Sistema Brasileiro propostas de reforma para a área social.
de Proteção Social está associado ao fato de que, reali- Contudo, até muito recentemente, as avaliações sobre a
zando-se nas condições mencionadas, a formulação e a dinâmica deste processo chamavam a atenção fundamental-
implementação de políticas estão sujeitas a um maior mente para as dificuldades sob as quais este vinha se reali-
número de possíveis pontos de veto, o que envolve “idas zando. Há consenso quanto à avaliação de que se descentra-
e vindas” e custos de negociação mais elevados. Assim, lizaram recursos, mas não atribuições. Porém, descentralizar
o modo pelo qual se tomam decisões em estados federati- atribuições quando já foram descentralizados recursos, e sob
vos e democráticos torna o processo de reformas neces- um estado federativo, revelou-se tarefa difícil e complexa:
sariamente mais longo e (aparentemente) tortuoso. entre outras razões, porque a descentralização efetiva de
É certo que as especificidades de cada política setorial competências supõe justamente a adesão das unidades fede-
têm forte impacto sobre as possibilidades e o ritmo das rativas para as quais pretende-se transferi-las.
reformas, assim como a heterogeneidade dos estados e Mais que isto, as análises sobre a dinâmica dos pro-
municípios brasileiros tem sido um elemento obs- cessos de descentralização em curso, quando examinadas
taculizador para a aprovação de novos desenhos de polí- sob a ótica das diversas políticas sociais, revelavam que
ticas nacionais. No entanto, interessa destacar aqui que a a ausência de uma política nacional comandada pelo go-
recuperação das bases federativas do Estado brasileiro verno federal era, de fato, um forte obstáculo à imple-
causa impactos no processo de reformas do Sistema Bra- mentação destas reformas. Ao lado de outros fatores, como

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a fragilidade das coalizões políticas pró-descentralização Uma série de cautelas deve ser tomada com relação às
e a capacidade de articulação política dos interesses fa- evidências de que medidas administrativas em direção a
voráveis à manutenção das estruturas centralizadas, a um modelo descentralizado vêm sendo executadas. A pri-
(in)definição do governo federal, associada à sua crise meira diz respeito à fragilidade das instituições brasilei-
fiscal, não só limitava enormemente a possibilidade de ras, à facilidade com que “de uma canetada” destróem-se
aprovação ou implantação de reformas de tipo descen- órgãos e agências de longa tradição sem, muitas vezes,
tralizador, mas também tornava desordenada e caótica a qualquer previsão ou medida efetiva em direção à manu-
implementação das reformas já aprovadas (Almeida, 1995; tenção/preservação dos serviços, patrimônio, pessoal e
Arretche, 1996b; Silva e Cruz, 1996; Viana, 1996). As- outros organismos a eles vinculados e, mais ainda, sem
sim, até pouco tempo atrás, considerava-se que o gover- qualquer cuidado com o impacto sobre os seus beneficiá-
no federal representava um obstáculo à descentralização rios.7 Por esta razão, um eventual retrocesso na imple-
das políticas sociais. Há claros indícios de que este qua- mentação destas medidas não está descartado, visto que
dro mudou. o seu caráter é ainda recente e, portanto, fragilmente ins-
Este artigo pretende demonstrar que, se forem consi- titucionalizado e não está descartada a hipótese de uma
deradas as principais políticas da área social (educação, re-centralização derivada da alternância de orientação
desenvolvimento urbano, assistência social e saúde), já política no governo federal. Assim, se é verdade que a
existe uma estratégia do governo federal que busca im- orientação federal tem atuado no sentido de instituir um
plantar um novo modelo descentralizado de gestão. Veja- novo modelo de gestão descentralizada, este seguramen-
se a normatização e implantação da municipalização do te ainda não se encontra consolidado.
Sistema Único de Saúde, a definição federal por formas Em segundo lugar, existe, na prática, uma larga distân-
descentralizadas de gestão no ensino fundamental, a for- cia entre regulamentação/definição legal das políticas e sua
mulação de uma nova Política Federal de Desenvolvimen- realização efetiva. Questões referentes ao timing de im-
to Urbano e a implantação das medidas preconizadas na plantação de medidas jurídico-institucionais, às resistên-
Lei Orgânica da Assistência Social. Tais medidas vêm cias de setores politicamente organizados e às enormes
sendo adotadas paulatinamente ao longo dos anos 90 e diferenças entre estados e municípios brasileiros quanto à
encontram-se em estágios distintos de implantação. Po- capacidade técnica de absorção de novas funções consti-
rém, no seu conjunto, denotam a existência de uma estra- tuem ainda sérios obstáculos à descentralização em qual-
tégia do governo federal em direção à constituição de um quer de suas vertentes. Estas evidências reforçam a idéia
modelo descentralizado de gestão de suas políticas sociais. de que ainda não se pode falar de um novo modelo, mas
Estas iniciativas cobrem parcela preponderante das apenas e tão-somente da crescente consolidação de um
ações federais na área social, particularmente aquelas arcabouço de medidas do governo federal destinadas a dar
passíveis de serem transferidas para os governos locais. um formato descentralizado à gestão de suas políticas.
Com efeito, permanecem sob competência exclusiva da Neste sentido, chama-se a atenção para o objeto sob
União o financiamento e a gestão dos benefícios previ- análise. É certo que nos estados federativos, e resguarda-
denciários federais, do programa de seguro-desemprego das constitucionalmente competências exclusivas e con-
e das pensões para idosos e deficientes. São também de correntes, nada impede que estados e municípios tomem
responsabilidade do governo federal a formulação e a iniciativas nos mais diversos setores de política social,
implementação de programas, no interior das diversas instituindo os mais diversos tipos de inovações em maté-
políticas setoriais (saúde, educação, saneamento, habita- ria de proteção social. Porém, não é isto o que se analisa
ção, assistência social), destinados a reduzir desigualda- aqui, mas sim o processo de transição da política federal
des regionais na capacidade de oferta de serviços. E, para a área social, política esta que, sob o regime militar,
finalmente, cabe ao governo federal responder por pro- caracterizou-se por elevado grau de centralização e que
gramas nacionais de combate a condições graves de vem se encaminhando nos anos mais recentes em direção
miserabilidade. De fato, as funções associadas a estes pro- a um modelo de tipo descentralizado. Em outras palavras,
gramas devem estar sob responsabilidade da União, de- demonstrar-se-á que o governo federal vem desenvolven-
vido à escala das operações e seu caráter redistributivo. do políticas explícitas em direção à distribuição de com-
Processos decisórios distintos no interior de cada po- petências entre os níveis de governo, e que, neste senti-
lítica setorial explicam esta convergência; no entanto, é do, vem consolidando um projeto de descentralização de
inegável que a prioridade governamental quanto à políti- atribuições de gestão para estados e municípios.
ca de ajuste fiscal associada à hegemonia do referencial Uma última cautela: se é verdade que a descentralização
“pró-descentralização” nas burocracias dos ministérios da vem se impondo como orientação explícita das burocracias
área social constitui poderosa alavanca nesta direção.6 do governo federal, também é verdade que esta não se insta-

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O SISTEMA DE PROTEÇÃO SOCIAL BRASILEIRO: EM DIREÇÃO A UM MODELO ...

lou completamente. Há programas federais que ainda são uma relação direta com os municípios, reduzindo a parti-
geridos de forma centralizada: o Programa do Livro Didáti- cipação dos governos estaduais.
co dá seus primeiros passos nessa direção, permanecendo A partir de 1990, passou-se por uma fase negociada
ainda sob gestão centralizada; o Ministério da Saúde man- de institucionalização do processo de descentralização.
tém programas que são geridos de forma verticalizada e a A Lei Orgânica da Saúde de 1990 e, posteriormente,
Política Federal de Desenvolvimento Urbano encontra-se em as Normas Operacionais Básicas (NOBs) aprimoraram
fase de tramitação legislativa. Seria impreciso falar de um a gestão pluriinstitucional, com a criação de conselhos
novo modelo descentralizado; apenas há fortes evidências nos âmbitos nacional, estadual e municipal, responsá-
de que o governo federal age nesta direção e de que este veis pelas diretrizes políticas do setor. A criação das
modelo, portanto, pode vir a se consolidar. comissões bipartites e tripartites de gestores consoli-
dou o cenário da negociação entre os diferentes níveis
O GOVERNO FEDERAL BUSCA de governo. Definiu-se explicitamente o município
DESCENTRALIZAR COMPETÊNCIAS como gestor específico dos serviços e estabeleceram-
se os diferentes níveis de adesão destes ao SUS, bem
Bandeira do movimento sanitarista desde o final da como as responsabilidades e as formas de repasses de
década de 70, a descentralização da Política Nacional de recursos que lhes correspondem.
Atenção à Saúde – assim como a universalização do acesso Fortalecendo a relação entre governo federal e muni-
aos serviços – consolidou-se como um princípio de ges- cípios, a estratégia supõe graus distintos de responsabili-
tão a partir da VIII Conferência Nacional de Saúde em dade sobre a gestão dos serviços. A municipalização so-
1986 e na Constituição de 1988. Desde então, um con- mente pode ocorrer por solicitação municipal, a qual pode
junto – às vezes errático – de leis, normas operacionais e se dar mediante três formas de adesão: a gestão incipien-
portarias ministeriais vem regulamentando um longo pro- te; a gestão parcial; e a gestão semiplena dos serviços,
cesso, ainda em curso, de institucionalização de regras e cujas atribuições podem ser observadas no Quadro 1. É
procedimentos de um sistema integrado e hierarquizado exigência para a adesão do município ao processo de
de prestação de serviços. municipalização, e, portanto, a qualquer uma das situa-
Com a instituição das AIS – Ações Integradas em Saú- ções de gestão citadas, que este institua um órgão local
de –, medida destinada a enfrentar os problemas de ges- encarregado da gestão da política de saúde, o Conselho
tão do sistema causados pela superposição e pulveriza- Municipal de Saúde (de composição paritária entre pres-
ção de funções e recursos, deram-se passos importantes tadores e usuários), e o Fundo Municipal de Saúde, o qual
na direção da descentralização. Porém, na verdade, esta viabiliza a realização de transferências “fundo a fundo”
tomou impulso efetivo com a implantação do Suds – Sis- e, ao mesmo tempo, implica contrapartida financeira lo-
tema Único e Descentralizado de Saúde. Com o Suds, atra- cal. Além disto, para o enquadramento em cada uma das
vés de convênios, os estados incorporaram as funções das modalidades de gestão, existem exigências referentes à
Diretorias Regionais do Inamps (convênios e pagamen- capacidade administrativa instalada para implementação
tos de serviços das redes conveniadas), a rede própria de das tarefas que lhe correspondem.
atendimento do Inamps e os funcionários deste órgão (in- Assim, o processo de municipalização supõe a deci-
corporados em grande parte aos quadros do serviço esta- são municipal de aderir à política federal de saúde e, des-
dual). Este foi, portanto, um período de reforço da fun- te modo, obter o montante de recursos previstos para cada
ção dos estados na gestão do sistema, dado que as condição de gestão. Para tal, é necessário adequar-se às
Secretarias Estaduais de Saúde passaram a gerir a rede normas federais e, por este processo, construir no plano
própria do Inamps e parte da rede privada conveniada. local um conjunto de instituições definidas pela União.
Favorecida pela correlação política favorável à imple- Vale ressaltar que permanecem no âmbito do Ministé-
mentação de reformas do início do governo Sarney, o rio da Saúde as ações de controle de endemias e de doen-
ímpeto da estadualização foi sensivelmente reduzido com ças específicas, bem como a implementação de programas
a mudança dos quadros dirigentes do Ministério da Saú- nacionais dirigidos a grupos populacionais específicos,
de e da direção nacional do Inamps, na segunda metade como, por exemplo, o Programa de Saúde da Família e o
deste mandato. Mais do que isto, esse processo foi abrup- Programa de Agentes Comunitários de Saúde.
tamente interrompido em 1991, quando o governo fede- Com relação ao ensino fundamental, ainda que sua
ral – paralelamente a uma redução de recursos da ordem gestão esteja preponderantemente sob responsabilidade
de 3 bilhões de dólares entre 1990 e 1992 (Piola e de estados e municípios, o governo federal tem uma atua-
Camargo, 1993) – voltou a assumir a administração e o ção importante de normatização das bases curriculares, e
repasse de recursos para a rede conveniada e estabeleceu de financiamento do ensino e de apoio à construção, ma-

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SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 11(3) 1997

QUADRO 1
Distribuição de Atribuições do Sistema Único de Saúde,
segundo os Níveis de Governo
Brasil – 1990-93

Funções Órgãos
União

- Planejamento, regulação e normatização do SUS; - Ministério da Saúde


- regulação das relações público-privado e da atividade privada; - Conselho Nacional de Saúde
- pagamento dos serviços médicos, ambulatoriais e hospitalares da - Comissão Intergestores Tripartite
rede conveniada (pública e privada); - Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde – Conass
- acompanhamento, fiscalização, controle, avaliação e aplicação dos - Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde – Conasems
recursos federais;
- coordenação em nível nacional do Sistema de Informações em Saúde;
- cooperação técnica a estados e municípios;
- apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico.

Estados

- Formulação da política estadual de saúde; - Secretaria Estadual de Saúde


- coordenação e planejam. da rede e do processo de programação integrada; - Conselho Estadual de Saúde
- estabelecimento de padrões de atenção à saúde no âmbito estadual; - Comissão Intergestores Bipartite – Cibe
- supervisão e cooperação técnica e financeira a municípios; - Conselho Estadual de Secretários Municipais de Saúde – Cosems
- coord. das negociações entre os gestores;
- execução de ações em saúde, em caráter supletivo aos municípios;
- gerenciamento das unidades públicas de maior complexidade e dos
sistemas de referência regional.

Municípios

- Planejamento, controle e execução das ações e serviços, segundo - Executivo Municipal


a condição de gestão: - Conselho Municipal de Saúde
- incipiente: credencia, autoriza, contrata e avalia a rede privada; - Fundo Municipal de Saúde
autoriza os quantitativos de AIHs; controla e avalia os serviços ambulatoriais e
hospitalares públicos e privados; presta ações básicas de saúde e
executa ações de vigilância sanitária;
- parcial: além do anterior, gerencia as unidades ambulatoriais
públicas existentes no município;
- semiplena: além do anterior, assume a gestão do sist. municipal de saúde:
a prestação de serviços e gerenciamento da rede pública
(exceto hospitais de referência).

Fonte: Lei n. 8.080/90; Lei n. 8.142/90; Norma Operacional Básica – NBO 01/90; NBO 01/93.

nutenção e capacitação das redes escolares, bem como à Educação), após a incorporação da Fundação de Apoio
oferta de alimentação e material escolares. ao Estudante (FAE) a este órgão, a maior parte deles
No que diz respeito às atividades de apoio, finan- vem sendo gerida de forma descentralizada.
ciadas basicamente através da quota-federal do Salário- Até 1994, a totalidade dos recursos do FNDE era trans-
Educação, a participação do governo federal no ensino ferida a outros órgãos federais, estados, municípios e
fundamental não é de modo algum irrelevante, seja pelo ONGs mediante convênios negociados individualmente.
volume de recursos que mobiliza, 8 seja pela natureza A partir de 1995, foram criados o PMDEF e o Programa
dos programas que oferece. 9 O Programa de Manu- de Apoio Tecnológico, os quais – sem eliminar totalmen-
tenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental te a negociação de convênios – destinam uma parte da-
(PMDEF), o Programa Nacional de Alimentação queles recursos para atividades de melhoria das instala-
Escolar (PNAE), o Programa Nacional do Livro ções escolares e compra de material escolar.
Didático, o Programa de Saúde do Escolar, o Programa O PMDEF opera de modo a transferir recursos
de Apoio Tecnológico e o Programa de Transporte diretamente para as unidades escolares, exigindo que estas
Escolar são hoje os principais programas federais de criem unidades executoras próprias (Associação de Pais
apoio ao ensino fundamental da rede pública. Geridos e Mestres, caixa escolar ou um conselho escolar).
pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Eliminado o princípio da negociação de projetos na gestão

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deste programa, estabeleceu-se um valor anual a ser recursos para a execução de uma dada atividade e estipu-
repassado a cada escola, valor este variável segundo o la as condições sob as quais a adesão (e, portanto, o aces-
número de alunos matriculados em cada escola e de acordo so a tais recursos) pode ocorrer. Por este mecanismo, a
com a localização (com valores cerca de 40% mais União busca induzir estados e municípios a criarem no
elevados para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, plano local um conjunto de condições técnicas (para a
com exceção do DF). No caso de a unidade escolar possuir execução das tarefas) e de instituições políticas (para a
uma unidade executora própria, a SME ou a SEE firmam gestão dos programas).
convênios com o FNDE, mas o recurso vai diretamente Entretanto, esta estratégia diz respeito à forma pela qual
para a escola (Quadro 2). Na ausência de unidade o governo federal tem gerenciado sua participação no
executora própria, os órgãos estaduais ou municipais apoio às atividades educacionais de estados e municípios.
firmam o convênio, recebem o dinheiro e realizam dire- No entanto, a definição federal pela municipalização do
tamente as compras. ensino básico não se restringe a esta dimensão. Ela diz
O Programa de Apoio Tecnológico visa modernizar as respeito também à normatização das condições sob as
escolas das redes estaduais e municipais de ensino fun- quais estados e municípios prestam seus próprios servi-
damental. Em 1995, viabilizou a aquisição de um kit de ços educacionais.
equipamentos (um aparelho de TV de, pelo menos, 20 A legislação federal – de caráter constitucional –, ao
polegadas, um videocassete com quatro cabeças, uma vincular no mínimo 25% da receita de impostos e trans-
antena parabólica, um suporte para TV e vídeo e uma caixa ferências de estados e municípios ao ensino, direciona para
de fitas VHS). Com base nos dados cadastrais do PMDEF, a educação parte dos ganhos de receita obtidos pela des-
distribuiu recursos inicialmente a todas as escolas com centralização fiscal de 1988. No Estado de São Paulo, o
mais de 250 alunos e, posteriormente, àquelas com mais crescimento do gasto em educação do conjunto dos mu-
de 100. O repasse foi feito diretamente às Secretarias nicípios entre 1988 e 1995 foi da ordem de 60%, supe-
Estaduais e Municipais (ver modalidades no Quadro 2), rando o aumento do gasto total no mesmo período, da
para que estas adquirissem o kit para suas respectivas re- ordem de 47% (Arretche e Rodriguez, 1996:17).14
des escolares. Porém, esta elevação de patamares de gasto não signi-
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), ficou alteração da distribuição de matrículas entre as re-
mais conhecido como Programa da Merenda Escolar, é o des municipal e estadual. Vale dizer que a expansão do
mais antigo programa de suplementação alimentar do país. gasto em educação não implicou que os municípios assu-
Visa a oferta universal de refeições durante os dias leti- missem, por iniciativa própria, a gestão da rede estadual
vos a toda a rede pública e filantrópica de ensino pré-es- de ensino básico, o que equivaleria a um efetivo processo
colar e de 1o grau. Após uma experiência que obteve pouco de transferência de atribuições e de alteração dos padrões
êxito em 1986 e 1987 (respectivamente, com 83 e 154 de cobertura. Na verdade, as pesquisas revelam que há
municípios),10 a FAE – Fundação de Apoio ao Estudante municípios que expandiram significativamente o gasto em
– tem perseguido a meta da municipalização da aquisi- educação, mas sem ampliar as matrículas no ensino bási-
ção, armazenamento e distribuição de alimentos, a partir co: aumentaram a oferta e a qualidade do ensino pré-es-
de 1993.11 colar e da merenda escolar ou financiaram outras ativida-
A municipalização ocorre mediante adesão voluntária des, como o transporte escolar (Rodriguez, 1996). Em
do município que, comprovando condições de infra-es- outras palavras, a maior participação dos municípios no
trutura e capacidade administrativa e funcionamento do financiamento à educação não implicou necessariamente
Conselho de Alimentação Escolar,12 passa a receber um maior participação na cobertura do ensino fundamental,
valor per capita13 por aluno matriculado e a gerir a exe- considerado pelo governo federal a prioridade nacional.
cução do programa para as escolas das redes estadual e Além disso, alguns estados brasileiros – com forte par-
municipal. Para os casos de não-adesão, o recurso é re- ticipação do nível estadual na gestão das redes de ensino
passado para a Secretaria Estadual de Educação, que fica fundamental e sob grande pressão de gasto dela derivada
encarregada da gestão da merenda escolar. Está prevista – têm encontrado dificuldades e resistências para a ade-
ainda a gestão diretamente pela FAE, caso o estado não são municipal às tentativas de municipalização de suas
aceite receber os recursos financeiros. Nestas condições, redes de ensino.
o programa vem operando segundo três modalidades de A Emenda Constitucional que cria o Fundo de Desen-
gestão: municipalizada; atendimento pela SEE; e atendi- volvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
mento pela FAE e SEE. Magistério – FDEFVM –, de iniciativa do MEC, visa indu-
Observe-se que há um mecanismo comum a estes pro- zir a destinação dos recursos constitucionalmente vincula-
gramas: o governo federal “oferece” um montante “x” de dos à educação: 60% destes devem ser aplicados no ensino

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SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 11(3) 1997

QUADRO 2
Distribuição de Atribuições dos Principais Programas do
Ministério da Educação e Cultura, segundo Níveis de Governo
Brasil – 1993-1995

Funções Órgãos
Programa de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental - PMDEF
União

- Aplicar parte dos recursos do Salário-Educação em atividades de apoio às - FNDE


escolas de ensino fundamental com base no número de alunos matriculados - Secretaria de Educação Fundamental/MEC
por escola e em sua localização. - Secretaria de Controle Interno/MEC
- Secretaria de Educação Especial/MEC
- Secretaria de Educação Média e Tecnológica/MEC

Estados

- Firmar convênios com o FNDE: - Secretarias Estaduais de Educação


- em favor das escolas estaduais, como: convenente (quando a escola possui unidade executora
própria) ou convenente/executora (quando a escola não possui unidade executora própria);
- em favor das escolas municipais, como suconvenente/executora, em
caráter supletivo da Prefeitura.

Municípios

- Firmar convênios com o FNDE em favor das escolas municipais, como: - Secretarias Municipais de Educação
convenente (quando a escola possui unidade executora própria) ou convenente/
executora (quando a escola não possui unidade executora própria).

Programa de Apoio Tecnológico


União

- Aplicar parte dos recursos do Salário-Educação em atividades de apoio às - FNDE


escolas de ensino fundamental com base no número de alunos matriculados
por escola e em sua localização.

Estados

- Firmar convênio com o FNDE – para aquisição do kit de equipamentos para - Secretarias Estaduais de Educação
as escolas estaduais (convenente/executora) ou subconvencionar as
Prefeituras Municipais (subconvenente/executora), em caráter supletivo.

Municípios

- Firmar convênios com o FNDE para a aquisição de kit de equipamentos - Prefeitura Municipal
para as escolas municipais. - Secretaria Municipal de Educação

Programa Nacional de Alimentação Escolar


União

- Definir diretrizes de programação dos executores; - FNDE


- prestar assessoria técnica aos executores;
- alocar recursos financeiros com base no per capita estabelecido e no
número de alunos matriculados em cada unidade escolar.

Estados

- Executar as ações do programa (aquisição e armazenamento de produtos, - Secretarias Estaduais de Educação


distribuição de alimentos) para os municípios que não aderirem à municipalização. - Conselho de Alimentação Escolar
- manter atualizado o cadastro de matrículas da rede oficial de ensino;
- co-financiar a execução do programa.

Municípios

- Executar ações do programa (aquisição e armazenamento de produtos, - Secretaria Municipal de Educação


distribuição de alimentos); - Conselho de Alimentação Escolar
- co-financiar a execução do programa.

Fonte: Ministério da Educação e Cultura – MEC.

26
O SISTEMA DE PROTEÇÃO SOCIAL BRASILEIRO: EM DIREÇÃO A UM MODELO ...

fundamental, prioridade do governo federal.15 Observe-se características da área, está previsto que o sistema opere com
que, por esta iniciativa, a União interfere diretamente no grau comando único em cada esfera de governo. Finalmente, para
de autonomia de gasto dos níveis subnacionais de governo: dar organicidade à concepção participativa, está prevista tam-
parte dos recursos de impostos e transferências devem tra- bém a institucionalização de conselhos de assistência social
duzir-se em matrículas no ensino fundamental ou ser trans- em todos os níveis de governo.18
feridos para outro nível de governo.16 A nova institucionalidade proposta – e em processo de
Com relação à Política Federal de Assistência Social, implantação – prevê que a política federal de assistência
foi seguramente com a aprovação da Loas – Lei Orgâni- social será gerida preferencialmente segundo uma distri-
ca da Assistência Social –, em dezembro de 1993, que se buição de funções pela qual cabe ao governo federal o
instituiu uma proposição explícita de reordenamento das papel de financiador e normatizador e, aos municípios, o
funções entre os três níveis de governo.17 papel de formulador e executor das políticas no plano
No modelo de descentralização proposto, o município local. Neste sentido, resta um reduzido papel a ser desem-
deve ser o locus privilegiado da execução dos serviços penhado pelos estados e fortalecem-se as relações entre
assistenciais, o que inclui a prestação direta de serviços e Executivo federal e municípios (Quadro 3).
a gestão dos convênios com entidades assistenciais. Este Ainda que aprovada em 1993, até o final de 1994 o
desenho institucional implica clara opção pela municipa- Executivo federal não tomou iniciativas no sentido de
lização, pois caberia aos estados um papel acessório, no implementar as disposições preconizadas pela Loas. O
sentido de que estes devem atuar nas situações em que os presidente Itamar Franco limitou-se a sancioná-la. Foi
municípios não possam desempenhar a contento suas fun- apenas no início de 1995 que a Medida Provisória no 813,
ções, qual seja, ações que demandem uma rede regional de 01/01/95, extinguiu o Ministério do Bem-Estar Social
ou apoio aos consórcios. e criou a Secretaria de Assistência Social (SAS), vincula-
Para viabilizar o fluxo de recursos financeiros deste novo da ao Ministério da Previdência e Assistência Social. Esta
modelo, devem ser instituídos fundos de assistência social ficou encarregada de coordenar a Política Federal de As-
em todos os níveis de governo, de modo que as transferên- sistência Social e de implementar as medidas preconiza-
cias possam realizar-se “fundo a fundo”. Paralelamente, para das na Loas, o que significa coordenar a transição do
evitar a dispersão, fragmentação e superposição de ações modelo anterior – centralizado – para um modelo descen-

QUADRO 3
Distribuição de Atribuições da Política Federal de Assistência Social,
segundo os Níveis de Governo
Brasil – 1993
Funções Órgãos
União

- Coordenar e normatizar o sistema e a Política Federal de - Secretaria Nacional de Assistência – SAS/MEC


Assistência Social; - Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS
- conceder e gerir os benefícios de prestação continuada; - Fundo Nacional de Assistência Social
- apoiar técnica e financeiramente programas de combate à
pobreza de âmbito nacional;
- executar ações assistenciais em caráter de emergência;
- celebrar convênios com entidades de assistência social.

Estados

- Apoiar técnica e financeiramente programas de combate à - Órgão Executivo Estadual


pobreza de âmbito estadual; - Conselho Estadual de Assistência Social
- apoiar técnica e financeiramente associações e consórcios intermunicipais; - Fundo Estadual de Assistência Social
- executar diariamente programas, quando a relação custo-benefício justificar;
- coord. das negociações entre os gestores;
- executar as ações assistenciais em carater de emergência.

Municípios

- Executar (prioritariamente) programas assistenciais de forma direta ou indireta; - Executivo Municipal


- executar ações assistenciais em caráter de emergência. - Conselho Municipal de Assistência Social
- Fundo Municipal de Assistência Social

Fonte: Lei Orgânica da Assistência Social – Loas/93.

27
SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 11(3) 1997

tralizado, no qual parte das funções anteriormente desem- são dos serviços que havia cumprido quando da vigência
penhadas pelas agências federais passarão a ser realiza- do BNH. Neste sentido, a abertura do setor aos investi-
das por estados e municípios. A mesma medida provisó- mentos privados, a utilização de recursos externos e o co-
ria extinguiu as Fundações LBA e CBIA, ficando a SAS financiamento de estados e municípios impõem-se como
encarregada de transferir seu quadro de pessoal, convê- uma necessidade. Ao lado disso, a capacitação adminis-
nios e patrimônio para estados, municípios ou outros ór- trativa dos municípios brasileiros (particularmente no Sul
gãos da esfera federal. e Sudeste), a maior eficiência decorrente da proximidade
Desde sua criação, a SAS, através de seus Escritóri- entre prestadores e usuários, os problemas de gestão diag-
os Regionais e em conjunto com segmentos organiza- nosticados no modelo centralizado anterior e as novas
dos em prol da implantação da Loas nos estados, vem regras constitucionais justificariam a adoção do princí-
desenvolvendo intenso trabalho de criação da nova ins- pio da descentralização como norma fundamental de atua-
titucionalidade prevista no modelo descentralizado, o ção do governo federal.
que reforça a hipótese de que, ao normatizar o proces- Assim, caberia à União um papel predominantemente
so de descentralização, o governo federal induz a cria- normativo e de fomento: definição das normas da política
ção de determinadas capacidades institucionais nos federal, organização de sistemas nacionais de informação,
demais níveis de governo. co-financiamento à execução de programas e correção/
Finalmente, a definição de uma nova Política Federal compensação de desigualdades regionais (particularmen-
de Desenvolvimento Urbano só veio a ocorrer efetivamen- te apoio à institucionalização de políticas nos estados do
te a partir de 1995. O fechamento do BNH em 1986, a Norte, Nordeste e Centro-Oeste). Caberia aos estados o
fragmentação de suas atribuições entre os distintos órgãos papel de definição de parâmetros locais dos padrões de
que lhe sucederam e a alta taxa de rotatividade em car- oferta dos serviços, bem como de regulação e controle dos
gos-chave dos organismos federais durante os governos programas, que seriam executados primordialmente pelos
Sarney, Collor e Itamar dificultaram enormemente a ca- municípios e/ou pelo setor privado. Caberia ainda aos es-
pacidade de formulação de políticas neste nível de gover- tados o papel de desempenhar supletivamente a execução
no (Arretche, 1996b). Paralelamente, nesta área, o pro- de programas naquelas situações em que o nível munici-
cesso de formulação de reformas tem sido caracterizado pal não puder fazê-lo. Áreas metropolitanas, conurbações
por forte polarização entre distintos segmentos organiza- e intervenções de escala regional justificariam a ação dos
dos. Embora haja um relativo consenso quanto à necessi- governos estaduais, mas os municípios seriam a instância
dade da descentralização, questões como a privatização mais adequada para a gestão e a execução dos programas
dos serviços, as modalidades de participação de segmen- de intervenção urbana (Quadro 4).
tos organizados da sociedade civil na gestão da política, A proposta do governo federal é a de que se estabele-
a definição das instâncias apropriadas para a liberação dos ça uma distinção entre as funções de regulação e controle
recursos federais e o controle sobre os recursos externos dos serviços prestados e a função de execução de progra-
dividem de modo quase antagônico as forças políticas li- mas. As primeiras devem ser exercidas pelo poder públi-
gadas à área de desenvolvimento urbano (Arretche, 1995; co e, preferencialmente, pelo nível estadual, de acordo
Arretche, 1996b). A utilização de “brechas” jurídicas e/ com princípios, metas, normas e diretrizes estabelecidas
ou institucionais para o exercício do poder de veto por pelo governo federal. A segunda pode ser atribuída a agen-
parte dos interesses conflitantes tem marcado o processo tes privados ou públicos e, entre estes últimos, ainda que
decisório dos esforços de reforma. Intenso debate e não- se considere que devam ser preferentemente desempenha-
decisão têm sido a tônica do setor. das pelo nível municipal, podem ser desempenhadas tam-
A implementação de uma modalidade descentralizada bém por órgãos executivos de âmbito estadual.
de gestão da política federal foi uma iniciativa das buro- A nova sistemática de alocação de recursos do FGTS
cracias do Ministério do Planejamento e Orçamento e, na – principal fonte de financiamento do governo federal –
verdade, encontra-se em estágio de implantação, através busca deslocar para instâncias colegiadas nos estados a
da alocação dos recursos do FGTS. Existe uma Lei de definição das áreas prioritárias para a aplicação dos mon-
Política Urbana, de iniciativa do Executivo, em tramita- tantes destinados a cada unidade federativa. O Ministério
ção no Legislativo; assim, a ação federal tem sido basea- do Planejamento e Orçamento, através da Secretaria de
da em portarias federais. Política Urbana, define as prioridades dos programas fe-
Basicamente, considera-se que as necessidades de in- derais, sendo que as instâncias colegiadas – ou um equi-
vestimento nas principais áreas do desenvolvimento ur- valente estadual – selecionam, hierarquizam e acompa-
bano são de tal ordem que o governo federal não pode nham no plano estadual as propostas de empréstimo dos
mais cumprir o papel de principal financiador da expan- agentes executores (Portarias MPO 114/95 e 35/96).

28
O SISTEMA DE PROTEÇÃO SOCIAL BRASILEIRO: EM DIREÇÃO A UM MODELO ...

QUADRO 4
Distribuição de Atribuições da Política Federal de Desenvolvimento Urbano, segundo Níveis de Governo
Brasil – 1995

Funções Órgãos
União

- Estabelecimento de diretrizes gerais, políticas e programas - Secretaria de Política Urbana – Sepurb/MPO


de desenvolvimento urbano; - Grupo Interministerial de Integração das Ações de Saneamento
- definição de normas, critérios e padrões técnicos para - Conselho Nacional de Política Urbana
a aplicação dos recursos federais, bem como fiscalizar a sua aplicação; - Fundação Nacional de Saúde – Funasa/MS
- apoio técnico e financeiro aos municípios, particularmente do Norte e Nordeste; - Comitê Nacional de Habitação
- edição de normas gerais de direito urbanístico; - Câmaras Técnicas de Habilitação, Saneamento, Transporte e Gestão Urbana
- estabelecimento de planos nacional e regionais de ordenação de território; - Caixa Econômica Federal: ag. operador
- financiamento dos programas de habilitação, saneamento e limpeza urbana.

Estados

- Coordenação, com o governo federal, da definição das prioridades de - Instâncias Colegiadas de Âmbito Estadual
investimento dos recursos federais no plano estadual; - Executivos de Âmbito Estadual
- coordenação, regulação e controle da prestação de serviços de saneamento
básico, definindo parâmetros mínimos de prestação de serviços;
- planejamento e execução de programas e políticas,
suplementares aos municípios;
- planejamento e execução de tarefas de âmbito metropolitano,
microrregional e de aglomerações urbanas;
- co-financiamento dos investimentos federais;
- exercer o poder concedente dos serviços de saneamento básico,
nas situações em que um município não puder fazê-lo;
- apoio a capacitação técnica dos municípios mais carentes.

Municípios

- Prioritariamente: planejamento e execução de programas e políticas - Executivo Municipal


(competência normativa e executiva); - Conselhos Municipais ou Regionais
- promoção do adequado ordenamento territorial, mediante planejamento - Fundos Municipais ou Regionais
e controle do uso do solo;
- co-financiamento dos investimentos federais;
- exercício do poder concedente dos serviços de saneamento básico.

Fonte: Ministério do Planejamento e Orçamento/Sepurb.

Caso a unidade da federação não constitua tal ins- pais características institucionais. Entre estas, a substitui-
tância colegiada – de representação paritária entre go- ção de um padrão centralizado – instituído durante o re-
verno do estado, governos municipais e sociedade ci- gime militar e sob um estado de tipo (quase) unitário –
vil –, a Sepurb desempenha supletivamente suas por um modelo descentralizado encontra-se, sem dúvida,
funções, alocando um máximo de 50% dos recursos em estágio avançado.
previstos para o estado em questão. Esta norma consti- Até muito recentemente, avaliava-se que a ausência de
tui, na verdade, uma espécie de penalização para aque- uma política ativa do governo federal nessa direção re-
les estados que não aderirem à nova proposta de orde- presentava um forte obstáculo à sua implementação. Este
namento de funções. Com base nesta “orientação”, as artigo pretendeu demonstrar que, nos principais setores
27 unidades da federação firmaram convênios com o de política social, já existe uma estratégia descentraliza-
governo federal durante o segundo semestre de 1995 dora deste nível de governo e que, portanto, aquele diag-
para a instalação destes organismos. nóstico já não é mais correto.
A prioridade ao ajuste fiscal como política de gover-
EM DIREÇÃO A UM MODELO no, associada à expectativa de que estados e municípios
DESCENTRALIZADO – particularmente, os municípios – assumam maiores atri-
buições no financiamento dos programas sociais, está no
O Sistema Brasileiro de Proteção Social vem desen- cerne desta estratégia. Porém, é inegável que, ao instituir
volvendo um longo processo de reforma de suas princi- um novo modelo de transferência de recursos, a engenharia

29
SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 11(3) 1997

administrativa instituída busca produzir um determinado municípios dispunham de uma margem muito pequena de recursos a serem apli-
cados livremente, isto é, o governo federal (seja para uma parte das transferên-
comportamento naqueles estados e municípios que aderi- cias automáticas, seja para a quase totalidade das transferências negociadas) vin-
culava as transferências a itens de despesa e, deste modo, a centralização tribu-
rem a seus programas. tária implicava falta de autonomia de gasto ou estreita margem decisória para
Ainda que cada política setorial tenha um desenho es- estados e municípios, mas não significava indisponibilidade de recursos.
pecífico, pode-se caracterizar uma certa orientação go- 2. Nos programas da merenda escolar e do livro didático, a compra do material
era realizada pelas agências do governo federal e, posteriormente, distribuída
vernamental. Trata-se de instaurar uma nova modalidade pelo território nacional, o que dá uma idéia de seu grau de centralização, uma
vez que o transporte de alimentos adquirido de forma centralizada em um país
de gestão dos programas federais na área social. No Sis- com dimensões continentais é indiscutivelmente irracional.
tema Único de Saúde, para os programas de assistência 3. Tendler e Freedheim (1994) descrevem como o governo do estado do Ceará
social, de desenvolvimento urbano e parte importante dos obteve a adesão de prefeitos resistentes à implementação do Programa de Agen-
tes de Saúde, implementado no estado a partir de 1987, com características or-
programas de apoio ao ensino fundamental, o governo fe- ganizacionais distintas daquelas previstas pela política federal de saúde.
deral define normas e transfere os recursos sob sua admi- 4. Em outro trabalho, Arretche problematiza este consenso, buscando demons-
trar que várias das expectativas postas em torno da descentralização não são um
nistração para que estados e/ou municípios definam as for- produto necessário da transferência de atribuições às unidades locais de governo
mas de execução das políticas. (Arretche,1996a).
Para tal, estão definidos tetos financeiros, isto é, mon- 5. O conceito de referencial de política pública (Jobert e Muller, 1987; Muller,
1990) diz respeito ao horizonte conceitual possível de identificação dos problemas
tantes (relativamente) fixos de recursos, que são variá- e das soluções para cada política particular em uma dada conjuntura histórica.
“Elaborar uma política pública significa construir uma representação, uma ima-
veis de acordo com a política em questão e a região geo- gem da realidade sobre a qual se quer intervir. É por referência a esta imagem
gráfica. O teto financeiro é, assim, o limite máximo de cognitiva que os atores organizarão sua percepção do sistema, confrontarão suas
soluções e definirão suas proposições de ação: a este conjunto de imagens cha-
comprometimento do governo federal para a execução de maremos de referencial de uma política. (...) A cada momento, o referencial de
uma determinada política no local ao qual ele está desti- uma política é constituído de um conjunto de normas prescritivas que dão senti-
do a um programa político, definindo critérios de escolha e modos de designa-
nado. Este não necessariamente coincide com o montan- ção de objetivos” (Müller, 1990:42-3) (grifo e a tradução são nossos).
te de recursos necessário à sua implementação no plano 6. Na administração FHC, esta é uma orientação explícita de governo. Esta ad-
ministração considera que o Estado não deverá mais ser o grande produtor de
local. Na verdade, o acesso a tais recursos constitui o prin- bens e serviços. Por razões de ordem fiscal, dever-se-ia compatibilizar a descen-
cipal atrativo para a adesão aos programas federais. tralização fiscal derivada da Constituição de 1988 com uma distribuição mais
racional de encargos, bem como dever-se-ia buscar construir formas de parceria
Visto que este acesso é regulamentado por uma série com a sociedade civil e com o setor privado. Por razões de democratização do
processo decisório, dever-se-ia descentralizar para tornar as decisões sobre a oferta
de requisitos definidos pelo papel normatizador do go- de serviços mais próxima do cidadão, facilitando mecanismos de controle e par-
verno federal, esta regulamentação induz a adoção de um ticipação. Finalmente, por razões de eficiência e eficácia, dever-se-ia descentra-
lizar para evitar duplicidade de ações e possíveis desequilíbrios entre oferta e
dado comportamento: contrapartida no financiamento, ins- procura, derivados da dificuldade de informações própria aos sistemas centrali-
tituição de conselhos de participação e controle, institu- zados (Presidência da República, 1996). Mas, como poderá ser observado, pela
análise que segue, as medidas descentralizadoras por parte da burocracia federal
cionalização de órgãos locais de gestão, regularização das vêm sendo instituídas ao longo dos anos 90, anteriormente, portanto, ao governo
Fernando Henrique Cardoso.
contas municipais junto ao governo federal e, obviamen-
7. Evidentemente, a dimensão deste “cuidado” está associada à capacidade de
te, a implantação de padrões técnicos definidos para cada vocalização política destes beneficiários.
política setorial. 8. Em 1996, a execução da quota-federal do Salário-Educação representou R$
634,4 milhões e o produto da aplicação da receita do Salário-Educação foi de R$
Neste sentido, se sob as políticas do regime militar, o 150,09 milhões, sendo estas as principais fontes de recursos da atuação do FNDE
governo federal adotou uma forma de expansão do Esta- em programas de ensino fundamental (FNDE, 1997).
do que, embora centralizadora, capacitou técnica e admi- 9. O apoio financeiro à construção escolar, à aquisição de materiais (televisões,
veículos, livros) e à merenda escolar são em vários estados brasileiros um com-
nistrativamente – ainda que de modo inteiramente dife- ponente essencial do financiamento das atividades educacionais.
renciado no território nacional – estados e municípios, sob 10. As dificuldades desta experiência estão relacionadas à capacidade de pres-
são política das forças contrárias à descentralização da merenda escolar.
o “pretendido” modelo descentralizado, esta mesma rela- 11. Oficializada para os estados em dezembro de 1992, a municipalização da
ção pretende induzir tais níveis de governo à adoção de merenda escolar começou a ser implementada em 1993 apenas nas capitais. Em
seguida, foi estendida às cidades com mais de 50 mil habitantes. Em 1994, a
determinadas modalidades de gestão pública. Trata-se de política foi estendida a todos os municípios que preenchessem as condições es-
avaliar o sucesso desta estratégia. tipuladas pela FAE.
12. Constituído por representantes do órgão da administração pública, dos pro-
fessores, dos pais e alunos, de trabalhadores e, se desejado, de representantes de
outros segmentos da sociedade.
13. Este valor corresponderia a 15% das necessidades nutricionais diárias de
NOTAS um escolar.
14. Em pesquisa de campo realizada junto a seis municípios paulistas, consta-
E-mail da autora: marretch@correionet.com.br tou-se que, na ausência de qualquer política indutora por parte do governo esta-
A autora agradece os comentários de Vicente Rodriguez e Zairo Cheibub à ver- dual, a maior elevação do gasto municipal tendeu a ocorrer dominantemente na-
são original deste texto. quelas políticas em que a legislação federal induz a participação municipal no
1. Se considerarmos o indicador “receita disponível”, isto é, o montante de re- financiamento e/ou gestão do setor: a obrigatoriedade federal de 25% de gasto
cursos de que dispõe efetivamente cada nível de governo uma vez realizadas as em ensino e a universalização do acesso aos serviços de saúde, definidas consti-
transferências, temos que entre 1960 e 1988 esta sofreu uma queda significativa tucionalmente em 1988 (Arretche e Rodriguez, 1996:38).
no que diz respeito aos estados (de 34% do total da receita tributária para 26%), 15. Por esta Emenda Constitucional cria-se em cada estado um fundo de equaliza-
mas, no que diz respeito aos municípios, esta sofreu elevação (de 6,5% do total ção, composto por 60% das receitas vinculadas à educação nos estados e municí-
da receita tributária em 1960 para 11,4% em 1988) (Serra e Afonso, 1991). Este pios. Tais recursos serão redistribuídos entre estes últimos de acordo com o número
dado indica que a centralização tributária na União significava que os estados e de alunos matriculados no ensino fundamental em suas respectivas redes escolares.

30
O SISTEMA DE PROTEÇÃO SOCIAL BRASILEIRO: EM DIREÇÃO A UM MODELO ...

16. Espera-se que, nos estados em que o ensino fundamental é ofertado predo- __________ . Relatório de Atividades. 1996. Brasília, MEC, 1997, mimeo.
minantemente pela rede estadual, este mecanismo represente um forte incentivo __________ . Resoluções n o 12/95, 15/95 e 21/95.
à municipalização das redes escolares.
JOBERT, B. e MULLER, P. L’état en action. Paris, PUF, 1987.
17. As mais importantes decisões da área de assistência social até o início dos
anos 90 dizem respeito à sua inserção no campo da seguridade social, à incorpo- LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL (Lei Federal no 8.742, de 07/12/93).
ração da Doutrina da Proteção Integral e à adoção do princípio da universalida- LEI ORGÂNICA DA SAÚDE (Leis Federais no 8.080/90 e no 8.142/90).
de como princípio constitucional. Assim, até 1993 — particularmente com a Cons-
tituição de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei Orgânica da LIMA, M.H. de C. Descentralização da política de assistência social no Estado
Saúde —, os avanços neste campo dizem mais respeito à definição de um campo de São Paulo. Relatório de Pesquisa: Balanço e Perspectivas da Descentrali-
particular de direitos e menos à distribuição de competências entre os três níveis zação das Políticas Sociais no Estado de São Paulo. Projeto: Balanço e Pers-
de governo para sua implementação. pectivas da Descentralização no Brasil. São Paulo, Fundap/Iesp, 1996,
mimeo.
18. Segundo o art. 30 da Loas, é condição para os repasses federais a efetiva
instituição e funcionamento: do Conselho de Assistência Social, de composição LIRA, E.M. e FIGUEIREDO, M. do S. Setor de assistência social. Relatório de
paritária entre governo e sociedade civil; do Fundo de Assistência Social, com Pesquisa. Subprojeto: Balanço e Perspectivas da Descentralização das Po-
orientação e controle dos respectivos Conselhos de Assistência Social e do Pla- líticas Sociais no Estado da Bahia. Projeto: Balanço e Perspectivas da Des-
no de Assistência Social. centralização no Brasil. Salvador, SEI, 1996, mimeo.
MARQUES, R.M. A descentralização da política de saúde no Estado de São
Paulo. Relatório de Pesquisa: Balanço e Perspectivas da Descentralização
das Políticas Sociais no Estado de São Paulo. Projeto: Balanço e Perspecti-
vas da Descentralização no Brasil. São Paulo, Fundap/Iesp, 1996, mimeo.
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